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REPÚBLICA DE ANGOLA

MINISTÉRIO DO ENSINO SUPERIOR


INSTITUTO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS

TEMA:
RESTRIÇÃO ORÇAMENTAL INTERTEMPORAL DO
GOVERNO E AS CONTAS PÚBLICAS

NOME: Diana Filipa Dos Santos Franco Charrua

Nº 209262

CURSO: Contabilidade e Finanças


TURMA: N1

ANO DE FREQUÊNCIA: 3º Ano

CADEIRA: Macroeconomia I

DOCENTE: Edvaldo Silva

Luanda, janeiro de 2023.


REPÚBLICA DE ANGOLA
MINISTÉRIO DO ENSINO SUPERIOR
INSTITUTO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS

TEMA:
RESTRIÇÃO ORÇAMENTAL INTERTEMPORAL DO
GOVERNO E AS CONTAS PÚBLICAS

NOME: Diana Filipa Dos Santos Franco Charrua

Nº 209262

CURSO: Contabilidade e Finanças


TURMA: N1

TURNO: Noturno

ANO DE FREQUÊNCIA: 3º Ano

Luanda, janeiro de 2023.


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RESUMO

A restrição orçamental intertemporal é uma teoria econômica que se concentra nas


implicações a longo prazo do gasto governamental. Ela se baseia na ideia de que o
governo deve estabelecer um orçamento equilibrado ao longo do tempo para evitar
problemas futuros com dívida e inflação. De acordo com esta teoria, o governo deve ser
consciente das suas obrigações financeiras futuras e das implicações de suas decisões de
gastos e receita actuais. Isso significa que, ao invés de gastar mais do que arrecada, o
governo deve economizar dinheiro durante os períodos de crescimento econômico para
poder gastar mais durante períodos de recessão. A restrição orçamental intertemporal
também se concentra na importância de se equilibrar as receitas e despesas ao longo do
tempo, de modo que o governo não se comprometa com dívida excessiva. A dívida
excessiva pode ser prejudicial para a economia, já que pode levar a problemas como
inflação, taxas de juros mais altas e incerteza econômica. Além disso, a restrição
orçamental intertemporal também enfatiza a importância de se considerar as implicações
sociais e políticas das decisões do governo. Por exemplo, investimentos em infraestrutura,
educação e saúde podem ter benefícios a longo prazo para a economia e para a sociedade,
mas também podem ter custos a curto prazo.
Entretanto, vem o princípio da equivalência Ricardiana sugerir que o gasto governamental
não afeta a economia a longo prazo, pois os cidadãos podem antecipar os efeitos dos
impostos futuros e, portanto, ajustar suas decisões de consumo e poupança de acordo.
Isso significa que, independentemente de como o governo financie seus gastos (por meio
de impostos ou emissão de dívida), a economia será afetada da mesma forma. Isso tem
implicações para a teoria da restrição orçamental intertemporal do governo, pois propõe
ao governo gastar livremente sem se preocupar com as implicações a longo prazo da
dívida. O que pode levar a uma política fiscal mais expansionista, onde o governo pode
gastar mais durante períodos de recessão sem se preocupar com as consequências a longo
prazo. No entanto, é importante notar que existem críticas ao princípio da equivalência
Ricardiana, e alguns economistas argumentam que ele não é completamente preciso na
representação da realidade econômica e que as pessoas podem não ser capazes de
antecipar completamente as implicações dos impostos futuros e, portanto, o princípio da
equivalência Ricardiana pode subestimar as implicações a longo prazo da dívida.

Palavras chaves: Restrição orçamental, intertemporal, governo, saldo orçamental, contas


públicas, política fiscal, dívida, despesa e gasto governamental.

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ÍNDICE
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 5
1. RESTRIÇÃO ORÇAMENTAL INTERTEMPORAL DO GOVERNO E AS CONTAS PÚBLICAS.. 6
1.1. Factos Sobre as Contas Públicas................................................................................ 6
1.1.1. Principais impostos arrecadados pelas contas públicas ....................................... 6
1.1.2. Saldo Orçamental .................................................................................................. 8
1.1.3. Políticas económicas e sociais ............................................................................. 11
1.2. Estabilização Macroeconómica ............................................................................... 12
1.2.1. Estabilizadores automáticos:............................................................................... 13
1.2.2. Tendência para a acumulação de défices orçamentais ...................................... 13
1.2.3. O Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) ..................................................... 14
1.2.4. Financiamento dos défices e a dinâmica da dívida ............................................. 15
1.2.5. Financiamento da dívida e regras de política orçamental .................................. 18
1.3. Restrição Orçamental Intertemporal (ROI) do Governo ......................................... 20
1.3.1. O Tempo e as Decisões Económicas ................................................................... 21
1.3.2. Famílias................................................................................................................ 23
1.3.2.1. Consumo e troca intertemporal ...................................................................... 23
1.3.3. Empresas ............................................................................................................. 25
1.3.3.1. As Restrições Orçamentais intertemporais setor Privado consolidado .......... 28
1.3.4. Estado .................................................................................................................. 29
1.3.4.1. As Restrições Orçamentais intertemporais setor Privado e Público
consolidados........................................................................................................................ 31
1.4. Princípio da Equivalência Ricardina (PER) ............................................................... 35
1.4.1. Implicações do Princípio da Equivalência Ricardiana:......................................... 38
1.4.2. Críticas ao Princípio da Equivalência Ricardiana ................................................. 38
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 44

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INTRODUÇÃO

O Orçamento do Estado constitui um instrumento de intervenção do Estado na esfera


económica e social, visto que através das receitas cobradas e das despesas efectuadas, o
Estado influencia o comportamento dos agentes económicos e de toda a actividade
económica em geral.
Os saldos orçamentais estão entre os indicadores económicos mais utilizados para avaliar
o impacte do orçamento na economia. Na base deste facto está a circunstância de as
receitas e as despesas orçamentais se inscreverem na densa teia de fluxos económico-
financeiros que se estabelecem no seio da atividade produtiva desenvolvida num país e,
desse modo, contribuírem para a definição das grandezas macroeconómicas.
A restrição orçamental intertemporal do governo é um conceito importante na política
fiscal, e é frequentemente usado como um guia para as decisões do governo sobre gastos
e receita. É uma teoria que se concentra em equilibrar as necessidades a curto prazo da
economia com as necessidades a longo prazo de estabilidade financeira e crescimento
econômico sustentável.
O presente trabalho tem como objectivo explanar e apresentar de forma clara e sistemática
a restrição orçamental intertemporal do governo, demonstrando qualitativa e
quantitativamente os principais elementos que influenciam este grande tema.
O referido trabalho está estruturado e dividido em 4 pontos essenciais para a abordagem
do tema em apreço. No primeiro ponto, começou-se por falar dos factos sobre as contas
públicas, nomeadamente os diferentes níveis das contas públicas, as funções económicas
do estado e os principais impostos arrecadados pelas mesmas; nesta mesma senda,
abordou-se sobre o saldo orçamental, bem como, as políticas económicas e sociais. Num
segundo plano, falou-se sobre a estabilização macroeconómica, onde foi possível fazer
conhecer os estabilizadores automáticos, saber qual a tendência para a acumulação de
défices orçamentais e o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). De seguida, na
terceira parte, tratou-se finalmente, sobre a Restrição orçamental intertemporal do
governo, sendo este o ponto culminar da pesquisa em causa, fazendo-se antes uma
contextualização com os demais agentes, particularmente, as famílias e as empresas, pois
entende-se serem importantes e complementares para o mesmo. E, como desfecho, na
quarta e última parte, apresentou-se o princípio da equivalência ricardiana, teoria esta que
mostra uma perspectiva diferente sobre o gasto governamental, que veremos adiante.

