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Na visão popular, portanto, a moeda é a parte do dinheiro com menor valor e, em muitas
situações, desprezível, a ponto de pessoas dispensarem o troco ou os comerciantes se
desculparem por dar troco em moedas. O senso comum descreve aquilo que as pessoas
percebem no seu dia-a-dia, com interpretação muitas vezes distorcida e desprovida de
informações corretas.
Com o passar do tempo as moedas mercadorias encontraram limitações para o seu uso
como: alterações físicas pelo manuseio, distinção entre duas moedas de igual valor,
dificuldade de realização de operações de valor menor, dificuldade de manuseio e
transporte. Desta forma foram substituídas pelo metal, especialmente o ouro e a prata. No
entanto, havia uma questão de ordem prática: os negociantes deveriam saber avaliar a
pureza do metal em cada transacção, alem de pesá-lo para definir os parâmetros de troca.
Isto limitava o comércio, pois somente àqueles que conheciam metais preciosos poderiam
negociar.
Toda esta história se passou, aproximadamente, entre 3500 a.C., quando surgiu a escrita,
e 635 a.C., quando surgiu a moeda cunhada na Lídia. A moeda cunhada pelos lídios era
de uma liga de ouro e prata, ovalada, do tamanho da digital de um polegar, gravada com o
emblema real garantindo a pureza e o peso do metal, ganhando aos poucos o formato
redondo. Com a moeda cunhada surge o conceito de dinheiro, que é a moeda formatada.
«Em síntese, moeda é qualquer bem com características especiais que lhe garante o
exercício de certas funções económicas. O dinheiro é o bem usado como moeda
com formato padronizado».
O nome moeda vem de Juno Moneta, deusa romana, esposa de Júpiter, protectora do
Estado, das mulheres, do casamento, da família, das gestantes e do parto. A cada atributo
lhe era dado um nome adicional, assim, existia Juno Lucina, Juno Prónuba e Juno Sóspita.
Todas eram a mesma: Juno. Em seu templo criavam-se gansos, cujo grasnar advertiu,
certa vez, sobre o ataque dos gauleses. Advertir em latim é monere, da qual origina
Moneta. Era no templo da deusa que se cunhavam o ouro e a prata, o termo moeda
passou a designar o produto fabricado no templo de Juno Moneta.
Por volta de 269 a.C. passou-se a cunhar uma moeda de prata, que trazia a imagem da
deusa e seu nome: moneta (daí a denominação de moeda para as peças redondas e de
metal). A esta moeda deu-se o nome de danarius, do qual deriva denaro, que é a origem
latina de dinheiro. Logo, dinheiro é um tipo de moeda. Todo dinheiro é moeda, mas nem
toda moeda é dinheiro. Quem quiser conhecer mais detalhes sobre o tema recomenda-se:
“A história do dinheiro” de Jack Weatherford, pela Editora Campus. Ricardo Maroni Neto.
Já Walter Marques (1991, pág. 13) faz uma abordagem evolucionista da moeda dizendo
que moeda não é mais apenas um instrumento de troca, mas é ela própria objecto de
procura e oferta para fins de entesouramento e de reserva de valor, tendo um papel a
desempenhar nos ciclos económicos. Aqui evidencia-se o papel que a moeda tem na
definição da política económica.
José Martins Barata (1998, pág. 2) refere que o conceito de moeda pode ser abordado a
partir de uma definição empírica, baseada na realidade observável nas economias
modernas e utilizada na elaboração de estatísticas. Nestes termos, pode-se definir moeda
como um agregado ou um conjunto de três elementos: notas de banco, moedas metálicas,
e depósitos bancários, nas mãos do sector não bancário da economia, assim disposto:
As notas são emitidas por um banco com o estatuto especial e que tem o exclusivo dessa
emissão, que é designada por banco Central, no caso angolano temos o Banco Nacional
de Angola (BNA). As moedas metálicas são cunhadas pelo Tesouro, através da sua “casa
da moeda” (figura ainda ausente no sistema financeiro angolano) que as põe em
circulação através do banco central (assistimos muito recentemente o BNA a colocar em
circulação as novas moedas de um, cinco e dez, vem aí a moeda de vinte). Os depósitos
bancários são os representativos de notas e também se designam por moeda escritural,
na medida em que a movimentação dos respectivos valores não passa de movimentos na
escrita ou contabilidade dos bancos. É no fundo uma moeda imaterial, representativa de
notas.
Não vamos alongar neste sentido, as referências aos autores é com a intenção de
estimular os estudantes a aprofundar esta matéria. Agora interessa-nos tecer algumas
considerações em torno das funções da moeda.
Nas duas aulas que precederam a aula de hoje referimos algumas vezes que a moeda
desempenha três funções: instrumento de trocas ou meio de pagamento (embora hoje
haja uma controversa em torno desta matéria, o que é, se considera instrumento de troca
ou meio de pagamento.), unidade de conta e reserva de valor.
Nesta função a moeda deve ser vista como intermediário nas trocas de bens e
serviços. A moeda aqui constitui um meio de pagamento indeterminado, isto é,
passível de ser utilizado na compra de qualquer bem ou serviço, para pagar
qualquer divida, de forma geral, isto é, aceite por todos, em todo o lado em todas as
circunstâncias (no contexto de um espaço monetário determinado) e de forma
imediata, ou seja, em que a simples transferência deste meio de pagamento
conduza de forma definitiva à extinção da dívida.
