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IESDE BRASIL
2019
© 2019 – IESDE BRASIL S/A.
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direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Rawpixel.com/Shutterstock
Apresentação 7
1 Princípios de negociação 9
1.1 Conceitos e objetivos sobre negociação 9
1.2 A negociação em um cenário de crise 21
1.3 A negociação e os retornos financeiros: as empresas e os acionistas 23
2 Técnicas de negociação 29
2.1 Habilidades básicas das equipes de negociação 29
2.2 Formas de negociação 34
2.3 Negociações complexas 37
2.4 A teoria dos jogos 42
4 Gestão de conflitos 65
4.1 Os conflitos nas negociações 65
4.2 Emoção, inteligência e negociação 69
4.3 A efetividade na negociação: o espírito empreendedor 71
5 A negociação internacional 81
5.1 Teoria das Vantagens Comparativas e negociação internacional 81
5.2 Acordos oligopolísticos: uma negociação entre parceiros? 86
5.3 As incorporações, fusões e aquisições das empresas transnacionais 90
Gabarito 97
Apresentação
A negociação efetiva possibilita reduzir o impacto das crises econômicas que podem envolver
todos os agentes de uma sociedade, sejam pessoas físicas ou organizações. Entre os resultados de
uma negociação bem-sucedida, podemos mencionar o aumento da renda, a possibilidade de novos
investimentos, a aproximação de pessoas, a análise de alternativas e a ampliação da prosperidade.
Bons estudos!
1
Princípios de negociação
GOVERNO
FAMÍLIAS
• Cobrança de impostos • Acordos políticos
• Pagamento de salários • Distribuição de produtos/serviços
• Distribuição de impostos • Resto do mundo
• Remuneração aos fornecedores • Importação/exportação
• Aspectos legais • Barreiras alfandegárias
• Aspectos legais • Isenção de impostos
• Financiamentos • Metas econômicas
• Obtenção de crédito bancário • Pagamento de impostos
• Subsídios • Mercado financeiro
• Financiamentos • Mercado financeiro
• Intervenções no • Tecnologias
• Infraestrutura • Meio ambiente
mercado • Meio ambiente
• Tecnologias
Fluxo circular
de renda
Observe que cada item presente na Figura 1 está relacionado a um tipo de negociação e a
formas de se obter vantagem perante uma situação em detrimento de outra, com diversos atores e
instituições. Portanto, pode-se dizer que a negociação é um conjunto complexo de cenários repletos
de interesses em jogo, com perspectivas de vários níveis de maturação temporal, com prazos, metas,
parâmetros, medidas financeiras, taxas, portarias governamentais e objetivos específicos.
Os diversos atores (empresas, governo, famílias e resto do mundo) que pertencem ao fluxo
circular de renda podem ser entendidos como agentes econômicos que contribuem para a geração
de riqueza e manutenção de bem-estar a partir da construção de um cenário ideal. No entanto,
cada ator tem um campo de atuação com papéis distintos, além de ter um conceito específico de
negociação e um determinado objetivo em relação às partes envolvidas.
Dessa forma, iremos verificar os atores envolvidos, a negociação pertinente e o objetivo
das partes. É importante mencionar que a nossa intenção neste item não é o desenvolvimento
aprofundado de todas as negociações entre os atores em um fluxo circular de renda, pois o que
pretendemos propor, a princípio, é um entendimento da interação entre as diversas situações e a
busca de equilíbrio entre as partes.
A noção de equilíbrio vem a partir da concepção teórica e analítica dos economistas da
vertente clássica ou neoclássica, que afirmam haver uma possibilidade plausível de obtenção de
equilíbrio entre os agentes presentes em um processo de negociação e defendem o livre mercado,
com a participação mínima do governo.
O equilíbrio seria o ponto no qual a quantidade procurada de determinado bem ou serviço
fosse igual à quantidade que uma empresa ou um indivíduo disponibiliza em um mercado. O ponto
12 Negociação Empresarial
1.1.1 As empresas
As empresas em uma economia são responsáveis por geração de empregos, pagamento e
geração de impostos, diversificação de ideias, movimento empreendedor, giro financeiro, marketing
e sua aplicabilidade, dentre outras funções. No entanto, para que funcione, é necessário que uma
empresa realize as atividades de negociação das mais diversas formas e dimensões.
As atividades de negociação, além de estarem em um fluxo circular de renda, estão
alocadas em espaços e dimensões distintos. A Economia Política colabora para a compreensão
dessas dimensões com autores de representatividade no contexto científico, no qual a Ciência
Econômica marca presença. Diante disso, a Economia Política se apresenta, ao longo da história,
com várias vertentes e arcabouços teóricos: clássicos, neoclássicos, keynesianos, pós-keynesianos,
estruturalistas, formalistas e marxistas, entre outras linhas de pensamento. Todas essas correntes
teóricas se materializam no campo dos acordos financeiros e das negociações (HUNT, 2013).
Portanto, a Economia Política é compreendida pela investigação de três dimensões
(FREEMAN; MORAN, 2002):
• Dimensão econômica: o contexto empresarial está inserido em um complexo conjunto
de empresas, fornecedores e pessoas, desempenhando um papel importante na economia.
• Dimensão política: a política incorpora diversas instituições, com diferentes atores
(provedores, usuários, profissionais, pagadores e governantes); com a análise de Portarias;
com o papel das empresas estrangeiras; com o público e o privado no mercado.
• Dimensão social: introduziu o direito, o cuidado e o acesso dos consumidores aos
produtos e serviços; promoveu os aspectos legais junto aos funcionários, as normas e a
ética.
Agora que você compreendeu as dimensões, vamos retomar alguns itens da Figura 1,
com o objetivo de verificar a dimensão para cada uma das negociações, o principal objetivo e
as possíveis consequências.
Na negociação denominada Remuneração aos fornecedores, realizada pelas empresas, por
exemplo, o seu conceito está vinculado à relação produtiva ou industrial, sendo uma condição
fundamental para a produção dos produtos e escoamento ou distribuição no mercado.
Dito de outra forma, sem uma boa negociação com os fornecedores haveria problemas
financeiros, perda de credibilidade junto ao mercado e, consequentemente, diminuição das
margens de lucro perante seus concorrentes. Desse modo, o item Remuneração aos fornecedores
deve ser investigado com a base metodológica da Economia Política pertencente ao campo da
dimensão industrial.
Ainda sobre o item Remuneração aos fornecedores, a negociação deve estar pautada
na construção de um cenário que proporcione o aumento dos prazos para o pagamento dos
insumos e produtos adquiridos pela empresa, além de um bom desconto. É importante também
mencionar que o grau de dependência perante os fornecedores deve ser minimizado ao longo do
tempo, principalmente pela busca de outras alternativas, visto que, quanto maior for o número de
fornecedores, maior será a probabilidade de “barganhar” descontos aos recursos para a produção barganhar: negociar;
permutar.
do serviço ofertado no mercado.
Veja que estamos analisando um cenário específico de negociação empresa versus
fornecedores. Por outro lado, durante a vida de uma companhia, há diversas situações de negociação
realizadas ao longo do tempo, com diversos interesses, e cada uma com uma lógica específica.
Após essa consideração, vejamos outro item na Figura 1 relacionado às empresas: o
conjunto de negociações referentes à Importação/exportação pelas companhias. Para deixar
mais clara a ideia relacionada a esse conceito, quando pensamos em importar ou exportar
algum produto, primeiramente, devemos verificar uma variável de extrema importância nessa
negociação: o câmbio.
14 Negociação Empresarial
Dito de outra forma, caso a moeda nacional esteja valorizada perante as moedas estrangeiras,
vale a pena importar; caso contrário, se as outras moedas estiverem valorizadas, vale a pena
exportar. Portanto, as negociações atreladas às importações ou exportações devem ter essa variável
– o câmbio – como peça fundamental nas análises. É importante destacar que as negociações
relacionadas ao câmbio ocorrem entre empresas e fornecedores junto ao governo, principalmente
a partir de transações comerciais entre países.
As negociações entre o Brasil e o mundo são expressas pela quantidade de produtos
exportados e importados pelo país. Quanto maior é o volume de exportações, maior é o saldo da
balança comercial brasileira perante o exterior. Isso significa que as receitas em dólar aumentam,
com a geração de uma maior receita em dólar. No caso do Brasil, há predominância de produtos
relacionados às commodities, produtos alimentícios, dentre outros – a maior parte deles é exportada,
atribuindo ao Brasil a característica de ser um país exportador1.
Dentro da metodologia da Economia Política, verificamos que as transações realizadas a
partir do câmbio, sendo o elemento balizador, estão inteiramente relacionadas à dimensão industrial
ou econômica, principalmente por lidar com conversões de moedas e interesses peculiares e
financeiros nas transações entre empresas e entre governos.
Veja que conseguimos identificar a dimensão para os dois exemplos citados, bem como a
forma que pode ser conduzida. Agora, em relação às empresas, vamos supor que você seja gestor
de um serviço de medicina diagnóstica, uma área de grande importância na saúde que realiza
procedimentos de exames laboratoriais e utiliza máquinas para a sua operacionalização (ultrassom,
endoscopia, colonoscopia, dentre outros). Pensando no item Tecnologias, presente na Figura 1,
como poderíamos analisar se uma nova máquina seria incorporada a um serviço de saúde como
o de medicina diagnóstica? Tem alguma ideia? De que maneira iniciaríamos uma negociação com
as empresas que fornecem os equipamentos? Iríamos substituir uma máquina por outra com mais
inovações?
É importante saber que as negociações no segmento da saúde são bastante diferentes das
usuais, como, por exemplo, uma indústria que produz sapatos – principalmente em virtude do
cuidado com os pacientes, da segurança, do relacionamento com a Secretaria de Saúde do Estado
(SES), com os convênios e as seguradoras, com os médicos e demais profissionais de saúde, com a
sociedade, dentre outros atores. A saúde está inserida, portanto, em um ambiente político e em um
ambiente próximo a uma indústria, com fornecedores, empresas associadas, produtos e serviços2.
A partir do entendimento de que a saúde está imersa em um complexo industrial,
primeiramente, o gestor do serviço de medicina diagnóstica deve analisar alguns elementos,
fazendo as seguintes perguntas:
• Qual é o número médio de pacientes atendidos na unidade (mês a mês e ano a ano)?
• A máquina atual proporciona elevada manutenção?
1 Para saber mais sobre os produtos produzidos no Brasil e os que são importados, acesse a plataforma Comex Stat,
pertencente ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços: http://comexstat.mdic.gov.br.
2 Para saber mais sobre o Complexo Industrial da Saúde e seus componentes estruturais, acesse: http://www6.ensp.
fiocruz.br/repositorio/sites/default/files/arquivos/ComplexoSaude.pdf.
Princípios de negociação 15
• Quais são os insumos que o maquinário atual necessita para sua operacionalização? São
caros? Qual é a relação entre a quantidade de insumos e pacientes atendidos?
• Em termos de economia, quantidade de exames realizados, acurácia no diagnóstico e
outros fatores, quais são as principais vantagens da máquina nova com relação à antiga?
• Qual será o treinamento realizado na equipe de médicos e biomédicos para a utilização
dessa nova máquina? Quem vai pagar? A empresa ou o serviço?
• Haverá subsídio governamental para a aquisição da máquina?
1.1.2 Governo
Após a análise de algumas negociações que podem ser realizadas nas empresas, vamos
estudar um pouco o ambiente do governo, uma entidade muito importante para a regulação de
todo o fluxo de renda em determinada economia.
Alguns defendem que o governo, representado pelo Estado, deve participar mais das
negociações, já outros preferem que tenhamos um Estado mínimo. Para entendermos essa
discussão, com uma influência muito forte nas negociações, vamos investigar alguns autores da
Economia Política.
3 O SEBRAE disponibiliza interessantes informações a respeito disso. Para saber mais, acesse: http://www.sebrae.
com.br/sites/PortalSebrae/Busca?q=%20viabilidade%20econômica.
4 Para mais informações, acesse: https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/financiamento/produto/bndes-
saude-investimentos.
16 Negociação Empresarial
Seria possível? A princípio, com a arrecadação de impostos, poderíamos pensar que isso
seria viável, no entanto, a quantidade de produtos governamentais e serviços oferecidos para
a população está diretamente relacionada às negociações realizadas junto a empresas para o
fornecimento desses benefícios, ou seja, tudo é negociado – a quantidade, o preço, a forma como
serão distribuídos, a qual nível de renda – com regras e um conjunto de etapas estabelecidas
politicamente e dentro de uma lógica de mercado. O Estado, para oferecer os bens e serviços
necessários à população, negocia com empresas.
Os programas habitacionais, por exemplo, são ofertados pelo governo por meio de acordos
com construtoras e empresas do segmento privado. Não havendo uma situação ideal de diálogo,
a negociação nem sempre ocorre de modo harmonioso, surgindo embates, lutas por direitos e
interesses por lucros. Aliás, todas as negociações têm como objetivo fundamental o lucro.
Para termos alguns exemplos (cases) de sua aplicabilidade no caso do governo, vejamos
o item Metas econômicas na Figura 1. A construção de ideais para o desempenho da economia
interfere e influencia em todas as negociações para obtenção de financiamentos, preços e
quantidades de produtos no mercado, insumos adquiridos pelas empresas, geração de renda e
perspectivas para a população com relação ao emprego, dentre outras consequências. As Metas
econômicas se relacionam diretamente às Políticas Econômicas e têm papel fundamental no
fornecimento de condições favoráveis ou não ao mercado composto de empresas no mundo real
ou produtivo e ao mercado acionário (investidores) – tudo repleto de negociações entre agentes
do governo e empresas5.
Sobre o item Metas econômicas, ainda, é importante destacar que as medidas de ordem
econômica se baseiam em diferentes aspectos e negociações, entre eles a definição do valor para
a taxa de juros. Essa taxa é uma medida que serve de base para todas as negociações no mercado
– empréstimos, financiamentos, aplicações financeiras, novos projetos, dentre outras aplicações.
De uma forma bem simples, quanto maior for a taxa, maior será o custo para o crédito,
menor será o estímulo para os investidores produzirem, e maior será a tendência em aplicar o
dinheiro em algum fundo bancário. Veja que uma única mudança nessa variável pode alterar todo
um conjunto de negociações em diversos setores, envolvendo empresas e indivíduos.
Pensando na metodologia da economia política para o governo, a decisão sobre o valor dessa
taxa está inserida em uma dimensão política e econômica, principalmente pela constatação de que
tudo é negociado no Comitê de Política Monetária (Copom).
Por exemplo, no dia 19 de junho de 2019, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros
da economia em 6,5%, sendo que o mercado sempre reage de uma forma ou de outra, com maior
ou menor otimismo. Essas reações no mercado propiciam maior ou menor volume financeiro na
economia, com repercussões em todos os setores, inclusive com relação ao número de contratações
e ao reflexo no nível de emprego. Todas as negociações entre os atores pertencentes ao fluxo de
5 Para mais informações, recomenda-se a leitura da obra Para além da política econômica, do Instituto de Economia da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com diversos temas de interesse, em especial o artigo de Carneiro (2018)
intitulado “Navegando a contravento: uma reflexão sobre o experimento desenvolvimentista do Governo Dilma Rousseff”,
disponível em: https://www.eco.unicamp.br/images/arquivos/para-alem-da-politica-economica.pdf.
