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MACROECONOMIA II

TEMA  DESPESAS PÚBLICAS E OGE

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TEMA  DESPESAS PÚBLICAS (RESTRIÇÃO ORÇAMENTAL, DÉFICES ORÇAMENTAIS E DÍVIDA

PÚBLICA)

Q.E. 1 - INTRODUÇÃO
1.1. Papel do Estado enquanto Agente Regulador e Interveniente na Economia – Visão
Keynesiana e Perspetiva Liberal.
1.2. Distinção do Estado enquanto Agente Económico de Outros Agentes económicos
Q.E. 2 – DEFINIÇÃO E CONTEXTO LEGAL DE ORÇAMENTO

2.1. – DEFINIÇÃO E ELEMENTOS DE DEFINIÇÃO.

Q.E. 3 – SALDOS E DÉFICES ORÇAMENTAIS

Q.E.4 – DÍVIDA PÚBLICA

OBJECTIVO DO TEMA:

1- DEFINIR O.G.E. E CONHECER OS 3 ELEMENTOS DE DEFINIÇÃO.


2- COMPREENDER A INFLUÊNCIA DO O.G.E NO QUADRO MACROECONOMICO E VICE-
VERSA.
3- DEFINIR SALDO E DÉFICE ORÇAMENTAL, DÍVIDA PÚBLICA.
4- COMPREENDER AS FORMAS DE FINANCIAMENTO DO DÉFICE ORÇAMENTAL.

BIBLIOGRAFIA:

1- SAMUELSON & NORDAHUS, ECONOMIA, 18ª EDIÇÃO.


2- JORGE SANTOS, MACROECONOMIA, EXERCÍCIO E TEORIA, MCGRAW HILL, 2002.
3- JOÃO FERREIRA DO AMARAL, INTRODUÇÃO À MACROECNOMIA, 2ª EDIÇÃO,
ESCOLAR EDITORA, LISBOA, 2007.

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Q.E. 1 - INTRODUÇÃO

No semestre passado vimos que o Governo (Estado) intervém na economia como:

 Estabilizador Macroeconómico;
 Prestador de certos serviços (Justiça, Educação, Segurança pública);
 Promotor de alguns tipos de investimento;
 Incentivador da actividade privada;
 Redistribuidor do rendimento.

Para exercer a sua actividade o Estado cobra imposto (que constitui a sua fonte
tradicional de receita) e realiza Despesa, dai o tema deste capítulo, Despesa Pública e
Orçamento do Estado.

1.1. Papel do Estado enquanto Agente Regulador e Interveniente na Economia


– Visão Keynesiana e Perspetiva Liberal.

O papel do estado enquanto agente regulador e interveniente na economia tem sido


um tema em permanente discussão na teoria económica que, continua a dividir os economistas
de Inspiração Keynesiana que defendem uma maior intervenção do Estado nos diversos
mercados e os outros autores, que se dizem mais liberais, e advogam que o Estado se deve
limitar à actividade legislativa de regulamentação do funcionamento dos mercados.

1.2. Distinção do Estado enquanto Agente Económico de Outros Agentes


económicos.
Mesmo que seja difícil definir o ponto óptimo de articulação entre o Estado e o Mercado,
o certo é que, em todos os países industrializados, o Estado, intervém na actividade económica
e distinguem-se dos outros agentes económicos pela capacidade de actuação para a melhoria
da repartição do rendimento e para a estabilização do sistema económico através de medidas
de política económica, nomeadamente, de política Orçamental, política Monetária e Cambial.

Q.E. 2 – DEFINIÇÃO E CONTEXTO LEGAL DE ORÇAMENTO


2.1- O.G.E. – DEFINIÇÃO E ELEMENTOS DE DEFINIÇÃO.
Poder-se-á definir O.G.E. como documento apresentado sob a forma de lei, que
comporta uma descrição detalhada de todas as despesas e receitas do Estado, proposta pelo
Governo e autorizada pela Assembleia da República e antecipadamente prevista para um
horizonte temporal de um ano.
Este conceito permite desde já identificar os 3 elementos de definição do Orçamento:

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1º. Elemento económico: constitui uma previsão da actividade financeira anual a
realizar por determinados subsectores da Administração Pública sob comando
do Governo.
2º. Elemento Político: constitui uma autorização política concedida pela
Assembleia Nacional mediante aprovação formal da proposta elaborada e
submetida pelo Governo.
3º. Elemento jurídico: constitui um instrumento sob a forma de lei, que limita os
poderes financeiros do Estado no que respeita a realização das despesas e a
obtenção das receitas.
 Dimensão Política e Económica do Orçamento
Considerar o Orçamento como um documento técnico é uma perspectiva muito
redutora já que:
1º. Ele é na sua essência documento político, por reflectir as prioridades de um
governo, consubstanciadas nos tipos e estruturas quer dos Recursos Obtidos
economia, quer da sua afectação às políticas sectoriais e aos seus programas,
projectos e medidas. Tal significa que toda e qualquer despesa ou receita tem,
na sua natureza e montante um fundamento e um objectivo.
2º. Todo e qualquer orçamento influencia o quadro económico, sendo por ele
também influenciado. Com efeito, e pensando agora em termos dos grandes
agregados orçamentais, os recursos financeiros aplicados, por exemplo, nas
transferências sociais para as famílias, na melhoria das condições
remuneratórias dos trabalhadores da Administração Pública, afectam positiva e
directamente grandes agregados macroeconómicos (Rendimento Disponível
das Famílias, Consumo Privado e Investimento) e por conseguinte o ritmo da
economia.
Do exposto acima, poder-se-á então afirmar que as receitas e despesas do
Orçamento traduzem sempre as escolhas políticas e produzem sempre efeitos
de diferentes sentido e intensidade, ao nível económico e social.

 Contexto Legal do Orçamento.


O enquadramento do Orçamento é composto de três níveis:
1º. Lei Constitucional, de 5 de Fevereiro, 1ª Série, DR nº 23/10 Artigo 104º;
2º. Lei-quadro do Orçamento Geral do Estado; Lei 15/10 de 14 de Junho, I Serie, DR
nº 131;
3º. Lei anual do Orçamento e Decreto-lei de Execução Orçamental.
Q.E. 3 – DESPESAS PÚBLICAS
Ao longo dos anos verifica-se que, com algumas oscilações, a despesa do sector público
administrativo tem sempre um enorme peso no PIB.
As explicações para a manutenção do elevado peso das despesas públicas no PIB
poderão prender-se com a expansão constante das exigências das actividades do estado (mais
e melhores serviços de defesa, segurança e administração, de saúde, de educação, de
investigação científica … … mais e melhores infra-estruturas e vias de comunicação), mas
também levantam muitas questões sobre eficiência de aplicação dos recursos financeiros
públicos e sobre os efeitos económicos dos diferentes tipos de despesa.

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3.1- Aumento das Despesas Públicas e Implicações.
Um aumento das despesas públicas implica sempre uma subida da procura global da
economia e tem geralmente um impacto positivo no acréscimo de consumo e também de todos
o sistema produtivo, devido ao efeito multiplicador das variáveis de despesa – G; Tr. Significa
que as autoridades de política económica, em certas circunstâncias, podem fazer aumentar o
nível de actividade económica simplesmente aumentando o valor da despesa pública. Tal levará
a um maior valor para o PIB e portanto, a mais rendimento e eventualmente a mais emprego.
Mais em que circunstâncias as autoridades devem fazer isso?
1º. Devem assegurar-se que existe capacidade produtiva disponível. De outro modo, um
aumento da despesa pública leva não a um aumento da actividade económica mas,
antes a um aumento dos preços;
2º. Este aumento não deve ser ilimitado. Deve ter em conta as receitas públicas (Impostos)
que se podem cobrar. De outro modo aumenta-se o défice público e isto significa que
as gerações futuras de contribuinte terão de pagar os encargos da divida pública, o que
coloca problemas de equidade entre gerações.

