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Estratégico
Planejamento Estratégico
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Ricardo Formanek
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IESDE
2019
© 2019 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos
direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: bluedog studio/Shutterstock
Apresentação 7
2 Elaborando a estratégia 29
2.1 Definição do negócio 29
2.2 Cadeia de valor 32
2.3 O modelo de negócios 34
2.4 Missão, visão e valores 38
3 O ambiente competitivo 43
3.1 O modelo de cinco forças 43
3.2 Ciclo de vida de produtos e matriz BCG 47
3.3 Definição da estratégia genérica e fatores críticos de sucesso 49
3.4 O macroambiente competitivo: a análise Pestel 54
4 Análise SWOT 59
4.1 O que é a matriz SWOT? 59
4.2 Fatores internos 60
4.3 Fatores externos 62
4.4 Planos de ação 63
5 Execução da estratégia 69
5.1 Os obstáculos à execução da estratégia 69
5.2 A importância das pessoas no processo estratégico 72
5.3 Apresentando o balanced scorecard (BSC) 77
6 O balanced scorecard (BSC) 83
6.1 As perspectivas do balanced scorecard (BSC) 83
6.2 Temas e objetivos estratégicos 87
6.3 Metas e planos de ação 90
6.4 Indicadores-chave de desempenho (KPIs) 92
7 Estratégia avançada 99
7.1 Gestão estratégica 99
7.2 A estratégia do oceano azul 102
7.3 Incertezas do futuro: um mundo em constante mudança 107
7.4 Governança e compliance 109
Gabarito 133
Apresentação
Nesta obra, veremos como o planejamento estratégico serve de ferramenta para que as
empresas busquem sobrevivência e adaptação em um ambiente de negócios cada vez mais difícil,
em que decisões devem ser tomadas de maneira rápida e precisa.
A obra apresenta a estrutura teórica que serve de sustentação para a compreensão dos
diversos conceitos que fazem parte do planejamento estratégico, bem como sua aplicação. Ao
final de cada capítulo, há indicações de material adicional e atividades propostas para consolidar
o aprendizado.
Seremos capazes de entender como o planejamento estratégico faz parte de algo maior
denominado gestão estratégica, que consolida todas as etapas, desde a intenção estratégica,
passando por sua formulação e, finalmente, sua aplicação nas operações da empresa. É a
construção dessa cultura de execução que levará a organização a obter vantagem competitiva
e atingir a situação desejada no futuro.
8 Planejamento Estratégico
Esperamos que esta obra sirva como um roteiro para a compreensão conceitual do
planejamento estratégico e para sua aplicação no mundo dos negócios.
Boa leitura!
1
O conceito de planejamento estratégico
Planejar é uma atividade comum a todas as pessoas. Mesmo informalmente, todos nós
planejamos nosso dia, nossas férias ou nossos estudos. Para elaborarmos um planejamento
estratégico eficaz, neste primeiro capítulo, entenderemos algumas definições e objetivos e, assim,
perceberemos que caminho devemos percorrer desde a situação atual até os resultados que
queremos atingir.
Na sequência, veremos os pilares de uma boa estratégia que também são fundamentais
para conseguirmos fazer uma análise situacional, estabelecer uma diretriz comportamental
e identificar ações racionais. Além dos pilares, conheceremos os níveis organizacionais de
uma empresa e suas principais atribuições e, no final do capítulo, conheceremos as escolas
de estratégia.
Além disso, entenderemos as razões que levam empresas dos mais variados portes e setores
de atuação a elaborarem o planejamento estratégico e como colocá-lo em prática de maneira efetiva
a fim de obter os resultados desejados.
1 Embora alguns autores diferenciem os conceitos de empresa e organização, para os fins desta obra, utilizaremos as
duas palavras como sinônimos.
10 Planejamento Estratégico
determinado objetivo, de se escolher a melhor estratégia, é algo de extrema importância, pois está
diretamente relacionada aos recursos necessários para se atingir esse objetivo e o tempo que será
gasto nessa jornada.
Por exemplo: quando deseja adquirir um carro, você verifica suas necessidades em termos
de conforto, desempenho ou espaço interno e quais os modelos que poderiam atendê-las, avalia o
custo de aquisição e se esse custo cabe em seu orçamento, se vai pagá-lo à vista ou parcelado e assim
por diante. Assim fazemos com nossas atividades diárias, desde as mais simples às mais complexas.
Em muitos aspectos, o planejamento estratégico formal de uma empresa se assemelha ao
planejamento pessoal que fazemos sem grandes procedimentos e quase inconscientemente. Mas,
em se tratando de empresas, com diversos interesses em jogo, um processo mais estruturado e
sistêmico2 se faz necessário.
Por isso, é importante definir alguns conceitos que, embora usados de forma indistinta,
possuem significados diferentes como é o caso dos termos objetivo e meta. Tanto no nosso dia a dia
quanto nas empresas, é comum usarmos essas expressões como sinônimos e não há nada de errado
nisso, pois, de modo geral, o contexto em que os usamos deixa claro o sentido que queremos dar.
Tomemos um exemplo bem simples que ajudará você a memorizar facilmente a diferença
entre eles. Digamos que você não esteja muito satisfeito com sua forma física, o excesso de peso
pode estar comprometendo sua saúde ou simplesmente o deixando infeliz por razões estéticas.
Você se propõe a perder peso e define esse objetivo para restaurar sua saúde ou elevar sua
autoestima. Você define, então, que seu objetivo é emagrecer. Estabelecido o objetivo, o passo
seguinte é quantificá-lo: quantos quilos você deseja perder? Em quanto tempo? Ao responder a
essas questões, você está estabelecendo metas! Seguindo nosso exemplo, você poderia definir
a meta de perder dez quilos em quatro meses. Então, de maneira simples, apresentamos os
conceitos (KAPLAN; NORTON, 1997):
• Objetivo: a formulação de um desejo, de uma vontade;
• Meta: a quantificação de um desejo em termos numéricos, quantidade, tempo,
intensidade etc.
O conceito de meta é muito importante e será muito abordado ao longo de nosso estudo,
especialmente quando tratarmos de planos de ação e indicadores de desempenho.
Aproveitando o exemplo, podemos reforçar o conceito de estratégia, que definimos
anteriormente como a maneira que escolhemos para atingir um determinado objetivo ou meta, da
seguinte forma: para atingir a meta de perder 10 quilos em quatro meses, você limita sua ingestão de
alimentos a 2.000 quilocalorias diárias e inicia uma atividade física, como a corrida, executando-a
três vezes por semana.
Veja que a estratégia pode ser diferente de pessoa para pessoa, uma delas pode escolher
corrida, outra pessoa natação. De modo similar, as empresas buscarão desenvolver estratégias
específicas para atingir seus objetivos, escolhendo as ferramentas que julgarem mais adequadas
2 O termo sistêmico se refere a um sistema ou a um conjunto de atividades que se relacionam entre si.
O conceito de planejamento estratégico 11
e mais eficientes para o seu desenvolvimento. A Figura 1 ilustra os pontos de partida (A) e de
chegada (B) e o caminho a ser construído (ESTRATÉGIA).
Figura 1 – A estratégia como um caminho a ser percorrido
A B
Situação atual Estratégia Meta
(presente) (futuro)
3 Situação em que uma empresa atua sem concorrentes em um determinado segmento de mercado.
12 Planejamento Estratégico
Integração das equipes por meio de uma comunicação clara baseada no rumo definido pela direção.
inesperados dos concorrentes, perda de funcionários essenciais em alguma etapa, entre outros
(CHIAVENATO; SAPIRO, 2009). Gestores e estrategistas experientes sabem que imprevistos
podem acontecer e buscam definir algumas alternativas que permitam trilhar o caminho
escolhido da maneira mais segura possível.
Por isso, é tão importante reconhecer uma estratégia ruim. Vamos usar como base a Figura 1,
que traz a estratégia como um caminho a ser percorrido. Nela, temos o ponto de partida (A),
o ponto de chegada (B) que definimos como estratégia, ou seja, a forma de sairmos de A para
atingirmos B. Vejamos um exemplo de como essa estratégia se consolidaria.
Cidade A Cidade B
Como você faria isso? Certamente uma pergunta que surge de imediato
é: qual é a distância entre as cidades A e B? Prosseguindo: existe uma
estrada em boas condições e segura entre essas cidades? Existem
aeroportos nessas cidades, para o caso de se cogitar o uso de transporte
aéreo? De quantos recursos financeiros dispomos? Em quanto tempo
devemos chegar ao nosso destino?
Muitas outras questões podem – e devem – ser formuladas nessa fase de elaboração do
plano. O planejamento serve justamente para isto: analisar não apenas as melhores maneiras de
atingir os nossos objetivos, mas as formas mais indicadas de contornar os obstáculos e evitar cair
nas armadilhas.
Temos agora as condições necessárias para perceber que uma estratégia ruim é aquela que
não é capaz de identificar o cenário e posicionar a empresa no ambiente competitivo, não conhece
plenamente as demandas e os desejos dos clientes, não consegue entender quais os fatores críticos
de sucesso4 e, assim, não reúne as condições capazes de tornar a empresa competitiva no mercado.
Nem sempre é fácil reconhecer uma estratégia ruim. Normalmente, vem “embrulhada” em um
lindo pacote e pode parecer, à primeira vista, como um conjunto extraordinário de procedimentos
4 “Fatores críticos de sucesso são as competências essenciais que uma empresa deve possuir para que possa operar
de forma lucrativa em seu ramo de atuação. Se imaginarmos uma empresa que atua no setor de tecnologia e no ramo de
smartphones, a inovação, o desenvolvimento de aplicativos e o design são exemplos de fatores críticos de sucesso, pois
são itens muito valorizados pelos consumidores” (CHIAVENATO; SAPIRO, 2009, p. 176).
14 Planejamento Estratégico
e objetivos capazes de conferir à empresa uma enorme vantagem competitiva. Rumelt5 (2011, p. 31,
grifo nosso) nos dá algumas dicas para reconhecer uma má estratégia:
• Floreio: é uma forma de tagarelice disfarçada de conceitos estratégicos
ou argumentos. Ele usa palavras “pomposas” (palavras infladas e
desnecessariamente obscuras) e conceitos aparentemente esotéricos para
criar a ilusão de uma reflexão de alto nível.
• Não enfrentar o desafio: a estratégia ruim não reconhece ou define o desafio.
Quando não pode definir o desafio, você não consegue avaliar uma estratégia
ou melhorá-la.
• Confundir metas com estratégia: muitas estratégias ruins são apenas
afirmações de desejo, e não planos para superar obstáculos.
• Objetivos estratégicos ruins: são estabelecidos por um líder como meio para
atingir um fim. Os objetivos estratégicos são ruins quando deixam de abordar
questões fundamentais ou quando se mostram impraticáveis.
Estratégia
5 Richard Rumelt é um dos mais renomados professores de negócios e estratégias corporativas, autor de diversos
livros sobre o assunto.
O conceito de planejamento estratégico 15
É importante destacar que existe uma ordem lógica a ser seguida. As diretrizes
comportamentais serão formuladas com base no diagnóstico feito e deverão ser moldadas à
realidade em que a organização está inserida. As ações racionais e os planos de ação elaborados
virão das diretrizes, ou políticas, estabelecidas. Vejamos a seguir com mais detalhes cada um
desses pilares.
A análise situacional (diagnóstico) busca definir os diversos fatores que afetam ou podem
afetar o desempenho de uma empresa. É por meio dessa análise que determinada empresa
identifica seus pontos fortes e seus pontos fracos, avalia quais as perspectivas do mercado para o
futuro, como as mudanças que são esperadas impactarão no modo como a empresa conduz suas
operações, de que forma seus concorrentes têm agido e o que esperar deles.
Essa análise situacional busca realizar uma leitura sincera da realidade da empresa e, dessa
forma, dimensionar o tamanho do desafio que ela terá pela frente para alcançar seus objetivos
de longo prazo. É nessa análise inicial que, muitas vezes, percebe-se que a empresa ficou parada
no tempo e que o sucesso obtido no passado não se repetirá no futuro, a menos que medidas
assertivas, e algumas vezes doloridas, sejam tomadas. Isso pode, a princípio, parecer um balde de
água fria para muitos planejadores e administradores, mas, se esse processo for bem conduzido,
permitirá à empresa dar um verdadeiro salto qualitativo em sua gestão.
A diretriz comportamental está relacionada à metodologia de trabalho que a empresa
adotará em sua estratégia, especialmente na execução dessa estratégia. De certo modo, esse pilar
toma os resultados do diagnóstico e elabora a melhor direção possível a ser seguida. Se a fase
de análise situacional definiu o tamanho dos desafios, a diretriz comportamental servirá para
estabelecer as formas de atacar e superar os obstáculos, à medida que eles forem surgindo. Isto
é, está relacionada ao comportamento esperado de todas as áreas da empresa e deverá guiar a
atuação, não só das equipes, como dos próprios indivíduos que as compõem.
Esses comportamentos ou políticas corporativas estarão diretamente vinculados aos valores
da organização. É importante notar que a cultura organizacional6, construída ao longo de anos e
impregnada em todas as atividades da empresa, influencia enormemente os comportamentos e
as formas de agir de todos aqueles que estão envolvidos em algum aspecto da vida da empresa.
Dessa forma, não se deve desprezar essa cultura ao se estabelecerem as políticas e diretrizes
que guiarão o processo de planejamento estratégico, sob pena de comprometer a qualidade dos
resultados desejados.
Ações racionais ou ações coerentes consistem naquilo que realmente fará a estratégia
funcionar (RUMELT, 2011). Discursos vazios e desvinculados de um plano de ação efetivo são
apenas palavras que acabam se perdendo com o tempo. Os planejadores e a alta direção das empresas
precisam, enquanto elaboram as estratégias, enxergar, a todo momento, como sua execução se dará
na prática.
6 Cultura organizacional é o conjunto de práticas, a maneira de agir de uma empresa. “Ela passa a ser a mente das
organizações” (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2010, p. 253). A cultura organizacional está intimamente ligada ao
ambiente externo em que está inserida, se baseia em um comportamento coletivo proveniente dos comportamentos de
seus funcionários e torna cada empresa única no mercado.
16 Planejamento Estratégico
Tomemos o exemplo de uma rede de supermercados que pretenda expandir sua presença,
atualmente restrita à capital de um estado, às principais cidades desse estado ou aos municípios
mais populosos. Como se dará essa expansão? Como determinar a melhor forma para que essa
rede passe a ter presença estadual? Observemos que, enquanto o objetivo desejado é ampliar a
presença pelo estado, a estratégia a ser adotada poderia ser a de abrir lojas em outras cidades.
Também seria possível pensar em se criar um canal de vendas eletrônico (e-commerce7) ou mesmo
adotar ambas as soluções.
As ações esperadas, e necessárias, para que essa estratégia seja posta em marcha passariam
pela elaboração de metas, tais como: a definição de um cronograma de abertura das novas lojas ou da
construção da plataforma de comércio eletrônico (caso essa opção tenha sido adotada); a previsão
do orçamento necessário e como os recursos serão obtidos. Caso essa rede de supermercados não
possua uma equipe de expansão, esta deverá ser formada e contar com pessoas capazes de conduzir
esse projeto.
Por que as ações precisam ser racionais ou, como definiu Rumelt (2011), coerentes?
A resposta reside no fato de que qualquer ação ou conjunto de ações, no mundo dos negócios,
exige a alocação de recursos, sejam estes financeiros ou humanos. Em geral, os planos de ação mais
elaborados, que buscam atingir grandes objetivos, necessitam tanto de recursos financeiros quanto
do envolvimento de uma série de profissionais.
As ações racionais se referem à utilização mais eficiente possível dos recursos que a empresa
possui ou que tenha condições de adquirir. Uma vez que recursos são escassos e, por isso mesmo,
custam dinheiro, a utilização mais eficiente desses recursos constitui uma fonte de vantagem
competitiva, caso os competidores não sejam capazes de proceder da mesma forma.
Como vimos no exemplo da rede de supermercados que deseja expandir sua participação,
as estratégias adotadas exigem a mobilização de várias áreas da empresa como a área financeira,
o departamento de recursos humanos, a área de tecnologia da informação, de logística e o
departamento de inteligência de mercado8 (BI), entre outros.
As ações decorrentes das estratégias que foram definidas exigirão não apenas a atuação de
diversas áreas e departamentos da empresa, como, em muitas ocasiões, a integração de suas equipes.
Essa integração precisa ser coerente com os recursos disponíveis e as competências existentes na
7 E-commerce ou comércio eletrônico é a modalidade, ou o canal de vendas, que permite, por meio de uma plataforma
eletrônica, efetuar compras e pagamentos utilizando a internet.
8 Inteligência de mercado ou BI (do inglês business intelligence) refere-se às práticas e metodologias de coleta de
dados e sua transformação em informações que possam ser utilizadas na tomada de decisões.
O conceito de planejamento estratégico 17
empresa e bem coordenadas entre si, tirando o máximo proveito do conhecimento acumulado por
essas áreas e por seus profissionais ao longo do tempo.
Além dos pilares de uma boa estratégia, conheceremos no próximo tópico os níveis
organizacionais de uma empresa e suas principais atribuições. É importante ressaltar que será
abordado com frequência neste livro o fato de que a essência do planejamento estratégico reside
em sua execução. Tanto empresas quanto grupos diversos e pessoas em geral investem tempo
planejando e estudando alternativas porque desejam ou são obrigadas a agir.
Responsável pela
Nível
programação e execução das
operacional
tarefas.
9 Conselho de administração ou conselho administrativo é um órgão colegiado presente em muitas empresas e que
tem o objetivo de garantir o alinhamento das condutas de seus dirigentes ao direcionamento estratégico dos negócios
(ENDEAVOR BRASIL, 2015).
O conceito de planejamento estratégico 19
Quando nos referimos ao longo prazo, entendemos períodos de tempo acima de três anos.
De modo geral, as organizações vislumbram seu planejamento estratégico para os próximos cinco
ou dez anos. Dependendo do setor, esse horizonte de tempo pode chegar a vinte ou trinta anos,
como no caso de empresas do ramo de mineração, concessionárias de rodovias ou de geração e
distribuição de energia elétrica. Esses são casos de negócios de maturação lenta, investimentos
elevados e que dependem, em grande parte, de regulação governamental.
Já o médio prazo se refere ao planejamento anual de um determinado departamento e o
curto prazo, relacionado às operações e às tarefas, pode ser reduzido a trimestres, meses e até
mesmo semanas, dependendo do ramo de atuação. O importante, em qualquer um desses níveis,
é realizar um acompanhamento periódico e com regras claras que permitam verificar se estão
ocorrendo conforme o planejado e se eventuais correções são necessárias.
A Figura 4 mostra como os três níveis de planejamento se relacionam entre si e apresenta
como se dá o detalhamento desses níveis, partindo do nível mais genérico e abrangente, o nível
estratégico, até o nível mais específico que engloba as operações da empresa.
Figura 4 – Desdobramento dos níveis de planejamento
Orçamento
Pesquisa de
Planejamento de marketing mercado
Plano de vendas
Divulgação
Planejamento de RH Seleção
Treinamento
mercado nacional. Considerando esse objetivo, também denominado como visão de longo prazo,
é estabelecida uma estratégia a fim de tornar a empresa a de maior faturamento do mercado
nesse ramo.
