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UNIVERSIDADE 11 DE NOVEMBRO

FACULDADE DE ECONOMIA
DEPARTAMENTO DE ENSINO E INVESTIGAÇÃO EM ECONOMIA

ANÁLISE DO DÉFICE PÚBLICO E DÍVIDA PÚBLICA EM ANGOLA NO


PERÍODO DE 2014-2020

TRABALHO DE FIM DO CURSO APRESENTADO PARA OBTENÇÃO DO GRAU


DE LICENCIATURA EM ECONOMIA

ELABORADO POR: RUTH MALEMBE MAMPINGA

ORIENTADOR: PROF. DOUTOR. JOSÉ BAPTISTA F. DO ROSÁRIO, PhD.


INTRODUÇÃO

Países de todo o mundo enfrentam, ou pelo menos já enfrentaram instabilidades nas


suas economias desencadeando défices nas contas fiscais e níveis baixos de crescimento
económico, fazendo com que o Estado busque outras formas de cobrir tais défices
dentre as quais a dívida pública que constitui assim, uma das mais importantes formas
de financiamento da economia.

Para Conti, o endividamento do setor público é um problema que afeta gravemente os


Estados há décadas, e não seria exagerado dizer, há séculos. Má gestão, falta de
planejamento e irresponsabilidade fiscal produzem crises que levam ao desequilíbrio
fiscal, trazendo consequências irreparáveis para a sociedade e preocupação para as
futuras gerações. Conhecer e saber gerir a dívida pública torna-se fundamental, porém,
mesmo assim, não recebe a atenção devida dos estudiosos das mais diversas áreas do
conhecimento em que esse tema está presente, especialmente a Economia, a
Administração Pública, a Contabilidade Pública, a Ciência Política e o Direito.

SITUAÇÃO PROBLEMÁTICA

Nos últimos anos, Angola vários períodos de recessão económica justificada, sobretudo,
pela descida no preço do petróleo, que é a principal fonte de receitas fiscais e de divisas
dos país. Este facto, associado às implicações geradas pela pandemia da COVID–19,
contribuiu na baixa arrecadação de receitas públicas e consequentemente o aumento da
despesa pública, que gerou défices públicos nas contas do Estado, paralelamente a esta
situação, a questão da dívida pública tem sido muito discutida, nos últimos tempos.
Segundo a teoria económica existe uma relação directa entre a dívida pública e o défice
público, com base nisso, o presente estudo procura encontrar resposta à seguinte questão
científica:

Qual foi a ánalise do défice público e dívida pública em Angola no período de 2014-
2020?

A pesquisa tem como ojectivo:

 Analisar o défice público e dívida pública em Angola no período de 2014-2020.


Na qual desdobrou-se em três objetivos específicos a saber:
 Fazer uma abordagem teórica, recorrendo às teorias sobre défice público e a dívida
pública;
 Explicar o comportamento do défice público em Angola;
 Perceber a evolução da dívida pública em Angola.

O presente trabalho limitou-se na análise do défice público e dívida pública, e


delimitou-se em Angola no período de 2014 à 2020.

Para o alcance dos objetivos preconizados neste trabalho, recorreu-se a método dedutivo
e utilizou-se como técnica de recolha de dados a análise documental.

ESTRUTURA DO TRABALHO

Para o alcance dos objectivos, o presente trabalho está constituído por dois (2) capítulos,
além do resumo, da conclusão e das referências bibliográficas, antecedido de uma
introdução. No primeiro capítulo, abordou-se diversas teorias sobre défice público e
dívida pública. E no segundo capítulo, se procurou atender o objectivo geral que é
análisar o défice público e dívida pública em Angola no período em análise.

CAPÍTULO I – ABORDAGEM TEÓRICA

Para o estudo de qualquer tema é importante a definição de certos conceitos que


garantem a compreensão do mesmo. Não diferente desta abordagem, este capítulo inicia
com a definição de alguns termos e conceitos chaves.

Assim, apareceram diversos autores relatando sobre o défice público e dívida pública:

Surgiu Nesi, definindo orçamentos públicos como documentos que mostram o poder
financeiro de um país em certo período, ou seja, de um ano para outro, em que aparece o
cálculo oriundo das receitas e despesas, disponibilizado para os serviços públicos
projetados pelos governos.

