Você está na página 1de 28

Disciplina de DIREITO PROCESSUAL

Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas


Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011

Objectivos de aprendizagem com o Módulo:

No final do presente módulo os alunos devem ter adquirido os conhecimentos e


atitudes que a seguir se enunciam:
i) Compreender a forma dos actos processuais;
ii) Conhecer a língua a empregar nos actos processuais, e no caso de
estrangeiro qual a regra a ser cumprida;
iii) Saber que todos os documentos escritos em língua estrangeira devem ser
traduzidos;
iv) Saber quando se praticam os actos processuais;
v) Saber a regra de continuidade dos prazos processuais;
vi) Distinguir prazo dilatório de peremptório;
vii) Definir justo impedimento;
viii) Identificar actos das partes;
ix) Saber a regra geral sobre o prazo, na falta de disposição em especial;
x) Identificar os actos praticados pelos magistrados;
xi) Identificar os actos, as funções e deveres das secretarias judiciais;
xii) Saber que o processo civil é público, salvo restrições previstas na lei –
publicidade do processo - e saber quais as limitações à publicidade;
xiii) Explicar as formas de requisição e comunicação de actos: carta Precatória
e carta Rogatória;
xiv) Distinguir carta precatória de carta rogatória;
xv) Saber quem são os destinatários das cartas precatórias e das cartas
rogatórias;
xvi) Saber em que termos se poderá arguir a nulidade dos actos processuais;
xvii) Identificar quem pode arguir a nulidade;
xviii) Conhecer o momento em que se pode arguir a nulidade dos actos.
xix) Saber que existem actos especiais processuais;
xx) Saber o que é distribuição e qual o seu fim;
xxi) Saber em que dias e horas se faz a distribuição;
xxii) Distinguir citação de notificação;
xxiii) Compreender as modalidades de citação no processo civil;

Professora: Manuela Sampaio 1


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
xxiv) Compreender o conceito de dilação;
xxv) Caracterizar os diversos tipos de notificações em processos pendentes;
xxvi) Caracterizar as notificações judiciais avulsas.

Âmbito dos conteúdos:

1. ACTOS EM GERAL
1.1. Disposições Comuns
- Princípio da limitação dos actos
- Forma dos actos
- Língua a empregar nos actos
- Obrigatoriedade de tradução de documentos em língua
estrangeira
- Quando se praticam os actos
- Regra da continuidade dos prazos
- Modalidades do prazo: dilatório e peremptório
- Conceito de justo impedimento
1.2. Actos das partes
1.3. Actos dos magistrados
1.4. Actos da secretaria
1.5. Comunicação dos actos e formas de requisição
1.6. Nulidade dos actos: regras gerais e as especialmente previstas no
Código de Processo Civil; regra geral sobre o prazo de arguição
2. ACTOS EM ESPECIAL
2.1 Distribuição e disposições gerais;
2.2 Citações e Notificações
- Disposições comuns
2.3 Citação
- Modalidades: via postal, por funcionário judicial, com hora certa,
por mandatário judicial, por solicitador de execução, edital.
- Dilação
2.4. Notificação
2.5. Notificações judiciais avulsas

Professora: Manuela Sampaio 2


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011

Actos Processuais no processo Civil:

I. Noção:
1) Efeitos Processuais:
Os actos processuais são os actos jurídicos que produzem directamente efeitos em
processo. Esses efeitos traduzem-se na constituição, modificação ou extinção de uma
situação processual; isto é, numa determinada conformação da instância.
Tendendo ao critério da produção de efeitos em processo, são actos processuais quer
aqueles que são regulados por normas processuais e que são praticados num
processo pendente – como por exemplo a contestação do réu (art.º 486º, nº 1 e art.ºs
783º e 794º do CPC), quer aqueles que estão integrados em actos extra processuais,
mas que se destinam a produzir efeitos num determinado processo: é o caso, por
exemplo, da convenção de arbitragem ou dos contratos probatórios (art.º 345º do
C.C.).

2) Eficácia directa e indirecta:


Como se referiu, esses efeitos processuais devem ser directos, pelo que, apesar da
sua relevância processual, não são actos processuais, por exemplo, a convenção
sobre o local de cumprimento da obrigação, embora esse acto releve para a
determinação do tribunal competente – art.º 74º, nº1 – e a alienação do bem litigioso
durante a pendência da causa, apesar de esse acto justificar a substituição do
transmitente pelo adquirente – art.º 271º, nºs 1 e 2 – “Legitimidade do transmitente –
substituição deste pelo adquirente”.
Do mesmo modo, o acto processual abrange, apenas, a actuação da parte ou do juiz
com eficácia directa no processo e não o conteúdo dos seus actos: acto processual é,
por exemplo, a contestação da parte, qualquer que seja o seu conteúdo, ou o
despacho do juiz, igualmente com abstracção do seu conteúdo.

II. Características
1. Utilidade ou economia
Os actos processuais são submetidos a um princípio de utilidade ou economia: no
processo não devem ser realizados actos inúteis pelas partes ou funcionários judiciais

Professora: Manuela Sampaio 3


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
– art.º 137º “Principio da limitação dos actos” -, isto é, actos que são desnecessários
para o exercício ou para a tutela da situação subjectiva invocada em juízo – art.º 448º,
nº 2 “Actos e diligencias que não entram na regra geral das custas”.
A prática doa actos inúteis por parte dos funcionários judiciais, determina a sua
responsabilidade disciplinar – art.º 137º - e, além disso, torna-os responsáveis pelas
respectivas custas – art.º 448º, nºs 1 e 2.
Os actos inúteis requeridos ou praticados pelas partes não entram na
responsabilidade da parte vencida pelas custas do processo – art.º 448º.

2. Conhecimento pelos destinatários


Os actos processuais são, em princípio, actos receptícios, isto é, só produzem os seus
efeitos quando se tornam conhecidos do seu destinatário. Note-se, no entanto, que em
casos importantes a Lei basta-se com a mera presunção ou mesmo ficção do
conhecimento do acto pelo seu destinatário: é o que se verifica nas notificações aos
advogados das partes – art.º 254º “Formalidades”.