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1. RESTRIÇÃO ORÇAMENTAL INTERTEMPORAL DO
GOVERNO E AS CONTAS PÚBLICAS
1.1. Factos Sobre as Contas Públicas

As contas públicas correspondem à contabilidade dos gastos e das receitas de um


governo. Nessas contas inclui-se a arrecadação de impostos e outras fontes de
captação. Esse dinheiro destinado aos cofres públicos serve para construção e
manutenção de qualquer patrimônio público, além de projectos que possam beneficiar e
garantir segurança à população em geral.
Se o governo gastar mais do que for arrecadado tem-se uma situação deficitária. Do
contrário, se for arrecadado mais do que for gasto, a situação é superavitária.
As contas públicas dividem-se em três diferentes níveis:
• Nominal: é o resultado das contas em que incluem-se os efeitos da inflação e do
pagamento de juros sobre o fluxo de receitas e despesas do governo.
• Operacional: é o resultado das contas públicas adicionado aos pagamentos de
juros, mas sem os efeitos da inflação.
• Primário: é resultado real das contas públicas, sem a inclusão de despesas com
juros ou inflação. Ou seja, este resultado mensura se o governo do país gastou na
mesma proporção de suas receitas ou não.

As funções económicas do Estado são:

• Fornecer bens e serviços públicos;


• Realizar a distribuição secundária de rendimentos;
• Estabilização macroeconómica e regulação dos mercados.
O sector público precisa de recolher receitas para financiar as despesas inerentes ao
cumprimento destas funções, estando sujeito à sua restrição orçamental.

1.1.1. Principais impostos arrecadados pelas contas públicas

Em Angola, assim como em outros países, pagar impostos é uma acção obrigatória.
A Administração Geral Tributária (AGT) é, no território da República de Angola, o
organismo tributário único comprometido pela execução das políticas fiscais e
aduaneiras, ou seja, a instituição que arrecada os impostos no país.
Imposto (do latim “imposìtu”, particípio passado de “imponère”: “impor”, “pôr como
obrigação”) é a imposição de um encargo financeiro ou outro tributo sobre o contribuinte
(pessoa física ou jurídica) por um estado ou o equivalente funcional de um estado, a partir
da ocorrência de um facto gerador, sendo calculado mediante a aplicação de uma alíquota
a uma base de cálculo, de forma que o não pagamento do mesmo acarreta,

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irremediavelmente, sanções civis e penais impostas à entidade ou indivíduo não pagador,
sob forma de lei.
O imposto é uma das espécies do género tributo, que são frequentemente divididos em
directos e indirectos. Os impostos directos são destinados a taxar directamente o
contribuinte, sendo que o principal exemplo deste é o imposto de renda e riqueza.
Os impostos indirectos, entretanto, são repassados ao contribuinte através do “markup”
(marco) adicionado ao custo do produto e o reflexo deste é sentido no preço final dos
produtos.
A AGT entrega os impostos arrecadados totalmente à designada Conta Única do Tesouro
(CUT) sob tutela do Ministério das Finanças que, como órgão auxiliar do Chefe do Poder
Executivo, processa e faz as planeadas alocações pelo Governo, para revertê-los para o
bem comum, para investimentos e para o custeio de bens e serviços públicos, como saúde,
segurança e educação. Porém, não há vinculação entre receitas de impostos e determinada
finalidade, ao contrário do que ocorre com as taxas e a contribuição de melhoria, cujas
receitas são vinculadas à prestação de determinado serviço ou realização de determinada
obra.
O seu uso pelo Estado é dependente das prioridades definidas na alocação de despesas no
âmbito do Orçamento Geral do Estado (OGE). Os impostos mais comuns no sistema
fiscal angolano são:

• Imposto sobre o valor acrescentado (IVA) – Imposto aplicado aos produtos,


serviços e importações. Assume uma taxa de 14%. Estão isentos do IVA produtos
ou bens de primeira necessidade, propriamente produtos de cesta básica,
combustível, medicamentos e etc;
• Imposto Sobre Rendimentos do Trabalho (IRT) – Imposto que incide sobre o
rendimento dos trabalhadores com salários acima de 70.001 Kz. Conta com uma
nova tabela de rendimento e 13 escalões, com taxas que variam de 10 a 25%;
• Imposto de SISA – O imposto de SISA incide sobre as transmissões onerosas de
bens imobiliários (tanto prédios urbanos quanto rurais), este imposto pode
também incidir sobre arrendamentos a prazos superiores a 20 anos, promessas de
compra e venda após verificada a tradição… Assume uma taxa de 2%. É um
imposto cujo encargo recai sobre o adquirente;
• Imposto de Selo – O imposto de selo incide sobre todos os actos, contratos,
documentos, títulos, livros, papéis, operações e outros factos previstos na tabela
anexa ao código. Este imposto é (também) aplicado ao recebimento dos créditos
que resultam do exercício da actividade comercial ou industrial. As taxas deste
imposto são as que constam na tabela anexa ao código do imposto de selo;
• Imposto predial urbano (IPU) – Incide sobre o rendimento do prédio urbano
caso o mesmo esteja arrendado e sobre o valor patrimonial do prédio urbano cajo
o mesmo não esteja arrendado. Para prédios arrendados a taxa deste imposto é de

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25% sobre os 60% das rendas efectivamente pagas, ou seja, efectivamente 15%
sobre o valor da renda. Enquanto que, para prédios não arrendados, a taxa é de
0,5% sobre o excesso de 5.000.000 Kz;
• Imposto Sobre Aplicação de Capitais (IAC) – O imposto sobre a aplicação de
capitais incide sobre rendimentos que resultam da aplicação de capitais. Assume
uma taxa de 15% para os rendimentos previstos na secção A e 5% e 10% ou 15%
para os rendimentos previstos na secção B;
• Imposto sobre Sucessões e Doações – Incide sobre a transmissão gratuita dos
bens mobiliários e imobiliários. O encargo deste imposto recai sobre o adquirente
dos bens;
• Imposto industrial (II) – O imposto industrial incide sobre os lucros que são
obtidos no exercício de qualquer atividade comercial e industrial, tais como:
explorações agrícolas, avícolas, pecuária etc. Assume uma taxa geral de 30%.
Para actividades de explorações agrícolas, avícolas, aquícolas, pecuárias,
piscatórias e silvícolas a taxa é de 15%. A taxa de Liquidação provisória de
imposto sobre as vendas do 1º semestre é de 2%. A taxa de tributação liberatória
que incide sobre serviços acidentais é de 6.5%.
O pagamento dos impostos corresponde a um dever de cidadania e é um dever de todos
os cidadãos enquanto contribuintes. A importância do pagamento de impostos justifica-
se pelo facto de que é através da tributação que se pode obter recursos financeiros para a
satisfação das necessidades colectivas da população.

1.1.2. Saldo Orçamental

O saldo orçamental corresponde à diferença entre receitas e despesas. A designação


estatística é “capacidade ou necessidade líquida de financiamento”.
Existe diferentes conceitos de Saldo Orçamental:
➢ Saldo Orçamental Corrente – corresponde à diferença entre as Receitas e as
Despesas Correntes;

➢ Saldo Orçamental Global - não inclui os activos e passivos financeiros, ou seja, é


a diferença entre o total de receitas (menos a emissão da dívida pública) e o total
das despesas (menos as amortizações da dívida);

➢ Saldo Orçamental Primário – obtém-se quando se subtraem do saldo global as


despesas com o pagamento dos juros da dívida pública. Ou por outras palavras o
saldo orçamental primário é a diferença entre receitas e despesas, excluindo o
serviço da dívida pública.

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▪ T = impostos (líquidos de subsídios pagos às empresas, impostos de capital e
transferências recebidas do exterior) – TR (transferências para o sector privado),
por exemplo subsídio de desemprego, pensões de reforma, benefícios de
assistência social como o rendimento mínimo ou o subsídio de família, subsídios
pagos às empresas).

▪ G = despesas em bens e serviços públicos (e.g., gastos em equipamentos


hospitalares, vencimentos dos funcionários públicos, Investimento).

Se G > T, o sector público recorre a endividamento.


➢ sector público tem ainda de suportar os encargos do financiamento (juros de
dívida pública).

Saldo Orçamental, SO (definido em termos reais):

rG = taxa de juro enfrentada pelo sector público;


D = dívida pública;
rG.Dt-1 = juros de dívida pública.

A variação da dívida pública é igual ao saldo orçamental, mas de sinal contrário. Se as


receitas forem inferiores às despesas, o Estado contrai mais dívida.