18 Negociação Empresarial
renda da economia se prepararam para a definição de um valor para a taxa de juros, com acordos
e negociações definidos nesse patamar6.
Foi bastante interessante perceber como o governo pode atuar, com múltiplas
consequências, não somente em uma única dimensão. As negociações podem estar vinculadas
a mais de uma dimensão, sendo possível verificar as consequências de determinada decisão em
diferentes contextos.
Para deixar mais clara a compreensão dos conceitos e objetivos das negociações, vamos
examinar, na Figura 1, outro item do governo: Meio ambiente. Negociações governamentais nesse
contexto são medidas adotadas, às vezes punitivas, contra empresas que exploram e danificam o
meio ambiente.
Um exemplo marcante foi o desastre na cidade de Mariana (MG), uma fatalidade ambiental
que ocorreu em novembro de 2015, graças ao rompimento de uma barragem, deixando 19 mortos,
296 desaparecidos e 300 famílias desalojadas na cidade. Essa situação ocasionou várias negociações
entre o governo, empresas e famílias. O processo contra os envolvidos ainda está em negociação
e ninguém foi punido até o momento7. É importante verificar que, nesse caso, as três dimensões
precisam ser analisadas, principalmente com questionamentos acerca das negociações que serão
conduzidas. O Quadro 3 sintetiza as principais perguntas para a nossa análise.
Quadro 3 – A tragédia em Mariana (MG): Qual é o desfecho das negociações?
Poderíamos enumerar várias negociações com diversos objetivos: alguns para a defesa
das empresas, outros para a proteção dos investidores e das famílias. Perceba que esse nível de
negociação está imerso em uma complexidade que merece atenção especial, principalmente com
relação ao impacto para as gerações futuras.
Quando determinado acontecimento gera sequelas das mais variadas, denominamos,
em economia, como externalidades. Varian (2003) aborda esse conceito afirmando que existem
externalidades positivas e negativas. Dito de outra forma, o acidente gerou diversos efeitos
negativos para toda a sociedade e para o mundo, com perdas que ultrapassam qualquer tipo
de medida monetária.
1.1.3 Famílias
As famílias são responsáveis por um elemento muito importante para a acumulação
de dinheiro em uma economia: fornecem mão de obra para a realização de trabalhos dos mais
diversificados, com baixo nível de instrução ou com elevado conhecimento prático e tecnológico.
De certa forma, as famílias colaboram para a manutenção de uma quantidade de pessoas dispostas
a trabalhar por um salário definido no mercado, resultado da interação entre os profissionais
disponíveis e a procura por trabalhadores em diversos setores com diferentes objetivos dentro do
fluxo circular de renda.
Devido ao maior uso de tecnologias e plataformas digitais, e à diminuição do papel da
indústria como elemento para geração de empregos, a força de trabalho apresenta ao longo das
décadas um valor cada vez menor comparado a sua capacidade real de oferecer serviços para
as empresas, principalmente pelo aumento do desemprego e pela diminuição da capacidade de
compra das famílias nesse processo.
Marx (1980) aborda a questão da força de trabalho em detalhes, afirmando que os
capitalistas exploram os trabalhadores mediante a extração da mais-valia. Para exemplificar
esse conceito, imagine que uma pessoa trabalha como atendente de caixa na Empresa X, que
vende hambúrgueres, e recebe um salário de R$ 792,00 ao mês. Você já se perguntou quantos
hambúrgueres esse trabalhador vende por dia? Talvez mais de cem, não acha? Suponha que sejam
vendidos cem hambúrgueres por dia – totalizando R$ 2.000,00 por mês. Considerando que o
atendente de caixa da Empresa X trabalhe 20 dias – e que o preço médio de cada unidade seja de
R$ 20,00 –, o faturamento gerado por ele corresponde a aproximadamente R$ 40.000,00 ao mês.
Sendo R$ 792,00 o salário mensal desse trabalhador, a mais-valia gerada para o empreendimento
será de R$ 39.208,00.
Apesar de a ideia de Marx (1980) ter um fundamento razoável, cada indivíduo deve buscar
a melhor alternativa para os seus rendimentos, mediante sua capacidade e grau de instrução. Além
disso, pensando no fluxo circular de renda, temos trabalhadores qualificados e trabalhadores com
menor grau técnico, sendo que ambos colaboram para o consumo.
Para complementar, na análise baseada em Marx (1980), não há uma consideração sobre
todos os custos que o empreendedor tem para operacionalizar seu negócio e os riscos assumidos. O
trabalhador está em uma situação confortável, com seus direitos e seu salário, enquanto o capitalista
(empreendedor) tem todas as chances de sucesso ou fracasso no seu empreendimento. Portanto,
devemos ter um olhar sempre crítico com relação às diversas interpretações.
Continuando com a nossa análise, de acordo com a Figura 1, podemos notar um item
dependente das famílias, porém de extrema importância para as empresas: o Consumo. Vamos
analisar esse comportamento das famílias frente à negociação.
Primeiramente, o ato de consumo está relacionado a uma perspectiva psicológica dos
agentes, principalmente ao grau de satisfação gerado pela aquisição de produtos e serviços
20 Negociação Empresarial
produzidos pelas empresas. Dito de outra forma, os trabalhadores transformam seus salários em
produtos e serviços, e esse movimento é mediado por negociações relacionadas a preço, prazo e
disponibilidade financeira.
Sabendo-se que as necessidades dos indivíduos e os recursos são escassos, há uma tendência
ao endividamento das famílias ao longo do tempo, principalmente pelo desejo de adquirir bens
acima do potencial nível de renda. Esse é um problema muito comum em países em desenvolvimento
como o Brasil, marcados por valores baseados no consumo de produtos em excesso, sem controle
e sem um planejamento financeiro adequado. Desse modo, as negociações das famílias estarão
pleiteando: lutando; junto aos bancos – para diminuir o ônus da dívida contraída – e junto às empresas, pleiteando por
brigando.
aumentos salariais.
Pensando na matriz de dimensões, com bases na Economia Política, as negociações entre
famílias, empresas e até governo podem ser exemplificadas de acordo com o seguinte raciocínio:
quanto maior for o grau de instrução das famílias, menor será o nível de endividamento –
consequência direta de uma organização financeira efetiva.
O consumo está atrelado à disponibilidade de dinheiro para a compra, um aspecto
econômico. Para complementar, o uso de cartões de crédito e formas de financiamento também
são circunstâncias econômicas. O grau de negociação estará em diminuir o impacto desse
endividamento ou de gerar uma satisfação que supere as expectativas, com melhorias no bem-
-estar das famílias. Um autor de relevância, Schumpeter (1976), comenta o impulso gerado devido
às novas tecnologias (celulares, computadores, dentre outros itens) e as consequências para o
consumo, com implicações em renda e mudanças nos padrões de comportamento.
8 O conceito de nicho de mercado refere-se a futuros negócios (VARIAN, 2003), e tem relação direta com oportunidades
de ganhos, principalmente em implementação de uma nova estratégia, busca por novos clientes, análises de demanda,
distribuição, desenvolvimento de novos produtos, dentre outras ideias.
Princípios de negociação 21
Os exemplos apresentados no item 1.1 elucidaram esse contexto e serviram de base efetiva
para a compreensão das dimensões presentes em uma negociação executada pelos diversos atores
que fazem parte do fluxo circular de renda. No entanto, nem sempre o dinheiro se movimenta com
facilidade em uma economia, levando a rupturas e bloqueios produtivos, desencadeando-se, assim,
em uma crise sem precedentes.
As rupturas em uma economia de mercado estão relacionadas aos ciclos que o movimento
capitalista de produção desenvolve ao longo do tempo. A compreensão desses ciclos colabora
para visualizar que em determinados momentos há um volume de negociações maior do que as
expectativas e, em outros, há uma escassez de recursos financeiros para novos projetos, tendo uma
crise econômica como reflexo direto.
Schumpeter (1976) afirma que nas economias há ciclos de expansão e de declínio, tendo
como consequência um maior volume de negociações auferidas e decisões concretizadas. Desse
modo, em uma situação de expansão, o lucro será ampliado; por outro lado, em um cenário de
crise, as estratégias de negociação estarão relacionadas à sobrevivência das famílias e empresas.
Diante disso, precisamos entender como funciona a geração de lucro em uma sociedade de
mercado, que é o objetivo fundamental de qualquer tipo de negociação empresarial.
Qualquer empreendimento necessita de um capital inicial para ser operacionalizado,
definido com a variável C (capital). Esse volume de recurso financeiro é utilizado na produção com
a compra de insumos (matérias-primas) e a utilização de máquinas e pessoas para a concretização
de um produto9. Após a utilização desse capital – elaboração de uma mercadoria (M) –, podendo
ser um produto ou serviço, o capitalista vende para o mercado a um preço superior ao de todo o
custo de produção, realizando o lucro na operação.
Todas as negociações que estudamos no item 1.1 obedecem a essa lógica de operacionalidade.
No entanto, em momentos de crise, esse fluxo de dinheiro ocorre com menor vigor e não há geração
de lucro e renda. Qual seria o motivo dessa paralisação financeira?
Para entender esse processo, vamos analisar o exemplo da crise do subprime em 200810, um
momento na história com um número expressivo de pessoas com dívidas e com alto risco para a
captação de crédito.
Nesse contexto, a valorização dos imóveis nos EUA, durante os anos que antecederam
a crise, superaram qualquer expectativa humana de compreensão e seus valores aumentavam
de modo geométrico, com a propagação do otimismo em toda a economia norte-americana.
Assim, quando uma família adquiria um bem imóvel, consequentemente uma hipoteca era
emitida no mercado de ações, com aumentos no seu valor, bem como na valorização do bem
adquirido pelos familiares, nesse caso, a moradia. Havia uma dívida bancária como lastro e as
famílias adquiriram uma dívida de longo prazo para a aquisição de bens.
9 Marx (1980) desenvolve um raciocínio bastante interessante a respeito dessa lógica, por meio do qual podemos
entender que a produção pode ser relacionada a um produto ou à oferta de um serviço específico.
10 Saiba mais em: https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/8344/1/RB%2030%20Analisando%20a%20
Crise%20do%20Subprime_P_BD.pdf.
Princípios de negociação 23
Devido ao espírito de maiores ganhos a todo custo, e com a elevada valorização dos imóveis
e das hipotecas comercializadas no mercado acionário, os indivíduos compravam outros imóveis,
com dívidas, sendo um movimento avassalador de ganhos futuros. Tudo valorizava.
Por outro lado, o custo real da produção de um apartamento ou de uma casa era bem inferior
ao valor transacionado no mercado e as negociações ocorriam em um movimento sem precedentes.
Perceba que os ganhos eram abusivos e as dívidas sobre os bens eram muito superiores ao valor real
dos imóveis. Consequentemente, especuladores nesse ambiente de negociação perceberam essa
diferença entre o custo real e o valor negociado.
Essa informação foi dissipada e as famílias, bem como os acionistas, pararam de pagar os
financiamentos e os dividendos das hipotecas, ocorrendo um fenômeno denominado manada no
mercado financeiro, o que desencadeou a crise do subprime – alto risco e elevada desvalorização.
Assim, as ações representativas das empresas iniciaram um movimento de queda e milhares
de investidores iniciaram a venda dos seus papéis. Consequentemente, as grandes companhias
de capital aberto perderam sua capacidade de captar dinheiro no mercado e diminuíram sua
ampliação nos investimentos na economia, desencadeando-se a crise.
Perceba que a causa fundamental da crise foi a especulação excessiva pelos agentes, com
negociações sem ética, sem dimensionamento e com consequências drásticas para toda a sociedade.
Harvey (2010) colabora para o entendimento da crise, com considerações a respeito do distanciamento
da realidade produtiva e do mundo das ações comercializadas no mercado acionário.
Mesmo diante desses ciclos, com ou sem crise, é possível realizar negociações com efetividade
em um fluxo circular de renda em qualquer momento? Em expansão ou recessão? Como podemos
entender esse distanciamento do mundo real e o mundo das grandes corporações? É possível
continuar a negociar?
11 O oligopólio corresponde a uma organização de mercado com presença de poucas empresas oferecendo o mesmo
produto, com pouca diferenciação (PINDYCK; RUBINFELD, 2010).
24 Negociação Empresarial
Nesse contexto, verificamos uma nova particularidade na circulação das mercadorias, dos
bens e dos serviços na economia, com consequências para todos os tipos de negociação presentes
no fluxo circular de renda que aprendemos no item 1.1 deste capítulo.
De uma forma bastante ampla, as transações comerciais estão marcadas por um processo
denominado financeirização e todas as negociações estão relacionadas ao quantum financeiro
que circula nas contas bancárias, nos fluxos financeiros entre os bancos, nos empréstimos,
financiamentos, além de outras formas de transação.
O papel-moeda perde seu valor e o uso de cartões de débito e crédito assume uma forma
preponderante em todos os tipos de negociação. Inclusive a necessidade de notas de dinheiro
diminuiu, pois os agentes preferem transacionar suas negociações a partir de instrumentos
monetários ou virtuais.
Paulani (2009) descreve o crescimento dos ativos financeiros no mundo e a diminuição
dos ativos reais. Essa constatação desencadeia um volume de negociações superiores no mercado
acionário e um desestímulo para as atividades na realidade, sendo uma condição fundamental para
o aumento do desemprego e a diminuição na quantidade de indústrias12.
Pochmann (2001) comenta que, para o capital, expresso por uma quantidade elevada
de recursos financeiros, é mais atrativo investir no mercado especulativo com diferentes
alternativas e possibilidades. No entanto, o crescimento da renda e do emprego é afetado com o
desencadeamento de crises.
Acerca desse cenário, como seria possível negociar? Vejamos alguns itens para reflexão:
• No mundo contemporâneo, marcado por grandes empresas e acionistas, há oportunidade
para pequenos investidores operarem no mercado de ações ou de capitais?
• Apesar da financeirização, há o desenvolvimento de novos projetos e novas ideias no
mundo real, com possibilidades de crescimento?
• Como otimizar as escolhas? Como negociar nesse contexto?
• Devemos seguir, de modo categórico, o fluxo circular de renda?
12 Para saber mais a respeito da financeirização e a relação do mundo real com o financeiro, marcado pelo uso de
cartões, dentre outras formas de negociação virtuais, acesse: https://exame.abril.com.br/blog/voce-e-o-dinheiro/
entendendo-a-financeirizacao.
Princípios de negociação 25
entidades que regulam e verificam se a empresa atua de acordo com as normas e, além disso, outras
instituições envolvidas (ANDRADE; ROSSETTI, 2009).
Portanto, há uma nova forma de negociar, expressa pela utilização de plataformas virtuais
para investimentos, tanto para pequenos investidores quanto para aqueles mais representativos.
Hoje em dia, qualquer pessoa, não somente uma grande organização, pode operar no mercado
financeiro e aplicar uma quantidade de dinheiro em algum “papel” ou ação representativa de uma
empresa de capital aberto. No entanto, é necessário ter cuidado com essas plataformas disponíveis
para negociação, pois são operações de risco.
