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Resumos Direito das Sucessões

Direito das Sucessões (Universidade Catolica Portuguesa)

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Direito das Sucessões

I. Introdução ao direito das sucessões


1. O direito das sucessões
 Conjunto de normas que regulam a transmissão de bens por morte  fenómeno sucessório
 É parte integrante do Direito Civil: há um livre desenvolvimento e realização da pessoa nas suas
relações com as outras pessoas
 Princípio da autonomia: a pessoa é um centro autónomo de decisão
 Além disso, as relações entre as pessoas também se regem pela igualdade

2. O problema do Direito das Sucessões e o seu fundamento


2.1. O problema sucessório
 O grande problema sucessório é a rutura provocada nas relações jurídicas com a morte, porque
a sucessão não se esgota com a morte
 A maior parte das relações jurídicas não se extinguem com a morte  é necessário atribuir
a alguém as relações jurídicas patrimoniais de que o de cuius era titular
o Ex: o de cuius tem uma dívida  esta dívida passa para o herdeiro, que vai ter de
responder por ela, com os bens do de cuius
 Não constitui objeto sucessório as relações jurídicas intransmissíveis de que o de cuius era
titular (ex: casamento)

2.2. Fundamento do Direito Sucessório e conceito de sucessão mortis causa


 O Direito das Sucessões tem garantia constitucional:
 Transmissão por morte (art. 62º/1 CRP): direito à propriedade privada e à liberdade da sua
transmissão por vida ou por morte
o O Direito Sucessório responde à questão em como se vai distribuir a esfera jurídica
de alguém, após a sua morte
 Função social  se não houvesse direito sucessório haveria uma grave
perturbação socio-económica pois não haveria um adequado aproveitamento da
utilidade dos bens
o O Direito Sucessório apresenta mecanismos adequados a proteger o direito de
propriedade, após a morte do seu titular, com as devias limitações:
 Quota indisponível: uma parte do património vai ser obrigatoriamente concedida
aos familiares do falecido
 Prof. Rita Lobo Xavier: rejeição da teoria da continuação da pessoa do defunto pelo seu herdeiro
 Art. 71º CC: os direitos de personalidade gozam de tutela, mesmo depois da morte  não
é uma proteção da personalidade jurídica do de cuius, mas sim uma exigência de respeito
por parte das pessoas vivas
 Art. 70º CC: se o direito de personalidade do falecido for violado, pode-se pedir ao tribunal
que decrete a suspensão do comportamento violador
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o MAS, não é possível pedir uma indemnização porque, como o falecido já morreu, não
sente o dano
o Art. 71º/2 CC: legitimidade para requerer as providências ao tribunal  não há uma
continuação da personalidade do de cuius, mas sim um interesse que as pessoas
vivas têm na integridade moral do falecido
 Outros artigos que tutelam a personalidade depois da morte: arts. 73º, 74º, 76º/2, 77º, 79º/
1 CC
 Sucessão mortis causa (art. 2024º CC): transmissão do património, em que a causa da
aquisição é a morte  “chamamento de uma ou mais pessoas à titularidade das relações jurídicas de uma
pessoa falecida, e a consequente devolução dos bens que a esta pertencia
 Em regra, é universal  a sucessão verifica-se a título global e diz respeito a vários direitos
e vinculações
o Exceção: legado  sucessão a título singular

3. O sistema sucessório português


3.1. Características gerais do sistema
 O sistema sucessório português é misto, possuindo elementos do sistema individualista, familiar
e social:
 A liberdade de transmissão por morte (art. 62º CRP) é uma manifestação do princípio da
autonomia privada: o autor da sucessão possui uma liberdade ampla para determinar quem
vão ser os destinatários dos seus bens
o No Direito Civil, é assegurado pelo princípio da liberdade de dispor por testamento e
pelo primado da sucessão testamentária
o MAS, este princípio é limitado pela existência de uma quota indisponível, no caso de
haver herdeiros legitimários (membros da pequena família)  respeito pelo princípio
da solidariedade familiar (art. 67º CRP)
o Em certos casos extremos, o Estado pode ser considerado sucessível legítimo, na
qualidade de fisco
 Finalidade (art. 81º a) e b) CRP): contribuir para a maior igualdade dos cidadãos
e recolher meios patrimoniais que permitam a realização de uma política social

3.2. Raízes históricas do sistema


 O Direito sucessório português faz parte da família romano-germânica:
 Os traços individualistas provêm do Direito Romano  o direito de dispor por morte é
corolário do direito de propriedade
 A quota indisponível e legítima tem a sua origem no Direito Germânico  visa assegurar a
permanência de um património familiar
 Os aspetos estruturais básicos da sucessão mortis causa derivam do Direito Romano 
liberdade testamentária, herdeiros legitimários, proibição da propriedade “ vinculada” etc

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3.3. Sistematização do Código Civil português de 1966 e suas limitações


 O Direito das Sucessões integra uma das divisões do Código Civil, sendo a última divisão
baseada no conceito de relação jurídica
 Crítica: as normas do Direito das Sucessões não regulam uma categoria própria de
relações jurídicas
o MAS, a relação jurídica distingue-se pela sua causa  aquisição de direitos e
deveres com causa na morte