Observemos que a palavra líder utilizada no início do parágrafo anterior pode ser entendida
de diversas maneiras. A empresa pode ser líder por ser reconhecida como aquela que fornece
os móveis de melhor qualidade; pela abrangência territorial; ou por apresentar o maior volume
de vendas. Ao decidir pelo caminho de se tornar líder em faturamento10 no mercado nacional,
a empresa está assumindo um norte, uma direção a ser seguida e deverá levar consigo todos os
departamentos e equipes que dela fazem parte.
Com base nessa estratégia corporativa, serão desenvolvidos os planejamentos de cada
departamento, ou seja, seus planejamentos táticos. Por exemplo, dado que o objetivo primordial é o
de se tornar líder em faturamento, o departamento de marketing deverá trabalhar de maneira intensa
buscando obter o reconhecimento, por parte dos clientes, da marca de móveis comercializados
pela empresa. Para isso, esse departamento proporá ações de divulgação da marca por meio de
propagandas, anúncios em revistas especializadas etc. Poderá, ainda, estabelecer parcerias com
imobiliárias e incorporadoras para divulgar seus produtos a pessoas que estão buscando comprar
uma residência. Feiras e eventos desse setor também são ocasiões em que pode ser interessante
apresentar a linha de produtos.
Essas ações de marketing e vendas certamente custarão dinheiro e o departamento
financeiro também deverá realizar seu planejamento de forma a viabilizar e controlar a obtenção e
o uso desses recursos. A área ou departamento de recursos humanos, por sua vez, deverá analisar
se a empresa conta com profissionais capacitados e em número suficiente para levar a cabo o
planejamento originado no departamento de marketing. Caso seja detectada alguma deficiência
na equipe de vendas, ações corretivas deverão ser tomadas, como promover cursos de atualização
ou treinamentos em determinadas funções ou buscar profissionais de destaque no mercado.
Note-se que, com base na estratégia definida pelo nível mais alto
da organização, uma série de planos é estabelecida e cada plano
origina uma grande quantidade de ações específicas que envolvem
todos os profissionais da empresa. Como citamos anteriormente,
é extremamente importante que essas ações sejam coerentes e bem
coordenadas entre si (lembre-se de que ações racionais são um dos
pilares de uma boa estratégia).
10 Ao mencionarmos faturamento, estamos nos referindo ao volume financeiro das vendas e não à quantidade de
itens vendidos.
O conceito de planejamento estratégico 21
11 CEO: do inglês chief executive officer. Pode receber também o título de diretor executivo ou ser uma função exercida
pelo presidente da empresa.
22 Planejamento Estratégico
Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010) apresentam dez escolas de estratégia em que pode ser
colocada a grande maioria dos pensamentos e suas características principais (Quadro 3).
Quadro 3 – Escolas de estratégia
• Empreendedora (visionária).
• Cognitiva (mental).
Direcionam sua análise para o modo
como as estratégias são formuladas, • Aprendizado (emergente).
Escolas descritivas centram suas observações e explicações • Poder (negociação).
nos diversos fenômenos que podem • Cultural (coletivo).
criar as estratégias empresariais.
• Ambiental (reativo).
• Configuração.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, 2010.
A seguir, veremos cada uma dessas dez escolas que reforçam uma maneira distinta de
formular as estratégias de pensamentos.
12 Esses pontos serão apresentados com maior profundidade no Capítulo 4, quando tratarmos da matriz SWOT.
O conceito de planejamento estratégico 23
do processo de elaboração da estratégia é apontada como algo que gera muita burocracia e que
engessa a criatividade em um momento em que a empresa deveria estar mais aberta à inovação.
O centralismo exercido pelo CEO, como visto na escola do design, é complementado por
“um quadro de planejadores altamente educados, uma parte de um departamento especializado de
planejamento estratégico com acesso direto ao executivo principal” (MINTZBERG; AHLSTRAND;
LAMPEL, 2010, p. 58). Esse modelo, extremamente rígido e formal, acaba desencorajando os
gerentes, responsáveis pela operação e que preferem sistemas mais ágeis, que possam ser adaptados
à “vida real” da empresa.
A empresa decide que sua vantagem competitiva virá de sua capacidade de fornecer
Liderança em
produtos e serviços a custos menores que seus concorrentes. Dessa forma, praticando
custos
preços menores, será capaz de obter uma grande participação de mercado.
Esses líderes foram capazes de criar seus negócios e desenvolvê-los sem uma estratégia
inicial completamente formada, mas que foi se criando e se modificando conforme as reações
do mercado.
14 Empresas nascentes, iniciantes. Para Ries (2012, p. 24), “uma startup é uma instituição humana projetada para criar
novos produtos e serviços sob condições de extrema incerteza”.
26 Planejamento Estratégico
Considerações finais
Neste primeiro capítulo, abordamos conceitos sobre o planejamento estratégico e
compreendemos que o ato de planejar faz parte do dia a dia de todas as pessoas. Quanto mais
o planejamento for embasado em técnicas de qualidade comprovada, melhores deverão ser os
resultados alcançados. Vimos também que a estratégia é a maneira pela qual podemos atingir
determinados objetivos.
Com base nisso, podemos perceber que as empresas vivem em um mundo competitivo,
competem por recursos, por clientes, por reconhecimento. Mesmo as organizações sem fins
lucrativos ou entidades governamentais cuja finalidade não é, devido à sua própria natureza, gerar
lucro, devem conduzir, da forma mais eficiente possível, suas operações no sentido de atingir seus
objetivos e metas.
O conceito de planejamento estratégico 27
Os pilares para uma boa estratégia são processos de formulações que não se encerram e
devem estar sujeitos à avaliação permanente conforme se perceba essa necessidade. A essência
do planejamento estratégico está na sua execução: é preciso que saia do papel e seja colocado em
prática no dia a dia da empresa.
De modo geral, o que se pretende, por meio da estratégia, é definir qual a melhor forma, qual
o melhor caminho para se atingir determinado objetivo. Não se trata apenas de escolher o melhor
caminho, mas também de construí-lo. As diversas escolas de estratégia apresentadas são tentativas
de buscá-lo. Veremos, nos próximos capítulos, muitas de suas ferramentas e metodologias.
• TZU, Sun. A arte da guerra. Tradução de Sueli Barros Cassal. Porto Alegre: L&PM, 2006.
Muito do que vimos sobre estratégia vem de tratados militares antigos que buscavam
definir as melhores formas de subjugar inimigos e conquistar territórios e riquezas.
Um dos estrategistas, que viveu há cerca de 2.500 anos e recentemente voltou a ser
reconhecido e admirado, foi Sun Tzu (2006), um general filósofo chinês que concentrou
seus conhecimentos na obra A arte da guerra. No livro, Sun Tzu descreve planos de
campanhas militares, gestão de tropas, estratégias de defesa e ataque e como se adequar às
condições de terreno, clima, entre outros.
28 Planejamento Estratégico
Atividades
1. Defina os conceitos de objetivo e meta e dê um exemplo que permita identificar suas
diferenças.
2. Quais são os três níveis de planejamento de uma organização e suas características principais?
Referências
ANDRADE, A. R. de. Planejamento estratégico: formulação, implementação e controle. São Paulo:
Atlas, 2012.
CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico: fundamentos e aplicações. 2. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009.
ENDEAVOR Brasil. Qual o papel de um conselho administrativo na minha empresa? 2015. Disponível
em: https://endeavor.org.br/tomada-de-decisao/papel-conselho-administrativo-empresa/. Acesso em:
11 jun. 2019.
KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. A estratégia em ação: balanced scorecard. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997.
MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de estratégia: um roteiro pela selva do planejamento
estratégico. Porto Alegre: Bookman, 2010.
PLANEJAMENTO. In: MICHAELIS: dicionário brasileiro da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos,
2019. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/
planejamento/. Acesso em: 11 jun. 2019.
PORTER, M. E. What is strategy? Harvard Business Review. Cambridge, MA, EUA, p. 4-21, nov-dez, 1996.
Disponível em: http://www.syv.pt/login/upload/userfiles/image/Reinventing%20Your%20business%20
model%20HBR.pdf. Acesso em 17 jun. 2019.
RIES, E. A startup enxuta: como os empreendedores atuais utilizam a inovação contínua para criar empresas
extremamente bem-sucedidas. Rio de Janeiro: Leya, 2012.
RUMELT, R. Estratégia boa, estratégia ruim: descubra suas diferenças e importância. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2011.
2
Elaborando a estratégia
No Capítulo 1 desta obra, vimos que a construção de uma estratégia eficaz depende de
uma série de fatores e, para ilustrar essa afirmação, vimos o exemplo de uma viagem entre uma
cidade A e uma cidade B. Em seguida, apresentamos uma série de questionamentos com o
objetivo de nos ajudar na compreensão do desafio. Detalhes como a distância a ser percorrida,
locais de parada e descanso, infraestrutura disponível e meios de transporte possíveis são alguns
dos aspectos a serem considerados.
Já neste segundo capítulo, veremos como elaborar o planejamento estratégico e
compreenderemos que, quanto maior o nível de informação que tivermos, maior a nossa
capacidade de planejamento e probabilidade de sucesso na jornada. Entretanto, convém considerar
o imponderável: eventos imprevistos que, caso ocorram, podem causar grandes prejuízos
ao empreendimento.
Quando nos referimos a uma empresa, os detalhes e as características importantes a serem
considerados passam pelo conhecimento do setor de atuação, o segmento, as peculiaridades desses
mercados e, principalmente, aquilo que os clientes desejam. Esse conhecimento prévio serve como
base para a elaboração da estratégia e permitirá planejar a necessidade e utilização dos recursos da
melhor forma possível.
Este capítulo trata justamente das maneiras de conhecer o caminho por meio da definição
do negócio, os principais desafios dos dirigentes empresariais, as diferenças entre as visões míope
e estratégica, o conceito da cadeia de valor, o modelo de negócios e a missão, a visão e os valores
de uma empresa. Por meio desses conceitos, podemos elaborar uma espécie de mapa e uma
forma de autoconhecimento empresarial. Quem somos? O que fazemos? Para quem fazemos?
São algumas das perguntas cujas respostas buscaremos a seguir.
Reconhecer que tipo de produto/serviço a empresa deve fornecer para suprir as necessidades e os desejos dos
clientes (setor).
Estabelecer as características e as formas como os produtos e os serviços serão fornecidos para atender e
superar as expectativas dos clientes.
Elaborar maneiras eficientes de comunicar e engajar toda a organização rumo aos objetivos e às metas
estabelecidos.
Para Chiavenato (2009, p. 86), é preciso estar atento às mudanças nas condições do mercado
e se as premissas adotadas pela empresa continuam válidas ou se é necessário algum tipo de ajuste.
“Na verdade deve-se questionar se ainda é válida a definição do negócio [...], quais são os clientes
atendidos, quais são os públicos de interesse [...] e, principalmente, como deve ser o negócio?”
(CHIAVENATO, 2009, p. 86).
Por mais óbvio que a atenção às mudanças do mercado e às necessidades dos clientes deva
ser constante, muitas empresas acabam por negligenciar certos aspectos do mundo dos negócios
e comprometem seu sucesso e sua própria sobrevivência. Lembremos o caso da empresa Kodak,
líder no setor de filmes fotográficos.
Nessa perspectiva, Chiavenato (2009, p. 87) diz que um “negócio precisa ser visto como um
processo de satisfação do cliente e não como um processo de produção de mercadorias”. A falta
de uma visão abrangente do mercado ficou conhecida como miopia de marketing, termo cunhado
por Levitt (1960) que descreve a forma estreita como algumas empresas enxergam seus negócios.
Essa miopia impede que as organizações percebam certas oportunidades de negócios e passem a
apresentar desempenho insatisfatório ou abaixo do mercado.
Nem sempre o fato de atuar em uma porção restrita do mercado significa uma desvantagem
ou a perda de oportunidades. Em muitas ocasiões, a empresa opta por atuar em um determinado
nicho2 e se destacar ao atender um tipo específico de cliente. O que precisa ficar claro é que a
empresa deve ter o pleno conhecimento do mercado e, com base nesse conhecimento, tomar suas
próprias decisões estratégicas.
O Quadro 2 mostra alguns exemplos de visão míope (restrita e limitante) e de visão estra-
tégica (abrangente e com maiores oportunidades):
Quadro 2 – Visão míope e estratégica de um negócio
Negócio
Empresa
Visão míope (produtos e serviços) Visão estratégica (benefícios)
1 Concordata ou recuperação judicial são termos que indicam acordos elaborados entre uma empresa em dificuldades
financeiras e seus credores. Esses acordos são supervisionados por um juiz e compreendem a extensão de prazos de
pagamento a fornecedores, órgãos governamentais etc. A ideia é dar condições à empresa de se recuperar e voltar a
operar de forma adequada.
2 Segmento muito específico de clientes.
32 Planejamento Estratégico
Infraestrutura da empresa
Atividades de suporte
Desenvolvimento tecnológico
Gestão de compras
Logística de entrada
Marketing e vendas
Logística de saída
Operações
Serviços
Margem
Atividades primárias
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Porter, 1989, p. 35.
Na parte inferior da Figura 1, temos as atividades primárias da empresa, que fazem parte do
processo geral, conforme passamos a descrever:
• Logística de entrada: compreende o conjunto de atividades necessárias para trazer as
matérias-primas, insumos e demais materiais para dentro da empresa.
• Operações: conjunto de atividades de transformação das entradas (insumos e matérias-
-primas) em produtos finais.
• Logística de saída: são as atividades de expedição dos produtos finais, ou seja, envio
aos clientes. Esses clientes podem ser consumidores finais ou intermediários como lojas,
depósitos etc.
• Marketing e vendas: são as atividades que compõem a comercialização dos produtos.
• Serviços: atividades de pós-venda como assistência técnica, treinamentos, garantia etc.
Podemos dizer que uma empresa, representada por sua cadeia de valor, está inserida em
um sistema de valor que é o conjunto de várias empresas dentro de um mercado. Estas podem ser
concorrentes, fornecedores e parceiros de negócios.
Passemos a analisar as atividades de suporte:
• Gestão de compras: trata-se do conjunto de atividades responsáveis pela aquisição de
insumos e matérias-primas para as operações de transformação que ocorrem dentro
da empresa. Essas atividades incluem o desenvolvimento de fornecedores, controle de
qualidade dos materiais recebidos, entre outras.
• Desenvolvimento tecnológico: corresponde às ações de aprimoramento dos processos e
das técnicas utilizadas por toda a empresa. Fornece suporte para áreas como engenharia,
pesquisa, qualidade etc. É uma atividade extremamente importante na obtenção de
vantagem competitiva e acompanhamento da evolução dos mercados.
• Gestão de recursos humanos: aqui estão concentradas as atividades de recrutamento e
seleção, desenvolvimento de funcionários, políticas de salários e benefícios etc.
• Infraestrutura da empresa: compreende as atividades exercidas pela direção da empresa
e dos departamentos como finanças, contabilidade, apoio jurídico, planejamento e
governança corporativa. É essa estrutura que, normalmente, monitora e adéqua as demais
áreas para que as operações possam fluir de maneira eficiente e integrada.
Do lado direito da Figura 2 aparece a palavra margem, que é a diferença entre os custos
de produção (atividades primárias e atividades de suporte) e os preços pagos pelos clientes.
O grande objetivo da organização é, portanto, o de criar valor para os compradores de modo que
os preços pagos sejam maiores do que os custos de fabricação dos produtos e serviços fornecidos
pela organização (PORTER, 1989).
A alta direção da empresa e seu corpo gerencial devem buscar constantemente oportunidades
de diminuição de custos e otimização de recursos, o famoso “fazer mais com menos”. Custos e
procedimentos devem ser comparados aos dos concorrentes como benchmark3, pois sua vantagem
competitiva será obtida quando conseguir “desempenhar certas atividades melhor e mais barato do
que seus concorrentes” (CHIAVENATO, 2009, p. 138). Porter (1989, p. 31) diz que uma “empresa
ganha vantagem competitiva executando essas atividades (cadeia de valor) de uma forma mais
barata ou melhor do que a concorrência”.
Um dos grandes desafios de qualquer empresa é o de tornar cada uma de suas atividades o
mais eficiente possível, mas o que talvez seja o grande fator de obtenção de vantagem competitiva é
a capacidade de uma organização em atuar de forma coordenada e integrada na realização de todas
as suas atividades. Isso pode parecer óbvio, mas é muito comum observar empresas que trabalham
com verdadeiros “feudos de poder”, departamentos e setores isolados em que se busca maximizar
resultados de curto prazo em nome de interesses próprios.
3 Benchmark são as empresas consideradas referência em seus setores ou mercados de atuação. O processo de
benchmarking consiste em comparar as estratégias e operações de uma organização com outras de modo a identificar
as melhores práticas e buscar adaptá-las à sua realidade de modo a melhorar seu desempenho (CHIAVENATO; SAPIRO,
2009, p. 206).
34 Planejamento Estratégico
Imaginemos o exemplo de uma empresa que está para fechar uma grande venda de um
equipamento e o seu departamento jurídico demora para elaborar ou aprovar o contrato. É claro
que um contrato pode ser complexo e exigir atenção aos muitos detalhes que dele fizerem parte,
mas uma demora excessiva acaba frustrando os vendedores e, eventualmente, os clientes.
Mais uma vez, vale reforçar que a estrutura de uma empresa depende da estratégia a ser
adotada – veremos mais detalhes no Capítulo 3, as estratégias genéricas adotadas por uma empresa
– e também de outros fatores como sua cultura, seu porte e suas relações de poder interno e externo.
VALOR FORNECIDO
• Produtos
• Serviços
• Conveniência
• Conforto
EMPRESA MERCADO
VALOR RECEBIDO
• Recursos financeiros
• Reputação
• Participação de mercado
Recursos
Canais
principais
Estrutura Fontes de
de custos receita
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Osterwalder e Pigneur, 2011, p. 18-19.
O Quadro do Modelo de Negócios ou, simplesmente, Canvas, mostra nove componentes (os
blocos apresentados na figura) que, agrupados, permitem enxergar a estrutura de uma empresa. De
forma similar ao que apresentamos com a cadeia de valor de Porter, o Canvas é uma representação
gráfica que busca facilitar a compreensão da dinâmica de análise do mercado e seus diversos fatores,
da elaboração de estratégias para atender esse mercado e da estrutura organizacional adequada
para aplicar a estratégia no mundo real.
A ideia por trás da elaboração do Canvas é permitir uma visualização rápida do que está
acontecendo com os negócios da empresa e auxiliar a tomada de decisões relativas a cada um dos
componentes descritos na Figura 3. Passaremos, agora, a descrever cada um dos componentes
do Canvas.
Não é por acaso que começamos a analisar o Canvas pelo quadro que representa os clientes,
afinal, é por causa deles, para atender às suas necessidades e desejos que a empresa existe.
