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CAPÍTULO II – FENOMENO MONETÁRIO NO PLANO INTERNO

2.- Noção, Origem, Tipos de Moeda e Sua Função

A pergunta que se me oferece fazer é a seguinte: “moeda” e “dinheiro” é uma e a mesma


coisa, ou há diferenças. Se há, são diferenças de forma ou conceptuais, ou, são mesmo
diferenças de substância? Segundo o autor do texto (“A história do dinheiro” de Jack
Weatherford”), moeda e dinheiro, diz que são duas palavras que ocupam o dia-a-dia de
bilhões de pessoas no mundo, muitas vezes se substituindo. Mas será que são sinónimos
perfeitos? Qual a diferença entre moeda e dinheiro? As perguntas são simples. As
respostas nem tanto, porque requer um mergulho na história para obtê-las.

O senso comum chama de moeda as peças metálicas, geralmente redondas, de valor


igual ou inferior à unidade monetária e que são fundamentais para realização de
operações de baixo valor ou de valores não inteiros. Assim, numa visão popular são
moedas as unidades de um, cinco, dez, vinte e cinco, cinquenta centavos de dólar e de um
dólar. Também pelo senso comum, o dinheiro dá nome aos meios de pagamento, as
unidades de medida e as cédulas de papel.

Na visão popular, portanto, a moeda é a parte do dinheiro com menor valor e, em muitas
situações, desprezível, a ponto de pessoas dispensarem o troco ou os comerciantes se
desculparem por dar troco em moedas. O senso comum descreve aquilo que as pessoas
percebem no seu dia-a-dia, com interpretação muitas vezes distorcida e desprovida de
informações corretas.

O conceito de moeda, por exemplo, é económico, descrevendo um bem qualquer que


serve para intermediar trocas, tem aceitação geral, permite avaliar outros produtos e
possui certos atributos físicos específicos. Note-se que moeda é um bem qualquer, tanto
que as primeiras moedas foram mercadorias. Gado, sal, fumo, escravos, conchas, mel,
peixes secos, arroz, rum, peles de animais, entre outros, são exemplos de moeda
mercadoria. Deve-se destacar que a invenção da moeda favoreceu a evolução das
actividades económicas, pois desvinculou a venda da compra, pois até então a Economia
era baseada na troca directa (barte).

Com o passar do tempo as moedas mercadorias encontraram limitações para o seu uso
como: alterações físicas pelo manuseio, distinção entre duas moedas de igual valor,
dificuldade de realização de operações de valor menor, dificuldade de manuseio e
transporte. Desta forma foram substituídas pelo metal, especialmente o ouro e a prata. No
entanto, havia uma questão de ordem prática: os negociantes deveriam saber avaliar a
pureza do metal em cada transacção, alem de pesá-lo para definir os parâmetros de troca.
Isto limitava o comércio, pois somente àqueles que conheciam metais preciosos poderiam
negociar.
Toda esta história se passou, aproximadamente, entre 3500 a.C., quando surgiu a escrita,
e 635 a.C., quando surgiu a moeda cunhada na Lídia. A moeda cunhada pelos lídios era
de uma liga de ouro e prata, ovalada, do tamanho da digital de um polegar, gravada com o
emblema real garantindo a pureza e o peso do metal, ganhando aos poucos o formato
redondo. Com a moeda cunhada surge o conceito de dinheiro, que é a moeda formatada.
«Em síntese, moeda é qualquer bem com características especiais que lhe garante o
exercício de certas funções económicas. O dinheiro é o bem usado como moeda
com formato padronizado».

O nome moeda vem de Juno Moneta, deusa romana, esposa de Júpiter, protectora do
Estado, das mulheres, do casamento, da família, das gestantes e do parto. A cada atributo
lhe era dado um nome adicional, assim, existia Juno Lucina, Juno Prónuba e Juno Sóspita.
Todas eram a mesma: Juno. Em seu templo criavam-se gansos, cujo grasnar advertiu,
certa vez, sobre o ataque dos gauleses. Advertir em latim é monere, da qual origina
Moneta. Era no templo da deusa que se cunhavam o ouro e a prata, o termo moeda
passou a designar o produto fabricado no templo de Juno Moneta.

Por volta de 269 a.C. passou-se a cunhar uma moeda de prata, que trazia a imagem da
deusa e seu nome: moneta (daí a denominação de moeda para as peças redondas e de
metal). A esta moeda deu-se o nome de danarius, do qual deriva denaro, que é a origem
latina de dinheiro. Logo, dinheiro é um tipo de moeda. Todo dinheiro é moeda, mas nem
toda moeda é dinheiro. Quem quiser conhecer mais detalhes sobre o tema recomenda-se:
“A história do dinheiro” de Jack Weatherford, pela Editora Campus. Ricardo Maroni Neto.