3.4. A relevância do conceito de liberalidade (atribuição patrimonial gratuita)


 Liberalidade: ato jurídico de atribuição patrimonial a título gratuito  não há qualquer tipo de
correspetivo ou vantagem patrimonial
 Um património aumenta de valor, à custa de outro que diminui
 Abrange os atos de disposição, oneração, realização de despesas, remissão de dívidas e
outras atribuições que não envolvam propriamente uma atribuição patrimonial
 Testamento: negócio jurídico unilateral  basta a manifestação de vontade de uma das
partes
o Não há necessidade de aceitação  negócio jurídico vai produzir os seus efeitos,
independentemente do repúdio
 Basta que o de cuius manifeste a sua vontade de forma adequada, através da
criação de um testamento (art. 224º CC)
 Ex: B deve 1.000€ a A, e A faz testamento onde perdoa a dívida de B
 Doação: negócio jurídico bilateral (contrato)  são necessárias duas ou mais declarações
de vontade em sentidos opostos, mas que convergem numa unidade de sentido – passar o
bem do património do doador para o do donatário
 As liberalidades realizadas em vida também têm importância, desde que existam herdeiros
legitimários
 Se forem feitas a herdeiros: têm de ser levadas à colação
 Se forem feitas a terceiros : têm de ser levadas em linha de conta, porque podem ofender a
legítima

II. Princípios do Direito sucessório português


A. Enquadramento constitucional
1. Direito fundamental à propriedade privada e à livre transmissibilidade em vida e por morte (art. 62º
CRP)
 Direito fundamental à propriedade privada  pressuposto do princípio da dignidade da pessoa
humana (art. 1º CRP)
 Direito à livre transmissibilidade em vida ou por morte  pressuposto do direito ao livre
desenvolvimento da personalidade (art. 26º CRP): prevê a possibilidade de se transmitir bens por morte
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2. Relevância da Família como instituição fundamental da sociedade e sua proteção (arts. 36º, 67º CRP)
 A Família é uma instituição fundamental da sociedade, tendo de ser protegida no fenómeno
sucessório
 Solidariedade familiar intergeracional  proteção da continuação do património na família
 Há uma ideia programática de que os pais são responsáveis pelos filhos até à maioridade,
devendo lhes deixar alguma coisa mesmo depois de morrerem
 Além disso, presume-se que uma pessoa, sozinha, não consegue criar um património
autonomamente
 Hoje em dia, já não existe o imposto sucessório (imposto sobre as doações e as sucessões) 
existe, sim, um imposto de selo
 MAS, há uma isenção para os herdeiros legitimários (art. 6º e) CIS): cônjuges,
descendentes, ascendentes e unidos de facto
o Ex: um irmão que recebeu uma herança paga imposto de selo
o Motivo: se tal não acontecesse, o imposto sucessório poderia ser muito injusto
 Ex: A casa com B num regime de comunhão geral de bens. B tem património e A
não. Ao morrer, A vai passar a sua parte do património para B, e este teria de pagar
imposto sobre aquilo que já era seu anteriormente

B. Princípios estruturantes do sistema sucessório português


1. Direito à transmissão por morte e sucessão mortis causa
1.1. A morte como pressuposto da abertura da sucessão
 A morte é a causa do fenómeno sucessório, mas não faz parte do fenómeno em si
 Morte física: as normas de direito sucessório pressupõem, diretamente, a morte natural ou física
 tem o efeito extintivo de fazer cessar a personalidade jurídica das pessoas singulares ou humanas (art.
68º/1 CC)
 As normas à sucessão aberta por morte presumida apenas se aplicam subsidiariamente
(art. 115º, 117º CC)
 Art. 2031º CC: a abertura da sucessão ocorre com a morte do autor da sucessão (o de
cuius)  causa da sucessão
 É um facto jurídico  facto da vida real juridicamente relevante
o Involuntário (exterior ou natural): independente da vontade humana
o Constitutivo de novas relações jurídicas
 Ex: direito ao pagamento de um seguro de vida, direito de indemnização (art. 496º/2,
3 CC)
o Modificativo de relações jurídicas do falecido
 Ex: os bens, direitos e obrigações que não se extingam por morte do seu titular são
objeto de devolução ou transmissão sucessório, abrindo-se a sucessão em relação
aos mesmos
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o Extintivo das relações jurídicas intransmissíveis do falecido (art. 2025º CC) e da sua
personalidade jurídica (art. 68º/1 CC)
 Critério definidor da morte: o critério legal para determinar o momento da morte é a morte
cerebral (arts. 2º, 3º Lei nº 141/99)  ocorrência de lesões irreversíveis no sistema
nervoso central, mesmo que ainda haja atividade respiratória ou cardíaca
o Motivo: é muito importante identificar o exato momento em que a pessoa morreu
 Ex: o fenómeno sucessório é diferente consoante tenha morrido primeiro o pai, o
filho ou a mãe, no caso em que estes tenham morrido ao mesmo tempo
o A declaração da morte tem de ser feita por um médico

