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1.

Introdução

O exercício pelo Estado das suas três tradicionais funções de afectação, redistribuição e
estabilização (Musgrave & Musgrave, 1989), pressupõem que esse Estado disponha de
recursos na quantidade e tempo desejados para o efeito. Daí que, o Estado recorre a
diversas formas de financiamento, dentre as quais, podemos destacar as receitas fiscais,
os donativos e a Dívida pública. (Júnior, 2012).

Nos últimos 10 anos a economia moçambicana registou taxas de crescimento robustas,


entre 6% e 8%, consistentemente acima da média dos países subsarianos. Segundo o
Fundo Monetário Internacional (FMI) o dinamismo da actividade em Moçambique
deverá continuar a superar o das principais economias africanas, nomeadamente as que
pertencem à Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), na qual
Moçambique está incluído

A divida, é e foi muito importante nesse processo de crescimento económico e de


desenvolvimento do país dado que quando esta, bem estruturada e mantida a um nível
sustentável, o dinamismo do consumo e do investimento fluem de forma normal,
estimulando o crescimento económico.
Porém, quando esta não é sustentável, ela pode contribuir de forma nefasta para
economia, podendo pôr em causa toda a dinâmica do mercado financeiro, do consumo e
do investimento.

De acordo com Kourtellos et al. (2013), existe o receio de alguns países, cujos Estados
possuem elevados rácios de dívida, serem vistos pelos investidores como países de
elevado risco e pouco atractivos ao investimento, o que pode ter repercussões no
crescimento económico.

Reconhecendo a importância e o impacto que a questão de endividamento público tem


não só no crescimento económico como na vida dos Moçambicanos, o presente ensaio
terá como objectivos:
2. Objectivos
2.1. Objectivos Gerais:
 Avaliar as tendências do endividamento público em Moçambique no período de
2000-2015 e seu impacto sobre a política fiscal e no crescimento económico do
País.

2.2. Objectivos Específicos


 Descrever a evolução da economia Moçambicana no período em análise
 Identificar as causas do endividamento público em Moçambique
 Identificar o Impacto da divida publica no crescimento económico e na politica
fiscal

3. METODOLOGIA
Para a realização deste ensaio, destacaram-se 3 etapas fundamentais:

i) A consulta de artigos científicos, as teses e dissertações atinentes ao tema em causa,


para além da consulta legislação relativa a divida publica;

ii) Discussão em grupo para seleccionar informação de interesse; e

iii) Elaboração do trabalho final.

4. Revisão da Literatura

De acordo com Silva (1987), dívida pública é o resultado das operações de crédito
realizadas pelos órgãos do sector público com o objectivo de antecipar as receitas
orçamentais ou atender desequilíbrios orçamentais e financiamento de obras e serviços
públicos.
Rezende (1987), define a dívida pública como o resultado das operações realizadas
pelos órgãos do sector público com objectivos de antecipar a receita orçamentária ou
atender desequilíbrios orçamentários.

Segundo Citadini (2000), o défice público é a situação de os governos gastarem mais do


que arrecadam, segundo um determinado período de tempo ou exercício.

Crescimento económico é entendido como “um conceito que se refere à capacidade de


um sistema económico incrementar a disponibilidade de bens e serviços e atender às
necessidades de uma população” (MILONE, 1987).

4.1. Relação teórica entre a Dívida pública e crescimento económico

Efectuando uma visão geral dos contributos mais teóricos da literatura, no que diz
respeito à relação que se estabelece entre a dívida pública e o crescimento das
economias, existe uma tendência para se considerar que o endividamento tem um
impacto negativo no crescimento económico, principalmente numa lógica de longo-
prazo (Panizza e Presbitero, 2013).

De acordo com Elmendorf e Mankiw (1999), a análise do impacto da dívida pública terá
de ser desagregada entre curto-prazo e longo-prazo uma vez que os resultados serão
diferentes.

Noutra abordagem, baseando-se na função produção com capital público, Checherita-


Westphal et al. (2012) desenvolveram um modelo teórico que determina os níveis de
dívida pública que maximizam o crescimento. Para estes autores, as definições dos
níveis de dívida que maximizavam o crescimento baseiam-se em análises meramente
empíricas.