Concluindo e sem deixar reservas na perspectiva económica, há sim distinção entre


dinheiro e moeda. Por exemplo na óptica de Barata (1998, pág. 3) a dinheiro tem a
acepção da linguagem comum e significa notas e moedas admitidas em circulação. A
moeda tem um significado técnico e consiste no dinheiro possuído pelos agentes
económicos não bancários, seja sob forma de notas e moedas, seja sob a forma de
depósitos em bancos, representativos dessas duas espécies. Voltaremos à este temática
no decorrer do curso, por agora creio que fica completamente esclarecido esta confusão
que surgiu entre o comum, o jurídico e o económico, no que toca ao dinheiro.

2.1.- Discussão Conceptual de Moeda

Depois de já termos mergulhado na discussão da diferença entre moeda e dinheiro, pensei


que vale a pena agora sistematizarmos as perspectivas de vários autores contemporâneos
sobre o conceito de moeda. Qual será então a definição mais simples de moeda, que não
nos leve à interpretações complicados e do fórum filosófico? Margarida Abreu e Outros
(2007, pág. 24), dizem que o conceito simples de moeda geralmente aceite pelos
economistas, define moeda como sendo qualquer coisa que serve para comprar um bem
ou serviço ou que possa ser usada para o pagamento (extinção definitiva) de uma dívida.

Acrescem os autores que do ponto de vista institucional a compreensão do conceito de


moeda exige a integração desta no conjunto das instituições que compõem hoje a
sociedade moderna, em particular, a existência de um Estado com a exclusividade de
emissão da moeda, e de um sistema jurídico que determina a obrigatoriedade da sua
aceitação ao nível de um certo espaço territorial. Deste ponto de vista, pode-se definir
moeda como todo o activo que constitua uma forma imediata de solver débitos
(obrigação) com a aceitabilidade geral e disponibilidade imediata, cuja posse confere ao
seu titular um direito de saque sobre o produto social.

Já Walter Marques (1991, pág. 13) faz uma abordagem evolucionista da moeda dizendo
que moeda não é mais apenas um instrumento de troca, mas é ela própria objecto de
procura e oferta para fins de entesouramento e de reserva de valor, tendo um papel a
desempenhar nos ciclos económicos. Aqui evidencia-se o papel que a moeda tem na
definição da política económica.

José Martins Barata (1998, pág. 2) refere que o conceito de moeda pode ser abordado a
partir de uma definição empírica, baseada na realidade observável nas economias
modernas e utilizada na elaboração de estatísticas. Nestes termos, pode-se definir moeda
como um agregado ou um conjunto de três elementos: notas de banco, moedas metálicas,
e depósitos bancários, nas mãos do sector não bancário da economia, assim disposto:

Moeda={Notas, moedas metálicas, depósitos bancários}

As notas são emitidas por um banco com o estatuto especial e que tem o exclusivo dessa
emissão, que é designada por banco Central, no caso angolano temos o Banco Nacional
de Angola (BNA). As moedas metálicas são cunhadas pelo Tesouro, através da sua “casa
da moeda” (figura ainda ausente no sistema financeiro angolano) que as põe em
circulação através do banco central (assistimos muito recentemente o BNA a colocar em
circulação as novas moedas de um, cinco e dez, vem aí a moeda de vinte). Os depósitos
bancários são os representativos de notas e também se designam por moeda escritural,
na medida em que a movimentação dos respectivos valores não passa de movimentos na
escrita ou contabilidade dos bancos. É no fundo uma moeda imaterial, representativa de
notas.

Não vamos alongar neste sentido, as referências aos autores é com a intenção de
estimular os estudantes a aprofundar esta matéria. Agora interessa-nos tecer algumas
considerações em torno das funções da moeda.

2.2.- As Funções da Moeda

Nas duas aulas que precederam a aula de hoje referimos algumas vezes que a moeda
desempenha três funções: instrumento de trocas ou meio de pagamento (embora hoje
haja uma controversa em torno desta matéria, o que é, se considera instrumento de troca
ou meio de pagamento.), unidade de conta e reserva de valor.

A) Função de Meio de Pagamento

Nesta função a moeda deve ser vista como intermediário nas trocas de bens e
serviços. A moeda aqui constitui um meio de pagamento indeterminado, isto é,
passível de ser utilizado na compra de qualquer bem ou serviço, para pagar
qualquer divida, de forma geral, isto é, aceite por todos, em todo o lado em todas as
circunstâncias (no contexto de um espaço monetário determinado) e de forma
imediata, ou seja, em que a simples transferência deste meio de pagamento
conduza de forma definitiva à extinção da dívida.