O Saldo Orçamental reflete assim, a Capacidade ou Necessidade de Financiamento do


sector público:

SO = Poupança do Sector Público (Sg) + Receitas de Capital – Despesas de Capital (inclui


despesas de investimento público) = – Despesas de Capital (inclui despesas de
investimento público) = CAP/NEC Financiamento do Sector Público

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Sg = Receitas correntes – Despesas correntes = SO corrente

O Estado pode intervir nas esferas económicas e social quando:


➢ Nas Receitas:

▪ o Aumenta ou diminui os impostos directos – intervindo assim na


repartição dos rendimentos dos factores produtivos e/ou capacidades de
consumo, de poupança e investimento dos agentes económicos;

▪ o Aumenta ou diminui os impostos indirectos – quando recaem sobre os


bens e serviços transaccionados podendo estimular ou retrair o seu
consumo e consequentemente a sua produção e oferta

➢ Nas Despesas:

▪ o Aumenta o vencimento dos funcionários públicos ou contrata mais


funcionários – provocando assim o aumento do consumo e da poupança;

▪ o Aumenta a despesa do estado em bens de consumo – provocando um


crescimento do volume de produção de bens das empresas fornecedoras;

▪ o Aumenta as transferências para as famílias – através de subsídios,


reformas, pensões, etc., o que provoca um crescimento do rendimento e
consequentemente do consumo e da poupança.

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O saldo orçamental constitui ainda um indicador muito utilizado na análise da situação
económica de um país.
Um saldo orçamental positivo significa que as receitas públicas são superiores às despesas
públicas. Neste caso, o Estado contribui para a poupança nacional e para a redução da
despesa global da economia.
No caso de o saldo orçamental ser negativo, quando as despesas públicas são superiores
às receitas públicas, o Estado está a contribuir para o aumento da despesa global da
economia.

1.1.3. Políticas económicas e sociais

Um dos instrumentos principais de intervenção na esfera económica e social utilizado


pelo Estado são as políticas económicas e sociais. Políticas económicas e sociais são o
conjunto de actuações desenvolvidas pelo Estado nas esferas económica e social com
vista a atingir objectivos previamente fixados.
O Estado ao definir políticas económico-sociais, pretende:
▪ Garantir uma melhor afectação dos recursos disponíveis, de forma a melhorar o
nível e a qualidade de vida de todos os cidadãos;

▪ Regulamentar a actividade económica, de forma a evitar ou a minimizar os efeitos


da ocorrência de desequilíbrios, como o caso do desemprego ou da inflação;

▪ Intervir na repartição do rendimento – de forma a reduzir as desigualdades


económicas e sociais e garantir a justiça e a equidade social.
Política Económica: É uma actividade prática que se destina a obter resultados que
correspondem a uma situação considerada desejável.
O Estado na definição de políticas económicas e sociais tem que ter em conta o seu
horizonte temporal. Assim, as políticas podem ser classificadas em:

• Políticas Conjunturais – trata-se de políticas de curto prazo, destinadas a corrigir


desequilíbrios que se vão gerando na economia, como o desemprego ou a inflação;

• Políticas Estruturais – quando se esperam resultados num período de médio e


longo prazo. Trata-se de políticas em que se pretende alterar as condições de
funcionamento da economia. É exemplo deste tipo de política a destinada a
promover o crescimento económico. São vários os exemplos de políticas
estruturais que o Estado recorre. As mais conhecidas são: a política de transportes,
a política do ambiente, a política agrícola e a política industrial.

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Outra classificação que é importante reter é a que se liga a exemplos de políticas
económicas e sociais. São exemplos de políticas consideradas essencialmente
económicas:

• Política fiscal;
• Política monetária;
• Política de preços;
• Política orçamental.
São exemplos de políticas consideradas de vertente essencialmente social:

• Política de educação;
• Política de saúde;
• Política de redistribuição do rendimento.

1.2. Estabilização Macroeconómica

Observa-se que a maior parte dos países apresenta um saldo orçamental que é,
normalmente, deficitário, o que pode ser consequência do objectivo - Estabilização
Macroeconómica.
Agentes económicos têm preferência por níveis de consumo estáveis (alisamento do
consumo). Isto também acontece relativamente aos bens e serviços públicos -
Manutenção ou agravamento das despesas correntes numa recessão.
A manutenção ou agravamento das receitas via impostos, penalizaria proporcionalmente
mais o rendimento em fases de recessão. Os impostos são normalmente estabelecidos em
proporção ao rendimento - Redução das receitas correntes numa recessão.
Papel do Governo na sua função de estabilização macroeconómica:

• Estabilizar o nível do produto em torno do produto de equilíbrio usando políticas


discricionárias;

• Providenciar estabilizadores automáticos que isolem a economia, pelo menos


parcialmente, de choques na procura agregada;

• Planear o financiamento das despesas de forma a manter um nível sustentável de


dívida pública.
Política orçamental é a alteração discricionária por parte das autoridades (Governo) das
variáveis orçamentais.
Estabilização macroeconómica visa a diminuição da amplitude e da persistência dos
ciclos económicos. O objectivo da política orçamental deve ser manter o nível do produto
próximo do seu nível potencial (output gap próximo de zero),

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Quando a economia está em recessão deverá optar por políticas contraccionistas; política
orçamental contra-cíclica - leaning against the wind.
Mas, mesmo sem uma actuação discricionária de política orçamental, o orçamento de
Estado reage contra-ciclicamente ao estado da Economia o efeito dos estabilizadores
automáticos.

1.2.1. Estabilizadores automáticos:

Para além de políticas activas de estabilização também existem os estabilizadores


automáticos:
➢ Algumas rubricas do SO reagem, automaticamente (sem actuação activa das
autoridades), à situação conjuntural de forma a reduzir a amplitude das flutuações
cíclicas.
➢ Exemplos típicos são os impostos (nomeadamente impostos directos sobre o
rendimento) e o subsídio de desemprego.

Défices tendem a aumentar nas fases de recessão e a diminuir nas fases de expansão.

Parcela endógena do Orçamento de Estado

Para percebermos melhor a importância dos estabilizadores automáticos vamos usar o


conceito de saldo orçamental primário ajustado pelo ciclo económico (e excluído de
medidas temporárias); saldo primário que se verificaria se a economia estivesse ao nível
do produto de equilíbrio/potencial (Y).
Por definição, entre dois períodos consecutivos:
▪ Uma variação nula deste saldo significa a ausência de uma política orçamental
discricionária;
▪ uma diminuição do saldo indica uma política orçamental discricionária
expansionista;
▪ um aumento do saldo indica uma política orçamental discricionária restritiva.

1.2.2. Tendência para a acumulação de défices orçamentais

Efeito miopia dos eleitores: os benefícios de um défice “hoje” são claros e visíveis para
os eleitores, enquanto o custo associado aos impostos a cobrar “amanhã” é distante, não
totalmente conhecido e excessivamente penalizado pelo factor desconto.

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A geração que vai pagar a dívida (mais jovem ou ainda inexistente) muitas vezes não é a
geração relevante para maximizar os votos, i.e, não tem representatividade política.
Quanto menores as probabilidades de re-eleição, maior a tentação de acelerar o
crescimento dos gastos públicos em períodos de pré-campanha e durante a campanha
eleitoral - não é o Governo actual que vai “herdar” os problemas por ele gerado.

acumulação de dívida pública


Necessidade de regras que equilibrem os custos “futuros” e benefícios “presentes” de
um défice orçamental ⇒ P.E.C. ⇒ Pacto Orçamental

1.2.3. O Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC)

Objectivo :
▪ Salvaguardar a solidez das finanças públicas:
• Estabilidade de preços;
• Forte crescimento sustentável;
• Criação de emprego.
Objectivo de médio prazo: posições orçamentais (saldo estrutural ajustado de medidas
temporárias) próximas do equilíbrio ou excedentárias.
Componentes:
▪ Procedimentos relativos aos défices excessivos (procedimentos e prazos,
avaliações e sanções, grosso modo) – componente correctiva (corrective arm).

▪ Programas de Estabilidade e Programas de Convergência – componente de


vigilância multilateral (preventive arm).