Registo da morte
 A morte tem de ser registada: não pode ser invocada pelos herdeiros do de cuius, ou por
terceiros, enquanto não for lavrado o registo do óbito  inatendibilidade e invocabilidade
 Art. 1º/1 p), 2º e 192º e ss. CRC: efeito retroativo dos factos sujeitos a registo
 Arts. 3º, 4º CRC: prova dos factos sujeitos a registo e valor probatório dos factos registado
o Prova da morte:
 Acesso à base de dados do registo civil
 Certidão de morte (arts. 211º, 212º e ss. e 220ºA e ss. CRC)
 O assento de óbito é, normalmente, feito no prazo de 48 horas, com base nas declarações
das pessoas que têm o ónus jurídico de o declarar (arts. 192º, 193º, 203º CRC)
o A omissão dessa declaração é uma contraordenação (arts. 295º, 198º, 98º CRC)
o Arts. 194º e ss. CRC: essas declarações devem ser confirmadas pela apresentação
do certificado médico de óbito
 Art. 195º CRC: caso em que há uma impossibilidade absoluta de comparência
médica
o Art. 201º CRC: no assento de óbito devem constar os requisitos gerais (art. 55º
CRC), os elementos de identificação pessoal do falecido, e a hora, data e lugar de
falecimento ou aparecimento do cadáver
 Elementos importantes em matéria de abertura de sucessão (art. 2031º CC) e de
vocação sucessória (arts. 2032º, 2033º CC)
 Relevância da causa da morte nos casos descritos no artigo 197º CRC 
incapacidade por indignidade sucessória (art. 2034º CC)
o Há casos em que é necessário que se verifique um processo de justificação judicial
do óbito para poder lavrar o registo dos óbitos nos termos do artigo 233º e ss. CRC
(arts. 204º/2 e 3, 207º, 208º CRC)  caso de presunção de morte (art. 68º/3 CC)

Presunção de morte e justificação do óbito


 Presunção de morte (art. 68º/3 CC): a pessoa cujo cadáver não foi encontrado, mas cujo
desaparecimento foi dado em circunstâncias que não permitem duvidar da morte, tem-se por falecida

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 Quando não aparece o cadáver, é necessário realizar um inquérito para presumir que a
pessoa morreu  processo de justificação judicial do óbito
 M. Pinto e R. Capelo de Sousa: se o presumido morto reaparecer, aplicam-se, por
analogia, as regras quanto aos efeitos pessoais e patrimoniais da morte presumida por
ausência (arts. 115º-120º CC)

Morte presumida
 Morte presumida (arts. 114º e ss. CC): ocorre quando determinadas pessoas estão ausentes
sem notícias durante um certo lapso de temo  10 anos ou 5 anos, se a pessoa tiver completado 80 anos
entretanto
 Decorrido este tempo, os interessados (cônjuge, herdeiros) podem requerer a declaração
de morte presumida
 Antes de ser declarada a morte presumida, podem ocorrer duas fases, em que o estatuto
jurídico do ausente é diferente:
o Curadoria provisória (arts. 89º e ss. CC): simples mecanismo de administração de
bens do ausente  se permanecer ausente durante 2 anos, pode tornar-se em
curadoria definitiva
o Curadoria definitiva (arts. 99º e ss. CC): para além dos efeitos da administração de
bens, verifica-se a produção de outros efeitos
 Dr. R. Capelo de Sousa: estão em causa efeitos para-sucessórios
 Pereira Coelho: ainda não há presunção de morte, mas a lei já começa a
preparar a sucessão definitiva, porque se suspeita da morte:
o Arts. 101º, 102º a 104º, 109º, 110º, 112º, 113º CC: ainda não se abriu a
sucessão, mas já se começa a fazer de tudo para isso acontecer
 Efeitos (art. 115º CC): produz os mesmos efeitos que a morte, mas não dissolve o
casamento, sem prejuízo do disposto no artigo 116º CC  o cônjuge do ausente pode
contrair novo casamento, mas se souber que o ausente está vivo, o primeiro casamento
considera-se dissolvido por divórcio
 Entrega dos bens do ausente aos sucessores (arts. 117º, 101º e ss. CC)
 Regresso do ausente (art. 119º CC): o património é lhe devolvido no estado em que se
encontrar (ex nunc)  vocação resolúvel

Presunção de comoriência
 Presunção de comoriência: caso em que há morte simultânea de várias pessoas, ou em
momentos tão próximos que não é possível determinar a sua ordem cronológica  para a produção de
certos efeitos jurídicos, exige-se a sobrevivência de uma das pessoas em relação à outra
 A prova do momento da morte pode-se fazer por todos os meios possíveis: prova
documental, pericial, testemunhal, por inspeção e presunções judiciais (arts. 349º/351º
CC), nos casos em que estas são admitidas (arts. 392º, 393º, 395º, 396º CC)