4 Título original: Business model generation: a handbook for visionaries, game changers, and challengers. Publicado nos
Estados Unidos, em 2010, por John Wiley & Sons, Inc., Hoboken, New Jersey.
5 O termo canvas se refere, originalmente, a um tecido grosso usado para fazer roupas e como tela para pintura.
36 Planejamento Estratégico
2.3.3 Canais
Quando nos referimos aos canais, estamos descrevendo os meios pelos quais a empresa e
seus clientes se relacionam de modo a adquirir produtos e serviços, conhecer novos lançamentos
e prestar suporte ao cliente sempre que necessário. Segundo Osterwalder e Pigneur (2011, p. 26),
“o componente canais descreve como uma empresa se comunica e alcança seus segmentos de
clientes para entregar uma proposta de valor”.
Há diversos tipos de canais para atender aos mais variados segmentos de clientes: lojas
físicas próprias ou revendedores, site na internet, catálogos impressos, vendedores que atendem
por telefone, centrais de atendimento aos clientes e vários outros.
de aparelhos, venda de cartões pré-pagos e assinaturas de pacotes com cobrança mensal (como
operadoras de TV a cabo e provedores de aluguel de filmes e música pela internet).
Há também a modalidade de licenciamento em que uma empresa permite o uso de sua
propriedade intelectual por meio de taxas. A Disney, por exemplo, o faz ao licenciar o uso de
seus personagens em cadernos escolares ou alimentos infantis.
2.3.7 Atividades-chave
Cada empresa, em seu respectivo setor de atuação, deve realizar uma série de ações para
que seu modelo de negócios funcione, ou seja, para que seus clientes sejam atendidos, para que
seus produtos sejam fabricados etc. Em uma empresa fabricante de automóveis, as atividades-
-chave desenvolvidas consistem na montagem de peças, pintura, testes, desenvolvimento de novos
modelos, compra de matéria-prima etc. Já uma empresa de consultoria ou um hospital atuam no
sentido de resolver problemas e, entre suas atividades, estão o atendimento a clientes/pacientes,
a pesquisa, o treinamento e a gestão do conhecimento.
6 Acordo comercial em que duas ou mais empresas se associam com a finalidade de realizar um projeto específico.
Dessa forma, uma joint venture tem tarefas e duração limitadas.
38 Planejamento Estratégico
aéreas econômicas, que seguem modelos de negócios direcionados pelo custo (OSTERWALDER;
PIGNEUR, 2011).
Como vimos, o Canvas serve como uma poderosa ferramenta de análise, tomada de decisões e
comunicação. Os criadores dessa ferramenta recomendam que os nove quadros componentes sejam
preenchidos com a utilização de adesivos do tipo Post it®, de modo que possam ser modificados
sempre que necessário, ou seja, quando houver mudanças nos segmentos de clientes atendidos, nas
formas de relacionamento e em qualquer um dos componentes do modelo de negócios.
2.4.1 Missão
É a razão de ser da empresa ou o porquê de ela existir. Como vimos no Canvas, definir a
missão de uma organização exige responder às seguintes perguntas:
• Qual é o nosso negócio?
• Para quem criamos valor?
• Quais são as necessidades e os desejos que queremos (e podemos) satisfazer?
• Quais são os negócios em que não temos interesse?
Conforme pode ser observado no Quadro 3, a definição da missão começa com a identi-
ficação do setor, de modo abrangente, em que a empresa atua. Em seguida, refinamos um pouco
mais o negócio ao estabelecer a área de atuação de modo mais específico; no caso apresentado,
trata-se de vestuário. Prosseguimos indicando quais os clientes que desejamos atender e o que eles
realmente desejam quando procuram nossos produtos.
Ao percorrer esse caminho, conseguimos estabelecer a missão da empresa de forma
compreensível a todos os envolvidos, tanto internamente quanto para o mercado. Isso passa uma
mensagem clara e contribui para a construção de uma marca forte e valiosa.
Conforme vimos, a missão de uma empresa, se bem elaborada, passa uma imagem inequí-
voca daquilo que ela deseja representar para seus clientes, como ela deseja habitar a mente das
pessoas e construir uma imagem forte que possa ser associada a uma marca valiosa e bem-sucedida.
2.4.2 Visão
A visão estratégica ou simplesmente visão é a definição do futuro desejado pela empresa.
“Como seremos percebidos pelo mercado daqui a 10 ou 20 anos?” é uma pergunta que deve ser
elaborada sempre que os estrategistas de uma organização pensam em sua visão.
A situação almejada deve ser ambiciosa e servir como guia para direcionar os esforços de
toda a organização. Uma boa dica para se elaborar a visão de uma empresa é imaginar esse futuro
desejado e verificar o que está sendo feito para que, a cada dia, esse futuro esteja mais próximo.
A visão deve ser construída diariamente, um passo de cada vez, metas intermediárias
devem ser estabelecidas para que se possa verificar se a organização está no caminho certo ou se
ajustes são necessários. Segundo Chiavenato e Sapiro (2009, p. 88, grifo nosso), “a elaboração da
visão é um processo carregado de emoção, pois o que se procura reconhecer é o propósito de ser
da organização. A visão constitui um fator de agregação dos esforços quando envolve todos, ao
proporcionar consistência e convergência de esforços”.
A emoção que o estabelecimento da visão estratégica busca transmitir serve para atingir
os corações dos colaboradores muito mais do que sua razão (que será objeto das estratégias
operacionais adotadas). Veremos nos exemplos seguintes como a visão busca inflamar a vontade
de vencer e construir algo significativo por parte de seus colaboradores.
40 Planejamento Estratégico
O fato de a visão usar a emoção para contagiar as pessoas não significa tratar os colaboradores
de forma paternalista, mas sim buscar um sentido de motivação que possa extrair o máximo da
competência de cada um.
2.4.3 Valores
Quando nos referimos aos valores de uma organização, estamos descrevendo seus
princípios, suas crenças e seus ideais. Se compararmos uma organização a uma pessoa, poderíamos
dizer que os valores estão para uma empresa assim como o caráter está para uma pessoa. “Os
valores organizacionais correspondem aos atributos e às virtudes prezados pela organização”
(CHIAVENATO, 2009, p. 90).
Por que é importante que uma organização elabore e divulgue seus valores? A declaração dos
valores organizacionais funciona como um mecanismo de tomada de decisões, especificamente no
que se refere ao comportamento esperado de todos os seus funcionários, fornecedores, clientes
e demais pessoas ou entidades que se relacionam com a empresa. Além do aspecto disciplinar,
o conjunto de valores de uma empresa serve, em muitos aspectos, como reforço de sua missão e
de sua visão.
Considerações finais
À luz dessas considerações, elaborar uma boa estratégia depende de uma série de fatores.
Profissionais competentes, infraestrutura adequada e atenção às demandas do mercado devem
estar ao lado de uma capacidade permanente de adaptação e correção de rota.
Somam-se a esses fatores a definição de onde a empresa se encontra, sua missão e aonde ela
quer chegar, sua visão. Mirando o destino desejado, a estratégia deverá ser planejada e construída,
mobilizando os recursos necessários e utilizando-os da forma mais eficiente possível, de modo a
obter vantagem competitiva.
Por mais que a elaboração da estratégia possa se desdobrar em diversos níveis organizacionais
(institucional, divisional e operacional), conforme vimos nos níveis da organização, o foco deve
estar sempre no cliente. Isso deve ser o exercício diário de uma organização e conseguir atendê-
-los de forma eficiente é o que diferenciará uma empresa de sucesso de outra que poderá enfrentar
dificuldades no futuro.
Por fim, cabe reforçar a importância dos valores organizacionais, os princípios que guiam
quais os comportamentos adequados e esperados de todos os funcionários da empresa e que
podem ser estendidos a todos aqueles que se relacionam com ela. Missão, visão e valores devem ser
colocados em prática, permear toda a organização e não apenas figurar em quadros pendurados
na parede.
• FORMANEK, R. Missão e visão são para valer ou apenas uma placa na parede?
Ellevare Consultoria, fev. 2018. Disponível em: https://www.ellevare.com.br/post/
miss%C3%A3o-e-vis%C3%A3o-s%C3%A3o-para-valer-ou-apenas-uma-placa-na-
parede. Acesso em: 12 jun. 2019.
No artigo indicado, questiona-se como a missão e a visão de uma empresa são, muitas
vezes, relegadas a segundo plano e como é importante que sejam conhecidas por todos os
funcionários de uma empresa.
42 Planejamento Estratégico
Atividades
1. Ao se definir o negócio de uma empresa, quais são as posições que sua alta administração
deve buscar desenvolver?
3. Qual é a importância de uma organização definir sua missão, sua visão e seus valores?
Referências
ANDRADE, A. R. de. Planejamento estratégico: formulação, implementação e controle. São Paulo: Atlas,
2012.
CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico: fundamentos e aplicações. 2. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009.
GOOGLE. Missão. 2019. Disponível em: https://about.google/. Acesso em: 12 jun. 2019.
LEVITT, T. Marketing myopia. Harvard Business Review, jul/ago, 1960. Disponível em: http://www.
producao.ufrgs.br/arquivos/disciplinas/403_marketingmyopia.pdf. Acesso em: 21 jun. 2019.
OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento estratégico: conceitos, metodologias, práticas. São Paulo: Atlas, 1995.
1 Denominamos, neste caso, como indústria o grupo de empresas fabricantes de produtos que podem ser substituídos
uns pelos outros de forma bastante aproximada (PORTER, 2004, p. 4).
44 Planejamento Estratégico
que caracteriza um determinado setor do mercado. As demais forças são: a ameaça de novos
competidores, o poder de negociação dos fornecedores, o poder de negociação dos clientes e a
ameaça de produtos substitutos (Figura 1).
Figura 1 – O modelo de cinco forças competitivas
Ameaça de produtos/
serviços substitutos
observarmos uma empresa que atua em determinado segmento querer expandir suas operações
por meio da criação de uma nova linha de produtos ou pela aquisição de algum player2 que já
atue em um mercado promissor. Por exemplo, podemos citar uma loja de eletrodomésticos que
passa a oferecer aparelhos celulares ou um fabricante de cervejas que decide construir uma fábrica
de refrigerantes.
Segundo Porter (2004), a atratividade de um mercado depende, além da possibilidade de
obtenção de lucro, da facilidade ou da dificuldade de se entrar nesse mercado. A isso se dá o nome
de barreiras de entrada, ou seja, tudo aquilo que impõe um obstáculo ou aumenta o risco de fazer
parte do mercado.
As barreiras de entrada mais comuns são aquelas baseadas na economia de escala, obtidas
ao se produzirem grandes quantidades de um mesmo tipo de produto (o que exige, em geral,
grandes investimentos em linhas de produção), na exigência de investimentos elevados de capital,
nas despesas de marketing para convencer os clientes a mudarem de fornecedor, no acesso aos
canais de distribuição, na localização de lojas, patentes etc.
Um exemplo prático de barreira de entrada que costumamos ver com alguma frequência é
a exclusividade que certo fabricante de refrigerantes exige de bares e restaurantes de modo que só
vendam os seus produtos.
3 Napster é um serviço de streaming de música pertencente à Rhapsody Internatonal Inc, contando com
aproximadamente 40 milhões de faixas.
4 Streaming é uma tecnologia que envia informações multimídia, por meio da transferência de dados, utilizando redes
de computadores, especialmente a internet, e foi criada para tornar as conexões mais rápidas.
5 Nessa situação, o cliente exercerá pressão para baixar os preços do fornecedor, pois seu próprio lucro dependerá
disso (PORTER, 2004).
6 B2B é uma sigla em inglês que significa business to business ou empresa para empresa, em tradução livre. Refere-se
a uma empresa que vende produtos para outras e não diretamente ao consumidor final.
O ambiente competitivo 47
Vendas
Lucros
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Chiavenato e Sapiro, 2009, p. 236.
A direção da empresa deve observar com atenção a curva formada pelo ciclo de vida de
seus produtos, acompanhando o desempenho das vendas e controlando os custos e as despesas
de forma a preservar a lucratividade. Passemos a descrever as características de cada etapa do
ciclo de vida do produto (Quadro 1):
48 Planejamento Estratégico
É a fase de lançamento de um produto ou serviço. Nessa fase, os gastos com marketing costu-
mam ser bastante elevados, pois é necessário fazer com que os clientes conheçam a novidade.
Introdução É comum que a empresa não tenha lucro e incorra, até mesmo, em prejuízos iniciais. Muitos
produtos não passam dessa fase, pois se percebe que não cairão no gosto dos consumidores de
modo que não vale a pena prosseguir com o negócio.
Nessa fase, o produto não atrai mais o interesse dos clientes e as vendas caem de forma
significativa. Isso ocorre devido ao fato de o produto se tornar obsoleto ou surgirem produtos
substitutos (melhores e mais baratos).
Declínio
Como exemplo de produto obsoleto, podemos citar os aparelhos de fax, que permitiam a
transmissão de documentos por meio da linha telefônica; a expansão da internet e o uso de
e-mail tornaram os aparelhos de fax praticamente peças de museu.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Chiavenato e Sapiro, 2009.
Cada fase do ciclo de vida de um produto exige estratégias específicas e uma observação
atenta do mercado, especialmente na movimentação dos concorrentes e no comportamento dos
consumidores. Uma ferramenta bastante útil e comumente usada em conjunto com o gráfico do
ciclo de vida do produto é a Matriz BCG ou matriz de crescimento/participação, desenvolvida pelo
Boston Consulting Group, uma empresa norte-americana de consultoria em estratégia e gestão,
nos anos 1960 (Figura 3):
Figura 3 – Matriz BCG
DILEMA ESTRELA
A Matriz BCG serve para que a empresa posicione seus produtos ou linhas de produtos
conforme os quadrantes mostrados na Figura 3. Cada quadrante tem uma característica e recebe
um nome sugestivo para que seja fácil lembrá-los.
• Estrelas: são os produtos com grande participação em um mercado com crescimento
acelerado. Para se manter nessa categoria, são exigidos grandes investimentos em
marketing e, em alguns casos, os custos superam os lucros. A empresa deve analisar se
esses produtos poderão vir a se tornar “vacas leiteiras” no futuro.
• Vacas leiteiras: são os produtos com os quais a empresa detém grande participação em
um mercado de crescimento lento. Em geral, são lucrativos e não exigem mais grandes
investimentos em marketing.
• Dilemas: são os produtos com os quais a empresa possui baixa participação em um
mercado com elevada taxa de crescimento. Para aumentar sua participação no mercado,
grandes investimentos deverão ser feitos de modo que os produtos possam ter vendas
elevadas e lucros atrativos. Este é o grande dilema: o investimento vale o risco? Se a
administração entender que existe a possibilidade de ganhar participação de mercado e
lucros atrativos, a resposta é sim. Caso o aumento de participação de mercado custe muito
caro e não possa entregar o retorno desejado, a administração deve optar por retirar o
produto do mercado.
• Cães: são os produtos que detêm baixa participação em um mercado estagnado ou de
baixo crescimento. Normalmente, são produtos que não geram grandes lucros e em cuja
divulgação ou aprimoramento não vale a pena investir . Caso os lucros caiam com o
tempo, a empresa deve decidir por encerrar sua comercialização.
B R$ 100,00 R$ 98,00 2%
Adotar uma estratégia de baixo custo exige grande investimento em equipamentos e pessoas
especializadas que possam executar todas as atividades com o menor custo possível.
3.3.2 Diferenciação
A estratégia de diferenciação busca tornar únicos os produtos ou os serviços oferecidos pela
empresa, ou seja, fazer com que eles apresentem características especiais que sejam valorizadas
pelos consumidores e pelas quais eles estejam dispostos a pagar mais.
A diferenciação de um produto ou serviço pode se dar de diversas formas, por exemplo, uma
marca exclusiva, um desenho diferenciado, a utilização de materiais nobres, durabilidade elevada,
uma rede de lojas com localização privilegiada etc. A ideia é conseguir a fidelidade dos clientes e
que eles tenham uma menor preocupação com o preço.
Mesmo adotando essa estratégia e conseguindo praticar preços um pouco mais elevados,
a empresa não deve ignorar seus custos, apesar de estes não constituírem o alvo estratégico
primário.
Para que a escolha de uma das estratégias genéricas possa ter sucesso, são necessários
“arranjos organizacionais diferentes, procedimentos de controle e sistemas criativos” (PORTER,
2004, p. 42). Uma recomendação que deve ser observada é sobre o perigo de tentar assumir uma
7 Processos enxutos são baseados na metodologia denominada Lean Manufacturing (Produção Enxuta), criada pela
empresa japonesa Toyota, após a Segunda Guerra Mundial, em que se busca a eliminação total dos desperdícios, tanto de
materiais como de mão de obra e do tempo de execução de cada tarefa (RODRIGUES, 2016).
52 Planejamento Estratégico
posição em que a empresa tenta misturar as estratégias e que pode resultar em um desempenho
insatisfatório e margens reduzidas. ”Uma empresa que fica no “meio-termo” está em uma situação
estratégica extremamente pobre” (PORTER, 2004, p. 43).
Para ilustrar as diferenças entre as três estratégias genéricas, tomemos o exemplo de três
fabricantes de parafusos.
• O primeiro fabricante produz parafusos de ferro utilizados em construção civil e na
indústria automobilística em geral. Sua produção mensal é de cerca de 300 milhões de
parafusos e ela detém 30% do mercado nacional desse segmento.
• O segundo fabricante fornece parafusos feitos de aço inoxidável e seus clientes principais
também são as indústrias de construção civil e automobilística, porém utilizados em
aplicações específicas que exigem esse tipo de componente. Sua produção é de cerca de 50
milhões de parafusos mensais e sua participação no mercado de parafusos é de 7%.
• Nosso terceiro competidor fabrica parafusos especiais com tratamento anticorrosivo
indicados para a indústria naval. Seus principais clientes são estaleiros que constroem
navios e plataformas de petróleo. Sua produção mensal é de 5 milhões de parafusos e ela
participa com 2% do mercado nacional de parafusos.
Nesse exemplo, ficam claros os posicionamentos adotados pelas empresas quanto à escolha
da estratégia genérica mais adequada ao seu negócio. A primeira empresa busca a liderança em
custo, com um produto de preço mais baixo em que a lucratividade é perseguida por meio de
ganhos de escala e otimização dos processos.
Já a segunda empresa apresenta ao mercado um produto diferenciado (parafusos de aço
inoxidável) de que os clientes necessitam em determinadas situações. Essa diferenciação exige
maior especialização técnica na produção, mas permite cobrar preços mais elevados do que os dos
parafusos comuns fabricados pela primeira empresa.
A terceira empresa decidiu atender um tipo específico de cliente, fabricantes de navios
e plataformas que, por serem destinados ao uso em alto-mar, necessitam de parafusos mais
resistentes em virtude das condições extremas a que serão submetidos. Essa é uma posição
clara de enfoque, ao atender um grupo específico de clientes que exige produtos extremamente
confiáveis, de alta qualidade e, por isso mesmo, estão dispostos a pagar um preço condizente
com as características específicas dos produtos apresentados.
Note que os exemplos apresentados são fictícios e não se baseiam na realidade das
indústrias mencionadas.