 DÉFICE PÚBLICO
Segundo Citadini (2000), de uma maneira geral, o défice público é a situação de os
governos gastarem mais do que arrecadam, segundo um determinado período de tempo
ou exercício. Boa parte dos economistas diz que o défice público gera a emissão de
moeda e, portanto, a inflação e o consequente desarranjo do sistema produtivo.
Piñon com outra visão quanto a isso aborda que o défice público é o nome que se dá
para a situação em que o valor total das despesas públicas é maior que valor total das
receitas públicas.

 TIPOS DE DÉFICE PÚBLICO

Fonseca apresenta três tipos de défices públicos a saber:

 Défice Nominal;
 Défice Operacional; e
 Défice Primário.

Quando os recursos arrecadados pelo governo, por meio dos tributos, não são
suficientes para cobrir todos os seus gastos, o governo toma dinheiro emprestado para
financiar parte dos seus gastos que não são cobertos com a arrecadação de tributos. A
partir de certo limite de endividamento, a dívida pública fica fora de controlo por parte
das autoridades monetárias. Para reduzir a dívida pública, o Estado precisa equilibrar
suas contas públicas.

 DÍVIDA PÚBLICA

Segundo ENAP, dívida pública é quando o governo deve para entidades e para a
sociedade. A dívida pública resulta da necessidade de financiamento do sector público,
causada por um saldo negativo nas contas fiscais.

De uma forma mais resumida, a dívida pública pode ser definida como todos
empréstimos que o Estado realiza tanto a nível nacional (dívida pública interna) quanto
a nível internacional (dívida pública externa), sendo os juros o preço a pagar na
obtenção de tais empréstimos.

 TIPOS DE DÍVIDA PÚBLICA


 Dívida Pública Interna; e
 Dívida Pública Externa.
CAPÍTULO II: ANÁLISE DO DÉFICE PÚBLICO E DÍVIDA PÚBLICA EM
ANGOLA

O saldo orçamental global corresponde à diferença entre receitas e despesas. Assim


sendo o melhor sustento da investigação, fez-se colheita de dados por meio de análise
documental em relatórios, boletins, entre outros.

Desse modo apresento o gráfico a seguir:

Gráfico 7: Comportamento do Saldo Orçamental Global (% do PIB)


3
2,1
2

1 0,6

0
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
-1

-2
-1,9
-3
-2,9
-4
-3,8
-5

-6 -5,7
-7 -6,3

Fonte: MINFIN, Relatório de Fundamentação do OGE 2022.

Após um período prolongado de acumulação de défice fiscais (2014 a 2017), o ano de


2018 marcou a alteração da trajetória conducente à insustentabilidade das finanças
públicas. Nos anos de 2018 e 2019 registou-se saldo fiscal superavitário, em cerca de
2,1% e 0,6% do PIB, respectivamente.

Isto explica-se pelo melhor desempenho do preço do petróleo no mercado internacional


durante o ano, acompanhado de um esforço substancial no sentido da alteração da
postura fiscal que se vem observando ao longo dos anos. Ao longo do ano de 2018,
observou-se a aceleração da taxa de crescimento da dívida.
Se níveis elevados de dívida preocupam, níveis altos de défice, muito mais. O défice
público apresentou níveis baixos durante 4 anos, seguido de um crescimento explosivo
no 5º ano. No país o comportamento de crescimento da dívida, apresenta resiliência,
embora o défice esteja a ser controlado numa melhor maneira. Este facto, apresenta um
dilema em que os esforços para superação do défice não são resultados diretos de uma
gestão eficiente da dívida pública. A dívida deturpa a credibilidade do país e com os
altos níveis de endividamento, grandes potenciais investidores estrangeiros são
desencorajados a investirem no mercado nacional.

Gráfico 10: Dívida pública de Angola no período 2014-2020

Dívida Pública
60.000.000,00

50.000.000,00

40.000.000,00

30.000.000,00

20.000.000,00

10.000.000,00

0,00
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Fonte: adaptado pelo autor com base os dados recolhidos no Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial,
indicador de inflação CPI da OCDE (2022) e relatório de fundamentação do OGE (2014-2020).

