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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................4
1.1. Objectivos gerais do estudo:...................................................................................4
1.2. Objectivos específicos:...........................................................................................4
2. RECURSO EM PROCESSO CIVIL.........................................................................6
2.1 NATUREZA JURÍDICA DE RECURSO...............................................................7
2.2 CLASSIFICAÇÃO DO RECURSO........................................................................8
2.2.1 I RECURSOS ORDINÁRIOS..........................................................................8
2.2.2 II RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS.........................................................10
2.3 EFEITOS DO RECURSO.....................................................................................12
2.4 ADMISSIBILIDADE DO RECURSO..................................................................13
3. CONCLUSÃO............................................................................................................16
4. BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................17
4

1. INTRODUÇÃO
A natureza humana, não só em um sentido amplo, mas também finalístico, é a principal
justificativa para o inconformismo inerente às relações interpessoais na sociedade
moderna.1 Nesta toada, pode-se conceituar, ainda que preambularmente, recurso como o
direito que a parte vencida tem, no todo ou em parte, de provocar o reexame de
determinada decisão judicial, objetivando sua reforma ou mesmo modificação por órgão
competente e hierarquicamente superior,2 notadamente, portanto, não podendo ser
confundido com outros meios autônomos de impugnação a uma decisão judicial, como,
v.g. ação rescisória ou mandado de segurança.

Neste sentido, pode-se depreender que o pressuposto essencial de qualquer recurso é a


sucumbência, isto é, a desigualdade entre o que foi pedido e o que foi concedido pelo
Estado-juiz. A sucumbência pode ser total ou parcial, conforme o juiz conceda total ou
parcialmente o pedido do autor, por exemplo: o autor pede indenização por danos
morais e materiais, sendo todo o pedido julgado improcedente (o autor sofreu
sucumbência total); o autor pede indenização por danos morais e materiais, sendo que o
juiz concede apenas indenização por danos materiais, negando o pedido de danos
morais (o autor e réu sofreram sucumbência parcial). De forma geral, pode-se deduzir
também que os recursos são manejados a fim de se conseguir a substituição da decisão
judicial desfavorável por outra que, de acordo com o recorrente, satisfaça os seus
interesses.

1.1. Objectivos gerais do estudo:


 Analisar duma forma geral aspectos relacionados ao estudo do recurso em
processo civil.

1.2. Objectivos específicos:


 Entender a natureza jurídica do recurso;
1
Gabriel Rezende Filho, em clássicas palavras e decorrente de um sentido ao qual nominava
“psicológico”, já bem afirmara que “o recurso corresponde a uma irresistível tendência humana.
Ninguém, via de regra, se conforma com o juízo ou parecer do primeiro árbitro ou censor. Todos
procuram recorrer a outras opiniões ou julgamentos. Ademais, ninguém é perfeito: o erro é próprio da
humanidade. E com erro deve-se ter em conta a possibilidade da corrupção. Esta convicção geral sobre
a falibilidade dos julgamentos humanos foi a força criadora dos recursos judiciários” (REZENDE
FILHO, 1960, p. 77-78).
2
Pontes de Miranda bem destaca, certeiramente, o “interesse geral” que, inclusive, justifica o próprio
exercício da jurisdição pelo Estado, caracterizando-se no que é para nós, a exigência de prestação
qualitativa do serviço público de justiça à sociedade. Pontua o Mestre alagoano: “Na finalidade do
recurso está interesse das partes, ou legitimados a recorrer, e interesse geral, porque o Estado tem
empenho em que se realize o direito objetivo e se faça justiça. O juiz é órgão do Estado; porém não o
Estado mesmo” (MIRANDA, 1999, p. 2).
5

 Falar da classificação do recurso;


 Debruçar acerca do efeito do recurso;
 Por termo, abordar acerca da admissibilidade do recurso;

Portanto, a metodologia utilizada para a abordagem do trabalho foi à qualitativa-


descritiva que foi desenvolvida a partir do conceito do Recurso com base em vários
autores, e subsidiando com o Código de Processo Civil que nos esclarece como ocorre
as suas fases, as espécies do mesmo, prazos, no esclarecimento dos mesmos. O método
usado na elaboração do trabalho, é o Bibliográfico, e a constante pesquisa de
informação na internet na consulta para a elaboração do presente trabalho.
6

2. RECURSO EM PROCESSO CIVIL

Conceituação.