Condições para que o carácter excessivo do défice seja considerado excepcional e


temporário, quando resulte de:

• Circunstância excepcional (devido a factores exógenos) não controlável pelo


Estado-membro em causa e que tenha um impacto significativo na situação das
finanças públicas; ou

• Recessão económica grave (= redução anual do PIB real de, pelo menos, 2%;
passível de avaliação entre 0.75% e 2%);

• É considerado temporário se as previsões orçamentais da Comissão indicarem


um défice abaixo do valor de referência, uma vez cessada a circunstância
excepcional ou a recessão abaixo do valor de referência, uma vez cessada a
circunstância excepcional ou a recessão grave.

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1.2.4. Financiamento dos défices e a dinâmica da dívida

O financiamento da despesa pública:

A despesa pública pode ser financiada por:

• Receita pública, nomeadamente impostos;

• Emissão de Dívida Pública, adquirida pelo sector privado - emissão de bilhetes do


tesouro e obrigações do tesouro que são adquiridos pelo sector privado doméstico
ou pelo exterior

• Emissão de moeda, mais precisamente, emissão de base monetária;

• Emissão de moeda, mais precisamente, emissão de base monetária por parte do


Banco Central, por contrapartida de crédito directo ao sector público ou aquisição
de títulos de dívida pública.

A dívida pública resulta de uma acumulação sucessiva de défices orçamentais e do


respectivo financiamento.
Decomposição da dívida pública:

Mesmo com equilíbrio do SO primário (e sem considerar eventuais ajustamentos), a


dívida tende a crescer, à taxa rt , devido aos encargos financeiros associados à dívida
acumulada - dívida pública é um processo endógeno que se pode tornar “explosivo”.
Estabilização da dívida (assumindo Aj = 0):

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Para que ∆B = 0 (estabilização absoluta da dívida) é necessário:
(T – G) = r B
Para a estabilização do valor da dívida pública é necessário existir um superavit primário
no montante do serviço da dívida. Quanto mais tarde se estabelecer como meta a
estabilização do valor da dívida, maior o valor a estabilizar e, consequentemente, maior
o valor que o SO primário deve observar.
Mas, na prática, a variável de dívida relevante é o rácio da dívida relativamente ao PIB -
a capacidade que o país tem para pagar a sua dívida está directamente relacionada com o
que produz.
Quais as condições necessárias para uma estabilização do rácio da O financiamento da
despesa pública e a dinâmica da dívida no PIB? Ou seja, para a estabilização relativa da
dívida?

Pode-se concluir que:


➢ A evolução do rácio da dívida é determinada pela evolução do SO primário e
pela relação entre a taxa de juro da dívida e a taxa de crescimento do PIB;

➢ Se g > r: SO primário nulo é suficiente para diminuir o rácio da dívida; o rácio


da dívida pode inclusivamente diminuir mesmo;

➢ na presença de défices orçamentais primários;

➢ Se r> g: o processo pode ser explosivo (efeito “bola de neve”); são necessários
saldos primários positivos para reverter a situação.

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Desde que g > 0, o SO primário necessário para estabilizar o rácio da dívida é menor do
que o SO primário necessário para estabilizar o valor absoluto da dívida.
Com g < r, os custos para a economia podem ser acentuados:
i. Evitar um trajecto explosivo implica significativos superavits primários, ou seja,
profundos cortes na despesa pública ou aumentos politicamente impopulares nos
impostos;

ii. Perante expectativas de um possível incumprimento da dívida, o prémio de risco


O financiamento da despesa pública e a dinâmica da dívida aumenta, gerando um
aumento da taxa de juro, o que deteriora ainda mais a situação da economia;

iii. O crédito ao governo pode ser “cortado” pressionando-o a recorrer à monetização


da dívida ou a entrar em incumprimento.

1- Evolução/dinâmica da dívida pública

▪ Para a estabilização absoluta da dívida (ΔD=0)

2- Evolução/dinâmica da dívida pública

➢ Estabilização relativa da dívida:

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➢ Se y>rg : o equilíbrio orçamental primário é suficiente para diminuir o rácio da
dívida;

➢ Se rg >y o processo pode ser explosivo. Porém o peso do SO primário no PIB


necessário para estabilizar o rácio da dívida é menor do que aquele necessário para
estabilizar D.

Evolução/dinâmica da dívida pública (revisão Macro I):

Ajt: o ajustamento “stock-fluxo” refere-se a operações que são contabilizados na dívida,


sem afectar o SO. Inclui a acumulação de activos financeiros, alterações no valor da
dívida denominada em moeda estrangeira e outros ajustamentos estatísticos.

1.2.5. Financiamento da dívida e regras de política orçamental

Na generalidade dos países desenvolvidos assistimos a um agravamento do rácio da


dívida pública desde os anos 1970 relacionado, entre outras causas, com o
desenvolvimento do welfare state e com a inversão na relação entre g e r. Para além disso,
a tendência para a acumulação de dívida pública está relacionada com:

• A existência de eleições periódicas;

• Ciclos político-económicos;

• Efeito miopia dos eleitores: os benefícios de um défice “hoje” são claros e visíveis
para os eleitores, enquanto o custo associado aos impostos a cobrar “amanhã” é
distante, não totalmente conhecido e excessivamente penalizado pelo factor
desconto.

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A partir dos anos 1990, a estabilização do rácio da dívida pública surge como preocupação
central dos governos - redução/eliminação do défice orçamental primário - consolidação
orçamental: política orçamental que promove a sustentabilidade do rácio da dívida.
Como se financia a dívida pública?
a. Financiamento “normal” - emissão de títulos da dívida que são adquiridos
pelo sector privado doméstico ou pelo exterior, colocação da dívida
pública nos mercados financeiros;

b. Financiamento de “último recurso” - surge quando, na sequência de um


aumento do risco associado ao país emissor, há dificuldades na colocação
da dívida nos mercados financeiros, quer por escassez de procura, quer
pela exigência de uma remuneração (taxa de juro) demasiado elevada.

Financiamento de “último recurso”:


i. Financiamento monetário - emissão de moeda pelo Banco Central, por
contrapartida de crédito directo ao sector público ou de aquisição de títulos de
dívida pública - monetização da dívida pública ou senhoriagem (entende-se por
senhoriagem a receita do Estado gerada pela emissão de moeda);

ii. Ajuda financeira externa por parte de entidades internacionais (e.g., FMI, UE),
reestruturação da dívida e/ou eventual não pagamento de parte ou da totalidade da
dívida - default / incumprimento.

- Financiamento monetário/Senhoriagem
▪ Transfere o processo de explosividade da dívida para a inflação - os episódios de
hiperinflação presentes e passados estão quase todos associados à monetização da
dívida pública (e.g., episódios nos anos 1980 e 1990 na América Latina e
episódios recentes na Bolívia, na Sérvia e no Zimbabué);

▪ Equivale à cobrança de um imposto sobre os detentores de activos não indexados


à inflação (títulos do tesouro, por exemplo) - a inflação que surge na sequência da
senhoriagem diminui o valor real dos títulos de dívida emitidos pelo Governo,
quando não estão indexados; transferência de riqueza dos credores para os
devedores, neste caso o Estado - imposto inflacionário.