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o MAS, pode haver casos em que não é produzida prova suficiente, há contradição
probatória ou as presunções judiciais não convencem o julgador (arts. 346º, 396º CC)
 aplica-se a presunção de comoriência (art. 68º/2 CC): quando certo efeito jurídico
depender da sobrevivência de uma outra pessoa presume-se, em caso de dúvida,
que ambas faleceram ao mesmo tempo
 Ex: pai e filho morrem no mesmo acidente de carro
o Presumindo que faleceram ao mesmo tempo, não se verifica o
pressuposto da sobrevivência na vocação sucessória (arts. 2032º/1,
2033º CC) não há sucessão entre quem é aplicada a presunção
porque, para ser herdeiro, tem de se encontrar vivo no momento da
abertura da sucessão
 Ex: A faz testamento a favor de B, vindo os dois a falecer no mesmo acidente de
automóvel, sem ser possível provar quem faleceu primeiro  é diferente considerar
a pré-morte de A ou de B
o Se A morre antes de B  B é chamado à sucessão de A, podendo B aceitar
ou repudiar a herança (art. 2058º CC)
o Se B morre antes de A  como B não tem descendentes, a disposição
testamentária caduca (art. 2317º/1 a) CC), sendo chamado à sucessão os
herdeiros legítimos de A (arts. 2131º e ss. CC)
 Ex 2: C é casado com D. Têm um filho A, que é casado com B, e que por sua vez
têm um filho E. Num acidente de automóvel, A e E falecerem, sendo que A e E
deixaram uma herança de 15.000€ cada. Não foi possível provar o momento da
morte de cada um, aplicando-se a presunção de comoriência
o Em relação à herança de A  princípio da preferência de classes (arts.
2142º e ss. CC): B vai receber 2/3 da herança (10.000€) e C e D vão receber
1/3 da herança (2.500€ cada)
o Em relação à herança de E  B vai ser chamado para receber a totalidade
da herança (15.000€), uma vez que A morreu ao mesmo tempo que E, não
sendo chamado
o Conclusão: B recebe 25.000€ e C e D recebem 2.500€ cada

1.2. Conceito de sucessão mortis causa


 O conceito de sucessão é amplo  abrange a sucessão inter vivos e a sucessão mortis causa
 Sucessão inter vivos: os efeitos do ato ou negócio jurídico, ou a modificação subjetiva da
relação jurídica, produzem-se ainda em vida do anterior titular da relação
o Ex: cessão de créditos, assunção de dívida, cessão da posição contratual, compra e
venda
 Sucessão mortis causa: a morte é a causa da sucessão  a produção de efeitos ou a
modificação subjetiva da relação jurídica só se verificam após a morte do anterior titular da
relação

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 MAS, por vezes é difícil estabelecer uma fronteira entre ambos os tipos de sucessão  é o
caso das doações em que são estipuladas certas cláusulas
o Ex: A doou um prédio urbano ao seu filho B, por conta da legítima, e com o encargo de
este lhe pagar até à sua morte, a pensão mensal de 5.000€  o Prof considera que
estamos perante uma doação inter vivos, produzindo efeitos entre vivos  a morte de A
nada altera
o Critérios de distinção:
 Doações em vida: doação produz imediatamente os seus efeitos, apesar de
poderem ficar condicionados à morte do doador ou diferidos para a data da
morte dele  em princípio, é irrevogável
 Doação por morte: a morte do doador é a causa da transmissão dos bens
doados  durante a vida do doador, o donatário não tem qualquer direito
sobre os bens doados

Sucessão e transmissão
 O direito das sucessões visa assegurar a continuidade das relações jurídicas em que o de cuius
é parte
 Com o fenómeno sucessório, há uma modificação subjetiva dessas relações: o sucessor
assume, numa relação jurídica pré-existente, a mesma posição jurídica que era ocupada anteriormente
pelo de cuius
 Sucessão: fenómeno jurídico através do qual se verifica a substituição do sucessor em
determinada posição jurídica que o autor da sucessão ocupava  essa posição jurídica
mantém-se a mesma, apenas se alterando subjetivamente
 Transmissão: fenómeno jurídico através do qual se adquire e se transmite um direito já
constituído  há uma mera transferência, em que os sujeitos se mantêm os mesmos,
alterando-se a titularidade dos direitos
 Esta distinção é importante para distinguir as figuras do herdeiro e do legatário:
o Herdeiro: sucessor pessoal do de cuius  sucessor a título universal: direito a toda
a herança
o Legatário: sucessor chamado apenas em certos bens, excluindo os restantes 
sucessor a título particular
 Modalidades de aquisição:
 Originária: o direito do adquirente é considerado um direito novo, que não depende do
direito do anterior titular  não há sucessão
o Ex: usucapião (arts. 1287º e ss. CC)
 Derivada:
o Constitutiva: na constituição de uma servidão ou de um usufruto, o direito adquirido,
apesar de fundado num direito do anterior titular, ainda não existia como direito
autónomo na sua esfera jurídica

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o Restitutiva: o titular de um direito real menor ou limitado (usucapião, servidão)


renuncia ao seu direito, extinguindo-se  o anterior titular do direito vê restituído o
seu pleno direito de propriedade, devido à sua elasticidade
o Translativa: o direito adquirido é o mesmo direito que pertencia ao anterior titular 
corresponde ao fenómeno de sucessão