Evans (2013, p. 92), os KSFs são os elementos essenciais que uma organização precisa dominar
para atender às exigências e às expectativas de seus clientes.
Nessa perspectiva, entendemos que o sucesso de uma empresa depende de suas vendas e
de sua capacidade de conquistar a preferência dos consumidores. Então, antes de prosseguirmos
na análise dos KSFs, convém entendermos o que são os chamados critérios de compra do cliente
(CPCs), do inglês customer purchase criteria.
Os CPCs são os fatores utilizados pelos clientes para tomar a decisão de adquirir certo
produto ou serviço de determinada empresa. Como usar essa ferramenta na prática? “Comece se
perguntando: Do que os clientes nos principais segmentos de seu negócio precisam de você e de
seus concorrentes?” (EVANS, 2013, p. 88).
De modo geral, segundo Evans (2013), os CPCs podem ser agrupados em seis categorias que
refletem as necessidades dos clientes.
• Eficácia do produto ou do serviço: traduz a vontade que o cliente tem de que o trabalho
seja feito, isto é, que resolva o seu problema de forma integral.
• Eficiência do produto: o conceito de eficiência adiciona o fator tempo ao critério anterior,
a eficácia. O cliente deseja ter seu problema resolvido a tempo. Cada cliente tem uma
necessidade particular no que se refere ao prazo, seja de entrega de um produto seja na
execução de um serviço.
• Variedade: é um fator que pode ter importância para alguns clientes e para outros não.
• Relacionamento: como uma empresa se relaciona com os seus clientes? As tratativas se
dão de forma cordial e prática? Os canais de venda são os mais adequados aos produtos e
serviços ofertados?
• Instalações: dependendo do tipo de produto ou serviço oferecido, um ambiente agradável
atrai e retém clientes como, por exemplo, uma clínica estética, uma oficina mecânica, uma
loja de shopping etc. Por outro lado, instalações precárias, mal iluminadas e desconfortáveis
acabam por espantar as pessoas.
• Preço: sempre um fator relevante, o preço deve ser estabelecido com extremo cuidado de
modo a atrair clientes e sustentar a lucratividade do negócio.
Cada uma das categorias citadas deve ser analisada de forma a se conhecer quais são as mais
relevantes em cada um de seus negócios. Uma das melhores formas de compreender as prioridades
de seus clientes, seus CPCs, em cada linha de produtos que sua empresa oferece, dá-se por meio de
pesquisas e entrevistas.
À luz dessas considerações a respeito dos critérios de compra dos clientes, precisamos
formatar nossa empresa de modo a atendê-los da melhor maneira possível. Isso deve ser feito
convertendo os CPCs em KSFs, como mostra a Figura 4.
54 Planejamento Estratégico
Quanto mais confiáveis forem os CPCs que obtivermos das pesquisas, maior será a qualidade
dos KSFs e mais efetiva a elaboração da estratégia para atender os clientes selecionados. Na
Figura 5, apresentamos um exemplo de conversão de CPCs em KSFs (não necessariamente para
uma mesma empresa):
Figura 5 – Exemplo de conversão de CPCs em KSFs
CPC KSF
Após a identificação dos KSFs, a empresa poderá atribuir pesos aos diversos critérios de
modo que seja possível priorizar aqueles mais relevantes e de maior impacto na decisão de compra
dos clientes.
Macroambiente
Ambiente político
Ambiente competitivo
Aspectos legais Ambiente econômico
Concorrentes
Organização
Fornecedores Clientes
(Estratégia)
Fatores ecológicos
Agências reguladoras Ambiente social
e de meio ambiente
Ambiente tecnológico
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Chiavenato e Sapiro, 2009, p. 99.
Aspecto Indicadores
• Taxa de câmbio.
• Taxa de juros.
• Produto Interno Bruto (PIB)8.
Econômico • Inflação.
• Taxa de crescimento da economia.
• Nível de emprego.
• Renda média da população.
8 O PIB, ou Produto Interno Bruto, de um país é a soma das riquezas produzidas dentro do país, incluindo nesse cálculo
empresas nacionais e estrangeiras localizadas em território nacional.
56 Planejamento Estratégico
• Envelhecimento da população.
• Distribuição geográfica da população.
• Taxa de natalidade.
Social
• Índice de homicídios.
• Grau de escolaridade.
• Composição étnica e religiosa.
• Infraestrutura de telecomunicações.
• Acesso à internet.
• Produção científica pública e privada.
Tecnológico • Número de patentes.
• Intercâmbios com outros países.
• Utilização de smartphones.
• Compras on-line.
• Emissão de CO2.
• Quantidade de queimadas.
• Reservas florestais.
Ecológico
• Aquecimento global.
• Ocupação do solo.
• Exploração mineral, vegetal e animal.
É importante observar que a análise Pestel não deve apenas considerar o momento atual.
Da mesma forma que o planejamento estratégico se baseia naquilo que a empresa busca alcançar
no futuro (sua visão), daqui a cinco, dez ou vinte anos, a análise Pestel deve desenhar cenários
possíveis no futuro para que a empresa identifique não apenas ameaças aos seus negócios, como
também as oportunidades de se destacar em relação aos seus concorrentes.
Considerações finais
À luz dessas considerações, podemos perceber que o ambiente competitivo exerce
grande pressão nas organizações. Além da concorrência, mudanças tecnológicas e no gosto dos
consumidores são fatores extremamente relevantes e que podem ocorrer muito rapidamente.
Conhecer os diversos fatores que podem influenciar a vida de uma empresa e seu sucesso
no mundo dos negócios é parte integrante do processo de planejamento estratégico. Quanto mais
rápidas e profundas forem as mudanças na indústria, mais ágil deve ser o processo de tomada de
decisão por parte de seus dirigentes.
Tomemos o exemplo das telecomunicações, uma indústria em constante evolução.
A telefonia fixa, especialmente a doméstica, torna-se cada menos relevante devido à popularização
dos aparelhos celulares. Nessa mesma indústria, a tendência de diminuição dos aparelhos celulares,
observada no início dos anos 2000, deu lugar à utilização de smartphones com telas grandes que
permitem ao usuário jogar e assistir a filmes.
O ambiente competitivo 57
Logo, essas mudanças culturais precisam estar no radar de todas as empresas que buscam
sua permanência no mercado. Ao elaborar suas estratégias, as organizações devem considerar o
que esperar do futuro, como se adaptar e, se possível, de que maneira influenciar esse futuro para
atender melhor seus clientes e deixar para trás seus competidores.
• WELCH, J.; WELCH, S. Paixão por vencer: a bíblia do sucesso. Rio de Janeiro: Elsevier/
Campus, 2005.
Nesse livro, que tem como título original Winning, Welch nos conta sobre sua rotina como
CEO à frente de uma das maiores empresas do mundo, a General Electric (GE). Descreve os
seus desafios como gestor e como líder e mostra como desenvolveu estratégias vencedoras
nas diversas indústrias em que a GE atuava. A GE é uma empresa norte-americana fundada
em 1890 por Thomas Edison que atua nos setores de energia, equipamentos médicos,
transportes, automação e financeiro. Welch é considerado um dos mais importantes e
influentes homens de negócios de todos os tempos.
Atividades
1. Quais as forças a que uma empresa está submetida no ambiente competitivo de acordo com
o modelo de Michael Porter (2004)?
2. Para Chiavenato e Sapiro (2009), durante o ciclo de vida de um produto, o que pode ser feito
para tentar conter seu declínio?
3. Quais são as três estratégias genéricas descritas por Michael Porter (2004)?
Referências
CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico: fundamentos e aplicações. 2. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009.
EVANS, V. Ferramentas estratégicas: guia essencial para construir estratégias relevantes. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2013.
FOLHA DE SÃO PAULO. Top of Mind 18. 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/especial/2018/
top-of-mind/. Acesso em: 12 jun. 2019.
PORTER, M. E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro:
Campus, 1989.
PORTER, M. E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência. 2. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2004.
Fatores internos
Pontos fortes Pontos fracos
Strengths Weaknesses
Fatores externos
Oportunidades Ameaças
Opportunities Threats
A análise SWOT deve ser usada como ferramenta auxiliar e suas limitações precisam ser
observadas, como o fato de nem sempre se conseguir medir com precisão os pontos fortes e fracos
dos competidores. Da mesma forma, pode ser difícil avaliar ameaças e oportunidades do mercado,
principalmente quando se atua em setores como o de tecnologia da informação (TI), em que
mudanças podem ocorrer muito depressa.
A construção dos quatro quadrantes da matriz SWOT é feita, de maneira geral, por meio
de brainstorming1, com o objetivo de levantar o maior número de ideias possível, não deixar nada
passar despercebido, ajudar a romper os bloqueios criativos, ou seja, auxiliar a pensar em novas
soluções e enxergar o que vem além (SANTO, 2015).
Algo que nos parece bastante recomendável é submeter os resultados da análise SWOT a
alguém de fora da organização, um especialista ou um consultor que possa emitir uma opinião
isenta e crítica às conclusões obtidas, conforme Chiavenato e Sapiro (2009). Passemos a analisar
cada um dos quatro quadrantes, dividindo-os em fatores internos (os pontos fortes e os pontos
fracos) e fatores externos (as oportunidades e as ameaças).
1 Brainstorming é uma expressão em inglês que em tradução livre significa tempestade cerebral ou tempestade
de ideias. É um método colaborativo em que se reúnem pessoas e se procura obter um grande número de ideias e
iniciativas de forma propositadamente desorganizada e com a máxima liberdade possível (SANTO, 2015).
Análise SWOT 61
a patente de algum produto lucrativo, abrangência geográfica superior à dos concorrentes, resposta
rápida a mudanças (cultura de inovação) etc. (ANDRADE, 2012).
Do lado oposto, temos os pontos fracos, que são as deficiências ou as desvantagens que
a empresa tem, quando comparada aos seus competidores, e que, possivelmente, a deixam
em posição vulnerável no mercado. Como exemplos de pontos fracos, podemos citar a baixa
capacidade de investimento, a falta de mão de obra capacitada em alguma área importante,
a marca pouco reconhecida, a baixa qualidade etc. (ANDRADE, 2012).
Andrade (2012) recomenda que a análise interna percorra o ambiente da organização nos
seguintes aspectos:
• Análise dos recursos: para que uma empresa coloque em prática suas estratégias, seus
dirigentes precisam saber exatamente com quais recursos podem contar. Nesse caso,
estamos falando tanto de recursos tangíveis, como fábricas, máquinas, equipamentos e
pessoas, como de recursos intangíveis, tais como reputação, marcas e know-how2.
• Análise das capacidades: refere-se às habilidades que uma organização reúne para extrair
o máximo de seus recursos. Isso se dá por meio da utilização racional e coordenada das
pessoas e dos processos desenvolvidos pela empresa.
• Análise funcional: consiste no diagnóstico da organização no que se refere à sua estrutura
funcional, como seus departamentos financeiros, de marketing, de produção, logística
etc. Como esses departamentos ou funções estão desempenhando suas tarefas? Quais são
seus pontos fortes e fracos? O que precisa ser reformulado?
• Análise da cultura e do clima organizacional: a cultura de uma organização está
ligada aos seus valores, sua maneira de agir e como as decisões são tomadas nas
diferentes esferas de poder. A cultura organizacional pode ser detectada por meio do
clima organizacional, de como o ambiente dentro da empresa se constrói, de como as
pessoas se relacionam. O tipo de indústria em que uma empresa atua influencia muito
sua cultura e seu clima organizacional.
Percebemos que os fatores internos são importantes para que os dirigentes conheçam os
pontos fortes e fracos de sua empresa, não só no que se refere à infraestrutura, como também
nas pessoas que ali trabalham. Vimos, no Capítulo 1, que as ações coordenadas e o diagnóstico
da organização constituem um dos pilares de uma boa estratégia e também fazem parte da
análise SWOT.
Quando entramos em um banco ou um escritório de advocacia, esperamos encontrar um
ambiente formal, com homens engravatados e muitos níveis hierárquicos. Já em uma empresa de
tecnologia, o que se espera é um ambiente informal em que as pessoas se vistam como se estivessem
na faculdade e se tratem como amigos, mesmo entre chefes e subordinados.
É claro que esses são estereótipos que nem sempre correspondem fielmente à realidade,
mas, de certa forma, é assim que acontece. Somos muito afeitos à imagem e, por isso mesmo,
2 Know-how é uma expressão em inglês que significa “saber como”, ou seja, saber como fazer determinada coisa ou
reunir o conhecimento necessário para realizar determinada tarefa.
62 Planejamento Estratégico
ter a imagem certa para determinado tipo de negócio pode representar um ponto forte. De modo
contrário, ao apresentar uma imagem que não inspire credibilidade aos clientes, uma empresa
pode encontrar dificuldade em realizar negócios. No Quadro 1, listaremos alguns pontos fortes e
fracos que podem surgir dessas análises.
Quadro 1 – Exemplos de pontos fortes e fracos de uma organização
• Custos elevados.
• Equipes capacitadas nas áreas-chave da empresa.
• Falta de funcionários capacitados.
• Marca forte e reconhecida pelo mercado.
• Gestão de caixa ineficiente.
• Estrutura de custos enxuta.
• Falta de planejamento estratégico.
• Boa expertise de mercado.
• Atraso tecnológico.
• Disponibilidade de recursos financeiros.
• Baixa capacidade de comercialização.
• Patentes de produtos.
• Ausência de capacidade de tomada de decisões.
• Cultura de inovação.
• Marca e produtos obsoletos.
Uma característica positiva que a análise dos fatores internos tem sobre os fatores externos
é que, ao contrário destes, os fatores internos estão nas mãos da empresa, ou seja, dependem
significativamente da capacidade de seus dirigentes em arquitetar as melhores formas de manter
(e, se possível, aprimorar) seus pontos fortes e corrigir suas deficiências, eliminando grada-
tivamente seus pontos fracos.
empresa atua e a capacidade que ela tem de tirar vantagem ou de ser afetada negativamente pelas
mudanças que possam ocorrer.
Para permitir uma análise mais efetiva dos fatores externos, podemos assumir definições um
pouco mais práticas dos termos ameaça e oportunidade, da seguinte forma (ANDRADE, 2012):
• Oportunidades: situações ou acontecimentos externos que podem ser aproveitados pela
organização, desde que ela esteja preparada para obter vantagem competitiva.
• Ameaças: fatores externos que devem ser eliminados ou minimizados para que não
causem danos à organização.
É essencial que a análise dos fatores externos seja considerada tanto no presente quanto
no futuro, ou seja, de que forma as condições evoluem com o tempo. Rupturas radicais são
acontecimentos raros no mercado, e um olhar atento permite antecipar determinadas tendências
e se preparar de forma adequada.
No Quadro 2, identificamos alguns pontos ou fatores externos que podem constituir
oportunidades ou ameaças.
Quadro 2 – Exemplos de oportunidades e ameaças a uma empresa
Oportunidades Ameaças
A análise dos fatores externos, por não estarem sujeitos ao controle da organização, reforça
a necessidade de capacidade adaptativa e elaboração de planos de contingência por parte dos
dirigentes empresariais.
A análise SWOT aponta uma série de situações desconfortáveis para a empresa, que são as
ameaças impostas pelo ambiente externo e os pontos fracos ou limitações internas existentes. Um
dos eventuais pontos fracos que pode existir dentro de uma empresa é uma equipe de vendas pouco
qualificada. Essa situação causa desconforto e pode ser traduzida em vendas abaixo do esperado ou
abaixo da média de mercado.
É importante lembrar que os pontos fracos e fortes devem ser sempre comparados com
os de seus competidores. Diante dessa situação, a empresa se vê obrigada a tomar uma decisão,
a agir. Uma das possíveis medidas poderá ser a decisão de treinar e capacitar a força de vendas.
Essa decisão gera um projeto ou um plano de ação.
Neste ponto, é importante estabelecermos uma definição simples e prática de projeto que nos
ajudará no entendimento do que vem pela frente. De modo simples, Chiavenato e Sapiro (2009)
explicam que projeto é um empreendimento temporário com o objetivo de gerar um determinado
resultado. Dessa definição, podemos extrair as seguintes características básicas:
• um projeto é temporário, pois tem início, meio e fim;
• um projeto gera um resultado único, seja ele produto, serviço ou situação desejada.
Nessa perspectiva, podemos pensar que projeto se diferencia de processo, pois enquanto o
primeiro tem duração definida e gera um resultado único, o segundo é repetitivo e se caracteriza
pelo conjunto de atividades dependentes umas das outras (CHIAVENATO; SAPIRO, 2009).
Há outra ferramenta também interessante chamada 5W2H, que funciona muito bem para
direcionar planos de ação e pequenos projetos. O nome dessa ferramenta reúne as iniciais das
palavras, em inglês, a seguir:
O que
Justificativa Local Prazo Responsável Procedimento Custo
fazer
Será contratada
empresa para
treinar os
vendedores
Capacitar Desempenho
Departamento Pedro – gerente em técnicas
equipe de abaixo do 31/10 R$ 5.000,00
comercial comercial de vendas e,
vendas desejado
internamente,
fornecer pleno
conhecimento
dos produtos.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Campos, 2004, p. 47.
Como metas a serem atingidas por meio do plano apresentado acima, podemos estabelecer,
por exemplo, que 80% dos vendedores sejam capacitados nessa etapa e que as vendas cresçam
15% nos três meses posteriores ao treinamento. Ao final do prazo definido, e atingida a meta
estabelecida, daremos o projeto por encerrado e teremos alcançado a situação desejada, que foi
definida como capacitar a equipe de vendas e gerar maior volume de vendas.
O procedimento 5W2H pode ser utilizado para todos os demais indicadores
apresentados na matriz SWOT e em qualquer situação em que seja necessário planejar ações
e gerar resultados desejados.
Considerações finais
A ideia por trás do planejamento estratégico é de tornar as empresas capazes de se prepararem
para responder, de forma ágil, às ameaças e às oportunidades que aparecem a todo momento no
mundo dos negócios.
Neste ponto do nosso estudo, convém avaliarmos os assuntos que já abordamos e os
conceitos aos quais fomos apresentados. De forma resumida, fomos apresentados aos conceitos de
planejamento, de estratégia, de objetivos e de metas. Conhecemos os pilares de uma boa estratégia
e a importância de avaliarmos a situação atual, estabelecermos comportamentos e métodos
adequados para a execução da estratégia e mobilizarmos os recursos necessários para colocar a
estratégia em prática.
Vimos que as diversas escolas de estratégia são referências e como as organizações fazem suas
escolhas em função de sua cultura organizacional e daquilo que enxergam como mais adequado.
Definimos missão, visão e valores que guiam uma organização e estabelecem determinadas formas
de agir.
66 Planejamento Estratégico
Conhecemos três importantes modelos elaborados por Michael Porter como a cadeia de
valor, o modelo de cinco forças e as estratégias genéricas. Visualizamos o ciclo de vida de produtos
e de negócios e estabelecemos alguns dos parâmetros pelos quais os consumidores fazem suas
escolhas e quais os fatores críticos que uma empresa precisa dominar para atender seus clientes.