3. Revogabilidade
Os actos das partes são revogáveis enquanto não tiverem constituído uma situação
favorável para a contraparte. Deste modo, a afirmação de um facto favorável ao
declarante é livremente revogável. Em contrapartida, são irrevogáveis os actos
desfavoráveis para a parte ou que constituíram uma posição favorável para a
contraparte. Neste sentido, são irrevogáveis, por exemplo, a confissão de factos – art.º
567º, nº1 “irretractibilidade da confissão”, ou a desistência do pedido depois da sua
homologação – art.º 300º, nº3 “Como se realiza a confissão, desistência ou
transacção”.

Deve admitir-se, no entanto, que os actos das partes são livremente revogáveis,
qualquer que seja a sua natureza, quando se verifique um dos fundamentos da revisão
da sentença – que se encontram numerados no art.º 771º - “Fundamento do recurso”
-, pois não seria razoável exigir-se o trânsito em julgado da decisão antes de se poder
impugnar o acto praticado. Assim, o acto é livremente revogável quando, por exemplo,
tenha tido por base um documento que uma decisão transitada em julgado considerou
ser falso – art.º 771º.

Professora: Manuela Sampaio 4


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011

Os actos do juiz são sempre irrevogáveis pelo próprio, porque proferida a sentença ou
o despacho, fica esgotado o seu poder jurisdicional quanto à matéria decidida - art.º
666º, nºs 1 e 3 – “ Extinção do poder jurisdicional e suas limitações”.

III. Forma
1. Princípio geral
A forma dos actos processuais é a que melhor corresponde à sua finalidade – art.º
138º, nº 1 – “Forma dos actos”- e pode obedecer a modelos aprovados – art.º 138º, nº
2-. Também a forma dos actos processuais se subordina a um princípio de economia:
essa forma é a que com maior grau de simplificação possível, permite alcançar os fins
pretendidos com o acto. Nos actos judiciais deve, ainda, utilizar-se a língua portuguesa
– art.º 139º, nº 1 – “Língua a empregar nos actos”.

2. Lei reguladora
Essa forma é regulada pela Lei vigente no momento da prática do acto – art.º 142º -
“Lei reguladora da forma dos actos e do processo”, pelo que a Lei nova sobre a forma
dos actos processuais é de aplicação imediata nos processos pendentes. Note-se que
o art.º 142º trata, apenas, a Lei reguladora da forma de cada um dos actos
processuais e que, por isso, esse preceito não determina a aplicação imediata da Lei
nova sobre a própria tramitação do processo. De referir, também, que o art.º 140º
remete-nos para a tradução de documentos escritos em língua estrangeira, isto é,
quando se ofereçam documentos escritos em língua estrangeira que careçam de
tradução, o juiz ordena que o representante junte a tradução.

Classificação dos actos processuais

I. Actos do tribunal
Os actos processuais distinguem-se em actos do tribunal e actos das partes.
Os actos do tribunal comportam várias modalidades. Os principais actos do tribunal
são as decisões, que podem ser sentenças e despachos – art.º 156.º, nº 1 – “Dever de
administrar a justiça – conceito de sentença:

Professora: Manuela Sampaio 5


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
- As sentenças são, regra geral, as decisões finais proferidas numa causa ou
num incidente e que, quando proferidas por um tribunal colectivo, se designam de
acórdãos – art.º 156º, nº 2;
- Os despachos são, em regra, as decisões não finais. As decisões dos
tribunais estão submetidas ao dever de fundamentação e motivação – art.º 208º, nº1
CRP, art.º 158º “Dever de fundamentar a decisão”.

Além das decisões, os demais actos do tribunal podem referir-se à condução do


processo, como por exemplo, o acto que marca uma audiência; ou à comunicação de
qualquer outro acto do tribunal ou das partes. Estes actos de comunicação são,
quanto às partes e aos particulares, a citação e a notificação – art.º 228º - “Funções da
citação e da notificação”, e quanto aos outros tribunais e autoridades, o mandato, a
carta, o ofício e o telegrama – art.º 176º, nº1 – “Formas de requisição e comunicação
de actos”.

II. Actos das partes

1. Actos unilaterais e bilaterais:


Os actos das partes classificam-se quanto aos intervenientes e aos efeitos. Quanto
aos intervenientes, os actos das partes podem ser actos unilaterais, quando são
praticados por uma única das partes, como e o caso da propositura de uma acção, da
desistência ou da confissão do pedido – art.º 293º, nº1 – “Liberdade de desistência,
confissão e transacção”, ou actos bilaterais quando são realizadas por ambas as
partes.

2. Actos constitutivos ou postulados:


Quanto aos efeitos, os actos das partes podem ser actos constitutivos e actos
postulativos.
- Os actos constitutivos são aqueles que produzem imediatamente os seus
efeitos; isto é; constituem uma determinada situação processual sem necessidade da
mediação de uma decisão do tribunal – é o caso, por exemplo, da contestação do réu;

Professora: Manuela Sampaio 6


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
- Os actos postulativos são aqueles que se destinam a obter uma decisão
judicial e cujos efeitos só se produzem mediante essa decisão: é o que sucede, por
exemplo, com os requerimentos apresentados pelas partes

Também há actos que são, simultaneamente, constitutivos e postulativos; por


exemplo, a proposição de uma acção inicia a instância – art.º 267º, nº1 – “Momento
em que a acção se considera proposta”, e implica, desde logo, o proferimento pelo
tribunal de um despacho liminar sobre a petição inicial entregue pelo autor – Cfr. Art.ºs
474º - “Recusa da petição pela secretaria” a 478º - “Citação urgente”.

Os actos constitutivos são ou eficazes ou ineficazes.


Os actos postulativos são admissíveis ou inadmissíveis; e caso sejam admissíveis,
são fundamentados ou não fundamentados.