3.2- Classificação das Despesas


As Despesas Públicas são classificadas tendo em conta determinados critérios:
 Classificação Orgânica;
 Classificação Funcional: Funções Gerais de soberanias (Serviços gerais da
administração, defesa, segurança e ordem pública); Funções Sociais (Educação,
Saúde, Segurança, habitação); Funções Económica (Agricultura, Industria,
Transporte, Comércio e turismo).
 Classificação por Programa e;
 Classificação Economia.
Faremos apenas uma pequena incursão da classificação económica das despesas, assim
neste último critério tem-se:
 De acordo com o período de tempo em que produzem os seus efeitos:
 Despesas Correntes, aquelas que realizam-se num ano e se esgotam
neste mesmo ano (Despesas com pessoal, Aquisição de bens e serviços,
Encargos correntes da dívida, transferências correntes, Subsídios)
 Despesa de Capital, as realizadas num ano mas cujo efeito se
prolongarão nos períodos seguintes, englobam não só a construção e
compra de bens duradouros (Investimento em capital fixo) como as
compras de acções ou reembolso de empréstimos, transferência de
capital que irão contribuir para a formação bruta de capital fixo dos
outros agentes económicos.
 De acordo aos efeitos que produzem:
 Ao nível da produção:
 Despesas de caracter produtivo: visão a produção de serviços
não mercantis;
 Despesa de caracter reprodutivo: despesas que aumentam a
capacidade produtiva do país.
 Ao nível do rendimento:
 Despesas que Criam Rendimento;
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 Despesa de transferências que contribuem para a
Redistribuição do Rendimento criado noutros sectores
produtivos.
Q.E. 4 – SALDOS E DÉFIES ORÇAMENTAIS
O confronto entre as Receitas totais e as Despesas totais do Sector Público
Administrativo num determinado ano permite definir para cada ano se existe capacidade ou
necessidade de financiamento do sector.
Por outro lado, naturalmente todas as despesas do Estado têm que ser pagas e por isso
as contas do Estado estão sempre equilibradas, nem que para tal seja necessário recorrer à
dívida pública.
Sabemos também, que o OGE é um dos principais instrumentos da política
Macroeconómica porque muitas das suas rubricas afectam directamente a procura agregada e
o rendimento.
O Saldo Orçamental é um dos indicadores adequados para caracterizar a situação
económica dos países, uma vez que ele naturalmente reflecte a evolução do rendimento e pode
ser alterado com medidas de política económica.

SO = R – D
SO = T – (G + TR)
SO = T + tY – G – TR
Do confronto entre receitas e despesas três situações podem ser observadas:
1º. R> D  Saldo, ou seja, Capacidade de Financiamento;
2º. R <D  Défice, ou seja, Necessidade de Financiamento.
3º. R  D  Saldo nulo.

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REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO SALDO ORÇAMENTAL DE EQUILIBRIO
SO
SO = (T – G – TR ) + tY

0
Y

T -G-TR

 Regra de Ouro das Finanças Públicas.


A análise da conta da Administração Pública permite identificar quatro
importantes tipos de saldo:
 Saldo Corrente: Receitas Corrente (efectivas) – Despesas
correntes (efectivas).
 Saldo de Capital: Receitas de Capital (efectiva) – Despesas de
Capital (efectivas).
 Significado: Relacionam determinados tipos de receitas e
despesas (Classificação Económica).
 Saldo Global: Saldo Corrente + Saldo de Capital. Em % do PIB, é o
critério orçamental mais importante do
A Regra de Ouro das Finanças Públicas, diz que “ o saldo corrente não deve ser
negativo, ou seja, não devem ser pagas despesas correntes com receitas de capital”.
 Formulação Alternativa: “ o valor do défice orçamental não
deverá ser superior ao valor das despesas de investimento.”
Q.E. 5 – DÍVIDA PÚBLICA
 Crédito Público
Porquê é que o Estado recorre ao Crédito Público?
O Estado faz recurso ao Crédito Público:
1º. Para fazer cobertura do Défice de Tesouraria (Curto Prazo);
2º. Para fazer Cobertura do Défice Orçamental;
3º. Por causa da esterilização do Poder de Compra.