Finalmente, fomos apresentados à análise Pestel e nos aprofundamos na análise SWOT, uma
espécie de autoavaliação que permite à organização reconhecer suas limitações e se preparar para
enfrentar as dificuldades e aproveitar as oportunidades que surgem a todo instante.
Os próximos dois capítulos serão dedicados à execução da estratégia, como colocar as
diversas ferramentas existentes para funcionar de fato.
Atividades
1. Cite os fatores internos e externos definidos pela matriz SWOT. Por que são assim
denominados?
3. Cite três indicadores que podem ser considerados como potenciais ameaças a um negócio e
três que podem constituir eventuais oportunidades.
Análise SWOT 67
Referências
ANDRADE, A. R. Planejamento estratégico: formulação, implementação e controle. 1. ed. São Paulo: Atlas,
2012.
CAMPOS, V. F. Gerenciamento da rotina do trabalho do dia a dia. Nova Lima: INDG Tecnologia e Serviços
Ltda., 2004.
CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico: fundamentos e aplicações. 2. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Projeção da população do Brasil e das Unidades da
Federação. 2019. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html. Acesso em:
21 jun. 2019.
SANTO, R. Brainstorming: tempestade de ideias (BS - TI) ou como tirar seu time do cercadinho mental.
Sebrae. 2015. Disponível em: https://bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.
nsf/741A876FE828908203256E7C00614A23/$File/NT00002206.pdf. Acesso em: 13 jun. 2019.
TZU, S. A arte da guerra. Tradução de Sueli Barros Cassal. Porto Alegre: L&PM, 2006.
5
Execução da estratégia
No capítulo anterior, abordamos a matriz SWOT, que é uma das ferramentas mais utilizadas
no planejamento estratégico. Vimos ainda que um bom planejamento estratégico nos auxilia a
escolher os planos de ação a serem empregados para termos, por exemplo, vantagem competitiva.
Mencionamos também a ferramenta 5W2H. Bastante usada no ambiente corporativo, mostra-se
efetiva para direcionar os planos de ação e projetos pequenos.
Como saber se um plano é bom? Como podemos afirmar que uma estratégia gerará os
resultados esperados? Encontraremos a resposta neste capítulo, mas podemos adiantar que a melhor
forma de responder a essas perguntas, e talvez a única, é verificando se as metas foram atingidas e
se os objetivos em longo prazo foram alcançados. Infelizmente, uma organização inserida em um
ambiente de grande competição não pode simplesmente aguardar resultados que, muitas vezes,
demoram anos para chegar de modo que possamos avaliar se as definições elaboradas lá atrás
foram as mais adequadas.
Uma organização que pretende ter sucesso precisa contar com métodos adequados e pessoas
preparadas para analisar o que está acontecendo e ser capaz de tomar decisões precisas em um
mundo repleto de incertezas. É nesse contexto que dedicaremos boa parte deste capítulo a falar
sobre pessoas. As estratégias são elaboradas por pessoas e a execução dessas estratégias são levadas
adiante por elas também. Trataremos de equipes e liderança e sobre como ter as pessoas certas nos
lugares certos. Deveremos ser capazes de compreender que mesmo a melhor das estratégias de
nada servirá se for executada de forma pobre e sem buscar atingir as metas preestabelecidas.
Por fim, apresentaremos o balanced scorecard (BSC), metodologia que busca colocar a
estratégia para funcionar de forma efetiva por meio de ferramentas práticas e cujos resultados
podem ser acompanhados constantemente e não apenas ao final de um ou mais anos. O BSC será
objeto de um estudo mais aprofundado no próximo capítulo em que teremos a oportunidade de
ver, na prática, como funciona essa importante metodologia que coloca a estratégia em ação.
Para nos aprofundarmos nos problemas relativos à execução da estratégia, convém lembrar
a importância de um planejamento adequado e que leve em consideração não apenas as metas
desejadas pela organização, mas também sua capacidade de atingi-las.
Falconi (2009) define problema como uma meta a ser alcançada de modo que quanto maior
a distância entre nossa situação atual e a meta proposta, maior é o nosso problema. Entre as falhas
à execução adequada das estratégias apresentadas pelo autor, podemos destacar:
• falta de metas claras (os problemas não são definidos de forma correta);
• planos de ação ruins (falta de métodos de análise e falta de conhecimento técnico);
• os planos de ação não são executados completamente e dentro dos cronogramas
estabelecidos.
Especificamente com relação ao item planos de ação, devemos notar que muitas ações
dependem umas das outras e uma ação mal executada, em que não se atingem os resultados
adequados, acaba gerando uma sequência de falhas que certamente comprometerá toda a
implementação daquilo que fora planejado inicialmente.
Kaplan e Norton (1997), criadores da metodologia balanced scorecard (BSC), listam
quatro barreiras ou obstáculos principais à execução eficaz da estratégia: 1) visão e estratégias
não executáveis; 2) estratégias não associadas às metas; 3) estratégias não ligadas ao orçamento;
4) feedback tático, não estratégico. Passemos a analisar cada uma dessas barreiras.
treinamento e ao desenvolvimento dos colaboradores, essas atividades não devem ficar restritas a
esse departamento.
Se são pessoas que elaboram e executam as estratégias, a gestão dessas pessoas deve permear
toda a organização e ser tratada como prioritária por seus líderes. Passemos a analisar o processo
de gestão de pessoas de forma mais prática. Esses aspectos estão representados na Figura 1.
Figura 1 – Fatores para a gestão de pessoas em uma organização
Comunicação Competências
Motivação
Agora nos aprofundaremos nesses três importantes aspectos que, se bem trabalhados,
poderão gerar resultados incríveis dentro de uma empresa. Passemos a entender como esses três
fatores são desenvolvidos em uma organização.
5.2.1 Comunicação
Expressar-se de forma clara e específica são características imprescindíveis para que
a mensagem seja compreendida pelo receptor, que é quem a recebe. Neste caso, quem origina
a mensagem é chamado de emissor. Todos nós sabemos da importância de uma comunicação
eficiente e conhecemos exemplos do que acontece quando não conseguimos transmitir de forma
precisa aquilo que desejamos: tarefas deixam de ser executadas, produtos incorretos são fornecidos
etc. Dentro de uma empresa, a comunicação assume um caráter essencial à boa gestão e ao
atingimento das metas.
“O ideal seria que todos na empresa, do nível hierárquico mais elevado ao mais baixo,
compreendessem a estratégia e como as suas ações individuais sustentam o quadro geral” (KAPLAN;
NORTON, 1997, p. 208). Em uma organização, a comunicação se dá de diversas maneiras, desde
uma conversa entre colaboradores de mesmo nível hierárquico, uma instrução passada por um
supervisor à sua equipe e até uma diretriz corporativa, por exemplo, um código de conduta ou um
discurso de seu presidente em alguma ocasião especial.
A comunicação também pode ser feita por meio de gráficos ou diagramas. No Gráfico 1,
mostramos o exemplo de uma empresa que produz algum tipo de peça.
74 Planejamento Estratégico
O gráfico mostrado comunica a quem o analisa que, em alguns meses, a meta de produção
estabelecida não foi atingida. O que se espera desse tipo de comunicação é que ela provoque
alguma reação, um plano de ações corretivas, uma revisão na capacidade produtiva da empresa,
entre outras possíveis iniciativas.
Uma das formas mais efetivas de comunicação, especialmente no que se refere às estratégias,
aos objetivos e às metas, é formada por um conjunto de indicadores (estratégicos e operacionais)
que evidenciam, de forma contínua, como a empresa está em relação às suas metas, qual é a
distância entre o que foi estabelecido e o que tem sido alcançado.
5.2.2 Competências
Quando ouvimos alguém se referir a um determinado profissional como competente,
é normal imaginarmos uma pessoa que faz as coisas de forma correta ou que sabe o que
fazer ou ainda que entrega o que dela se espera. Seguindo a mesma linha de raciocínio, um
indivíduo incompetente é aquele que não sabe executar determinada tarefa ou a executa de
forma insatisfatória.
De modo geral, o entendimento descrito anteriormente está correto, mas, quando nos
referimos a uma estrutura organizacional, é necessária uma análise mais profunda, pois, além
da necessidade de selecionar pessoas competentes, é preciso formar colaboradores competentes.
Como isso pode ser feito?
Primeiramente, vamos definir competência de forma mais adequada ao nosso propósito
corporativo, como a junção de três fatores, a saber (PARRY, 1996):
• Conhecimento: é o que uma pessoa sabe, sua formação acadêmica;
• Habilidade: saber colocar em prática seus conhecimentos. Está relacionada à experiência
profissional;
• Atitude: é o querer fazer. Está relacionada aos valores pessoais e comportamentos.
Já mencionamos que tanto a elaboração quanto a execução da estratégia são feitas por
pessoas e, por isso, ter as pessoas certas nos lugares certos é o maior desafio que uma organização
Execução da estratégia 75
pode enfrentar quando nos referimos à gestão de recursos humanos. Colocar as pessoas certas
nos lugares certos significa, em primeiro lugar, estabelecer os parâmetros adequados para cada
função desejada.
• Que conhecimentos são necessários para que se execute determinada tarefa?
• Queremos um profissional já capacitado ou o treinaremos?
• Que tipo de experiência prévia esse funcionário deve ter?
Competências apresentadas
Competências requeridas
(indicar como SIM, NÃO, PARCIAL)
Cargo/
Descrição Conhecimentos Habilidades Conhecimentos Habilidades
Função Atitudes Atitude
(formação (experiência (formação (experiência
(perfil) (perfil)
acadêmica) profissional) acadêmica) profissional)
Operação
de prensa
Experiência
hidráulica de Segundo grau Perfil
mínima de
10 toneladas. completo e analítico e
Operador três anos em
Abastecimento formação realizador SIM PARCIAL SIM
de máquina operação de
de matéria- técnica na área (mão na
máquinas eletro-
-prima e industrial. massa).
mecânicas.
controle da
qualidade local.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Coda, 2016.
O modelo mostrado no Quadro 1 pode ser modificado da forma que a organização julgar
necessária. Podem-se estabelecer, por exemplo, notas para as competências e pesos para cada uma
delas. Dessa forma, para um cargo como gerente de vendas, a experiência profissional pode ter
uma importância maior do que a formação acadêmica.
5.2.3 Motivação
Já sabemos que as operações de uma empresa e a execução da estratégia dependem,
sobretudo, de pessoas, sejam elas diretores, gerentes, operários ou estagiários. O desempenho
de uma organização está diretamente ligado ao desempenho dos departamentos, das equipes e
dos indivíduos.
Como garantir que os colaboradores de uma empresa dediquem o máximo de suas
capacidades à empresa? Para obter a resposta, precisamos entender um pouco mais sobre o que
motiva as pessoas dentro de um ambiente corporativo. Segundo Ferraz (2018), pesquisas mostram
que pessoas talentosas são atraídas para uma empresa de acordo com os seguintes fatores: líderes
carismáticos; benefícios excelentes; perspectiva de crescimento; reputação da empresa.
“Entretanto, o tempo que permanecerão na empresa, seu nível de comprometimento e sua
produtividade têm a ver com a relação com seu chefe imediato” (FERRAZ, 2018, p. 148). Uma vez
que atraímos pessoas talentosas para dentro de nossa empresa, o que devemos fazer para que elas
desejem permanecer conosco?
O Quadro 2 pode responder a essa pergunta. De modo geral, uma empresa possui cinco
elementos que podem motivar seus colaboradores:
Execução da estratégia 77
Remuneração Este elemento reúne salário, férias, participação nos resultados, prêmios em dinheiro etc.
Ambiente de Refere-se a segurança, relacionamento com colegas e líderes, regras claras e justas, entre
trabalho outros fatores.
É a forma como o indivíduo enxerga seu papel na empresa, a maneira como ele dá sentido
Autorrealização
ao seu trabalho e concilia os aspectos profissionais aos pessoais.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Ferraz, 2018.
O bom líder sabe reconhecer que os elementos descritos têm importância diferente para cada
pessoa. Há quem valorize muito a remuneração e não se incomode com ambientes excessivamente
competitivos e exigentes. Outros preferem exercer atividades mais alinhadas a seus valores pessoais.
É importante observar que a importância dada a cada um dos elementos mostrados pode
variar de acordo com o momento profissional e pessoal pelo qual um funcionário está passando.
Uma gerente que acaba de se tornar mãe talvez valorize a possibilidade de, mesmo além do que
determina a lei, viajar a trabalho com menos frequência.
Um líder competente é capaz de reconhecer o que cada um de seus subordinados valoriza e
em que momento de suas carreiras eles se encontram e, dessa forma, compreender quais os fatores
que mais os motivam.
2 Universidade norte-americana reconhecida como uma das melhores escolas de negócios do mundo.
78 Planejamento Estratégico
indicadores financeiros como o Roce, o ROI e o ROE3. Não é objetivo do nosso estudo analisar em
detalhes esse tipo de indicador, mas, para facilitar nossa compreensão, podemos relacioná-los ao
lucro obtido por uma empresa.
Empresas são criadas para gerar lucro e retornos financeiros aos seus proprietários e
acionistas. Entretanto, indicadores financeiros tais como o faturamento (vendas), os custos, as
despesas administrativas e o próprio lucro são medidas de resultado, ou seja, são obtidas ao final
de um determinado período que pode ser um mês, um trimestre ou um ano.
Como garantir que esses indicadores financeiros apresentarão os resultados desejados?
Como tais resultados financeiros são construídos?
Ao longo do próximo capítulo, aprofundaremos nosso conhecimento sobre o BSC e veremos
detalhadamente como essa ferramenta se baseia em uma relação de causa e efeito.
Mas o que o BSC tem a ver com a estratégia?
Já sabemos que estratégia é o caminho ou curso de ações planejadas que uma organização
constrói para atingir seus objetivos de longo prazo, ou seja, a visão da empresa. O que o BSC faz é
traduzir essa visão em metas e indicadores estratégicos que direcionam os esforços e os recursos da
organização por meio de seus departamentos e de suas operações. Na Figura 3, ilustramos a relação
de causa e efeito utilizada pelo BSC:
Figura 3 – Exemplo de relação de causa e efeito
Lucro
Vendas Despesas
A Figura 3 mostra, de forma bastante simples, que a obtenção de lucro está relacionada ao
volume de vendas (ou faturamento) de uma empresa e às despesas desta. Em termos matemáticos,
temos o seguinte: lucro = vendas (–) despesas. Para que possamos obter um lucro maior, devemos
aumentar as vendas ou diminuir as despesas. De preferência ambos.
Dessa forma, podemos notar que o lucro é o efeito resultante das vendas e das despesas, que
são as causas. De maneira similar, utilizando novamente o conceito de causa e efeito, podemos
pensar no que é preciso fazer para diminuir as despesas de uma empresa e quais as ações que
devem ser tomadas para aumentar as vendas.
3 Termos financeiros muito utilizados na gestão de empresas: Roce (retorno sobre o capital empregado); ROI (retorno
sobre o capital investido); ROE (retorno sobre o patrimônio líquido).
Execução da estratégia 79
Essa relação de causa e efeito é o que permitirá colocar a estratégia em ação de forma clara e
prática, executando aquilo que será importante para a construção da estratégia e deixando de lado
atividades que não agregam valor e apenas consomem tempo e recursos. O BSC é uma ferramenta
que ajuda na tomada de decisões. Não despreza a importância da dimensão financeira, mas vai
além disso ao criar outras perspectivas que devem ser analisadas em conjunto com a contabilidade
para que se possa enxergar a organização de maneira ampla. O BSC estabelece a existência
de quatro perspectivas, conforme mostra o Quadro 3.
Quadro 3 – As perspectivas do balanced scorecard
Perspectiva Descrição
Considerações finais
Neste capítulo, vimos a importância da execução da estratégia, pois planejar por planejar
e não ser capaz de colocar a estratégia em prática é um contratempo muito comum no mundo
dos negócios. Isso ocorre por diversos fatores como falta de comprometimento da alta direção,
ausência de lideranças capazes e de colaboradores capacitados e motivados.
Outra barreira bastante relevante reside na falta de uma comunicação efetiva que permita a
compreensão de como a estratégia, elaborada pelos níveis hierárquicos mais elevados, deve estar
presente em todos os setores da organização. A criação da metodologia conhecida por balanced
scorecard busca eliminar essas barreiras e facilitar a construção de uma cultura de execução baseada
na disseminação da estratégia por meio de vetores de crescimento e no alinhamento estratégico.
A execução da estratégia, ou seja, colocar em prática aquilo que foi planejado é o que vai,
efetivamente, mostrar se as decisões iniciais foram acertadas ou não. Mais importante, uma boa
execução permitirá fazer os ajustes necessários e as eventuais correções de rota que podem ser
80 Planejamento Estratégico
fundamentais ao longo do tempo. Vivemos em um mundo em constante mudança e, cada vez mais,
essas mudanças ocorrem de maneira mais rápida e radical.
As relações de causa e efeito dentro das perspectivas do BSC permitem uma visualização
clara do que precisa ser feito para que se atinjam os resultados desejados, bem como o papel que
cada departamento, equipe e indivíduo deve exercer para levar a organização a um patamar de
excelência que se reverta em vantagem competitiva e resultados sustentáveis no longo prazo.
O próximo capítulo será dedicado ao BSC, sua construção a partir da visão da empresa e de
como elaborar os planos de ação para colocar a estratégia em ação.
Atividades
1. Cite três obstáculos ou falhas que atrapalham ou impedem a correta execução das estratégias
de uma organização.
2. Por que as pessoas são importantes no processo estratégico de uma empresa? Quais são os
principais fatores que devem ser considerados na gestão dos colaboradores dentro de uma
organização?
3. O que você entende por balanced scorecard e como essa ferramenta pode auxiliar uma
organização?
Execução da estratégia 81
Referências
BOSSIDY, L; CHARAN, R. Execução: a disciplina para atingir resultados. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
CAMPOS, V. F. Gerenciamento da rotina do trabalho do dia a dia. Nova Lima: INDG Tecnologia e Serviços
Ltda., 2004.
CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico: fundamentos e aplicações. 2. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009.
FALCONI, V. O verdadeiro poder: práticas de gestão que conduzem a resultados revolucionários. 1.ed.
Nova Lima: INDG Tecnologia e Serviços Ltda., 2009.
FERRAZ, E. Gente de resultados: manual prático para formar e liderar equipes enxutas de alta performance.
São Paulo: Planeta do Brasil, 2018. Disponível em: http://www.gentederesultados.com/wp-content/
uploads/2018/02/GenteDeResultados_degusta%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 14 jun. 2019.
KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. A estratégia em ação: balanced scorecard. Tradução de Luiz Euclides
Trindade Frazão Filho. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997.
MINTZBERG, H. Managing essencial: a essência do premiado managing, para gerentes com pouco tempo.
Porto Alegre: Bookman, 2014.
OLIVEIRA, D. de P. R. de. Planejamento estratégico: conceitos, metodologias, práticas. São Paulo: Atlas, 1995.
aos resultados, especialmente os financeiros, sem a devida dedicação aos fatores que geram
esses resultados.
