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Moeda

0.1. Introdução

Quando falamos em Moeda, abrange não só as moedas metálicas e notas (que todos
conhecemos), mas também cartões de crédito, cheques, libras de ouro, etc. Mas, nem
todos são aceites como forma de pagamento.

Moeda - é um bem, expresso numa unidade (unidade de conta), que permite medir e
comparar o valor de todos os bens e serviços, e que tem aceitação geral na comunidade.
É um intermediário nas trocas (compra e venda).

0.2. Evolução da moeda – da troca direta à troca indireta

Nem sempre a moeda existiu como hoje a conhecemos. Inicialmente existiu a troca
direta tendo, com a evolução dos tempos, passado a troca indireta.
A partir do momento em que se sedentarizaram, os homens começaram a dedicar-se a
atividades como a agricultura, que gerava mais bens do que aqueles que eram
necessários. Surgia então a divisão natural do trabalho, dando origem à especialização
das tarefas, ao desenvolvimento de instrumentos de trabalho e, consequentemente, a
um aumento da produção, que tornava possível a existência de um excedente. O
excedente da produção de cada indivíduo podia ser trocado por outros bens de que
necessitasse, dando-se, assim, início a um sistema de trocas.

Troca Direta – Consistia numa permuta de um bem por outro bem; estabelecia-se um
acordo comum entre quem estava disposto a trocar os dois bens.
0123/v00119042011
Moeda e Financiamento da Atividade Económica

Limites/Inconvenientes:
 Dupla coincidência de desejos: necessária a existência simultânea de
duas partes/pessoas, cada uma delas desejando adquirir o bem possuído
pela outra;
 Atribuição de valor aos bens: impossibilidade de determinar o valor de
uma mercadoria em relação a todas as outras; Necessidade de atribuir o
mesmo valor aos bens a trocar ou de arranjar outros bens para
compensar a diferença de valores, quando fossem indivisíveis;
 Transporte dos bens: a mobilidade dos bens nem sempre era fácil;
 Complicado com bens perecíveis;
 Indivisibilidade dos bens: muitos bens eram de dificilmente divisíveis;
 Uso não económico: havia utilizações dos produtos ou bens para além do
uso para troca, podendo ser mais úteis para outras alternativas (gado, sal,
etc.);
 Instabilidade do valor: alterações repentinas.

A troca direta constituía, assim, um entrave ao desenvolvimento das trocas e da


economia. Como forma de ultrapassar os inconvenientes da troca direta, surge a troca
indireta, que inclui um novo intermediário: a moeda-mercadoria, que constitui a forma
mais rudimentar de moeda.

Troca Indireta – Troca em que uma unidade de valor de uma dada mercadoria era aceite
e reconhecida por toda a comunidade – moeda-mercadoria (tecidos, gado, peles, sal,
etc.).

Desta forma, trocava-se o bem que se possuía pelo bem intermediário (moeda), para
depois utilizá-lo para adquirir outros bens (duas fases). Um bem tinha o papel de moeda.

2 Formadora: Tatiana Terron Ribeiro


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Limites/Inconvenientes:
 Possível falta de moeda (dado ser um bem útil); O bem de troca era utilizado
para outros fins que não os monetários;
 Não era fácil nem conveniente o seu fracionamento (gado, peles, etc.);
 Transporte difícil;
 Difícil conservação (no caso dos bens perecíveis).

Todos estes inconvenientes vieram a ser ultrapassados com a introdução dos metais
preciosos como moeda, principalmente o ouro e a prata.

Troca monetária – A moeda passou a funcionar como um denominador comum para


determinar o valor de bens existentes no mercado, permitindo o seu alargamento
através de operações de compra e venda.

Vantagens:
 Divisibilidade;
 Conservação;
 Durabilidade;
 Transporte;
 Baixa procura não monetária, ou seja, os indivíduos atribuíam-lhes valor mas
não lhes davam grande utilidade;
 Aceitação generalizada.

0.3. Tipos de moeda

Moeda-Mercadoria – Utilizada na troca indireta, quando uma dada mercadoria era


aceite e reconhecida por toda a comunidade como intermediário na troca. Podia ser
qualquer bem que a comunidade considerasse útil (tecidos, chá, sal, etc.). Forma mais
rudimentar de moeda.

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Moeda metálica – Os metais de aceitação generalizada são usados como intermediário


nas trocas. Os lingotes (barra de metal fundido) passaram a ser fracionados, com a
indicação do peso e do título do metal precioso.

Fases da moeda metálica:


 Moeda pesada: inicialmente, sendo a moeda em ouro ou prata, o valor da moeda
correspondia ao seu peso. Dispunha-se de uma balança para se pesar a moeda e
assim se efetuarem as transações;
 Moeda contada: como o método anterior não era muito prático, a moeda assumiu
a forma de pequenos discos, com pesos determinados, bastando contar os discos
para determinar as quantidades/valor desejadas;
 Moeda cunhada: após as duas fases anteriores, tornava-se necessário garantir a
autenticidade e o peso da moeda, o que levou as autoridades (rei, imperador, etc.)
a inscrever cada uma das faces da moeda, de forma a dar confiança à população
sobre a sua autenticidade e valor.

