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Introdução
O exercício pelo Estado das suas três tradicionais funções de afectação, redistribuição e
estabilização (Musgrave & Musgrave, 1989), pressupõem que esse Estado disponha de
recursos na quantidade e tempo desejados para o efeito. Daí que, o Estado recorre a
diversas formas de financiamento, dentre as quais, podemos destacar as receitas fiscais,
os donativos e a Dívida pública. (Júnior, 2012).
De acordo com Kourtellos et al. (2013), existe o receio de alguns países, cujos Estados
possuem elevados rácios de dívida, serem vistos pelos investidores como países de
elevado risco e pouco atractivos ao investimento, o que pode ter repercussões no
crescimento económico.
3. METODOLOGIA
Para a realização deste ensaio, destacaram-se 3 etapas fundamentais:
4. Revisão da Literatura
De acordo com Silva (1987), dívida pública é o resultado das operações de crédito
realizadas pelos órgãos do sector público com o objectivo de antecipar as receitas
orçamentais ou atender desequilíbrios orçamentais e financiamento de obras e serviços
públicos.
Rezende (1987), define a dívida pública como o resultado das operações realizadas
pelos órgãos do sector público com objectivos de antecipar a receita orçamentária ou
atender desequilíbrios orçamentários.
Efectuando uma visão geral dos contributos mais teóricos da literatura, no que diz
respeito à relação que se estabelece entre a dívida pública e o crescimento das
economias, existe uma tendência para se considerar que o endividamento tem um
impacto negativo no crescimento económico, principalmente numa lógica de longo-
prazo (Panizza e Presbitero, 2013).
De acordo com Elmendorf e Mankiw (1999), a análise do impacto da dívida pública terá
de ser desagregada entre curto-prazo e longo-prazo uma vez que os resultados serão
diferentes.
A literatura tem prestado atenção não só ao impacto que a dívida pública provoca no
crescimento, mas também aos canais através dos quais se efectiva esse impacto. São
várias as formas através das quais um elevado nível de dívida poderá afectar o
desempenho da actividade económica, não só na vertente de curto prazo como na lógica
de longo prazo (Kumar e Woo, 2010).
5. Resultados e Discussão
5.1. Classificação da Divida Pública
Para Joaquim (1991), as dívidas contraídas pelo Estado, isto é, as dívidas públicas são
susceptíveis de seguintes distinções:
• Dívida interna
Quando resultam de empréstimos internos;
• Dívida externa
Quando resultam de empréstimos externos.
Título de Tesouro – títulos de crédito emitidos a breve data pelo governo, geralmente
vendidos a desconto em vez de pagarem juros, com um vencimento de um ano ou
inferior a um ano. Também é possível os títulos de tesouro pagarem juros no termo do
prazo de pagamento e serem emitidos ao par (100% do valor facial). (GDM, 2006)
A experiência mostra que em muitos países menos desenvolvidos estas receitas normais
estão aquém do volume de despesas fixado, havendo então a necessidade de se recorrer
a outras fontes.
O recurso ao endividamento interno para o financiamento do défice é tomado como o
último recurso. Último recurso porque quando se recorre à dívida interna ao mesmo
tempo se esta perante um risco de penalização do sector privado, que fica sem recursos
suficientes para financiar os seus investimentos.
A contracção da Divida publica interna teve início em 1999, com a emissão de OT´s no
valor de MZN 60 milhões, com o objectivo de financiar o défice orçamental e de
impulsionar a actividade do mercado de capitais, então emergente no País.
Em 2009, o stock da dívida pública interna foi de MZN 11.914,20 milhões, influenciado
maioritariamente pela utilização de BT´s para a cobertura do défice temporário de
tesouraria e emissão de OT´s para a cobertura do défice orçamental. No ano seguinte, o
stock cresceu em 57% atingindo MZN 18.747,37 milhões devido a utilização de BT´s e
outros créditos contraídos e assumidos pelo Estado.
Tabela 1
Indicador 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Divida Publica Interna (10^9 MT)/a 51,9 817,0 1.684,0 3.681,6 4.932,0 2.536,7 3.366,9
Memo:
Divida Publica Interna/ PIB (%) 0,1 1,4 2,2 3,8 4,3 1,9 2,2
Dívida Pública Interna/ Receitas Públicas (%) 0,8 10,8 17,8 30,5 33,5 15,1 15,8
Juros de Dív. Púb. Interna/ Receitas Púb.s (%) 0,1 0,2 3,5 7,9 6,8 5,4 3,7
a/ Inclui títulos do Governo emitidos para reforçar o balanço do Banco de Moçambique.
