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ATUALIDADES – DISCURSIVAS ISS-SP E ISS-BH

PROFESSOR MARLOS VARGAS FERREIRA


TEMAS PARA A PROVA DISCURSIVA DE ATUALIDADES
Amigos do Ponto e futuros colegas fiscais de carreira,

A FCC e a FDC trouxeram essa inovação, pois uma tema de atualidades nacionais
e internacionais é um tanto vago, um verdadeiro “cheque em branco” para os
examinadores. De qualquer maneira, pensamos que a banca será coerente e
criteriosa, escolhendo um tema da seara econômica-financeira ou de tributação,
dado o cargo que o certame visa.
Logo, temos temas sobre o atual momento da economia brasileira, as finanças
públicas municipais e federais, a sonegação fiscal, a excessiva carga tributária, as
batalhas pela simplificação tributária, a reforma tributária, crise européia, dentre
outros. São quase 30 temas criteriosamente escolhidos e selecionados, escritos
por especialistas e renomados autores bem como textos de minha própria
autoria.
Esperamos que essas considerações sejam úteis na hora da prova!

1. A ECONOMIA BRASILEIRA RECENTE

No período recente, três aspectos chamam a atenção. O primeiro se refere ao


fato de que a taxa de crescimento da economia brasileira tem aumentado e o PIB
brasileiro tem crescido nos últimos anos a taxas superiores à da média mundial.
O segundo aspecto relevante refere-se aos elementos que comandam o
crescimento da economia. Desde longa data, o consumo das famílias tem papel
proeminente na determinação do ritmo de expansão da economia. O período
recente, porém, tem sido marcado não só pela expansão das despesas de famílias
e governo, mas também pelo aumento expressivo do investimento.
Com relação à estrutura produtiva, não há dúvidas de que hoje o Brasil constitui
uma economia industrializada. Entretanto, há que se ressaltar a ampliação nos
últimos anos do peso, na estrutura produtiva, dos setores de baixa intensidade
tecnológica, como agricultura e serviços, em detrimento da indústria. Nesse
sentido, é interessante notar que o desafio atual é aumentar a participação dos
setores de alta intensidade tecnológica na composição do produto industrial.
O front externo pode ser considerado um caso exemplar da presença de
elementos de continuidade e mudança ao longo dos últimos 50 anos. Isto porque,
a despeito das inúmeras mudanças ocorridas – desde a maior diversificação da
pauta de exportações até a abertura financeira, que permitiu a obtenção de
divisas estrangeiras pelas diversas modalidades disponíveis pela conta de capitais
–, os desequilíbrios externos continuaram a obstar, em vários momentos, a
trajetória de crescimento do PIB.
É evidente, no entanto, que a maneira como se configura a restrição externa é,
hoje bem diferente. A balança comercial tem obtido um excelente desempenho,
fruto da melhora dos termos de troca e da expansão do quantum exportado.
Apesar disto, o saldo em transações correntes em 2008 foi negativo, sendo o

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principal vilão, como de costume, a balança de serviços e rendas. Porém, o item
que mais contribuiu para o saldo negativo foi o de remessas líquidas de lucros e
dividendos e não o de juros. Este resultado se deve, sobretudo, à enorme
internacionalização produtiva da economia brasileira no período, que ampliou a
presença de empresas transnacionais, bem como à redução da dívida externa
brasileira.
Cabe observar, nesse sentido, o aumento da participação do investimento direto
externo (IDE) no total da conta de capital e financeira para cerca de 88% (era
64% em 1964) e o valor negativo do fluxo de endividamento em 2009,
representado pelo item outros investimentos.
No caso do estoque de dívida externa, aquilo que sempre representou um
elemento-chave da restrição de BP hoje possui um papel bem menor, uma vez
que sua magnitude em termos absolutos e como proporção do PIB é bastante
pequena e, quando comparada ao volume de reservas internacionais, revela uma
situação singular da economia brasileira: a de ser credora internacional em
termos líquidos.
Simultaneamente ao aumento da carga tributária observa–se uma elevação
expressiva da dívida líquida do setor público como proporção do PIB. Este
fenômeno teve seu impulso inicial no final de 1991, mantendo sua trajetória de
ascensão até meados de 2007, quando a
relação dívida/PIB se estabilizou. Porém, com a crise econômica mundial de 2008
constatou-se um novo impulso expansivo do endividamento público, condicionado
pela retração do PIB, pela diminuição do superávit fiscal e, sobretudo, pela
manutenção da taxa de juros em patamar muito elevado.

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2. Política Fiscal
A resposta mais contundente do governo brasileiro à crise financeira está,
seguramente, nas medidas fiscais. Entre as medidas de desonerações fiscais, a
primeira foi anunciada ainda no ano de 2008, beneficiando o setor automotivo,
seguido dos setores produtores de eletrodomésticos de linha branca, de material
de construção e, no final de 2009, do setor moveleiro. Para viabilizar o pacote de
desonerações fiscais sem que o governo devesse incorrer em um programa de
corte de gastos públicos, o governo brasileiro também anunciou a redução da
meta de superávit primário de 4,3% para 2,5% do PIB para 2009.
Medidas complementares, que não podem ser classificadas necessariamente em
alguns dos grupos acima, também foram implementadas, como o aumento real
do salário mínimo (SM) e o Programa Minha Casa, Minha Vida, que visava à
construção de um milhão de casas populares para atender às necessidades de
estimular o setor de construção civil – ainda que tenha sido anunciado como um
programa que visava reduzir o déficit habitacional do país.
A despeito do caráter realmente expansionista das medidas descritas acima,
algumas considerações merecem ser feitas a respeito da política fiscal.
Como já mencionado, o governo federal pôs em marcha, no ano de 2009,
instrumentos fiscais anticíclicos que foram importantes para compensar os efeitos
(negativos) da política de juros (ainda elevados e congelados no patamar de
8,75% da taxa SELIC) e de câmbio valorizado em meio à recuperação da crise.
Em outros termos, a política
fiscal teve de atuar de forma a conter a queda brusca da taxa de crescimento do
PIB que poderia resultar da continuidade da adoção do regime de metas de
inflação numa fase de forte desaceleração da economia.
As medidas fiscais de mais alto impacto sobre a demanda agregada foram a
elevação do valor do SM e seu efeito de expansão sobre as transferências
previdenciárias e o seguro-desemprego, adicionada à ampliação das
transferências de renda às famílias mais pobres (em valor e em número), à
recuperação dos salários e elevação do contingente dos funcionários públicos e à
ampliação do investimento do setor público (principalmente das empresas
estatais federais). Do lado da receita, mesmo enfrentando forte redução de
arrecadação, foi providenciada uma sequência de desonerações para evitar a
queda do consumo de produtos industrializados e estimular o investimento e o
emprego em setores específicos da indústria – o automotivo, os produtores de
eletrodomésticos de linha branca, o de material de construção e o setor
moveleiro.
Os gastos públicos com as transferências de assistência e previdência social
foram os que, de fato, mais cresceram entre todos desde 2000, alavancados pela
valorização do SM.
O governo brasileiro teria reagido à crise econômica com uma “sequência de
imprecedentes ações expansionistas” como o “afrouxamento” da política
monetária sendo fator indutor do consumo das famílias. Com efeito, o conjunto
de políticas fiscal e monetária teria garantido a manutenção do consumo do

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governo e das famílias, contra-arrestando os efeitos negativos da queda do
investimento privado e da demanda externa.

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3. POLÍTICA MONETÁRIA

A resposta dada pelo governo brasileiro em termos de política econômica, em sua


dimensão monetária, é comumente apontada como responsável pelo
abrandamento dos efeitos da crise. Pode-se elencar, sem esgotar o leque, a
redução no compulsório, a expansão do crédito por parte dos principais bancos
públicos – Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal (CAIXA) e Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – e a redução (ainda
que tardia) da taxa básica de juros. Nos meios governamentais, o Brasil era
comumente apontado como “o primeiro país a sair da crise”.
Os resultados exibidos pela economia brasileira permitem colocá-la em melhor
situação que a de países também em desenvolvimento como Chile, Argentina,
México e Rússia, bem como a média da União Européia (UE) e mesmo os Estados
Unidos, epicentro da crise financeira internacional.
A economia brasileira exibiu, no ano de 2009, resultados que surpreenderam até
mesmo os mais otimistas dos brasileiros, dado o quadro que se desenhava com a
eclosão da crise financeira, em setembro de 2008, logo após a falência do banco
Lehman Brother’s.
As estimativas pessimistas que se faziam no término de 2008 não se
confirmaram. A recessão durou apenas dois trimestres: o Produto Interno Bruto
(PIB) voltou a registrar crescimento positivo já a partir do segundo trimestre de
2009, encerrando o ano em –0,2%; a taxa de desocupação, depois de alcançar
9% da População Economicamente Ativa (PEA), em março de 2009, recuou para
7,4% em novembro; a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) foi de 4,31%, permanecendo dentro da meta de 4,5%
estipulada pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
De fato, as assim chamadas políticas anticíclicas implementadas pelo governo
brasileiro têm sido apontadas como responsáveis pelo movimento de recuperação
da economia brasileira, em curso desde o segundo trimestre de 2009. Se, por um
lado, é verdade que tais ações foram eficazes em atenuar os efeitos recessivos da
crise econômica internacional, por outro também é verdade que, em muitos
aspectos, a política monetária foi menos arrojada do que aquela implementada
por diversos países. Como exemplo, pode-se citar a taxa básica de juros do
Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC) ter alcançado o menor
patamar da história, mas tal inflexão somente ter ocorrido três meses depois da
eclosão da crise financeira, datada de setembro de 2008.

Além disso, as análises comumente feitas sobre a resposta brasileira à crise


financeira costumam negligenciar alguns aspectos do cenário internacional, que
foram particularmente favoráveis à economia brasileira, a despeito da
desaceleração econômica internacional.
Ademais, a política monetária expansiva implementada pelos países centrais
como resposta à crise conduziu à recuperação da liquidez internacional poucos

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meses depois de deflagrada a crise, gerando uma sobra de liquidez que formaria
uma nova onda especulativa rumo aos países ditos “emergentes” (CARVALHO,
2009, p. 120).
No que tange às medidas para recuperação ou “desempoçamento” do nível de
liquidez da economia, a principal medida foi a flexibilização das regras do
compulsório para depósitos à vista e a prazo. Para se ter uma idéia, entre o
período de 23 de setembro a 13 de novembro de 2008, o Bacen promoveu dez
alterações nas regras do compulsório, em geral, inócuas, em função da
preferência pela liquidez dos bancos e a possibilidade de aplicação em títulos
públicos, rentáveis e de baixíssimo risco.
Enquanto tais medidas não surtiam efeito, os principais bancos públicos (BB,
CAIXA e BNDES) foram chamados a suprir o mercado de crédito brasileiro, de
modo a tentar contra-arrestar a contração de crédito oriunda dos bancos
privados.
Outra medida importante foi a redução da taxa básica de juros a partir de janeiro
de 2009, que saiu de um patamar de 13,75% ao ano (a.a.) no início daquele ano,
para 8,75% em julho.
Se, por um lado, é verdade que o BCB promoveu reduções na taxa SELIC,
permitindo que esta alcançasse o menor patamar de sua história, também é
verdade que antes da eclosão da crise financeira o BCB iniciara, a partir de abril
de 2008, um novo ciclo de alta da taxa básica de juros (SELIC), passando de
11,25% a.a. para 13,75% a.a. em setembro, para conter a ameaça inflacionária
decorrente da elevação dos preços dos alimentos, em grande parte explicada pela
elevação dos preços das commodities agrícolas.
Para um conjunto de países latino-americanos selecionados, a taxa de juros
brasileira esteve entre as mais altas durante todo o pré e o pós-crise, à exceção
do Uruguai e da República Dominicana. Em geral, a redução das taxas de juros
implementadas na América Latina como resposta da política monetária à crise
financeira ocorre em uma velocidade superior à brasileira. Para se ter uma idéia
de como o afrouxamento da política monetária brasileira foi menos intenso do
que nas demais economias do bloco, em outubro de 2009 somente a Costa Rica
registrava uma taxa de juros superior à brasileira – ou seja, até o Uruguai, que
elevou sua taxa de juros para 30% a.a. em outubro de 2008, promoveu uma
redução mais intensa. Em termos reais, o Brasil era, em janeiro de 2010, o
primeiro de um ranking formado por 40 países.
Em suma: os efeitos recessivos do ciclo de alta de juros ocorrido ao longo de
2008 seriam fatalmente sentidos. A demora em reduzir a taxa SELIC e a lenta
velocidade com a qual isto ocorreu tiveram impactos contracionistas, constituindo
uma componente recessiva interna aos impactos recessivos de uma crise externa
de grandes proporções.
É importante ressaltar que, em um contexto de contração dos níveis
internacionais de liquidez, os BCs das economias emergentes veem-se obrigados
a apertar suas políticas monetárias com o intuito de evitar a fuga de capitais que
induzem movimentos de bruscas e acentuadas depreciações cambiais com seus
indesejáveis efeitos inflacionários.

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Nas crises financeiras ocorridas na década de 1990, era precisamente isto o que
ocorria. Já na crise atual, a restauração dos níveis de liquidez a partir do início de
2009 permitiu que as economias emergentes recompusessem suas reservas
internacionais. De um modo geral, salvo algumas exceções – como o caso da
Coréia do Sul e do México – a baixa intensidade na perda de reservas
internacionais durante o auge da crise não foi um privilégio da economia
brasileira (Argentina e Chile, por exemplo, registraram poucas perdas), de modo
que essas economias passaram pela crise praticamente sem arcar com o ônus de
crises cambiais.
Este cenário de retomada da liquidez internacional permitiu que as economias
emergentes também adotassem medidas visando à reposição da liquidez
contraída durante a crise, bem como à garantia da solidez dos seus sistemas
bancários. Na América Latina, por exemplo, a criação de linhas especiais de
crédito em moeda nacional e estrangeira por parte dos vários BCs teria induzido
os agentes dos mercados financeiros a elevar o grau de confiança na
solvabilidade do sistema bancário daquela região, o que se refletiu na queda do
prêmio de risco.

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Brasil Econômico

03/11/2011

Economia

4. G20 DEVE LANÇAR BASES PARA TAXAÇÃO. IMPOSTO


FINANCEIRO

A reunião do G20 de Cannes permitirá sem dúvida lançar as bases de um


imposto sobre operações financeiras, mas diante da hostilidade de Estados
Unidos e Grã-Bretanha, sua aplicação poderá limitar-se a um grupo de
países da Zona do Euro. Nicolas Sarkozy fará todo o possível para que a
cúpula, presidida pela França, faça "avançar as linhas a esse respeito",
segundo Henri Guaino, conselheiro especial do presidente francês. "É um
tema capital, tanto para a reforma das finanças como para conseguir
dinheiro para combater a miséria", argumentou Guaino.

Por sua vez, o ministro alemão de Finanças, Wolfgang Schäuble, cujo país
também é favorável ao imposto, pediu avanços em uma solução
alternativa.

"O G20 não pode ser utilizado como desculpa para não se fazer nada (...)
eu sou partidário de que avancemos na Europa", disse o ministro. A ideia
de um imposto sobre transações financeiras, herdeiro da "taxa Tobin"
(proposta em 1971 pelo Nobel da Economia James Tobin para taxar o fluxo
de capitais mundial ), ganhou espaço com a crise de 2008. Em 23 de
outubro, Nicolas Sarkozy, ao lado da chanceler alemã, Angela Merkel,
expressou sua vontade de apoiar essa medida. Rebatizada de "imposto
mundial de solidariedade", a nova versão da taxa Tobin teria como meta o
auxílio ao desenvolvimento.

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O Estado de S. Paulo
07/11/2011
Economia e Negócios / Artigo

5. AS BATALHAS PELA SIMPLIFICAÇÃO TRIBUTÁRIA

Everaldo Maciel, consultor tributário, foi secretário da Receita Federal

A funcionalidade e a diversidade da natureza, tão fascinantes quanto quase


imperscrutáveis, estão associadas à existência de uma estrutura complexa,
em que as partes estão em contínuo processo de interação. Ante a
desproporcional limitação da inteligência humana, sua compreensão requer
a construção de modelos que simplifiquem a realidade, para compreendê-la
e com ela interagir, a despeito dos riscos de uma modelação simplista,
desapegada da realidade e muitas vezes fundada em apriorismos filosóficos
ou religiosos.

À medida que prospera o processo civilizatório, as relações sociais, em


sentido lato, tendem à complexidade, ainda que em escala infinitamente
menor se cotejada com os sistemas naturais.

O elogio à genialidade de Steve Jobs ressaltou sua obsessão com a


simplicidade criativa. O primeiro folheto propagandístico da Apple
proclamava, acolhendo célebre frase de Leonardo da Vinci, que "a
simplicidade é a sofisticação máxima". Acrescentou Jobs: "O simples pode
ser mais difícil que o complexo. Você tem de trabalhar muito para chegar a
um pensamento claro e fazer o simples".

Sistemas tributários correspondem a intervenções do Estado - em tese


meritórias - nas relações sociais, daí porque se vocacionam para a
complexidade, quando acriticamente se limitam a replicar, no âmbito do
seu objeto, relações sociais mais elaboradas.

A complexidade tributária é custosa, ineficiente, controversa e produz as


trevas nas quais deambulam o burocratismo, que não raro inclui a
corrupção administrativa, e as diversas modalidades de alquimia tributária,
ao gosto da sonegação e da elisão fiscal.