Note-se que o acto não perde o seu carácter constitutivo pelo facto de a sua eficácia
estar submetida a uma sentença homologatória do tribunal. Assim, a confissão e a
desistência do pedido ou a transacção são actos constitutivos, ainda que devam ser
homologados pelo tribunal – art.º 300º - “Como se realiza a confissão, desistência ou
transacção”, nºs 3 e 4, pois que produzem imediatamente os seus efeitos, como se
depreende, por exemplo do art.º 13º, nºs 1 e 2 do C.C.

Pressupostos dos actos processuais

I. Generalidades
A produção de efeitos pelos actos processuais depende do preenchimento dos
respectivos pressupostos. Tal como os actos processuais se distinguem em actos das
partes e actos do tribunal, também os pressupostos são distintos para cada uma
dessas categorias de actos processuais.

II. Actos dos tribunais

Professora: Manuela Sampaio 7


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
Relativamente aos actos do tribunal. O seu pressuposto específico é a competência
funcional: essa competência respeita a cada um dos órgãos do tribunal, que são o juiz
e a secretaria judicial; ou cada um dos juízes de um tribunal colectivo.
Assim, e como apenas o juiz pode designar o dia para a audiência final (art.º 647º, nº1
“Designação de julgamento nas acções de indemnização”), falta a competência
funcional à secretaria para poder proceder a essa marcação. A falta de competência
funcional implica uma nulidade processual, que é sanável mediante a prática do acto
pelo órgão ou agente competente (art.º 208º - “não renovação do acto nulo”).

III. Actos das partes


a) Pressupostos subjectivos
Quanto aos actos das partes, há que distinguir entre os pressupostos subjectivos e
objectivos.
Os pressupostos específicos das próprias partes são os seguintes:
i) A capacidade judiciária: é a susceptibilidade de praticar o acto pessoal e
livremente ou mediante representação voluntária e que é aferida pela
capacidade de exercício;
ii) O patrocínio judiciário obrigatório: é a necessidade de representação da
parte por um mandatário judicial e que se verifica nas condições referidas
nos art.ºs 32º (“Constituição obrigatória de advogado”) e 60º (“Legitimidade
ad actum”), que é o poder de praticar o acto atendendo ao seu objecto e
aos seus efeitos; isto é; o poder de disposição sobre esse objecto e esses
efeitos.

A falta destes pressupostos nos actos processuais é conhecida oficiosamente pelo


tribunal e é sanável através da repetição do acto ou mediante a ratificação do acto
praticado.
Assim, se a parte incapaz pratica um acto processual, esse vicio é sanável através da
repetição ou ratificação desse acto pelo seu representante legal – art.º 23º
“Suprimento da incapacidade judiciária e da irregularidade de representação”.

Professora: Manuela Sampaio 8


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
b) Pressupostos Objectivos
Os actos das partes devem ter um objecto determinado – art.º 99º, nº 3, alínea d) –
“Pactos privativo e atributivo de jurisdição” e art.º 100º, nº 2 – “Competência
convencional”, e licito tendo em conta a proibição de litigância de má fé – art.º 456º
“Responsabilidade no caso de má fé – noção de má fé”, e de simulação processual ou
de fraude à lei (art.º 665º “Liberdade de Julgamento”. Pela sua natureza, a falta destes
pressupostos não é sanável.

IV. Falta de pressupostos dos actos

a) Actos do tribunal
A falta dos pressupostos dos actos determina uma multiplicidade de consequências.
Antes de mais, importa distinguir entre os actos do tribunal e os actos das partes.
Quando o tribunal (ou um dos seus órgãos) pratica um acto sem a respectiva
competência funcional, está-se perante uma nulidade processual, porque este tribunal
(ou órgão) realiza um acto que a lei não lhe admite – art.º 201º, nº1 “Regras gerais
sobre nulidade dos actos”.

b) Actos das partes


Relativamente às consequências emergentes da falta de pressupostos dos actos das
partes, importa ainda distinguir varias hipóteses.
Nos negócios processuais, como por exemplo, a desistência ou a confissão do pedido
ou a transacção – art.º 293º “Liberdade da desistência, confissão e transacção” – a
falta de capacidade, de poderes do mandatário judicial ou de legitimidade – art. 37º,
nº2 “Poderes gerais e especiais dos mandatários judiciais”- produz o correspondente
vício de invalidade substantiva: a nulidade ou anulabilidade do acto – art.º 301º, nº1
“Nulidade da confissão, desistência ou transacção”.

Quanto aos actos processuais, a consequência da falta dos respectivos pressupostos


é, em princípio, a irrelevância desse acto.

Professora: Manuela Sampaio 9


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
Assim, por exemplo, se na contestação do réu falta o patrocínio obrigatório, essa parte
é notificada para sanar o vicio; se não o fizer, a contestação ficará sem efeito – art.º
33º “Falta de constituição de advogado”.
Mas essas consequências podem ser mais vastas. De facto, pode suceder que a não
produção de efeitos por um determinado acto tenha reflexos em todo o processo,
nomeadamente porque o processo não pode subsistir sem esse acto. Suponha-se, por
exemplo, que a parte apresenta uma petição inicial em que existe uma contradição
ente o pedido formulado e a causa a pedir apresentada. Essa petição é inepta
(inadequada) e, por isso, nula – art.º 193º, nº 2, al. b) “Ineptidão da petição inicial”.
Contudo, como o processo não pode subsistir sem a petição inicial, essa nulidade
afecta todo o processo – art.º 193º, nº 1.
Nestas situações, os pressupostos dos actos processuais tornam-se pressupostos
processuais e condicionam a admissibilidade do próprio processo.
Consequentemente, a sua falta corresponde a uma excepção delatória e determina a
absolvição do réu da instância – art.º 493º, nº2 “Excepções dilatórias e peremptórias –
noção”.
Esta situação (aquela em que a não observância dos pressupostos de alguns actos
processuais é qualificada como excepção dilatória art.º 494º, al. a) nº1 “Excepções
dilatórias”) significa que as condições de validade de certos actos se transformam em
condições de admissibilidade do processo.