Fonte: IMF Country Report No. 06/46, 2006; IMF 2005 Country Report No. 05/168; IMF 2004 Country Report No.
04/342
Os devedores podem ser tanto o governo como as empresas privadas. Assim, na óptica
do devedor a dívida pode ser pública ou privada.
É pública quando o responsável directo pela dívida sobre o exterior é o Governo. É
privada quando algumas empresas do sector privado nacional recorrem a fontes externas
para o financiamento dos seus investimentos, ou ainda, adiamento do pagamento de
certas importações.
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
MULTILATERAL 1,331.8 1,706.4 1,953.3 2,321.2 2,535.0 1,191.6 1,543.4 1,835.9 2,229.0 2,436.6
BILATERAL 3,608.7 1,899.5 1,985.5 2,094.9 2,113.9 2,090.4 1,773.5 1,801.2 1,718.8 1,307.0
OCDE 1842.4 571.1 563.5 492.1 648.1 647.9 639.6 560.1 216.9 326.7
OPEP 613.3 632.4 623.3 777.8 783.5 324.2 159.9 159.9 159.7 158.1
PAISES DA
EUROPA DE LESTE
187.5 197.1 189.6 298.7 299.9 250.7 107.1 107.2 227.5 148.5
OUTROS PAISES
965.5 498.9 609.1 371.5 382.4 1,118.3 974.0 1,081.2 1,342.3 822.2
BANCOS
0 0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0
COMERCIAIS
OCDE
OUTROS
FORNECEDOR
ES
Fonte: Estratégia de Médio Prazo para Gestão da Dívida Pública, 2012 -2015
Gráfico: 2
Fonte: Estratégia de Médio Prazo para Gestão da Dívida Pública, 2012 -2015
Gráfico: 3
Fonte: Estratégia de Médio Prazo para Gestão da Dívida Pública, 2012 -2015
Nos últimos cinco anos, a Dívida Pública moçambicana cresceu a uma taxa
anualsuperior a 20%, tendo atingido um valor nominal de, pelo menos, 8 mil milhões
USD.
De acordo com MEF (2015), até 2014 (antes da contabilização da EMATUM, do
conhecimento público da ProIndicus e da Base Logística de Pemba), a dívida pública
era quase metade (49%) do produto interno bruto (PIB), conforme figura abaixo.
Gráfico: 4
Evolução da dívida pública moçambicana de 2011-2014
. D. Total
PNB
Mede a dívida externa de um país em relação ao total da sua produção
Este rácio apresenta algumas características que limitam a sua utilização para medir a
dívida externa de um país: (i) compara um stock (a dívida) com o fluxo de riqueza
produzido num determinado ano; (ii) a dívida é tutelada em divisas estrangeiras ao
passo que o PNB se traduz essencialmente por recursos em moeda nacional; (iii) mais
importante que o stock da dívida é o seu serviço, uma vez que é este indicador que mede
aquilo que de facto o país tem de desembolsar anualmente em virtude de ter contraído
um empréstimo junto do exterior.
. D. Total
Exportacoes
Compara o endividamento em divisas com o fluxo anual em divisas gerado pelas
exportações
Este rácio dá resposta à 2ª das críticas anteriores enquanto que as restantes duas se
continuam a verificar.
S . Divida
Exportacoes
Compara o fluxo anual de pagamentos relacionados com empréstimos contraídos com o
fluxo anual em divisas gerado pelas exportações
Este indicador dá resposta às três críticas atrás enunciadas: tendo em consideração a
carga da dívida e não a dívida em si mesma; comparando fluxos e; medindo os dois
tipos de fluxos em divisas estrangeiras.
S . Divida
PNB
Mede a parte das riquezas produzidas pelo país que são utilizadas para pagar encargos
perante o exterior
Apesar de dar uma ideia correcta da parte dos recursos internos necessária para o
pagamento dos custos da dívida, este indicador tem o inconveniente de comparar
despesa em moeda estrangeira com receita em moeda nacional.
S . . Divida
R . Fiscais
Mede a parte das receitas fiscais do país que são utilizadas para pagar encargos perante
o exterior.
Este rácio mantém o inconveniente do anterior mas introduz uma visão alternativa em
relação à capacidade de serviço da dívida com base na cobrança de impostos. Este rácio
torna-se especialmente útil quando se pretende avaliar os esforços dos países
endividados no sentido de aumentarem a base de tributação.