Concluindo, a literatura sugere que há uma tendência para o endividamento afectar


negativamente o crescimento, principalmente no longo-prazo. No entanto, não existem
modelos que apresentem resultados consistentes entre estas duas variáveis (Panizza e
Prebistero, 2013).
4.2. Relação empírica entre a Dívida pública e crescimento económico

A literatura tem prestado atenção não só ao impacto que a dívida pública provoca no
crescimento, mas também aos canais através dos quais se efectiva esse impacto. São
várias as formas através das quais um elevado nível de dívida poderá afectar o
desempenho da actividade económica, não só na vertente de curto prazo como na lógica
de longo prazo (Kumar e Woo, 2010).

A fuga de capitais é um exemplo de um canal através do qual a dívida pública poderá


provocar um impacto adverso no PIB, essencialmente nos países menos desenvolvidos
(Cerra et al., 2008). No estudo efectuado por Cerra et al. (2008), o autor demonstra que
existe forte evidência da relação entre a dívida pública, a fuga de capitais e o
consequente impacto no PIB.

Numa outra vertente, a dívida poderá afectar o crescimento através da produtividade


(Fosu,1996). Analisando em particular numa perspectiva da dívida externa, o autor
argumenta que aquela pode afectar a produtividade do investimento, o que por sua vez
influenciará o crescimento económico mesmo quando a taxa de investimento não sofra
grandes alterações. Acrescenta ainda, que os encargos da dívida podem até nem reduzir
de forma significativa a poupança ou o nível de investimento, mas podem, no entanto,
diminuir o nível de output via redução da produtividade (fruto do mix de investimento
realizado).

No entanto, estes estudos não têm em consideração a endogeneidade, pois o facto de


existir uma correlação negativa entre a dívida e o crescimento, não significa
necessariamente que a dívida reduz o crescimento, podemos estar perante um caso em
que o baixo crescimento económico leve as economias a recorrer ao crédito e,
consequentemente, a níveis elevados de dívida (Panizza e Presbitero, 2013).
4.3. Relação entre Politica Fiscal e Divida Publica
Política fiscal é o processo pelo qual os governos promovem alterações de ordem
económica através do controle das variáveis representadas pelo nível de tributação (T) e
pelos gastos governamentais (G).

Alvin Harvey Hansen desenvolveu estudos fundamentados na teoria keynesiana


orientado para um segmento específico das finanças governamentais denominado de
"política fiscal", significando o uso consciente dos meios fiscais do governo –
tributação, gastos e dívida pública – com o objectivo de neutralizar as tendências
cíclicas da economia, traduzidas por inflação e recessão. Essas contribuições foram
responsáveis pela inspiração, pouco tempo depois, de um tipo de política fiscal
orientada para o fomento do crescimento económico. (PEREIRA, 1999, p.90)

Posteriormente, surge a contribuição de Richard Abel Musgrave, para a formulação dos


princípios teóricos da acção do sector público nas economias de mercado, a partir da
publicação de seu livro The Teory of Public Finance, em que descreve e fundamenta o
comportamento governamental. Assim, a teoria económica passa a ter uma teoria geral
da economia do sector público, definindo um referencial para o uso eficiente dos
recursos governamentais, dando ao orçamento uma abordagem macroeconómica. Esta
teoria levou em consideração as várias áreas sobre as quais a tributação e os dispêndios
podem reflectir seus efeitos, por meio de uma visão múltipla que contempla ajustes na
alocação dos recursos, distribuição da renda e riqueza, estabilização da produção e
emprego e crescimento económico (PEREIRA, 1999, p.90).

As receitas do Estado Moçambicano são constituídas essencialmente pelas receitas


correntes (receitas fiscais, receitas não fiscais, receitas próprias, receitas consignadas) e
receitas de capital. As componentes receitas e despesas apresentam uma tendência
crescente ao longo do período. Contudo, espera-se que os donativos para o apoio ao OE
e a projectos cresçam ligeiramente em 2012, decrescendo gradualmente nos anos
seguintes, considerando as projecções por parte dos parceiros de cooperação, que
apontam para uma redução nos recursos externos.
Em resultado do comportamento das componentes receitas, donativos e despesas do
sector público, prevê-se uma redução gradual do défice primário em % do PIB nos
próximos anos, atingindo 5,4% em 2015 devido, em parte, as medidas de austeridade.