Conforme leciona José Carlos Barbosa Moreira, recurso é o remédio voluntário idôneo
a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a
integração judicial que se impugna.

Desta forma, o recurso impede que a decisão judicial impugnada se torne preclusa,
prolongando o estado de litispendência.

Não é unívoco o conceito de recurso, desenvolvido pela doutrina portuguesa e


estrangeira.

Salientamos as seguintes opiniões, na doutrina portuguesa:

a) Diz o Prof. Paulo Cunha: recursos são os meios de impugnação da sentença, que
consistem em se procurar a eliminação dos defeitos da sentença injusta ou inválida por
devolução do julgamento a outro órgão de judicatura hierarquicamente superior, ou em
se procurar a correcção de uma sentença já transitada em julgado (3).

b) Para o Prof. J. Alberto dos Reis: os recursos são meio de obter a reforma da sentença
injusta, de sentença inquinada de vício substancial ou de erro de julgamento. O
mecanismo através do qual opera o recurso define-se nestes termos: pretende-se um
novo exame da causa, por parte do órgão jurisdicional hierarquicamente superior (4).

c) O Prof. Palma Carlos escreve: recursos são os meios pelos quais se submetem as
decisões judiciais a nova apreciação jurisdicional, feita por um tribunal superior (5).

d) Para o Prof. Castro Mendes: recurso e um pedido de reponderação sobre certa


decisão judicial, apresentado a um órgão judiciariamente superior por razões especiais
que a lei permite fazer valer (6).

3
Cunha, Paulo - <<Processo Comum de Declaração>> 2º Vol., pág. 368 e 376 e segs. (Braga – 1944).
4
Reis, J. Alberto dos - <<Código de Processo Civil Anotado>>, vol. V, anotação ao art. 677., pág. 211 e
seguintes.
5
Carlos, A. Palma - <<Direito Processual Civil – dos Recursos>>, pág. 5 e segs., ed. da Associação
Acadêmica da Faculdade de Direito de Lisboa – 1969; no mesmo sentido as lições de 1951-52, pág. 5 e
de 1958-59, pág. 5 e segs.
6
Mendes, João de Castro - <<Direito Processual Civil (Recursos)>, pág. 3 e segs., ed. da Associação
Acadêmica da Faculdade de Direito de Lisboa, 1972.
7

A ideia geral, no entanto, e de o recurso ser entendido como um instrumento, utilizado


pelas partes num processo, apto a solicitar a modificação de uma decisão ainda não
transitada em julgado (recursos ordinários) ou já transitadas em julgado (recursos
extraordinários) (7)

O recurso pode ainda ser entendido como uma fase da instância ou como uma nova
instância que se inicia com o recurso.

2.1 NATUREZA JURÍDICA DE RECURSO.


Quanto à natureza jurídica do recurso, a doutrina já possuiu dissensos. Neste ínterim,
duas das principais correntes assim definiam a divergência:

(a) o recurso é uma ação autônoma relativamente àquela que lhe deu origem, ação está
de natureza constitutiva;8 (b) o recurso é continuação do exercício do direito de ação em
fase posterior do procedimento.9

Despiciendo se faz afirmar que, hodiernamente, há o reconhecimento da natureza do


recurso como um desdobramento, ou mesmo, um prolongamento do direito de ação,
este manifestado pelo recorrente quando do ajuizamento da demanda e que só se tem
por efetivamente realizado, ou mesmo esgotado, com o devido trânsito em julgado da
decisão judicial, o que fatalmente ocorre após ter decorrido o prazo para apresentação
de eventual recurso ou pelo esgotamento de todas as formas recursais previstas no
âmbito do processo civil pátrio (MOREIRA, 2006, p. 113-114)

