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FINANÇAS PUBLICAS
5. DESPESAS PÚBLICAS
5.1 Conceito
Em suma Despesas Publicas podem ser definidas como o encargo do Estado ou outro ente
público para aquisição de bens ou prestação de serviços susceptíveis de satisfazer necessidades
públicas(Waty 2004: 200).
A despesa pública num Estado moderno é crucial para a compreensão das políticas financeiras.
O estudo das despesa públicas deve ser feito através da análise do respectivo conteúdo, da
verificação da sua natureza e dos seus efeitos sobre a economia. A evolução recente das despesas
públicas em Moçambique obedece a vários objectivos de política económica e social do governo:
Para os clássicos, a função económica das despesas públicas seria a satisfação pura e simples das
necessidades públicas. Na visão keynesiana, para além da função económica retromencionada,
há que referir que a despesa pública constitui, também, um processo de distribuição dos
rendimentos e, por conseguinte, toda a despesa pública altera a repartição do rendimento
nacional (Franco 2004: 5).
Por seu turno, a despesa nacional é constituída pelo consumo dos particulares, das empresas e do
sector público. Assim, pode-se perceber que a despesa pública é parte da despesa nacional. A
despesa pública reparte-se por diversas rubricas, consoante o tipo da instituição: pelos
indivíduos, família e outros sujeitos privados não produtivos; pelo Estado e outros sujeitos
públicos; pelas empresas e outros sujeitos produtivos (Waty 2004: 201 & Franco 2004: 5).
Pode, então, ver-se que a Despesa Pública e despesa nacional não são a mesma realidade e que a
despesa pública (relativa ao sector público administrativo) é parte da despesa nacional.
Adolfo Wagner, financista alemão, dá nome a uma lei – a lei de Wagner - segundo a qual em
sociedades modernas há uma tendência para o aumento das despesas públicas que não pode ser
interpretada como significando, em absoluto, uma crescente actividade financeira do Estado.
As causas imediatas do aumento das despesas públicas podem assim ser identificadas:
Afora a solidariedade que as perturbações criam produz-se uma maior consciência relativamente
às necessidades. É aqui que reside o efeito apreciação.
Resumindo diremos:
Desvalorização monetária;
Aumento da população; e
Crescimento do Produto Nacional Bruto.
Entre as causas reais do crescimento das despesas públicas, as mais importantes são as
seguintes:
1
Em economia de guerra há um forte estatismo, perfeitamente tolerado pelos contribuintes. Retomada a
normalidade em paz armada e sob o efeito de deslocação, as despesas continuam em níveis elevados.
A explicação dos dois tipos de expansão, isto é, saber porque há, nas despesas públicas essa
tendência, não tem resposta definitiva. Pensar na intervenção e na actuação como causa
suficiente não colhe, pois, em situações de mera ordenação a Lei de Wagner parece também
verificar-se. O efeito deslocação ou efeito de deslocação-apreciação ou efeito de apreciação são
apontados como podendo justificar esta tendência do crescimento das despesas.
A solidariedade perante perturbações sociais leva a que os contribuintes sejam tolerantes a uma
maior carga fiscal que não é aliviada quando a normalidade retorna. Como se vê, as despesas
deslocam-se para um ponto alto donde não descem impondo às receitas consignadas em altura
de crise. Este é o efeito-deslocação.
As despesas de investimento são muito próximas às despesas de capital, mas não são
semelhantes, embora os conceitos possam substituir-se. As despesas de capital podem revestir a
forma de reembolso de um empréstimo e não se integram no conceito de despesas de
investimento. Igualmente, as despesas correntes, como o pagamento de juros não se confundem
com despesas de funcionamento. As despesas de funcionamento, são aquelas que se destinam a
suportar os custos relativos ao normal funcionamento da actividade da máquina administrativa
do Estado.
As despesas em bens e serviços são as que asseguram a criação de utilidade, por meio de compra
de bens e serviços pelo Estado, enquanto despesas de transferências são aquelas que se limitam
Constituem despesa pública os gastos fixados na Lei Orçamental ou em leis especiais destinadas
à execução dos serviços públicos e dos aumentos patrimoniais, à satisfação dos encargos da
dívida pública ou ainda à restituição ou pagamento de importâncias recebidas a título de
depósitos, consignações, etc.