Assim, dado o comportamento do défice primário e considerando as despesas de juro e


capital a pagar nos próximos anos, a previsão da necessidade de financiamento situar-
se-á perto de 6% do PIB em 2011, aumentando para 9,2% em 2012, com redução ligeira
para cerca de 8,0% até 2015.

5. Resultados e Discussão
5.1. Classificação da Divida Pública
Para Joaquim (1991), as dívidas contraídas pelo Estado, isto é, as dívidas públicas são
susceptíveis de seguintes distinções:
• Dívida interna
Quando resultam de empréstimos internos;
• Dívida externa
Quando resultam de empréstimos externos.

5.2. Divida Publica Moçambicana


5.2.1. Dívida Pública Interna
A Lei 9/2002 de 12 de Fevereiro - Lei do Sistema de Administração Financeira do
Estado (SISTAFE) - define a Dívida Pública Interna como:
“Aquela que é contraída pelo Estado com entidades de direito público ou privado, com
residência ou domiciliadas no País, e cujo pagamento é exigível dentro do território
nacional”.
Existem dois instrumentos principais que os governos emitem no processo de
contratação de empréstimos internos: títulos de tesouro e obrigações de tesouro.

Título de Tesouro – títulos de crédito emitidos a breve data pelo governo, geralmente
vendidos a desconto em vez de pagarem juros, com um vencimento de um ano ou
inferior a um ano. Também é possível os títulos de tesouro pagarem juros no termo do
prazo de pagamento e serem emitidos ao par (100% do valor facial). (GDM, 2006)

Obrigações de Tesouro – instrumento de médio e longo prazo emitidos ao par (100% do


valor facial) e com juros pagáveis anual ou semestralmente.

De acordo com Johnson (2001:7-8), existem três razões principais para o


endividamento público interno:

Financiar o défice orçamental.


Se o Governo não for capaz de fazer face aos seus compromissos de despesas a partir de
receitas mobilizadas a nível nacional, tais como impostos e direitos, e de doações e
empréstimos de fontes externas, pode então contrair empréstimo a nível nacional.

A experiência mostra que em muitos países menos desenvolvidos estas receitas normais
estão aquém do volume de despesas fixado, havendo então a necessidade de se recorrer
a outras fontes.
O recurso ao endividamento interno para o financiamento do défice é tomado como o
último recurso. Último recurso porque quando se recorre à dívida interna ao mesmo
tempo se esta perante um risco de penalização do sector privado, que fica sem recursos
suficientes para financiar os seus investimentos.

Implementar a Política Monetária.


O Governo pode implementar a política monetária através de uma alteração de oferta de
moeda na economia. Fá-lo através da compra ou venda de títulos do tesouro, isto é,
através das operações de mercado aberto. A venda de títulos do tesouro por parte do
estado reduz a oferta de moeda e absorve a liquidez, pois as pessoas e as instituições
compram títulos de tesouro e ficam assim com menos dinheiro, ao passo que as compras
de títulos do tesouro por parte do estado injectam dinheiro na economia, pois as pessoas
vendem títulos do tesouro e ficam com mais dinheiro.
Desenvolver o sistema financeiro.
Para desenvolver e aprofundar os mercados do sector financeiro é necessário haver uma
oferta e uma gama firme de instrumentos de instrumentos financeiros a transaccionar.
No início deste processo o governo oferece geralmente títulos do tesouro de curto prazo,
que proporcionam uma rentabilidade certa e desenvolvem a confiança dos investidores
nos instrumentos públicos de dívida.
Consequentemente, o aprofundamento do mercado financeiro pode ser conseguido
através da oferta de instrumentos de mais longo prazocom estruturas diversas de taxas
de juro (fixas e flutuantes).
O valor dos títulos emitidos é fixado em moeda nacional, mas casos há em que os
valores são convertidos para moeda externa. Neste segundo caso, além dos encargos
derivados da taxa de juros, há que ter em conta a taxa de câmbios, dados os riscos de
sua flutuação.

A contracção da Divida publica interna teve início em 1999, com a emissão de OT´s no
valor de MZN 60 milhões, com o objectivo de financiar o défice orçamental e de
impulsionar a actividade do mercado de capitais, então emergente no País.