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 Dívida Pública
Do recurso ao crédito pelo Estado resulta a dívida pública que pode ser interna
e externa.
 Restrição Orçamental no Contexto do Modelo IS/LM Estático
A restrição orçamental do Governo, tal como a restrição orçamental do
consumidor, impõe como limite das despesas o montante de financiamento disponível.
O financiamento das Despesas Públicas terá de ser feito mediante as receitas de
impostos, empréstimos colocados junto do sector privado ou variação do stock de
moeda causada por motivos de financiamento orçamental.
A restrição orçamental do Governo estabelece então:
G + TR = T +  B + M + A , sendo:
B  Variação do Stock da Dívida Pública;
M  Variação da Base Monetária por motivo de financiamento;
A  Venda de Activos.
A Restrição Orçamental mostra que um défice Orçamental (G+TR-T) implica
uma variação, ou no Stock da Dívida na posse dos privados, ou no Stock de Moeda.
 Hipótese do Modelo:
1º. O orçamento está equilibrado (T – G – TR = 0)
2º. Os preços são constantes;
3º. O multiplicador da base monetária é igual à unidade;
4º. A taxa de imposto nunca se altera.

 Financiamento do Défice Orçamental com Dívida Pública


Aqui pretende-se examinar os efeitos de uma variação das despesas públicas.
Sendo a função Imposto: T = T + Ty , com 0 < t < 1, então:
G + TR = tY + B
No caso de um acréscimo da Despesa Pública, a Dívida na posse dos privados (B)
varia na parcela desse acréscimo que o acréscimo induzido dos impostos não cobre. O
aumento do défice orçamental é assim coberto pelo aumento do Stock da Dívida Pública
na posse dos privados.
B = G + TR - tY
Em termos do modelo IS/LM convencional, o facto de se explicar que a variação
das despesas públicas é financiada por recursos à dívida pública não traz qualquer
implicação, dado que a variação de B não afecta as curvas IS/LM. Mantém-se assim o
multiplicador das despesas públicas já apresentado nos capítulos anteriores.

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O financiamento das despesas públicas com a dívida leva à equivalência
ricardiana. Esta diz que, o financiamento do défice orçamental através da dívida pública
é equivalente a um imposto (corrente), uma vez que se limita a adiar no aumento dos
impostos. Assim a equivalência ricardiana pode ser vista como uma equivalência formal
entre dívida pública e imposto. Quando o governo aumenta os gastos públicos e os
financia com dívida pública, mais tarde vai ter de obter dinheiro para pagar essa mesma
dívida pública e fá-lo através do aumento dos impostos.
No entanto, pode ser uma forma correcta de adiar o peso das despesas públicas
pois muitas delas, em particular os grandes investimentos públicos, só surtem efeitos a
prazo e é correcto que sejam as gerações futuras a pagar os impostos necessários para
financiar esse investimento público, já que são elas que usufruem do mesmo.
 Financiamento do Défice Orçamental com Emissão Monetária
Suponhamos agora que o défice orçamental é financiado por emissão de moeda,
ou seja, B = 0. Uma variação das despesas do Estado implica:
G + TR = tY + M
Neste caso, o resultado do modelo IS/LM convencional já não é válido, dado que
alteração de política orçamental é acompanhada por alterações de política monetária.
Em termos gráficos e continuando a admitir um acréscimo dos gastos do Estado,
torna-se clara a razão pela qual o efeito sobre o rendimento vem ampliado: deslocação
da curva LM, causada pelo aumento do stock real de moeda, implica uma menor
variação da taxa de juro e logo um efeito crowding-out menor, com um consequente
aumento do rendimento.
A IS desloca-se inicialmente de IS0 para IS1 devido ao acréscimo de gastos
públicos, no ponto E´0 passa a existir um défice que se supõe financiado pela emissão de
moeda, o aumento de massa monetária em termos reais provoca a deslocação da curva
LM de LM0 para LM1 pelo que o equilíbrio final será E1.

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i

LM0
LM1

E´0
E0 E1

IS1

IS0
Y0 Y´0 Y1 Y

Em termos analíticos, e relembrando que, por hipótese, os preços são


constantes, o efeito sobre o rendimento do acréscimo dos gastos públicos pode ser
deduzido utilizando os respectivos multiplicadores:

𝝏𝒀 𝝏𝒀
∆𝒀 = ∆𝑮 + ∆𝑴
𝝏𝑮 𝝏𝑴
Mas como:
M = H = G - tY
Onde: H é a Base Monetária = Circulação Monetária + Reservas
M é a Massa Monetária = Circulação Monetária + Depósitos.
Conclui-se então que, com o financiamento monetário do défice, o multiplicador
dos gastos é maior do que o anteriormente, o que corrobora com a figura, já que a
distancia Y1 - Y0 que a distancia Y´0 – Y0.

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