Falta e Vícios da Vontade


I. Generalidades:
A propósito dos actos processuais impõe-se a análise da possível relevância da
divergência entre a vontade e a declaração e dos vícios da vontade. Só em análise
casuística, em conjugação com as restritas previsões legais sobre a matéria,
possibilita o enunciado de algumas soluções. Também aqui importa diferenciar entre
os actos do tribunal e os actos das partes.

II. Actos do tribunal:


Nos actos do tribunal, a relevância de falta e vícios da vontade, limita-se à
impugnabilidade do acto, pelo que a parte afectada só pode reagir contra o próprio
despacho ou sentença. Esses meios de impugnação podem ser a reclamação do erro

Professora: Manuela Sampaio 10


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
na declaração prevista no art.º 667º “Noção de trânsito em julgado”, o recurso
ordinário interposto das decisões ainda não transitadas em julgado – art.º 676º, nº1
“Espécies de recursos” e art.º 667º “, ou um dos recursos extraordinários interpostos
das decisões com força de caso julgado – art.º 676º, nº2 e art.º 771º “Fundamentos do
recurso”.

III. Actos das partes

Relativamente aos actos das partes, a relevância da falta e vícios da vontade depende
da situação concreta: Se a parte omitiu involuntariamente a pratica do acto, a
circunstância de essa omissão resultar de uma falta ou de um vício.

Prazos Processuais

I. Prazos dilatórios e peremptórios

A prática dos actos processuais está, normalmente, sujeita a determinados prazos;


isto é, restringida a um período de tempo delimitado entre um termo inicial (dies e quo)
e um termo final (dies ad quem). Os prazos processuais podem ser dilatórios
(moratórios) ou peremptórios (decisivos) – art.º 145º, nº1 “Modalidades dos prazos”.

Os prazos dilatórios ou iniciais são aqueles que fixam o momento antes do qual o
acto não pode ser praticado (ne ante quem) ou o momento após o qual o acto pode
ser praticado (terminus post quem) – art.º 145º, nº2.

Assim, por exemplo, são prazos dilatórios o prazo de dilatação (adiamento,


prorrogação) e o prazo de marcação da audiência final – art.º 647º, nº1 “Designação
de julgamento nas acções não indemnização”.

Os prazos peremptórios ou preclusivos são aqueles que fixam o momento até ao


qual o facto pode ser realizado – art.º 145º, nº3. É o caso do prazo para a contestação
do réu – art.º 486º, nº1 “Prazos para a contestação”; art.º 783º “Prazos para a
contestação” e art.º 794º, nº1 “Citação, contestação e rol de testemunhas”, e o prazo

Professora: Manuela Sampaio 11


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
para apresentação do rol de testemunhas e requerimento de outros meios de prova –
art.º 512º “Indicação das provas”.

II. Decurso do prazo


a) Continuidade do prazo
O prazo judicial é contínuo e começa a correr independentemente do cumprimento da
formalidade da assinatura ou outra formalidade – art.º 144º, nº2 “Regras de
continuidade dos prazos”. Esse prazo suspende-se, no entanto, durante as férias
judiciais, os sábados, domingos e feriados – art.º 144º, nº3, salvo se for um prazo para
a propositura de uma acção, com excepção dos embargos de terceiros, ou um prazo
para a interposição de um recurso extraordinário – art.º 144º, nº4; sobre os prazos de
propositura dos embargos de terceiros e dos recursos extraordinários: Cfr. Art.ºs
1039º, 772º e 780º.

b) Tolerância de prazo

A prática dos actos sujeitos a um prazo peremptório pode verificar-se fora do prazo em
duas situações: em caso de justo impedimento – art.º 145º, nº4 “Modalidades dos
prazos” e, independentemente desse impedimento, dentro dos três dias úteis
subsequentes ao termo do prazo – art.º 145.º nº5.

Independentemente de haver justo impedimento, o acto processual pode ser praticado


dentro dos três primeiros dias úteis subsequentes ao termo do prazo, embora a
validade do acto fique dependente do pagamento imediato de uma multa de montante
variável consoante o acto foi praticado no primeiro dia ou nos dois dias subsequentes,
não podendo exceder, contudo, 5 UC’s – art.º 145º, nº5. (Nota: Uma UC tem o valor de
102,00€)

Se a parte não realizar esse pagamento a secretaria, independentemente do


despacho, notifica o interessado para pagar uma multa igual ao dobro da multa não
paga e até ao montante de 10 UC’s – art.º 145º, nº6.

Professora: Manuela Sampaio 12


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
O justo impedimento é o evento normalmente imprevisível e estranho à vontade da
parte que o impossibilita de praticar o acto por si ou pelo mandatário judicial – art.º
146º, nº1. Isto é, verifica-se justo impedimento quando a pessoa que deveria praticar o
acto foi colocada na impossibilidade absoluta de o fazer, por si ou por mandatário, em
virtude da ocorrência de um facto, independentemente da sua vontade e imprevisível
segundo o cuidado e a diligência normais. A parte que beneficia de um justo
impedimento deve requerer a pratica do acto, logo que aquele cessou e apresentar de
imediato a respectiva prova – art.º 146º, nº2 “Justo impedimento”, sobre o momento da
alegação do justo impedimento.

O tribunal admite o requerente a praticar o acto, depois de ouvida a parte contrária, se


julgar verificado o justo impedimento e a sua dedução atempada – art.º 146º, nº2.

NOTA:

Considera-se justo impedimento:

i) A doença súbita do advogado que o impossibilita, de absoluto, de praticar o


acto;
ii) Uma greve dos CTT, que obstou a que um requerimento de interposição de
recurso, remetido por via postal três dias antes do termo do prazo, fosse
recebido atempadamente no tribunal;
iii) O erro de distribuição de correspondência pelos CTT;
iv) O lapso da escrita que levou a uma identificação incorrecta do tribunal a
que se destinava o documento e que motivou que esse documento fosse
entregue, dentro do prazo, mas no tribunal errado;
v) Os atrasos dos serviços de correio superiores a três dias que são, em
principio, considerados anormais e, como tal, integradores do justo
impedimento;
vi) Avaria de automóvel em local de difícil acesso a outro meio de transporte
ou a telefone.