De 1999 a 2010, o Estado moçambicano financiou-se no mercado doméstico em mais


de MZN 10 mil milhões, sendo MZN 7.200 milhões de títulos cotados na Bolsa de
valores de Moçambique. De 1999 a 2003, a carteira da dívida pública interna era
totalmente composta por OT’s para financiamento do défice orçamental, tendo nos anos
seguintes se iniciado com a utilização de outros instrumentos como é o caso dos BT´s
para financiamento do défice temporário de tesouraria desde 2004 e os créditos
bancários desde 2010.

Em 2009, o stock da dívida pública interna foi de MZN 11.914,20 milhões, influenciado
maioritariamente pela utilização de BT´s para a cobertura do défice temporário de
tesouraria e emissão de OT´s para a cobertura do défice orçamental. No ano seguinte, o
stock cresceu em 57% atingindo MZN 18.747,37 milhões devido a utilização de BT´s e
outros créditos contraídos e assumidos pelo Estado.
Tabela 1
Indicador 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Divida Publica Interna (10^9 MT)/a 51,9 817,0 1.684,0 3.681,6 4.932,0 2.536,7 3.366,9
Memo:
Divida Publica Interna/ PIB (%) 0,1 1,4 2,2 3,8 4,3 1,9 2,2
Dívida Pública Interna/ Receitas Públicas (%) 0,8 10,8 17,8 30,5 33,5 15,1 15,8
Juros de Dív. Púb. Interna/ Receitas Púb.s (%) 0,1 0,2 3,5 7,9 6,8 5,4 3,7
a/ Inclui títulos do Governo emitidos para reforçar o balanço do Banco de Moçambique.
Fonte: IMF Country Report No. 06/46, 2006; IMF 2005 Country Report No. 05/168; IMF 2004 Country Report No.
04/342

5.3. Divida Externa


5.3.1. Dívida Pública Externa
A mesma Lei 9/2002 define a Dívida Pública Externa como:
“Aquela que é contraída pelo Estado com outros Estados, organismos internacionais ou
outras entidades de direito público ou privado, com residência ou domicílio fora do
País, e cujo pagamento é exigível fora do território nacional”.

Os devedores podem ser tanto o governo como as empresas privadas. Assim, na óptica
do devedor a dívida pode ser pública ou privada.
É pública quando o responsável directo pela dívida sobre o exterior é o Governo. É
privada quando algumas empresas do sector privado nacional recorrem a fontes externas
para o financiamento dos seus investimentos, ou ainda, adiamento do pagamento de
certas importações.

Na óptica do credor, a dívida pode ser:


(i) Bilateral, quando se trata de empréstimo entre governos;
(ii) Multilateral, quando um governo deve a instituições financeiras
internacionais (Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, Banco
Africano de Desenvolvimento) que representam interesses de diversos
Governos;
(iii) Comercial, quando o governo ou empresas recorrem a bancos comerciais
internacionais para a contracção de crédito.
Nas dívidas multilaterais e bilaterais, destaque para a primeira categoria, em que as
condições são mais favoráveis (juros baixos e períodos de graça longos), enquanto que
as dívidas comerciais se guiam pelas condições do mercado.
A acumulação da dívida pública externa no País teve o seu ponto mais alto na primeira
metade da década de 80, traduzida pelo aumento do stock da dívida pública a um ritmo
acelerado, tendo atingido USD 6,0 biliões em 1998, ao mesmo tempo que se verificava
uma desaceleração acentuada do crescimento económico do País, condicionada pela
redução das exportações, como consequência também de choques exógenos, guerra civil
e choques petrolíferos.

Para fazer face ao desequilíbrio macroeconómico da altura foram introduzidas reformas


económicas e medidas de estabilização com o objectivo de reduzir a pobreza e tornar a
dívida sustentável, tendo o País beneficiado de mecanismos de alívio de dívida,
nomeadamente,
(i) Reescalonamento da dívida no âmbito do Clube de Paris,
(ii) Alívio no âmbito das iniciativas HIPC (Iniciativa do Alívio da Dívida para
os Países Pobres Altamente Endividados) e MDRI (Iniciativa de Alívio da
Dívida Multilateral). Como resultado, o stock da dívida pública externa
reduziu significativamente para USD 3.282,0 milhões em 2006.