A doutrina majoritária entende que o poder de recorrer se qualifica como aspecto,


elemento, modalidade ou extensão do próprio direito de ação exercido no processo,
refutando a tese de que o recurso seria uma ação autônoma, a qual se sustenta com base
no argumento de que o que recurso é fundado em fato verificado dentro do processo, ao
passo que a ação originária se funda em fato extraprocessual.
7
Bastos, J. Rodrigues - <<Notas ao C.P.C.>> vol. III, pág. 265 e segs., anotação ao art. 676. Do C.P.C.;
Rodrigues, Manuel <<Dos Recursos>>, Lições ao 4º ano de 1942-43 (coligidas por Adriano Borges
Pires), pág. 3 e segs e 29 e segs.; Silveira, J. Santos <<impugnação das Decisões Judiciais em Processo
Civil>>, pág. 20 e segs. (Coimbra 1970).
8
4 “Il potere d’impugnare uma sentenza é un’azione, che dalle altre azioni differisce per le speciali
caractteristiche de’ suoi elementi costitutivi e per la natura dela ragione cui è coordinata” (BETTI, 1936,
p. 638).
9
Neste sentido, de longe já asseverava Marco Tullio Zanzucchi (1938, p. 119) que “quando la causa di
estinzione sia, come di solito, una sentenza di merito o meno, il rapporto processuale, anche dopo
l’emanazione di essa, puó rivivere e continuare a svolgersi in una più fasi ulteriori poste in essere mercè
l’impugnazione della sentenza stessa”.
8

Há no direito processual pátrio ações autônomas originárias de factos intraprocessuais,


como a ação rescisória fundada em error in procedendo, o que enfraquece o fundamento
utilizado pela corrente minoritária.

2.2 CLASSIFICAÇÃO DO RECURSO


Como se sabe, os recursos podem ser ordinários ou extraordinários.

Pela análise dos vários preceitos do C.P.C que tratam desta matéria, e possível
descortinar os seguintes traços significativos, nas várias espécies de recursos, no que
concerne ao objeto do recurso.

2.2.1 I RECURSOS ORDINÁRIOS


A - Reclamação

Esta espécie de recurso foi denominada até 1961, altura da revisão do C.P.C, como
recurso de queixa.

Vem regulada no art. 688. °

A reclamação tem, por objeto, segundo a lei, a decisão que e proferida no despacho de
não recebimento dos vários recurso, ou de retenção do agravo (10).

B - Apelação

Esta modalidade de recurso, vem regulada no Código de Processo Civil, art. 681. ° E
seguintes.

Segundo consta da lei, o objeto da apelação são as decisões que conheçam do mérito de
causa, as quais podem ser: a sentença final e o despacho saneador.

Embora seja problemático saber o que se deve entender por mérito de causa, duvidas
não poderão subsistir quanto ao seu necessário conhecimento pela sentença que dirime
um litigio; deste modo o recurso a interpor dessa decisão e da apelação.

No entanto, pode o juiz, logo no despacho saneador, entender que se verificam os


pressupostos para a emissão da decisão. Então o despacho saneador vai conhecer do
mérito da causa, ficando este a valer como sentença e conhecendo assim e também do
mérito da causa.

10
Cfr. Carlos, A. Palma, ob. Cit, pág. 44 e sgs.; Mendes, J. Castro, ob. Cit., pág. 61 e sgs.
9

Neste caso o recurso a interpor, embora se trate de um despacho, será de apelação.

Já verificamos que, pela análise da jurisprudência, e sempre da parte dispositiva da


sentença, e não da parte enunciativa da mesma, que a parte pode recorrer.

No caso vertente, a mesma orientação deve ser mantida: quando se recorre de apelação,
o recurso e apenas da decisão proferida e não dos fundamentos da mesma (11).

C - Revista

Vem regulada no art. 721. ° do C.P.C.

A revista consiste num recurso que tem por objeto um acórdão da Relação, proferido
sobre o recurso de apelação, quando conheça do mérito da causa (12).

Novamente se questiona qual e o objeto do recurso de revista.