Uma observação importante com relação a essas plataformas é que não há uma “fórmula
mágica” para ganhar dinheiro. Assim, todas as operações nesse mercado estão indexadas a alguma
taxa de administração e as ações assumem diferentes valores, sendo um ambiente de extrema
volatilidade. A volatilidade expressa um movimento agressivo de mudanças nos preços do papéis
negociados, com grandes possibilidades de perdas. Lima (2015) comenta o risco e a possibilidade
de perdas ou ganhos nas operações, principalmente entre a relação do grau de conhecimento dos
investidores e os critérios de decisão.
Inclusive, no mundo corporativo, marcado pela presença de empresas de capital aberto,
em bolsa, a publicação de relatórios anuais é frequente, sendo um requisito obrigatório a essas
companhias para oferecerem um grau de transparência em suas operações financeiras e produtivas.
Esses dados, contendo indicadores, projeções futuras, índices de liquidez, dentre outros, servem
para o “mapeamento” da situação da companhia para os investidores, com o objetivo potencial de
captação de recursos financeiros.
Ao realizar negociações nesse mercado é fundamental utilizar técnicas13 para apurar a
projeção do retorno esperado por um investimento no mercado de ações. O retorno esperado é o
quanto se deseja ganhar, mediante as incertezas na operação. Apesar das possibilidades de ganhos
no mercado financeiro, há alternativas para negociação no mercado real, presente no fluxo circular
de renda estudado neste capítulo, relacionadas a ideias inéditas e bem planejadas. Esse movimento
de desenvolvimento de novas ideias é denominado empreendedorismo e envolve um conjunto de
ideias ou uma única estratégia para a implementação de um novo negócio no mercado.
Assim como no mercado de ações, é muito importante o conhecimento para iniciar
o número de negociações necessárias ao projeto que o empreendedor tem em mente. Para a
realização de um projeto, é fundamental o conceito de viabilidade econômica de um negócio, com
a descrição de todos os custos associados, receitas futuras, estudo de mercado, alternativas para
escoar a produção, público-alvo, dentre outros itens de importância. Devemos perceber que em
ambos os casos, tanto o virtual (mercado de ações) quanto o real (projetos), é fundamental que o
investidor, para negociar, tenha um conjunto de ferramentas e conhecimentos para analisar se a
opção desejada, ou escolha, é adequada ao cenário econômico daquele período.
13 A análise fundamentalista e a análise gráfica são técnicas distintas muito utilizadas pelos investidores. Para
saber mais, acesse o material publicado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM): https://www.investidor.gov.br/
portaldoinvestidor/export/sites/portaldoinvestidor/publicacao/Livro/livro_TOP_analise_investimentos.pdf.
26 Negociação Empresarial
Um projeto econômico deve, a princípio, averiguar uma relação entre o quanto se pretende
investir e o custo de oportunidade associado àquela escolha. A definição de custo de oportunidade
em uma negociação está associada a quanto se deixa de ganhar com a decisão de determinado tipo
dispêndio: gasto de investimento ou dispêndio de dinheiro, seja ele produtivo ou especulativo.
excessivo.
Considerações finais
A negociação é um fenômeno que apresenta várias interpretações. Neste capítulo, aprendemos
que negociar não é um movimento linear, que obedece a uma única lógica ou a um único objetivo.
Entendemos que a negociação está imersa em um fluxo circular de renda, com várias formas de
fazê-la, objetivos e características peculiares. A compreensão das dimensões ajudou bastante na
visualização dos resultados a partir de uma negociação em particular. Vários cases e exemplos
foram utilizados para ilustrar a aplicabilidade das dimensões no estudo da negociação empresarial,
tendo como base os fundamentos da Economia Política.
Princípios de negociação 27
Para complementar, o estudo da crise, de sua forma e de suas consequências, colaborou para
a verificação de que o ato de negociar não está relacionado, necessariamente, ao elevado volume
de negócios em determinado período. As negociações ocorrem nas crises, principalmente devido
à escassez de recursos financeiros.
Para a negociação, o mais importante é verificar os nichos de mercado e aprofundar, com
conhecimento, estratégias que possam permitir os ganhos futuros, tanto individualmente quanto
para uma empresa ou grande corporação.
Por fim, este capítulo possibilitou entender que a negociação está presente em dois ambientes:
o produtivo e o especulativo. O produtivo está relacionado a atividades que envolvem a produção,
comercialização e distribuição de produtos e serviços. Já o especulativo está relacionado a um
conjunto de ações ou papéis de empresas, corporações, comercializados no mercado acionário.
Para finalizar, tanto no ambiente produtivo quanto no especulativo, é possível negociar e
angariar retornos financeiros, sendo que os requisitos fundamentais são calma, conhecimento,
estratégia e respeito aos prazos. Dessa forma, a negociação proporcionará expectativas de
crescimento aos agentes envolvidos.
Atividades
1. Após o estudo deste capítulo, escreva qual é o seu entendimento sobre negociação.
2. Disserte sobre quais seriam os principais pontos a serem analisados antes de negociar.
Referências
ANDRADE, A.; ROSSETTI, J. P. Governança corporativa: fundamentos, desenvolvimento e tendências. São
Paulo: Atlas, 2009.
CARNEIRO, R.; BALTAR, P.; SARTI, F. (org.). Para além da Política Econômica. Instituto de Economia.
Unicamp. São Paulo: Editora Unesp, 2018.
FREEMAN, R.; MORAN, M. A saúde na Europa. In: NEGRI, B.; VIANA, A. L. (ed.). O Sistema Único de
Saúde em dez anos de desafio. São Paulo: Sobravime/Cealag, 2002.
HARVEY, D. O enigma do capital e as crises do capitalismo. São Paulo: Boitempo Editorial, 2010.
KATZ, R. L. Skills of an effective administrator. Harvard Business Review, p. 3-42, jan./fev. 1955.
KEYNES, M. K. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1996.
(Coleção Os Economistas).
MARX, K. O capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. Livros I, II e
III.
POCHMANN, M. Globalização e emprego. In: ARBIX, G.; ZILBOVICIUS, M., ABRAMOVAY, R. (org.).
Razões e ficções do desenvolvimento. São Paulo: Unesp, 2001.
SALVADOR, E. Fundo público e seguridade social no Brasil. São Paulo: Cortez Editora, 2010.
SCHUMPETER, J. A. Capitalism, socialism and democracy. 3. ed. New York: Harper & Row Publishers, 1976.
SNOWDON, B.; VANE, H. R. Modern macroeconomics. Massachusetts: Edward Elgar Publishing, 2005.
WHEELER, M. The art of negotiation: how to improve agreement in a chaotic world. Nova York: Simon &
Schuster, 2013.
2
Técnicas de negociação
oportunidades. Além disso, saber argumentar é essencial para realizar negociações e aproveitar as
habilidades adquiridas ao longo das experiências de um indivíduo, indicando os pontos de maior
importância, com o pleno desenvolvimento da capacidade de refutar baseada no aprimoramento
do raciocínio lógico.
Segundo Oliveira (2014, p. 456), o “recurso à argumentação se torna necessário quando
os interlocutores não chegam imediatamente ao consenso”. Dittrich (2008, p. 26) comenta a
composição dos argumentos na sua estrutura e lógica:
Assim, o valor da argumentação no seu componente técnico reside na lógica
em que os argumentos se estruturam, no conhecimento em que se apoiam, na
autoridade a que recorrem, e, mesmo, nas evidências utilizadas como justificativa.
Nesse componente, é fundamental que o auditório seja capaz de acompanhar
a linha de raciocínio em desenvolvimento, qual seu ponto de partida, em quais
crenças e valores se apoia e para que opinião está buscando adesão.
É importante perceber que a argumentação tem estreita ligação com as habilidades que
não estão relacionadas ao ambiente operacional, ou seja, não tem conexão com atividades que
envolvem rotina, repetição e baixo nível de conhecimento adquirido. Quanto maior for o poder
argumentativo, menor será a probabilidade de um indivíduo atuar em ambientes produtivos que
sejam relacionados somente a cotidianos pouco flexíveis. Portanto, para saber negociar dentro do
escopo da direção, é fundamental ampliar a capacidade de criticar, propor alternativas e desenvolver
perspectivas que proporcionem valor para todos os envolvidos.
É relevante observar, também, que as tecnologias utilizadas pelos indivíduos e sua
habilidade para a concretização de acordos e negociações têm estreita relação com a capacidade de
argumentar e desenvolver novas estratégias para as negociações. Algumas empresas são mais fortes
em capital humano, enquanto outras têm maior quantidade de tecnologias associadas. Alternativas
à composição dessa configuração alteram a absorção do conhecimento, com repercussões nas
habilidades e nas atitudes referentes ao meio produtivo real, no relacionamento entre as pessoas,
mesmo virtualmente, com as ações interligadas em rede.
O perfil de um profissional e a sua interatividade para criar um ambiente com equipes de
negociação são alterados de acordo com a utilização de mais ou menos tecnologia, tanto no que
diz repeito ao poder de barganha – para conseguir os resultados almejados – quanto à geração de
valor entre as partes envolvidas.
A tecnologia utilizada pelos colaboradores facilita a comunicação e otimiza processos.
No entanto, no segmento da negociação, o fator humano apresenta maior relevância, pois tem
um papel de maior impacto. Podemos pensar que a tecnologia representa, no novo cenário do
capitalismo, marcado por plataformas digitais e trabalhos em rede, uma “Quarta Revolução
Industrial”, com um novo formato nas relações de trabalho, nas negociações e no contexto
produtivo, delineando-se, assim, uma negociação baseada em valores reais (contexto empresarial)
e virtuais (SCHWAB, 2016).
Entende-se que as negociações apresentam graus de abrangência que se diferem entre si,
principalmente devido à presença de relações comerciais na internet, com diversos segmentos
32 Negociação Empresarial
e objetivos, nas quais as negociações basicamente podem ser realizadas totalmente on-line, sem
a presença física dos integrantes, havendo a delimitação de prazos associados, preços, tipos de
produto, dentre outros aspectos.
Por outro lado, quando o dimensionamento da negociação envolve o planejamento de
determinada empresa ou segmento, é necessário que os dados produzidos pela companhia sejam
analisados pelos gestores, de acordo com políticas de transparência e por meio de reuniões
presenciais periódicas, visando ao alinhamento de critérios que deverão ser implementados pela
empresa para resultados específicos, como os descritos a seguir:
• obtenção de lucros para os gestores e acionistas;
• otimização dos recursos disponíveis em todas as escalas de produção;
• verificação das tecnologias utilizadas por processo produtivo ou para a prestação de
serviços;
• logística, que inclui delineamento de processos, etapas produtivas e distribuição de bens
e serviços ao mercado;
• ética, ou seja, questões relacionadas à honestidade, justiça e moral nas negociações;
• marketing, com o dimensionamento de estratégias para captação de clientes junto ao
mercado consumidor.
Desse modo, a presença das equipes na negociação é fundamental, pois, embora importantes,
os recursos virtuais não são suficientes para o delineamento de um processo de negociação no
âmbito do planejamento de uma organização.
Perceba que, devido aos diferentes setores presentes no mercado, aos diversos profissionais
envolvidos e, sobretudo, ao uso de tecnologias associadas, a quantidade de resultados almejados em
uma negociação baseada em um planejamento empresarial tem grau de complexidade e diversidade
que apresenta diversas configurações. Portanto, para concretizar os objetivos relacionados ao
planejamento de uma empresa, é fundamental o trabalho em equipe, com interações particulares e
considerando o tipo de resultado almejado.
Para realizar uma negociação fora do âmbito operacional, é muito importante ter a
visualização de cenários associados. Uma equipe alinhada, com foco na obtenção dos resultados
em um planejamento empresarial, precisa projetar as perspectivas em relação ao futuro. Os
cenários serão concretizados apenas se houver o estabelecimento de estratégias associadas para
cada desfecho (resultado), que deverá ser obtido a partir de um processo de negociação.
Com a identificação das potencialidades e dos recursos disponíveis, do estabelecimento de
prazos, das estratégias associadas e dos desfechos, é possível delinear a probabilidade de ocorrência
de cenários no futuro (GHEMAWAT, 2007). Para complementar esse raciocínio, Castro e Souza
apontam aspectos de relevância para a configuração de cenários e estratégias associadas:
o objetivo desse exercício, reconhecidamente, não está em predizer o futuro. A
validade da extrapolação consiste em visualizar quadros-limite, entre os quais
a realidade, possivelmente, se enquadrará. Um segundo objetivo consiste em,
com base na agregação de temas e tendências em debate, verificar a consistência
das propostas. Pretende-se, ainda, abrir uma reflexão sobre situações plausíveis
Técnicas de negociação 33
Ampliar a escala
Lucro esperado superior às expectativas
Equipe B Ampliar as vendas de produção com a
e possibilidade de reinvestimento na
(moderada) em 30%. capacidade instalada já
produção.
existente.
(Continua)
34 Negociação Empresarial
Perceba que, para conseguir alcançar o resultado esperado, é muito importante que a
equipe desenvolva uma estratégia bastante pontual, focada e determinada. No caso apresentado, a
estratégia se baseou na produção de carros e em mudanças no aparato produtivo, com a introdução
de tecnologias. Nesse processo de negociação, é importante fazer algumas considerações:
• O alinhamento da equipe perante a estratégia estabelecida depende do perfil de seus
membros. Assim, quanto maior a diversidade de conhecimento de cada um, maior a
abrangência da habilidade e, consequentemente, maior conformidade com o objetivo.
• Os resultados esperados podem ser insatisfatórios e, nesse caso, as estratégias e os objetivos
devem ser reformulados.
Como estudamos na seção anterior, para concretizar uma negociação associada à estratégia
estabelecida entre as partes envolvidas no processo, os cenários devem ser construídos a partir do
posicionamento das equipes perante um objetivo traçado. É fundamental que os tipos de negociação
estejam intimamente relacionados ao seu propósito e dentro dessa lógica de operacionalização.
Pensando em um segmento de mercado, para negociar é importante criar critérios visando
ao estabelecimento das ações e à configuração dos respectivos tipos de negociação em cada
categoria. O mercado, na sua maior parte, almeja o lucro. Para tanto, é preciso selecionar os tipos
de negociação considerando o escopo do negócio, suas características e as alternativas existentes
para cada situação.
Para simplificar o entendimento, citaremos alguns tipos de negociação e, em seguida,
apresentaremos cases representativos. Os tipos de negociação podem ser relacionados:
• à contratação de pessoas (colaboradores e profissionais);
• aos fornecedores;
• ao espaço produtivo, para elaboração de um produto ou prestação de um serviço;
• à logística e distribuição;
• ao marketing;
• ao delineamento de políticas de investimento, novos projetos;
• ao relacionamento com os bancos, negociação de passivos;
• à alocação da “sobra financeira”, para aplicações no mercado acionário;
• aos efeitos de proteção, como a construção de derivativos;
• à prospecção de desenvolvimento de “nichos de mercado”;
• às negociações junto aos clientes;
• às negociações junto ao governo;
• aos acordos negociáveis com outras empresas do mesmo ramo de atuação;
• à prática de dumping.
empreendedor. O capitalista, fazendo uso dos seus instrumentos, como a força de trabalho e as
tecnologias, deve sempre procurar novas possibilidades para seu negócio. Chick (1983) torna clara
essa ideia destacando que a motivação e o delineamento de alternativas que podem agregar valor aos
negócios possibilitam a expansão de nichos de mercado potenciais e o desenvolvimento de negociações
específicas para a concretização desse objetivo. Dessa forma, para que novas oportunidades sejam
delineadas e concretizadas, a negociação é fundamental.