A dívida pública angolana, no período 2014-2020, apresentou um comportamento de


constante crescimento. Sem dúvida, são várias as razões que estiveram na base dessa
evolução e, entre elas, são mencionadas a instabilidade verificada no mercado
internacional do petróleo, culminado com a redução do produto interno e, em 2016,
alarmado com a crise económica e financeira. A falta de liquidez no país obrigou, de
que maneira, o executivo a proceder a um conjunto de endividamentos internos e
externos. Tal situação, agravou-se completamente em 2020 com a paralisação
generalizada de todos os sectores económicos por causa da pandemia da COVID 19.
Essa situação decorrente, forçou o Estado angolano a encontrar medidas emergenciais
para a sustentabilidade da dívida de modo que não se paralisasse o país em muitos
domínios, sobretudo pela baixa credibilidade gerada.

CONCLUSÕES

a) O défice público influencia um conjunto de elementos que podem comprometer


a qualidade de vida das populações por causa do endividamento, elevado nível
de inflação, alta taxa básica de juros, baixo crescimento económico, alto nível de
desemprego e moeda não estável. Por isso, a consolidação fiscal é um dos
principais pilares da reforma de estabilização macroeconómica do Executivo
angolano, embora tiver sido condicionado pelos efeitos negativos da pandemia
da Covid-19.
b) Após um período prolongado de acumulação de défices fiscais (2014 a 2017), o
ano de 2018 marcou a alteração da trajetória conducente à insustentabilidade das
finanças públicas. Nos anos de 2018 e 2019, registou-se saldo fiscal
superavitário, em cerca de 2,1% e 0,6% do PIB, respectivamente. O ano de
2018 marcou a retoma de saldo global superavitário de 2,1% do PIB, nível
acima das expectativas programadas no Orçamento Geral do Estado de 2018 (-
3,4% do PIB). Isto, explica-se pelo melhor desempenho do preço do petróleo no
mercado internacional durante o ano, acompanhado de um esforço substancial
no sentido da alteração da postura fiscal que se vem observando ao longo dos
anos (Ver gráfico 7).
c) A dívida pública angolana, no período 2014-2016, apresentou um
comportamento de constante crescimento (Ver gráfico 10) e a instabilidade
verificada no mercado internacional do petróleo foi apontado como uma das
principais razões deste crescimento, culminando com a redução do produto
interno bruto e, em 2016, alarmado com a crise económica e financeira. Essa
situação, agravou-se completamente em 2020 com a paralisação generalizada de
todos os sectores económicos por causa da pandemia da COVID-19. Os níveis
de dívida interna e externa impulsionam, de forma acelerada, o saldo do
investimento estrangeiro no país, isto é, maiores níveis de dívida desincentivam
a entrada de investimentos procedentes do exterior.
Para finalizar, pode-se afirmar que, o défice público é provocado não só por por factores
externos como internos. Os factores externos estavam ligados pela subida do preço
internacional de petróleo assim como a pandemia da COVID-19 e no interior pela falta
de produção nacional capazes de atender a demanda da população e pela má gestão dos
recursos públicos originando assim endividamento por via de financiamentos internos
como externos.

SUGESTÕES

Um estudo contribui de forma proveitosa para a sociedade se o mesmo for aplicado. À


luz da pesquisa efetuada sobre a análise do défice público e dívida pública em Angola,
sugere-se:

 Reduzir os níveis de endividamento público e dar transparência quanto a


necessidade e a utilização adequada dos fundos que se conseguem por via de
dívida;
 Criação de quadro de referência orçamental de médio prazo, enquadrado por
uma regra da despesa, definindo‐se quais os tetos máximos de despesa por
ministério, de forma a balizar os níveis máximos de despesa corrente primária ao
longo dos próximos anos;
 Criação de regras contabilísticas e de classificação claras relativamente à
classificação das entidades públicas empresariais, assegurando um tratamento
consistente em função da sua autonomia e da natureza das suas funções;
 Criação de uma nova ferramenta de avaliação dos programas de investimento,
das medidas de apoio na área Social e das medidas de apoio ao investimento e à
economia.
MUITO OBRIGADO.
PAZ E AMOR!

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