Sucessão mortis causa


 Sucessão por morte (art. 2024º CC): chamamento de uma ou mais pessoa à titularidade das
relações jurídicas patrimoniais de uma pessoa falecida, e a consequente devolução que pertenciam a esta
 Galvão Telles e Capelo de Sousa criticam esta noção
o Restringe o conceito de sucessão à sucessão mortis causa, não regulando
devidamente a situação de sucessão inter vivos (arts. 1057º, 1058º, 1256º, 2128º
CC)
o Não abarca todo o fenómeno sucessório  deixa de fora momentos como a
abertura da sucessão, aceitação, inquisição, etc
o Dúvida em saber se há ou não sucessão em diversas normas que se referem à
ideia de “transmissão” e “aquisição por morte” (ex: arts. 412º/1, 420º, 496º/2, 976º/2
CC)
o Contradição com os critérios de fixação do objeto da sucessão  art. 2024º CC: só
são transmissíveis as relações jurídicas patrimoniais
 MAS, de acordo com o artigo 2025º CC, o objeto da sucessão são as
relações jurídicas que não se extinguem por morte do respetivo titular 
questão em saber se há direitos pessoas transmissíveis por sucessão ou
não
 Conceito doutrinal de sucessão por morte – Dr. Carvalho Fernandes : aquisição por uma ou
mais pessoas, a título gratuito, como liberalidade, de direitos e vinculações que integram o
património de uma pessoa falecida, ou que nele se fundam, e que não se extinguem por
efeito da sua morte

1.3. A morte como causa ou concausa de aquisição de bens


 Para se aplicar o regime jurídico da sucessão mortis causa, é necessário que morte seja causa
ou concausa da relação jurídica de devolução de bens, ou de mudança da titularidade de direitos sobre
tais bens
 Concausa: morte é causa juntamente com a lei ou a vontade do autor da sucessão

Conceitos preliminares
 A sucessão é constituída por 3 momentos, interligados entre si:

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 Designação sucessória: determinação, em vida do autor da sucessão, das pessoas que


podem vir a suceder-lhe quando este morrer  pode ocorrer por lei ou por vontade do
autor da sucessão
 Vocação sucessória: chamamento dos sucessíveis, previamente designados, à sucessão
do de cuius, no momento da sua morte
 Devolução sucessória: atribuição ao sucessível da posição jurídica em relação aos direitos
e deveres em que este é chamado a suceder
 Quota indisponível ou legítima: porção de bens (arts. 2158º-2161º CC) de que o autor da
sucessão não pode dispor, porque está destinada aos herdeiros legitimários (cônjuge, descendentes e
ascendentes)  sucessão legitimária
 Os poderes do autor da sucessão são limitados  está impedido de praticar atos que
prejudiquem a legítima
 Legítima objetiva: porção global, reservada a todos os herdeiros legitimários
 Legítima subjetiva: porção individual de cada um dos herdeiros
 Legitimidade para arguir a simulação (art. 242º/2 CC): os herdeiros legitimários têm
legitimidade para arguir a simulação dos atos que prejudiquem a legítima dos herdeiros
legitimários
o Simulação fraudulenta: tem o intuito de enganar e prejudicar
o Ex: vender uma casa de 1M€ por 500€  não se pode praticar atos simulatórios com
intuito de prejudicar os herdeiros legitimários
 Quota disponível: porção de bens do património do autor da sucessão que este pode dispor a
favor de quem entender  se não houver testamento do autor da sucessão, a própria lei vai determinar a
distribuição do património do de cuius
 MAS, há situações de indisponibilidade relativa dos testamentos
o Ex: não se pode dispor em relação aos médicos que trataram na fase final da vida, aos
padres, às pessoas com quem cometeram adultério

Espécies ou tipos de sucessão mortis causa


 Critério do título/fonte de vocação sucessória (art. 2026º CC): lei, testamento ou contrato
 Sucessão legal: é deferida por lei (art. 2027º CC)
o Legítima: regime supletivo  pode ser afastado por vontade do autor da sucessão
o Legitimária: regime imperativo  não pode ser afastado por vontade do autor da
sucessão
 Sucessão voluntária: deferida por vontade do autor da sucessão
o Testamentária: decorre do testamento  negócio jurídico unilateral
o Contratual: decorre de um contrato  negócio jurídico bilateral (art. 2028º CC)
 Coexistência de diversos tipos de sucessão:
 São chamadas à sucessão diversas pessoas, com títulos de vocação sucessória diferentes

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o Ex: A morre, sendo chamados à sucessão A como herdeiro legitimário, C como herdeiro
testamentário, e D como herdeiro contratual
 A vocação sucessória de uma pessoa pode realizar-se por vários títulos
o Ex: A morre sendo chamados à sucessão B seu filho, como herdeiro legitimário e como
herdeiro legítimo, se A não deixou testamento
 Hierarquia das designações sucessórias
o 1. Sucessão legitimária: imperativa, não podendo ser afastada
 Dentro desta sucessão também há uma hierarquia: princípio da preferência
de classes  cônjuges e descendentes, e só depois os ascendentes
o 2. Sucessão contratual: contrato à partida irrevogável  a expetativa da aquisição
sucessória é superior
o 3. Sucessão testamentária: prevalece sobre a sucessão legítima porque esta última
é supletiva
o 4. Sucessão legítima: supletiva