Segundo o art. 721 – n i e ainda a decisão que serve de obecto ao recurso e não a
questão decidida, impossibilitando-se assim uma nova apreciação sobre os fundamentos
daquela.

No entanto, deve ser salientado o disposto no art. 729 n. 3: quando o Supremo Tribunal
de Justiça entenda que a decisão de facto pode e deve ser ampliada em ordem a
constituir base suficiente para a questão de direito, o processo volta a 2ª instância para
que aquela possa ser efectuada (13).

Deste modo, pareceria que o objeto do recurso se ampliava, deixando de ser somente a
decisão para passar a ser também a questão decidida.

Contudo, não deve ser esse o melhor entendimento a dar a questão: o objeto da revista e
ainda o acórdão que tratou do mérito da causa – questão de direito – que constitui o
objeto essencial deste recurso, e não a apreciação da matéria de facto, ressalvado o caso
excepcional do art. 722.° n.º 2.

D - Agravo em 1ª instância

11
Carlos, A. Palma, ob. Cit., pág. 59 e 63; Liebman, Enrico, <<Manual...>> cit. n. 314, pág. 45; Mendes,
J. Castro, ob. Cit., pág. 70 e sgs.; Rodrigues, Manuel, ob. Cit., pág. 49, 51 e segs.; Vincent, Jean, ob. Cit.
n. 599, pág. 775 e segs.; Jauernig, Othmar, ob cit., pág. 231 e segs.
12
Cfr., Calamandrei, <<La cassazione...>> cit, vol. II; Carlos, A. Palma, ob. Cit., pág. 107 e segs.;
Liebman, Enrico, ob. Cit., pág. 63 e 87; Mendes, J. Castro, ob. Cit., pág. 79 e segs.; Vincent, Jean, ob.
Cit., pág. 584 e segs.
13
Neste sentido cfr., Carlos, A. Palma, <<Dos Recursos>> cit., pág. 121.
10

Esta forma de recurso vem regulada no art. 733. ° do C.P.C. e consiste na possibilidade
oferecida as partes de recorrerem das decisões de que não pode apelar-se (cfr. art. 691.
°), isto e, das decisões que não conhecem do mérito da causa.

Muito sinteticamente, a lei continua a afirmar que recurso de agravo cabe apenas das
decisões e não de outra ou outras quaisquer questões.

E - Agravo em 2ª instância

O agravo em 2ª instancia vem regulado no art. 754. ° do CPC e cabe quer da sentença
do tribunal de comarca quer do acórdão da Relação, nos termos previstos nas alíneas a)
e b) do referido artigo.

A referência expressa da lei quer a sentença (a decisão final) quer ao acórdão (decisão
colectiva da Relação) não podem deixar de corroborar o entendimento de que, ainda
neste caso, o objeto do recurso são decisões.

Neste sentido, cabe salientar a epígrafe do já citado art. 754. ° do CPC. <<Decisões de
que cabe agravo na 2ª instância>> (14).

F - Recurso para o tribunal pleno

Esta espécie de recurso vem regulada no art. 763. e seguintes do CPC.

Aqui mantém-se a clara manifestação de que o objeto do recurso se refere as decisões


(refere-se a acórdãos).

A mesma orientação e seguida no art. 770, em que se admite recurso (após o trânsito em
julgado do acórdão proferido em último lugar) pelo Ministério Público com o fim de
provocar assento sobre conflito de jurisprudência, e ainda a decisão da questão que
serve de objeto ao recurso e não a questão decidida ou, de outro modo, a forma como a
questão foi decidida (15).

2.2.2 II RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS


G - Recurso de Revisão

Vem regulado no art. 771. do CPC.

14
Cfr. Carlos, A. Palma, ob. Cit., pág. 141, 159 e 208; Mendes, J. Castro, ob. Cit., pág. 70 e 79.
15
Carlos, A. Palma, ob. Cit., pág. 225 e segs.; Mendes, J. Castro, ob. Cit., pág. 85 e segs.
11

O objeto do recurso de revisão parece ser segundo a nossa lei, qualquer decisão
transitada em julgado (art. 771. °) (16).