É importante ressaltar que não se trata de uma metodologia mágica, tampouco é fácil sua
implementação. Um dos principais fatores responsáveis pelo sucesso ou fracasso da aplicação do
BSC em uma organização é o comprometimento total de sua direção. Sem as lideranças adequadas
e as atitudes motivadoras do topo hierárquico da empresa, a metodologia do BSC não tem como
ser bem-sucedida da forma como se espera.
A elaboração de um programa de BSC em uma empresa de médio ou grande porte pode
levar de seis meses a um ano e a colocação em prática em sua administração só será efetiva após
cerca de dois ou três anos. Esse prazo relativamente longo tem sido observado na prática e se deve,
sobretudo, ao fato de que a implantação do BSC visa a uma mudança da cultura da empresa que
passará a ser guiada por uma administração verdadeiramente estratégica.
O BSC1 propõe analisar uma empresa sob o ponto de vista de quatro perspectivas, as quais
estão apresentadas na Figura 1. Perceba a forma como se relacionam.
Figura 1 – As relações entre as perspectivas do BSC
Finanças
Processos internos
Clientes
Visão
Para satisfazermos clientes e
Para alcançarmos nossa visão, e
acionistas, em que processos de
como deveríamos ser vistos pelos Estratégia
negócios devemos alcançar a
nossos clientes?
excelência?
Aprendizado e crescimento
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Kaplan e Norton, 1997, p. 10.
1 O BSC originalmente propõe as quatro perspectivas apresentadas, contudo, cada organização tem liberdade para
definir outras perspectivas que mais se adéquem aos seus negócios.
O balanced scorecard (BSC) 85
capacitar os colaboradores e desenvolver novos produtos. Nos tópicos seguintes, falaremos de cada
uma dessas perspectivas nas visões de Kaplan e Norton (1997).
A análise financeira passará, obrigatoriamente, pelo estudo da estratégia e por itens como o
mix de produtos2, formação de preços, inserção em novos mercados, política de investimentos etc.
Ao final do processo de investigação, o investidor será capaz de julgar se a estratégia adotada pela
empresa será capaz de gerar resultados financeiros atrativos em longo prazo.
2 Mix de produtos consiste no conjunto de produtos e serviços oferecidos por uma empresa a seus clientes.
3 O ticket médio é um indicador muito comum no comércio e se refere ao valor que cada cliente gasta em uma
compra. O cálculo é feito dividindo-se as vendas em um período pelo número de clientes nesse mesmo período.
Por exemplo: em um sábado, uma loja que vende R$ 5.000,00 para 100 clientes obteve um ticket médio de R$ 50,00
(R$ 5.000,00 / 100 = R$ 50,00 por cliente).
86 Planejamento Estratégico
Perspectiva financeira
Lucratividade
Perspectiva de clientes
Lealdade dos clientes
Pontualidade das
entregas
Perspectiva de
processos internos
Velocidade dos
Qualidade dos produtos
processos
Perspectiva de aprendizado
e crescimento Capacidade dos
funcionários
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Kaplan e Norton, 1997, p. 31.
O balanced scorecard (BSC) 87
Segundo Kaplan e Norton (1997), a Figura 2 pode ser entendida como uma hipótese a ser
lida da seguinte forma: se aprimorarmos o treinamento e a capacitação dos funcionários, eles serão
capazes de executar os processos mais rapidamente e com maior qualidade. Com isso, poderemos
encantar e fidelizar nossos clientes e aumentar nossas vendas e nossa lucratividade.
Mais à frente, apresentaremos o conceito de mapa estratégico, uma representação gráfica em
que serão colocados os objetivos estratégicos da visão e suas inter-relações.
Selecione temas que possam ser O segredo aqui é um conjunto de ações coerentes, isto é, condutas que
defendidos com uma boa execução justifiquem cada um dos temas estratégicos.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Person, 2010, p. 48.
Tema Empresa
Toyota
A Toyota utiliza ferramentas como o six sigma4 e o lean manufacturing5 para criar uma
Excelência operacional
operação de alto desempenho, eliminando variação e perda, enquanto satisfaz as
necessidades mais importantes dos clientes.
IBM
Solução completa Competir com a IBM em vendas é difícil, porque ela fornece uma solução completa que
envolve hardware, software, consultoria e suporte.
Apple
Serviços/produtos
A Apple tem seguidores religiosos por causa de sua entrega de produtos e serviços
de ponta
(como o iTunes) que estão na vanguarda.
Microsoft
Bloqueio de sistema Depois que se começa a usar seus produtos, o custo da mudança fica alto demais para
que se considere a concorrência.
Lexus
Qualidade Seus funcionários dizem “nós fazemos os carros que têm a produção de mais alta
qualidade nos Estados Unidos”.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Person, 2010, p. 47.
Tema 1 Tema 2
Finanças
Clientes
Processos internos
Aprendizado e crescimento
4 Conjunto de princípios e técnicas da qualidade desenvolvidas ao longo do tempo que busca implementar um sistema
de processos livre de erros (PYSDEK; KELLER, 2014).
5 Processos enxutos são baseados na metodologia denominada lean manufacturing (produção enxuta) criada pela
empresa japonesa Toyota, após a Segunda Guerra Mundial, em que se busca a eliminação total dos desperdícios, tanto de
materiais como de mão de obra e do tempo de execução de cada tarefa (RODRIGUES, 2016).
O balanced scorecard (BSC) 89
Tema 1
Reduzir Aumentar Aumentar
Excelência
custos lucratividade receitas
operacional
Tema 2
Encantamento
do cliente
Clientes
Satisfação Cumprir
Qualidade
do cliente prazos
Objetivos
estratégicos
Processos
Aumentar a
Novos produtos e
capacitação dos Planos de carreira
serviços
funcionários
A experiência tem mostrado que não é desejável um mapa com mais de vinte e quatro
objetivos estratégicos, pois corre-se o risco de duplicar medidas ou confundir indicadores
operacionais com indicadores-chave6.
6 Apesar de importantes, pois ajudam no atingimento dos objetivos estratégicos, indicadores operacionais não são
estratégicos e são utilizados no controle de determinadas atividades ou processos específicos.
O balanced scorecard (BSC) 91
se referem ao fato de que algumas cadeiras são ligeiramente bambas, o que causa desconforto
para o usuário. Depois de um exame minucioso em todas as etapas do processo de fabricação,
percebemos que algumas pontas plásticas dos pés das cadeiras se descolavam durante o transporte.
A solução encontrada foi trocar o fornecedor do adesivo utilizado para fixar as pontas
plásticas aos pés das cadeiras e, dessa forma, não foram mais relatados problemas desse tipo por
parte dos clientes. Ou seja, nem sempre os problemas que são relatados têm apenas uma causa
ou são de fácil solução, mesmo assim, o processo de identificação, análise e correção é similar
(FALCONI, 2009).
Na visão de Kaplan e Norton (1997, p. 235), o grande valor do BSC é o de impulsionar a
mudança organizacional, pois, para “comunicar a necessidade de mudança, os executivos devem
estabelecer metas para os indicadores três a cinco anos à frente, que, se alcançadas, transformarão
a empresa”.
As metas estratégicas devem ser ambiciosas e desafiadoras, pois são elas que garantirão a
realização da visão de longo prazo e levarão a empresa a outro patamar. O acompanhamento das
metas deve ser feito de forma contínua com reuniões de revisão estratégica e o estabelecimento
de metas parciais, para que se possa aferir a efetividade das ações que estão sendo colocadas em
prática.
No Quadro 3, apresentamos um exemplo do que poderia ser o estabelecimento de metas e
da revisão anual do andamento do projeto.
Quadro 3 – Estabelecimento de meta final e metas parciais
Abrangência Ampliar o número de lojas Ter uma loja em cada capital de estado
Clientes
geográfica nas regiões Sul e Sudeste. das regiões Sul e Sudeste.
Ano 1
Cidade Meta Atingido Observações
Porto Alegre Loja construída -
Ano 2
Cidade Meta Atingido Observações
Curitiba Loja construída -
Ano 3
Planejamento estratégico
Metas corporativas Indicadores-chave (KPIs)
Planejamento tático
Metas funcionais Indicadores funcionais
Planejamento operacional
Metas operacionais Indicadores operacionais
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Andrade, 2012.
Reduzir custos
Demonstrativo
Aumento de 12% de produção e
R$ ou % do de Resultados
EBITDA8 em relação ao Mensal eliminar produtos
faturamento Financeiros
ano anterior. com margem
(DRE)
menor do que 25%.
Aumentar a
Expandir o número
participação de Relatório da
de lojas e lançar
Market share 9
% do mercado mercado de 15% Trimestral Associação
nova linha de
para 28% em Comercial
produtos.
cinco anos.
(Continua)
8 Do inglês earnings before interest taxes depreciation and amortization é um termo contábil que, em português,
é também chamado de Lajida ou lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização. Refere-se ao resultado
operacional de uma empresa ou ao lucro proveniente de suas operações.
9 Participação de mercado é a fatia de mercado que uma empresa possui, normalmente expressa em porcentagem do
faturamento total de determinada indústria. Pode-se dizer da seguinte forma: “O fabricante X, de roupas infantis, tem um
market share de 17% em uma indústria em que a empresa líder detém 28% do mercado”.
94 Planejamento Estratégico
% Todos os
Número de funcionários
Avaliação de Elaborar sistema
funcionários avaliados ao final Mensal RH
funcionários da avalição on-line.
avaliados em dos próximos 12
relação ao total meses.
No quadro anterior, temos um exemplo prático do que poderiam ser alguns dos KPIs
selecionados pela direção de uma empresa. Observem que foi colocado um KPI de cada perspectiva
do BSC, como segue:
• EBITDA: indicador de lucro operacional situado na perspectiva financeira.
• Market share: indicador de participação de mercado situado na perspectiva de clientes;
• Desenvolvimento de novos produtos: indicador de tempo de lançamento de produtos
novos pertencente à perspectiva de processos internos;
• Avaliação de funcionários: indicador relativo à avaliação de competências dos
colaboradores originada da perspectiva de aprendizado e crescimento.
Diversos outros KPIs poderiam ser definidos com base nos objetivos estratégicos e nas
características apresentadas previamente. Os planos de ação estipulados serão desenvolvidos
com maior profundidade e nível de detalhamento ao serem desdobrados para os níveis tático
e operacional da organização. É importante notar que a periodicidade ou frequência de análise
das informações se refere às reuniões de revisão estratégica que serão conduzidas pela direção da
empresa em conjunto com as áreas funcionais e o comitê do BSC10.
Para finalizar nosso estudo sobre o BSC, apresentamos, na Figura 6, a estrutura básica
de equipes responsáveis pela implementação do programa. Temos enfatizado inúmeras vezes a
importância da disciplina na elaboração do planejamento estratégico e, principalmente, em sua
execução. O BSC é uma ferramenta que proporciona um roteiro para essa execução, mas sua
própria concepção depende da vontade e do comprometimento de toda a organização.
10 É extremamente recomendável que seja criado um comitê do BSC, responsável por construir o BSC e servir de
suporte às áreas funcionais. Esse comitê poderá ser formado por profissionais de diversas áreas dentro da empresa e por
consultores ou especialistas externos.
O balanced scorecard (BSC) 95
Considerações finais
Este capítulo, dedicado ao balanced scorecard é, de certa forma, a conclusão do capítulo
anterior em que falamos sobre a execução da estratégia e das dificuldades que as empresas
enfrentam para que a visão de longo prazo possa ser implantada e de formar lideranças e engajar
pessoas por meio de aspectos motivacionais e de alinhamento estratégico.
Nessa concepção, podemos entender que o BSC foi criado justamente com o objetivo de
operacionalizar o planejamento estratégico e permitir que ele seja transportado para as operações
diárias da organização, quebrando barreiras e direcionando esforços de cada uma de suas áreas
e departamentos.
96 Planejamento Estratégico
Podemos dizer que cada uma das atividades diárias em uma organização constitui os tijolos
de construção da estratégia ou a estrada que nos levará à situação desejada no futuro. Essa situação
desejada, representada pela visão, fornecerá as condições para que se obtenha vantagem competitiva
e a evolução da empresa. Todas essas atividades cotidianas devem estar alinhadas à estratégia e à
criação de valor, não havendo lugar para desperdício em um mundo cada vez mais competitivo.
A utilidade do BSC não acaba com a sua implementação. Na verdade, o BSC passará a ser a
base do que se denomina gestão estratégica, que é a consolidação das boas práticas desenvolvidas e
a criação de valor de modo contínuo e natural dentro de uma organização moderna.
Atividades
1. Por que os criadores do balanced scorecard decidiram criar outras perspectivas de análise
além da financeira, comumente utilizada pela maioria das empresas?
Referências
ANDRADE, A. R. Planejamento estratégico: formulação, implementação e controle. São Paulo:
Atlas, 2012.
FALCONI, V. O verdadeiro poder: práticas de gestão que conduzem a resultados revolucionários. Nova Lima:
INDG Tecnologia e Serviços Ltda, 2009.
O balanced scorecard (BSC) 97
KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. A estratégia em ação: balanced scorecard. Tradução de Luiz Euclides
Trindade Frazão Filho. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997.
PERSON, R. Balanced scorecards e painéis operacionais com Microsoft® Excel®. Rio de Janeiro: Alta Books,
2010.
PYSDEK, T.; KELLER, P. The six sigma handbook: a complete guide for green-belts, black-belts and
managers at all levels. 4. ed. United States of America: McGraw-Hill Education, 2014.
ROHM, H.; WISLEY, D.; PERRY, G. S.; MONTGOMERY, D. The Institute Way: simplify strategic planning
and management with the balanced scorecard. Cary, NC: The Institute Press, 2013. Disponível em: https://
www.balancedscorecard.org/. Acesso em: 21 jun. 2019.
7
Estratégia avançada
Devemos ter em mente esses aspectos durante todas as fases da gestão estratégica, incluindo
a fase de planejamento e, principalmente, as seguintes: a execução e a manutenção.
Na Figura 1, ilustramos os aspectos do planejamento estratégico vistos até aqui. Esse
diagrama permite uma visão geral do processo e facilita o entendimento da construção da
estratégia e dos planos de ação que vêm a seguir.
1 Coaching e mentoring são metodologias que buscam o crescimento pessoal e profissional de um indivíduo
(MARQUES, 2016).
Estratégia avançada 101
Definição do negócio
Liderança em custos
Avaliação e posicionamento Diferenciação
no ambiente competitivo Enfoque
Perspectiva
Perspectiva Perspectiva Perspectiva
de aprendizado e
financeira de clientes de processos internos
crescimento
A Figura 1 mostra uma espécie de roteiro do planejamento estratégico e como ele se desdobra
com base na definição do negócio proposta pela alta direção da empresa.
A meta do BSC não é desenvolver um novo conjunto de medidas. “Os indicadores – a maneira
como descrevemos resultados e metas – são, de fato, uma poderosa ferramenta de motivação e
avaliação. Mas a estrutura de indicadores no balanced scorecard deve ser implantada visando a
desenvolver um novo sistema gerencial.” (KAPLAN; NORTON, 1997, p. 283)
Como vimos, ao apresentar o BSC, a ideia não é diminuir a importância das medidas
financeiras, mas integrar esses indicadores a outras famílias de indicadores que são as demais
perspectivas do BSC. Dessa forma, conseguiremos construir um sistema gerencial equilibrado que
vincula o desempenho operacional de curto prazo a objetivos estratégicos de longo prazo.
Para que tenhamos uma gestão estratégica que funcione de forma eficiente, trazendo as
metas estratégicas para o dia a dia da organização, é importante estabelecer um método. De acordo
com Falconi (2009), gerenciar é solucionar problemas e um problema é a distância que separa
102 Planejamento Estratégico
o resultado obtido da meta previamente definida. O método a ser adotado é o PDCA2, base do
sistema de produção criado pela empresa japonesa Toyota.
Entender o método PDCA é bastante simples, mas sua correta implementação exige bastante
dedicação e disciplina. De modo geral, podemos entender o PDCA como um método que visa à
melhoria contínua de processos, produtos e elementos de gestão de maneira ampla. Na Figura 2,
descrevemos o método em detalhes.
Figura 2 – O método PDCA
CHECK DO
Verificar Fazer
A Figura 2, não por acaso, mostra o método PDCA como um ciclo, porque significa que a
busca por melhorias nunca termina e é sempre possível executar determinado processo de maneira
mais eficiente. Nunca é demais lembrar que os processos devem estar alinhados à estratégia e às
mudanças no ambiente de negócios, observadas ao longo do tempo, e devem ocasionar revisões
nos processos e nas metas previamente estipuladas (FALCONI, 2009).
Pudemos ver a simplicidade do método PDCA e como ele se configura em uma ferramenta
de solução de problemas (atingimento de metas) bastante eficaz. Além da dedicação e disciplina
já mencionadas, é importante lembrar das barreiras à execução da estratégia que vimos
no Capítulo 5, como metas não associadas à estratégia, falta de feedback, falta de lideranças
competentes, metas incompatíveis com os recursos disponíveis, entre outras. Esses obstáculos
não desaparecem da noite para o dia e, à medida que a gestão estratégica se desenrola, devem ser
atacados e minimizados.
2 Sigla em inglês para: plan, do, check, act. Em português, poderíamos definir como: planejar, fazer, verificar, agir
Estratégia avançada 103
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Kim e Mauborgne, 2005, p. 17.
3 Trade-off é um termo em inglês que traduz o conflito entre escolher alguma coisa e abrir mão de outra
104 Planejamento Estratégico
A Figura 4 mostra aquilo que caracteriza a inovação de valor: aumentar o valor para o cliente
ao mesmo tempo em que se busca reduzir os custos da empresa.
Figura 4 – Representação gráfica da inovação de valor
Custos
Inovação
de valor
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Kim e Mauborgne, 2005, p. 16.
O que o conceito de inovação de valor sugere pode parecer contraditório em uma primeira
análise. Como aumentar o valor para o cliente sem que isso provoque um aumento dos custos?
Nessa perspectiva, podemos entender que as análises tradicionais, envolvendo estudos de
mercado e elaboração de estratégias, normalmente, indicam que, a fim de fornecer produtos
de maior qualidade, uma empresa necessariamente gastará mais para produzir e comercializar
tais produtos. Seguindo o mesmo raciocínio, aquela que deseja reduzir seus custos de produção
deverá fornecer aos seus clientes produtos mais simples e menor possibilidade de escolha. Esse é o
já mencionado trade-off valor-custo, um dilema aparentemente insolúvel.
A solução proposta pela estratégia do oceano azul que possibilita conseguir aumentar
o valor para os compradores sem originar elevação nos custos é captar a situação existente no
mercado. Com base nisso, pode-se identificar em quais atributos os concorrentes estão investindo
mais fortemente. Assim, é possível mapear os atributos que são realmente relevantes em termos
de produtos, serviços e entrega e compreender o que é, de fato, valorizado pelos clientes (KIM;
MAUBORGNE, 2005). Vimos algo semelhante quando tratamos dos fatores críticos de sucesso no
Capítulo 3.