Consistência das designações sucessórias


 Sucessão legitimária:
 Há uma expetativa juridicamente tutelada dos herdeiros legitimários em relação à legítima,
por vários instrumentos jurídicos:
o Redução das liberalidades por inoficiosidade que ofendam a legítima (arts. 2168º e
ss., 1759º CC, 1705º/3 CC)  apenas após a morte do de cuius (art. 2162º CC)
 Ex: A morre e tem como herdeiros legitimários B e C, mas deixa os seus bens
em testamento a D e E  B e C podem requerer que aquilo que foi deixado a D
e E seja reduzido na devida proporção, de modo a não prejudicar a sua quota
legitimária
o Possibilidade de arguição pelos herdeiros legitimários, ainda em vida do de cuius,
da nulidade dos negócios simulados realizados com o intuito de os prejudicar (art.
242º/2 CC)
o Possibilidade de os herdeiros legitimários, em vida do de cuius, requererem a
inabilitação por habitual prodigalidade do de cuius (arts. 152º, 154º, 141º CC)
 Ex: quando o autor da sucessão se dissipe, inadvertidamente, do seu património
 Está em causa uma expetativa juridicamente tutelada, e não um direito subjetivo dos
herdeiros legitimários à legítima porque:
o A posse dos bens da herança apenas se adquire com a aceitação, que só acorre
após a morte do de cuius e abertura da sucessão  MAS, os seus efeitos
retroagem ao momento da morte (art. 2031º, 2050º CC)
o A designação sucessória apenas se consolida no momento de abertura da
sucessão  até esse momento, entre a designação e a vocação, podem ocorrem
várias alterações que afetem a prevalência da designação sucessória e a vocação

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 Ex: surgimento de novos herdeiros legitimários, morte ou incapacidade dos


designados
o Não há qualquer garantia de que os herdeiros legitimários venham a receber a sua
legítima
 Ex: o de cuius contrai dívidas que afetam todo o seu património
 Sucessão contratual: há á uma expetativa juridicamente tutelada dos designados a título de
sucessores contratuais (herdeiros ou legatários)
 Os sucessíveis não têm um direito subjetivo porque as doações mortis causa apenas
produzem efeitos após a morte doador
 Esta expetativa é assegurada através de diversos instrumentos jurídicos  permitem aos
sucessores contratuais se oporem a atos do doador que violem a eficácia, irrevogabilidade
e imutabilidade das doações
o Imperatividade das normas jurídica que tutelam a posição jurídica dos donatários 
nulidade de todos os atos ou negócios jurídicos praticados contra elas (art. 294º
CC)
o As doações mortis causa são, em princípio, irrevogáveis depois da sua aceitação
(arts. 1701º/1, 1705º/1, 406º/1, 975º a) CC)
o No caso da instituição contratual de herdeiro de doações, o doador pode dispor de
bens certos e determinados que se integram na doação, desde que não seja a título
gratuito  não pode realizar doações sobre os mesmos bens (arts. 1701º/1, 1705º/
1 CC)
 Quando há nomeação de legatário, os bens não podem ser doados nem a
título oneroso
 A designação sucessória contratual pode ficar sem efeito por:
o Caducidade  caduca por morte anterior do donatário em relação ao doador (arts.
1703º/1, 1705º/4 CC)
o Ineficácia  a doação mortis causa de esposados a terceiros é ineficaz no caso de
caducidade da convenção antenupcial
 Sucessão testamentária: os testamentários (herdeiros ou legatários) apenas têm uma mera
expetativa ou esperança de facto de virem a adquirir os bens da herança
 O testador pode, a todo o tempo, alterar ou revogar o testamento e a designação
testamentária, e pode instituir novos herdeiros ou nomear novos legatários (arts. 2179º/1,
2311º e ss. CC)  é irrevogável
 O artigo 2317º CC contém um elenco exemplificativo de casos de caducidade das
disposições testamentárias
 Se houver sucessíveis legitimários ou contratuais, essas designações prevalecem sobre a
designação testamentária quando são incompatíveis
o MAS, pontualmente, a lei confere uma certa proteção jurídica:

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 Arguição da nulidade ou anulabilidade do testamento (arts. 2308º e ss., 286º


e ss. CC)
o Ex: A altera o seu testamento e B, herdeiro testamentário, privado dos bens
que lhe tinha deixado, pode arguir a anulabilidade do testamento, invocando,
por exemplo, a coação
 Requerimento de curadoria provisória e definitiva (arts. 91º, 92º, 100º, 104º
CC)
 Sucessão legítima: os designados legítimos apenas têm uma mera expetativa ou esperança de
facto de virem a adquirir os bens da herança:
 Os sucessíveis legítimos apenas são chamados à sucessão se ou de cuius não tiver
disposto de todos os bens de que podia dispor, de forma válida e eficaz (art. 2131º CC)
 O de cuius pode afastar sucessíveis legítimos ou alterar a ordem da sucessão, por
testamento ou contrato
 Podem surgir novos herdeiros legitimários ou legítimos dotados de preferência legal, ou
alguns desses herdeiros deixarem de o ser, e a lei pode ainda sofrer alterações que
modifiquem a ordem de preferência dos sucessíveis legítimos
o MAS, a lei concede a mesma proteção que concede aos herdeiros testamentários