O uso da moeda como meio de pagamento permite eliminar a necessidade de uma


dupla coincidência de vontades no acto de troca. Igualmente uso da moeda como
meio de pagamento promove a eficiência económica na medida em que diminui o
tempo gasto no processo de troca de bens e serviços, quer dizer, diminui os custos
de transacção, elimina a troca directa, o chamado birte, ou troca directa de
mercadorias, que se assiste nos momentos que a moeda deixa de cumprir
cabalmente a função de meio de pagamento, a nossa moeda já conheceu estes
momentos. Por conseguinte, é jus afirmar que o uso da moeda aumenta a eficiência
económica uma vez que permite a especialização de cada indivíduo naquilo que
cada um faz de melhor, encorajando assim a divisão de trabalho.

Por isso, muitos economistas a consideram como sendo a função mais importante
da moeda, sendo a aceitabilidade geral no processo de troca constitui o atributo
mais importante. Note-se que a aceitabilidade não deve ser confundida com a
desejabilidade, são os bens que devem ser desejados e não a moeda. A moeda só
é aceite porque permite adquirir os bens desejados. A moeda circula assim no
processo indefinitivamente enquanto perdurar a sua aceitabilidade: ela só se destrói
quando deixa de ser aceite, por exemplo, nos casos de hiperinflação, como os que
vivemos anos atrás, a hiperinflação Alemã, brasileira, ou a que vive ainda o
Zimbabué. Diz-se por conseguinte que a razão da aceitabilidade da moeda é a sua
aceitabilidade, conduzindo-nos numa tautologia.

B) Função de Unidade de Conta

Esta função traduz-se no facto de a moeda permitir medir o valor, satisfaz a função
de unidade de conta e nesta óptica pode ser definida como o bem no qual se
exprimem os preços de todos outros bens. A moeda é o denominador comum dos
valores que podem por isso ser calculados e comprados: ela conduz-nos das
múltiplas avaliações possíveis de uma mercadoria aos preços relativos, ou seja, o
valor de troca de um bem em termos de outro bem, numa só avaliação em moeda
ou preço absoluto.

A utilização da moeda como unidade de conta na economia também reduz os


custos de transacção, na medida em que reduz o número de preços que devem ser
considerados. A demonstração de importância desta função é devida a Walras, (in
Margarida Abreu, 2009, pág. 26).Walras demonstra que existindo um equivalente
geral (moeda), as relações independentes de troca entre n bens, não são, como à
priori, seria de pensar, tão numerosas quanto o número de relações dois a dois
existentes, isto é n(n-1)/2, mas apenas de (n-1)7. É deste modo que a qualidade de
unidade de conta simplifica as trocas e não de instrumento de troca. Mesmo que as
trocas continuem a ser directas, de produto a produto, a existência de uma unidade
de conta simplificou significativamente este processo. Na actualidade, muitos
autores consideram a função de unidade de conta, a função mais importante. Estes
autores defendem-se argumentando que a moeda é instrumento de cálculo
económico ligado à troca antes de ser o bem intermediário físico das trocas.

C) Função Reserva de Valor

Esta função é a menos polémica porquanto é reconhecidamente uma função


derivada do facto de a moeda ser o meio de pagamento por excelência. A moeda
pode constituir um abrigo temporário do poder de compra na medida em que, se ela
não pudesse ser utilizada como instrumento de troca, não viria à ideia de ninguém a
constituição de reservas monetárias. Na sua função de reserva de valor, a moeda
pode ser considerada como um activo de património, uma vez que ela é uma das
formas que a riqueza pode assumir.

Os indivíduos podem utilizar os seus rendimentos (óptica dos fluxos), ou deter o seu
património (óptica de stocks) de diferentes formas: investindo em activos reais (seja
em bens de produção – terra, imóveis, carros, equipamentos domésticos) ou
detendo moeda (a forma mais líquida, em depósitos nos Bancos).

A função da moeda como unidade de conta suscita a distinção entre preço absoluto e
preço relativo. O preço absoluto é a quantidade de moeda necessária para se obter ou
adquirir uma unidade do referido bem, ou seja, é o valor do bem expresso em moeda. O
preço relativo exige que se considerem dois preços absolutos, uma vez que é definido
como um quociente. Por exemplo, se p1 e p2 designarem os preços absolutos de bem 1 e
2, respectivamente, p1/p2 é o preço relativo do bem 1 expresso em unidades do bem 2.
Significa a quantidade de unidades do bem 2 a pagar por cada unidade de bem 1 (José
Barata, 1998, pág. 4).