Imposto inflacionário traduz-se numa redistribuição de riqueza do sector privado para o


Estado (“imposto”) associada à inflação (redução do valor real dos títulos da dívida
pública); se a taxa de juro nominal associada aos títulos da dívida não incorporar uma
componente indexante, um aumento da inflação gera uma diminuição da taxa de juro real

19
(princípio de Fisher), promovendo uma transferência de riqueza dos credores (sector
privado) para os devedores (Estado).
Mas, na sequência da senhoriagem, só podemos falar em imposto inflacionário se a dívida
for emitida em moeda nacional e se a inflação não for antecipada e a taxa de juro não for
indexada a essa inflação.
Por outro lado, o aumento da inflação gerado pela senhoriagem gera exigências de taxas
de juro nominais cada vez mais elevadas em futuras colocações de dívida pública.
A própria colocação dos títulos da dívida torna-se mais difícil, principalmente para prazos
mais longos devido à “desconfiança” dos Financiamento da dívida e regras de política
orçamental principalmente para prazos mais longos devido à “desconfiança” dos
investidores; com a redução da maturidade da dívida, o Governo fica obrigado a recorrer
sistematicamente ao mercado emitindo novos títulos para pagar as dívidas de curto prazo
e, muito provavelmente, pagando juros cada vez mais elevados.
Este tipo de solução é usualmente utilizado por países com mercados financeiros pouco
eficientes e acesso condicionado aos mercados financeiros internacionais; uma espécie
de solução de último recurso.
- Ajuda externa, reestruturação da dívida e/ou incumprimento/default
Ajuda financeira externa permite o financiamento da dívida a taxas de juro mais baixas
do que as taxas de mercado (e.g., casos recentes da Islândia, Irlanda, Grécia e Portugal);
geralmente acompanhada de programas de estabilização macroeconómica e de reformas
estruturais Financiamento da dívida e regras de política orçamental 41 estabilização
macroeconómica e de reformas estruturais.
Reestruturação da dívida pode equivaler à cobrança de um imposto sobre os detentores
de títulos da dívida pública, que no limite pode ser de 100%.
Historicamente aparece associado a períodos pós-guerras ou pós-revoluções ou na
sequência de graves crises económicas e financeiras (e.g., Itália de Mussolini; países da
América Latina na década de 1980).
Problemas de credibilidade, podendo dificultar o acesso aos mercados financeiros para
colocação futura da dívida.

1.3. Restrição Orçamental Intertemporal (ROI) do Governo

A restrição orçamental intertemporal é uma teoria econômica que afirma que o governo
deve estabelecer um orçamento equilibrado ao longo do tempo para evitar problemas
futuros com dívida e inflação. Isso significa que, ao invés de gastar mais do que arrecada,
o governo deve economizar dinheiro durante os períodos de crescimento econômico para
poder gastar mais durante períodos de recessão. Essa teoria é baseada na ideia de que a
dívida do governo pode ser prejudicial para a economia a longo prazo.

20
De acordo com esta teoria, o governo deve ser consciente das suas obrigações financeiras
futuras e das implicações de suas decisões de gastos e receita atuais. Isso significa que,
ao invés de gastar mais do que arrecada, o governo deve economizar dinheiro durante os
períodos de crescimento econômico para poder gastar mais durante períodos de recessão.
A restrição orçamental intertemporal também se concentra na importância de se equilibrar
as receitas e despesas ao longo do tempo, de modo que o governo não se comprometa
com dívida excessiva. A dívida excessiva pode ser prejudicial para a economia, já que
pode levar a problemas como inflação, taxas de juros mais altas e incerteza econômica.
Além disso, a restrição orçamental intertemporal também enfatiza a importância de se
considerar as implicações sociais e políticas das decisões do governo. Por exemplo,
investimentos em infraestrutura, educação e saúde podem ter benefícios a longo prazo
para a economia e para a sociedade, mas também podem ter custos a curto prazo.

1.3.1. O Tempo e as Decisões Económicas

Decisões económicas: maximização do bem-estar tendo em conta a escassez de recursos


- optimização limitada pelas restrições orçamentais.
Muitas decisões económicas implicam escolhas intertemporais: paralelo entre escolhas
intra-temporais (afetar recursos a 2 alternativas presentes, e.g. consumir hoje o bem A ou
B) e escolhas intertemporais (afetar recursos a 2 alternativas, uma presente, outra futura,
e.g. consumir todos os recursos hoje ou, poupando, guardar parte para consumir amanhã).
Restrições orçamentais intertemporais: agentes podem transferir recursos para o futuro
(poupança) ou antecipar a utilização de recursos a criar no futuro (endividamento). A
utilização racional dos recursos implica que, durante o horizonte de vida finito, o
endividamento terá sempre de vir a ser reembolsado e a poupança irá sempre ser
despendida.
ROI: interligam recursos disponíveis no presente e futuro.
Restrições intertemporais dependem de:
▪ Dotações de recursos no presente e no futuro.
No caso do futuro, expectativas: ainda que se conheça os recursos disponíveis
hoje, os disponíveis amanhã são desconhecidos e incertos.

▪ Taxa de juro real (r).


Define o preço intertemporal, 1/(1+r), que avalia uma unidade de Y (C ou S) no
futuro em termos de unidades de Y (C, S) presentes.
Valor implica preço: Recursos (produtos, rendimentos) disponíveis em data futura têm
um valor diferente no presente; o tempo tem valor, daí a noção de preço intertemporal. A
conversão de recursos intertemporalmente implica descontar valores futuros pelo preço
da espera pela sua utilização (no simétrico, pelo valor da antecipação dos recursos).

21
Pressupostos principais da análise:
1. Tempo tem apenas 2 períodos – 1: hoje (presente); 2: amanhã (futuro).

2. Agente económico representativo é analisado como se vivesse isolado numa ilha


e viesse a ser resgatado depois do período 2 – parábola de Robinson Crusoe.
Agente conhece as dotações de recursos em 1 e 2 – exógenas – e conhece o preço
intertemporal (taxa de desconto do futuro), pelo que consegue determinar a sua
ROI.

3. Expectativas sobre o futuro são racionais e, mais especificamente, seguem uma


hipótese extrema da Hipótese das Expectativas Racionais (HER) – Perfect
Foresight.

Sendo Xt+1 – valor observável da variável aleatória X no período t+1

tXt+1 – expectativa, efectuada em t, do valor de X no período t+1


εt+1 – erro de previsão aleatório
Expectativas racionais: agentes formulam expectativas conhecendo o verdadeiro
modelo da Economia e usando eficientemente toda a informação relevante, pelo que não
incorrem em erros sistemáticos (erros: valor esperado nulo, variância constante, auto-
covariância nula)

Por simplificação, vamos mais longe e adoptamos uma forma extrema da HER: assume-
se erro de previsão sempre igual a 0 – Perfect Foresight.
Há hipóteses alternativas sobre a formação de expectativas:
▪ Expectativas adaptativas: expectativa é igual à formulada para o período anterior
mais uma proporção do erro de previsão então observado

α é um coeficiente de ajustamento que mede a velocidade de adaptação das


expectativas em função dos erros passados (0 ≤ α ≤ 1). A velocidade de adaptação é
máxima quando α=1.

▪ Fundamentos para adopção da HER: Coerência interna com teoria económica, que
assume comportamentos racionais; Irrealismo de hipóteses alternativas, que
admitem erros repetidos, sistemáticos; caso exista um número suficiente de
agentes racionais nos mercados é de esperar que se comportem como o modelo.

22
1.3.2. Famílias

A troca intertemporal pode ser realizada a uma taxa de juro real (r)

• Para os credores, que poupam e adiam consumo para o futuro, reflecte a


remuneração obtida pelo adiamento do consumo;
• Para os devedores, que pedem empréstimos para consumir hoje por conta de
rendimentos previstos, representa o custo suportado pela antecipação de consumo;

• A taxa de juro real define o preço intertemporal, i.e., o preço de uma unidade de
consumo no período futuro avaliado em termos de unidades de consumo presente,
1/(1+r).

O rendimento no período 1 (presente) pode ser repartido entre Consumo (C) e Poupança
(S), logo

Se S1 > 0 (S1 < 0) o agente pode emprestar essa poupança a outrem (ser financiado por
outrem), pelo que o seu consumo futuro poderá ser maior (menor) do que o seu
rendimento futuro, dado que a poupança será remunerada à taxa de juro real (r).
No período 2 (futuro), o consumo futuro será:

A restrição orçamental, numa perspetiva intertemporal, significa que terá de haver uma
coincidência entre os recursos que são obtidos através de impostos e a despesa pública
concretizada. Esta restrição implica que o valor de dívida inicial deve ser igual ao valor
actual esperado dos excedentes futuros.

1.3.2.1. Consumo e troca intertemporal

Dotações de recursos presente e futuros, Y1 e Y2


Ponto de autarcia ou dotação inicial (A): o agente consome, em cada período,
precisamente o rendimento que nele recebe, i.e. [C1 = Y1, C2 = Y2] (não há troca
intertemporal de recursos).