Momento de fixação da prevalência das designações sucessórias


 Até ao momento da morte, o escalonamento dos designados sucessórios é extremamente
instável:
 Em relação às designações legais (legitimária e legítima)  podem surgir novos
sucessíveis (ex: casamento, nascimento) , desaparecerem sucessíveis existentes (ex: morte,
indignidade), dissipação do património etc
 Em relação ás designações voluntárias (contratuais e testamentárias)  pode haver
instituição de novos herdeiros ou nomeação de novos legatários contratuais e
testamentários etc
 Em ambos os casos, a lei pode ser alterada, alterando a hierarquia das designações
sucessórias
 Assim, a fixação da prevalência sucessória apenas ocorre no momento da abertura da sucessão
(arts. 2031º, 2032º CC)
 É no momento da morte que se determina as pessoas que vão ser chamadas à titularidade
das relações jurídicas do de cuius, e que se determina qual o grau hierárquico em que cada
uma dessas pessoas figura

A abertura da sucessão
 Com a morte, a personalidade jurídica e a capacidade jurídica extinguem-se, pelo que já não é
possível ser titular de relações jurídicas. MAS, as relações jurídicas de que o de cuius era titular e que não
se extingam pela sua morte (art. 2025º CC) passam para os seus sucessíveis, que ocupam a posição
jurídica do de cuius
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 Conceito: a abertura da sucessão é o inicio jurídico do fenómeno sucessório tendente à


devolução sucessória das relações jurídicas transmissíveis do de cuius  é o momento em que se inicia a
transmissão dessas relações jurídicas para os seus sucessíveis
 A sucessão abre-se no momento da morte e só com a aceitação e a aquisição sucessórias é
que o fenómeno sucessório se consolida
 Momento da abertura da sucessão: momento da morte do seu autor (art. 2031º, 1ª parte CC)
 Aberta a sucessão, serão chamados à titularidade das relações jurídicas do de cuius
aqueles que gozam de prioridade na hierarquia dos sucessíveis, desde que tenham a
necessária existência e capacidade jurídicas – vocação sucessória
o Mesmo que esta vocação aconteça mais tarde, retroage ao momento da abertura
da sucessão (art. 2032º/2 CC)
o É no momento da abertura da sucessão que os pressupostos da vocação
sucessória devem estar preenchidos:
 Titularidade de designação jurídica prevalente
 Existência ou personalidade jurídica do chamado
 Capacidade sucessória
 É neste momento que a designação sucessória se fixa e se consolida na vocação
sucessória, com o chamamento dos sucessíveis
 A aceitação ou o repúdio da herança ou do legado retroage os seus efeitos ao momento da
abertura da sucessão (arts. 2050º/2, 2062º e 2249º CC)
o A partilha também retroage os seus efeitos porque, havendo vários herdeiros e feita
a partilha, cada um dos herdeiros é considerado, desde a abertura da sucessão,
sucessor único dos bens que lhe foram atribuídos – art. 2119º CC
 É pela lei vigente no momento da abertura da sucessão que se regulará, em princípio,
todas as questões atinentes ao fenómeno sucessório
o Ex: requisitos formais e substanciais relativos à elaboração do testamento ou de pacto
sucessório: lei em vigor no momento da prática do facto
 Após a abertura da sucessão, os sucessíveis que a tenham aceitado podem celebrar atos
de alienação da herança ou do legado (arts. 2124º e ss. CC), ou repudiá-los (arts. 2062º e
ss. CC e 2249º CC)
 Outros efeitos relevantes: arts. 2162º/1 e 2109º/1 CC, 2104º/1 e 2108º/1 CC; 2242º/1 CC
 Lugar de abertura da sucessão: lugar do último domicilio do autor da sucessão ( lugar onde
ocorreu a morte) – art. 2031º, 2ª parte CC
 Arts. 82º e ss. CC: define “domicilio”
 Importância: determinação da competência de certas entidades no decurso do fenómeno
sucessório:
o Tribunal onde vai proceder o processo de aceitação ou repúdio da herança (arts.
1039º CPC e 2049º CC)
o Etc.