No entanto, este recurso apresenta duas fases distintas:

1ª – pretende-se verificar se há razão para anular o caso julgado: juízo rescidente;

2ª – anulado o caso julgado, vai o tribunal julgar de novo a questão: juízo rescisório.

A 1ª fase corresponde a uma nova acção; enquanto que a 2ª corresponde a uma


renovação de instância (17).

Analisando ainda os vários fundamentos do recurso de revisão, vemos que eles se


distribuem por três aspectos (18):

1 – vícios do processo (por exemplo, alínea a) do art. 771. °)

2 – elementos de formação da decisão (por exemplo, alínea b)

3 – vícios da decisão (por exemplo, alínea d).

Consoante o estatuído no art. 775. °, n. ° 2, e dando a ideia a renovação da instância, o


tribunal superior pode requisitar diligências. Neste caso parece que o objeto do processo
não se limita unicamente a decisão, isto e: há uma apreciação cuidada, no juízo
rescidente, dos fundamentos enumerados no art. 771.; tanto assim que, quando, já no
juízo rescisório, se vai julgar a questão, se podem requisitar as diligências consideradas
indispensáveis (art. 775. ° n. ° I).

O que se disse refere-se ao recurso de revisão, e a um tribunal superior; pois se se


tratasse de tribunal de 1ª instância, este poderia produzir nova prova sobre os novos
factos alegados.

Perante as considerações adiantadas parece que o objeto do recurso não se limita a


decisão, mas sim também aos fundamentos, o que equivale dizer que o objeto do
recurso e, então, precisamente a questão recorrida.

H - Oposição de terceiro

Vem regulada no art. 778.° do CPC.

16
Carlos, A. Palma, ob. Cit., pág. 261 e segs.; Liebman, Enrico, ob. Cit., pág. 113 e segs.; Mendes, J.
Castro, ob. Cit., pág. 103 e segs.; Vincent, Jean, ob. Cit., pág. 850 e segs.
17
Cfr. sobre a questão Guasp, Jaime <<Derecho Procesal...>> cit., II vol., pág. 1322 e segs.
18
Cfr. Mendes, J. Castro <<Recursos...>>, cit., pág. 106.
12

A decisão final, referida no art. 778.°, pode ser impugnada; mas pode questionar-se se
será apenas esta decisão final o objeto do recurso (19).

Parece que o objeto do recurso e a decisão com a característica especial de o tribunal


não ter feito uso da faculdade que lhe confere o art. 665.°

Deste modo e necessário instruir o processo (art. 779.°) com o preceituado


anteriormente e ainda efectuar as diligências necessárias na 1ª instância, se se tratar de
tribunais superiores (art. 782.°)

Neste caso o objeto do recurso parece alargar-se: não assenta unicamente na decisão,
mas estende-se e consubstancia-se numa renovação do processo, englobando o que
designamos por questão recorrida.

2.3 EFEITOS DO RECURSO


Quanto aos efeitos, podem os recursos ser classificados em suspensivo e não
suspensivos. Somente a existência ou não do efeito suspensivo é considerada para fins
de classificação, porque o outro efeito recursal — o devolutivo — é comum a todos os
recursos, não servindo, pois, de critério diferenciador. É a lei que determina se o recurso
terá ou não efeito suspensivo.

a) Suspensivo: São suspensivos aqueles recursos que impedem a imediata produção de


efeitos da decisão recorrida, ficando o comando nela contido suspenso até seu
julgamento (apelação, embargos infringentes, embargos de declaração e recurso
ordinário); art. 692 CPC.

b) Não suspensivos: Não suspensivos são aqueles desprovidos, como regra geral, deste
efeito e que, por isto, não obstam a que haja execução provisória da decisão impugnada,
nos termos do art. 693 do CPC.