Com o perdão da dívida pública externa de que Moçambique beneficiou, o stock da


dívida pública externa decresceu de USD 6,0 biliões em 1998 para cerca de USD 3,3
biliões em 2006.
Nos últimos anos, verifica-se uma tendência de crescimento do stock da dívida pública
externa dada a necessidade de contratação de créditos para financiamento de projectos e
programas de desenvolvimento e crescimento económico do País, embora tenha
ocorrido uma ligeira redução do stock da dívida pública externa em USD de 2009 a
2010 de USD 3.965,44 milhões para USD 3.817,35 milhões justificado, em parte, pela
diminuição do saldo da dívida bilateral em 6% em consequência do perdão total da
dívida junto da República Popular e Democrática da Argélia, no valor de USD 430,3
milhões, tendo o stock da dívida pública externa em 2011 se situado em cerca de USD
4.2 biliões.
Stock da divida Externa
Tabela 2

Stock da Dívida Externa


(em Milhoes de USD)

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

MULTILATERAL 1,331.8 1,706.4 1,953.3 2,321.2 2,535.0 1,191.6 1,543.4 1,835.9 2,229.0 2,436.6

BILATERAL 3,608.7 1,899.5 1,985.5 2,094.9 2,113.9 2,090.4 1,773.5 1,801.2 1,718.8 1,307.0

OCDE 1842.4 571.1 563.5 492.1 648.1 647.9 639.6 560.1 216.9 326.7
OPEP 613.3 632.4 623.3 777.8 783.5 324.2 159.9 159.9 159.7 158.1

PAISES DA
EUROPA DE LESTE
187.5 197.1 189.6 298.7 299.9 250.7 107.1 107.2 227.5 148.5

OUTROS PAISES
965.5 498.9 609.1 371.5 382.4 1,118.3 974.0 1,081.2 1,342.3 822.2

BANCOS
0 0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0
COMERCIAIS

OCDE
OUTROS
FORNECEDOR
ES

Em termos de composição detalhada do stock da dívida pública externa por credor, no


conjunto dos credores multilaterais, destaca-se a IDA com 64% do total do stock,
seguido do FAD com 17% e do BEI com 5%. Na componente de credores bilaterais,
destacam-se, os credores do Clube de Paris-OCDE e outros países OPEC, com 30% e
31%, respectivamente, seguido de China, India e Dinamarca, que ao todo perfazem
cerca de 23% do total do stock.
Gráfico: 1

Fonte: Estratégia de Médio Prazo para Gestão da Dívida Pública, 2012 -2015
Gráfico: 2

Fonte: Estratégia de Médio Prazo para Gestão da Dívida Pública, 2012 -2015

Gráfico: 3

Fonte: Estratégia de Médio Prazo para Gestão da Dívida Pública, 2012 -2015

A dívida pública total de Moçambique registou em 2011, um stock de MZN 136.709,84


milhões (USD 5.037,21 milhões), dos quais MZN 114.379,63 milhões (USD 4.214,43
milhões) correspondeu ao stock da dívida pública externa e MZN 22.330,21 milhões
(USD 822,78 milhões) ao stock da dívida pública interna. Salientar que neste ano a
dívida pública externa teve um peso de 84% e a interna de 16% do total, sendo que de
2009 a 2011 o stock da dívida pública é maioritariamente influenciado pela dívida
pública externa. A tabela 1 apresenta os detalhes da evolução do stock da dívida pública
de 2009 a 2011

Nos últimos cinco anos, a Dívida Pública moçambicana cresceu a uma taxa
anualsuperior a 20%, tendo atingido um valor nominal de, pelo menos, 8 mil milhões
USD.
De acordo com MEF (2015), até 2014 (antes da contabilização da EMATUM, do
conhecimento público da ProIndicus e da Base Logística de Pemba), a dívida pública
era quase metade (49%) do produto interno bruto (PIB), conforme figura abaixo.

Gráfico: 4
Evolução da dívida pública moçambicana de 2011-2014

Fonte: Ministério da Economia e Finanças, 2015. Declaração de Riscos Fiscais, pág. 13


De acordo com o Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO) o factor determinante para
tão grande crescimento da dívida pública num período de apenas cinco anos foi a
expectativa de arrecadação de receitas da indústria extractiva, particularmente do carvão
mineral de Tete e do gás natural de Cabo-Delgado.