A iniquidade dos sistemas complexos foi denunciada por eminentes


tributaristas contemporâneos, a exemplo de Klaus Tipke, Casalta Nabais,
Richard Musgrave e Vito Tanzi. Há uma convicção generalizada de que a
demanda por simplificação se tornou universal e de que o caos tributário
não é propriedade de nenhum país.

A reforma tributária de 1965 foi um extraordinário exercício de


simplificação, ao reparar - ao menos parcialmente - as imperfeições na

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tributação do consumo, centralizar na União os tributos sobre o Comércio
exterior e codificar a matéria tributária, sem descurar de melhorias na
administração fiscal.

Outro exemplo de iniciativa simplificadora foi a reforma do imposto de


Renda, empreendida na segunda metade dos anos 90.

A eliminação da correção monetária, para fins fiscais, expurgou uma


aberração que tornava a legislação do imposto de Renda brasileiro, além de
complexa, extremamente injusta, porque premiava as grandes empresas,
em escala progressiva, com a aceleração do processo inflacionário.

A efetivação do lucro presumido, pela elevação dos limites de faturamento


para opção dos contribuintes e isenção na distribuição dos resultados,
elidindo uma virtual bitributação, produziu, singularmente, aumento de
opções e de arrecadação, constituindo uma solução que conciliou interesses
do Fisco e dos contribuintes.

A instituição do simples, em 1996, representou a mais significativa onda de


formalização de micro e pequenas empresas no Brasil, a despeito de todas
as deploráveis restrições burocráticas à constituição e baixa de empresas,
que ainda hoje perduram. Motivou, inclusive, a adoção de modelos
análogos estaduais, como o simples Paulista e o simples Candango.

O esforço simplificador, contudo, enfrenta obstáculos sucessivos. Muitas


vezes, o Fisco parece abominar a simplicidade. O contribuinte é visto, nessa
hipótese, como adversário. Quanto mais complexa e obscura a legislação,
maior a dependência à interpretação da administração fiscal, fazendo
sobressair a força corporativa.

Desse modo, de tempos em tempos ressurge a demanda por indexação de


tabelas de impostos, esquecendo que esse instituto foi um dos principais
responsáveis pela inflação, que infelicitou o Brasil por um longo período.

Desde 2002 não se revê o limite de opção do lucro presumido. Argumenta-


se com virtual perda de arrecadação, o que não corresponde à verdade.
Nenhuma vez em que houve elevação desse limite ocorreu diminuição de
receitas.

No Congresso nacional tramitam projetos que pretendem estabelecer novos


limites, entre eles um de autoria do hoje vice-presidente Michel Temer. Os
parlamentares não devem demitir de si a discussão da matéria.

Foi boa a intenção de unificar, no âmbito federativo, os diferentes regimes


simplificados de tributação das micro e pequenas empresas, com a criação
do simples nacional.

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Aos méritos da instituição do Microempreendedor individual e da elevação
dos limites máximos de Receita bruta para enquadramento no regime se
contrapõem a completa inépcia em relação à simplificação dos
procedimentos de inscrição e baixa de optantes, a desconcertante e
contraditória complexidade na apuração do imposto devido e a profusão de
normas emanadas pelo comitê gestor.

A simplificação precisa se inscrever na agenda tributária brasileira em


caráter permanente. Não se pode esquecer de que a complexidade é
oportunista e de difícil erradicação.

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29/04/2011
Opinião

6. O IMPOSTO DE RENDA É UM DOS IMPOSTOS MAIS JUTOS


COBRADOS NO BRASIL? (Em Debate) (Artigo)

SIM

José Renato Salatiel

Professor universitário

Os impostos podem ser diretos ou indiretos. Os diretos são aqueles


arrecadados com base em rendimentos (imposto de renda) ou patrimônios
(IPVA para carros e IPTU para imóveis). São os mais transparentes e fáceis
de se calcular e saber quanto se paga por eles. Já os impostos indiretos
taxam a produção e comercialização de produtos e serviços. As empresas
pagam para o governo e, na medida em que podem, embutem o custo no
valor dos produtos. Pagamos por estes impostos toda vez que fazemos
compras no supermercado ou na feira, quando compramos carro ou
pagamos contas de luz, água e telefone. O problema desses impostos é que
eles tornam as mercadorias mais caras, estimulando desde os famosos
sacoleiros que trazem muambas do Paraguai até o mercado informal de
camelôs. Para o setor industrial e empresarial, a tributação excessiva torna
os produtos brasileiros mais caros e, por isso, menos competitivos no
mercado externo, encarecem o maquinário e estimulam a sonegação fiscal.
Os tributos indiretos, além disso, não trazem justiça social. Enquanto que,
com o imposto de renda, os ricos pagam mais que os pobres, no imposto
indireto ocorre o oposto. Vamos imaginar um DVD que custe R$ 150 e que
metade deste valor, R$ 75, seja referente a impostos federais e estaduais.
Para alguém que ganha um salário mínimo (R$ 510), o valor gasto com
impostos corresponde a 14,7% da renda mensal, ao passo que, para um
brasileiro que recebe dez salários mínimos, o percentual será de 1,47 %.

NÃO

Augusto Bottini

Economista

No Brasil, a tabela do IR vem perdendo progressividade em relação ao


passado. De 1983 a 1985, a tabela progressiva do IRPF estabelecia 13
faixas de renda e alíquotas que variavam de 0% a 60%, com interstício de
5%. Em 1989 ocorreu redução de nove faixas (alíquotas de 0% a 45%)
para apenas duas, com alíquotas de 10% e 25%. Em 1995 vigoravam três

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faixas com alíquotas de 15% a 35%, suprimida pelo governo anterior com o
falso argumento de que havia poucos contribuintes nessa faixa. Desde
1998, vigoram duas faixas. A alíquota mínima triplicou de valor, passando
de 5% para 15% e a máxima foi reduzida em mais da metade, de 60%
para 27,5%.

Essa maior tributação sobre os salários dos trabalhadores ocorre no período


em que a renda do trabalho participa cada vez menos da distribuição da
riqueza no país. A parte da renda nacional apropriada pelos salários caiu
19,69%, ou seja, de uma participação de 32% no PIB, em 1994, para
25,7%, em 2003. Por outro lado, no mesmo período, a fatia da renda
nacional conquistada pelos rendimentos do capital cresceu 11,98%. No
período de 1999 a 2005, os bancos recolheram de imposto de Renda e
Contribuição Social sobre seus lucros apenas R$ 55,4 bilhões, enquanto os
trabalhadores pagaram R$ 261,5 bilhões de imposto de Renda. Apesar do
aumento expressivo dos lucros dos bancos (31%), a arrecadação de
tributos desse setor permanece pequena em relação às demais empresas e
às pessoas físicas.

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Correio Braziliense

14/11/2011
Direito e Justiça

7. VALE A PENA SONEGAR?

O impacto da carga tributária no resultado das empresas, muitas vezes, é o


maior motivo para sonegação de impostos. Talvez esse não seja
exatamente o questionamento que o contribuinte brasileiro tem feito a si
próprio. Mas a indignação pelo crescente aumento da carga tributária, que
compromete os resultados das empresas, associada à impunidade daqueles
que cometem ilícitos comprometedores da moral nacional, muitas vezes
obriga o empresário a simplesmente não recolher exatamente o que deve.

Por outro lado, a grande maioria dos cidadãos brasileiros desconhece o que
vem a ser exatamente sonegar, quais as consequências em razão da sua
prática e as informações que, diariamente, alimentam o banco de dados da
Secretaria da Receita Federal e das fazendas estaduais e municipais.

Prestar declaração falsa ou omiti-la do Fisco, omitir rendimentos ou


operações em livros fiscais, alterar faturas ou notas fiscais, contabilizar
despesas inexistentes através de notas fiscais frias, constituem crime de
sonegação fiscal. Se condenado, o cidadão estará sujeito a detenção de seis
meses a dois anos, além de multa de duas a cinco vezes o valor do tributo.

Mas, ainda assim, o contribuinte pode se questionar: quais as chances de


ser apanhado pelo Fisco? No caso de uma empresa, dentro de um universo
de milhares cadastradas nos órgãos públicos, em que medida serão
investigadas as informações prestadas e, se inexatas, apanhadas pelo
Fisco?

Aos que ainda se questionam, aí vão algumas informações que talvez não
sejam conhecidas. As instituições financeiras informam mensalmente, por
CPF e CNPJ, todos os débitos de lançamentos em contas correntes à Receita
Federal. Além disso, quando é solicitado pelas autoridades fazendárias, os
bancos entregam, independentemente de autorização judiciária, toda a
movimentação financeira do investigado.

As administradoras de cartões de crédito, da mesma forma, são obrigadas a


informar as compras efetuadas por seus titulares mensalmente, por CPF e
CNPJ, quando os valores ultrapassam R$ 5 mil por pessoa física e R$ 10 mil
por pessoa jurídica. As imobiliárias, construtoras, incorporadoras e cartórios
informam sobre todas as operações de comercialização de imóveis,
identificando as partes envolvidas, o valor e a localização da transação,
ainda que tenha havido a intermediação de terceiros.

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Todas essas informações são auditadas pelo Fisco. Havendo divergências,
uma luz amarela acende e o órgão arrecadador abre fiscalização rigorosa e
detalhada contra aquele contribuinte. Outra informação que pode ser útil
àqueles desavisados é que as fazendas estaduais e municipais trocam
constantemente informações com a Receita Federal e o INSS.

Sonegar é crime! Omitir Receita ou contabilizar despesa fictícia é crime!


Importar bens por preços efetivamente não praticados, é crime! E cometer
um crime não é uma alternativa para aqueles que supõem auferir
vantagens financeiras com a sua prática.

Qual seria, então, a alternativa, questionam aqueles empresários que se


entediam lendo ou ouvindo as informações acima? Destinar de 25% a 30%
do faturamento para o esgoto da arrecadação tributária no Brasil? -
indagam.

Sonegar ou recolher todos os tributos não são alternativas entre si. As


alternativas que existem são: planejar ou não planejar a empresa
tributariamente. Antes de realizar um fato gerador de uma obrigação
tributária, o contribuinte deve planejar para que, sobre esse fato, incida a
menor carga tributária possível. Não se trata aqui de simular fatos ou atos,
mas sim de realizá-los tendo o seu propósito negocial concretizado, mas de
uma forma que sobre o mesmo não haja um desperdício tributário. Essa é
uma alternativa possível, além de ser uma alternativa legal.

O planejamento tributário eficiente exige conhecimento profundo e


atualizado da legislação. Existem ferramentas e estratégias disponíveis
legalmente capazes de minimizar esse custo excessivo e o trabalho dos
profissionais especializados consiste exatamente em disponibilizar o
conhecimento necessário para que as empresas em ascensão não
comprometam seu fluxo financeiro e sua lucratividade. Ou seja, a iniciativa
de realizar um planejamento tributário é a solução mais adequada contra o
desperdício.

Sonegar pode parecer economicamente interessante a princípio, mas, se a


estratégia realizada ilegalmente for desmascarada pelo Fisco - e existem
grandes e concretas chances de isso vir a ocorrer -, o prejuízo empresarial
será infinitamente superior a todos os tributos pagos.

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Revista Veja
29/11/2011
Seções

8. NÃO É TÃO SIMPLES (Carta do leitor)

Eles são 6 milhões. São os abnegados empreendedores brasileiros que


enfrentam a mais draconiana legislação trabalhista entre os países de
economia avançada, pagam a maior carga de impostos do mundo civilizado
e estão sujeitos a uma enlouquecedora trama de leis, decretos, portarias e
códigos, circunstâncias de desanimar qualquer cristão, muçulmano, judeu e
até ateu disposto a se lançar na vida empresarial. Quase seis em cada dez
pequenos ou microempresários jogam a toalha ao cabo dos primeiros cinco
anos de atividade. Os que conseguem superar as barreiras adicionais da
escassez de crédito e da burocracia paralisante nas três esferas de governo
são heróis que têm não apenas talento, mas um aguçado senso de
sobrevivência na selva que é o ambiente de negócios no Brasil.

Mesmo desunidos e fragmentados, esses empresários são criadores de 15


milhões de empregos formais. No setor privado, um em cada dois
brasileiros de carteira assinada trabalha em pequenas ou microempresas. A
riqueza que esses empreendedores produzem responde por 20% do PIB.
Eles não são totalmente invisíveis aos olhos das autoridades. Mas não
contam com uma bancada parlamentar à altura de sua importância. Não
fazem lobby organizado em Brasília.

Nos últimos anos, esse anônimo sal da terra da economia brasileira teve
parte de suas demandas atendida com a aprovação da Lei Geral da Micro e
Pequena Empresa e da Lei do Empreendedor Individual O sistema de
tributação simples abriu a essas empresas - e elas são 98% de todas as
companhias nacionais - a possibilidade de pagar apenas um em vez de oito
tributos. No entanto, como mostra uma reportagem desta edição de VEJA,
um pequeno empresário no Brasil gasta mais tempo e esforço
desvencilhando-se de formalidades burocráticas e das armadilhas
regulatórias do que tocando o seu negócio. O simples foi um grande e bem-
vindo avanço. Mas é pouco. Esses heróis do capitalismo brasileiro poderiam
criar muito mais empregos formais e produzir mais riqueza para todos sem
as amarras que atualmente atravancam suas atividades.

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Correio Braziliense
19/12/2011
Opinião
9. BUROCRACIA E IMPOSTOS (Artigo)
ANTÔNIO ROCHA
Empresário e presidente do Sistema Fibra
Com carga tributária de 35% do PIB, a maior da América Latina e uma das
maiores do mundo, o Brasil enfrenta ainda mal maior: a burocracia que asfixia as
empresas com um cipoal de normas tributárias. Essa burocracia é mais prejudicial
do que o valor da carga, pois implica desviar pessoal das atividades fim das
empresas para a atividade meio de estudo, cálculo e demais encargos para
preparar o pagamento dos tributos.
Estudos demonstram que, a cada hora, cinco novas regras tributárias chegam à
contabilidade da empresa brasileira, acionando um batalhão de profissionais para
estudar, alterar softwares e refazer planilhas, inclusive auditores, consultores,
contadores e advogados tributaristas. Os estudos mostram que as empresas
brasileiras gastam R$ 19,7 bilhões por ano só com a burocracia do sistema
tributário.
Segundo pesquisa divulgada pela Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo (Fiesp), o Brasil permaneceu na 37ª posição no índice de Competitividade
das Nações 2011.
O país tem competitividade baixa entre as 43 nações analisadas, por causa de
fatores como altos juros, carga tributária elevada e elevados gastos
governamentais, entre outros. Já a Sondagem Industrial realizada pela Fibra em
parceria com a CNI mostra que a carga tributária continua sendo também o
principal entrave da competitividade da indústria brasiliense.
Dos empresários entrevistados, 63% acreditam que os altos tributos interferem
negativamente na atividade industrial brasiliense.
O Senado Federal divulgou que nosso sistema tributário contempla cerca de 104
tributos, contribuições e taxas federais, estaduais e municipais, pois todo ente
federativo quer mais recursos e trabalha para criar regras para ficar com parte da
arrecadação. E a reforma tributária, tão comentada, mas que não consegue
avançar, já discute a primeira possibilidade: a unificação e redução gradual das
alíquotas estaduais do ICMS, como um esforço para combater a guerra fiscal, que
tantos prejuízos causa aos estados e municípios.
Atualmente, 57% do que se paga por um veículo nacional pode ser de impostos.
Nem a cesta básica escapa dos altos impostos: itens como o açúcar, o sabão e
papel higiênico contribuem com cerca de 40% de tributos. Conforme o Instituto
Brasileiro de Planejamento Tributário, do início do ano até o início deste
semestre, os brasileiros pagaram R$ 500 bilhões em impostos federais, estaduais
e municipais.
Na visão de 96% dos empresários, a quantidade de tributos é ruim ou muito
ruim, elegendo o ICMS como o tributo que mais afeta a competitividade,
independentemente do tamanho das empresas. A pesquisa da CNI mostrou
também que pelo menos três quartos do empresariado desaprovam o sistema

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tributário em outros seis quesitos analisados - simplicidade, transparência,
direitos e garantias do contribuinte, estabilidade de regras, segurança jurídica e
prazos de recolhimento.
Outro problema permanente no nosso sistema tributário é que, enquanto em
muitos países o imposto é fixado de forma clara e transparente em cada nota
fiscal, o cidadão brasileiro sabe que paga impostos quando consome, mas não
sabe quanto. Além dos chamados impostos indiretos (PIS, cofins, IPI, ICMS,
etc.), cujo impacto no preço final é mais fácil de estimar, existem diversas outras
taxas que se diluem nos custos das empresas.
Além de ser complexa, pesada, confusa e pouco transparente, a carga tributária
brasileira tem a característica de ser regressiva, pois tributa igualmente os
desiguais, penalizando, portanto, os mais pobres, que arcam com a mesma
quantidade de impostos embutidos nos preços dos produtos.
Um estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostra que
uma família que ganha até dois salários mínimos tem 45,8% de sua renda
corroída pelos impostos indiretos, o que só será resolvido se a incidência da carga
tributária for migrada mais para a renda e menos para o consumo.
Assim, só nos resta esperar que o Congresso nacional e os governos federal,
estaduais e municipais obtenham um consenso e ampliem a proposta de reforma
tributária para a simplificação tributária tão indispensável.