Não constitui justo impedimento:

Professora: Manuela Sampaio 13


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
i) A conduta da parte que deixa para o ultimo dia do prazo o acto de
apresentação das suas alegações de recurso, entregando-se à
irregularidade dos correios e sabendo que o prazo terminava, a um fim-de-
semana e nas vésperas de feriado nacional;
ii) A doença do réu que o impossibilita de sair de casa mas não de comunicar
com o seu advogado;
iii) Os atrasos verificados nos transportes, em veículos automóveis em razão
de tráfego, pois que são previsíveis, segundo a experiência comum;
iv) As situações decorrentes de negligência, incompetência, descuido ou
esquecimento dos advogados ou dos seus empregados;
v) O abandono pelo advogado do patrocínio judiciário;
vi) A mudança de residência das partes não comunicada ao tribunal ou apenas
comunicada tardiamente a esse órgão;
vii) A doença do advogado quando o acto não realizado não tem de ser
praticado por ele próprio.

Nulidades Processuais
I. Generalidades:
a) Noção:
Verifica-se uma nulidade processual sempre que é praticado um acto não permitido ou
é omitido um acto imposto ou uma formalidade essencial – art.º 201º, nº1 “Regras
gerais sobre a nulidade dos actos”.

b) Efeitos:
As nulidades processuais, apesar dessa designação, implicam apenas quando
relevantes, a anulabilidade do acto praticado e dos demais actos dependentes do acto
realizado ou omitido – art.º 201º, nº2. Ressalva-se o caso em que a validade do acto
processual representa uma excepção dilatória: Cfr. Art.º 494º, nº1 al. a) “Excepções
dilatórias”.
Nota: Importa referir que as sentenças e despachos possuem um regime específico de
nulidade – art.ºs 668º, 666º, 716º e 762º.

II. Princípios Orientadores

Professora: Manuela Sampaio 14


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011

a) Essencialidade da nulidade:
As nulidades processuais regem-se pelos princípios da essencialidade, doo
aproveitamento e de não renovação do acto nulo. Segundo aquele princípio da
essencialidade, a nulidade não se verifica se a prática ou a omissão do acto ou da
formalidade não influi no exame ou na decisão da causa – art.º 201º, nº1, art.º 198º,
nº2, 2ª parte “Dispensa de citação, nulidade da citação”.

b) Aproveitamento do acto nulo


Como consequência do princípio do aproveitamento dos actos processuais, a nulidade
processual implica apenas a anulação da parte viciada do acto, pelo que não afecta a
sua parte não viciada, nem os actos subsequentes dele não dependentes (utile per
inutile non vitiatur, art.º 201º, nº2).

c) Não renovação do acto nulo

Finalmente, o principio da não renovação do acto nulo determina que esse acto só
pode ser renovado se ainda não tiver decorrido o prazo para a prática do acto ou se,
tendo já expirado esse prazo, a renovação do acto a aproveitar à parte não
responsável pela sua nulidade – art.º 208º “Não renovação dos actos”.

III. Modalidades
a) Nulidades nominadas e inominadas
As nulidades processuais podem ser nominadas (ou primárias) ou inominadas (ou
secundárias).
As nulidades nominadas são aquelas que estão legalmente previstas – a ineptidão
da petição inicial (art.º 193º “Ineptidão da petição inicial, a falta de citação, art.º 194º
“Anulação do processo posterior à petição, e art.º 195º “Quando se verifica falta de
citação); a nulidade da citação (art.º 198º); o erro na forma do processo (art.º 199º
“Erro na forma do processo); e a falta de vista ao Ministério Publico (art.º 200º “falta de
vista ou exame ao MP como parte acessória).

Professora: Manuela Sampaio 15


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011

As nulidades inominadas correspondem a qualquer outra prática de um acto não


permitido ou omissão de um acto imposto ou de uma formalidade essencial. São
exemplos de nulidades inominadas as seguintes:
i) Tendo o advogado comparecido antes da hora do julgamento e informado o
escrivão de que aguardaria a chamada na sala dos advogados e tendo-se
avançado e procedido ao julgamento sem a participação desse advogado,
cometeu-se a nulidade com interferência na decisão de causa;
ii) A omissão do inquérito social na acção de regulação do poder paternal
constitui nulidade quando influi no exame e decisão da causa;
iii) A falta de apreciação no tribunal aquando do requerimento de interposição
de recurso.

b) Regime das nulidades nominadas

As nulidades nominadas são, em regra, de conhecimento oficioso – art.º 202º


“Nulidades de que o tribunal conhece oficiosamente”. A falta de citação e a falta de
vista ao Ministério Público podem ser arguidas em qualquer momento da marcha do
processo – art.º 204º, nº2 “Até quando podem ser arguidas as nulidades principais”,
mas a ineptidão da petição inicial e o erro na forma do processo só podem ser
alegados ate à contestação – art.º 204º, nº1. Isto significa que algumas nulidades
podem ser conhecidas oficiosamente pelo tribunal mesmo quando a parte interessada
já não as pode invocar.

c) Regime das nulidades inominadas


As nulidades inominadas só são apreciadas mediante reclamação da parte
interessada na repetição ou eliminação do acto – art.º 202º, 2ª parte; art.º 203º, nº1.
Quanto ao prazo para a sua alegação, é de cinco dias a contar de qualquer
intervenção da parte na acção ou da sua notificação para qualquer termo do processo,
sempre que a parte não esteja presente no momento em que foram cometidas – art.º
205º, nº1 “Regra geral sobre o prazo de arguição “ e art.º 153º “Regra geral sobre o
prazo”.

Professora: Manuela Sampaio 16


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
Essas nulidades devem ser imediatamente julgadas pelo tribunal após a resposta da
contraparte – art.º 206º, nº2 “quando deve o tribunal conhecer as nulidades” e art.º
207º, nº1 “Regras gerais sobre o julgamento”.