6. Sustentabilidade da Divida Publica Moçambicana

6.1. Indicadores de sustentabilidade da Dívida:

. D. Total
PNB
Mede a dívida externa de um país em relação ao total da sua produção
Este rácio apresenta algumas características que limitam a sua utilização para medir a
dívida externa de um país: (i) compara um stock (a dívida) com o fluxo de riqueza
produzido num determinado ano; (ii) a dívida é tutelada em divisas estrangeiras ao
passo que o PNB se traduz essencialmente por recursos em moeda nacional; (iii) mais
importante que o stock da dívida é o seu serviço, uma vez que é este indicador que mede
aquilo que de facto o país tem de desembolsar anualmente em virtude de ter contraído
um empréstimo junto do exterior.

. D. Total
Exportacoes
Compara o endividamento em divisas com o fluxo anual em divisas gerado pelas
exportações
Este rácio dá resposta à 2ª das críticas anteriores enquanto que as restantes duas se
continuam a verificar.

S . Divida
Exportacoes
Compara o fluxo anual de pagamentos relacionados com empréstimos contraídos com o
fluxo anual em divisas gerado pelas exportações
Este indicador dá resposta às três críticas atrás enunciadas: tendo em consideração a
carga da dívida e não a dívida em si mesma; comparando fluxos e; medindo os dois
tipos de fluxos em divisas estrangeiras.

S . Divida
PNB
Mede a parte das riquezas produzidas pelo país que são utilizadas para pagar encargos
perante o exterior
Apesar de dar uma ideia correcta da parte dos recursos internos necessária para o
pagamento dos custos da dívida, este indicador tem o inconveniente de comparar
despesa em moeda estrangeira com receita em moeda nacional.

S . . Divida
R . Fiscais
Mede a parte das receitas fiscais do país que são utilizadas para pagar encargos perante
o exterior.
Este rácio mantém o inconveniente do anterior mas introduz uma visão alternativa em
relação à capacidade de serviço da dívida com base na cobrança de impostos. Este rácio
torna-se especialmente útil quando se pretende avaliar os esforços dos países
endividados no sentido de aumentarem a base de tributação.

Em 2007 o total do stock da dívida pública era de cerca de USD 3,6 biliões. A dívida
externa representava 91% do total da dívida, isto é, USD 3,3 biliões, sendo 41%
credores multilaterais e 9% credores bilaterais (MF, 2008). Portanto, a Dívida Pública
Interna ainda constituía uma pequena porção do total da dívida pública representando
cerca de 11% (MF, 2010). Porém, a tendência nitidamente observável no
comportamento da dívida pública moçambicana entre 2001 e 2008, foi de redução da
Dívida Pública Externa (DPE), quer em valores absolutos, quer em proporção do PIB e
das receitas públicas e aumento da Dívida Pública Interna Mobiliária (DPIM).

A introdução (em 1999) e rápido crescimento do financiamento mobiliário (DPIM), é


um dos traços mais notáveis no comportamento da dívida pública nacional nos últimos
anos. De acordo com o Relatório Anual sobre a Dívida Pública do Ministério das
Finanças (2008), a DPIM duplicou em cerca de 4 anos crescendo de 4,9 bilhões de
meticais em 2003 para 8 biliões de meticais em 2007. A introdução da DPIM,
representa uma mudança nos padrões de financiamento do Estado moçambicano, que
desde o Reajustamento Estrutural (finais da década de 80) até a criação da Bolsa de
Valores de Moçambique (em 1999), fiava-se apenas nos donativos e nos empréstimos
concessionais para a mobilização de recursos externos. Deve-se compreender que a
tendência de redução da dívida pública externa liga-se, principalmente, às iniciativas de
perdão de dívida de que o País vem se beneficiando e não necessariamente a uma
evolução positiva (favorável) dos agregados macroeconómicos com implicações
directas sobre os indicadores de sustentabilidade da dívida e da capacidade institucional
de gestão da política de endividamento. De facto, a dívida pública de Moçambique tem
registado uma redução considerável, como resultado das negociações realizadas pelo
Governo no âmbito das iniciativas de alívio da dívida (HIPC e MDRI), tendo passado
de USD 4.78 biliões em 2004 para USD 3,6 biliões em 2008, melhorando assim, todos
os indicadores de sustentabilidade da dívida pública (MF, 2008).