Efeito suspensivo

O efeito suspensivo não decorre da interposição do recurso: resulta da mera


recorribilidade do ato. Significa que, havendo recurso previsto em lei, dotado de efeito
suspensivo, para aquele tipo de acto judicial, esse, quando proferido, já é lançado aos

19
Cfr. Carlos, A. Palma, ob cit., pág. 281 e segs.; Mendes, J. Castro, ob. Cit., pág. 106 e sgs.; Vincent,
Jean, ob. Cit., pág. 835 e sgs.; Liebaman, Enrico, ob. Cit., pág. 125.
13

autos com sua executividade adiada ou suspensa, perdurando essa suspensão até pelo
menos o escoamento do prazo para interposição do recurso.

Efeito devolutivo: extensão e profundidade (efeito translativo)

O efeito devolutivo determina os limites horizontais do recurso; o efeito translativo, os


verticais. O efeito devolutivo delimita o que se pode decidir; o efeito translativo, o
material com o qual o ad quem trabalhará para decidir a questão que lhe foi submetida.

Assim, o brocado latino tantum devolutum quantum appellatum (relativo à extensão do


conhecimento), completa-se pelo acréscimo vel appellare debebat (relativo a
profundidade).

O Efeito devolutivo é comum a todos os recursos. É da essência do recurso provocar o


reexame da decisão – é isso que caracteriza a devolução.

Conforme resulta dos parágrafos do art. 693 do CPC, é amplíssima, em profundidade, a


devolução das questões. Não se cinge às questões efetivamente resolvidas na decisão
recorrida: Abrange também as que nela poderiam tê-lo sido. Nisso se compreendem:

A) questões examináveis de ofício;

B) Questões que, não sendo examináveis de ofício, deixaram de ser apreciadas, a


despeito de haverem sido suscitadas abrangendo, aqui, segundo Bernardo Pimentel
Souza, as questões acessórias (ex. juros legais), incidentais (ex. litigância de má-fé),
questões de mérito e outros fundamentos do pedido e da defesa.

2.4 ADMISSIBILIDADE DO RECURSO


Juízo de admissibilidade é o controle realizado pelo órgão jurisdicional de primeiro grau
(a quo) e de segundo grau (ad quem) – relacionados ao recurso que se quer impetrar –
da presença ou da ausência dos requisitos de admissibilidade do recurso. Tal controle
cabe, primordialmente, ao órgão com competência para julgá-lo (ad quem), contudo
também é exercido, no modelo do Código de Processo Civil pátrio, pelo juízo a quo
quando o recurso é interposto nos próprios autos (v.g., apelação, agravo retido, etc.),
valendo ressaltar que, não obstante a isso, a análise e decisão do juízo a quo acerca da
referida admissibilidade, vindo, por exemplo, tal juízo a permitir o recurso, não
vinculará o Tribunal ad quem acerca de tal decisão.
14

Pois bem. Conforme frisado, o modelo de controle da admissibilidade recursal


permitindo ao juízo a quo realizar a análise dos requisitos subjetivos e objetivos de
admissibilidade sofre notória modificação, não somente pela própria extinção de via
recursal (caso, por exemplo, do Agravo Retido), mas e aí nos parece acertado, pela
maior presteza temporal na via procedimental do reclamo recursal que, de certo, deva
empreender.

Pontuo propriamente o caso do Recurso de Apelação, onde, pela própria tradição desta
via recursal, é interposto junto ao juízo a quo (aquele que prolatou a sentença que se
está a atacar). A fim de empreender maior dinâmica e economia processual, ganhando
com isso, pensa-se, melhor celeridade na duração do processo, evitando que ocorra
como no atual modelo, dupla análise da admissibilidade do recurso em tela, pôde
subentender a superação deste modelo de controle de admissibilidade recursal, cabendo
ao juízo a quo, quando da apresentação da Apelação, intimar o apelado para apresentar
suas contrarrazões no prazo de 15 dias, racionalidade está amparada pela própria
ausência de referências ao juízo de admissibilidade do juízo a quo.

Tal racionalidade supra se reforça, ancorada em disposições expressas do envio dos


autos ao Tribunal competente sem a realização do juízo de admissibilidade pelo juiz
monocrático.