Citação
Citação do réu
I. Momento
a) A citação é o acto pelo qual se dá conhecimento ao réu que foi proposta
contra ele determinada acção e se chama ao processo para se defender – art.º 228º
“Funções da citação e da notificação”, nº1 1ª parte.
Em regra a citação é posterior à distribuição mas quando aquela não deva realizar-se
editalmente – Cfr. Art.º 233º, nº6 “Modalidades da citação”, o autor pode requerer,
invocando os respectivos motivos, que a citação preceda a distribuição – art.º 478º,
nº2 e art.º 234º, al. f) nº4, para que o juiz possa apreciar os fundamentos da urgência,
pouco compreensivelmente a lei não estende esta hipótese à possibilidade de o juiz,
em vez de ordenar a citação, indeferir liminarmente a petição – Cfr. Art.º 234º A, nº1
“Casos em que é admissível indeferimento liminar (prévio) ”.

Em regra, incumbe à secretaria promover oficiosamente a citação do réu – art.º 234º,


nº1. Todavia, a citação depende de prévio despacho judicial, não só quando se trate
de citação urgente – art.º 234º, al. f), nº4; Cfr. Art.º 478º, mas também nos
procedimentos cautelares e em todos os casos em que incumba ao juiz decidir da
prévia audiência do requerimento – art.º 234º, al. d), nº4; Cfr. 325º “Âmbito”
«intervenção provocada»; 330º “Campo de aplicação” e art.º 347º “Oposição
provocada”.

A citação também depende de despacho judicial quando a propositura da acção deva


ser publicitada (edital) – art.º 234º, al. c), nº4; Cfr art.º 945º “Publicidade da acção”, e
na acção executiva – art.º 234º, al. e) nº4.

b) Como se dispõe no art.º 234º, nº5, a citação do réu não implica


qualquer preclusão quanto aos motivos que poderiam justificar a recusa da petição
pela secretaria – Cfr art.º 474º “Recusa da petição pela secretaria”, ou o seu

Professora: Manuela Sampaio 17


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
indeferimento liminar pelo juiz – Cfr art.º 234º, A, nº1. Portanto, o tribunal da causa não
está impedido de conhecer deles em momento posterior, nomeadamente no despacho
saneador – Cfr art.º 510ºº, nº1 “Despacho saneador”.

II. Procedimento
A citação do réu está submetida aos princípios da oficiosidade e da celeridade. Em
regra, cabe à secretaria promover oficiosamente sem necessidade de despacho prévio
do juiz, as diligencias que se mostrem adequadas à efectivação da regular citação
pessoal do réu e à rápida remoção das dificuldades que obstem à realização do acto –
art.º 234º, nº1 e nº2 e art.º 479º.
Decorridos 30 dias sem que a citação se mostre efectuada, o autor é informado das
diligências efectuadas e dos motivos da sua não realização – art.º 234º, nº2.
Passados outros 30 dias sem que a citação tenha sido realizada, o processo é
concluso ao juiz, com informação das diligências efectuadas e das razões da não
realização desse acto – art.º 234º, nº3.
O acto da citação implica a remessa ou entrega ao citando do duplicado da petição
inicial e da cópia dos documentos que a acompanhem, comunicando-se-lhe que fica
citado para a acção a que o duplicado se refere e, se já tiver havido distribuição,
indicando-se o tribunal, juízo, vara e secção por onde corre o processo – art.º 235º,
nº1 “Elementos a transmitir obrigatoriamente ao citado”.
Nesse mesmo acto, deverão ainda ser indicados ao réu o prazo dentro do qual pode
oferecer a defesa, a necessidade de patrocínio judiciário e as cominações (ameaças)
em caso de revelia (rebeldia, contumácia, persistência), isto é, de falta de contestação
– art.º 235º, nº2.

III. Efeitos
A citação do réu produz efeitos processuais e substantivos. São os seguintes os
efeitos processuais:
i) A estabilidade dos elementos subjectivos e objectivos da instancia – art.º
481º, al. b) “Efeitos da citação” e art.º 268º “Principio da estabilidade da
instância”;
ii) A inadmissibilidade da propositura pelo réu de uma acção contra o autor
com o mesmo objectivo – art.º 481º, al. c);

Professora: Manuela Sampaio 18


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
iii) A constituição da excepção de litispendência, se o réu já tiver sido citado
para outra acção idêntica – art.º 499º, nº1 “Em que a acção deve ser
reduzida a litispendência”, Cfr 494º, al. i) “Excepções dilatórias”, art.º 497º
“Conceitos de litispendência e caso julgado” e art.º 498º “Requisitos da
litispendência e do caso julgado”.

Os principais efeitos materiais da citação são os seguintes:


i) A cessação da boa fé do possuidor – art.º 481º, al. a);
ii) A interrupção da prescrição, da usucapião e, em certos casos, da
caducidade;
iii) Finalmente, a constituição do devedor em mora.

Modalidades da citação
Enunciado
A citação pode ser pessoal ou edital – art.º 233º, nº1 “Modalidades da citação”.
A citação pessoal é aquela que é feita através do contacto directo com o demandado
ou que é efectuada em pessoa diversa do citando, mas encarregado de lhe transmitir
o conteúdo do acto – art.º 233º, nº4; sobre as situações, Cfr art.º 233º, nº5, art.º 236º,
nº2 “Citação por via postal” e art.º 240º, nº2, 2ª parte “Citação com hora certa”.
A citação pessoal pode ser realizada através da entrega ao citando de carta registada
com aviso de recepção, nos casos da citação postal – art.º 233º, nº2, al. a), mas
também pode ser efectuada através de contacto pessoal do funcionário judicial – art.º
233º, nº2 al. b), ou do mandatário judicial do autor com o citando – art.º 233º, nº3. Em
regra, a citação é pessoal – art.º
233º, nº6, e em regra também, é realizada pela via postal – Cfr. Art.º 239º, nº1 e art.º
245º, nº2.

Citação postal

A citação por via postal faz-se por meio de carta registada com aviso de recepção, de
modelo oficialmente aprovado, dirigida ao citando e endereçada para a sua residência
ou local de trabalho ou, tratando-se de pessoa colectiva ou sociedade, para a sede ou

Professora: Manuela Sampaio 19


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
local onde funciona normalmente a administração – art.º 236º, nº1 “Citação por via
postal”.