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10. Brasil fecha 2011 como a sexta maior economia do mundo
Segundo o jornal inglês "The Guardian", País superou o Reino Unido; EUA e
O jornal britânico "The Guardian" informa na edição desta segunda-feira que o
Brasil superou o Reino Unido e se tornou a sexta maior economia do mundo. O
levantamento publicado pelo jornal foi feito pelo Centro para Pesquisa Econômica
e de Negócios (Centre for Economics and Business Research).
Agora, o ranking das maiores economias é liderado pelos EUA, seguido por China,
Japão, Alemanha e França. O Reino Unido ocupa o sétimo lugar.
Leia também: Brasil deve fechar 2011 como a sexta maior economia do mundo
Segundo Douglas McWilliams, presidente do CEBR, “o Brasil tem batido os
europeus no futebol por um longo tempo, mas superá-los na economia é um
fenômeno novo”. Ainda ao Guardian, McWilliams concluiu: “Nossos rankings
mostram que os países asiáticos e os países que produzem commodities estão
escalando os pontos mais altos da tabela enquanto, nós, da Europa, estamos
ficando para trás”.
Entre as razões para a ascensão do Brasil, segundo o estudo, estão a crise de
2008, que dissolveu o crescimento dos países europeus em um caldeirão de
dívidas, e as exportações de produtos primários, como minérios, soja e petróleo,
para a China e para o Sudeste Asiático.
Porém, o Brasil não deve ficar neste posto por muito tempo. Ainda segundo o
CEBR, a Índia deve pular para o quinto lugar e a Rússia, para o quarto, nos
próximos dez anos.
'Locomotiva'
O Daily Mail, outro jornal que destaca o assunto nesta segunda-feira, diz que a
Grã-Bretanha foi "deposta" pelo Brasil de seu lugar de sexta maior economia do
mundo, atrás dos Estados Unidos, da China, do Japão, da Alemanha e da França.
Segundo o tabloide britânico, o Brasil, cuja imagem está mais frequentemente
associada ao "futebol e às favelas sujas e pobres, está se tornando rapidamente
uma das locomotivas da economia global" com seus vastos estoques de recursos
naturais e classe média em ascensão.
Um artigo que acompanha a reportagem do Daily Mail, ilustrado com a foto de
uma mulher fantasiada sambando no Carnaval, lembra que o Império Britânico
esteve por trás da construção de boa parte da infraestrutura da América Latina e
que, em vez de ver o declínio em relação ao Brasil como um baque ao prestígio
britânico, a mudança deve ser vista como uma oportunidade de restabelecer
laços históricos.
"O Brasil não deve ser considerado um competidor por hegemonia global, mas
um vasto mercado para ser explorado", conclui o artigo intitulado "Esqueça a
União Europeia... aqui é onde o futuro realmente está".
A perda da posição para o Brasil é relativizada pelo Guardian, que menciona uma
outra mudança no sobe-e-desce do ranking que pode servir de consolo aos
britânicos.
"A única compensação (...) é que a França vai cair em velocidade maior". De
acordo com o jornal, Sarkozy ainda se gaba da quinta posição da economia

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francesa, mas, até 2020, ela deve cair para a nona posição, atrás da tradicional
rival Grã-Bretanha.
O enfoque na rivalidade com a França, por exemplo, foi a escolha da reportagem
do site This is Money intitulada: "Economia britânica deve superar francesa em
cinco anos".
(com BBC Brasil)

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O Estado de S. Paulo
26/04/2011
Economia e Negócios

11. OS RUMOS DO MERCADO INFORMAL (Artigo)

José Pastore A Fundação Konrad Adenauer acaba de publicar um excelente


livro sobre a situação do mercado informal na América Latina (Olaf Jacob,
Sector informal y políticas públicas en América Latina, Rio de Janeiro,
2010). Os casos descritos definem a situação do copo d"água: meio cheio e
meio vazio.

Fazendo um resumo, Marcela Particara e Joana Fontoura mostram haver


países onde a informalidade se mantém em níveis elevadíssimos, como
Paraguai (84%), Guatemala (77%) e Peru (70%), e outros onde o
problema atinge uma parte menor da força de trabalho, como ocorre no
Chile (35%). O Brasil fica no meio, com cerca de 50%.

Nos anos recentes (2004-2009), a informalidade diminuiu ligeiramente na


Argentina, no Brasil, no Chile, na Colômbia, na Guatemala, no Paraguai, no
Peru e no Uruguai. Na Venezuela, aumentou de modo severo. Os autores
que analisaram as diferentes nações procuraram responder às mesmas
perguntas: Quem são os trabalhadores informais? Quais as causas da
informalidade? O que deve ser feito para reduzi-la?

A informalidade é definida como a ausência de proteções básicas, em geral


garantidas pela Previdência Social. Em todos os países, o problema é mais
grave entre os empregados das pequenas e microempresas, os que
trabalham por conta própria e os empregados domésticos. Ela é
pronunciada também na agricultura, no comércio e nos serviços.

Entre as principais causas da informalidade são apontados o fraco


desempenho econômico, a excessiva rigidez da legislação trabalhista, os
altos custos da contratação formal, a inadequação das leis para as
pequenas e microempresas e a frouxidão da fiscalização.

As principais sugestões dos autores incidem na modernização das leis


trabalhistas, na simplificação da estrutura tributária e redução dos
impostos, nos incentivos à contratação formal por meio de contratos
alternativos (tempo parcial, prazo determinado, por projeto, etc.), na
melhoria da qualidade da educação e na intensificação da fiscalização.

Os casos em que a informalidade caiu estão relacionados a essas


providências, em geral combinadas. No caso do Brasil, Marcelo Néri e
Adriana Fontes destacam a importância do crescimento da demanda por

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mão de obra; a criação do crédito consignado em folha de salário; a
melhoria da educação; a intensificação da fiscalização; os incentivos às
pequenas e microempresas (Programa simples) e as inovações no campo
da legislação, em especial o Programa do Microempreendedor individual
(MEI); o contrato por prazo determinado; o banco de horas; a suspensão
temporária do contrato de trabalho (lay off); a participação nos lucros e
resultados; e o uso de cooperativas de trabalho.

Apesar disso tudo, a informalidade ainda atinge a metade dos brasileiros


que trabalham. É uma taxa muito alta. São cerca de 50 milhões de pessoas
que não têm nenhum tipo de proteção trabalhista ou previdenciária.
Quando ficam doentes, não têm uma licença remunerada para tratar da
saúde; ao envelhecer, não contam com aposentadoria; após a morte, nada
deixam para seus parceiros; quando gestantes, não dispõem de licença
para tratar da criança; e assim por diante.

O mundo da informalidade é um mundo selvagem e que estabelece um


verdadeiro apartheid social, apesar do fato de alguns benefícios do mercado
formal se transmitirem para o informal, como, por exemplo, os aumentos
do salário mínimo. Toda vez que este sobe, sobem também (ainda que em
menor proporção) os salários iniciais (pisos) dos que trabalham na
informalidade.

O MEI é reconhecido como um importante passo para levar proteções aos


que trabalham por conta própria e sem proteção. Uma boa medida. Já há 1
milhão de inscritos. Falta, agora, criar um simples Trabalhista para proteger
os empregados informais das pequenas e microempresas, ideia criativa do
deputado Julio Delgado (PSB/MG), que é autor de um projeto de lei a
respeito (PL n.º 951/2011).

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12. CONTROLES DE CAPITAIS: BREVE RESENHA
As economias capitalistas tendem a crescer ao longo do tempo, mas de uma
maneira irregular, apresentando oscilações em torno de suas tendências de longo
prazo. Essas oscilações podem ocorrer tanto nas variáveis reais, como
investimento, produto e emprego, quanto nas variáveis monetárias e financeiras,
como taxas de juros, preços e endividamento.

1 – Introdução

Até meados dos anos 1990, muitos países em desenvolvimento começaram


a remover controles de capitais, seguindo o exemplo de economias desenvolvidas
e, assim, estendendo a jurisdição do Fundo Monetário Internacional (FMI) ao
incluir movimentos de capitais e a liberalização da conta capital e financeira como
uma proposta da instituição. Surgiram críticas a estes tipos de controles a partir
do apontamento de seus custos, tais como o aumento da taxa de juros doméstica
e a redução do acesso aos mercados internacionais de crédito. No entanto, após a
onda em prol do processo de liberalização financeira e a partir das recorrentes
crises financeiras, que se iniciaram na Ásia (em 1997) e se espalharam por todo o
mundo, re-estimulou-se a discussão sobre controles dos fluxos de capitais,
sobretudo nas economias emergentes, as que mais sofreram com as crises.
Vários economistas passaram a acreditar que controles sobre a entrada de
capitais estrangeiros poderiam reduzir a vulnerabilidade destas economias a
instabilidades financeiras no cenário internacional.
Embora o comportamento dos fluxos internacionais de capitais seja tema de
grande relevância e muito presente no debate entre economistas desde as crises
financeiras dos anos 1990, mais recentemente, a discussão sobre o impacto
negativo de fluxos de capitais desregulados nos países em desenvolvimento foi
reacendida mais fortemente. A discussão se deu especialmente no meio
acadêmico, após a eclosão da crise do subprime nos Estados Unidos que se
reverteu em crise mundial em 2008.

2 –Experiências de restrições aos fluxos (ilimitados) de capitais


Uma conta de capitais com irrestrita mobilidade de capitais e trânsito entre
fronteiras já vem sendo debatida por inúmeras correntes do pensamento
econômico. Correntes puramente ortodoxas e o próprio FMI (historicamente pró-
liberalização) passaram a considerar, ainda que parcialmente, controles de
capitais, limitados e temporários.
Para Ostry et al (2010) – economistas e pesquisadores do FMI – as
massivas ondas de influxos de capitais podem gerar complicações para o
gerenciamento macroeconômico, assim como criam riscos financeiros. O
apontamento é o de que o forte influxo de capitais em países emergentes pode
gerar bolhas nos preços dos ativos financeiros e apreciar a moeda doméstica
excessivamente. Com base nesta afirmação, os autores apontam que o controle

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de capitais pelos países em desenvolvimento é desejável, sob certas
circunstâncias. Trata-se de uma afirmação nova, uma vez que parte de uma
instituição que tradicionalmente advoga a favor da plena abertura da conta de
capitais1.
Para Forbes (2007a, 2007b), controles de capitais poderiam reduzir
potencialmente os custos do livre movimento de capitais, como a apreciação da
moeda doméstica, a redução da competitividade das exportações, e a ineficiência
dos investimentos devido a distorções do mercado.
Magud & Reinhart (2006) registram as seguintes possíveis habilidades
referentes à eficácia de controles de capitais: 1) limita influxos de capitais; 2)
muda a composição dos fluxos (especialmente, pelo direcionamento rumo a
passivos de longo prazo); 3) aliviam pressões da taxa de câmbio real; e 4) geram
maior independência para política monetária através da junção entre a taxa de
juros doméstica e internacional. Neste sentido, controles de capitais são impostos
com base em quatro medos: de apreciação, dos capitais de curto prazo, de
grandes influxos e da perda de autonomia de política monetária (fear of
appreciation, fear of hot-money, fear of large-inflows, fear of loss of monetary
autonomy).
Para Carvalho & Sicsú (2004), o argumento teórico freqüentemente
apontado para imposição de controles é a existência de externalidades e a
ausência de mercados perfeitos e completos que tornam a operação livre dos
mercados ineficientes do ponto de vista social. Para além desta rationale teórica,
os autores apontam razões acerca da incerteza fundamental e irremediável que
cerca as transações com ativos financeiros e de capital. Desta maneira, o
isolamento de uma economia frente a choques externos e a autonomia para a
política econômica doméstica seriam as principais metas a serem propiciadas pela
existência de controles de capitais.
A livre movimentação de capitais aumenta a volatilidade cambial em um
sistema de taxas de câmbio flutuantes. Durante uma crise, o comportamento de
manada pode causar um overshooting cambial. A reversão súbita dos fluxos de
capitais resulta em uma grande depreciação da taxa nominal de câmbio,
aumentando os problemas financeiros dos tomadores domésticos e gerando
pressões inflacionárias. Assim, em momentos de crises as taxas de câmbio
podem alcançar níveis excessivamente altos, como foi o caso do Brasil em 2002,
deteriorando as expectativas do público.
A possibilidade de tributação dos rendimentos de capital, viabilizando a
adoção de política tributária distributiva – ao impedir que agentes domésticos
transfiram recursos para países com menor tributação; e a possibilidade de serem
utilizadas como instrumentos de política industrial para moldar a estrutura da
oferta doméstica – ao incentivar a entrada de investimento direto externo para
setores específicos, também resultam em argumentos adicionais justificadores
dos controles.

1
Recentemente, ainda foi divulgado o relatório semi-anual do FMI sobre a estabilidade financeira global – Global
Financial Stability Report, April 2010 – que discute a eficácia dos controles e capitais no Brasil, Colômbia, Tailândia,
Croácia, China e Índia.

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No que tange às evidências empíricas acerca dos controles de capitais,
Carvalho & Sicsú (2004) apontam algumas dificuldades, como a ausência de uma
medida aceita do grau de controle efetivamente praticado em cada economia, a
multiplicidade de objetivos dos controles e a dificuldade de escolha da variável
relevante para medir a eficácia dos controles.

3 – Tipologia dos controles de capitais

A decisão de como controlar os capitais especulativos, seja na entrada, seja


na saída, ou ainda, uma forma híbrida, ainda gera muitas controvérsias.
Há divergências no que diz respeito à temporalidade dos controles, isto é,
se devem ser permanentes ou temporários; ao tipo de movimento que se deseja
controlar, isto é, se devem situar-se sobre a entrada e/ou saída de capitais; se
devem ser seletivos ou completos.
Após uma investigação de estudos de casos de países que adotaram algum
tipo de medida de controle de capitais, pretende-se mostrar que a discussão da
eficácia de controles de capitais deve ser devidamente qualificada quando se trata
de medidas indiretas (ou menos intensas) de restrição dos fluxos de entrada ou
saída de capitais, assim como o momento no qual a medida foi adotada, isto é, se
foi uma medida ex ante ou ex post crise financeira.
Tendo clara uma definição própria de controles de capitais, mostramos
também diferentes tipos de controles. Estes podem ser baseados em quantidade
ou em preços, ou ainda focando somente o movimento de entrada ou saída de
capitais de um país, conforme destacado acima. Ademais, os controles de capitais
podem ser direcionados a diferentes tipos de fluxos – tais como empréstimos
bancários, investimento direto estrangeiro ou investimentos em carteira – ou a
diferentes atores – como empresas, bancos, governos ou indivíduos (Forbes,
2007b). Para uma melhor análise, o Quadro 1 sintetiza os tipos de controles e
seus instrumentos.
Quadro 1: Tipos e instrumentos de controles de capitais
Tipos de Controles de Capitais
1) Controle à entrada de 2) Controle à saída de
capitais capitais
Caráter preventivo para evitar Caráter emergencial (temporário)
atração excessiva de capitais em durante as crises de liquidez,
fases de abundância de liquidez. embora possa ser parte também
Sinalizam uma decisão de de uma estratégia cuidadosa de
selecionar o volume e o tipo de inserção externa.
recurso mais desejável para os
países.
Instrumentos de Controles de Capitais
1) Diretos ou 2) Indiretos ou precificados
administrativos Trata-se de restrições sobre a
Trata-se de restrições sobre a mobilidade dos capitais em termos

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mobilidade dos capitais em termos qualitativos. Buscam
quantitativos. Envolvem desencorajar fluxos de capitais,
proibições completas ou limites aumentando seus custos, através
(totais ou parciais) explícitos que de desestímulos tributários,
reduzem o escopo da liberdade de depósitos compulsórios, taxas de
gestão privada de portfólios. Esses câmbio múltiplas, requerimentos
limites administrativos podem mínimos de colateral e outros
restringir, em termos de valores e mecanismos. Incluem também
prazos, tanto a exposição cambial taxações explícitas ou implícitas
de bancos e empresas, quanto a de fluxos financeiros entre
alavancagem de recursos locais fronteiras (ex. taxa Tobin) e
para transações cambiais, para diferenciais de taxas de câmbio
residentes e/ou não residentes, para transações de capital. Assim,
recorrendo às vezes a atuam baseadas no mercado,
procedimentos de autorização como as operações de mercado
burocrática de decisões privadas. aberto. Pode afetar os preços, e o
Englobam, portanto, controles volume de uma dada transação. A
administrativos como a fixação de cobrança de impostos, por
tetos de crédito, tabelamento de exemplo, pode se diferenciar de
juros, etc. Procuram afetar acordo com as características do
diretamente o volume de fluxo de capital que se deseja
transações financeiras relevantes privilegiar.
entre fronteiras.

No tocante à questão da temporalidade dos controles de capitais, a


restrição ao grau de integração financeira pode ser considerada uma estratégia
de desenvolvimento permanente, quando se reconhece a superioridade dos
custos em relação aos benefícios da liberalização; ou temporária, quando os
controles são vistos como um mal necessário. Neste último caso, Carvalho &
Sicsú (2004) constatam que os controles de capitais são vistos como remendos e
não opções legítimas de política.