Com a intensificação das trocas comerciais, a moeda metálica começou a apresentar


alguns inconvenientes como o aparecimento de dificuldades relativamente ao seu
transporte (assaltos). Para resolver esta situação, os comerciantes depositavam as suas
moedas num cambista (banqueiro) de uma cidade, recebendo em troca um certificado
de depósito ou uma letra de câmbio com o valor da moeda que lhes era entregue,
podendo ser levantado noutra cidade mesmo distante. Estes certificados passaram a ser
aceites como meio de pagamento, pois representavam o ouro que estava depositado. A
moeda passou assim a ter um suporte em papel, sendo designada moeda-papel.

Fases da Moeda papel:


Moeda papel (moeda representativa) – Era um documento recebido quando se
depositava ouro e/ou prata no banco. Fazia corresponder, através de um certificado
representativo, uma determinada quantia em ouro ou prata previamente depositada.
Este documento não constituía uma nova moeda, mas substituía o metal, tornando-se
mais cómodo.

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Para evitar situações de abuso e regular a situação, o Estado chamou a si a exclusividade


de toda a emissão de moeda, decretando a obrigatoriedade de aceitação da moeda-
papel, tornando o seu curso forçado e tornando-a inconvertível, não sendo possível
trocá-la por ouro ou prata. A moeda passou a circular com base na confiança que as
pessoas depositavam, sendo por isso uma moeda fiduciária (do latim fidus, que significa
fé).

Moeda fiduciária – Os bancos começaram a aumentar a emissão de notas, em valor


superior ao depositado. A moeda papel era aceite pela comunidade, porque se baseava
na confiança do emissor.

Quando a emissão de moeda passou a ser confiada aos bancos emissores (instituições
financeiras controladas pelo Estado), iniciou-se a fase do papel-moeda. O papel-moeda
(notas) vigora até aos dias de hoje e apresenta como principais vantagens a facilidade
de transportes, manuseamento e guarda.

Papel-Moeda – As notas são inconvertíveis e de curso forçado pelo Estado.

Mais tarde começou a ser usada a moeda escritural.

Moeda escritural – Constituída pelos depósitos bancários ou, melhor dizendo, pelos
saldos credores das contas correntes nos bancos. Os pagamentos feitos por moeda
escritural realizam-se apenas mediante a movimentação das contas que os clientes
possuem nos bancos (cheques, transferências, ordens de pagamento ou catões
multibanco).

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Em resumo:

EVOLUÇÃO DOS TIPOS DE MOEDA

MOEDA MERCADORIA

MOEDA METÁLICA
 Pesada
 Contada
 Cunhada

MOEDA PAPEL
 Moeda representativa
 Moeda fiduciária
 Papel-moeda

MOEDA ESCRITURAL

0.4. Funções da moeda

As funções da moeda são:


Meio de pagamento/troca – É um instrumento universal de aquisição de bens e
serviços, servindo de intermediária nos atos de compra e venda. Sendo aceite por todos,
permite adquirir bens e serviços.
Medida de Valor ou unidade de conta – É um instrumento de medida de valores dos
bens e serviços, permitindo calcular o valor de todos os bens transacionados e compará-
los. É a moeda que expressa os valores dos bens e serviços.
Reserva de Valor – A moeda permite a poupança, não se tornando imprescindível a sua
utilização imediata. Os seus possuidores podem conservá-la, aplicá-la futuramente. É
possível guardar moeda com vista a adquirir bens e serviços no futuro.

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0.5. As novas formas de pagamento - desmaterialização da moeda

Com a evolução dos tempos, assistimos a uma desmaterialização da moeda, visto que
o seu valor físico/material é muito inferior ao nominal (valor que lhe é atribuído). A
passagem da moeda papel ao papel-moeda, em que perde a sua convertibilidade em
metal precioso, passando a circular por força de disposições legais, sob a forma de
pedaços de papel.
Esta desmaterialização tem por base a confiança que os cidadãos têm no Estado, sendo
este que determina e garante a sua emissão. Os proprietários deixam cada vez mais de
possuir um bem para passar a ter apenas documentos comprovativos da sua posse. Esta
perda do conteúdo material da moeda é também gerada pela crescente utilização da
moeda escritural.

A desmaterialização acentuou-se com a evolução tecnológica, com o uso de cartões-


eletrónicos, multibancos e computadores ligados ao banco (homebanking).

A moeda caracteriza-se pela sua liquidez, ao contrário de outros bens, que não podem
ser aplicados em qualquer momento - Liquidez da moeda. Existem meios de pagamento
que não possuem tanta liquidez como a moeda mas podem ser facilmente
transformados em moeda (depósitos, cheques) - Quase-moeda.

Formas atuais de moeda

Moeda divisionária ou de trocos: constituída pela moeda metálica, utilizada, sobretudo,


paga pagamentos de baixo valor;

Papel-moeda: notas de banco, utilizadas principalmente para pagamentos de valor mais


elevado;

Moeda escritural: constituída por depósitos previamente efetuados nos bancos e que
pode ser movimentada, através de cheque, cartões de crédito e débito, etc.

7 Formadora: Tatiana Terron Ribeiro

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