23
ROI: linha reta [BD] que identifica, dadas as dotações de recursos presentes (Y1) e futuros
(Y2) e o preço intertemporal [ 1/( 1+r)], todas as possibilidades de consumo potenciadas
pela troca intertemporal.
Uma dada S1>0 (S1 < 0) proporciona um maior C2 (menor C2).
Pontos extremos da ROI:
Em D C1=0 C2=Y1(1+ r) +Y2
Em B C2=0 C1= Y1+Y2/ (1+ r)

• Declive = - [0D] / [0B]


= - [Y (1 + r) +Y2] / [Y1 +Y2 / (1 + r)]
= - (1 + r)
Se ∆+ r => ROI mais inclinada: uma dada S1>0 (S1< 0) proporciona um maior C2 (menor
C2).
Rotação da ROI em torno de A (no ponto de autarcia r é irrelevante).
Considere-se as possibilidades de consumo no período 2. Divida-se por (1+r) e rearranja-
se. Obtem-se a restrição orçamental intertemporal das famílias:

O valor presente do consumo (as possibilidades intertemporais de consumo avaliadas em


termos de unidades de consumo presente) iguala o valor presente do rendimento
intertemporal, i.e., a riqueza atual:

24
Se existisse uma dotação inicial de riqueza (e.g. uma herança disponível no início do
período 1), a riqueza do agente aumentaria nesse montante.

➢ a ROI deslocar-se-ia paralelamente para a direita [o simétrico ocorreria para o


caso duma dívida inicial].

1.3.3. Empresas

Até agora analisou-se a ROI do Consumo admitindo-se troca intertemporal mas


assumindo dotações de recursos consumíveis exógenas.
Se parte dos recursos consumíveis forem poupados e afectos à criação de capital
produtivo, as dotações futuras podem aumentar.
Investimento Decisão intertemporal: depende do custo de oportunidade do capital
(custo do financiamento, a suportar no presente) comparado com a rentabilidade do stock
de capital adicional esperada no futuro.
Formas de financiamento disponíveis:

• Capitais alheios - Mercado de capitais (obrigações, crédito bancário);


• Capitais próprios – Emissão de acções, lucros retidos pelas empresas.
Se produtivo, o Investimento aumenta as possibilidades de Consumo, i.e., altera a ROI
do setor privado como um todo famílias são as proprietárias das empresas
beneficiárias da utilização produtiva das suas poupanças, pelo aumento do valor das
empresas que detêm.
Empresas calculam, em cada período, o montante de Investimento (i.e., de ∆K) que
assegura o seu objetivo – maximização do lucro –, tomando em conta os rendimentos
futuros esperados do novo capital F(K) e o custo de oportunidade do capital (user cost of
capital) [Teoria neoclássica do investimento].
Restrição técnica de base para a produtividade do Investimento: Função de Produção.
Função produção F(K): relação entre a quantidade de capital utilizada no período 1
(I1=K) e a quantidade de output que se espera obter no período 2.

25
Fator trabalho: exógeno para a decisão de investimento.
F(K) crescente com K (PmgK >0);
PmgK decrescente (dada a dotação de fator trabalho; lei da produtividade marginal
decrescente).

Custo financeiro do investimento


Financiamento por capitais alheios: taxa de juro real do empréstimo (r)
Financiamento por capitais próprios: custo de oportunidade (renúncia a aplicação
alternativa); pressupõe-se aqui idêntico à taxa de juro do mercado (r) aplicação
alternativa.
A taxa de juro é o referencial mínimo para a rentabilidade do Investimento
▪ Se for realizado investimento, no período 1, em K unidades,
• F(K) valor dos rendimentos futuros esperados (avaliados em termos de
unidades de capital no período 2)
• K(1+r) – K (1 - δ) Custo do uso do capital (avaliado em termos de
unidades de capital no período 2); K( 1 - δ) representa o valor de revenda
do K, sujeito a depreciação ( δ ) [hipótese: depreciação total, δ = 1].
Decisão de Investimento depende de Função de Produção Taxa de juro
Rentabilidade líquida do investimento (avaliada em unidades de consumo do período 1)
= Valor actual do Investimento = V

Condição de realização de investimento (com δ=1):

26
Nesse caso diz-se que a tecnologia é produtiva e deve investir-se;
No caso contrário, a tecnologia diz-se não produtiva e é mais compensador poupar e não
investir (i.e., emprestar S=K, obtendo K(1+r)).

Se F(K) > (1+r) K Há lucro económico Tecnologia produtiva


Há duas formas duma tecnologia não produtiva passar a ser produtiva:
1. Redução do custo de utilização do capital (r) [redução do declive de OR] O Lucro
Económico é sensível a r (custo do financiamento, custo de oportunidade)

2. Progresso técnico [deslocação da F. Produção para cima] O Lucro Económico


depende da capacidade produtiva esperada de K, i.e. de F(K)

27
1.3.3.1. As Restrições Orçamentais intertemporais setor Privado
consolidado

28
NOVA ROI do setor privado consolidado (famílias + empresas) [ROI desloca-se para
cima, em função do montante de I e da sua produtividade].

A NOVA ROI do setor privado consolidado tem agora 2 partes:

A função produção é a origem da nova riqueza. É relevante se se financia I e K com


capitais próprios (equity) ou capitais alheios (bonds)?
Neste modelo de família-empresa é indiferente. Ω depende de: dotação Y1+Y2; montante
de I; F(K); r. Não da origem dos recursos (S1 >0 vs S1 <0).

1.3.4. Estado

Num modelo mais realista, há que admitir que existe Estado. O setor público pode:
• Cobrar impostos (líquidos de transferências), no presente e futuro: T1, T2;
• Comprar bens e serviços, em ambos os períodos: G1, G2;
• Comprar bens e serviços, em ambos os períodos: G1, G2;
• Emprestar recursos ou emitir dívida (obter crédito) para antecipar recursos;
• Conseguir crédito a taxa de juro inferior à cobrada ao setor privado (r g < r) [porque
risco de falência é supostamente menor; e “soberania” equivale a direito de tributação e
confiscação de recursos privados em teoria ilimitado].
No modelo com 2 períodos (presente=1, futuro=2) o setor público:
o Tem de respeitar a sua própria ROI, escrita em termos de 1 e 2.
o Pode ter dívida pública no início do presente [D0, herdada do passado]

29
Presente (1):
• Estado cobra impostos T1, compra bens/serviços G1 e paga juros pela dívida acumulada
até ao início do período:

Défice pode ser decomposto em Défice primário G1 – T1 e juros da dívida rgD0.


Futuro (2):
• Estado cumpre integralmente a sua ROI: o saldo primário tem de compensar o saldo
orçamental primário do presente mais os eventuais juros sobre a dívida que esse saldo
possa ter originado (se deficitário) mais o serviço integral (reembolso e juros) da dívida
eventualmente existente no início do presente (dívida inicial avaliada em unidades de
consumo do período 1 (D1 = (1+rg) D0):

Então, a ROI do Estado pode ser escrita como:

O setor público apenas cumpre a sua ROI se:

o A soma dos valores presentes dos saldos orçamentais primários for igual à dívida
devida inicialmente;
o O valor actual (em unidades de consumo de 1) das receitas públicas equivaler ao
valor atual das despesas públicas acrescidas de D1 (a dívida expressa em unidades
de consumo de 1).

30
1.3.4.1. As Restrições Orçamentais intertemporais setor Privado e
Público consolidados

[Admitindo que não há possibilidade de I numa tecnologia produtiva (I=K=F(K)=0) nem


existe dívida pública inicial (D0 = D1 = 0) nem heranças/dívidas privadas iniciais (Ω0 =
Ω1 = 0)].

31
1. O setor privado apenas pode consumir o produto que o S. Público não
utiliza;
2. Num efeito imediato, mais G reduz a riqueza privada.

3. Se o Estado se consegue financiar a uma taxa de juro inferior à do setor


privado [rg < r], então mais défice presente (∆+ G1, ∆-T1) ∆+ riqueza
privada.
Há uma transferência de recursos dos credores do Estado (e.g. Resto do Mundo) em favor
dos beneficiários da redução de impostos;
Se Estado incorre num défice presente (G1-T1), os impostos a cobrar às famílias em 2 para
amortizar a dívida são (G1-T1) (1+rg). O setor privado beneficia, pois tem impostos
adiados cujo custo de oportunidade é maior (r). O ganho é crescente com o défice e com
a diferença r - rg.