Uma vez, portanto, apresentada a aludida resposta pelo apelado, o juízo monocrático
remeterá os autos para o Tribunal competente, independentemente de qualquer juízo de
admissibilidade, dada a ausência de previsão.

Assim como ocorre no exame das preliminares em relação ao mérito da ação, interposto
determinado recurso, seu mérito não poderá ser apreciado sem que antes se analisem as
condições e os pressupostos recursais, a existência das condições de admissibilidade e
dos pressupostos de desenvolvimento da atividade jurisdicional recursal. As questões de
admissibilidade do recurso dizem respeito à possibilidade de conhecimento do recurso
pelo órgão competente, em função das condições e dos pressupostos genéricos impostos
pela lei — como a legitimidade, o interesse em recorrer, a tempestividade, a
regularidade formal do recurso, o preparo etc. — e dos pressupostos específicos
(hipóteses de cabimento) de cada recurso em espécie. Assim, quando se fala em
conhecimento ou não conhecimento do recurso está-se diante de juízo de
admissibilidade, realizado pelo órgão julgador, isto é, não se está dizendo que o
15

recorrente tem ou não razão, mas somente que o recurso pode ou não ter o mérito
conhecido, isto é, ter seu mérito julgado pelo órgão competente.
16

3. CONCLUSÃO
Concluímos frisando que, o recurso é um acto de inconformismo, destinado a reformar,
aclarar ou anular uma decisão. Não é a única forma de atacar uma decisão, pois existem
os meios autônomos de impugnação. Cada recurso possui uma destinação específica. O
tipo de recurso dependerá do vício a ser atacado na decisão judicial.

O vício pode dizer respeito ao error in procedendo ou ao error in judicando. O primeiro


significa um erro de procedimento e o segundo é um erro de julgamento. Se há um erro
de procedimento, por exemplo, o juiz que proferiu a decisão era absolutamente
incompetente, ou proferiu decisão de mérito, mas faltava uma condição da ação ou um
pressuposto processual. Não se quer que a decisão seja reformada, mas sim anulada. Já
no erro de julgamento, o juiz julgou mal, apreciou mal as provas, por exemplo. Neste,
pede-se a reforma da decisão judicial.

Por fim, o recurso se diferencia dos demais meios de impugnação, pois é um ato de
inconformismo exercido dentro da mesma relação processual. Ou seja, não se instala
uma nova relação jurídica processual, como ocorre, por exemplo, no caso da ação
rescisória, a qual constitui ação autônoma de impugnação.
17

4. BIBLIOGRAFIA
Legislação

 Código de Processo Civil.

Doutrina:

BASTOS, Jacinto Rodrigues – “Notas ao Código de Processo Civil” - vol. III.


BETTI, E. (1936). Diritto processuale civile italiano. Roma: Foro Italiano.
CALAMANDREI. (1920) – “La cassazione civile” - Turim.
CUNHA, Paulo. (1944) – “Processo Comum de Declaração” - 2° vol. (Braga).
CARLOS, A. Palma. (1969) – “Direito Processual Civil - Dos Recursos”,
edição da Associação Acadêmica da Faculdade de Direito de Lisboa.
GUASP, Jaime. (1962) – “Derecho Procesal Civil” - vol. II.
LIEBMAN, Enrico T. (1976) – “Manuale di Diritto Processual Civile”, 2ª ed.,
vol. III, Milão.
MENDES, João de Castro. (1972) – “Direito Processual Civil (Recursos)”,
edição da Associação Acadêmica da Faculdade de Direito de Lisboa.
MIRANDA, F. C. P. de. (1999). Comentários ao código de processo civil. 3. ed.
Rio de Janeiro: Forense.
REZENDE FILHO, G. (1960) Curso de direito processual civil. São Paulo:
Saraiva.
REIS, José Alberto dos - <<Código de Processo Civil Anotado>>, vol. V.
VINCENT, Jean. (1978) - <<Procedure Civile>>, Paris.
ZANZUCCHI, M. T. (1938). Diritto processuale civile. Milano: Dott. A.
Giuffrè.

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