Outro tipo de negociação, denominado construção de derivativos, merece atenção especial.
Os derivativos são instrumentos financeiros utilizados no mercado de ações para proteger possíveis
alterações em variáveis – como o câmbio e o dólar, adquiridos pelas pessoas ou empresas.
Vamos entender um pouco como funciona esse tipo de negociação. Por exemplo, uma
empresa exportadora do setor alimentício se beneficia quando a moeda real se desvaloriza em
relação ao dólar; portanto, quando o câmbio oscila, auferindo valorizações dessa moeda, o
segmento sofre perdas no que diz respeito ao volume exportado.
Em vista disso, para se proteger de perdas futuras, as empresas realizam a negociação
denominada derivativo, estipulando um preço para seus produtos no tempo presente com o objetivo
de garantir os ganhos futuros. Consequentemente, caso o real se valorize, não haverá perdas, pois
os preços contratados foram realizados em um momento anterior à valorização da moeda.
Em um momento de crise econômica, geralmente temos incerteza em relação ao futuro e
perdemos o otimismo. Quando ocorre essa sensação, encarada como um fator subjetivo, os agentes
financeiros realizam a liquidez dos seus ativos no mercado de ações, ou seja, vendem seus papéis e
títulos em um movimento denominado “manada” – atitude totalmente irracional, sem escopo ou
raciocínio baseado em evidências, visto que as negociações se tornam imediatas e acontecem no
desespero e sem critérios. Nesse cenário, os derivativos ajudam a diminuir as chances de perdas1.
Notamos que os tipos de negociação assumem vários delineamentos e configurações,
inclusive no mercado financeiro. Por fim, é importante destacar que uma negociação e os seus
tipos não são estáticos no tempo, sendo suscetíveis a alterações, principalmente considerando as
expectativas dos agentes envolvidos e do ambiente econômico, político e social.
No próximo item, compreenderemos a matriz de negociações complexas para entender que
negociar envolve vários aspectos aleatórios e acontecimentos prováveis no futuro, no decorrer do
tempo, com diferentes alternativas para cada resultado.
2 A árvore de Markov também é muito utilizada na saúde, proporcionando a previsão de diversos resultados relacionados
a tratamentos. Para compreender melhor, acesse: http://www.scielo.br/pdf/csc/v19n10/1413-8123-csc-19-10-4209.pdf.
Técnicas de negociação 39
Os efeitos aleatórios em uma negociação são muito importantes, principalmente pelo seu
impacto nos resultados/cenários e para a construção de novas estratégias que visem alcançar
determinados objetivos. Mas como poderíamos minimizar os efeitos aleatórios? Poderíamos
descobrir uma probabilidade para cada um deles? Qual seria o critério de análise?
Conforme destacado, a árvore de Markov pode contribuir para esse estudo. Antes de aplicá-la,
porém, devemos verificar qual é o ponto fundamental que está em jogo na negociação. No cenário
apresentado no Quadro 3, percebemos que o escopo da negociação está centrado na otimização das
vendas considerando as diferentes posturas (equipes), como manutenção da capacidade instalada,
incremento de 30% e aumento de tecnologias associadas à produção – estratégias das equipes A, B
e C, respectivamente.
Quando a equipe A, mais conservadora, deixa de lado a introdução de melhorias tecnológicas,
a expectativa é a de que se mantenha o “estado de coisas”, com o nível de vendas constante, sem
melhorias e sem maiores expectativas. O resultado da posição de baixo risco propiciou maior
retorno, sendo expresso pelo efeito aleatório 1. Esse acontecimento pode ter sido ocasionado por
diversos fatores, dentre eles maior grau de fidelização dos clientes, logística adequada e aceitação
do produto ou serviço.
A equipe B, por outro lado, apresentou expectativa de aumento das vendas com a mesma
capacidade produtiva e teve uma surpresa: o lucro não sofreu alteração. Vários fatores podem
explicar essa circunstância, como maior grau de seletividade por parte dos consumidores e perda
de qualidade do produto oferecido devido ao aumento da escala produtiva e à falta do planejamento
com relação aos preços praticados.
40 Negociação Empresarial
Por sua vez, a equipe C, com um posicionamento mais agressivo, esperou ter maior
rentabilidade e não conseguiu auferir esse resultado. Optou pela introdução de uma nova tecnologia
com a finalidade de otimizar a produção, utilizando, para isso, menos trabalhadores, e teve um
resultado negativo, com prejuízo. Como explicar esse efeito aleatório 3?
Podemos constatar que, dentre as três situações, a opção por utilizar uma nova tecnologia foi
a de maior risco, com alteração no processo produtivo devido às mudanças na quantidade de mão
de obra. Observe que os efeitos aleatórios expressam uma mudança na lógica dos resultados
devido, principalmente, à aleatoriedade. A imprevisibilidade é um elemento marcante em todos
os tipos de negociação, com uma maior evidência em uma matriz de negociações complexas
(DUZERT, 2007).
A árvore de Markov pode ser utilizada para todas as alternativas, com a atribuição de
probabilidades associadas baseadas em critérios e experiências de outros setores em um momento
anterior. As respectivas probabilidades podem ser medidas por meio das evidências de cada equipe
de negociação com base em resultados já conquistados no passado, em relação à própria empresa
ou a outra similar no mercado.
Estudos de mercado, dados da produção, marcos históricos na empresa e resultados
financeiros colaboram para a definição de um padrão de medida associado. Esse tipo de análise
pode ser compreendido como um modelo de previsão, proporcionando a obtenção de resultados
futuros. A associação do modelo de previsão e as probabilidades associadas permitem que o efeito
da aleatoriedade, pertencente à matriz de negociações complexas, seja diminuído principalmente
a partir da definição de condicionantes explicativos para o escopo delineado, que, neste caso, é o
volume de vendas3.
No caso apresentado, o escopo (vendas) é determinado pela escala produtiva. Quanto
maior a produção, maiores as chances de otimização das vendas. Portanto, o volume de vendas
é diretamente proporcional à escala de produção (baixa, média ou alta). Por outro lado, quando
introduzimos o efeito aleatório, verificamos que esse comportamento pode não ocorrer. Qual seria,
então, a alternativa para a solução desse problema?
Basicamente, a resposta é definida buscando-se os dados de vendas que já ocorreram no
passado (valores anuais, mensais ou diários) e verificando se, ao longo do tempo, existe uma
correlação positiva (+1) ou negativa (–1). A partir dessa constatação, outras variáveis podem ser
introduzidas, como, nesse caso, a tecnologia. Da mesma forma, verificamos se a tecnologia é ou
não diretamente proporcional à quantidade de vendas. Perceba que esse procedimento ajuda a
verificar a proporcionalidade e, consequentemente, diminuir o impacto dos efeitos aleatórios que
não eram esperados4.
3 Uma área muito importante da Ciência Econômica é a Economia Matemática. Nesse campo de estudo, todos os
fenômenos na economia são tratados como variáveis matemáticas, com equações, sistemas e matrizes. Para saber mais,
acesse: http://repositorio.ual.pt/bitstream/11144/3188/1/PROCURA%20E%20OFERTA.pdf.
4 A utilização de softwares e pacotes estatísticos ajuda muito nas análises da correlação. Os principais programas são
SPSS, STATA, E-Views e Excel, que calculam várias funções estatísticas, incluindo a correlação. Para mais informações,
consulte: http://apps.einstein.br/revista/arquivos/PDF/2211-EC_v9n3_125-127.pdf.
Técnicas de negociação 41
Note que é muito importante verificar as correlações entre as variáveis, sendo essa uma
etapa anterior à aplicação da metodologia da árvore de Markov. Portanto, a partir da verificação do
comportamento das variáveis (com diferentes proporcionalidades) nos períodos (anos, meses ou
dias), constatamos proporções na capacidade produtiva da empresa.
Por exemplo, no ano X, a empresa operou com 20% da capacidade produtiva e teve um
volume de vendas de 50% relativo ao estoque naquele momento. Caso o estoque representasse 50
carros, foram vendidas 25 unidades e foram utilizados 20% da capacidade de produção da empresa.
Em outro ano, a companhia operava com 60% da capacidade produtiva e realizou a venda de 30%
do estoque, que, da mesma forma, era de 50 carros. Em alguns momentos não havia estoque e as
vendas ocorreram em momentos posteriores, representando uma quantidade de estoque próximo
de zero. Portanto, os diferentes cenários oscilam ao longo do tempo.
Observe que conseguimos construir uma árvore de probabilidades associada ao escopo
(vendas) e à capacidade produtiva instalada em percentuais. Para complementar, podemos verificar
se a introdução de tecnologias muda a proporcionalidade, com ampliação ou redução dessa árvore
de probabilidades com várias alternativas. O critério de decisão de qual será a escala de produção
ótima para essa empresa será obtido pela multiplicação de todas as probabilidades associadas nos
períodos de tempo analisados. Portanto, o resultado final vai definir qual deverá ser a estratégia
colocada em pauta no momento da negociação.
Vamos resumir o que foi explicado e analisar as etapas para a aplicação da árvore de Markov
em uma matriz de negociação complexa. O Quadro 4 descreve as fases para a aplicação dessa
metodologia, com o esclarecimento sobre como diminuir os efeitos aleatórios em uma matriz de
negociação complexa.
Quadro 4 – Matriz de negociações complexas: etapas para implementação da metodologia da árvore de
Markov
O Quadro 4 pode explicar como tornar uma matriz de negociação complexa inteligível por
meio da aplicação do delineamento de etapas na construção de critérios de decisão adotados por
determinada equipe em uma mesa de negociação.
42 Negociação Empresarial
É relevante destacar que cada caso apresenta um grau de complexidade específico, podendo
ser analisado em relação às situações, com variáveis explicativas e correlações associadas. A matriz
de negociação complexa é representada como um grande prisma, com possibilidades, resultados e
estratégias, e a Economia Matemática e o uso da estatística diminuem essa complexidade.
Sabendo que, em uma negociação, o jogo é um elemento fundamental, inclusive nas
negociações complexas, no próximo item, estudaremos a teoria dos jogos e verificaremos como
esse campo teórico e prático pode ser aplicado às negociações.
Essa situação é denominada dilema dos prisioneiros (CHIANG, 2006), escopo teórico de
aplicabilidade limitada porque, na realidade, cada indivíduo quer tirar mais vantagem, mesmo
que em detrimento do outro. A possibilidade de um suposto equilíbrio nas decisões, a partir das
negociações, é de uma aplicabilidade impossível de ser determinada.
Alguns economistas da escola mainstream defendem que, após uma sequência de negociações,
seria possível termos um suposto equilíbrio, denominado equilíbrio de Nash. O pressuposto
fundamental dessa teoria consiste em cada participante, em um jogo com n players, procurar
otimizar o seu resultado, buscando a melhor alternativa para o alinhamento do seu objetivo e do seu
ganho. Espera-se que os participantes, após algumas rodadas, cheguem a resultados semelhantes,
auferindo a maximização do grau de satisfação de todos os envolvidos (CHIANG, 2006).
No entanto, a aplicabilidade dessa teoria está muito longe da realidade. Todos os indivíduos
(ou equipes) buscam a máxima satisfação, que é expressa pelo retorno nas negociações, com
diversas intensidades e interesses, não sendo possível a obtenção de um único equilíbrio. A partir
do momento em que uma negociação é efetuada, para cada agente podem acontecer diversos
resultados, com diversas probabilidades de ocorrência, como estudamos nas matrizes complexas.
Além disso, um agente individual, uma equipe ou até uma instituição busca ampliar as possibilidades
de retorno, sem uma acomodação, ou seja, um equilíbrio para cada situação.
Em contrapartida, excluindo essas críticas, a teoria dos jogos possibilita o mapeamento das
possibilidades para cada agente envolvido em uma negociação, com a descrição das alternativas
associadas para cada resultado. Desse modo, como a teoria dos jogos pode ser aplicada em uma
empresa? Seria possível termos um equilíbrio nas negociações?
Cada departamento de uma empresa, sob uma óptica microeconômico, tem seus custos diretos
e indiretos, diferentes alocações entre mão de obra e tecnologia, propósitos específicos e expectativas
distintas. O maior grau de interatividade entre os departamentos de uma companhia tem estreita relação
com uma menor ou maior flexibilidade para novas adaptações (mudanças) que o jogo de mercado
propicia aos colaboradores de uma instituição. A teoria dos jogos possibilita a visualização com base nos
desfechos, permitindo verificar se na negociação houve ganho real ou aparente.
Vamos entender um pouco mais a respeito dessas consequências. Primeiramente,
quando duas equipes ou dois indivíduos iniciam uma negociação, temos algumas possibilidades
relacionadas às finalizações. Ambas as esquipes podem ter um ganho mútuo (compartilhado) ou
um dos jogadores pode ter mais benefícios em detrimento do outro.
Para compreendermos melhor esses aspectos, vamos verificar as possibilidades, de acordo
com o Quadro 5, com base em uma descrição da aplicabilidade da teoria dos jogos em um processo
de negociação. Assim, em primeiro lugar, vamos supor algumas hipóteses, ou seja, quando o ganho
for real, teremos uma externalidade positiva; por outro lado, quando o ganho for aparente, teremos
uma externalidade negativa5.
Ganha B/Perde A
Com ou sem efeito
Equipe B Ambos ganham Positiva/Negativa
multiplicador.
Ambos perdem
Fonte: Elaborado pelo autor.
Perceba que o Quadro 5 mostra as possibilidades de ganho entre as partes envolvidas, quando
apenas uma ganha ou quando ambas perdem ou ganham. Para complementar, as externalidades
podem assumir um resultado positivo ou negativo para qualquer uma das situações e, por fim, o
ganho real pode ou não ter um efeito multiplicador6 em outros setores da empresa ou no mercado
como um todo.
Para a devida compreensão, é importante verificarmos um caso prático. Vamos supor que
uma indústria queira implementar uma nova unidade para a fabricação de produtos de limpeza.
Após estudar o mercado e realizar pesquisas verificando a demanda da região, os empreendedores
decidem instalar esse negócio em uma área que tenha proximidade com as estradas, com o objetivo
principal de otimizar a logística. Entretanto, ao lado da indústria, existem pequenos riachos e ampla
vegetação, o que traz o seguinte problema: como fazer produtos de limpeza sem danificar o meio
ambiente? Como os empreendedores trarão investimentos de terceiros para esse local?
Além disso, outro aspecto importante a ser considerado nesse exemplo é que o governo
concede isenção de impostos sob a justificativa de que uma indústria pode gerar emprego e
renda. Diante desse cenário que acabamos de construir, quem são os players? Nessa negociação,
temos como players os empreendedores (Equipe A) e os investidores (Bancos/Equipe B). Caso
os investidores consigam implementar a indústria, terão ganhado, mas haverá uma externalidade
negativa devido à poluição do meio ambiente por resíduos tóxicos, e haverá um efeito multiplicador
na região (geração de empregos e renda).