4 – Considerações finais

Os impactos dos controles de capitais apontados são cruciais para as


decisões de política macroeconômica em economias emergentes, como o Brasil. É
sabido que esta economia implementou uma taxação via Imposto sobre
Operações Financeiras (IOF), no final de outubro de 2009, sobre investimentos
estrangeiros de portfólio em ações e renda fixa no mercado financeiro e de
capitais domésticos. Contudo, esta cobrança do IOF não reduziu a entrada de
capitais estrangeiros através do mercado de capitais. Os dados da entrada de
Investimentos Estrangeiros em Carteira (IEC) – os investimentos de portfólio –
comprovam isto: apenas em outubro de 2009 a conta de IEC apresentou um
resultado positivo de mais de U$17 bilhões. Em outras palavras, o IOF não teve

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caráter estrito para constituição de barreiras à movimentação de capitais,
sobretudo os de curto prazo. A conseqüência deste boom de influxos foi uma
apreciação da moeda doméstica acima de 30% em relação ao dólar no ano
passado.
Desta forma, destaca-se a necessidade de medidas mais concretas, que
inibam efetivamente a especulação dos investidores estrangeiros. Isso poderia
ser atingido por meio de um controle de entrada articulado com um controle
sobre a saída de capitais. De outra maneira, a imposição de um requerimento de
reserva não remunerada (ou formas de quarentena) poderia ser mais enfático.
Mais ainda, torna-se imperioso taxar amplamente os fluxos financeiros, a partir
da imposição de limites, margens e depósitos para os capitais que entram no
país; regulamentar operações de bancos em moeda estrangeira; bem como
controlar o mercado futuro de bolsas e mercadorias. Estas seriam algumas
possíveis estratégias para a economia brasileira e que estão incluídas no rol dos
controles de capitais e da regulação prudencial.
Ademais, a análise prévia do perfil dos fluxos financeiros a partir do exame
de cada sub-conta do total da conta financeira do Balanço de Pagamentos
constitui uma importante estratégia para compreensão de quais capitais “atacar”
durante a implementação de diferentes tipos de controles. Muitas vezes, os fluxos
financeiros mais taxados não são os mais especulativos e voláteis. É necessário,
portanto, um detalhado exame das características dos fluxos de capitais
direcionados para o Brasil. Está claro que a desregulamentação financeira dos
mercados permitiu uma enorme alavancagem de recursos e uma conseqüente
perda financeira. O processo de regulamentação doméstica, cada vez mais
salutar, deve passar por uma análise detalhada do perfil dos capitais
ingressantes.

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Ocampo, José Antonio & Palma, José Gabriel (2008). ‘The role of preventative
capital account regulations’. IPD Working Papers, Columbia University,
January 2008.

Ostry, J.; et al. (2010). ‘Capital Inflows: The Role of Controls’. IMF Staff Position
Note. February 19. International Monetary Fund.

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13. O SISTEMA DE METAS DE INFLAÇÃO

Ao contrário do que se acredita, o conceito de metas de inflação é pouco

original. As autoridades monetárias sempre possuíram metas de inflação

implícitas segundo as quais conduzem suas políticas monetárias.

As raízes intelectuais do sistema datam do século XIX com Marshall(1887) e

Wicksell (1898). No entanto, serão Fischer (1911) e Keynes (1923) que

defenderão abertamente sistemas monetários que tenham como meta explícita

um número índice para os preços.

Um regime com meta explícita foi adotado pela primeira vez na Suécia

durante a primeira metade da década de 30. Tal experimento foi a base

intelectual e prática dos modelos de meta que encontramos hoje.

O regime de metas de inflação ressurgiu na década de 90 como resposta a

falhas dos regimes de política monetária em promover uma estabilidade de

preços duradoura.

Os países que a adotaram vieram de frustradas tentativas de estabilizar a

inflação através de taxas de câmbio fixo (como Finlândia e Suécia) ou de metas

monetárias (como Canadá, Reino Unido e Nova Zelândia).

Metas de Inflação( Inflation targeting)

Após uma decisão inicial de se implemementar um sistema cambial

designado como”banda diagonal endógena”, que colapsou em 48 horas, o BC foi

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levado a permitir a flutuação do real na sexta-feira, 16 de janeiro de 1999. Antes

da posse de Armínio Fraga, em 08 de março, o real chegou a atingir R$ 2,16 por

dólar, uma desvalorização de 77% relativamente à cotação de R$ 1,22 quando as

mudanças tiveram início.

No intuito de impedir que o overshooting do real se refletisse em aumento

de preços, elevou-se as taxas de juros básicas da economia para 45% ªª e aos

poucos tanto o câmbio quanto a inflação passaram a ter trajetórias declinantes.

Dado que o nível de preços voltara a um patamar mais adequado,

necessitava-se de um novo modelo de política monetária que permitisse a

estabilidade de preços atingida com a âncora cambial fosse mantida mesmo na

ausência desta. Ou seja, necessitava-se de uma âncora nominal para a formação

das expectativas inflacionárias.

O BC então decidiu introduzir o regime de metas inflacionárias em junho de

1999,tendo como base o modelo implantado no Reino Unido, tendo como objetivo

a restauração da credibilidade da política monetária e, como já mencionado,

assegurar os ganhos obtidos em termos de inflação.

O regime de metas de inflação é baseado no uso da política monetária

como instrumento para levar a taxa de inflação esperada na direção da meta

estabelecida pelo governo, sendo a credibilidade da Autoridade Monetária

essencial para o funcionamento deste. Adicionalmente, torna-se necessário que o

BC tenha informações quanto aos agregados macro que determinam a inflação

esperada, assim como uma revisão tanto quantitativa quanto qualitativa dos

mecanismos de transmissão da política monetária, trabalhando com um modelo

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que permita que as decisões sobre política monetária derivadas deste obtenham

os resultados esperados.

Este regime se constituía a estratégia mais adequada naquele contexto para

a manutenção da estabilidade de preços uma vez que tornava a política

monetária mais transparente, ao deixar claro os meios usados pelo BC para

atingir este objetivo. Ao mesmo tempo, evidenciava as limitações da política

monetária e a eventual inconsistência de políticas econômicas, aumentando o

grau de comprometimento do governo com o processo de estabilização de preços.

Portanto, o monitoramento constante de fatores de pressão inflacionária passa s

se tornar parte essencial da estratégia.

Como pode-se perceber pela definição acima, a adoção, por parte do BC, de

metas inflacionárias não significou um cumprimento à risca de alguns corolários

do regime, a começar pela atuação do BC nos primeiros 18 meses de regime.

Devido também ao fato de que havia a necessidade de reconquista da

credibilidade , a Autoridade monetária atuou de acordo com suas interpretações

acerca do ambiente macro, muitas vezes violando normas básicas do sistema de

inflation targeting, através, por exemplo, de intervenção no mercado cambial e

não alteração das taxas de juros básicas da economia, mesmo que a previsão de

inflação tenha permitido uma redução desta.

Esquematicamente podemos concluir listando os requisitos e pressupostos

teóricos de um sistema de metas de inflação:

i) Independência política da autoridade monetária.

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ii) Independência fiscal da autoridade monetária.

iii) Prioridade da meta inflacionária.

iv) Relativo conhecimento qualitativo e quantitativo sobre o

funcionamento da economia.

v) Transparência

vi) Monitoramento

i) BC mais independência e gozar de mais legitimidade para


perseguir os objetivos inflacionários. Responsável pelo
desempenho da política monetária, implica aumento da
credibilidade e maior desvinculação da conduta da política
monetária da esfera pública. O IPCA/IBGE é auferido por um
órgão público ligado ao governo logo mais suscetível à
manipulação e menos crível.
ii) Enquanto a política monetária é conduzida pelo governo, a

resolução da questão fiscal depende do Poder Legislativo. A

obtenção da situação fiscal sustentável de longo prazo, no

entanto, é condição “sine qua non”para o sucesso do sistema.

O déficit foi causa dos processos inflacionários observados

durante os anos 80 e continuará sendo no futuro, caso uma

solução estrutural para a questão fiscal não seja

implementada.

iii) Para que a meta da inflação ancore as expectativas dos

agentes é necessário que esses depositem confiança no

cumprimento da meta. Se os agentes antecipam que os outros

objetivos são igualmente importantes, a confiança na meta

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fica enfraquecida e o sistema tem menos chance de ser bem

sucedido.

iv) A implantação do sistema requer investimentos consideráveis

em capital humano e tecnologia. A pobreza estatística é

evidente. O país não possui sequer um índice de inflação

antecedente fundamental para a decisão sobre movimentos na

taxa de juros.

v) Apesar da existência do relatório de inflação, é necessário que

se produzam meios mais acessíveis de comunicação da

autoridade monetária com a população em geral.

vi) O estabelecimento de um contrato contingencial entre o BC e

o governo nos parece adequado. O governo estabelece as

metas e o BC se encarrega de cumpri-las. A dificuldade

quanto a isso é que a incerteza parece tão arraigada na

condução da política monetária nos últimos anos que seria

improvável que o presidente da autoridade monetária se

dispusesse a por seu cargo em jogo se houver desvios

significativos da meta. Quanto menos controle temos sobre a

inflação, maior a probabilidade de desvios e se houver um

contrato entre o BC e o governo, maior a probabilidade de

demissão do chefe da autoridade monetária. A inexistência de

um contrato, por outro lado, implica em menor credibilidade e,

portanto, em menor probabilidade de se atingir a meta.

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Infelizmente não temos ainda um consenso em torno da estabilidade

de preços como objetivo central da política monetária, o que impossibilita

uma independência política efetiva da autoridade monetária. Enfrentamos

dificuldades na aprovação das reformas fiscais o que prejudica a

sustentabilidade fiscal no longo prazo e mina a credibilidade do sistema.

Temos um controle fraco dos agregados macroeconômicos fruto da

instabilidade dos mesmos durante as últimas décadas o que impossibilitou

um estudo dos mecanismos de transmissão de política monetária. Falta-nos

estatísticas abrangentes e confiáveis. A transparência dá-se através de um

relatório de inflação, inacessível aos formadores de preço enquanto o

monitoramento da autoridade monetária é ineficiente.

A implantação do regime de metas inflacionárias no Brasil: Comentários

Com a quebra, no início de 1999, do regime monetário de câmbio fixo em

vigor desde 1994, surgiu uma necessidade premente de se buscar uma nova

âncora para o nível de preços.

Assim, o sistema de metas de inflação no Brasil foi introduzido em

circunstâncias “sui generis”uma vez que não veio como conseqüência natural de

um processo linear de fortalecimento da credibilidade da autoridade monetária

mas da urgência da necessidade da introdução de uma nova âncora . O timing

não foi certamente o melhor. Primeiro porque é necessário atentar para o

ambiente econômico e político do país. Aconselham que o regime seja implantado

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em período de maior credibilidade da autoridade monetária, o que certamente

não foi o caso. Em segundo, defendem que haja perspectiva de equilíbrio das

contas públicas no longo prazo. Requisito que não foi também preenchido.

Os desafios enfrentados pelo BC hoje são largamente devidos à introdução

repentina de um regime monetário completamente novo e da impossibilidade se

construir, logo de início, os mecanismos internacionais, o ambiente político e o

apoio popular necessários para o bom funcionamento do sistema.

A série de preços na qual se baseia a meta é o IPCA divulgado pelo IBGE.

Contudo, não existem no Brasil índices que reflitam a evolução do núcleo da

inflação, a possibilidade de se exlcluir os efeitos de primeira ordem dos choques

de oferta e a retirada de alguns componentes dos índice de preços ( no Reino

Unido são excluídos juros de empréstimos imobiliários) é uma questão que tem

merecido atenção. Embora um índice que reflita a evolução do núcleo da inflação

possa ser uma medida mais precisa do desempenho da autoridade Monetária, o

passado histórico de instabilidade da economia brasileira pode fazer com que tal

alteração nos componentes do índice de preços seja interpretada como uma

tentativa do governo de manipular os resultados obtidos.

Finalmente, num regime de metas inflacionárias há uma interação implícita

entre os objetivos das políticas monetária e fiscal. Em países como o Brasil, uma

dívida pública excessiva pode induzir expectativas inflacionárias elevadas que

limitam a capacidade do BC cumprir a meta inflacionária no curto prazo. Porém,

uma possível aumento das taxas de juros de curto prazo aumenta os custos de

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servir a dívida e o seu próprio estoque, o que pode resultar num círculo viçoso,

com taxas de juros reais e dívida pública cada vez mais elevado, tornando maior

o custo da manutenção das metas no nível anunciado em termos de perda do

produto e de aumento no desemprego.

Metas de Inflação ("inflation targeting")


A taxa de juro é a nova arma do governo para tentar manter a economia
sob controle. Mas o sucesso da proposta depende do ajuste das contas públicas.
A estratégia de metas de inflação adotada pelo governo vai neutralizar
parte da antiga pressão pelos reajustes constantes. Sempre que houver risco de
aumento de preços, o Banco Central (BC) elevará os juros. A quantidade de
dinheiro em circulação diminui e a atividade econômica vai ao nível desejado. Se
os preços caírem muito, a redução dos juros estimulará o consumo. O indicador
escolhido pelo governo é o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), do
IBGE.
Até desvalorizar o real, no começo do ano, o governo controlava a inflação
com a âncora cambial. Os produtos importados eram mais baratos e a indústria
nacional tinha de manter os preços baixos para não perder participação no
mercado.
O problema para se aplicar essa política é que o BC deve estar livre para
subir a taxa de juros, quando for necessário, para conter a atividade econômica e
frear a atividade econômica. Como há um desequilíbrio fiscal, o BC não terá a
autonomia necessária na condução da política monetária. A principal preocupação
é com a meta, acertada com o FMI, de estabilizar o tamanho da dívida pública em
relação ao PIB. Se houver alta dos juros, a dívida crescerá em relação ao PIB.
Entenda o sistema de metas de inflação.
O que é?

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Mecanismo pelo qual o BC anuncia publicamente metas para a inflação, que
devem ser atingidas, principalmente, por meio da política de juros. Se a inflação
ameaça ultrapassar a meta, os juros sobem.
Como funciona?
As metas são públicas e o BC deve prestar regularmente informações sobre
as medidas tomadas para atingi-las. Em caso de descumprimento das metas, o
BC deve explicar os motivos.
Por que será adotado?
O BC abandonou em janeiro de 1999 o controle das cotações do dólar, base
do Plano Real para manter baixa a inflação. As metas têm o objetivo de evitar
temores quanto a uma alta futura da inflação.
Vantagens Desvantagens
Se o sistema tem credibilidade, Implica sacrifícios, como a
pessoas e empresas tendem a esperar possibilidade de os juros subirem
uma inflação baixa, o que reduz muito.
pressões por aumentos de preços e
salários.
Em tese, o BC deverá se tornar mais No caso brasileiro, o tamanho da
transparente, prestando contas dos dívida pública e do déficit público
motivos pelos quais toma suas limitam a capacidade do BC de
decisões. promover altas dos juros.
O sistema pode reduzir pressões O sistema condena a política
políticas sobre o BC e evitar que o econômica a se fixar exclusivamente
governo manipule os juros com na inflação, com prejuízo para o
objetivos que não os de política crescimento e o emprego.
econômica.
Uma meta pública da inflação torna O BC, ao adotar o sistema com a
mais fácil a avaliação, pela sociedade, economia ainda sujeita a turbulências,
da ação do BC. não consiga credibilidade para suas
metas.

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O Estado de S. Paulo
10/11/2011
Caderno Economia e Negócios

14. SOCORRO DE ÚLTIMA INSTÂNCIA - Celso Ming

A derrubada de Silvio Berlusconi do cargo de chefe de governo, por si só,


não melhora a situação das finanças da Itália, a terceira maior economia do
bloco do euro. Ele pode ter agravado a encrenca, mas não foi a causa dela.

É pouco provável que o Parlamento italiano aprove um pacote econômico


suficientemente robusto, capaz de virar rapidamente esse jogo - hoje
perdedor. Se, por um lado, um forte aperto dos cintos poderia reerguer a
credibilidade imediata nos mercados, por outro, provocaria efeitos
colaterais devastadores, como recessão, desemprego, perda de
arrecadação e, lá na frente, talvez deixasse o país em piores condições de
honrar a dívida.

Ontem, o rendimento (yield) dos títulos da Itália saltou para acima dos 7%,
o nível que lá atrás disparou o pedido de socorro para Portugal e Grécia
(veja, ainda, o Confira).

Há dúvidas de que a área do euro consiga construir blindagem suficiente


para impedir a deterioração das finanças italianas. Isso significa que, em
vez de diminuir, o risco de descontrole e de contágio está aumentando. As
eventuais consequências de uma reestruturação da dívida da Itália (corte
da dívida) seriam mais do que simplesmente preocupantes. Se mais de 100
bilhões de euros são necessários apenas para recapitalizar bancos europeus
depois do calote grego, imagine-se o que não seria exigido se fosse para
montar uma operação parecida, dessa vez para evitar o colapso dos
credores da Itália, que tem dívida cinco vezes maior do que a da Grécia.

Os especialistas repetem que, numa paisagem de paradeira econômica,


qualquer recuperação é muito mais difícil. Daí por que a estratégia correta
seria colocar em marcha o crescimento econômico e a criação de empregos.
Até agora ninguém explicou como se faz isso. Keynes, é claro, avisou que
seria preciso liberar investimentos e produzir um amplo New Deal para
recolocar a máquina em movimento. Mas de onde tirar esses recursos se os
Estados estão prostrados por dívidas colossais?