Todavia, esta não passa apenas de uma melhoria relativa dado que, realisticamente e nas
actuais condições os indicadores da dívida pública de Moçambique, colocam o País
abaixo dos níveis de insustentabilidade da dívida definidos para países de baixo
rendimento (cerca de 36% em proporção do PIB e 218% das receitas públicas em 2008)
(Massarongo & Muianga, 2011).

Indicadores e Limites de Sustentabilidade da Dívida Pública Externa, 2012 – 2015


Tabela :3
Indicador Limites 2012 2013 2014 2015 2015
es % (Efeito
Cambial)
VPD/PIB 40 29.5% 29.6% 37% 31.9% 39.9%
VPD/EXP 150 116.7% 90.9% 98% 112.1% 143.4%
VPD/REC 250 116.4% 113.4% 129.2% 124.8% 158.06%
SD/EXP 20 3.4% 3.4% 3.9% 7.5% 8.2%
SD/REC 30 3.4% 4.3% 5.1% 8.7% 9.1%

De facto, apesar da relativa melhoria dos indicadores sustentabilidade do


endividamento, a DP moçambicana não mostra nem sinais de redução nem de
estabilização. Pelo contrário, no período em análise, a dívida pública registou uma
tendência de agravamento (Castel-Branco, 2010; Massarongo Muianga, 2011).

7. SWOT da Problemática do Endividamento Externo e Interno do País


Uma análise da problemática do endividamento externo do País permite-nos identificar
as seguintes Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças (SWOT):

Forças:
A dívida externa permite a cobertura do volume de despesas fixado pelo Governo,
saldando assim a conta, sendo por isso indispensável. A falta ou limitação destes
significa défice nas contas públicas, o que pode originar pressões internas, devido ao
recurso ao financiamento por via da dívida interna.
Fraquezas:
A ainda fraca capacidade do País em mobilizar receitas internas;
Debilidade do sistema de Administração Financeira do Estado, destaque para a falta de
mecanismos de Gestão da Dívida.

Oportunidades:
Estratégia de Gestão da Dívida Publica Externa e Interna em preparação/discussão;
Necessidade de gestão criteriosa de recursos públicos assumida no PARPA 2006-2009;
Perdão de 100% da Dívida Multilateral assumida até Dezembro de 2004 com o FMI,
IDA e FAD, o que reduz substancialmente o stock de dívida pública externa, abrindo
espaço para uma gestão mais criteriosa dos novos desembolsos
O privilégio pelos donativos em vez de empréstimos que vem sendo assumido pelos
países membros do Clube de Paris.

Ameaças:
Recurso a Fontes de Financiamento Interno por parte do Estado pode gerar um efeito
Crowding Out do Investimento Privado;
Condicionalismos que se impõe quando o País beneficia de um donativo ou empréstimo
que podem não ser consistentes com os objectivos de desenvolvimento do País;
Risco de perpetuação da dependência, mesmo considerando que os empréstimos são
concessiona;
Grande vulnerabilidade do país à choques externos, o que pode exigir a qualquer
momento a necessidade de contratação de empréstimos externos;
Aumento do stock de dívida pública externa devido ao efeito das flutuações cambiais;
Tendências de redução do fluxo de fundos externos;
Existência de dívidas bilaterais fora do âmbito do clube de Paris e consequente redução

8. Conclusão
Após mais de uma década, a dívida pública Moçambicana voltou a ser motivo de
preocupação. Analistas económicos debruçam-se sobre as contas públicas, procurando
aferir ameaças à solvência da situação fiscal. As agências de classificação de risco
colocam o endividamento público Moçambicano elevado como o principal factor que
pode levar Moçambique a perder um grande número de investimento, principalmente os
IDE

Moçambique deve garantir que a produção de gás natural se materialize o mais rápido
possível para garantir a sustentabilidade da dívida dado que este sector terá um impacto
positivo no crescimento do PIB, nas exportações e nas receitas orçamentais.

Há a necessidade de Moçambique continuar a melhorar a gestão da dívida e priorizar os


investimentos públicos, assim como deverá iniciar o processo de consolidação gradual
das finanças públicas, de maneira a que a dívida pública comece a seguir uma trajectória
descendente no médio prazo.

9. Referências Bibliográficas
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