Perceba que em qualquer jogo entre dois indivíduos ou equipes teremos situações diversas,
com externalidades específicas e consequências indiretas (efeitos multiplicadores).
Analisemos, agora, um exemplo relacionado à troca dos eletrodomésticos em uma residência.
Quando a família decide trocar seus aparelhos, a razão principal para isso está relacionada a
inovações, design, praticidade dos novos produtos e geração de bem-estar. No entanto, a negociação
(ato de comprar) deve estar pautada em algumas considerações importantes, como:
• A família possui os recursos financeiros para a compra?
• Os eletrodomésticos atuais gastam mais energia do que os novos?
• A durabilidade dos novos aparelhos é maior que a dos antigos?
6 O efeito multiplicador está diretamente associado ao ganho financeiro e de renda de um indivíduo, uma equipe ou
uma empresa em determinada negociação.
Técnicas de negociação 45
Quando analisada com base na teoria dos jogos e no conceito das externalidades, a negociação
para adquirir eletrodomésticos toma outra proporção. Dessa forma, caso a família opte por comprar,
a equipe A (família) e a equipe B (vendedor) ganham, resultando em maior grau de endividamento
(externalidade negativa), aumento do bem-estar (externalidade positiva) e efeito multiplicador
relacionado à economia de energia (medida em reais) devido à aquisição dos bens mais novos.
Visto que todos os jogos geram externalidades, não basta somente vencer, é necessário
propiciar efeitos multiplicadores, ou seja, ganhos para demais ambientes, setores e pessoas. Nos
jogos (nas negociações), o equilíbrio entre os agentes envolvidos é relativamente estável, sendo
que uma das situações pode ser alterada a qualquer momento. No exemplo mencionado, ainda
podemos ter a perda de renda da família (desemprego) e a baixa funcionalidade dos aparelhos,
dentre outras circunstâncias.
Assim, a teoria dos jogos nas negociações contribui para o entendimento de que, em uma
negociação, o raciocínio de vencer a qualquer custo pode ser uma alternativa inviável, dependendo
das externalidades auferidas ao longo do tempo.
Considerações finais
Toda negociação está atrelada a uma estratégia e à definição de objetivos e resultados
almejados. Neste capítulo, desenvolvemos critérios para a análise dos desfechos relacionados à
imprevisibilidade associada ao ato de negociar. As expectativas sobre os ganhos são aleatórias,
dependendo das circunstâncias atreladas ao jogo da negociação.
A princípio, os indivíduos, quando desejam negociar, almejam concretizar determinado
objetivo, no entanto, no decorrer dos acontecimentos, a realidade se transforma, proporcionando
novas alternativas para a escolha. Quanto maior o tempo, maior o grau de mudança, e essa
transformação das estratégias tem estreita relação com o grau de conhecimento.
A qualificação e o desenvolvimento de habilidades para a negociação propiciam a elaboração
de estratégias específicas, tanto no âmbito individual quanto em equipe. Cada cenário, ambiente ou
interesse concebe um tipo específico de negociação, com estratégias distintas. Essa diversidade com
relação às opções se deve ao caráter aleatório das negociações, com diversos resultados possíveis de
acordo com os objetivos e as estratégias delineados em um ambiente competitivo.
Atividades
1. Quais são os atores de uma matriz de negociação complexa?
Referências
ABBAD, G. S.; BORGES-ANDRADE, J. E. Aprendizagem humana em organizações de trabalho. In:
ZANELLI, J. C.; BORGES-ANDRADE, J. E.; BASTOS, A. V. B. (org.). Psicologia, organizações e trabalho no
Brasil. 2. ed., p. 244-284. Porto Alegre: Artmed, 2014.
CARVALHAL, E. Negociação: fortalecendo o processo – como construir relações de longo prazo. Rio de
Janeiro: Vision, 2004.
CASTRO, B. L.; SOUZA, F. E. P. Cenários mundo-Brasil 2030: insumos para o planejamento estratégico do
BNDES. Revista do BNDES 44, dezembro 2015.
COLENCI JR, A.; GUERRINI, F. M. Organizações voltadas para o aprendizado. In: CAVALCANTI, M.
(org.). Gestão estratégica de negócios: evolução, cenários, diagnóstico e ação. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2001.
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Revista de Linguística, São Paulo, v. 52, n. 1, p. 21-37, 2008.
HARVEY, D. O enigma do capital e as crises do capitalismo. São Paulo: Boitempo Editorial, 2010.
OLIVEIRA, R. J. de. Ética na escola: por uma abordagem argumentativa. Revista Educação, Porto Alegre, v.
37, n. 3, p. 454-462, set./dez. 2014.
VASCONCELLOS FILHO, P.; PAGNONCELLI, D. Construindo estratégias para vencer: um método prático,
objetivo e testado para o sucesso da sua empresa. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001.
3
Ética nas negociações
moral: representa
Além disso, a ética, pertencente à ciência filosófica, investiga a moral como um processo
um conjunto de
normas que visam que deve ser pautado diariamente por meio de comportamentos e condutas, resultando, portanto,
atingir certo objetivo.
em um conjunto de regras que proporcionam desfechos morais no ambiente social (CORTELLA,
2009). Essa determinação do que é ou não é correto é orientada pelos grupos sociais, de acordo com
suas culturas, e caracterizada por momentos históricos, que diferem de sociedade para sociedade.
A ética assume caráter de questionamento sobre a moral, englobando valores que
possibilitam maior grau de bem-estar, com mais felicidade e ganhos colaborativos. Desse modo,
a ética possibilita que as interações no mundo econômico – com empresas, governo e pessoas –
sejam pautadas na amplitude da sobrevivência humana com integridade e possibilitem o aumento
do bem-estar.
Por outro lado, em uma sociedade permeada por interesses em jogo e com um sistema
capitalista implementado, a viabilidade de maiores níveis de felicidade não é um objetivo simples
de se atingir. Além disso, a incorporação de valores éticos não é uma característica pertencente
à essência humana, visto que a ética, com seus preceitos, é adquirida por meio da interação dos
indivíduos na sociedade.
Para a existência de uma sociedade ética, os seres humanos necessitam aprimorar as formas
de pensar, de entender e desenvolver a comunicação, além de imaginar e argumentar sobre os
diversos problemas que surgem no decorrer da vida (SINGER, 2002).
A ética é imprescindível também no ambiente profissional, o qual necessita de princípios
claros e objetivos. Um membro de determinada organização, por exemplo, deve ter qualificações
técnicas que possibilitem seu trabalho com produtividade, mas, além disso, deve atuar com
padrões éticos aceitáveis, tendo como principal objetivo agregar valor para a empresa e para a
sociedade. As atitudes pautadas na ética devem ser entendidas como elementos multiplicadores,
resultando em ganhos mútuos e, consequentemente, possibilitando mais retornos para a empresa
e para os investidores institucionais. Além disso, preceitos relacionados à tolerância, justiça,
liberdade e confiança devem estar presentes em um ambiente empresarial, repercutindo nas
negociações efetuadas pelos colaboradores.
Atitudes éticas nas organizações proporcionam um resultado muito importante: a felicidade.
A prática de princípios éticos e a obtenção de felicidade estão relacionadas com um planejamento
adequado e com práticas sustentáveis, tendo como consequência o aumento do bem-estar de todos
os envolvidos, seja em termos produtivos ou na convivência social.
A felicidade dos colaboradores tem relação direta com o aumento de produtividade, com
maior aderência às normas de condutas e, consequentemente, com os retornos auferidos pela
organização. A prática de princípios éticos colabora para desenvolver um ambiente repleto de
felicidade, sendo primordial a criação de perspectivas positivas, no campo do pensamento, para
todos os envolvidos nos processos produtivos, por meio de delineamentos de “sonhos realizáveis”
com projeções nas carreiras e de crescimento conjunto (DOLAN, 2015).
Visto que as relações humanas são pautadas em interesses individuais – característica da
forma de produção capitalista –, o aumento da felicidade na sociedade é de difícil concretização.
Ética nas negociações 51
Indivíduos, empresas e até governos são permeados por um conjunto de necessidades, sendo uma
tarefa complexa padronizar todos os acordos dentro de princípios éticos.
As necessidades dos indivíduos são superiores aos recursos disponíveis, ou seja, há restrição
de bens e serviços para todos. Diante disso, a partir do momento que uma pessoa tem restrição
de renda, com limites orçamentários, é muito difícil que ela seja ética em todas as suas ações na
coletividade, visto que, apesar de o ser humano ser racional, a busca pela sobrevivência normalmente
está acima dos padrões éticos, ocasionando consequências para o convívio coletivo.
Além disso, a quantidade de dinheiro disponível para as transações diárias de um indivíduo
não cresce na mesma proporção que os desejos de consumo, o que resulta em condutas que se
distanciam de padrões éticos aceitáveis. Assim, comportamentos pautados na igualdade de direitos,
liberdade, cooperação, respeito, dentre outros, às vezes, deixam de ser praticados, principalmente
devido aos desejos e às ambições do ser humano por obter mais, a qualquer custo, sem se preocupar
com as consequências.
Essa escassez de dinheiro pode ser explicada pelo conceito de restrição orçamentária1,
que apresenta limites para o gasto. Resumidamente, de acordo com esse conceito, a quantidade
de dinheiro gasta com bens e serviços por determinado indivíduo pode ser expressa por:
p1 . q1 + p2 . q2 + p3 . q3 + ... p . n . q . n < Y. Nessa relação, em que p e q representam os preços dos
bens e serviços e as respectivas quantidades, percebemos que a soma dos bens e produtos é menor
do que a renda do indivíduo, representada por Y2.
Podemos compreender que a escassez é um problema mundial, que reflete no ambiente
humano (indivíduos), organizacional (empresas) e governamental (Estados) e faz com que a ética,
muitas vezes, seja deixada de lado diante de situações cotidianas, inclusive nas negociações.
No entanto, é importante considerarmos que a ética é imprescindível no âmbito das
negociações, sendo que é por meio dela que alcançamos resultados com efeitos multiplicadores,
aumento do bem-estar e maior grau de felicidade para todos. Sendo assim, na próxima seção,
iremos estudar as negociações pautadas na ética.
aos casos de corrupção presentes em nosso país, que ocasionam ações não atreladas aos princípios
éticos e tornam a garantia de direitos uma tarefa difícil de ser concretizada.
Qualquer negociação deve estar pautada na ética, em todos os âmbitos e para todos os
agentes econômicos envolvidos, porém, tendo um Estado sem ética, como podemos ter negociações
pautadas em tais princípios?
Diante disso, na atual fase do capitalismo, constata-se uma nova perspectiva, a de um Estado
que atuará com o mínimo necessário (Estado Mínimo), com características restritivas, resultando
na redução do aparato governamental e de gastos e proporcionando maior liberdade ao mercado.
Verificar se as condutas estatais são pautadas na ética é uma tarefa difícil. Portanto, temos
dois processos: um Estado minimalista e um mercado que procura se regularizar com as próprias
forças. Não há um diálogo efetivo entre o Estado, representado pelos seus governantes, e o mercado.
Desse modo, não ocorre uma negociação plena entre esses dois atores e o que se evidencia é a
transferência das obrigações do Estado para o mercado, tornando o cenário econômico pautado
no livre comércio.
Essa menor participação do Poder Público (Estado) na economia torna mais acirrada a
competição entre as empresas privadas, sendo fundamental que elas normatizem suas operações
por meio de condutas e padrões éticos para todos os colaboradores. Com a reduzida participação
do Estado, o mercado inicia um processo de adaptação, principalmente devido à menor
regulamentação nos setores da economia.
O mercado, mediante essa nova configuração do Estado, representado pelo mínimo
necessário, procura criar sua própria ética, tendo como base princípios e valores adequados
para a operacionalização de todas as empresas. Dessa forma, para que as transações negociáveis
sejam pautadas na ética, as negociações precisam de um novo “olhar”, diferente da legitimação
do Estado.
Para que uma empresa tenha qualidade nas negociações, a ética deve ser a “mola mestra”
de suas estratégias e de todo o movimento financeiro efetuado. Assim, a companhia pode
demonstrar nos seus resultados financeiros que os lucros auferidos foram pautados em valores
como honestidade, justiça e respeito – pilares importantes dos princípios éticos.
Com um Estado Mínimo, é fundamental que as empresas procurem uma organização que
possa auferir maior segurança para todos os agentes, as corporações e os setores envolvidos nas
negociações. Dessa forma, visando maximizar o efeito da ética nas negociações empresariais, a
Governança Corporativa é muito comum, principalmente nas grandes corporações, pois envolve
regras, padrões de conduta e princípios a serem seguidos pelos colaboradores.
A Governança Corporativa é compreendida como um conjunto de processos que
proporcionam avaliação do negócio com transparência, envolvendo estratégias que possam
otimizar o relacionamento com os investidores, com a direção da companhia e com o conselho de
administração. Para uma gestão efetiva, todos os colaboradores devem estar envolvidos, de modo
ético e com normas estabelecidas (ANDRADE; ROSSETTI, 2009).
Ética nas negociações 53
Dentro dessa perspectiva, todas as negociações devem estar pautadas na ética, resultando
em ganhos para os atores envolvidos e em maior flexibilidade na obtenção de financiamentos e
recursos financeiros para a companhia, tanto no mercado real (bancário) quanto no mercado
de capitais, por meio da captação de maior número de investidores institucionais. Além disso,
com o objetivo de dinamizar os princípios éticos na organização, o comportamento de todos os
colaboradores deve estar pautado em um conjunto de regras estabelecidas3.
Na atual fase do capitalismo, com muitas negociações atreladas a ambientes virtuais, verifica-
-se que a propriedade do negócio está sendo transferida para um grupo de acionistas, em vários
setores econômicos, portanto é fundamental adequar o comportamento dos colaboradores e dos
acionistas na empresa.
Nesse cenário, marcado por um Estado Mínimo, o objetivo da Governança Corporativa
é que as empresas procurem se adaptar com plenitude e ética, para que o mercado possa operar
com total transparência. Apesar de a Governança Corporativa colaborar para os resultados de
uma empresa, essa prática tem um desafio a ser enfrentado, principalmente em relação ao capital
da empresa disperso para vários proprietários (acionistas), dificultando um planejamento sadio
e coerente (DORNELAS, 2011).
No atual momento de pulverização do capital das empresas para acionistas, os princípios
éticos devem ser inseridos nos processos de negociação e a prática da Governança Corportativa
assume papel fundamental para a aplicação da ética, com maior credibilidade ao mercado e maior
aderência dos consumidores, aumento da rentabilidade e, de modo bastante específico, diminuição
de estresse entre os colaboradores, importante para maximizar o retorno das negociações.
A implementação de novos empreendimentos é ampliada, principalmente pelo
desenvolvimento de uma cultura organizacional plena, com padrões de conduta razoáveis para
todos os agentes envolvidos. O maior engajamento por parte dos envolvidos proporciona uma
expectativa positiva em relação ao futuro, sendo fundamental para superar crises, muito comuns
em um livre mercado.
No Brasil, esse movimento teve a colaboração do Instituto Brasileiro de Governança
Corporativa (IBGC), com a divulgação das normas de conduta e padrões éticos (IBGC, 2016). No
mundo, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) desenvolveu
reuniões sobre essa temática, intitulada Business groups on corporate governance.