Enfim, as portas de saída serão bem mais raras. Talvez a opção restante
seja a que hoje ainda está sendo considerada impensável: acionar o Banco
Central Europeu (BCE) para que emita moeda e refinancie o rombo

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acumulado da Itália - apesar de todos os desdobramentos que um passo
desses pudesse provocar. De quebra, essa operação produziria certa
inflação que provocaria um encolhimento na dívida real dos Estados.

Antes disso, os alemães e todos os ortodoxos europeus tratarão de soltar


as fúrias dos seus porões contra o atropelamento dos tratados e das regras
de boa governança dos bancos centrais que uma saída dessas implicaria.
Mas dificilmente apresentariam melhor escolha. E, é óbvio, esse precedente
leva o perigo de causar mais estragos à confiança no euro.

Ainda assim, se for bem conduzida - o que é difícil -, a mobilização do BCE


como emprestador de última instância a devedores soberanos, no máximo,
conseguiria evitar a implosão desordenada da Eurolândia. Em seguida, ou
até mesmo simultaneamente, seria necessário repensar e reconstruir tudo.

CONFIRA

Mais um recorde. Ontem, o rendimento (yield) de 10 anos dos títulos da


Itália avançou para 7,25% ao ano, ou 5,7 pontos porcentuais acima do que
pagam os da Alemanha.

Quem achava injusta e descabida a incorporação da Itália à sigla PIIGS, que


lembra porco em inglês (pig), agora já não pode mais impedir que maldades
desse tipo continuem aparecendo no noticiário econômico dos jornais. A terceira
maior economia do bloco agora também está formando a chamada “periferia do
euro”.

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O Estado de S. Paulo
03/12/2011
Economia e Negócios
15. "DÓLAR PERDERPA A FUNÇÃO DE MOEDA GLOBAL"
James Rickards,diretor-gerente da Tangent Capital Partners
Divisa dos EUA deve perder poder de ser a reserva dos países; papel do FMI deve
ser a nova moeda de reserva
FÁBIO ALVES - O Estado de S.Paulo

O mundo após uma terceira guerra mundial é ainda especulação apenas de filmes
de Hollywood, mas o desfecho da terceira guerra cambial, já em curso, será um
cenário de caos no sistema financeiro internacional, segundo o americano James
Rickards, autor do livro Currency Wars: The Making of The Next Global Crisis, que
acaba de ser lançado nos Estados Unidos. Rickards, 60 anos, atualmente diretor-
gerente da consultoria Tangent Capital Partners, foi o principal negociador do
socorro financeiro ao fundo Long-Term Capital Management (LCTM) pelo Federal
Reserve de Nova York em 1998.
Em entrevista exclusiva à Agência Estado, Rickards diz que o dólar vai perder o
seu papel de moeda de reserva mundial. É inevitável, diz o economista
americano, de 60 anos, e com longa carreira no mercado financeiro, incluindo no
currículo postos no Citibank e Royal Bank of Scotland. Quem assumirá esse papel
será provavelmente o Direito Especial de Saque (SDR, na sigla em inglês), a
moeda do Fundo Monetário Internacional (FMI).
No livro, Rickards diz que a primeira guerra cambial aconteceu nos anos de 1920
e 1930, levando aos conflitos militares encabeçados pela Alemanha nazista. A
segunda guerra cambial foi travada na década de 1970, resultando na escalada
inflacionária naquele período. A terceira guerra cambial foi alertada em 2010 pelo
Ministro da Fazenda brasileiro Guido Mantega e, segundo Rickards, é culpa do
Federal Reserve americano. Veja, a seguir, trechos da entrevista.
O que fez o senhor escrever o livro?
Estava muito preocupado com os Estados Unidos, embora o assunto "guerra
cambial" seja um tema global, que afeta a todos, pois se trata do sistema
financeiro internacional. Eu pude observar com a história que guerras cambiais
são altamente destrutivas porque, no fim, todo mundo perde. Qualquer ganho ou
vantagem que advenha dela é estritamente temporário. Então, quis apontar os
problemas e, assim talvez, influenciar o debate de políticas numa direção que nos
levasse novamente a um dólar forte e também a uma economia americana forte.
Além disso, outro objetivo foi o de dizer para as pessoas: bem, se vocês,
cidadãos americanos médio, não veem uma mudança de políticas para um dólar
forte, vocês podem se proteger comprando ouro.
Qual o próximo capítulo nessa guerra cambial?
No livro, traço quatro cenários que poderão acontecer no futuro no sistema
financeiro internacional, aliás eu os chamo de os quatro cavaleiros do apocalipse
do dólar.

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O primeiro cenário seria um mundo de múltiplas moedas de reservas.
Atualmente, o dólar detém cerca de 60% das reservas totais, caindo de um
patamar de 70% do total em 2000. Nesse cenário, o dólar cairia para um nível de
40% das reservas no mundo e o euro avançaria do patamar atual de pouco mais
de 30% para também 40%, além de outras moedas, como o franco suíço e até o
yuan e o real, também detendo um papel mais relevante nas reservas mundiais.
Muita gente acha que isso vai acontecer, mas a minha crítica a esse cenário é a
falta de uma âncora.
O segundo cenário seria um maior papel para o Direito Especial de Saque (SDR),
do FMI. Não é só o Fed e o BCE que dispõem de uma impressora para imprimir
mais dinheiro quando eles precisam, o FMI também tem uma e pode imprimir
SDR, que serviria então como uma moeda global, sem ter um lastro específico. A
direção para atuação do FMI atualmente tem sido dada basicamente pelo G-20.
Assim, o FMI seria então uma espécie de banco central mundial com o G-20
servindo como a diretoria desse BC. Daí, a próxima vez que tivéssemos uma fase
aguda de crise financeira internacional, como aconteceu em 2008, o FMI poderia
imprimir SDR.
O terceiro cenário seria o retorno ao padrão-ouro, mas seria um novo padrão-
ouro, mais flexível e adaptado ao século 21. Ao longo da história, tivemos
padrão-ouro com lastro de 20%, 40% em ouro. Há quem defenda um lastro de
100%.
O quarto cenário seria o caos, o qual eu acho mais provável porque, numa
combinação de atitudes de negação ou de "wishful thinking" pelos políticos,
estamos chegando num ponto em que as pessoas estão perdendo muito
rapidamente confiança no dinheiro, o que forçará líderes mundiais, incluindo o
presidente dos EUA, a agir com medidas arbitrárias para impor ordem no sistema
de novo. No fim, será uma corrida apertada entre as opções de um cenário com
SDR ou com padrão-ouro, mas a alternativa SDR parece ser a favorita entre
presidentes de bancos centrais e executivos de instituições financeiras
Então, teremos de chegar ao caos para que os líderes mundiais possam
redesenhar o sistema financeiro internacional?
Sim e não. É, de fato, uma das formas para que o processo seja acelerado.
Quando eu falo na opção do FMI, na realidade quero dizer que o FMI é um
instrumento de consenso que está sendo formado no âmbito do G-20. O mundo
está se movendo em direção ao SDR. Esse movimento pode ser acelerado se
houver uma piora na crise e o FMI seja forçado a imprimir SDR rapidamente.
Vemos algo como isso acontecendo na Europa hoje. Na última reunião do G-20
em Cannes houve discussões informais sobre o uso do SDR. Se houver uma
corrida aos bancos europeus e se o BCE não intervir mais energicamente,
poderemos ver emissão maior de SDR. Toda essa arquitetura está sendo
montada pelo FMI, porque você não pode assumir o papel de moeda de reserva
sem ter ativos que possam servir como instrumentos de investimento, isto é, os
países precisam de um instrumento para aplicar suas reservas.

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Revista Época
31/10/2011
O Filtro

16. MENOS IMPOSTO SOBRE O CONSUMO, JÁ (Opinião)

Há pouco mais de um ano, a campanha da então candidata Dilma Rousseff


prometeu uma redução de impostos de grande impacto. Foi no horário eleitoral
gratuito da noite de 27 de outubro. Dizia a propaganda: Dilma vai aproveitar esse
cenário de estabilidade para ampliar os limites do Super simples, para incluir
milhares de empresas pagando menos impostos, reduzir os impostos cobrados de
empresas de ônibus, reduzir os impostos sobre empresas de saneamento, reduzir
os tributos sobre energia elétrica, reduzir os impostos sobre a folha de
pagamentos das empresas, reduzir a zero os tributos sobre investimentos. Para
cada redução de impostos prometida, a propaganda de campanha associava um
benefício claro e direto à vida do consumidor. Não se trata aqui de cobrar do
governo que cumpra as promessas de campanha. Mas é preciso reconhecer que,
ao prometer reduzir impostos, a candidata Dilma agradava ao eleitorado. Sua
campanha estava certíssima ao defender a redução de impostos com base em
benefícios concretos, diretos e tangíveis para a população. Nada mais verdadeiro.

A população brasileira não mais acredita se é que alguma vez já acreditou que
mais impostos resultarão na melhoria de qualquer serviço público. Nossa elite
política vem educando a população a pensar assim. A principal e contínua
mensagem educacional são os escândalos de corrupção. A cada escândalo, a
população é estimulada a acreditar que há recursos públicos de sobra, mas eles
são desviados. Portanto, não é preciso aumentar impostos. Outros episódios
recentes reforçaram essa percepção. A CPMF foi instituída em janeiro de 1997
para melhorar a saúde e a saúde não melhorou. A CPMF foi extinta dez anos
depois, em dezembro de 2007 e a saúde não piorou. Nossa elite ensinou à
população que o aumento ou a redução de recursos para a saúde pública não
resultam na sua melhora ou piora. Simplesmente nada acontece. Ou melhor,
acontece sim: a população paga mais impostos e fica com menos dinheiro no
bolso. Está na hora de recolher 10 milhões de assinaturas para aprovar uma lei
que corte os impostos Quando o então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva,
reduziu o IPI dos automóveis e dos eletrodomésticos para enfrentar a crise de
2008, contribuiu para tornar ainda mais evidente esse mecanismo. Ficou claro
claríssimo para os eleitores que impostos menores não resultam em serviços
públicos piores. E ainda têm o mérito de baratear o preço dos produtos. O apoio
àquela medida foi avassalador, e o governo, passada a crise, perversamente
voltou a aumentar o IPI colocando-o em seu patamar original. Isso só pode ser
feito em um país que injustamente tributa proporcionalmente mais os mais
pobres. Nossa estrutura tributária é reflexo da herança escravista.

Dados oficiais, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostram que


os brasileiros que ganham até dois salários mínimos trabalham 197 dias por ano
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para pagar seus impostos e quem ganha mais de 30 salários mínimos trabalha
132 dias. Tradução: os impostos geram pobreza e desigualdade, e nosso povo
pobre carrega nas costas um governo que não atende a suas demandas. No
Brasil, os pobres pagam impostos demais. Esses impostos encarecem em
demasia o preço final dos produtos e serviços e excluem os pobres do consumo.
O exemplo do carro deixa isso evidente. Cerca de 40% da população adulta
brasileira tem automóvel. E 60% não têm por inteira culpa do governo. O
governo e seu apetite tributário insaciável excluem os brasileiros pobres do
consumo de automóveis. Exemplos como esse podem ser multiplicados. Em que
pese a recente explosão de consumo da aviação civil comercial, a grande maioria
dos brasileiros jamais entrou em um avião. Motivo: o governo tributa muito a
passagem aérea e impede os mais pobres de voar. O governo e os impostos que
ele cobra são os responsáveis, no Brasil de hoje, por excluir os pobres do
consumo de quase todo produto ou serviço cujo acesso no mundo desenvolvido
atinge 90% da população.

Ao aceitar uma carga tributária excludente, o governo se torna responsável pela


exclusão social. O atual programa de governo Brasil sem miséria poderia muito
bem adotar todas as promessas de redução de impostos feitas por Dilma na
campanha eleitoral de 2010. Cortar impostos sobre o consumo é sinônimo de
reduzir a pobreza e a miséria. EXCLUSÃO SOCIAL Nossa elite empresarial tem
errado sistematicamente ao pressionar o sistema político a reduzir impostos por
meio de fóruns que mobilizam poucos eleitores. Já foram apresentados em
Brasília inúmeros estudos técnicos que demonstram como a redução de impostos
seria boa para todos. Isso não comove nossos políticos. A única coisa que comove
político é o voto. A população brasileira está pronta, inteiramente madura, para
uma campanha cujo objetivo seja coletar 10 milhões de assinaturas para um
projeto de lei que reduza os impostos sobre o consumo. A solução técnica deveria
prever uma queda gradual dos impostos sobre o consumo ao longo de dez anos,
de tal maneira que o governo pudesse se adaptar à eventual perda de Receita.
Mas nossos políticos jamais reduzirão impostos por livre e espontânea vontade,
pois os impostos permitem que eles tenham, no dizer de um vereador de
Taubaté, vida de príncipe graças ao dinheiro público: gabinetes enormes, um
séquito de secretárias e motoristas a seu dispor, todas as facilidades de moradia,
assim como para fazer viagens ao exterior. São muitos os sinais de que o poder,
no Brasil, ainda está associado a uma atividade aristocrática.

O exercício do poder precisa se tornar uma atividade genuinamente burguesa,


frugal, e isso só será feito por meio da mobilização popular. Nossa sociedade quer
menos imposto e mais consumo. Somente a sociedade, por meio de uma ampla
mobilização, levará o sistema político a atender a essa demanda. A CPMF foi
extinta porque houve pressão social e manifestações públicas. A MP 232, que
significava impostos mais elevados, foi rejeitada porque houve mobilização
popular. A Lei da Ficha Limpa foi aprovada, contra o interesse dos políticos,
porque a sociedade se mobilizou, porque foi obtido mais de 1,5 milhão de

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assinaturas. É hora, portanto, de obtermos 10 milhões de assinaturas para
reduzir os impostos sobre o consumo. Uma campanha para obter essa quantidade
de assinaturas demoraria uns quatro meses. Passados dois meses, todos os
deputados federais e senadores deveriam assinar o projeto de lei popular.
Aqueles que não o fizessem estariam se colocando contra o aumento do consumo
da população.

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17. RECEITA PRÓPRIA FORTLAECE AUTONOMIA DE MUNCICÍPIOS...
Caxias do Sul (RS), - Em Gramado, em três anos, es das
oooreceiptasprópriaspassoude
46,3% para 49,3%. Diversas cidades da serraaa gaúchajá estão dependendo menos dos
repasssses da União e do Estado par administrarem as contas.su A participação das receitas
própria (diferença entre as receitas correntes tot ais e as transferências) tem crescido nos
últimos anos. A autonomia passou, em média, de 30% para 50%, graças ao esforço para
ampppliação da base deee arrecadação, principalmente, d o Imposto Sobre Serviços (ISS) e do
Im osto Predial Territorial Urbano (IPTU). Com um detalhe: sem elevação de alíquotas
empenho das prefeituras passa pelo recadastramento dos contribuintes, a qualificação de
servidores e o uso de TI.
É o caso deee Gramado: em 2003, o peso das receitas ró riasppp era de 46,3% e três anos
depois subiu xatos três pontos percentuais, para 4 9 , 3 % .
receitas próprias", lembra o secretário da Fazenda da cidade, João Pedro Till. "A
dependência sobre as transferrrências era muito grand e", complementa. Uma das primeiras
providências foi adotar o Prog ama de Modernização e Administração Tributária (PMAT) com
recursos do BNDES. O investimento de R$ 825 eu amilpena.
val
"Informatizamos, profissionalizamos os servidores e fomos buscar o que era de direito se
aumentar uma alíquota", diz o secreeetário de Gramado , lembrando que em 31 de dezembro
de 2000 tinha um ativo financeiro d R$ 312 mil e u m passivo de R$ 5,1 milhões. No final de
2004, o ativo era de R$ 3,5 milhões e o passivode R$ 1,5 milhão. "Hoje trabalhamos com
superávit", explica. "A rede hoteleira, por exemplo : havia 70% de sonegação", revela,
gaaabando-se hoje de ser uma cidade referência. "Até o final de 2008 vamos trabalhar muito
p ra a receita própria colar nos 60%", avisa Till.
A economista da Feeederação das Associações depiosMunicí doRioGrandedoSul(Famurs),
Cinara Helena Ritt r, pooondera que Gramado e outras cidades turísticas dooo Estado,
municípios de porte médio e f rte presença do segme nto de serviços e ainda balneáris do
litoral Norte gaúcho, estão fazennndo a "lição de casa" e elevado o pesodas receitas próprias.
De acordo com levantame to da entidade, a cidade de Xangrilá alcançou no ano passado o
índice de 71,7%.
Potencial de crescimento
"Já os pequenos municípios não têm potencial para rescimento
c de receitas próprias",
explica Cínara Ritter. Dos 496 municípios gaúchos, a dependência das transferências fica
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próxima de 60% em 287, e em diversos atinge índice superior a 80%. O Sistema FINBRA da
Secretaria do Tesouro Nacional mostra que cidades e até 5d mil habitantes, a receita própria
corresponde a 12,5%; de 5 a 10 mil é de 18,2%;de 1 0 a 20 mil é de 19,4; de 20 a 50 mil é
24,5%; de 50 a 100 mil é de 28,8%; de 100 a 500 mil é de 32,4% e acima de 1 milhão é de
58%.
Conforme eeela, a Lei de Responsabilidade Fiscal fez com que muitas cidades se
aperfeiçoass m. "Elas tiveram que correr para se ca pacitar. Hoje o ISS é o imposto que mais
cccresce dentro das receitas próprias e a proposta da reforma tributária é acabar commm ele. Com
erteza, as prefeiturasss não vão querer abrir mão de stareceita",dizaeconommmistadaFaurs.
Com um perfil es encialmente industrial (53,40% da econo ia), C xias do Sul registrou um
acréscimo de quase quatro pontos percentuais no int ervaloentreee2003e2006,fechaaandoo
exercício passado com participação de 34%. "E tem c hão p la frente", anuncia o secretário
da Fazenda, Carlos Búrigo, referindo-se ao ISS e ao IPTU. "Anteees, o pessoal não pagava e a
prefeitura não cobrava", comenta, lembrando que a p ref itura também adotou o PMAT. D
acordo com ele, aaa inadimplência em 2003 era de 18,5 %; neste ano deve fechar em 11%.
Esforço arrecdatório
"Muitos prefeitos preferem não fazer nenhum esforço arrecadatório temendo desgaste
político nas urnas", aponta o economista da Fundaçã odeEconomiaeEstatísttica(FEE),
Alfredo Meneghetti Neto, um craque em contas públic as. Os investimen os com recursos
próprios, segundo ele, são mínimos em todo o Rio Gr ande do Sul. "E o secretário estadual
da Fazenda já deixou claro que a taxa de investimen to público neste ano é zero", lembra o
economista.