Exemplo simplificado:
Horizonte temporal de 2 períodos: período 1 = “Presente”; período 2 = “Futuro”;

O SP pode realizar despesas em bens e serviços em ambos os períodos: G1, G2;

O SP pode recolher impostos (líquidos de subsídios e transferências) em ambos


os períodos: T1, T2;

Inexistência de dívida pública herdada de períodos anteriores: D0 = 0;

O sector público pode conseguir obter crédito a uma taxa de juro inferior à
cobrada aos particulares (rG < r) por:

• seu risco de falência ser inferior;


• Publicar as suas contas, sendo assim menores os custos de monitorização
das suas condições de solvabilidade.
Período 1: T1 + D1 = G1
Período 2: T2 = G2 + D1 (1+rG)

32
Consolidando para o presente:

D0: dívida “herdada” do período anterior (avaliada a preços de hoje)


Período 1: T1 + D1 = G1 + D0
Período 2: T2 = G2 + D1 (1+rG)
Consolidando para o presente:

A soma da dívida inicial e do valor presente dos défices primários tem de ser igual a zero:

Graficamente, a restrição orçamental limita os défices do sector público à região abaixo


da linha orçamental.

33
• Ignorando a existência da empresa:

• ROI do sector privado com estado:

• Consolidando a ROI do sector privado e do sector público e admitindo r=rG:

Substituindo (1) em (2):

Reescrevendo vem:

34
1.4. Princípio da Equivalência Ricardina (PER)

Se a taxa de juro do setor privado (r) for igual à do Estado (r g), a ROI consolidada reduz-
se a:

Como o setor privado internaliza completamente a ROI do Estado


Agentes económicos racionais sabem que os défices do Estado são financiáveis apenas
de duas formas:
1. Impostos;
2. Dívida;
E sabem que a Dívida terá de ser reembolsada, mais tarde ou mais cedo, com receitas de
Impostos:

O valor presente dos Impostos é igual ao da Despesa Pública (ROI do Estado);


Se o Estado incorre em défice no presente:
• Reduz a riqueza privada intertemporal pelo valor presente de G ( T);
• Emite dívida no presente (acede a empréstimos) e cobra impostos no futuro;
• O setor privado aufere mais rendimento líquido de impostos hoje e menos
amanhã, quando tiver de ser tributado para Estado pagar dívida;
• Desde que o Estado e o setor privado acedam ao mercado financeiro à mesma taxa
de juro (r = r g) (mais algumas condições…), então o padrão temporal da
tributação é irrelevante: agentes racionais compensam a dívida pública presente
com poupança privada presente, para conseguir pagar T futuros; o que é relevante
é G.

35
A. Efeitos de uma alteração nos impostos no modelo Keynesiano :

• ↓ impostos ⇒ ↑ rendimento disponível ⇒ ↑ consumo ⇒ ↑ procura privada ⇒ ↑


produto; ou seja, um défice orçamental (potenciado pela redução de impostos)
conduz a um aumento da procura privada em bens e serviços e a um
correspondente aumento do privada em bens e serviços e a um correspondente
aumento do produto.

• Como 0 < PmgC < 1, a poupança privada aumenta menos do que o correspondente
ao corte fiscal (redução da poupança pública) ⇒ ∆(Spriv + Sg) < 0 ⇒ ↓ SBN.

• ↓ SBN, mantendo-se o investimento planeado ⇒ ↑ taxa juro real ⇒ investimento


planeado (e efectivo) diminui (crowding out), comprometendo-se o ritmo e o nível
de acumulação do capital e do produto no longo prazo.

• Mas numa pequena economia aberta, num regime de câmbios flexíveis e na


presença de uma elevada mobilidade de capitais, a pressão para ↑ taxa juro real ⇒
entrada de capitais ⇒ apreciação da moeda nacional ⇒ deterioração da balança
comercial ⇒ deterioração da balança corrente ⇒ ↑ Sext; ou seja, a manutenção do
investimento planeado pode gerar um aumento da poupança externa ⇒ ocorrência
de défices gémeos: Sg < 0 ⇒ Sext > 0 (Balança Corrente < 0).

B. Princípio da Equivalência Ricardiana (PER) ou Proposição Ricardo-Barro:


alterações nos impostos não têm impacto na atividade económica. (original de D.
Ricardo, séc. XIX e retomado por R. Barro em 1974)
O impacto da actividade fiscal do governo é determinado pelo valor actual das suas
despesas. Dado este último, o perfil inter-temporal dos impostos, função suas despesas.
Dado este último, o perfil inter-temporal dos impostos, função dos défices públicos
contraídos, não produz qualquer efeito de primeira ordem na economia.

C. Justificação:

• Para um determinado nível de despesas públicas, qualquer alteração nos


impostos implica uma alteração equivalente no défice orçamental, e logo
na dívida pública;

• Aumentos na dívida pública implicam aumentos nos impostos futuros,


quando for necessário pagar essa dívida;

36
• Agentes económicos racionais vão aumentar a sua poupança no presente
para poder pagar os impostos futuros adicionais;

• Quaisquer aumentos de rendimento disponível resultantes de reduções dos


impostos serão utilizados para aumentar a poupança e não o consumo;
➢ A emissão de dívida pública é “equivalente” a impostos.
Ou seja,

▪ Sendo o valor actualizado de G constante, uma ↓ T1 ⇒ ↓ Sg e ↑ equivalente de


Spriv, devido ao aumento futuro de T ⇒ não se altera a SBN ⇒ SBN não depende
do perfil intertemporal dos impostos;

▪ Mantendo-se SBN não existem pressões para a alteração da taxa de juro real
⇒inexistência de efeito crowding-out sobre o investimento;

▪ Como ↑ Spriv = ↓ Sg ⇒ não há alterações ao nível da Sext ⇒ não há défices


gémeos.

Conclusões opostas às do modelo Keynesiano


O P.E.R. e a R.O.I. da nação:
▪ R.O. intertemporal do sector privado (sem investimento):

▪ R.O. intertemporal do sector público:

▪ Supondo r = rg, a R.O.I. da nação será:

37
D. Evidência empírica:
▪ Observa-se uma relação de causalidade unidireccional entre défice e taxa de juro
de longo prazo - não verificação empírica do PER;
▪ Choques na dívida pública afectam negativamente os preços, produto e taxas de
juro (EUA) - não verificação do PER para os EUA;
▪ A evidência empírica é mista quanto à validação do PER em países em
desenvolvimento: existem estudos que suportam a validade do PER para países
desenvolvimento: existem estudos que suportam a validade do PER para países
com rácios elevados de défice e de dívida pública no PIB (na maioria, em
desenvolvimento) e a sua não validade para países com melhores performances
orçamentais (países desenvolvidos);

➢ princípio da equivalência ricardiana não se verifica tal como a teoria o


prevê, mas a evidência empírica sugere que o impacto na actividade
económica de alterações nos impostos pode ser menor do que o previsto
pelo modelo keynesiano.

▪ Evidência de curto prazo é normalmente menos favorável ao PER porque demora


tempo até que os agentes consigam interiorizar a natureza permanente da dívida.

1.4.1. Implicações do Princípio da Equivalência Ricardiana:

Se o défice do estado for compensado integralmente por poupança privada destinada ao


pagamento dos correspondentes impostos futuros adicionais,

➢ O padrão temporal da tributação é irrelevante, a única intervenção do Estado


relevante é o seu nível de despesa (G);
➢ Títulos da dívida pública detidos pelos agentes privados não são considerados
riqueza líquida (são ativos correspondentes às responsabilidades fiscais futuras);
➢ Um défice presente não altera o valor presente da SBN (Poupança da Nação), logo
défice público não se correlaciona com défice externo (Balança Corrente);
➢ Défices não pressionam mercado financeiro doméstico e portanto não se
correlacionam com taxas de juro de longo prazo.

1.4.2. Críticas ao Princípio da Equivalência Ricardiana

1) Horizontes de planeamento mais curtos que o prazo da dívida: os indivíduos que


beneficiam da redução de impostos podem não ser os que pagam a dívida.
Porém,
• A maior parte da dívida pública tem prazos mais curtos que a vida dos
indivíduos;
• Princípio do legado inter-geracional activo (mantém válido o PER): os
indivíduos preocupam-se com as gerações futuras.