Em 2007 o total do stock da dívida pública era de cerca de USD 3,6 biliões. A dívida
externa representava 91% do total da dívida, isto é, USD 3,3 biliões, sendo 41%
credores multilaterais e 9% credores bilaterais (MF, 2008). Portanto, a Dívida Pública
Interna ainda constituía uma pequena porção do total da dívida pública representando
cerca de 11% (MF, 2010). Porém, a tendência nitidamente observável no
comportamento da dívida pública moçambicana entre 2001 e 2008, foi de redução da
Dívida Pública Externa (DPE), quer em valores absolutos, quer em proporção do PIB e
das receitas públicas e aumento da Dívida Pública Interna Mobiliária (DPIM).
Todavia, esta não passa apenas de uma melhoria relativa dado que, realisticamente e nas
actuais condições os indicadores da dívida pública de Moçambique, colocam o País
abaixo dos níveis de insustentabilidade da dívida definidos para países de baixo
rendimento (cerca de 36% em proporção do PIB e 218% das receitas públicas em 2008)
(Massarongo & Muianga, 2011).
Forças:
A dívida externa permite a cobertura do volume de despesas fixado pelo Governo,
saldando assim a conta, sendo por isso indispensável. A falta ou limitação destes
significa défice nas contas públicas, o que pode originar pressões internas, devido ao
recurso ao financiamento por via da dívida interna.
Fraquezas:
A ainda fraca capacidade do País em mobilizar receitas internas;
Debilidade do sistema de Administração Financeira do Estado, destaque para a falta de
mecanismos de Gestão da Dívida.
Oportunidades:
Estratégia de Gestão da Dívida Publica Externa e Interna em preparação/discussão;
Necessidade de gestão criteriosa de recursos públicos assumida no PARPA 2006-2009;
Perdão de 100% da Dívida Multilateral assumida até Dezembro de 2004 com o FMI,
IDA e FAD, o que reduz substancialmente o stock de dívida pública externa, abrindo
espaço para uma gestão mais criteriosa dos novos desembolsos
O privilégio pelos donativos em vez de empréstimos que vem sendo assumido pelos
países membros do Clube de Paris.
Ameaças:
Recurso a Fontes de Financiamento Interno por parte do Estado pode gerar um efeito
Crowding Out do Investimento Privado;
Condicionalismos que se impõe quando o País beneficia de um donativo ou empréstimo
que podem não ser consistentes com os objectivos de desenvolvimento do País;
Risco de perpetuação da dependência, mesmo considerando que os empréstimos são
concessiona;
Grande vulnerabilidade do país à choques externos, o que pode exigir a qualquer
momento a necessidade de contratação de empréstimos externos;
Aumento do stock de dívida pública externa devido ao efeito das flutuações cambiais;
Tendências de redução do fluxo de fundos externos;
Existência de dívidas bilaterais fora do âmbito do clube de Paris e consequente redução
8. Conclusão
Após mais de uma década, a dívida pública Moçambicana voltou a ser motivo de
preocupação. Analistas económicos debruçam-se sobre as contas públicas, procurando
aferir ameaças à solvência da situação fiscal. As agências de classificação de risco
colocam o endividamento público Moçambicano elevado como o principal factor que
pode levar Moçambique a perder um grande número de investimento, principalmente os
IDE
Moçambique deve garantir que a produção de gás natural se materialize o mais rápido
possível para garantir a sustentabilidade da dívida dado que este sector terá um impacto
positivo no crescimento do PIB, nas exportações e nas receitas orçamentais.
9. Referências Bibliográficas
Baldacci, E. & Kumar, M. S. (2010), “Fiscal deficits, public debt, and sovereign bond
yields”, IMF Working Paper, 184, Agosto.
Baum, A., Checherita-Westphal, C.,& Rother, P. (2013), “Debt and growth: New
evidence for the euro area”, Journal of International Money and Finance, 32(1),
809-821.
Dava, G. 2005. O que o HIPC nos trouxe: o caso de Moçambique. Grupo Moçambicano
da Dívida
Kourtellos, A., Stengos, T., & Tan, C. M. (2013), “The effect of public debt on growth
in multiple regimes”, Journal of Macroeconomics, 38, 35-43.
Kumar, M., & Woo, J. (2010), “Public debt and growth”, IMF Working Papers, 174,
Julho.
Panizza, U., & Presbitero, A. F. (2012), “Public debt and economic growth: is there a
causal effect?”, POLIS working papers, 168, Setembro.
Panizza, U., & Presbitero, A. F. (2013), “Public debt and economic growth in advanced
economies: A survey”, Swiss Journal of Economics and Statistics, 149 (II), 175-204.