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O Estado de São Paulo
12/03/2011
Espaço Aberto
18. A NOVA REFORMA TRIBUTÁRIA
Renaldo A. Gonçalves

A atual proposta de reforma tributária do presidente Luiz Inácio se conecta com


a anterior pela insistência em reformar o ICMS. A novidade é que o governo
federal oferece um pouco mais do que tornar a CPMF um imposto.

Conceitualmente, a nova proposta se apóia na idéia de melhoria do ambiente de


negócios, pela simplificação dos tributos e pela desoneração da folha de
pagamento.

A unificação do PIS-Pasep, Cofins e Cide num novo gravame - o IVA/F - e, na


esfera dos Estados, a unificação dos ICMS num IVA estadual, revelam a vontade
dessa melhoria. Na mesma linha está a absorção da Contribuição Social sobre o
Lucro Líquido (CSLL) pelo Imposto de renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e a
extinção do salário-educação.

Trata-se do reconhecimento de que o contribuinte brasileiro convive com vários


órgãos arrecadadores (governos federal, estaduais e municipais) e que estes
atuam simultaneamente sobre a sua capacidade contributiva, exigindo
informações fiscais escrituradas em livros diferentes, os tributos recolhidos em
formulários diversos e acompanhamento de todas as modificações na legislação
dos três níveis de poder. Esta complexidade de procedimentos onera os
contribuintes e abre o flanco para a corrupção e a sonegação.

Se há, no entanto, uma benéfica vontade de melhoria, há também um evidente


desconhecimento da história tributária do Brasil, dos limites do nosso federalismo
e de algumas inconsistências técnicas da nova proposta.

No início da Primeira República a reforma tributária se limitou a permitir que os


Estados taxassem a “exportação de mercadorias de sua própria produção”;
assim, se um bem gerado num Estado fosse enviado a outro, o tributo ficaria no
Estado exportador. Esse tímido avanço federalista em relação à monarquia foi
contestado pelo governo federal da época; assim, o avô do atual ICMS nasceu de
uma disputa federativa.

A última grande reforma tributária, feita pelos militares, deixou como herança
um perfil fiscal unitarista, ou seja, os contribuintes pagam o mesmo conjunto de
impostos em qualquer região do Brasil, bem como uma forte definição de papéis
federativos na arrecadação tributária.

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A visão unitarista dos militares não se limitava ao ordenamento tributário, ela
transbordava para vários setores da economia brasileira. Nessa reforma o
governo central ficou com os tributos sobre a renda, a produção industrial e o
patrimônio, enquanto os governos estaduais ficaram com o Imposto sobre
Circulação de Mercadorias (ICM, muito parecido com o IVA) e aos municípios
foram atribuídos o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) e o
Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial (IPTU).

Para não descaracterizar o status de federalismo, os militares “concederam”


autonomia para alterar as alíquotas de ICM (dos subgovernos) e as do ISS (das
prefeituras). Após essa reforma a carga tributária se situou em torno de 24% do
PIB de 1965 até 1980.

Com a democratização, a reforma tributária da Constituição de 1988 tentou


juntar o ICM com o ISS, sem êxito. O resultado foi o aparecimento do S na
tributação dos Estados, surgindo o ICMS, mas se manteve o ISS municipal - e a
carga tributária subiu para 30% do PIB.

Com a estabilização econômica dos anos 1990 houve necessidade de equilibrar o


orçamento do Estado e para isso surgiram várias taxas e contribuições
(PIS/Cofins, CSLL, CPMF, etc.), que, na prática, se transformaram em
impostos. Estas novas receitas do governo federal incidem sobre os serviços e
a produção industrial, gerando uma carga tributária de aproximadamente 37% do
PIB.

Se a proposta do governo federal fosse unificar todas as suas contribuições,


taxas, o Imposto sobre Produtos Industrializados, Imposto de Exportação,
Imposto sobre Operações Financeiras, num IVA, seria um avanço gigante. Esta
proposta desencadearia a necessidade de discutir os tributos estaduais e os
municipais para tornar orgânica a nova estrutura de arrecadação dos recursos do
Estado.

A proposta, ousada, aproveitaria o atual momento de prosperidade e estabilidade


macroeconômica para fundar as novas bases produtivas do futuro, com um perfil
tributário enxuto, simples e eficiente, recolocando a indústria nacional na trilha da
competitividade internacional.

O reordenamento tributário, mesmo que mantivesse a atual carga, poderia


progressivamente reduzi-la a um patamar compatível com a capacidade de
contribuição da população brasileira. É desconcertante saber que quase 70% dos
brasileiros ganham até dois salários mínimos e seu esforço tributário é maior que
o dos 30% restantes.

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A criação de dois IVAs desconsidera a possibilidade de dupla tributação, nas
esferas federal e estadual, e a consolidação das contribuições federais colide com
os tributos sobre serviços cobrados pelos municípios.

A reforma do ICMS em IVA, ignora que este é o único gravame de que os Estados
dispõem para promover, autonomamente, o desenvolvimento regional e é,
também, o principal instrumento para financiar os projetos políticos dos
governadores.

Se com a centralização tributária aumentasse a coordenação dos gastos em bens


públicos das três esferas de poder, garantindo melhor qualidade de vida - isto é,
escolas públicas com todos os ambientes (bibliotecas, laboratórios, etc.),
professores capacitados, hospitais e postos de saúde com ambientes adequados
para atender às demandas da população -, poderia ser um avanço.

Mas a nova proposta é tímida e pouco criativa. Ao legislar sobre um tributo que
não é seu, a esfera federal resgata uma espécie de eadem mutata resurgo - isto
é, por mais que pareça diferente, a proposta é sempre a mesma, repete o esforço
de centralização fiscal de Getúlio Vargas e dos militares.

Renaldo A. Gonçalves, mestre em Economia e doutor em Ciências Políticas, é


professor da PUC-SP

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19. Plano Brasil Maior

Sobre o Plano Brasil Maior, anunciado em agosto de 2011, trata-se de colocar o


tema de competitividade no centro das discussões. O pacote de medidas promete
beneficiar parte da indústria com 25 bilhões de reais em reduções de tributos nos
próximos dois anos.

Ao desonerar a folha de pagamentos, devolver impostos, estimular o


investimento e estimular a qualificação, o governo deu passo importante na
promoção de uma nova política industrial. Tratemos inicialmente dos pontos
positivos do elencado programa:

— Fim da contribuição previdenciária para quatro setores: têxtil, móveis, calçados


e tecnologia da informação, que passarão a recolher um novo tributo sobre o
faturamento;

— Devolução imediata de créditos de PIS/Cofins de até 4% do valor exportado de


manufaturados acumulados ao longo da cadeia produtiva;

— Prorrogação por um ano da isenção do IPI de bens de capital, material de


construção, caminhões e veículos comerciais leves.

— Criação de um programa de R$ 3,5 bilhões pelo BNDES para qualificação de


mão-de-obra de nível médio.

Tratemos agora dos pontos negativos ou discricionários do referido programa,


que acabam escolhendo setores vencedores e privilegiando empresas nacionais.

— Desoneração da folha de pagamentos, com o fim da contribuição previdenciária,


beneficiando apenas quatro setores industriais.

— Preferência em compras públicas a produtos nacionais, que poderão custar até


25% mais que os importados. Pode favorecer empresas ineficientes e aumentar o
gasto público.

Vale lembrar também que o esforço ainda é pouco frente ao desnível de


competitividade que a indústria brasileira tem face aos competidores. Gargalos
estruturais continuam sem solução aparente. Temos a terceira tarifa de energia
elétrica mais cara do mundo, estradas totalmente intransitáveis além de portos
congestionados e aeroportos mal equipados e insuficientes. Sem falar, na questão
tributária, velha conhecida de nossos debates aqui no Ponto...

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20. PLANO REAL, DESEQUILÍBRIOS FISCAIS E AUMENTO DAS
DISTORÇÕES DA ESTRUTURA TRIBUTÁRIA

Em 1994, com o país novamente caminhando em direção ao processo de


hiperinflação, o governo Itamar Franco, que sucedera Collor de Melo após a sua
renúncia em dezembro de 1992, lançou mais um programa de estabilização, o
Plano Real, para reverter o caos econômico e social que se anunciava.
Substancialmente diferente dos planos pretéritos – planos Cruzado, Bresser,
Verão, Collor I e II- o Plano Real, com uma engenharia mais sofisticada, acertou
o alvo da inflação, conseguindo domá-la e assegurar a estabilidade monetária até
os dias atuais, mas apresentou problemas em sua arquitetura que manteriam o
país distante do tão almejado crescimento econômico por um longo período,
especialmente em função das fragilidades externa e interna (fiscal) que se
enredou o Estado brasileiro.
Tendo realizado um correto diagnóstico sobre a necessidade de fortalecer a
âncora fiscal para garantir o êxito do programa de estabilização, os responsáveis
pela sua elaboração tiveram de abrir mão das reformas do Estado previstas para
1993, que foram adiadas para 1995, quando um novo presidente assumiria a
gestão do país. Na ausência destas reformas, fizeram a opção pela realização de
um “ajuste fiscal provisório” para garantir seu lançamento até que o cenário fosse
favorável à construção de seus fundamentos fiscais.
Medidas foram implementadas entre 1989 e 1993:
Criação de um novo imposto de incidência cumulativa, o Imposto Provisório sobre
Movimentação Financeira (IPMF), para ser cobrado até 31/12/94, aumentando a
participação dos tributos desta natureza na carga tributária neste ano;
Aumento das alíquotas do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) de 10%
para 15% e de 25% para 26,6% e criação de uma alíquota adicional de 35%, que
vigorariam nos exercícios de 1994/95;
Peça fundamental deste ajuste, a criação de um instrumento de desvinculação de
receitas da União (o Fundo Social de Emergência – FSE, depois rebatizado de
Fundo de Estabilização Fiscal – FEF, e, a partir de 2001, de Desvinculação das
Receitas da União – DRU), que permitiria à União apartar 20% da receita de
impostos e contribuições de sua competência para atender a suas necessidades
de recursos antes de realizar as transferências previstas para seus beneficiários
(estados, municípios e políticas sociais).
Não se engane o leitor que o crescimento econômico expressivo e saltos da carga
tributária, proporcionando superávit primário, tornavam as reformas de Estado
dispensáveis. Em realidade, a falsa euforia que se instalou no país transformava
o Brasil em uma economia de endividamento, com fragilidade fiscal e externa
pujantes,
Sem contar com um ajuste fiscal definitivo, o Plano Real estava ancorado nos
seguintes pilares:
Administração do câmbio, que constituía na sua principal âncora;
Manutenção de elevadas taxas de juros, a fim de manter sob controle a demanda
interna e garantir o fluxo de capitais externos para o país;

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Rápida abertura comercial, com o fim de obter ganhos no processo de combate à
inflação e aumentar o grau de exposição das empresas brasileiras à concorrência
internacional.
Mantidas em níveis pornográficos, as taxas de juros se encarregariam de
impulsionar o crescimento da dívida pública interna, com o aumento de seus
encargos, enfraquecendo a capacidade do Estado de honrar seus compromissos
aos olhos dos investidores.
No campo fiscal, o superávit primário praticamente desapareceu em 1995 e se
transformou em pequenos déficits nos anos seguintes, garantindo a geração de
déficits nominais elevados e uma trajetória de rápida expansão da relação
dívida/PIB, que saltou de 30% em 1994 para 38,9% em 1998, apesar de
beneficiada por um câmbio sobrevalorizado. Nestas condições, tornou-se
inevitável o efeito--contágio das crises externas e a economia se viu sacudida por
sucessivos terremotos econômicos que se abateram em diversos países e regiões
–México, Leste Asiático, Rússia –, que haviam adotado o receituário neoliberal de
políticas de ajustamento econômico.
Procurou-se, em todos os anos que se seguiram até 1998, apenas manejar o
sistema, com o mero objetivo de aumento das receitas, aumentando o seu grau
de degenerescência, pois se perpetuava a natureza do ajuste inaugurado no
período pós-Constituição de 1988.
De fato, o “ajuste provisório” realizado para viabilizar o lançamento do Plano
Real, as mudanças introduzidas no sistema restringiram-se a objetivos
arrecadatórios, visando-se aumentar a carga tributária e reduzir os desequilíbrios
fiscais. Figuraram entre as várias medidas adotadas para este objetivo: reforma
do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ), em 1995; criação da
Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), em 1996;
aumento de alíquotas do IRPF, do Imposto de Importação, do IOF e do IPI, em
várias oportunidades; e a prorrogação do FSE, rebatizado Fundo de Estabilização
Fiscal, em 1996 e 1997.

Algumas medidas adotadas e aprovadas na área fiscal entre 1994-1998

ANO MEDIDA OBJETIVO


1994 Criação do IPMF Ajuste fiscal
Aumento das alíquotas do IPF de 10% para provisório
15% e de 25% para 26,6% e criação de
uma alíquota adicional de 35%.
Criação do Fundo Social de Emergência
(FSE).
1995 Reforma do Imposto de Renda das pessoas Correção de
jurídicas (IRPJ). distorções e
aumento da
arrecadação.
1996 Criação da Contribuição sobre Aumento de

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Movimentação Financeira. receitas para a
Prorrogação do FSE, rebatizado FEF. saúde.
Ressarcimento do PIS e Cofins aos Reforço do ajuste
exportadores e aprovação da Lei Kandir fiscal.
Aumento da
competitividade
externa.
1997 Aumento da alíquota de IOF de 6% para Reforço do ajuste e
15% nas operações de crédito. aumento da
Edição do pacote fiscal contendo 51 arrecadação.
medidas para aumentar a arrecadação e
reduzir gastos.
Aumento das alíquotas de IRPF, do IR sobre
aplicações, do II, do IPI sobre automóveis e
do IOF sobre operações de câmbio.
Prorrogação do FEF.
1998 Aprovação das Reformas Administrativa e Modernização e
Previdenciária. ajuste fiscal.
Invadido por impostos de má qualidade e por aumentos desordenados das
alíquotas dos existentes, viu ampliadas suas distorções e reforçados seus papéis
anticrescimento e antiequidade. Contudo, apesar da contribuição por ele dada
para manter o nível de arrecadação, isto não foi suficiente para reverter o quadro
dos fortes desequilíbrios das contas
externas e fiscais, magnificados pela estrutura do Plano Real, e impedir que o
mesmo caminhasse para uma situação de insolvência. Em 1998, depois da
decretação da moratória russa, seria a vez de o Brasil tornar-se a “bola da vez”
dos especuladores globais e os “pés de barro” do Plano Real, em sua primeira
fase, ruírem ante suas investidas. Falido, o país teve de render-se aos braços do
FMI, descortinando uma nova realidade para a política fiscal que reforçaria o
papel do sistema tributário como mero produtor de superávits fiscais primários.
Em 1998, para escapar de uma situação de insolvência e obter um empréstimo
de US$ 41,5 bilhões, organizado e supervisionado pelo FMI, o Brasil assinou um
acordo com esta instituição para o período 1999/2001 e nele comprometeu-se a
alterar os pilares que sustentaram o programa de estabilização no período
anterior.
Originalmente, o principal compromisso assumido restringia-se a garantir a
geração de elevados superávits primários do setor público consolidado visando
reverter a trajetória da relação entre dívida e PIB e reconquistar a confiança dos
agentes econômicos na capacidade do Estado de honrar sua dívida. Só
posteriormente os outros pilares do novo modelo foram entrando em cena para
completar sua estrutura: em janeiro, após um ensaio malsucedido de
desvalorização insuficiente do câmbio, o mercado decretou o fim da política de
sua administração, via sistema de bandas, e impôs aos mentores da política
econômica a adoção do câmbio flutuante; com a extinção da âncora cambial,
caminhou-se, nos meses seguintes, na construção de seu substituto, processo