38
2) Na presença de crescimento populacional, a redução fiscal no presente é superior,
em termos per capita, ao aumento futuro, que será dividido entre um maior número
de pessoas. Assim, a riqueza das famílias aumenta, aumentando também o
consumo e o produto.
3) Efeitos de distorção associados aos impostos: os impostos têm efeitos de distorção
sobre a economia porque os agentes reagem de forma a contrariar os efeitos
fiscais.
4) Mercados de crédito imperfeitos - existência de restrições ao crédito / de liquidez:
• Restrição total ao crédito;
• Restrição parcial ao crédito;
• Taxa de juro crescente com o nível do endividamento;
• Taxas de juro diferentes para diferentes agentes;
Um défice público, i.e., o agravamento da dívida pública, permite que o sector público se
endivide “em vez” dos particulares, aumentando o bem-estar social ⇒ a redução dos
impostos alivia as restrições ao crédito.
▪ R.O.I. da nação com rg ≠ r:

▪ Caso típico rg < r :


➢ Riqueza das famílias aumenta com o montante do défice público e com a
diferença das taxas de juro ⇒ É vantajoso para a nação que seja o sector
público a endividar-se.

Incorrendo num défice (G1-T1) o Estado endivida-se à taxa rg ⇒ no período 2 o Estado


cobra às famílias o montante (G1-T1) (1+rg) ⇒ equivale a conceder um empréstimo às
famílias à taxa rg ⇒ como a taxa de juro do sector privado é maior (r > rg), isso significa
um ganho para as famílias.
As famílias podem “aproveitar” o excedente de rendimento gerado pela diminuição dos
impostos e: (i) aplicá-lo à taxa r ou (ii) deixar de pedir emprestado aquele montante à taxa
r ⇒ logo, o ganho depende do montante do défice e da diferença das taxas de juro.
Então, um défice presente aumenta a riqueza intertemporal da Nação: é melhor para a
Nação que esta antecipe recursos por endividamento do Estado.
Se incorre num défice presente (G1-T1), o Estado endivida-se à taxa rg, pelo que os
impostos que tem de cobrar às famílias em 2 para amortizar a dívida são (G1-T2) (1+rg).
Dado que r>rg, o setor privado beneficia, pois adia impostos podendo aplicar os recursos
correspondentes à taxa r ou evitar pedi-los emprestados à taxa r. O ganho é crescente com
o valor do défice e com a diferença entre as taxas de juro.

39
-Mortalidade e novos cidadãos
Os cidadãos não são todos iguais perante o fisco:
• Uns pagam mais impostos do que outros;
• Uns detêm títulos da dívida pública, outros não.
Contudo, no agregado, o setor privado não pode escapar à ROI; os impostos necessários
para que o Estado cumpra a sua ROI terão de ser pagos, mesmo que uns paguem mais do
que outros.
Há, ainda assim, fenómenos demográficos que podem afetar o cumprimento agregado das
ROI e, portanto, a validade do PER.
Mortalidade
Como os agentes têm uma esperança média de vida finita, podem antecipar que não
estarão vivos em 2 e não internalizar a ROI do Estado na sua própria ROI (i.e., podem
antecipar que não estarão entre aqueles que pagarão os impostos futuros necessários para
amortizar a dívida pública emitida em 1.)
Então, se o setor privado não incorpora todas as responsabilidades fiscais futuras, a dívida
pública poderá ser vista como riqueza: os cidadãos que detêm títulos da dívida pública
(remunerados a rg) consideram-nos riqueza líquida e por isso não aumentam a sua
poupança presente para fazer face à tributação necessária ao reembolso dessa dívida
(usam esses recursos em consumo).
Novos cidadãos
• Tipicamente, a população vai crescendo, pelas causas naturais;
• A população pode ainda crescer por causas migratórias – pode haver entrada;
• A população pode ainda crescer por causas migratórias – pode haver entrada líquida de
emigrantes na Nação.
Como os impostos necessários para amortizar a dívida pública emitida no presente são
pagos no futuro, os novos cidadãos pagarão parte desses impostos. Então, no agregado,
em alguma medida se quebra a ligação entre a geração presente e as receitas fiscais
futuras.
Apesar das considerações sobre Mortalidade e Novos Cidadãos, pode argumentar-se que
o P.E.R. continua válido, se se considerar que:
o A maior parte da dívida pública tem prazos mais curtos que a vida dos 45
agentes,… é difícil que agentes racionais pensem que não a amortizarão. [contra-
argumento: a dívida pode ser amortizada mediante emissão sucessiva de nova
dívida];
o Apesar de mortais os agentes podem ser intergeracionalmente altruístas.

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Princípio do legado intergeracional activo (Barro, 1974): os indivíduos podem reagir
às transferências intergeracionais de riqueza impostas pelo Estado através de
transferências intergeracionais voluntárias.
- Restrições ao financiamento
O mercado financeiro é imperfeito – assimetria de informação, moral hazard – e para
muitos agentes há restrições ao crédito, à liquidez. Pode haver:
a) Crédito totalmente vedado (ou parcialmente);

b) Taxa de juro crescente com os níveis de endividamento;

c) Crédito condicionado a taxas de juro mais altas, para determinados grupos;


Se o setor público beneficiar de uma taxa de juro mais baixa que o setor privado (rg < r) e
o setor privado tiver restrições ao crédito, na prática o défice e o agravamento da dívida
pública permite que o setor público se endivide em vez do setor privado, aumentando o
bem-estar social.

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-Efeitos de distorção dos Impostos

O P.E.R. pode falhar porque os agentes alteram os seus comportamentos em resposta aos
impostos. De facto, a generalidade dos impostos afeta os 51 incentivos dos agentes (para
trabalhar, para poupar, para investir, etc.) pelo que a riqueza intertemporal não é
insensível ao padrão temporal dos impostos. Ex.: Se se espera um aumento de T em 2, há
uma contracção do investimento em 1, pelo impacto negativo dos impostos sobre os
rendimentos potenciais desse investimento; o que compromete o crescimento do produto;
e, portanto torna desejável o alisamento dos impostos ao longo do tempo (Barro, 1996).
Excepção: impostos lump-sum (não indexados a riqueza, rendimento).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, a restrição orçamental intertemporal do governo propõe que o mesmo deve


estabelecer um orçamento equilibrado ao longo do tempo para evitar problemas futuros
com dívida e inflação. Isso significa que o governo deve economizar dinheiro durante os
períodos de crescimento económico para poder gastar mais durante períodos de recessão.
Além disso, a restrição orçamental intertemporal também enfatiza a importância de se
equilibrar as receitas e despesas ao longo do tempo para evitar dívida excessiva, esta que
pode ser prejudicial para a economia, já que pode levar a problemas como inflação, taxas
de juros mais altas e incerteza económica.
A restrição orçamental intertemporal sugere ainda que o governo considere as
implicações sociais e políticas das decisões de gastos e receita. Investimentos em
infraestrutura, educação e saúde, por exemplo, podem ter benefícios a longo prazo para a
economia e para a sociedade, mas também podem ter custos a curto prazo.
Em geral, a restrição orçamental intertemporal é uma teoria importante que recomenda
que o governo deve equilibrar as necessidades a curto prazo da economia com as
necessidades a longo prazo de estabilidade financeira e crescimento econômico
sustentável. Assim sendo, o governo deve ser cuidadoso ao gastar e arrecadar dinheiro e
considerar como as suas decisões afetarão a economia e a sociedade a longo prazo.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• 1GE211: MACROECONOMIA II¦ · 3.1. Factos sobre as Contas Públicas na


Economia Portuguesa B. Saldo Orçamental • Saldo Orçamental Primário: diferença
entre receitas e despesas, - [PDF Document] (vdocuments.site);

• Contas Públicas: saiba o que é e como funciona - Mais Retorno;

• Jornal de Angola - Notícias - Vamos falar sobre impostos;

• Economia11TJ: Saldo Orçamental;

• CAP4_Aulas_2010_11.pdf (up.pt);

• Restrição Orçamental Uni Porto.pdf.

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