No caso de citação de pessoa singular, a carta pode ser entregue, após a assinatura
do aviso de recepção, ao citando ou a qualquer pessoa que se encontre na sua
residência ou local de trabalho e que declare encontrar-se em condições de a entregar
prontamente – art.º 236º, nº2.

Quanto às pessoas colectivas e sociedades, se não se puder efectuar a citação por via
postal na sua sede ou no local onde funciona normalmente a administração, pelo facto
de aí não se encontrar nem o representante legal nem qualquer empregado ao seu
serviço procede-se à citação do seu representante ao seu serviço, procede-se à
citação do seu representante, mediante carta registada com aviso de recepção,
remetida para a sua residência ou local de trabalho – art.º 237º “Impossibilidade de
citação pelo correio da pessoa colectiva ou sociedade” .

A citação por via postal considera-se feita no dia em que for assinado o aviso de
recepção e tem-se efectuada na própria pessoa do citando, mesmo que esse aviso
haja sido assinado por terceiro, porque se presume, salvo prova em contrario, que a
carta foi oportunamente entregue ao destinatário – art.º 238º “Data e valor da citação
via postal”.

Sempre que a carta não seja entregue ao citando, ser-lhe-á enviada uma outra carta
registada, na qual lhe são comunicados a data e o modo por que o acto se considera
realizado, o prazo para o oferecimento da defesa, as cominações aplicáveis à revelia,
o destino dado ao duplicado da petição inicial e a identidade da pessoa em quem a
citação foi realizada – art.º 241º “Advertência ao citando, quando a citação não haja
sido na própria pessoa deste”.

Citação por funcionário judicial

Se se frustrar a citação por via postal, a citação será efectuada mediante contacto
pessoal do funcionário de justiça com o citando, que lhe entrega os elementos e lhe dá
as indicações impostas pela lei – Cfr. Art.º 235º “Elementos a transmitir
obrigatoriamente ao citando”, lavrando-se em seguida certidão assinada pelo citado –
art.º 239º, nº1 “Citação por agente de execução ou funcionário judicial”. Se o

Professora: Manuela Sampaio 20


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
funcionário se certificar que o citando reside ou trabalha efectivamente no local
indicado mas não o puder citar por não o encontrar, deixará nota com a indicação de
hora certa para a diligência na pessoa que estiver em condições de a transmitir ao
citando ou, quando tal for impossível, afixará o respectivo aviso no local mais indicado
– art.º 240º, nº1 “Citação com hora certa”. No dia e hora designados, o funcionário fará
a citação na pessoa do citando, se o encontrar, ou na pessoa capaz que esteja em
melhores condições de a transmitir ao citando – art.º 240º, nº2. Esta pessoa incorre
em crime de desobediência se não entregar ao citando os elementos deixados pelo
funcionário – art.º 240º, nº4; sobre esse crime Cfr art.º 348º do C.P., e ao citado é
enviada uma carta registada, na qual lhe são comunicados a data e o modo por que o
acto se considera realizado, o prazo para o oferecimento da defesa, as cominações
aplicáveis à falta desta, o destino dado ao duplicado da petição inicial e a identidade
da pessoa em quem a citação foi realizada – art.º 241º.

Citação por mandatário judicial

O propósito da realização da citação pelo mandatário judicial do autor, por outro


mandatário, por solicitador ou por pessoa que preste serviço forense junto das
secretarias judiciais no interesse e por conta dos mandatários judiciais pode ser
declarado na petição inicial ou em momento posterior, se se tiver frustrado qualquer
outra forma da citação – art.º 245º, nº2 “Citação promovida por mandatário judicial”.

A citação deverá ser feita dentro de 30 dias posteriores à solicitação da sua


realização, sob pena de ela se realizar nos termos gerais – art.º 246º, nº2 “Regime e
formalidades da citação promovida pelo mandatário judicial”.

Com a citação deve ser entregue ao citando o duplicado da petição inicial e a cópia
dos documentos que a acompanhem, deve ser-lhe comunicado que fica citado para a
acção a que o duplicado se refere e devem, ainda, ser indicados o tribunal, juízo vara,
patrocínio judiciário e as cominações de revelia – art.º 246º, nº1 e art.º 235º.

O mandatário judicial é civilmente responsável pelas acções ou omissões


culposamente praticadas pela pessoa encarregada de proceder à citação, sem
prejuízo da responsabilidade disciplina e criminal que couber ao caso – art.º 246º, nº3.

Professora: Manuela Sampaio 21


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
Citação edital

A citação edital é utilizada quando o citando se encontre em parte incerta (citação


edital por incerteza do lugar), ou quando sejam incertas as pessoas a citar (citação
edital por incerteza das pessoas) – art.º 233º, nº 6.

A citação edital motivada pela incerteza do lugar é feita pela afixação de editais – art.º
248º, nºs 1 e 2 “Formalidades da citação edital por incerteza do lugar”, e pela
publicação de anúncios em dois números seguidos de um dos jornais, de âmbito
nacional ou regional, mais lidos na localidade da última residência do citando – art.º
248º, nºs 1 e 3.

No caso da citação edital pela incerteza das pessoas, utilizam-se meios semelhantes –
art.º 251º “Formalidades da citação edital por incerteza das pessoas”.

Citação no estrangeiro

Se o réu residir no estrangeiro, deve observar-se o que se encontra estipulado nos


Tratados e Convenções Internacionais – art.º 247º, nº1 “Citação do residente no
estrangeiro.

Em princípio, será aplicável o regime estabelecido na Convenção relativa à citação e à


Notificação no estrangeiro dos Actos Judiciais e Extrajudiciais em Matéria Civil e
Comercial. Se este instrumento convencional não for aplicável (nomeadamente porque
o Estado da residência do réu não aderiu a ele), a citação é feita, em regra, por via
postal, em carta registada com aviso de recepção, aplicando-se as determinações do
regulamento local dos serviços postais – art.º 247º, nº2.