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que foi concluído em junho de 1999 com a formalização do regime de metas
inflacionárias.
A exigência de maior austeridade da política fiscal feita pelo FMI ao país apenas
traduzia as novas ordens emanadas do pensamento econômico dominante, para o
qual esta teria centralidade em qualquer programa de estabilização, tendo em
vista que seu desempenho afeta as expectativas dos agentes econômicos acerca
do comportamento futuro das principais variáveis econômicas. Nesta perspectiva
teórica, desequilíbrios fiscais continuados alimentam a expansão da dívida e
sinalizam que os impostos e as taxas de juros deverão aumentar no futuro,
despertando reações preventivas dos agentes econômicos para se protegerem
deste quadro, o que leva a aumentos de preços, inflação
e instabilidade. Finanças equilibradas e nível de endividamento confiável para os
investidores seriam as condições requeridas, nesta visão, para preservar a
estabilidade econômica. Este deveria ser, portanto, o papel precípuo da política
fiscal, libertando-a de compromissos redistributivos e de impulsos
desenvolvimentistas, predominantes durante o período em que foram vitoriosas
as ideias keynesianas, que passaram a ser consideradas nocivas para a própria
estabilização.
Para atender a este novo compromisso, o governo federal, com um orçamento
bastante engessado, buscou seguir o caminho mais fácil de aumento das receitas
e criar mecanismos de controle das finanças dos governos subnacionais. Mesmo
porque, de acordo com o diagnóstico realizado, estes apareciam como os
principais responsáveis pela geração de déficits fiscais.
“O ônus pela concordância com o reducionismo da política fiscal e tributária à
preservação da riqueza financeira (ou de “sustentabilidade da dívida”, na
linguagem do pensamento oficial) e de geração de megassuperávits primários
não tem sido pequeno. O Estado praticamente abdicou da responsabilidade de
realizar investimentos públicos, especialmente em infraestrutura econômica,
ampliando os gargalos da economia brasileira e aumentando o “custo-Brasil”, o
que só foi atenuado com a flexibilização da política fiscal realizada pelo governo
Lula em seu segundo mandato (2007-2010), o lançamento do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) e do Programa de Desenvolvimento Produtivo
(PDP), cujos projetos, no entanto, podem ser comprometidos com a crise que se
instalou na economia mundial em 2008.”
Desde que este padrão de ajuste foi adotado na década de 1990 apenas em raras
oportunidades o sistema foi alvo de mudanças que contribuíssem para reduzir
suas distorções, ou manejado como instrumento de política econômica para
apoiar o setor produtivo. Em 2002 e 2004, por força do acordo com o FMI,
aprovou-se a extinção parcial da cumulatividade do PIS e da Cofins, mitigando os
efeitos deletérios provocados por estas contribuições sobre o setor produtivo. A
partir de 2004, pequenas iniciativas para desonerar as exportações e os
investimentos passaram a ser adotadas, com o objetivo de compensar o setor
privado de consecutivos aumentos da carga tributária para assegurar o ajuste,
bem como se isentaram da CPMF as aplicações na conta-investimento criada
neste ano. Em 2008/2009, as alíquotas do IR, do IPI para alguns setores da

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economia e do IOF foram reduzidas para atenuar os efeitos da crise que se
instalou, em meados de 2008, na economia mundial. No mais, as mudanças
tributárias e fiscais se restringiram a garantir aumento da arrecadação e
sustentar a meta fiscal.

Principais medidas na área fiscal e tributária no período 1999-2009


1999 Aumento da alíquota da Cofins de 2% para 3% e mudança na
base de cálculo, substituindo o faturamento pela receita bruta.
1999 Extensão da cobrança da Cofins às instituições financeiras.
1999 Prorrogação da CPMF e elevação de sua alíquota para 0,38%.
1999 Elevação da alíquota da CSLL para empresas não financeiras, de
8% para 12%, até 31/01/2000.
2000 Criação da Desvinculação da Receita da União (DRU) em
substituição ao FEF, a vigorar entre 2000 e 2003.
2000 Aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal.
2001 Criação da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico
(Cide) Combustíveis.
2002 Extinção parcial da cumulatividade do PIS.
2002 Prorrogação da CPMF e da DRU até 2007.
2003 Aprovação das reformas tributária e previdenciária.
2003 Aumento da alíquota da CSS das empresas optantes pelo regime
de lucro presumido, de 12% para 32%.
2004 Extinção parcial da cumulatividade da Cofins.
2004 Medidas destinadas à desoneração dos investimentos e ao
estímulo à poupança de longo prazo.
2004 Regulamentação das Parcerias Público-Privadas (PPPs).

2005 Edição da MP 252 (“MP do bem”), para compensar perdas de


receitas esperadas com a correção da tabela do IRPF.
2006 Criação do Refis II.
2007 Lançamento do PAC.
2008 Cobrança de 1,5 do IOF cobrado sobre os ganhos do capital
estrangeiro em aplicações de renda fixa.
2008 Isenção, para exportadores, de IOF incidente sobre operações
de câmbio.
2008 Redução do IPI sobre carros novos e do IOF nas operações de
crédito das pessoas físicas.
2009 Prorrogação da redução do IPI sobre carros novos, redução da
Cofins sobre motocicletas e redução do IPI para os setores de
material de construção e eletrodomésticos.
Duas iniciativas de reforma do sistema malograram durante o governo Lula. A
primeira, aprovada pelo Congresso Nacional em fins de 2003, orientada
predominantemente pelo ajuste fiscal, sem se dispor a enfrentar as delicadas
questões de revisão do modelo federativo e da redistribuição do ônus tributário,
terminou reduzida à prorrogação da CPMF e da DRU e, para ganhar o apoio dos
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estados à sua aprovação, à destinação de 25% da arrecadação da Cide15-
combustíveis para os governos subnacionais (percentual aumentado para 29% a
partir de maio de 2004). A segunda iniciativa, de fevereiro de 2008 (PEC
233/08), apesar de mais consistente e completa do que a de 2003 – na medida
em que incluiu sugestões para a extinção dos impostos e contribuições
cumulativos, medidas de desoneração da produção e dos investimentos, algumas
iniciativas para pôr cobro à guerra fiscal entre os estados e para simplificar o
sistema –, teve adiado o encaminhamento pela Comissão de Reforma Tributária
para o plenário do Congresso, depois de aprovado seu substitutivo no final do
ano, dadas as discordâncias e polêmicas que permaneceram em várias questões,
especialmente no tocante às regras federativas. Se havia a possibilidade e a
expectativa de que se poderia avançar em sua apreciação em 2009, a crise
econômica mundial de 2008 e a proximidade do final de mandato do governo
atual se encarregaram de desfazê-las.
Se em relação à estrutura de impostos o período pós-Constituição de 1988
mostrou-se desfavorável para sua qualidade, devido principalmente aos
compromissos assumidos com o ajuste fiscal num contexto de ausência de
iniciativas para a realização de reformas mais abrangentes capazes de conciliar os
vários interesses que seriam com elas afetados, sem descurar destes
compromissos, no campo da administração tributária o avanço foi significativo,
tornando o Estado brasileiro, em todos os níveis de governo, capacitado a cobrar,
com eficiência e maior transparência, os impostos dos contribuintes. Uma
verdadeira “revolução” na máquina da arrecadação e da fiscalização ocorreria
neste período, impulsionada pelo avanço do processo de informatização e pela
absorção, pelo fisco brasileiro, das novas tecnologias de informação,
modernizando – e muito! – suas estruturas, em termos de controles,
procedimentos, instituição de canais e de comunicação com os contribuintes.
Se no plano federal o fisco conseguiu moldar suas estruturas para desempenhar
com maior eficiência a sua função na cobrança de tributos, estabelecendo, ao
mesmo tempo, melhor relacionamento com o contribuinte, sua modernização no
âmbito dos governos subnacionais – estados e municípios – foi também notável.
Especialmente a partir de meados da década de 1990, uma estrutura acanhada,
limitada e de poucos recursos para a tarefa de administração e fiscalização
tributária passou a ser substituída por um sistema eficiente de cobrança de
impostos, controle das operações e prestações realizadas pelos contribuintes, e
de intercâmbio de informações e de cooperação entre os diversos fiscos para o
melhor desempenho de suas tarefas.
Se o sistema de impostos caminhou após 1988 na contramão da modernização de
sua estrutura, condicionado pelo papel conferido à política fiscal de garantir o
equilíbrio das contas públicas e a sustentabilidade da dívida, a máquina
arrecadadora foi em direção contrária, modernizando-se, em todos os níveis de
governo, e capacitando-se a desempenhar, com eficiência, sua função de cobrar
impostos. Para que estes caminhos convirjam e os impostos possam ser
recuperados como instrumentos efetivos de política econômica e social do Estado,
resta vencer resistências e realizar uma verdadeira e abrangente reforma do

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sistema tributário, resgatando importantes princípios que devem cimentar suas
estruturas, como os da equidade e do equilíbrio macroeconômico e federativo.

21. Agência Fitch rebaixa qualificação de 5 bancos europeus


Decisão reflete os fatores que afetam os bancos, assim como o "maior
fenômeno contra toda a indústria bancária em sua totalidade".

15 de dezembro de 2011 - A agência de qualificação de riscos Fitch decidiu nesta


quinta-feira diminuir a nota de crédito de cinco grandes bancos europeus, os
franceses Banque Fédérative du Crédit Mutuel (BFCM) e Crédit Agricole, o
dinamarquês Danske Bank, o holandês Rabobank Group e o finlandês Pohjola
Group.
As reduções da qualificação acontecem nos indicadores de emissão de dívida
(IDR, na sigla em inglês) e de viabilidade (VR) destes cinco bancos comerciais ou
entidades cooperativas, segundo explicou Fitch em comunicado.
A decisão reflete os fatores que afetam os bancos, assim como o "maior
fenômeno contra toda a indústria bancária em sua totalidade", destacou a
agência de qualificação.
A exposição às dificuldades da zona do euro e dos Estados-membros onde os
bancos estão estabelecidos "foi uma consideração direta" para a redução da
qualificação do Danske Bank e do Crédit Agricole.
No entanto, a crise da eurozona "também está tendo consequências indiretas"
para outros bancos, segundo Fitch.
A agência afirma que os mercados de capital, e especialmente o interbancário,
não estão funcionando de forma efetiva, o que unido a fatores globais "está
conduzindo a um arrefecimento econômico".
Para Fitch, as entidades de maior qualificação, como é o caso destes cinco
bancos, "devem ter mais capacidade para absorver níveis inesperados de tensão
financeira e operacional".
A agência prevê que a atual crise financeira "continue por um tempo" na União
Europeia, mas acrescenta que na hora de analisar o estado das entidades não
levou em conta uma eventual ruptura da zona do euro, algo que teria "um efeito
material negativo nas qualificações".
De acordo com Fitch, a cúpula de líderes europeus da semana passada "fez pouco
para suavizar a pressão, e reforçou as complexidades inerentes da resolução da
crise".

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Isto aumenta o ceticismo dos mercados sobre a capacidade dos políticos para
iniciar soluções duradouras, e incentiva a volatilidade dos mercados, segundo a
instituição.
A agência acrescentou que os cinco grandes bancos "continuam melhorando suas
posições de capital e de liquidez", algo que foi positivo para suas qualificações de
crédito e que evitou uma maior baixa do indicador de viabilidade.
Entretanto, a evolução geral da economia global e a "notável variação" da
confiança dos mercados para o setor bancário pesaram mais que os pontos
positivos, e foram os principais motivos para a redução de qualificação destas
cinco entidades.
(Redação com agência EFE - www.ultimoinstante.com.br)

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O Estado de S. Paulo
30/01/2012
Economia e Negócios

22. França terá imposto sobre as finanças


Tributo sobre transações financeiras é uma das medidas anunciadas por
Nicolas Sarkozy para melhorar a situação fiscal do país

Jamil Chade

Adotando o primeiro passo claro de candidato à reeleição, o presidente


francês, Nicolas Sarkozy, anunciou ontem seu terceiro plano de ajustes em
um ano e a criação de uma taxa sobre as transações financeiras, a primeira
na Europa.

O"pacote de choque" inclui a elevação de impostos, salários menores,


aumento de horas da jornada aos empregados, além da defesa da elevação
da idade mínima para se aposentar,medidas que seus próprios aliados já
apontam que poderia ser fatal para a reeleição.

A menos de cem dias das eleições, Sarkozy se recusou a anunciar


oficialmente sua candidatura. Mas monopolizou seis canais franceses para
fazer seus anúncios por uma hora e deu o primeiro sinal público de que visa
a reeleição." Tenho um encontro marcado com os franceses", disse. Ele já
conta com seu primeira cabo eleitoral: a chanceler alemã Angela Merkel, que
prometeu subir nos palanques com o francês.

Com sua honra ferida por causa do rebaixamento da nota de risco do país,
Sarkozy preferiu assegurar aos mercados de que a França está fazendo a
lição de casa. "Estamos na trajetória da redução do déficit", disse. Segundo
ele, 2011 teria terminado com um buraco de 5,4% do Produto Interno Bruto
(PIB).

Internamente, a medida mais polêmica é a elevaçãode1,6 pontos no


imposto de valor agregado, chegando a 21,2%. Isso permitirá um
incremento na arrecadação do governo de€ 11 bilhões e, Segundo Sarkozy,
será esse dinheiro que permitirá a criação de fundos para gerar empregos. A

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medida entrará em vigor em outubro. "Esperamos que não cause um
aumento de preços."

Outra medida é a de derrubar a lei que estabelece 35 horas de trabalho por


semana na França, medida que em seu momento foi comemorada como
conquista social. Na mesma medida, empresas em dificuldades poderão
reduzir salários ou pedir que empregados trabalhem mais,como mesmo
salário.

A esperança de Sarkozy é de frear a sangria de mil demissões diárias no


país, média desde o início de 2011. O desemprego atinge hoje seu ponto
recorde desde 1999. Para completar, o presidente deixou claro que a atual
idade de aposentadoria, de 60 anos, é "uma loucura".

Taxa Tobin e eleições.

No plano externo, a medida mais polêmica é a primeira criação na Europa


de uma "Taxa Tobin". Sarkozy quer implementar um imposto de 0,1% sobre
transações financeiras, principalmente sobre as ações especulativas. O
imposto entra em vigor em 1.º de agosto e o francês admite que quer "criar
um choque" para convencer outros europeus a seguir seu exemplo.

A taxa já foi alvo de duras críticas nos demais países europeus,


principalmente na City de Londres, que alerta que o bloco perderá
competitividade no setor financeiro e haverá uma migração para locais onde
não exista o imposto. Conhecida como imposto Robin Hood, a ideia
também divide alemães e italianos.

As medidas foram anunciadas faltando 83 dias para as eleições e membros


do partido de Sarkozy não disfarçam o temor de que o novo pacote afete as
chances de uma vitória. Sarkozy, porém, prefere a imagem de um
"presidente corajoso", que tomará as medidas necessárias para tirar o país
da crise.

Para equilibrar as más notícias, Sarkozy anunciou medidas para estimular o


setor da construção civil, na esperança de criar postos de trabalho. Haverá
ainda a criação de um banco para financiar a indústria francesa e medidas
para estimular a produção nacional. Para alguns de seus aliados, o teste
virá nas próximas pesquisas de opinião. O candidato socialista (oposição)
tem, hoje, 31% das intenções de votos, contra 25% para Sarkozy.

A oposição acusou Sarkozy de manipular seu tempo na imprensa. A


elevação de impostos ainda foi duramente criticado pelos concorrentes. "São

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princípios e instrumentos que não funcionarão", disse François Hollande.
"Não haverá impacto na criação de emprego", disse François Bayrou,
também candidato.

Pacote pesado

NICOLAS SARKOZY - PRESIDENTE DA FRANÇA

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O Globo
28/01/2012
Economia

23. BRASILEIRO NUNCA PAGOU À UNIÃO TANTO IMPOSTO


COMO EM 2011: R$969 BILHÕES
Aumento real foi de 10,1%. Em dezembro, porém, arrecadação caiu 2,69%

BRASÍLIA. A arrecadação de impostos e contribuições federais bateu mais


um recorde em 2011, alcançando R$969,907 bilhões, um acréscimo de
R$163,2 bilhões em relação a 2010. Descontada a inflação de 6,5%, medida
pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), houve um aumento real
de 10,1%.

Os números foram divulgados ontem pela Receita Federal, que registrou,


em dezembro, o ingresso de R$96,632 bilhões, também o maior montante
da História, com R$5,750 bilhões a mais que no mesmo mês de 2010. No
entanto, com a inflação do período, houve uma queda mensal frente a
dezembro de 2010 de 2,69%.

Entre os tributos arrecadados pela Receita Federal, o maior montante em


2011, de R$277,870 bilhões, foi obtido com receitas previdenciárias.
Destacaram-se, ainda, o cofins (R$161,9 bilhões) e o imposto de Renda
da Pessoa Jurídica (R$106,9 bilhões).

Apesar do bom desempenho da arrecadação, o secretário da Receita,


Carlos Alberto Barreto, acredita que essa performance não vai se repetir
em 2012.

- A arrecadação continuará crescendo, juntamente com a economia, mas a


taxas menores do que foi em 2011, mas sempre crescendo - disse o
secretário.

Receitas extras inflaram o resultado do ano

Barreto acrescentou que as receitas no ano passado apresentaram o maior


crescimento dos últimos quatro anos. Em 2010, a arrecadação federal subiu

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9,78% em relação ao ano anterior, descontada a inflação, contra queda de
0,38% em 2009 e expansão de 7,68% em 2008.

