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INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E AUDITORIA DE MOÇAMBIQUE

Cursos de Contabilidade e Auditoria, Contabilidade e Fiscalidade, Contabilidade Pública e


Autárquica
FINANÇAS PÚBLICAS

1. O Processo Orçamental (PO)

O Processo Orçamental vem evoluindo a muitos anos e esta evolução deve-se, entre outros factores,
às mudanças operadas nos sistemas políticos, nas teorias económicas, as abordagens de gestão
orçamental, os princípios contabilísticos e na conduta da administração pública. O processo
orçamental compreende um conjunto complexo de fazes, que não tem necessariamente um carácter
sequencial.

O PO deve ainda ser visto como um processo contínuo, não se limitando a cada ano económico. Por
outras palavras, não é um processo que se esgota no próprio ano económico, mas que tem
continuidade ao longo do tempo.

Podemos, assim, considerar dois tipos de PO:

a) Um PO mais amplo, com uma dimensão temporal mais vasta, que inclui não só a
orçamentação anual de recursos e a sua execução, mas também o estabelecimento de
objectivos, politicas, e programas de curto, médio e longo prazo que estão na base dos
orçamentos anuais; (Ex: PQG, PARPA, CFMP, etc)

b) Um PO mais estrito, que tem apenas a ver com a orçamentação e execução anual das receitas
e das despesas, e que se repete todos anos. (Ex: PES, OE ect)

Estes dois processos não são independentes entre si, o 1º engloba e determina o 2º, mas também,
por sua vez, influenciado por este.

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1.1 O Processo Orçamental em Sentido Lato

Qualquer PO envolve a geração, transmissão e utilização de vastas quantidades de informação. A


Primeira fase do PO começa com o estabelecimento de objectivos e metas de natureza económica
e social, tendo em consideração a informação disponível e a realidade económica, social, política e
administrativa do Pais. Com base nos objectivos e nas metas definidas, estabelecem-se as políticas
económicas e sociais.

A fase seguinte compreende o desenvolvimento de programas ou planos financeiros de curto,


médio e longo prazo. Esta envolve a realização de projecções e de previsões, bem como a
formulação de critérios para a selecção de programa.

Estes programas implicam, necessariamente, uma priorização de sectores e áreas, de acordo com as
politicas seleccionadas e as metas e os objectivos.

Os programas terão então, que ter uma expressão anual. A orçamentação anual dos recursos – de
acordo com as metas, os objectivos e os programas – e sua execução constitui a terceira fase do PO
(em sentido lato).

Por último, segue-se a quarta fase de monitoria e avaliação do orçamento executado, dos programas
financeiros e das metas, de forma a garantir a necessária transparência, eficácia e eficiência de todo
o processo.

Esta avaliação servirá, de base para a revisão dos objectivos, metas, politicas e programas do
governo. O acompanhamento e avaliação dos programas e do orçamento, por ex., deverão ser
realizados de forma permanente, e não apenas a posteriori, de forma a permitir a introdução de
correcções a medida que vão sendo implementados.

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O Grupo da disciplina
Estabelecimento de metas,
objectivos e políticas
(Programa do Governo)

Monitoria e Desenvolvimento de
Avaliação (PES, Programas de curto,
Balanços, etc.) medio e longo prazo
(CFMP, PQG, PARPA)

Execução do Elaboração do
Orçamento Orçamento

1.2 O Processo Orçamental em Sentido Estrito

Este processo orçamental que tem apenas a ver com a orçamentação e execução anual das receitas
e das despesas, e que se repete todos os anos. Este, engloba cinco fases, sendo a primeira a da
elaboração da proposta de lei orçamental, a segunda a apresentação e aprovação pela Assembleia
da República. Depois de aprovada segue a terceira fase que a de execução e no fim do ano
económico procede-se ao encerramento das contas e que depois são fiscalizadas, compreendendo
assim, a quarta e quinta fase.

O PO em Moçambique compreende 5 fases:

Fases do Processo Orçamental Órgão envolvidos dos


Direcção Nacional do Orçamento
ELABORAÇÃO DO ORÇAMENTO
Ministério da Planificação e
Desenvolvimento

APROVAÇÃO DO ORÇAMENTO Assembleia da República

 Direcção Nacional da
EXECUÇÃO E ALTERAÇÃO DO Contabilidade Pública;
 Direcções Provinciais do Plano e
ORÇAMENTO
Finanças e;
 Autoridade Tributária.