Dessa forma, no atual cenário econômico, representado por grandes grupos
internacionalizados, as negociações devem ser pautadas em princípios éticos. A Governança
expressa uma forma de planejamento que procura substituir a lacuna governamental mediante
o mercado e colabora para o fortalecimento dele nesse processo de adaptação, oferecendo
maior controle e, consequentemente, obtendo maiores retornos para os envolvidos. É, portanto,
imprescindível que as organizações realizem suas negociações de modo ético e pautadas em
princípios de Governança Corporativa.
Dessa forma, conforme destaca Harvey (2010), o processo de acumulação do capital ocorre
de modo contínuo, sem interrupções, com aspectos distintos de um setor para o outro, alguns mais
próximos ao ambiente produtivo e outros ao especulativo.
A busca incessante por lucros cada vez maiores pelas companhias pode exercer efeito
negativo, resultando na diminuição do grau de efetividade da companhia no mercado, com
implicações para os colaboradores e acionistas.
Diante disso, os colaboradores precisam ter consciência de que a prática de princípios
éticos colabora para a otimização dos lucros ao longo do tempo. Assim, com lucros periódicos
e constantes, é possível planejar, ampliar instalações, elaborar estratégias para novos negócios,
diversificar, treinar pessoas e proporcionar uma gama de benefícios para os colaboradores da
companhia.
Ética nas negociações 55
4 O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária colabora para a realização de publicidade com ética. Para
saber mais, acesse: http://www.conar.org.br/.
56 Negociação Empresarial
aquisição foi feito por meio da livre negociação entre os antigos proprietários das universidades e
os atuais empreendedores (empresas internacionais)5.
A entrada dessas empresas instaurou um novo cenário para os docentes, ampliando o número
de contratações no formato de pessoa jurídica. Consequentemente, houve perda de direitos por
grande parte dos professores que eram assalariados, como a diminuição da carga horária e da
remuneração, resultando no aumento do número de docentes disponíveis no mercado.
Embora tenhamos uma quantidade enorme de informações disponíveis na internet, não
há desenvolvimento do conhecimento – elemento fundamental para viabilizar a capacidade
de argumentação e proporcionar negociações pautadas na ética e na responsabilidade coletiva.
Conforme estudamos no Capítulo 1, para que um indivíduo ou uma instituição possa realizar
negociações com efetividade, é fundamental o desenvolvimento do conhecimento em todos os
âmbitos e dimensões.
Nesse novo cenário, marcado pelo excesso de informações, os docentes estão se adaptando
a uma nova realidade: a do ensino virtual. Diante disso, ocorre o crescimento de plataformas de
Ensino a Distância (EaD), que oferece novas oportunidades aos professores e alunos, com a vantagem
de proporcionar um ensino mais flexível e adequado à realidade do mundo contemporâneo6.
Algumas empresas irão priorizar a qualidade no ensino, ou seja, terão plataformas digitais
de qualidade, além disso, irão disponibilizar um ensino pautado na excelência e na preocupação
em oferecer a sabedoria em todos os aspectos. No entanto, apesar de algumas empresas do setor
visarem a qualidade, outras não terão esse objetivo no âmbito das negociações.
Diante do crescimento de plataformas de EaD, a quantidade de alunos em cursos presenciais
tem diminuído, sendo uma consequência direta da estratégia de negociação adotada por esse
mercado. As empresas desse setor, agora internacionalizadas, têm como objetivo oferecer cursos
presenciais e a distância, ou apenas presenciais e com menor número de alunos.
Dentro dessa perspectiva, as plataformas digitais assumem os mais variados tipos
de configuração, destinados a todos os públicos, com um grau de diferenciação atrelado à
renda disponível dos estudantes e ao conteúdo elaborado pelos professores. Desse modo,
consequentemente, o papel do professor não se perderá no tempo.
O docente do futuro será um profissional com bom relacionamento no mercado e nas
instituições públicas e privadas, irá elaborar materiais educacionais, orientará alunos, atuará
como promotor do conhecimento, no ambiente virtual e no real, e, além disso, terá perspectiva
empreendedora, podendo oferecer suas potencialidades inclusive no exterior. Portanto, quanto
maior for o seu grau de qualificação, maior será a gama de oportunidades oferecidas pelo mercado.
Apesar dessa nova perspectiva, o segmento público perde efetividade ao longo do tempo,
ocasionando consequências diretas ao docente. Os cortes de bolsas para a pesquisa e o baixo
5 Para a melhor compreensão das negociações e aquisições no segmento da educação, consulte: https://exame.abril.
com.br/negocios/10-grupos-de-educacao-que-movimentam-as-aquisicoes-do-setor/.
6 Para mais detalhes sobre o crescimento das plataformas EaD, acesse: http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/
noticia/2018-09/educacao-distancia-cresce-176-em-2017-maior-salto-desde-2008.
Ética nas negociações 57
volume de concursos oferecidos por universidades públicas, por exemplo, são evidências da perda
de efetividade governamental no mercado7.
Cabe ao mercado se adaptar a essa nova situação, delineando uma nova perspectiva para os
docentes, com maiores oportunidades e possibilidades de ganhos. Para os mais empreendedores, o
horizonte de ganhos provavelmente será muito maior.
Portanto, é extremamente importante que o mercado adote princípios éticos nas suas
operacionalizações, otimizando ganhos para todas as partes envolvidas, inclusive para os acionistas
das companhias de maior representação no segmento. Sendo assim, caso o mercado na área da
educação atue de modo ético, a sua prática oferecerá os subsídios fundamentais para o aumento da
rentabilidade e lucratividade ao longo do tempo, com o respeito de todos os envolvidos.
Para concretizar esse objetivo, muitas empresas desenvolvem códigos de ética, promovendo
o engajamento dos colaboradores, o alinhamento das operações e a criação de valores e princípios
adequados para cada organização em particular. Por outro lado, não existe padronização dos
diferentes códigos, podendo sofrer alterações mediante o tipo de mercado e setor envolvido.
Apesar de os padrões de conduta não serem uniformes, variando entre as organizações, um
fato notório é que a ética agrega valor à empresa, resultando em maiores lucros, com o valor sendo
expresso pelo ganho financeiro no âmbito produtivo, no retorno para os acionistas e no aumento
da produtividade dos colaboradores, que está atrelado à capacidade de os participantes envolvidos
na empresa desenvolverem habilidades argumentativas e visualizarem os diferentes cenários das
negociações (ARRUDA, 2002)8.
Quando um código de ética é implementado, efeitos estruturais na organização são
constatados, envolvendo recursos humanos e tecnológicos, nos diferentes processos produtivos.
Para implementarmos um programa de ética, com o objetivo de gerar valor para a organização,
primeiramente é fundamental que tenhamos apoio da alta administração, com uma perspectiva
positiva sobre as possíveis alterações no ambiente da empresa. Em seguida, é muito importante
delimitarmos os valores e as crenças da empresa, para que ocorra uma transição justa e equilibrada
em todos os segmentos envolvidos. Posteriormente, mediante a realidade da companhia, é
fundamental formularmos itens de maior importância para a delimitação de um padrão ético, com
a elaboração de um código de ética propriamente dito.
Além disso, para que todas as ações sejam pautadas na transparência, é de extrema
importância que a organização tenha um comitê de ética para avaliar as diretrizes que serão
implementadas e para adequar a nova realidade aos padrões aceitos como éticos. Visto que uma
organização é formada por pessoas, é muito importante que todas sejam treinadas na área da ética,
para o aumento do grau de legitimidade relacionado a todas as mudanças em andamento.
Desse modo, todos os canais que possibilitem a comunicação entre os envolvidos devem ser
otimizados, com facilidade para o diálogo entre os colaboradores e pautados em princípios éticos.
Da mesma forma, todas as etapas que envolvem a implementação de um código de ética devem
ser submetidas a auditorias periódicas, com o objetivo de verificar se os relatórios enviados aos
investidores estão pautados em informações financeiras com princípios éticos, com apuração de
desvios e fraudes atreladas (FORTINI; MOTTA, 2016).
Diante disso, percebemos que a ética é uma nova tendência para o mercado se estruturar,
estabelecendo princípios que possam tornar o cenário mais adequado às realidades econômica,
política e social. No entanto, essa tarefa é muito difícil de ser realizada, pois podem haver problemas
na sua implementação, como interesses pautados somente no lucro imediato, diminuição dos
valores morais, além de outras consequências.
Na próxima seção, estudaremos um segmento produtivo na economia pertencente à área
da saúde: a diálise. Para tanto, iremos compreender como esse mercado é estruturado e quais
principais problemas poderiam ser sanados por meio de princípios éticos.
Desse modo, de acordo com o autor, as empresas estrangeiras assumem uma participação
em uma escala global, com linhas de produção e distribuição de seus produtos em diversos
países no mundo.
As empresas transnacionais operam no mundo inteiro, apresentam custos para o
desenvolvimento de pesquisas na saúde, desenvolvem novas tecnologias e precisam qualificar
pessoas para o uso de novos tratamentos, assumindo todo o ônus relacionado ao fornecimento
dos produtos para a saúde e repassando seus custos para essa área, com negociações pautadas
na prática de preços acima da inflação. O governo, por outro lado, não cria mecanismos
para o desenvolvimento de novas tecnologias no âmbito nacional, sem financiamento para
pesquisas aplicadas na saúde, com consequências diretas para todos os agentes econômicos
envolvidos nesse segmento, o que não ocorreria com a dinamização da indústria nacional para
o desenvolvimento de tecnologias.
Para complementar, apesar de as empresas transnacionais produzirem quantidade de
produtos em escala muito elevada, os preços praticados assumem proporções geométricas ao longo
do tempo. Dessa forma, os preços crescem sem controle, sem princípios éticos relacionados ao
60 Negociação Empresarial
Quadro 1, esclarece os determinantes estruturais, os problemas éticos e as soluções para essa área
da saúde.
Quadro 2 – Matriz de negociação na diálise
Considerações finais
A aplicabilidade dos princípios éticos nas negociações é muito importante para os resultados
de qualquer organização empresarial. Atributos relacionados à honestidade, moral, justiça e,
sobretudo, transparência devem ser priorizados para uma gestão efetiva.
Por meio de um planejamento dentro dos princípios éticos, a empresa consegue obter
resultados financeiros satisfatórios e aumentar a possibilidade de atrair novos investidores. Além
disso, para a otimização dos processos dentro de uma companhia, é fundamental a elaboração de
um código de ética, com definição de prioridades e normas de conduta.
10 O governo liberou a entrada de empresas estrangeiras na saúde. Para mais detalhes da liberação do capital
estrangeiro na saúde, acesse: https://lbmadvogados.jusbrasil.com.br/artigos/209640394/a-abertura-do-setor-de-saude-
ao-capital-estrangeiro.
11 Recentemente, em 2018, o grupo Diaverum adquiriu serviços de diálise em Suzano e Mogi das Cruzes. Para mais
informações, acesse: https://www.investe.sp.gov.br/noticia/empresa-sueca-compra-institutos-de-nefrologia-de-suzano-
e-mogi/.
Ética nas negociações 63
Atividades
1. Como a ética pode colaborar no desempenho de uma organização empresarial?
Referências
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ARRUDA, M. C. C. de. Fundamentos de ética empresarial e econômica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
64 Negociação Empresarial
IBGC. Código Brasileiro de Governança Corporativa: Companhias Abertas / Grupo de Trabalho Interagentes;
coordenação Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. São Paulo, SP: IBGC, 2016.
CORTELLA, M. S. Qual é a tua obra? Inquietações, propositivas sobre gestão, liderança e ética. Petrópolis:
Vozes, 2009.
FORTINI, C.; MOTTA, F. Corrupção nas licitações e contratações públicas: sinais de alerta segundo a
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GADELHA, C. A. G. Estudo da competitividade de cadeias integradas no Brasil: impactos das zonas livres
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PESCUMA JR., A. O financiamento da média e alta complexidade do SUS: uma análise dos recursos financeiros
da terapia renal substitutiva. São Paulo, 2013. 107 f. Dissertação (Mestrado em Economia) – Faculdade de
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São Paulo, 2019. Tese (Doutorado em Ciências) – Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo.
SINGER, P. Ética prática. Trad. de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
Neste capítulo, iremos estudar a importância da gestão de conflitos nas negociações e sua
aplicabilidade no atual cenário econômico, político e social. Dessa forma, na seção 4.1, iremos
observar que durante um processo de negociação podem ocorrer conflitos, principalmente
devido à crise econômica do mundo contemporâneo. Na seção 4.2, vamos compreender aspectos
relacionados à racionalidade em uma negociação, entendendo que todos os seres humanos têm
características emotivas. Por fim, no item 4.3, vamos relacionar os aspectos motivacionais ao ato
de empreender para o desenvolvimento de novos negócios.
1 Os efeitos multiplicadores em cadeia se referem aos ganhos financeiros para diversos segmentos produtivos, com
aumento de emprego, quantidade de negócios efetuados e renda.
66 Negociação Empresarial
No entanto, devido aos problemas sociais, políticos e econômicos de um país, nem sempre
surgem os retornos desejados em uma negociação, o que gera conflitos entre organizações e entre
indivíduos, ou seja, um cenário de crise econômica é capaz de ampliar os problemas e as disparidades
nas negociações, resultando em maiores disputas, falta de ética, diminuição da efetividade e falta de
equilíbrio entre as partes envolvidas.
Dessa forma, para a gestão dos conflitos nas negociações, é importante compreendermos o
grau de interatividade dos principais atores representativos em determinada economia. Conforme
estudamos no Capítulo 1, as empresas, o governo, as famílias e o resto do mundo são instituições
importantes no fluxo circular de renda e efetuam negociações que geram reflexos positivos ou
negativos. No entanto, em um momento de crise, os conflitos entre esses atores geralmente
aumentam e refletem em todos os envolvidos e, além disso, na sociedade como um todo, isso
comprova que a crise desencadeia conflitos nas negociações.
A maior probabilidade de ocorrência de conflitos está associada à forma de organização
de uma sociedade, o que afeta todos os atores pertencentes ao fluxo circular de renda. Desse
modo, para compreendermos como um sistema econômico é estruturado e delineado por relações
sociais e produtivas, é necessário verificarmos sua composição e como os agentes econômicos se
organizam diante de negociações efetuadas ao longo do tempo.
Um sistema de produção apresenta características diferentes, principalmente devido à maior
ou menor participação do governo na economia. Assim, temos dois tipos de sistema: um próximo
ao comunismo, o socialismo, e outro capitalista. Segundo Marx (1980), uma economia socialista
consiste em um sistema igualitário que proporciona os bens necessários para as pessoas e para
todo o conjunto de instituições. Essa igualdade estaria relacionada à eliminação progressiva da
propriedade dos meios de produção, com a distribuição de bens e serviços para todos, resultando
em igualdade de direitos. Desse modo, haveria uniformidade na oferta dos serviços, como
habitação, educação, saúde e aposentadoria, e todas as necessidades da população seriam supridas
por um governo igualitário.