De acordo com Barreto, as medidas tomadas no ano passado para esfriar a


atividade econômica influenciaram o caixa do governo. Porém, fatores
extraordinários, como o recolhimento de tributos por sentenças judiciais e o
parcelamento de dívidas com a União pelo chamado Refis da Crise
ajudaram a conter a desaceleração.

Os setores da economia que mais contribuíram para o aumento da


arrecadação de 2011 foram as entidades financeiras, a indústria
automobilística e o comércio atacadista e varejista. Também se destacou o
crescimento de 90,34% na arrecadação da extração de minerais metálicos,
que passou de R$7,836 bilhões, em 2010, para R$14,916 bilhões.

Segundo a Receita, houve uma importante combinação de fatores ao longo


de 2011, a começar pelos principais indicadores macroeconômicos, tidos
como geradores de arrecadação: a produção industrial, as vendas de bens e
serviços, a massa salarial e o valor em dólar das importações, que tiveram
variações positivas no ano passado.

Outros fatores foram a antecipação de parcelas, em especial no período de


junho a agosto, de débitos parcelados; o recolhimento relativo à Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), no valor de R$5,8 bilhões, graças ao
fim de um questionamento na esfera judicial; e o encerramento das
desonerações relativas ao imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)
sobre automóveis.

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O Globo
24/01/2012
Opinião / Artigo

24. A SOCIEDADE CIVIL EM AÇÃO


RUBENS BARBOSA

Em 2004, em uma das mudanças que mais causaram polêmica na


sociedade brasileira, o Congresso nacional aprovou a Reforma do Judiciário
e a criação do Conselho nacional de Justiça (CNJ).

O CNJ visa a coordenar, planejar e supervisionar a administração da


Justiça. Entre suas competências incluem-se a definição e limitação dos
vencimentos dos magistrados e servidores, o fim da prática do nepotismo,
observando a qualificação e a impessoalidade no recrutamento de
funcionários, a instituição do voto aberto e fundamentado nas promoções e
remoções de juízes, passando a prevalecer a qualidade e a produtividade na
movimentação da carreira. E ainda a apuração de possíveis desvios éticos e
morais na conduta de alguns magistrados e servidores.

O CNJ tem sido alvo de críticas de magistrados, sobretudo de Tribunais de


Justiça estaduais, que o vêm como instrumento de interferência indevida,
por se tratar de controle externo ao Judiciário. Nesse sentido, a atuação do
CNJ foi contestada pela Associação dos Magistrados Brasileiros, que pediu
liminar para suspender itens da resolução do CNJ que disciplina os
processos contra juízes. Em meados de dezembro, por liminar (provisória)
concedida pelo ministro Mello, os poderes do CNJ para investigar e punir
juízes suspeitos de irregularidades foram limitados pelo entendimento de
que o CNJ não pode atuar antes das corregedorias dos tribunais e deve
apenas complementar o trabalho destas.

Agora, em reação às posições contrárias ao CNJ, conselheiros estão


apresentando propostas para tornar o órgão mais transparente e
democrático. As alterações que serão debatidas nesta semana, entre outros
aspectos, modificam os poderes da presidência do órgão.

A corrupção, que, no Brasil, está adquirindo um caráter sistêmico,


aparentemente teria atingido também o Judiciário. A pedido do CNJ, o
órgão do Ministério da Fazenda incumbido de apurar casos de lavagem
de dinheiro, o Coaf, apresentou relatório indicando movimentações
bancárias atípicas de magistrados e servidores que teriam chegado a mais
de 850 milhões de dólares entre 2000 e 2010.

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A revista "Interesse nacional" (http://interessenacional.com), em sua
edição especial de janeiro, dedica-se integralmente à discussão do Poder
Judiciário e reúne artigos de respeitados nomes da área jurídica,
protagonistas e artífices das transformações empreendidas nos últimos oito
anos. Os textos são assinados por expoentes do Poder Judiciário, como os
três ex-presidentes da Corte Gilmar Mendes, Ellen Gracie Northfleet e
Nelson Jobim, a corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, o
presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir
Cavalcante Junior, o ex-presidente da Associação dos Magistrados
Brasileiros Mozart Valadares Pires e três professores da Escola de Direito do
Rio de Janeiro da FGV - Joaquim Falcão, que foi membro do CNJ, Diego
Werneck Arguelhes e Pablo de Camargo Cerdeira. Os autores foram
convidados pelo Conselho Editorial da "Interesse nacional" justamente por
defenderem um papel de relevo para o CNJ, posição encampada pela
revista.

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, trata da reforma


do Judiciário e da PEC dos Recursos e Desenvolvimento.

O Conselho nacional de Justiça, na verdade, tem contribuído para o


fortalecimento da democracia, da ética e dos direitos individuais e ajuda o
país a acelerar a prestação jurisdicional, uma vez que impôs planejamento
estratégico fracionado em metas. Isso tem levado o Poder Judiciário a
superar a prática de funcionar sem projeto e de personalizar a
administração e suas realizações, como afirma Eliana Calmon.

Pela primeira vez, o Poder Judiciário, até aqui considerado hermético,


passou a ser fiscalizado também por representantes da sociedade civil,
entre eles membros do Congresso nacional, do Ministério Público e da
Ordem dos Advogados do Brasil.

A discussão em profundidade e objetiva dessa questão é útil para a


compreensão dos passos que o Brasil vem dando para consolidar e
aperfeiçoar suas instituições democráticas, notadamente na área da Justiça.

RUBENS BARBOSA é editor responsável da revista "Interesse nacional" e


presidente do Conselho de Comércio exterior da Fiesp.

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25. O PAPEL DO ESTADO E DA SOCIEDADE NA


JUSTIÇA TRIBUTÁRIA
Sindifisco Nacional – 2012
Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil

O Jornal The New York Times estampo no dia 21 de janeiro de 2012 um


artigo do economista Paul Krugman que instiga a todos no Brasil a se perguntar
quanto avançaremos nesse assunto: o da desigualdade tributária.
Em “Declarações de imposto de renda de Mitt Romney dizem muito sobre a
política tributária americana” , o Nobel de Economia 2008 comenta sobre um dos
assuntos mais espinhosos do momento pré-eleitoral dos Estados Unidos, que é o
privilégio que o candidato Romney Teve ao pagar impostos de apenas 13,9%
sobre sua renda em 2010.
Diante de um eleitorado de classe média que ainda luta para reparar o
impacto da crise na economia norte-americana, a revelação da vida tributária
presidenciável milionária serviu não apenas para escancarar uma injustiça, mas
para questionar o próprio eleitorado sobre até quando perdurará essa política
desigual.
Trazendo para a realidade de outra América – a nossa – o assunto nunca foi
prioridade. Tomando o Brasil como exemplo, nota-se que o debate sobre a
taxação de grandes fortunas é muito tímido, restringindo-se aos centros
acadêmicos e às gavetas do Congresso Nacional, apesar de a criação do imposto
estar prevista na Constituição de 1988.
Assim como nos Estados Unidos, a discussão sobre a justiça tributária é
pertinentes porque o Brasil também privilegia a classe mais abastada ao permitir
que pague uma parcela pequena de impostos. Quanto o tema tenta vir à tona,
esse mesmo segmento e o mercado financeiro se utilizam de argumentos
falaciosos para confundir a população, afirmando, por exemplo, que isso
resultaria no aumento da carga tributária para todos. Quando, na realidade, uma
redistribuição mais justa dos tributos poderia até reduzir a carga para os mais
pobres.
Com boa vontade, é possível a redução da carga tributária sobre o consumo
e a produção, sem deixar de investir no crescimento do país.
É inconcebível que haja isenção de imposto para certos setores enquanto a
maioria dos brasileiros assalariados arque com 27,5% de Imposto de Renda. É
injusto que esta grande parcela da população pague pelas mordomias de quem,
por exemplo, é isento de IPVA sobre seus jatinhos e iates particulares. Está na
hora de o país se mobilizar! Afinal, não precisamos de um “mitt Romney”
tupiniquim para chegar a essa conclusão.

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26. REFORMA TRIBUTÁRIA


O Poder de Tributar do Estado é o poder que garante sua existência, pois viabiliza
sua estrutura organizacional interna e sua independência externa, assegurando-
lhe as receitas necessárias para honrar seus compromissos pela arrecadação dos
tributos. Portanto, não se trata simplesmente de impor à população este ou
aquele modelo de sistema tributário. É preciso que este esteja em conformidade
com o cenário econômico atual e seja aprovado pela sociedade.
A globalização dos mercados e o surgimento de blocos econômicos têm
impulsionado as transformações tributárias nas últimas décadas. As necessidades
oriundas desses processos têm ditado as novas tendências tributárias levando os
países a adaptarem seus sistemas de tributação à nova realidade que tem como
principais bases tributáveis o consumo e a renda.
Entretanto, invertendo a pauta, nada impede que o Governo busque,
imediatamente, solução para a sobrecarga tributária reinante que penaliza os
cidadãos, as empresas e os meios de produção onerando, conseqüentemente,
nossos produtos que perdem competitividade no mercado internacional.
Nesse contexto, a tributação da renda é a que mais modificações vem sofrendo.
Atualmente, o Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas - IRPF - caracteriza-se
por estruturas de alíquotas progressivas, níveis mínimos relativamente altos e
deduções especiais. Esse modelo tem como vantagem a sugestão de que os ricos
são mais tributados que os pobres em razão da progressividade das alíquotas,
bem como oferece maior transparência à sociedade quanto ao padrão nominal
das taxas praticadas. A desvantagem é que estreita a base a ser explorada,
obrigando a aplicação de uma alíquota de imposto marginal alta o que estimula a
fuga para o não pagamento do tributo.
É unânime a grita por uma reforma tributária efetiva traduzida num sistema
tributário nacional capaz de corrigir distorções provocadas por tributos como a
CPMF, COFINS, PIS, e outras contribuições de cunho eminentemente
arrecadatório, que retiram a competitividade dos produtos brasileiros nos
mercados internacionais; evitar a "guerra fiscal" entre os estados-membros;
incentivar a poupança interna; facilitar a atração de capitais externos; e a
integração no mercado mundial.
É absolutamente ilógico que o Brasil como Estado federal, único detentor da
soberania, e fruto da união indissolúvel de estados-membros, detentores apenas
de autonomia, deixe sucumbir interesses nacionais frente aos das unidades ou
que fomente uma disputa insana por receitas tributárias entre elas. Isso contraria
o princípio federativo, cláusula pétrea da Carta Maior e, conseqüentemente, o
objetivo da federação, o pacto federativo e a mais singela noção de sistema
tributário.

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A PROPOSTA DE SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL
Objetivos
Os objetivos da Proposta devem ser desenvolvidos concomitantemente, podendo
receber a seguinte classificação:
a) - imediatos: a elaboração de política fiscal e tributária nacional, de um
planejamento estratégico para as áreas de maior concentração arrecadatória e de
políticas de desenvolvimento nacional e regional; e
b) - mediatos: o aumento da arrecadação, a desoneração da produção, a
modernização da fiscalização e administração tributárias, a integração
cooperativa dos entes políticos da federação e a competitividade do mercado
brasileiro.

Fundamentos
A Proposta tem como fundamentos:
a) - a federalização dos tributos: os tributos de modo geral passam a ter caráter
federal, possuindo elementos (fato gerador, base de cálculo, alíquota e sujeitos)
uniformes em todo o território. Os critérios para definição das bases de cálculo
serão estabelecidos em lei. Compete ao Congresso Nacional legislar sobre a
matéria. A tributação ocorrerá na origem facilitando a arrecadação e a
fiscalização;
b) - a autonomia financeira das unidades políticas: cada Unidade terá garantida o
aporte de receitas tributárias na Constituição cuja distribuição será automática e
a fiscalização compartilhada;
c) - a ampliação da base tributável: a base tributável será ampliada considerando
para os impostos diretos, a progressividade, e para os impostos indiretos a
generalidade de operações com bens e serviços; e a redução das alíquotas
marginais;
d) - a modernização das administrações tributárias: as administrações tributárias
deverão estar informatizadas possibilitando a troca de informações
(integração/cooperação) e a identificação de qualquer contribuinte (pessoa física
ou jurídica) através de um cadastro nacional com código único;
e) - a territorialidade na distribuição de receitas: o produto tributário gerado em
cada Unidade é que será objeto da distribuição automática. O acesso aos fundos
de desenvolvimento dependerá dos critérios e etapas estabelecidos nas políticas
de desenvolvimento; e
f) - a integração e cooperação: a receita tributária é responsabilidade de todas as
Unidades. Todos arrecadam, fiscalizam e se beneficiam. Há competitividade no
sentido do desenvolvimento cada vez maior de cada Unidade, nunca na
competição irracional (guerra fiscal) onde todos perdem.

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27. SOBRE CRISES FINANCEIRAS:


A maior vulnerabilidade dos países em desenvolvimento deve-se à dependência
de poupança externa para financiar os frequentes déficits em conta corrente.
Diante da escassez de poupança interna, a dinâmica das economias menos
desenvolvidas depende dos movimentos de expansão e contração dos mercados
financeiros internacionais. Esse contexto torna-se explosivo quando o grau de
exposição financeira eleva-se muito porque induz à possibilidade real de ataques
especulativos.

O ataque especulativo tem início quando todos querem vender determinada


moeda e, no limite, o Banco Central do país passa ser o único comprador. Se
dispuser de reservas suficientes, é capaz de defender sua moeda e provocar
muitas perdas aos que apostaram contra ela. Caso contrário, não há como evitar
a desvalorização das moedas da Tailândia, Malásia, em 1997 e da moeda
nacional, em 1999.

A literatura econômica costuma comparar especuladores a pombos. Num


momento, estão todos reunidos, bicando milho na praça. De repente, um deles
voa. Os demais não sabem por que, mas o instituto lhes diz que aquele deve ter
boas razões para voar e fazem o mesmo, provocando uma revoada. É preciso
jogar milho e ter paciência até que se convençam de que não há perigo e
retornem.

Para aumentar a rentabilidade dos capitais, os investidores aceitam riscos


elevados. No entanto, como as informações são falhas, um acontecimento
qualquer pode reverter as expectativas quanto à lucratividade dos capitais
investidos. Assim, de um momento para outro, o país que era tido como
referência, pode ser considerado como uma péssima aplicação pelos
investidores.

Existem algumas propostas de acordos internacionais que minimizam os


sobressaltos gerados pelos capitais especulativos ao mesmo tempo que garantam
os benefícios dos deslocamentos de capitais. James Tobin, vencedor do prêmio
Nobel de Economia em 1981, estimulou a criação de um imposto internacional
sobre transações financeiras de curto prazo. Outros sugerem o fortalecimento do
FMI, com aperfeiçoamento do sistema vigente e negociador internacional.

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28. A POLÍTICA FISCAL "SPEND AND TAX " (FHC E


LULA)
O contexto de forte ajuste fiscal no final dos anos 90 permaneceu inalterado no
governo Lula (2003 e 2004). Esse segundo mandato de FHC (1998/2002) foi
bastante significativo em termos de política econômica, notadamente, política
fiscal, e vários transformações aqui empreendidas foram reproduzida na gestão
Lula (2002/2006), a saber:

a) a venda de diversos bancos estaduais;

b)a realização de reformas no campo previdenciário, duas na gestão FHC e uma


em Lula;

c) o fundo social de emergência, transformado em fundo de estabilização fiscal;

d) a aprovação de Lei de Responsabilidade fiscal;

e) a adoção de metas rígidas de superávit primário;

Destaca-se também o aumento da receita tributária através da estratégia de


fortalecimento das contribuições, isentas de partilha com estados e municípios:
CPMF, COFINS, CSL, CIDE.

Presencia-se também aumento das despesas correntes do governo, basicamente


aquelas constitucionalmente vinculadas, despesas com assitência e previdêncial
social e as despesas tidas como sociais (programas de transferência de renda
como o Bolsa Família, Bolsa Escola).

Podemos concluir que, após duas décadas de expansão do gasto público, faz-se
mister conter o ritmo de crescimento do gasto corrente, de sorte a ampliar o
espaço para aumentar a taxa de investimento doméstica e reduzir a carga
tributária.

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ATUALIDADES – DISCURSIVAS ISS-SP E ISS-BH
PROFESSOR MARLOS VARGAS FERREIRA

29. BRASIL: SOBRE CREDOR INTERNACIONAL:

No atual momento de crise internacional, deflagrada nos EUA, é muito importante


para o Brasil assumir a posição de credor externo, porque coloca o país numa
situação mais confortável. É um sinal de robustez econômica, solidez financeira
em um dos pontos onde o país tinha uma grande vulnerabilidade. Qualquer crise
externa derrubava o Brasil. O país pagou um preço alto por ser um país
altamente vulnerável. Agora, as crises externas não afetam o país ou afetam em
menor magnitude. As reservas internacionais somam R$ 200 bilhões de reais e o
Brasil tem condições de cobrira a dívida pública.

O Brasil passa a ter um papel de protagonista no cenário internacional porque


acumula reservas e isso o torna mais próximo da obtenção do investment grade
ou grau de investimento

Com reservas mais robustas, o Brasil fica mais seguro e o risco é menor. A
moeda se valoriza porque os investidores passam a ter mais confiança no Brasil e
acreditam que vão entrar mais recursos no país que o investment grade está
mais próximo.

Excelente prova a todos!


Dúvidas, sugestões, críticas: marlos@pontodosconcursos.com.br

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