Impossibilidade

A citação pode ser impossível por três circunstâncias:

i) A incapacidade de facto do citando – art.º 242º “Incapacidade de facto do


citando”;
ii) A ausência dele em parte certa e por termo limitado – art.º 243º “Ausência
do citando em parte certa”; e

Professora: Manuela Sampaio 22


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
iii) A ausência dele em parte incerta – art.º 244º “Ausência do citando em parte
incerta”

No primeiro caso, se o juiz reconhecer a incapacidade do réu, é-lhe nomeado um


curador provisório – art.º 242º, nº3.

No segundo, faculta-se ao tribunal a opção entre proceder à citação postal ou


aguardar o regresso do citando – art.º 243º.

Por fim, no terceiro caso, procura-se obter junto de quaisquer entidades, serviços ou
autoridades policiais, informações sobre o paradeiro ou a ultima residência conhecida
do citando – art.º 244º; utilizando-se em seguida, se essa ausência for confirmada, a
citação edital – art.º 233º, nº6 e art.º 248º.

Vícios - Falta e nulidade

a) A citação pode faltar – art.º 195º “Quando se verifica a falta de citação”,


e ser nula – art.º 198º “Nulidade da citação”. Segundo o disposto no art.º 195º, verifica-
se a falta de citação quando o acto tenha sido completamente omitido, quando tenha
havido erro de identidade do citado, quando se tenha empregado indevidamente a
citação edital – Cfr art.º 233º, nº6, art.º 248º e art.º 251º, quando se mostre que foi
efectuada depois do falecimento que o destinatário da citação pessoal não chegou a
ter conhecimento do acto, por facto que não lhe seja imputável, ou seja, quando ele
tenha elidido a presunção estabelecida no art.º 238º, ou quando a citação tenha sido
realizada apesar da sua incapacidade de facto – Cfr art.º 242º. A falta de citação
considera-se sanada se o réu ou o M.P. intervieram no processo e não arguirem o
vício – art.º 196º.
b) A citação é nula quando, na sua realização, não hajam sido observadas
as formalidades prescritas na lei – art.º 198º, nº1 “Nulidades da citação”, sobre essas
formalidades – Cfr designadamente os art.ºs 235º e 246º, nº1, desde que essa
inobservância possa prejudicar a defesa do citado (art.º 198º, nº4). É por isso que, se
a irregularidade tiver consistido em se ter indicado um prazo que o autor tenha feito
citar novamente o réu em termos regulares. Esta nulidade, quando relevante, deve ser
arguida no prazo indicado para a contestação ou, no caso de a citação ter sido edital

Professora: Manuela Sampaio 23


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
ou de não ter sido indicado aquele prazo, nos 10 dias seguintes à primeira intervenção
do citado no processo – art.º 198º, nº2 e art.º 153º, nº1.
c) A falta de citação determina a sua realização, se o acto tinha sido
omitido – Cfr 195º, al. a), ou a sua repetição se ela tinha sido efectuada
irregularmente; a nulidade da citação conduz à sua repetição, com observância das
formalidades prescritas na lei – art.º 198º, nº1. Pode suceder que a falta e a nulidade
da citação nunca venham a ser sanadas e que o réu permaneça numa situação de
revelia absoluta. Esses vícios justificam, então, o uso dos meios de reacção contra a
própria sentença proferida, que é o recurso da revisão – art.º 771º, al. f), e contra a
execução baseada nessa sentença, que são os embargos de executado – art.º 813º,
al. d).

Falsidade
A citação, também, pode ser afectada por um vício de falsidade. Isso pode suceder,
por exemplo, tanto quando o funcionário judicial atestou na sua certidão que procedeu
à citação do réu quando tal não aconteceu. (falsidade material), como quando esse
funcionário certificou que entregou duplicado da petição inicial a quem pensava ser o
citando e tal não corresponde à verdade (falsidade ideológica).
As consequências desta falsidade constam do art.º 551º A: essa falsidade deve ser
arguida nos 10 dias seguintes à intervenção do réu no processo – art.º 551º A, nº1,
prazo que parece dever ser consumido pelo da contestação e, portanto, só se aplicar
quando o réu não quiser contestar ou só tiver conhecimento do facto que fundamenta
a arguição em momento posterior. À invocação da falsidade aplica-se com as
necessárias adaptações, o disposto nos art.ºs 546º a 550º e, se a falsidade puder
prejudicar a defesa do citando, a causa pode suspender-se logo que ela seja arguida –
art.º 551º A, nº4. 1ª parte.

Professora: Manuela Sampaio 24


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011

ANEXOS
Fichas de trabalho

Professora: Manuela Sampaio 25


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
FICHA DE TRABALHO n.º 1

Actividade prática: trabalho de grupo 09/Fev/2010

1) Partindo do conceito de “Acto Processual”, esquematize o tema quanto:


a) À eficácia;
b) Às características;
c) À Forma.

2) Pronuncie-se sobre a classificação dos actos processuais

Professora: Manuela Sampaio 26


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
FICHA DE TRABALHO N.º 2

Actividade prática – trabalho de grupo 16/02/2011

Pressupostos nos actos processuais

1) A que se referem os termos “pressupostos dos actos processuais”?


2) Explique quais os pressupostos dos actos dos Tribunais.
3) Refira-se aos pressupostos dos actos das partes, nomeadamente os
pressupostos objectivos e os pressupostos subjectivos.
4) Explique o resultado da falta de pressupostos nos actos processuais.

Professora: Manuela Sampaio 27


Disciplina de DIREITO PROCESSUAL
Módulo 8 – Actos Processuais no Processo Civil – 36 horas
Curso: Técnico de Serviços Jurídicos 1º ano 2010/2011
Bibliografia / Outros Recursos

Antunes Varela, J. Miguel Beleza Sampaio e Nora, Manual de Processo Civil, 2ª Edição, Coimbra
Editora; Lda
Abílio Neto, Advogado, Código de Processo Civil Anotado, 14ª Edição, Ediforum, Edições Jurídicas, Lda,
Lisboa
Código Civil
Código Processual Civil

Professora: Manuela Sampaio 28

Você também pode gostar