 Direcção Nacional da
ENCERRAMENTO DAS CONTAS
Contabilidade Pública
 Direcções Provinciais do Plano e
Finanças
 Autoridade Tributária

 Tribunal Administrativo
CONTROLO E FISCALIZAÇÃO  Inspecção-geral das Finanças
 Inspecções Gerais Sectoriais

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1.3 Preparação do Orçamento

A proposta da Lei do Orçamento do Estado, é elaborada pelo Governo e submetida à Assembleia


da República, e deve conter informação fundamentadora sobre as previsões de receitas, os limites
das despesas, o financiamento do défice e todos os elementos que fundamentam a política
orçamental.

Do artigo acima exposto podemos perceber que no nosso país a elaboração do orçamento é da
competência exclusiva do Governo, ou seja, a proposta do orçamento vem do Governo, órgão este
que submete a Assembleia da República em forma de proposta de orçamento, para a posterior
aprovação.

Na elaboração da proposta do orçamento, o governo deverá dar prioridades ao cumprimento do seu


programa e ter em conta a necessária relação entre as previsões orçamentais e a evolução provável
da conjuntura política, económica e social.

Isto quer significar que, o montante e tipo de receitas e despesas a inscrever no orçamento deverão
estar de acordo a política do governo e o momento económico, político e social que se vive no país.

No processo de orçamento encontramos o seguinte ciclo:

O Ministério da Economia e Finanças é o órgão coordenador do Sistema de Orçamento do Estado,


cabendo este até 31 de Maio de cada ano, comunicar a todos serviços ou unidades orgânicas do
Estado (diversos órgãos, instituições, provinciais e autarquias) a metodologia de recolha de
informação e demais instruções a serem respeitados na preparação das respectivas propostas de
orçamento.

2 – Uma vez aprovadas pelo órgão competente da instituição proponente, as diferentes propostas
de orçamento são enviadas à Direcção Nacional do Plano e Orçamento (DNPO);

3 – As diferentes propostas de orçamento são depois analisadas, alteradas e unificadas pelo


Ministério da Economia e Finanças, através da Direcção Nacional do Plano e Orçamento, a luz das
orientações, limites orçamentais e demais instruções.

Caso se verifique alguma irregularidade ou incumprimento, a Direcção Nacional do Plano e


Orçamento, procederá, em conjunto com o proponente, à correcção da respectiva proposta, de forma
a adequá-la aos requisitos exigidos.
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4 – Depois de elaborada a proposta de lei orçamental para o ano seguinte, esta é apresentada ao
Conselho de Ministros pelo Ministério da Economia e Finanças e depois submete-se à Assembleia
da República para apreciação e aprovação.

1.4 Elaboração da Proposta Orçamental

O processo de elaboração do orçamento e da respectiva proposta de Lei envolve sempre, qualquer


que seja o Pais, três dimensões:

1- Política – Tomada de decisão;


2- Económica – Previsões;
3- Técnico-administrativo – Preparação material da proposta de Lei.

Como pode-se observar, o orçamento influencia e é influenciado pela economia. A principal fonte
de financiamento do orçamento – as receitas fiscais – dependentes largamente da actividade
económica e do rendimento dos agentes económicos (famílias e empresas).

Objectivos e Quadro
Prioridades Politicas Macroeconómico
Plurianual
Fixação dos Saldos Orçamentais e
Limite das Despesa Total

Fixação de tectos para Despesas


específicas e da Despesa por Ministério
Coordenação
e Resolução Apreciação e Aprovação em Conselho
de Conflitos de Ministros

Preparação dos Orçamentos por


Ministério

Consolidação dos Orçamentos e


Verificação dos tectos

Preparação da Proposta de Lei

Apreciação e Aprovação em Conselho


de Ministros

APRESENTAÇÃO À ASSEMBLEIA
DA REPÚBLICA

O Governo deve submeter anualmente para apreciação e votação do Parlamento a sua proposta de
Orçamento do Estado sob a forma de proposta de Lei.