A Revolução de Outubro2 foi o marco para o comunismo no século XX. Esse sistema, com
uma perspectiva universal, objetivava fornecer bens e serviços a todos. Em seguida, após a Segunda
Guerra Mundial, o sistema comunista se espalhou, atingindo a Europa Oriental, a China, outros
países asiáticos e Cuba (HOSKING, 1998). Na segunda metade do século XX, com a tentativa de
disseminar os bens e serviços essenciais para toda a população, vários países da Europa Ocidental
desenvolveram formas produtivas de distribuir os recursos do Estado. Wolf e Oliveira (2016, p.
663) esclarecem sobre o Estado de bem-estar social:
os Estados de Bem-Estar Social nada mais são do que uma dentre as várias
formas possíveis de sistema de proteção social, caracterizando-se pelo fato
de que o Estado assume um papel mais contundente no atendimento das
necessidades individuais fundamentais relativamente às demais formas de
provisão, como o mercado e a família. Nesse caso, ele pressupõe um processo de
2 A Revolução de Outubro, ocorrida em 25 de outubro de 1917, na Rússia, conhecida como Revolução Bolchevique ou
Revolução Vermelha, defendia mais direitos aos cidadãos. A Rússia passava por uma crise econômica profunda, e o grupo
que liderou esse movimento foi o bolchevique, pertencente ao Partido Operário Social-Democrata Russo, coordenado por
Vladimir Lenin.
Gestão de conflitos 67
Básicas para o
Socialista Menor Maior Menor Menor
funcionamento do sistema.
Diversificadas, com
Capitalista Maior Menor Maior inovações e maior estímulo Maior
produtivo.
Fonte: Elaborado pelo autor.
No sistema socialista, a renda gerada pelo sistema produtivo é apropriada pelo Estado e
distribuída aos cidadãos. Já no sistema capitalista a renda é apropriada por poucos, por investidores
institucionais, no mercado especulativo e com baixa distribuição para a população.
Ainda no sistema capitalista, a maior parte dos segmentos produtivos está organizada em
oligopólio, o que gera consequências graves no âmbito social (PIKETTY, 2014). A concentração
do capital, entendida como a quantidade de dinheiro na mão de poucos, expressa pelo domínio
da propriedade em um sistema capitalista, é conhecida por Piketty (2014) como um elemento
que proporciona maiores retornos para os capitalistas, sendo o trabalho um elemento de menor
representatividade na produção.
Gestão de conflitos 69
O autor enfatiza o elevado grau de desigualdade nas sociedades capitalistas, um dos motivos
das crises e, consequentemente, da existência de conflitos nas negociações. Portanto, em um
cenário com baixa renda, expressa pela riqueza individual ou das empresas, o “jogo” no mercado se
intensifica, com maiores problemas na resolução das negociações e maior incidência de conflitos.
Dessa forma, compreendemos que a maior incidência de conflitos está associada
a negociações baseadas em um raciocínio determinista e individualista, em que há baixa
resolução para todos os envolvidos. A geração de conflitos em uma sociedade é apresentada
como um reflexo de sua estrutura, ou seja, é muito importante o entendimento dos valores
humanos nesse processo. Sendo assim, na próxima seção, vamos tratar dos valores subjetivos
representados pelas emoções dos indivíduos.
3 O mercado produtivo engloba o conjunto de tecnologias (máquinas) e mão de obra utilizado para produzir um produto
ou serviço. O mercado especulativo se refere à comercialização de ações de empresas de capital aberto no mercado
acionário ou de capitais, como as bolsas de valores.
70 Negociação Empresarial
Para minimizar os conflitos diante de uma crise econômica, é fundamental estar motivado
e agregar valor a todos os pertencentes de uma organização. A realidade dos seres humanos é o
reflexo dos pensamentos. A emoção, apesar de não ser lógica, pode contribuir na ampliação dos
sentimentos motivacionais, importantes para a concretização de bons projetos e, consequentemente,
aprimoramento do grau de efetividade das negociações.
A metodologia socioemocional colabora nesse sentido. Basicamente, para que uma
negociação seja efetiva, é muito importante que o negociador tenha um caráter bem delineado,
com valores transparentes: um requisito fundamental nas grandes corporações empresariais4.
De acordo com a metodologia socioemocional, um indivíduo deve aprimorar sua personalidade
para a realização de uma negociação efetiva, ou seja, é importante ter amor, empatia, gratidão,
tolerância, cooperação, perseverança, responsabilidade, determinação, honestidade, gentileza,
respeito e iniciativa.
Cada atributo mencionado é útil para a garantia de uma negociação eficaz. Portanto, todos
devem ter a liberdade de empreender, criar, desenvolver ideias, inovar, pensar, refletir, ter mais
tempo livre, ter acesso à cultura, dedicar mais tempo à família, viajar, além de outras atividades que
proporcionam o bem-estar. Uma sociedade desenvolvida prioriza esse cenário.
A metodologia socioemocional tem elevada aplicabilidade em países como Dinamarca,
Suécia, Finlândia e Noruega, com um resultado bastante significativo no aumento do bem-estar e
consequências diretas para um movimento social justo e igualitário5. Além disso, a metodologia
socioemocional colabora para a concretização de uma sociedade dentro desse perfil, sendo
igualitária, justa, ética e que priorize a educação durante qualquer tipo de negociação.
Desse modo, é importante negociar com educação, seguindo os princípios da metodologia
socioemocional, agregando valor para todo o conjunto de atores, com perspectivas para
sustentabilidade e aumento do bem-estar.
Para empreender com efetividade, é necessário possuir valores socioemocionais que possam
proporcionar resultados positivos para todos os envolvidos. O espírito empreendedor é uma
consequência desses valores, mas os atributos pertencentes ao escopo socioemocional não são
suficientes. Os atributos humanos colaboram, mas todo empreendimento precisa ser investigado
a partir de premissas técnicas, com maior grau de precisão nas análises. Portanto, é necessário que
seja realizada uma análise para a verificação da viabilidade econômica de um empreendimento.
Para ser realizado, todo negócio necessita de uma ideia inicial, com certa particularidade,
pretendendo ofertar um bem, um serviço ou intermediar alguma atividade no mercado. Logo, para
assegurar uma viabilidade ótima, no sentido de angariar retornos para todos, é imprescindível ter os
atributos consolidados no indivíduo (empreendedor) e sua equipe e, além disso, um olhar técnico
para o novo negócio, para que os resultados das negociações durante a fase de implementação do
projeto sejam plenamente efetivos.
Para que um empreendimento seja viável, valores humanos e técnicos devem ser
priorizados. Um novo negócio, movido pelo espírito empreendedor, representa movimento
para o desenvolvimento de novas ideias, geração de conhecimento e empregos, e, sobretudo,
para a inovação.
Países subdesenvolvidos, como o Brasil, apresentam potencial elevado para o desenvolvimento
de novas ideias, mas não há parceria efetiva entre o segmento público e o privado para esse movimento
empreendedor. Consequentemente, o mercado se responsabiliza pelo cenário de inovações.
startup: pode ser
O que se constata é a presença de startups, que desenvolvem ideias com valor unitário compreendida
representativo, possuindo grande aceitação por toda a parte de investidores. São movimentos como a
concretização de
que priorizam a aplicação de recursos para o desenvolvimento de novas cadeias produtivas e uma ideia em um
buscam negociações pautadas na lógica de mercado, com um alto grau de efetividade6. negócio.
oferta; quantidade de dinheiro necessária para o negócio (capital inicial); fornecedores; prazo de
retorno; e local do negócio (virtual ou real) em um espaço geográfico.
As negociações devem ser efetivas em um negócio, ou seja, é necessário analisar todos os
itens e entender todas as possibilidades e informações (evidências) disponíveis para as análises. Para
tanto, antes de investir capital em um negócio, é fundamental analisar, compreender, estruturar,
investigar, experimentar e verificar a viabilidade econômica de um empreendimento.
Partindo de tais objetivos, vamos analisar, a seguir, um estudo de caso referente à
implementação de uma clínica para idosos.
• Justificativa:
A população de idosos no Brasil aumentará nos próximos anos, o que vai agravar
as incapacidades e sequelas que demandam maiores recursos financeiros para o
dimensionamento da oferta de serviços de saúde para a população. Nos segmentos
populacionais com idades mais avançadas há um incremento das doenças crônicas, entre
elas hipertensão arterial, diabetes mellitus (DM), doenças cardiovasculares e problemas
renais. Sem o devido cuidado, essas doenças podem proporcionar agravos como doenças
renais, cardiocirculatórias, neurológicas, entre outras (MIRANDA; MENDES; SILVA, 2016).
Em São Paulo, de acordo com a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE),
o envelhecimento populacional apresenta uma elevação progressiva na capital paulista. De
acordo com as projeções, em 2010, o número de idosos passará de 6 para cada 10 crianças
de até 15 anos; em 2030, para 12; chegando a 21 idosos para cada 10 jovens, em 2050. Os
distritos mais envelhecidos localizam-se no centro expandido da cidade (SEADE, 2015).
• Demanda e oferta:
A quantidade de pessoas idosas e, consequentemente, a demanda por serviços geriátricos
(cuidados aos idosos) vão aumentar ao longo do tempo. Assim, visto que o governo não
tem uma política efetiva de amparo aos idosos, o mercado vai se encarregar de ofertar tais
serviços (BORGES; CAMPOS; SILVA, 2015).
• Capital inicial:
O dinheiro necessário para a operacionalização do serviço vai depender do público-alvo. A
classe social que o empreendimento pretende atingir é muito importante, principalmente
com relação a estabelecimento de preços, definição de formas de atendimento, marketing,
dentre outros aspectos relativos à geração de receita para a clínica.
Gestão de conflitos 75
Caso o empreendimento esteja voltado às classes mais ricas, os serviços para o cuidado
do idoso terão custos maiores e a estrutura deverá ser oferecida com equipamentos mais
sofisticados. Por outro lado, caso o conjunto de idosos (público-alvo) seja de classes mais
baixas, o componente estrutural poderá ser minimizado, com recursos na clínica de
menor valor. A princípio, o capital inicial aplicado no empreendimento deve priorizar
aspectos relacionados à infraestrutura, principalmente devido às normas de segurança.
Os idosos necessitam de um ambiente seguro para se acomodarem, que possa evitar
acidentes, quedas, dentre outros eventos inesperados9.
• Fornecedores:
Em uma clínica geriátrica, não há quantidade representativa de fornecedores, assim,
os medicamentos de alto custo são fornecidos pelo SUS e, geralmente, os produtos
para higiene são disponibilizados pelas famílias. Para manter uma clínica, os recursos
necessários são os básicos, como a manutenção de energia elétrica, telefone e internet
e a disponibilidade de mão de obra (profissionais de saúde).
Pode-se afirmar que uma clínica para idosos é de capital extensiva, por utilizar mais pessoas
do que tecnologias. Assim, caso necessite de cuidados médicos de maior complexidade,
o idoso é movido para uma instituição hospitalar e as negociações são realizadas com as
famílias e com os empregados (fisioterapeutas, nutricionistas, enfermeiros e médicos).
O maior gasto com funcionários está diretamente ligado ao aumento ou diminuição de
profissionais de saúde no mercado. Caso tenhamos mais profissionais disponíveis, menor
será o salário e, consequentemente, menor será o custo para a clínica. Atualmente, existe
monitoramento a distância para idosos, com o objetivo de diminuir os riscos e o impacto
no gasto salarial efetuado pela clínica10.
• Prazo de retorno:
O prazo de retorno dependerá de algumas situações e particularidades específicas de cada
serviço. Quanto maior é o acesso ao serviço, por exemplo, estacionamento ou transporte
público, maior é a quantidade de pessoas em circulação e, consequentemente, maior é
a probabilidade de ter mais clientes (pacientes) em um curto espaço de tempo. O prazo
de maturação está diretamente relacionado ao tempo necessário para a concretização de
receitas que sejam suficientes para cobrir os custos iniciais e para o suprimento dos gastos
correntes da clínica.
Dessa forma, o retorno será expresso por uma quantidade de dinheiro que possa
suprir o que foi gasto no momento zero (estruturação do negócio) e durante a fase de
implementação (gastos correntes e despesas mensais).
9 Para mais informações, acesse a Portaria de número 810, de 22 de setembro publicada pelo Ministério da Saúde.
10 Saiba mais acessando: https://www.helpcarebrasil.com.br/?gclid=EAIaIQobChMI1PDRtK-
N5QIVlISRCh0K8QFgEAAYAiAAEgK2lvD_BwE.
76 Negociação Empresarial
da quantidade exata de pacientes que possam cobrir os custos e, além disso, oferecer uma
maior margem de segurança para o funcionamento da clínica ao longo do tempo.
Muitas vezes, nas análises de viabilidade econômica é utilizado o conceito de taxa interna
de retorno (TIR), que é uma medida de viabilidade para um negócio11. No entanto, a
análise de viabilidade de um empreendimento não pode ser fundamentada somente
no cálculo de uma taxa. É necessário verificar a realidade que será alterada mediante
a implementação do novo empreendimento, verificando os retornos potenciais e se há
ou não efeitos positivos para o mercado como um todo, principalmente com relação à
maior circulação de dinheiro, ao fomento de novas ideias e ao desenvolvimento de toda
uma cadeia produtiva (CASSIOLATO; SZAPIRO, 2003)12.
Na atualidade, temos um processo migratório dos negócios “reais” para os virtuais, com
uma ideia de complementariedade ou exclusão. Desse modo, os empreendimentos digitais
têm como objetivo substituir os negócios reais ou tradicionais. Como exemplos, temos:
sites de oferta de imóveis, locação de carros, hotéis, plataformas de ensino de idiomas,
mercados, dentre outros estabelecimentos virtuais.
Os negócios nessa área, inclusive para o cuidado de idosos, são delineados por um
“desenho geográfico”, sendo na sua maior parte físico, concreto. Apesar da existência de
11 Para mais detalhes sobre os procedimentos de cálculo da taxa interna de retorno, acesse: https://pesquisa-eaesp.
fgv.br/sites/gvpesquisa.fgv.br/files/arquivos/barbieri_-_taxa_interna_de_retorno_controversias_e_interpretacoes.pdf.
12 O Sebrae desenvolve projetos de implementação de novos negócios. Para saber mais, consulte: http://www.agricultura.
gov.br/assuntos/camaras-setoriais-tematicas/documentos/camaras-setoriais/viticultura-vinhos-e-derivados/2017/46a-
ro/apresentacao-institucional-sebrae-2209.pdf.
Gestão de conflitos 77
O acesso à saúde é expresso pela facilidade de obter o cuidado, pelo acolhimento das
pessoas e pela otimização dos retornos auferidos em todos os aspectos, econômicos ou sociais.
Finalmente, é possível perceber que o empreendimento relativo à clínica para idosos tem uma
elevada complexidade, sendo fundamental verificar todos os aspectos relacionados ao aumento do
bem-estar dos pacientes e também das famílias.
Considerações finais
Conforme estudamos neste capítulo, a forma de organização produtiva de um país contribui
para a ocorrência de situações de conflito nas negociações.
Desse modo, compreendemos que economias mais centralizadas, com menor poder de
mercado, tendem à acomodação, com menor grau de conflitos nas negociações e menor participação
crítica dos indivíduos na sociedade. Já em estruturas pautadas no mercado, os conflitos são mais
acentuados, com a busca de novas alternativas para os processos de negociação.