Para tanto, Kim e Mauborgne (2005), os criadores do conceito de estratégia do oceano azul,
elaboraram uma ferramenta de análise denominada modelo das quatro ações, que pode ser visto
na Figura 5. Segundo esse modelo, a análise criteriosa dos atributos existentes (e a serem criados)
será capaz de fornecer uma nova curva de valor4, o conjunto de atributos que realmente farão a
diferença para que uma organização se destaque e seja capaz de explorar novos espaços de mercado.
4 Uma curva de valor é uma representação gráfica em que se relacionam determinados atributos de um produto ou
serviço com a intensidade com que esses produtos são praticados no mercado (KIM; MAUGBORNE, 2005).
Estratégia avançada 105
Reduzir
Elevar
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Kim e Mauborgne, 2005, p. 29.
A Figura 5 descreve as ações que devem ser tomadas com base nos atributos de valor que
são considerados pelo mercado. Vamos analisá-los detalhadamente (KIM; MAUBORGNE, 2005):
• Reduzir: quais são os atributos que devem ser reduzidos abaixo dos padrões estabelecidos
pelo setor? Será que aquilo que os competidores vêm agregando aos seus produtos e
serviços é realmente valorizado pelos clientes?
• Criar: identificar os atributos que nunca foram oferecidos pelo setor e que podem
interessar clientes já identificados ou novos espaços no mercado.
• Elevar: que atributos devem ser elevados acima do que o setor vem praticando? Em que
aspectos os clientes não estão tendo suas necessidades plenamente satisfeitas?
• Eliminar: que atributos considerados essenciais pelo setor devem ser eliminados? Há
características que simplesmente não são valorizadas pelos clientes?
Essas ações descritas por Kim e Mauborgne (2005) visam estabelecer uma nova forma de
se enxergar o negócio. Eis aí a inovação proposta. No tópico a seguir, veremos um dos exemplos
mais emblemáticos utilizados pelos criadores da estratégia do oceano azul que é o Cirque du Soleil.
Baixo
5 Região da cidade de Nova York, nos Estados Unidos da América, caracterizada pela concentração de teatros
especializados em espetáculos musicais.
Estratégia avançada 107
Por outro lado, a Figura 6 mostra que o atributo preço foi aumentado e outros atributos
foram criados, como um ambiente de maior conforto para os espectadores e os diferentes temas
e produções. Esse último aspecto é muito interessante, pois, ao criá-los, o circo está sempre se
renovando, de forma que quem já assistiu a um show pode se interessar por uma produção com
conteúdo diferente.
Vale ressaltar que o público que frequenta os espetáculos do Cirque du Soleil se ampliou
entre aquelas pessoas que não se interessavam pelos circos tradicionais e, dessa forma, um
novo segmento de mercado surgiu. É claro que o modelo criado pelo Cirque du Soleil pode ser
copiado ou mesmo aperfeiçoado por outros grupos e isso indica que ficar parado não é uma
boa opção. A inovação de valor proposta pelos criadores da estratégia do oceano azul deve
estar em constante monitoramento.
A análise Pestel deve ser feita considerando-se o impacto de suas variáveis nas diversas áreas
da organização como vendas, finanças, logística, clientes, fornecedores etc. Quando falamos em
108 Planejamento Estratégico
mudanças, é normal a imediata associação a riscos. O que é um risco? Para a ISO 31.0006, é o
efeito da incerteza em um determinado objetivo. De modo geral, analisamos um risco em duas
dimensões: probabilidade e impacto (ABNT, 2009). Tomemos como exemplo a seguinte situação:
As questões que devem ser feitas com base no exemplo anterior são: qual a probabilidade de
o dólar se valorizar nos próximos meses ou anos? Qual o impacto que isso trará aos nossos custos
e às nossas vendas? Há quatro maneiras de se lidar com os riscos (COSO, 2007):
• Evitar o risco: simplesmente deixar de exercer determinada atividade. No exemplo
anterior, a empresa deixaria de comercializar o produto importado caso optasse por essa
resposta ao risco;
• Mitigar o risco: ou reduzir o risco significa encontrar maneiras de reduzir a probabilidade
e o impacto dos riscos em suas atividades. No exemplo, adquirir um grande estoque de
produtos chineses quando o dólar estiver baixo seria uma forma de diminuir o impacto
de um eventual aumento na cotação da moeda;
• Transferir o risco: passar a responsabilidade em assumir o risco a um terceiro. No
exemplo, seria como fixar a taxa do dólar no futuro com alguma instituição financeira.
Dessa forma, mesmo na ocorrência de aumento da taxa de câmbio, a empresa poderá
comprar os dólares necessários na cotação previamente negociada e o risco passa a ser da
instituição financeira contratada;
• Aceitar o risco: normalmente, uma organização aceita correr determinado risco quando
o custo de enfrentá-lo se torna mais caro do que as eventuais consequências caso o risco
se torne realidade.
6 A sigla ISO em inglês se refere à International Organization for Standardization, organismo multinacional não
governamental que reúne cerca de 164 países e estabelece diversas normas para produtos, processos e serviços
que visam garantir determinados padrões de qualidade. A ISO 31.000 define aspectos relacionados à gestão de riscos
(ABNT, 2009).
Estratégia avançada 109
Nem sempre a análise e a gestão de riscos são fáceis. De modo geral, o que fazemos ao
nos planejarmos é identificar os riscos e pensar nas melhores formas de evitá-los e responder a
eles caso ocorram. Na década de 1990, segundo Elias (2009), o exército americano cunhou a sigla
VUCA para definir o alto grau de incerteza em que nos encontramos nos últimos tempos. Essa
sigla é formada pelas palavras que listamos no Quadro 2:
Quadro 2 – O mundo VUCA
Refere-se à velocidade com que ocorrem as mudanças. Essa volatilidade torna o mundo
Volatility
dos negócios extremamente desafiador, uma vez que é necessário lidar com novas
(volatilidade)
tecnologias, preferências e comportamentos de consumidores.
Baseia-se no fato de que as relações entre as diversas variáveis de mercado são cada
Complexity
vez mais difíceis de serem completamente compreendidas. Em vez de uma resposta
(complexidade)
correta, o que temos são inúmeras possibilidades.
Organizações que desejam se destacar e obter vantagem competitiva devem estar atentas aos
conceitos apresentados no Quadro 2. Uma das formas é prestar muita atenção no desenvolvimento
de lideranças e competências dos colaboradores, conforme examinamos no Capítulo 5 ao
destacarmos a importância das pessoas no processo estratégico.
Na perspectiva de Kaplan e Norton (1997), a estruturação do balanced scorecard (BSC)
reforça esse sentimento ao colocar em sua base o aprendizado e o crescimento em que a capacitação
permanente deve ser perseguida pela organização.
7 Stakeholders são pessoas que têm interesse na gestão de empresas ou na gestão de projetos, tendo ou não feito
investimentos neles (CAMARGO, 2018).
110 Planejamento Estratégico
Quando ouvimos que determinada empresa segue ou possui um conjunto de boas práticas
de governança corporativa, podemos entender que ela busca atingir uma situação destacada no
mundo dos negócios por meio da aplicação prática e do respeito à ética.
Segundo Assi (2013), outro conceito que vem se destacando cada vez mais no ambiente
corporativo é o compliance, que deriva da expressão inglesa to comply, entendida como estar em
conformidade com algo. Mas o que é esse algo? Quando utilizamos a palavra compliance, estamos
nos referindo a um sistema de compliance ou a um programa de compliance ou, como preferem
alguns, um programa de integridade.
Estratégia avançada 111
Na prática, estar em conformidade com algo significa seguir regras e obedecer a certas
legislações, normas e regulamentos internos e externos à organização. Um programa de compliance
é um componente da governança corporativa e está associado à definição de procedimentos e à
transparência das relações que fazem parte de um ambiente organizacional.
O interesse por programas de compliance, no Brasil, intensificou-se com a Lei n. 12.846/13,
publicada em 1º de agosto de 2013. Também conhecida como Lei Anticorrupção ou Lei da Empresa
Limpa, estabelece as punições para empresas que cometam atos lesivos contra a administração
pública, nacional ou estrangeira (BRASIL, 2013).
Essa lei, além de definir as responsabilizações a que empresas que cometem crimes contra
a administração pública estão sujeitas, define certos atenuantes para organizações que possuem
um sistema de compliance ou programa de integridade plenamente funcional. O Decreto que a
regulamenta é o de n. 8.420, publicado em 18 de março de 2015, que define os padrões de um
sistema de integridade da seguinte forma:
programa de integridade consiste, no âmbito de uma pessoa jurídica, no
conjunto de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria
e incentivo à denúncia de irregularidades e na aplicação efetiva de códigos de
ética e de conduta, políticas e diretrizes com objetivo de detectar e sanar desvios,
fraudes, irregularidades e atos ilícitos praticados contra a administração pública,
nacional ou estrangeira (BRASIL, 2015).
Um programa efetivo de compliance deve ser estruturado em cinco pilares, conforme ilustra
a Figura 8, de forma a garantir o respeito às disposições legais, especialmente no que se refere ao
combate à corrupção.
Figura 8 – Os pilares de um programa de compliance
5 pilares
do programa de compliance
1° 2° 3° 4° 5°
Comprometimento e apoio
Monitoramento contínuo
Regras e procedimentos
Comitê de compliance
Gestão de riscos
da alta direção
Não há uma determinação explícita de como os pilares mostrados na Figura 8 devem ser
estruturados em uma organização; assim, cada uma é livre para implementar o programa da forma
que melhor se adéque ao seu tamanho e estrutura organizacional. O importante é que o programa
de compliance atenda aos objetivos propostos. Passemos a analisar cada um dos pilares descritos
nessa figura (CGU, 2015):
112 Planejamento Estratégico
Considerações finais
Neste capítulo, dedicamos nossa atenção à gestão estratégica, a forma como uma organização
deve trazer aquilo que foi planejado para o dia a dia de suas operações. O comprometimento de
8 Um canal de denúncia é uma forma de levar ao conhecimento do comitê de compliance qualquer ato ou suspeita de
comportamento que afronte os regulamentos internos da empresa ou a legislação vigente. De modo geral, um canal de
denúncias deve preservar o anonimato da fonte e conduzir as investigações de forma sigilosa até que se apurem todos
os fatos (ASSI, 2013).
Estratégia avançada 113
todos os indivíduos e de suas lideranças é fundamental para que uma cultura de execução possa ser
incorporada às mentes das pessoas.
Vimos também o método PDCA que, por meio de um ciclo de aprimoramento contínuo,
permite colocar em prática aquilo que foi planejado e corrigir o que não está saindo conforme as
metas estabelecidas previamente. Cada organização deve construir seus caminhos e suas estratégias
e aprimorá-las por meio da observação atenta e permanente do que acontece ao seu redor. Buscar
obter vantagem competitiva e se diferenciar no meio de um grande número de competidores deve
estar sempre no radar dos estrategistas.
A estratégia do oceano azul propõe deslocar o foco que aprisiona a maioria das empresas em
ambientes de negócios extremamente competitivos para novos mercados inexplorados, com novos
clientes e novas demandas. A inovação de valor se traduz no conceito de fazer mais com menos ao
oferecer novas opções aos clientes, com maior valor agregado e sem que isso provoque aumento
dos custos.
Inovar nos processos e na capacitação das pessoas é o que permitirá ter sucesso em um
mundo VUCA, em que mudanças podem ocorrer de forma inesperada e causar grandes impactos
na sociedade. Tornar as empresas ágeis e preparadas permitirá identificar os diversos riscos que
povoam o mercado e estabelecer as melhores formas de se lidar com esses riscos. Por fim, tivemos a
oportunidade de conhecer os conceitos de governança corporativa e compliance, ferramentas cada
vez mais necessárias em sociedades cada vez menos dispostas a aceitar descumprimento de leis e
atitudes antiéticas.
Atividades
1. O que é o método PDCA?
Referências
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ISO 31000. 2009. Disponível em: https://
gestravp.files.wordpress.com/2013/06/iso31000-gestc3a3o-de-riscos.pdf. Acesso em: 16 jun. 2019.
ANDRADE, A. R. Planejamento estratégico: formulação, implementação e controle. São Paulo: Atlas, 2012.
ASSI, M. Gestão de compliance e seus desafios: como implementar controles internos, superar dificuldades e
manter a eficiência dos negócios. São Paulo: Saint Paul, 2013.
BOSSIDY, L.; CHARAN, R. Execução: a disciplina para atingir resultados. 10.ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2005.
BRASIL. Lei n. 12.846, de 1º de agosto de 2013. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 2 ago.
2013. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12846.htm. Acesso em:
16 jun. 2019.
BRASIL. Lei n. 8.420, de 18 de março de 2015. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 19
mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Decreto/D8420.htm.
Acesso em: 16 jun. 2019.
CAMARGO, R. O que são stakeholders? Saiba tudo sobre eles e sua importância. Robson Camargo Projetos
e Negócios. 2019. Disponível em: https://robsoncamargo.com.br/blog/O-que-sao-stakeholders-Saiba-tudo
-sobre-eles-e-sua-importancia. Acesso em: 16 jun. 2019.
CGU – Controladoria-Geral da União. Programa de integridade: diretrizes para empresas privadas. 2015.
Disponível em: https://www.cgu.gov.br/Publicacoes/etica-e-integridade/arquivos/programa-de-integridade
-diretrizes-para-empresas-privadas.pdf. Acesso em: 16 jun. 2019.
CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico: fundamentos e aplicações. 2. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009.
COSO - Gerenciamento de riscos corporativos. Estrutura Integrada, 2007. Disponível em: https://www.coso.
org/Documents/COSO-ERM-Executive-Summary-Portuguese.pdf. Acesso em: 21 jun. 2019.
ELIAS, M. O que é o mundo VUCA? Administradores.com. 2019. Disponível em: https://administradores.
com.br/artigos/o-que-e-o-mundo-vuca. Acesso em: 16 jun. 2019.
FALCONI, V. O verdadeiro poder: práticas de gestão que conduzem a resultados revolucionários. 2. ed. Nova
Lima: INDG Tecnologia e Serviços Ltda, 2009.
KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. A estratégia em ação: balanced scorecard. 4. ed. Rio de Janeiro: Campus,
1997.
KIM, W. C.; MAUBORGNE, R. A estratégia do oceano azul: como criar novos mercados e tornar a
concorrência irrelevante. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
MARQUES, J. R. O que é coaching e mentoring? Portal IBC. 2016. Disponível em: https://www.ibccoaching.
com.br/portal/coaching/o-que-e-coaching-e-mentoring/. Acesso em: 16 jun. 2019.
8
Novos negócios e empreendedorismo
Por outro lado, o empreendedorismo por vocação, aquele em que o empreendedor busca
desenvolver um novo negócio com base em estudos de mercado e planejamento adequado,
também tem crescido. Esse tipo de empreendedorismo é o que tem maior capacidade de sucesso e
de geração de riqueza.
Vejamos no Quadro 1 algumas das características mais marcantes de empreendedores
de sucesso.
Quadro 1 – Características de empreendedores de sucesso
Sentem-se seguros para tomar decisões de forma rápida, muitas vezes com
Sabem tomar decisões
poucas informações disponíveis.
São determinados
Dedicam as 24 horas do dia ao seu negócio com foco e comprometimento total.
e dedicados
São apaixonados Usam essa paixão para superar obstáculos e convencer os outros sobre as
pelo que fazem vantagens de seus produtos e serviços.
São líderes e formadores Em alguma etapa, o empreendimento precisará ganhar escala e com isso será
de equipes necessário delegar responsabilidades a outras pessoas.
Não basta uma boa ideia, é preciso levar isso ao conhecimento do maior número
São bem relacionados
de pessoas possível.
São otimistas Ouvem as pessoas, mas não se deixam contaminar pelo seu conformismo.
• Desconhecimento total do negócio, ou seja, acreditar que uma ideia pode se transformar em um negócio
lucrativo apenas por ter ouvido falar ou ter visto de forma superficial.
• Desconhecer o tamanho do mercado de atuação, o que significa enxergar segmentos muito restritos,
inviabilizando produtos ou serviços.
• Não saber definir o local adequado para o negócio nem os canais de venda mais indicados, pois muitos
empreendedores abrem lojas em locais próximos às suas residências buscando seu conforto pessoal e se
esquecem de pensar na conveniência de seus clientes.
• Escolha de sócios inadequados. Como todo relacionamento, essa questão deve ser tratada de forma aberta e
transparente, buscando estabelecer previamente como eventuais conflitos serão tratados.
• Não possuir uma boa rede de relacionamentos, pois muitas vezes surgirão questões a serem analisadas por
especialistas como advogados, contadores, fornecedores, consultores etc. Ter acesso a esse tipo de ajuda,
antes de abrir o negócio, poderá ser de grande utilidade.
• Confusão patrimonial, ou seja, misturar as finanças pessoais e de familiares com as da empresa.
• Não atentar para as questões legais relacionadas à atividade escolhida, o que pode ocasionar multas,
processos e até mesmo o fechamento do negócio.
• Não se atualizar com relação aos fatores externos que influenciam suas atividades, como a situação
econômica do país e de seus consumidores, a chegada de concorrentes, mudanças tecnológicas etc.
Uma das grandes questões que surgem quando o assunto é empreendedorismo é se essa
atividade pode ser aprendida ou se o indivíduo já nasce com as características necessárias para se
tornar um empreendedor.
Ao analisarmos as características de um empreendedor como aquelas apresentadas no
Quadro 1, observamos que uma grande parte é um conjunto de habilidades adquiridas com a
vivência tanto pessoal como profissional de um indivíduo. Vejamos o caso de uma boa rede de
relacionamentos: um recém-nascido possui, quando muito, um relacionamento com sua mãe e
com seu pai podendo se estender aos avós e aos irmãos. Pouquíssimo para se iniciar um negócio.
É claro que a brincadeira mencionada no parágrafo anterior ilustra que muito do espírito
empreendedor vem com o tempo e com as experiências que se somam ao longo da vida de uma
pessoa, entretanto, fatores comportamentais como facilidade de relacionamento, habilidade em se
comunicar e atitude positiva frente a dificuldades ajudam a enfrentar os desafios na vida de um
empreendedor.
Podemos observar que a atividade empreendedora apresenta uma série de oportunidades a
quem possui as características exigidas para se aventurar na criação de novos negócios. Por outro
lado, os riscos existem e devem ser analisados com atenção. Na próxima seção, veremos uma das
mais importantes ferramentas para auxiliar empreendedores em sua jornada: o plano de negócios.
essa pergunta passa pelo processo de conhecimento e análise de todos os aspectos envolvidos na
criação de um negócio.
A Figura 1 mostra os diversos componentes que devem ser considerados para que uma ideia
possa gerar um negócio.
Figura 1 – Um negócio a partir de uma ideia
Negócio
Relacionamento
Processos Clientes
Produto
Vendas
Fornecedores
Pessoas
Gestão Serviços
Finanças
Estratégia
Missão
Visão
Inovação
Oportunidade
Ideia
Fonte: Elaborada pelo autor.
Cada componente mostrado na Figura 1 deve ser estudado e aplicado à ideia para que ela
possa, efetivamente, transformar-se em um negócio. Podemos observar que o caminho é longo e
envolve muitas questões, mas, ao contrário do que possa parecer, planejar as etapas e se preparar
da melhor forma possível é o meio mais apropriado para diminuir os riscos e aumentar as chances
de sucesso.