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Assim, no quadro legal determina que a proposta de Lei do OE seja constituída por dois elementos
distintos:

O articulado – corresponde a um conjunto de artigos que, em princípio, se deve limitar ao


“estritamente necessário para a execução da política orçamental e financeira” do governo
correspondendo, nomeadamente, as seguintes matérias:

 Condições de aprovação dos mapas orçamentais;


 Alterações ao sistema fiscal (actualização de escalões, alteração de taxas ou criação de novas
taxas, alteração nas deduções -ao estatuto dos benefícios fiscais por exemplo;
 Limites máximos para concessão de empréstimos e de garantias pelo Estado;
 Determinação do aumento do endividamento líquido global para fazer face as necessidades
de financiamento decorrente da execução do OE;
 Montante máximo e condições gerais para a contracção de empréstimos necessários,
nomeadamente, a satisfação das necessidades de financiamento do OE e a amortização da
divida directa do Estado;
 Normas necessárias para orientar a execução orçamental, como seja as relativas as
cativações e as alterações orçamentais.

Para além dos itens acima, também o Governo apresenta a Assembleia da República a proposta do
OE com todos elementos necessários a justificação da política orçamental, nomeadamente:

 O Plano Economico e Social (PES) do Governo;


 O Balanço preliminar da execução do OE do ano em curso;
 A fundamentação da previsão das receitas fiscais e da fixação dos limites das despesas;
 A demonstração de financiamento global do OE com descriminação das principais fontes
de recursos;
 A relação de todos órgãos e instituições do Estado, assim como de todas instituições
autónomas, Empresas Publicas e Autarquias;
 A proposta de Orçamento de todos organismos com autonomia administrativa e financeiras,
Autarquias e Empresas do Estado.
 Mapas globais das previsões das receitas, dos limites das despesas e financiamento do
défice.

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 Mapas das previsões das receitas correntes e de capital de âmbito central e provincial,
classificados de acordo com os critérios orgânico, territorial e por fontes de recursos.
 Mapas dos limites das despesas correntes de âmbito central e provincial, classificados de
acordo com os critérios orgânico, territorial, económico e funcional;
 Mapas das despesas capital de âmbito central e provincial, classificados de acordo com os
critérios orgânico, territorial, económico e funcional; (Art. 24)
 Mapas dos limites das despesas correntes de âmbito central e provincial, classificados de
acordo com os critérios orgânico, territorial, económico e funcional;
 Mapas das despesas capital de âmbito central e provincial, classificados de acordo com os
critérios orgânico, territorial, económico e funcional; (Art. 24, nrs 1, 2, 3 e 4, e alíneas, Lei
9/2002).

1.5 Aprovação da Lei Orçamental (Periodicidade)

O Governo submete a proposta do OE, a AR até o dia 30 de Setembro de cada ano.

A AR delibera sobre a proposta do OE até o dia 15 de Dez de cada ano.(Art. 25, Lei 9/2002)

Aprovação do OE: Aprovado o OE o Governo fica autorizado a:

1. Proceder a gestão e execução do OE aprovado, adoptando as medidas necessárias a cobrança


das receitas previstas e a realização de despesas fixadas;
2. Proceder a captação e canalização de recursos necessários, visando a utilização mais
racional das dotações orçamentais aprovados e observar o princípio da melhor gestão da
tesouraria;
3. Proceder a abertura de créditos, nas condições fixadas pela AR para atender ao défice
orçamental;
4. Realizar operações de crédito por antecipação da receita, para atender défices orçamentais
de tesouraria (Art. 26, nrs 1, 2 e 3 e alíneas, Lei 9/2002)

1.6 Não Aprovação da Proposta do OE

Pode haver atraso na aprovação do orçamento, por necessidade de reformulação do orçamento por
este ter sido rejeitado na Assembleia da República, caso em que o Governo deverá voltar a
apresentar, no prazo de 90 dias, uma nova proposta de orçamento para respectivo ano económico.

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Pode ainda haver atraso na aprovação do orçamento por demissão do governo e por dissolução da
Assembleia da República.

Em casos de atraso ou não aprovação da proposta do orçamento do Estado, é reconduzido o do


exercício anterior, com os limites neles definidos, incluindo os ajustes verificados ao longo desse
exercício, mantendo-se assim em vigor até aprovação do novo Orçamento do Estado.

O recurso ao orçamento executado anteriormente, em caso de atraso ou não aprovação da proposta


orçamental, visa assegurar e dar continuidade ao funcionamento da máquina administrativa.

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