Por outro lado a moeda tem um preço absoluto e um preço relativo. Convencionalmente, o
seu preço absoluto é 1, pois “um Kwanza” vale “um kwanza” e isso não exprime uma
medida de valor. Mas se, por exemplo, a moeda se confundir com um certo bem -
suponhamos que é o ouro e se convenciona que uma unidade monetária é igual ao valor
de uma unidade de metal – o preço absoluto da moeda é igual ao seu preço relativo em
relação a esse metal, que já exprime um valor, neste caso medido em relação ao ouro.
Entretanto, convém referir que modernamente, a moeda não está intrinsecamente ligada a
qualquer metal ou mercadoria, como era no padrão ouro.

Igualmente, Uma forma de perceber melhor as funções da moeda ao longo dos tempos, é
olhar para a evolução dos sistemas de pagamentos, ou sistemas financeiros. Portanto, a
função da moeda (angular, escudo angolano, e Kuanzas), só poderão melhor ser
compreendidos se olharmos com alguma substância os sistemas de pagamento e a
estrutura do sistema financeiro. Não seria muito difícil, fazermos uma leitura clara do papel
que a moeda desempenhou em cada uma das etapas de desenvolvimento económico e
social. Por conseguinte, este é mais um motivo para desafiar os estudantes a
aprofundarem esta matéria, que não será possível no contexto deste curso por limitação
de tempo.

2.3.- Evolução História da Moeda

Uma forma de vermos a evolução das funções da moeda e as formas que tomou ao longo
dos anos, é de facto olharmos para a evolução dos sistemas de pagamento, a forma de
condução das transacções na economia. Os sistemas de pagamentos têm evoluído ao
longo dos séculos, com ela as diversas formas de moeda. Há certa altura, os metais
preciosos, tais como o ouro, a prata, foram usados como meios de pagamento e foram as
principais formas de moeda, melhor de dinheiro. Mais tarde emergiram os cheques de
papeis, foi assim que as formas representativas de dinheiro começaram a ser usadas
pelos sistemas de pagamento como forma de extinguir uma obrigação ou receber em troca
um bem, então vistas como moeda.

Na realidade angolana teríamos que voltar ao período que o sal, as peles, a borracha, os
colares feitos de fatias de conchas, foram utilizados nas trocas comerciais. Mas foram as
conchas de que emergiu o Zimbo, talvez a figura monetárias mais representativa da
história passada da moeda no espaço que hoje chamamos de Angola. Com a afirmação
da colonização surgiram várias unidades monetárias, como o Reis, o Angular, o Escudo, o
Escudo Angolano, o nosso Kwanza, que também passou por várias fases: Kwanza,
Kwanza reajustado, Novo Kwanza, voltou depois ao Kwanza.

Não pretendo alongar muito mais com os aspectos históricos da moeda, certamente ao
longo do nosso curso voltaremos à estes assuntos e nesta altura poderemos dissecar algo
que não tenha ficado bem ilustrado ou explicado. Entretanto, no decurso da preparação
desta aula, deparei-me com este URL que pode aprofundar o vosso conhecimento sobre a
evolução histórica da moeda em Angola, eis aqui
http://cangue.blogspot.com/2008/05/evoluo-da-moeda-angola-de-reis-ao.html. Por agora
basta vermos que da macuta chegamos aos cheques electrónicas moeda papel, moeda
escritural (cheques, papel moeda, livranças, etc.), pagamentos electrónicos (TPAs, e-
payment), moeda electrónica (e-money).

2.4.- Formas Representativas de Moeda e Meios de Pagamentos

As medidas de moeda num sistema financeiro estão assim estruturadas: M1, M2 e M3

M1=C+DO) C= representa a massa monetária em circulação, ou seja o dinheiro nas mãos


das pessoas e o dinheiro nos depósitos a ordem nos bancos comerciais.

O M2= M2=M1+DP), é representado pelo M1 + os depósitos há prazo, poupanças


diversas, fundos mutuários, ainda pouco vulgares no nosso mercado financeiro, o que os
anglo-saxónicos chamam de Money Market, dinheiro disponível no mercado para atender
situações imediatas de investimento de curta duração;
M3 ou L (M1+DP+BT+CD), sendo M1 o agregado monetário mais estreito e mais liquido,
depósitos e circulação de moeda e M3 ou L o agregado monetário mais largo e menos
líquido)}. Aqui encontramos activos de maturidade mais alargada. Naturalmente com as
pressões inflacionárias do passado e a inexistência do próprio mercado de capital, não
eram viáveis investimentos de longo prazo.

2.5.- Aspectos Genéricos sobre Moeda

Depois da abordagem genérica sobre moeda ficam por esclarecer aspectos, que a meu
ver são meramente uma questão de terminologia ou conceptual, pois todos sabem o que
significa. Refiro-me precisamente ao que o programa refere desde o ponto 2.3.3, ao ponto
g) do ponto 2.3.5., que passamos de revista o que é cada um destes produtos e
instrumentos financeiros.

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