De acordo com a alínea b) número 1, artigo 23 da Lei n° 09/02, as despesas orçamentais podem
ser classificadas de acordo com os critérios orgânico, territorial, económico e funcional. Assim,
importa analisar cada um destes critérios.
a) Classificação Orgânica
As vantagens deste critério é que o mesmo permite identificar, de uma forma fácil e directa, o
departamento/ministério responsável pela execução de cada bloco de despesa e, assim, avaliar o
seu contributo e desempenho no cumprimento dos objectivos e políticas do Governo. Portanto,
significa isto que a afectação de recursos financeiros por departamentos deve reflectir em cada
orçamento anual a organização político administrativa do Governo em funções.
b) Classificação Funcional
Tem como vantagens, o facto de permitir saber quanto é que o Governo afecta, dos recursos
financeiros disponíveis, a cada domínio da sua intervenção e não apenas quanto é que afecta a
cada Ministério; Permite avaliar claramente, em cada ciclo orçamental e para o conjunto de uma
legislatura, se as prioridades políticas têm ou não tradução financeira e, o caso afirmativo, o seu
grau de cumprimento; Permite ainda identificar no longo prazo (para sucessivas legislaturas)
quais foram e como evoluíram, as prioridades dos sucessivos governos.
O classificador funcional das despesas incide sobre as funções exercidas pelo Estado,
obedecendo ao critério das Nações Unidas (NU). As acções do Governo estão estruturadas em
áreas seguintes: Serviços Públicos Gerais; Defesa; Segurança e ordem pública; Educação; Saúde;
Segurança e acção social; Habitação e desenvolvimento colectivo; Recreação; Cultura e
Religião; Combustíveis e energia; Agricultura; Silvicultura; Pesca e caça; Indústria extractiva;
Transformadora e de construção, excepto de combustíveis. Transportes e Comunicações; Outros
Serviços Económicos; e Despesas não especificadas noutros grupos.
c) Classificação Económica
Despesas Correntes, são gastos de natureza operacional realizadas pela Administração Pública
para a manutenção e funcionamento dos seus órgãos, ou seja, são gastos que o Estado faz em
bens e serviços consumíveis durante o período financeiro, ou que se vão traduzir na compra de
bens de consumo (combustíveis, material de expediente, salários de funcionários do Estado).
Despesas de Capital, são os gastos realizados pela Administração Pública cujo o propósito é o
de criar novos bens de capital ou mesmo de adquirir bens de capital já em uso, ou seja, são os
gastos que o Estado faz em bens duradoiros ou que contribuam para a geração de poupança
(construção de edifícios públicos, estradas, pontes, reembolsos de empréstimos do Estado). As
operações financeiras são despesas de capital relacionados com empréstimos públicos.
e) Classificação Territorial
5.6.1 Generalidades
O aumento das despesas públicas prende-se essencialmente com a alteração do papel do sector
público na economia e com as transformações ocorridas no Aparelho do Estado, para além da
desvalorização monetária (Ibid.).
Estudos recentes evidenciam que as despesas públicas em Moçambique pecaram por falta de
eficácia, relativamente à situação óptima, como consequência da deficiência da política
orçamental, que podem ser assim resumidas (Ibid.):
Os PSI partem das estratégias e políticas sectoriais com base nas quais se faz uma projecção de
recursos financeiros e programação a médio prazo das despesas. A participação dos parceiros
(doadores) garante melhor enquadramento e controlo dos financiamentos além de garantir o
aumento da eficiência e eficácia das despesas, dada a simplificação de rotinas e procedimentos
de desembolso, aprovisionamento, auditoria, acompanhamento e avaliação. A eficiência das
despesas está, também, a ser alcançada por um alargamento da abrangência do sistema de
Sem ser possível definir um plafond, isto é, definir um limite global, social, política e
economicamente adequado para as despesas públicas, parece ser necessário produzir critérios
para estancar seu crescimento elástico:
A dívida deverá ser limitada em função dos seus efeitos na economia. Então podemos dizer que
o limite da dívida deve corresponder à capacidade da geração presente, de renúncia ao consumo
e, das gerações futuras, de obter rendimento e de suportar o serviço da dívida (amortização do
capital e juros).
A dívida quando externa é um ónus para as gerações futuras. A dívida interna pode ser um ónus
para a geração presente3 e para as gerações futuras4. A dívida contraída para investimento é
melhor do que a dívida em consumo.
Tendência esperada
2
Partindo do entendimento de que todas as despesas, como já visto, criam utilidades, não teríamos despesas
absolutamente improdutivas. As despesas quase-improdutivas, corresponderão às despesas meramente produtivas.
Parece ser melhor e afasta a errónea posição de designá-las improdutivas.
3
Ónus para a geração presente quando decorre de empréstimos que provocam a subida de juros.
4
A dívida é ónus para as gerações futuras quando suportada por empréstimos não usados para investimentos
públicos.
PSI’s têm como ponto de partida as estratégias e políticas sectoriais com base nas quais se faz
uma projecção de recursos financeiros e a programação de médio prazo das despesas.
A participação dos doadores garante melhor enquadramento e controlo dos financiamentos além
de garantir o aumento da eficiência e eficácia da despesa dada a simplificação de rotinas e
procedimentos de desembolso, aprovisionamento, auditoria, acompanhamento e avaliação. A
eficiência das despesas está também a ser conseguida por um alargamento da abrangência do
sistema de centralização, o que facilitará o encerramento das contas do Estado no termo de cada
exercício económico.