Observamos também que os seres humanos são emotivos e, para obterem maior retorno
durante uma negociação, é fundamental que tenham critérios analíticos que possam colaborar com
a racionalidade entre os indivíduos ou as instituições.
Por fim, entendemos que o movimento empreendedor está associado ao otimismo e à motivação,
com efetivo impacto no sucesso de um empreendimento. Dessa forma, é fundamental observar as
evidências e viabilizar etapas que possam fundamentar a implementação de um novo negócio.
Atividades
1. Quais são os sistemas produtivos constatados em determinada sociedade? Descreva-os.
Referências
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socioambientais: o jogo Aracruz Celulose S. A. – Índios Tupiniquim e Guarani. Campinas: Ambiente &
Sociedade, 2001.
BORGES, G. M.; CAMPOS, M. B.; SILVA, L. G. de C. Transição da estrutura etária no Brasil: oportunidade
para a sociedade nas próximas décadas. In: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (org.).
Mudança demográfica no Brasil no início do século XXI: subsídios para as projeções da população. Rio de
Janeiro: IBGE, 2015.
CASSIOLATO, J. E.; SZAPIRO, M. Uma caracterização de arranjos produtivos locais de micro e pequenas
empresas. In: LASTRES, H. M. M.; CASSIOLATO, J. E.; MACIEL, M. L. Pequena empresa: cooperação e
desenvolvimento local. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003.
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(Coleção Os Economistas).
MARX, K. O capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. Livros I, II e
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RENAUX, P. Desemprego fica estável, mas população subutilizada é a maior desde 2012. Agência IBGE
notícias, 2019. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-
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Acesso em: 1 nov. 2019.
SCHUMPETER, J. A. Capitalism, socialism and democracy. 3. ed. New York: Harper & Row Publishers, 1976.
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rápido envelhecimento e reduz o ritmo de crescimento da população. São Paulo, 21 jan. 2015. Disponível
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crescimento-da-populacao/. Acesso em: 18 out. 2019.
WOLF, P. J. W.; OLIVEIRA, G. C. Os estados de bem-estar social da Europa Ocidental: tipologias, evidências
e vulnerabilidades. Economia e Sociedade, Campinas, v. 25, n. 3 (58), p. 661-694, dez. 2016.
5
A negociação internacional
1 David Ricardo foi um economista britânico que colaborou para a ciência econômica, principalmente com a teoria
da distribuição e com temas referentes à política monetária e ao comércio internacional.
82 Negociação Empresarial
Desse modo, o crescimento econômico pautado na busca apenas por lucros excessivos e
sem a preocupação com o meio ambiente não pode ser considerado como um princípio adequado
para a operacionalização das negociações entre os países. Assim, é importante que as instituições
estejam adaptadas para minimizar as consequências negativas de uma exploração ambiental sem
critério e sem limites.
Além disso, o comércio internacional deve ter como prioridade a manutenção de benefícios
coletivos para a humanidade, gerando oportunidades mútuas para o crescimento e envolvendo
instituições, governos e entidades representativas para o aprimoramento de políticas que possam
beneficiar o todo, com igualdade, ética e respeito.
Embora seja importante, a Teoria das Vantagens Comparativas não é suficiente para
verificar o impacto das disparidades ocasionadas pela produção em excesso, sendo característica
de uma sociedade capitalista desigual, com perdas de direitos para todos. Desse modo, a
negociação internacional deve ter como pauta fundamental o desenvolvimento com medidas que
possam colaborar para a concretização de efeitos multiplicadores, com aumento de empregos,
desenvolvimento da pesquisa e aumento no tempo de lazer para as populações envolvidas
(PORTO‑GONÇALVES, 2004).
No entanto, o que se constata é uma busca por lucros baseada em ganhos especulativos, com
baixo dinamismo social e diversas consequências para o meio ambiente. Um exemplo de desmonte
A negociação internacional 85
da estrutura ambiental ocorreu na China, após as reformas de abertura econômica em 19782, que,
com mão de obra abundante, imensa extensão territorial e conhecimento pautado na produção
de tecnologias, foi capaz de apresentar crescimento do PIB acima de patamares históricos, com
consequências ambientais para todo o mundo. Esse efeito nocivo ao meio ambiente é constatado
na produção acelerada de aparelhos celulares, computadores, peças para automóveis, dentre outros
artefatos que geram riqueza pautada na destruição do planeta.
O crescimento econômico chinês seria uma forma indireta de guerra, tendo como
estratégia uma negociação internacional com vantagens comparativas para a produção de
“tecnologias” e para o fomento de uma massa de consumidores “dependentes” de instrumentos
tecnológicos que pulverizam um raciocínio coletivo baseado no consumo desenfreado de
itens supérfluos, além do evidente impacto ambiental, com a produção de gases tóxicos na
atmosfera, óleos nos rios e mares, e tendo considerável impacto para todo o equilíbrio do
planeta (ANDREAE, 1991 apud FERREIRA; BARBI, 2012).
Outro exemplo é a política armamentista norte-americana, que dinamiza a economia com
a produção em massa de armamentos bélicos e o desenvolvimento de tecnologias baseadas na
“arte de fazer guerra”, tendo como princípio básico uma dinâmica econômica fundamentada na
indústria do aço e de itens relacionados à defesa do país. Assim, podemos dizer que a economia dos
EUA, por exemplo, tem como vantagem comparativa a produção de armamentos e possui elevada
produtividade nesse segmento. No entanto, quando nos deparamos com impactos ambientais,
sociais e políticos, percebemos que o ganho financeiro supera o de bem-estar da coletividade,
ocasionando um número acentuado de guerras.
Desse modo, com base na Teoria das Vantagens Comparativas no âmbito da negociação
internacional, compreendemos que a busca pelo lucro deixou de lado um aspecto importante sobre
o ganho competitivo entre os países: ter como princípio a geração de valor para a humanidade,
preocupando-se com o todo, sem particularidades e sem o isolamento produtivo. Além disso,
os efeitos nocivos não estão relacionados apenas ao meio ambiente, e o ganho desmedido nas
negociações internacionais por meio do fundamento básico da Teoria das Vantagens Comparativas
apresenta consequências diretas sobre as perdas no âmbito social, repercutindo na vida das pessoas
com o aumento de doenças (cardiorrespiratórias, câncer, diabetes, estresse) e, sobretudo, com a
perda da qualidade de vida da população (DUPAS, 1999).
A maioria das negociações internacionais tem como estrutura principal o ganho financeiro
produtivo e especulativo, preocupando-se com a otimização dos retornos aos acionistas de
grandes companhias internacionalizadas. Com relação ao crescimento dos países, a Teoria das
Vantagens Comparativas pôde contribuir para a intensificação de um cenário marcado pelo
aumento das produtividades baseadas no ganho por quantidade produzida e para a dinamização
de setores mais lucrativos, com maior viabilidade econômica, deixando de lado os aspectos
relacionados ao desenvolvimento sustentável, que tem como premissas básicas o meio ambiente
e o bem-estar das pessoas.
3 Toda empresa que desenvolve um novo produto, uma nova tecnologia ou serviço detém o direito de sua
comercialização por determinado período de tempo, denominado patente.
A negociação internacional 87
4 A Governança Corporativa é uma forma de planejamento que tem como objetivo alinhar os interesses dos acionistas
das empresas transnacionais; o compliance fortalece a Governança, com transparência e ética nas negociações.
88 Negociação Empresarial
suprir uma demanda que não é satisfeita pelo governo. Desse modo, as empresas internacionalizadas
verificam uma oportunidade de negócio e oferecem serviços que deveriam ser realizados pelo
Estado, conforme ilustra o Quadro 2.
Quadro 2 – Participação de empresas transnacionais no Brasil
5 Os ativos representam os elementos que pertencem à estrutura das companhias, à quantidade de dinheiro disponível
e os investimentos. Já os passivos são entendidos como o conjunto de dívidas da empresa a curto, médio e longo prazo.
A negociação internacional 91
a companhia incorporadora, sendo necessário que o somatório dos ativos supere o dos passivos,
proporcionando segurança para os colaboradores e para os acionistas. Nesse processo, a empresa
incorporadora continua existindo e a incorporada desaparece. Portanto, para que ocorra ganho
nessa negociação, é fundamental que todos os dados contábeis e financeiros estejam disponíveis,
para que os investidores possam continuar nas suas posições, comprando títulos negociáveis no
mercado e financiando todo o processo de incorporação.
Já no processo de fusão, há o surgimento de uma nova companhia, com características
financeiras, administrativas e de gestão que podem se diferenciar completamente das empresas
que participaram dessa união. As fusões têm como objetivo elevar o valor da empresa resultante,
diversificando as atividades e o aumento da liquidez dos proprietários, com uma maior
quantidade de dinheiro para diminuir as dívidas contraídas ou os passivos, expressos pelo grau
de endividamento6. As fusões expressam reestruturações empresariais por meio de atividades que
envolvem a expansão ou diminuição do ciclo operacional de uma companhia, além de proporcionar
alterações nos ativos, na composição dos proprietários, dentre outros reflexos produtivos.
Por outro lado, no processo de aquisição, a empresa que é adquirida não sofre alteração
no seu formato, o que ocorre é a mudança do controle acionário de uma empresa para outra. A
aquisição é a compra de ações de uma empresa por outra, em que não há o surgimento de uma
nova empresa, como ocorre na fusão. Na aquisição, a empresa de menor porte é dimensionada ou
inserida no ambiente produtivo da empresa de maior porte, principalmente com relação aos seus
ativos, compostos pela infraestrutura, pelas tecnologias utilizadas e pelo grau de conhecimento
técnico e científico (FABRETTI, 2005).
O entendimento dos processos de incorporação, fusão e aquisição entre grandes companhias
proporciona uma reflexão sobre as alternativas para a reestruturação das empresas, principalmente
com o objetivo de torná-las mais ágeis economicamente, com mais liquidez e ampliação das
possibilidades para o saneamento de dívidas e para a implementação de projetos para suas
atividades (CAMARGOS; BARBOSA, 2003).
É importante mencionar que as fusões podem ocorrer naturalmente, sem conflitos,
problemas e impedimentos. Quando os administradores da empresa que será adquirida são
contrários à intenção da outra empresa de realizar a fusão, o processo ocorre no mercado acionário,
com a compra de ações pela empresa que pretende realizar a fusão. De modo geral, essa estratégia
de negociação é realizada quando ocorre uma oferta pública de compra (OPA)7 pela empresa
que pretende adquirir o capital da outra empresa. Os preços da intenção de compra das ações
da empresa que será adquirida são negociáveis, com possibilidade de alterações entre as partes
envolvidas na negociação. Por outro lado, com relação à estratégia de compra da empresa que será
adquirida, poderá ser constatada uma resistência por parte dos administradores da empresa que
venderá as ações, inviabilizando o processo de fusão entre as duas companhias.
6 Um exemplo foi a fusão da Sadia com a Perdigão, tendo como resultado a empresa Brasil Foods S.A., com um
faturamento aproximado de R$ 25,35 bilhões. Para saber mais, acesse: https://revistas.ufpr.br/ret/article/view/27274.
7 Nesse caso, o investidor estipula uma quantidade, o preço e o prazo para a compra de um lote de ações. Para saber
mais, acesse: https://www.investidor.gov.br/menu/Menu_Investidor/ofertas/opas.html.
92 Negociação Empresarial
Considerações finais
A Teoria das Vantagens Comparativas colabora para o entendimento do cenário do
comércio internacional. As negociações internacionais se baseiam nesse campo teórico e prático,
com repercussões econômicas importantes para os países do mundo relacionadas à quantidade de
produtos exportados ou importados. Os países irão se especializar na produção de produtos que
tenham maior vantagem comparativa, com o objetivo de obter maiores ganhos financeiros.
As empresas no formato de oligopólio atuam de modo globalizado, com a oferta de produtos
para diversos países em desenvolvimento. São poucas empresas ofertantes, e que atuam com acordos
e negociações comerciais visando otimizar os retornos financeiros, com a definição de prazos com
os fornecedores, definição de público-alvo, participação na fatia de mercado e definição da cadeia
de distribuição de seus produtos e serviços.
No mundo contemporâneo temos a presença de grandes grupos internacionalizados,
denominados transnacionais. Essas companhias realizam fusões, incorporam outras empresas e
realizam aquisições para ampliar os horizontes relacionados à capacidade de expansão dos negócios
e à valorização das ações dos investidores.
A Teoria das Vantagens Comparativas, dentro desses contextos, perdeu legitimidade,
principalmente por não conseguir se adaptar à nova realidade internacionalizada com a
competitividade entre os países no mundo.
As empresas transnacionais possuem competitividade, produtividade, poder de negociação,
conhecimento tecnológico e ampla capacidade de distribuição de seus produtos e serviços no
mundo. Portanto, o desenvolvimento econômico está inteiramente dependente desses grupos
internacionalizados, resultando na perda da participação estatal nas economias e na implementação
de uma economia de livre mercado baseada nas negociações das grandes empresas internacionais.
Atividades
1. Qual é o seu entendimento a respeito da Teoria das Vantagens Comparativas? Justifique.
Referências
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trabalho. São Paulo em perspectiva, São Paulo, v. 19, n. 2, p. 21-30, abr./jun. 2005. Disponível em: http://
produtos.seade.gov.br/produtos/spp/v19n02/v19n02_02.pdf. Acesso em: 8 nov. 2019.
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hipóteses testáveis e evidências empíricas. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, n. 2,
p. 17-38, abr./jun. 2003. Disponível em: http://jperera.pro.br/site/wp-content/uploads/2017/10/fusaes-
aquisicaes-takeovers-fundamentos200325301.pdf. Acesso em: 8 nov. 2019.
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Economistas).
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LAMEIRA, V. J.; NESS JR., W. L. Os determinantes da qualidade da governança praticada pelas companhias
abertas brasileiras. Revista de Negócios, v. 16, n. 3, p. 33-52, 2011.
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crítico. São Paulo, Cortez, 2009.
PORTER, M. E. Competition in global industries. Boston: Harvard Business School Press, 1986.
1 Princípios de negociação
1. A negociação é uma área do conhecimento com várias interpretações, a qual procura
maximizar os ganhos das partes envolvidas e está inserida em um fluxo circular de
renda, com vários atores e objetivos específicos.
2. Para negociar é muito importante ter conhecimento sobre a negociação que será
realizada, verificar os riscos e o custo de oportunidade associado.
2 Técnicas de negociação
1. Atores individuais e equipes.
3. Sim. Principalmente devido à saúde ser uma área representativa para a sociedade, além
de ter forte impacto no desenvolvimento econômico e no fomento de tecnologias.
4 Gestão de conflitos
1. Os sistemas capitalista e socialista. O sistema capitalista tem diversos arranjos
produtivos, com o objetivo principal de obter lucro nas negociações entre os agentes
econômicos. Já o sistema socialista tem como ponto fundamental assegurar os direitos
dos indivíduos, com menor concentração de renda e diversificação na oferta de bens e
serviços na economia; o lucro não é o elemento fundamental nas negociações.
98 Negociação Empresarial
5 A negociação internacional
1. A Teoria das Vantagens Comparativas tem como princípio a verificação do nível de
competitividade de um país em relação a outros países no mercado internacional. Desse
modo, terá vantagem comparativa o país com maior nível de produtividade no menor tempo
e com o menor custo unitário.