Por isso, muitos economistas a consideram como sendo a função mais importante
da moeda, sendo a aceitabilidade geral no processo de troca constitui o atributo
mais importante. Note-se que a aceitabilidade não deve ser confundida com a
desejabilidade, são os bens que devem ser desejados e não a moeda. A moeda só
é aceite porque permite adquirir os bens desejados. A moeda circula assim no
processo indefinitivamente enquanto perdurar a sua aceitabilidade: ela só se destrói
quando deixa de ser aceite, por exemplo, nos casos de hiperinflação, como os que
vivemos anos atrás, a hiperinflação Alemã, brasileira, ou a que vive ainda o
Zimbabué. Diz-se por conseguinte que a razão da aceitabilidade da moeda é a sua
aceitabilidade, conduzindo-nos numa tautologia.
Esta função traduz-se no facto de a moeda permitir medir o valor, satisfaz a função
de unidade de conta e nesta óptica pode ser definida como o bem no qual se
exprimem os preços de todos outros bens. A moeda é o denominador comum dos
valores que podem por isso ser calculados e comprados: ela conduz-nos das
múltiplas avaliações possíveis de uma mercadoria aos preços relativos, ou seja, o
valor de troca de um bem em termos de outro bem, numa só avaliação em moeda
ou preço absoluto.
Os indivíduos podem utilizar os seus rendimentos (óptica dos fluxos), ou deter o seu
património (óptica de stocks) de diferentes formas: investindo em activos reais (seja
em bens de produção – terra, imóveis, carros, equipamentos domésticos) ou
detendo moeda (a forma mais líquida, em depósitos nos Bancos).
A função da moeda como unidade de conta suscita a distinção entre preço absoluto e
preço relativo. O preço absoluto é a quantidade de moeda necessária para se obter ou
adquirir uma unidade do referido bem, ou seja, é o valor do bem expresso em moeda. O
preço relativo exige que se considerem dois preços absolutos, uma vez que é definido
como um quociente. Por exemplo, se p1 e p2 designarem os preços absolutos de bem 1 e
2, respectivamente, p1/p2 é o preço relativo do bem 1 expresso em unidades do bem 2.
Significa a quantidade de unidades do bem 2 a pagar por cada unidade de bem 1 (José
Barata, 1998, pág. 4).
Por outro lado a moeda tem um preço absoluto e um preço relativo. Convencionalmente, o
seu preço absoluto é 1, pois “um Kwanza” vale “um kwanza” e isso não exprime uma
medida de valor. Mas se, por exemplo, a moeda se confundir com um certo bem -
suponhamos que é o ouro e se convenciona que uma unidade monetária é igual ao valor
de uma unidade de metal – o preço absoluto da moeda é igual ao seu preço relativo em
relação a esse metal, que já exprime um valor, neste caso medido em relação ao ouro.
Entretanto, convém referir que modernamente, a moeda não está intrinsecamente ligada a
qualquer metal ou mercadoria, como era no padrão ouro.
Igualmente, Uma forma de perceber melhor as funções da moeda ao longo dos tempos, é
olhar para a evolução dos sistemas de pagamentos, ou sistemas financeiros. Portanto, a
função da moeda (angular, escudo angolano, e Kuanzas), só poderão melhor ser
compreendidos se olharmos com alguma substância os sistemas de pagamento e a
estrutura do sistema financeiro. Não seria muito difícil, fazermos uma leitura clara do papel
que a moeda desempenhou em cada uma das etapas de desenvolvimento económico e
social. Por conseguinte, este é mais um motivo para desafiar os estudantes a
aprofundarem esta matéria, que não será possível no contexto deste curso por limitação
de tempo.
Uma forma de vermos a evolução das funções da moeda e as formas que tomou ao longo
dos anos, é de facto olharmos para a evolução dos sistemas de pagamento, a forma de
condução das transacções na economia. Os sistemas de pagamentos têm evoluído ao
longo dos séculos, com ela as diversas formas de moeda. Há certa altura, os metais
preciosos, tais como o ouro, a prata, foram usados como meios de pagamento e foram as
principais formas de moeda, melhor de dinheiro. Mais tarde emergiram os cheques de
papeis, foi assim que as formas representativas de dinheiro começaram a ser usadas
pelos sistemas de pagamento como forma de extinguir uma obrigação ou receber em troca
um bem, então vistas como moeda.
Na realidade angolana teríamos que voltar ao período que o sal, as peles, a borracha, os
colares feitos de fatias de conchas, foram utilizados nas trocas comerciais. Mas foram as
conchas de que emergiu o Zimbo, talvez a figura monetárias mais representativa da
história passada da moeda no espaço que hoje chamamos de Angola. Com a afirmação
da colonização surgiram várias unidades monetárias, como o Reis, o Angular, o Escudo, o
Escudo Angolano, o nosso Kwanza, que também passou por várias fases: Kwanza,
Kwanza reajustado, Novo Kwanza, voltou depois ao Kwanza.
Não pretendo alongar muito mais com os aspectos históricos da moeda, certamente ao
longo do nosso curso voltaremos à estes assuntos e nesta altura poderemos dissecar algo
que não tenha ficado bem ilustrado ou explicado. Entretanto, no decurso da preparação
desta aula, deparei-me com este URL que pode aprofundar o vosso conhecimento sobre a
evolução histórica da moeda em Angola, eis aqui
http://cangue.blogspot.com/2008/05/evoluo-da-moeda-angola-de-reis-ao.html. Por agora
basta vermos que da macuta chegamos aos cheques electrónicas moeda papel, moeda
escritural (cheques, papel moeda, livranças, etc.), pagamentos electrónicos (TPAs, e-
payment), moeda electrónica (e-money).
Depois da abordagem genérica sobre moeda ficam por esclarecer aspectos, que a meu
ver são meramente uma questão de terminologia ou conceptual, pois todos sabem o que
significa. Refiro-me precisamente ao que o programa refere desde o ponto 2.3.3, ao ponto
g) do ponto 2.3.5., que passamos de revista o que é cada um destes produtos e
instrumentos financeiros.