Segundo Dornelas (2001), o plano de negócios é uma ferramenta que ajuda o empreendedor
a trilhar o caminho entre a ideia e o negócio propriamente dito e permite uma análise racional da
viabilidade do empreendimento. Ou seja, se aquela ideia é realmente boa e se ela pode se transformar
em um negócio de sucesso ao atender desejos e necessidades de clientes. Podemos entender o
plano de negócios como um instrumento de convencimento, tanto para o empreendedor quanto
para futuros sócios ou investidores que possam vir a se juntar a ele.
Dornelas (2017) aponta que o sumário executivo deve ser apresentado de forma sucinta em
uma ou duas páginas em que são citadas as informações mais relevantes do negócio proposto.
Novos negócios e empreendedorismo 121
De acordo com o Gráfico 1, é importante avaliar que um produto inovador exigirá grandes
investimentos em marketing para que o mercado tenha conhecimento de sua existência e suas
vantagens. Por outro lado, um produto que já esteja consolidado no mercado enfrentará maior
concorrência de produtos similares ou substitutos.
Passemos a analisar um exemplo simples de análise financeira para uma pequena loja de
roupas. Os valores não são reais e servem apenas como exemplo. As tabelas a seguir mostram,
respectivamente, os investimentos iniciais necessários, a projeção de vendas anuais para os
primeiros cinco anos e as despesas mensais previstas para a operação da loja.
Tabela 1 – Investimento inicial
Total R$ 136.000,00
5 O capital de giro é o montante necessário para fazer frente às despesas operacionais da empresa como fornecedores,
contas a pagar etc. No caso de uma empresa nova, funciona como uma espécie de reserva até que o negócio gere receitas
de forma regular (LEMES JÚNIOR; PISA, 2010).
Novos negócios e empreendedorismo 125
Outros R$ 200,00
Total R$ 9.850,00
Fonte: Elaborada pelo autor.
Na Tabela 3, estão descritos os custos e as despesas mensais. Nem sempre essas despesas
serão as mesmas de um mês para o outro, de modo que os valores apresentados são valores médios
considerados razoáveis pelo empreendedor.
Na sequência, na Tabela 4, apresentaremos a Demonstração do Resultado do Exercício para
os primeiros cinco anos do negócio. É importante observar que, em nosso exemplo, houve prejuízo
no primeiro ano em decorrência dos investimentos iniciais mostrados na Tabela 1, o que é bastante
comum ao se iniciar uma nova empresa. Nos demais anos, os investimentos podem ocorrer, mas
de modo geral os valores são menores do que os observados na criação do novo empreendimento.
126 Planejamento Estratégico
R$ R$ R$ R$ R$
Custos Variáveis
Despesas
400.000
300.000
200.000
100.000
–
1 3 5 7 9 11 13 15 17 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59
–100.000
meses
–200.000
Fonte: Elaborado pelo autor.
O Gráfico 2 de Fluxo de Caixa nos mostra que, a partir do 12º mês, o caixa da empresa
começa a se tornar positivo e, por volta do 29º mês, o investimento é recuperado (ponto onde a
curva cruza o eixo horizontal). Esse ponto é o que determina o período de payback, que é o prazo
de retorno do investimento. No exemplo utilizado, o retorno do investimento se dá no mês 29, ou
um pouco após o segundo ano de operação da empresa. Depois desse período, o caixa acumulado
passa a apresentar valores positivos e crescentes ao longo do tempo. Isso mostra que o negócio é
viável sob esse critério.
Outro indicador muito importante utilizado para avaliar um investimento é o Valor Presente
Líquido (VPL). O VPL traz para o momento inicial de análise financeira os valores futuros de caixa
sob determinada taxa de desconto. Essa taxa de desconto, também chamada de Taxa Mínima de
Atratividade (TMA), corresponde à taxa mínima que o investidor deseja obter para investir seu
dinheiro em um negócio, em vez de aplicá-lo em um banco. Essa taxa já considera o risco a que
um novo negócio está exposto e, dessa forma, a TMA é maior do que a taxa de um investimento
financeiro de baixo risco, por exemplo, uma aplicação em caderneta de poupança.
Voltando ao nosso exemplo, o VPL, considerando o período de análise de cinco anos e
aplicando uma taxa de 20% (TMA), resulta em um valor aproximado de R$ 197.320,00. Como
interpretar esse resultado?
O VPL calculado indica que, se trouxermos os resultados financeiros da operação da loja
ao longo de cinco anos para o momento presente, o investimento inicial, que foi de R$ 136.000,00,
proporcionará um retorno de R$ 197.320,00. Como o resultado obtido é positivo (VPL>0),
o investimento é viável sob o ponto de vista dessa análise. Caso o VPL fosse negativo (VPL<0),
o investimento seria inviável, pois o retorno financeiro seria menor do que o investimento inicial
e isso indicaria que, nesse caso, o melhor a fazer seria aplicar o dinheiro em um banco ou buscar
uma nova oportunidade de negócios.
O último indicador que analisaremos em nosso exemplo é a Taxa Interna de Retorno
(TIR). Esse indicador mostra a taxa de retorno que torna o VPL igual a zero (limiar de viabilidade
financeira). Se a TIR calculada for maior do que a taxa mínima de atratividade, no nosso caso,
estipulada em 20%, o negócio é viável; caso a TIR seja inferior ao mínimo desejado, o negócio se
128 Planejamento Estratégico
torna inviável por esse critério. No nosso exemplo, a TIR calculada foi de 80%, maior, portanto, do
que os 20% mínimos exigidos, o que indica a viabilidade do negócio.
Apesar de serem conceitos que exigem estudos mais aprofundados, tanto o VPL
quanto a TIR podem ser calculados de forma simples, utilizando calculadoras financeiras ou
planilhas eletrônicas.
O que os indicadores obtidos por meio da análise financeira procuram mostrar são os
resultados potenciais tendo em vista as premissas adotadas. O fato de algum indicador financeiro
mostrar o empreendimento como inviável não significa abandonar a ideia por completo, mas sim
que ajustes precisam ser feitos, por exemplo, diminuir o investimento inicial ou buscar novas fontes
de receitas. Devemos lembrar que, da mesma forma que recomendamos no caso do planejamento
estratégico, o plano de negócios deve ser revisto continuamente.
8.2.10 Anexos
Os anexos de um plano de negócios reúnem qualquer tipo de material ou informação
adicional que sirva de suporte ao que foi apresentado nas etapas anteriores. Esse material pode ser
constituído por dados setoriais relevantes como o crescimento de um determinado segmento de
mercado, a evolução do PIB, as tabelas ou os gráficos contendo os dados econômicos, as notícias
recentes que possam impactar o negócio. Apesar de não ser indispensável, uma boa etapa de anexos
acrescenta credibilidade ao plano de negócios ao embasar as hipóteses e as projeções apresentadas.
8.3 Startups
Vídeo
Ao falarmos de empreendedorismo e criação de novos negócios, é impossível
não abordarmos as startups. O avanço tecnológico e a queda de obstáculos como
fronteiras geográficas permitiu a criação de uma infinidade de novos negócios
como os aplicativos de entrega de comida, de locação de imóveis e de serviços de
transporte. Quando imaginamos uma startup de sucesso, é comum nos lembrarmos
de histórias de garotos geniais que criaram algo fantástico e se tornaram milionários da noite para
o dia. Será que isso realmente acontece?
Mas, afinal de contas, o que é uma startup? Uma startup não deixa de ser uma empresa
ou, pelo menos, um projeto que tenha o potencial para se tornar uma empresa. Ao contrário
de organizações ditas tradicionais, uma startup possui certas características capazes de torná-la
única. Segundo Ries (2012, p. 24), “uma startup é uma instituição humana projetada para criar
novos produtos e serviços sob condições de extrema incerteza.”
Essa definição nos permite buscar algumas conclusões a respeito das startups, por exemplo,
o fato de ser ou de se tornar, em algum momento, uma instituição que se caracteriza por um
conjunto de aspectos organizacionais ou processos que exigem certo grau de disciplina. Assim, a
imagem de jovens trabalhando de forma completamente desorganizada em busca de ideias geniais
não está muito próxima da realidade.
Novos negócios e empreendedorismo 129
Ideias
Aprender Construir
Dados Produto
Medir
8.3.3 O pivô
Pivô ou pivotagem8 se refere à decisão de alterar os rumos inicialmente adotados de forma
a testar uma nova hipótese estratégica (RIES, 2012). Dependendo dos resultados obtidos com a
introdução do MVP no mercado, um reposicionamento estratégico pode ser necessário. Devemos
ter em mente que o ciclo de aprimoramento do produto serve não apenas para testar características
funcionais, mas também para verificar o melhor posicionamento do produto no mercado. Isso
inclui experimentar diferentes formas de comercialização, parcela de consumidores interessada e
preços a serem praticados.
Descobrir o momento certo de pivotar é, sem dúvida, uma das maiores dificuldades que os
empreendedores deverão encarar em algum momento do desenvolvimento de seu negócio. Se a
mudança for feita de forma precipitada, corre-se o risco de não se obter a aprendizagem adequada
e, de forma oposta, demorar muito pode gerar custos e desperdiçar oportunidades.
Considerações finais
Neste capítulo, tivemos a oportunidade de observar que a criação de novos negócios exige
planejamento e disciplina. Empreender significa adentrar terrenos muitas vezes desconhecidos e,
como já vimos ao estudar o planejamento estratégico, a qualidade da organização e a adoção de
métodos apropriados serão extremamente úteis para que se possam minimizar os riscos e aumentar
as chances de sucesso.
Uma das ferramentas mais adotadas por empreendedores conscientes e preparados para os
desafios de criar uma nova empresa é o plano de negócios. Infelizmente, não é incomum ouvirmos
falar de amigos ou conhecidos que se aventuraram na selva dos negócios sem estar devidamente
preparados e, por esse motivo, não alcançaram os resultados desejados. Não importa o tamanho do
negócio ou o setor de atuação, planejar é essencial.
Terminamos nosso estudo tratando das startups, empresas que buscam inovação em um
mundo repleto de incertezas. Também nesse caso, não há espaço para desorganização e falta de
metas específicas. Para cada empresa de sucesso gerada por uma startup, muitas outras ficaram
pelo caminho ou sobreviveram por curtos períodos. Isso faz parte da dinâmica do mercado e não
há nada de errado nisso, mas, se pudermos optar, sem dúvida, escolheríamos o grupo de empresas
de sucesso. Já que não há certezas no mundo dos negócios, que pelo menos nos preparemos da
melhor forma possível. As ferramentas existem e cabe a nós escolhê-las e usá-las com sabedoria.
Atividades
1. Cite uma diferença significativa entre o empreendedorismo por vocação e o empreen-
dedorismo por necessidade.
Referências
DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro: Campus, 2001.
DORNELAS, J. C. A. Plano de negócios com o modelo Canvas: guia prático de avaliação de ideias de negócio
a partir de exemplos. Rio de Janeiro: LTC, 2017.
LEMES JÚNIOR, A. B.; PISA, B. J. Administrando micro e pequenas empresas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
RIES, E. A startup enxuta: como os empreendedores atuais utilizam a inovação contínua para criar empresas
extremamente bem-sucedidas. Rio de Janeiro: Leya, 2012.
SEBRAE/SP – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empesas de São Paulo. Causa mortis: o sucesso e o fracasso
das empresas nos primeiros cinco anos de vida. São Paulo, 2014. Disponível em: https://bibliotecas.sebrae.
com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/333000e30d218194165cd787496e57f9/$File/5712.
pdf. Acesso em: 19 jun. 2019.
Gabarito
3. De modo geral, pode-se dizer que as escolas prescritivas apresentam um roteiro formal
para serem formuladas e impõem certos parâmetros ou procedimentos de certa forma
rígidos em sua elaboração e aplicação. Já as escolas classificadas como descritivas
entendem que a estratégia é construída de forma mais orgânica, ou seja, levando-se em
conta a cultura da empresa e baseando muitas de suas decisões em percepções por vezes
subjetivas e intuitivas do ambiente competitivo.
2 Elaborando a estratégia
1. Definir o negócio de uma empresa significa fazer escolhas e tomar as seguintes posições:
identificar as oportunidades que o mercado oferece; perceber quais os benefícios
esperados pelos clientes; definir quais produtos e serviços vão satisfazer os desejos e
as necessidades dos clientes; decidir de que forma esses produtos e serviços serão
fornecidos; estabelecer maneiras eficientes de unir todos os esforços da organização de
modo a atingir seus objetivos e metas.
134 Planejamento Estratégico
3 O ambiente competitivo
1. Segundo Porter (2004), uma empresa está submetida a cinco forças dentro de seu ambiente
competitivo: 1) a rivalidade entre os diversos competidores; 2) o poder de negociação de
seus fornecedores; 3) o poder de negociação de seus compradores (clientes); 4) a ameaça
de novos entrantes (empresas que podem querer participar da indústria); 5) ameaça de
produtos substitutos (produtos ou serviços que podem suprir as exigências dos clientes
de forma mais eficiente, mais barata ou ambas).
2. Para Chiavenato e Sapiro (2009), uma maneira de adiar a fase de declínio de um produto
é pelo incremento de algumas características pontuais que possam agradar o cliente,
como oferecer uma versão “plus” com design mais moderno ou algum novo atributo.
Em geral são pequenas remodelagens que não chegam a alterar o conceito do produto.
Mesmo assim, a empresa deve avaliar se o investimento vale a pena em termos de imagem
e retorno financeiro.
3. As estratégias genéricas propostas por Porter (2004) são: liderança em custo, em que se
buscam obter ganhos de escala por meio de grande participação de mercado e otimização
de processos de forma a reduzir os custos de todas as atividades envolvidas. A vantagem
competitiva é obtida ao se conseguir lucros satisfatórios oferecendo aos clientes preços
menores do que os concorrentes. Diferenciação: estratégia que busca oferecer produtos que
sejam percebidos como únicos pelos consumidores e, dessa forma, tirar o foco principal do
fator preço. Enfoque: atender a um segmento de mercado bastante específico com demandas
particulares de forma mais eficiente do que os concorrentes.
Gabarito 135
4 Análise SWOT
1. Como fatores internos, temos os pontos fortes e os pontos fracos de uma organização. Esses
são definidos como fatores internos, pois são pouco ou nada dependentes das condições
externas à empresa, ou seja, aprimorar os pontos fortes e corrigir os pontos fracos está nas
mãos da empresa. Já os fatores externos são as oportunidades e as ameaças que se apresentam
e são denominados assim devido ao fato de que ocorrem independentemente da vontade da
empresa, cabendo a ela se adequar e aproveitar as oportunidades e se defender das ameaças.
2. Só podemos garantir que uma determinada característica de nossa empresa seja um ponto
forte se ela puder ser vista como uma vantagem competitiva, ou seja, algo que nos coloca em
posição superior aos nossos competidores e que seja valorizado pelo mercado. Da mesma
forma, devemos estabelecer nossos pontos fracos como aquelas características que são
valorizadas pelos consumidores e que nossos competidores possuem, ao passo que nossa
organização ainda é deficiente nesses quesitos.
5 Execução da estratégia
1. Entre as diversas falhas ou obstáculos à execução adequada das estratégias corporativas,
podemos citar a falta de metas claras (que impede saber se a empresa está no rumo correto
para atingir sua visão de longo prazo), a ausência de metodologia adequada para colocar
em prática os planos de ação (que acaba dificultando o atingimento das metas) e a falta de
feedback estratégico (ausência de acompanhamento periódico para que os departamentos,
equipes e indivíduos saibam se estão no caminho correto para atingir as metas e se algum
tipo de correção precisa ser feito).
3. O balanced scorecard é uma ferramenta que foi desenvolvida com o objetivo de facilitar a
execução da estratégia. É uma metodologia prática que busca transportar a estratégia de
uma empresa a todos os processos organizacionais de modo que todas as ações auxiliem no
atingimento das metas estabelecidas para, assim, alcançar a visão de longo prazo da empresa.
O BSC estabelece quatro perspectivas (financeira, de clientes, de processos internos e de
aprendizado e crescimento) que, por meio de relações de causa e efeito, buscam executar as
estratégias da forma desejada.
2. Um tema estratégico é uma área de excelência escolhida pela direção da empresa para
atingir sua visão de longo prazo. Os temas escolhidos servem para inspirar e guiar as ações
da organização.
7 Estratégia avançada
1. O método PDCA, baseado no sistema Toyota de produção, estabelece quatro atividades
essenciais para a implementação e a manutenção da estratégia por todas as partes
componentes de uma empresa. Essas atividades correspondem às letras que dão nome
ao método: plan (planejar), do (agir), check (checar) e act (agir). É por meio da aplicação
desse método de melhoria contínua que podemos aprimorar os processos e implementar a
estratégia na gestão da empresa.
2. A estratégia do oceano azul estabelece alguns princípios para que as empresas saiam dos
oceanos vermelhos de competição acirrada e se estabeleçam em ambientes mais favoráveis.
Entre as características que diferenciam um oceano azul de um oceano vermelho, podemos
Gabarito 137
2. Um plano de negócios é uma ferramenta que permite descrever a forma como uma ideia será
estruturada a fim de viabilizar a criação de uma empresa ou negócio. Serve para convencer
os interessados, o empreendedor ou investidores, de que vale a pena seguir com o projeto.
3. Uma startup é uma empresa criada para gerar produtos e serviços inovadores em um
ambiente de extrema incerteza.
Planejamento
Estratégico
Planejamento Estratégico
Planejamento Estratégico
Adaptar-se
Adaptar-se aa mudanças
mudanças de
de cenário,
cenário, em
em um
um mundo
mundo cada
cada vez
vez mais
mais
integrado
integrado ee competitivo,
competitivo, exige
exige grande
grande capacidade
capacidade de
de se
se planejar
planejar ee
de
de construir
construir os
os caminhos
caminhos que
que levarão
levarão ao
ao sucesso.
sucesso. Nesse
Nesse sentido,
sentido, oo
planejamento
planejamento estratégico
estratégico éé uma
uma forma
forma de
de organizar
organizar os
os recursos
recursos da
da
empresa
empresa para
para que,
que, por
por meio
meio de
de diretrizes
diretrizes estabelecidas,
estabelecidas, seja
seja possível
possível
atingir
atingir os
os objetivos
objetivos de
de longo
longo prazo
prazo de
de modo
modo sustentável
sustentável ee eficiente.
eficiente.
Nesta
Nesta obra,
obra, oo planejamento
planejamento estratégico
estratégico éé apresentado
apresentado como
como uma
uma
ferramenta
ferramenta necessária
necessária para
para aa sobrevivência
sobrevivência das
das empresas
empresas ee para
para sua
sua
adaptação
adaptação em
em um
um ambiente
ambiente de
de negócios
negócios cada
cada vez
vez mais
mais difícil,
difícil,
em
em que
que decisões
decisões devem
devem ser
ser tomadas
tomadas de
de maneira
maneira rápida
rápida ee precisa.
precisa.
Ricardo Formanek
Ricardo
Ricardo
RicardoFormanek
Formanek
Formanek
Ricardo Formanek