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1.4. Objeto da sucessão


 Nem todas as relações jurídicas em que as pessoas participam são objeto de sucessão/
transmissíveis por morte
 Razões:
 Natureza incompatível  relações jurídicas pessoais (ex: casamento, paternidade,
parentesco, etc.)
 Decisão do legislador  a própria lei prevê que acabam com a morte do seu titular (ex:
usufruto, uso e habitação, arrendamento, etc.)
 Direitos renunciáveis: a pessoa pode renunciar a esse direito mortis causa (ex: dívida)
o A renúncia não é considerada uma doação (art. 940º CC), pelo que não integra a
conta do cálculo da herança
 Exceções: direitos não patrimoniais transmissíveis:
 Direito potestativo de invalidação de um negócio jurídico (seja por nulidade ou
anulabilidade) – ex: art. 125º/1, al. c) CC
 Direitos de autor
 Direito de revogar a doação por ingratidão (art. 976º/3 CC)
 Direito de investigar a maternidade e a paternidade (arts. 1818º e 1873º CC)
 Posição de parte num processo judicial (arts. 371º e 376º CPC)
 Transmissibilidade do dano da morte
 Está em causa saber se a perda da vida deve dar lugar, ou não, a uma indemnização
 Este dano deve ser indemnizado?
o Inicialmente: não
 Argumentos contra:
 Se este dano não fosse indemnizável, estar-se-ia a premiar o lesante
 seria muito mais caro, para o lesante, que a pessoa continuasse
viva do que se morresse
 Se os vários danos morais são indemnizados (ex: perda de uma perna,
etc.), o dano maior que alguém pode sofrer, a vida, também deve dar
lugar a uma indemnização
 Quem tem direito a receber a indemnização?
o Galvão Teles: pessoas estabelecidas de acordo com o direito sucessório  os
sucessíveis legais/ voluntários
o No entanto, com a entrada em vigor do novo Código Civil, surgiu uma norma que
prevê um mecanismo próprio (art. 496º CC), pelo que a doutrina maioritária defende
que quem tem o direito são as pessoas estabelecidas neste artigo
 Qual é a natureza jurídica deste direito?
o A maior parte da doutrina (Dr. Pereira Coelho, prof. Galvão Teles, Carvalho
Fernandes) recusa a transmissão sucessória através do argumento de que a morte
extingue a personalidade jurídica, pelo que já não se adquire um direito  o direito

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pelo dano da morte é adquirido originariamente pelos sucessores do de cuius, a


título obrigacional
o Prof. Leite Campos: trata-se de um direito transmissível por sucessão (aquisição
derivada), porque:
 Os direitos de personalidade não podem ser violados e são protegidos,
mesmo após a morte do seu titular
 Um dos danos que a nossa lei pacificamente aceita é a indemnização por
danos futuros  a morte é um processo, pelo que a pessoa adquire o direito à
indemnização pelos danos que está a sofrer, e pelos que vai sofrer no futuro
(a morte), no momento em que começa a sofrer os danos
 Isto tem diferentes implicações práticas:
o Comparação entre a lista dos herdeiros legais (art. 2133º CC) com a lista do art.
496º/2 CC:
 Art. 2133º CC: cônjuge + descendentes; cônjuge + ascendentes; irmãos +
descendentes; outros colaterais; Estado
 Art. 496º/2 CC: cônjuge + descendentes; cônjuge; irmãos e sobrinhos; Estado
o A capacidade sucessória faz parte da capacidade de gozo
 Quanto às causas de indignidade e deserdação:
 Se estivermos perante um direito obrigacional: mesmo as pessoas que
sejam deserdadas vão poder receber a indemnização pelo dano da
morte (porque não tem nada a ver com a sucessão)
 Se estivermos perante um direito transmissível mortis causa: as
causas de indignidade decorrem da lei e não dependem da vontade do
falecido, MAS, não duram para sempre
o Ex: se o pai deixar o perdão no testamento, então o filho que o
tentou matar deixa de estar sujeito a uma causa de indignidade
o “Irmãos ou sobrinhos que os representem” (art. 496º/2 CC)  refere-se ao direito
de representação
 Se uma pessoa não quiser aceitar a herança, mas tiver descendentes, então
estes podem representá-lo na herança
 Ex: A morre em 2017 e tinha dois filhos, B e C. B morreu em 2012 e tinha
um filho, D. Quando A morre, estão vivos C e D  a herança vai ser
dividida em partes iguais entre C e D, que representa B
 Problema: o art. 496º/2 CC faz parecer que o instituto da representação só
funciona se os titulares do dano da morte forem irmãos ou sobrinhos, o que
não acontece, uma vez que este direito também se aplica aos descendentes:
 De acordo com a maior parte da doutrina, o art. 496º/2 CC não é uma
norma sucessória  o direito de representação é um instituto que só
existe no Direito das Sucessões

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1.5. Os sucessíveis
 Designação sucessória: consiste no ato de identificar as pessoas que estão indicadas como
sucessores do autor da sucessão
 Há várias espécies de sucessões (legal e voluntária)
o Sucessíveis legais e voluntários: enquanto a pessoa estiver viva, os sucessíveis
legais estão sempre a mudar (ex: casamento, divórcio, filhos, etc.). O mesmo
acontece relativamente aos sucessíveis voluntários, uma vez que o testamento é
um negócio livremente revogável a todo o tempo
 Assim, a designação sucessória fixa-se no momento da morte do de cuius 
aquilo que era uma designação torna-se em chamamento, ou seja, em
vocação sucessória
 A designação sucessória NÃO tem sempre a mesma força:
 1º. Herdeiros legitimários: designação mais forte e mais consistente, pois os herdeiros
legitimários baseiam-se em normas imperativas
 2º. Sucessíveis contratuais: a lei admite que haja contratos sucessórios, em casos muito
especiais, sendo que têm sempre de ser cumpridos
 3º. Sucessíveis testamentários: o testamento é livremente revogável e, por isso, o autor do
testamento pode sempre mudar de ideias enquanto estiver vivo
 4º. Herdeiros legítimos: está em causa uma sucessão que se baseia em normas supletivas,
ou seja, se outra não for a vontade do autor da sucessão, estes herdeiros são chamados

Sucessão contratual: em princípio, não é permitido fazer contratos sucessórios. MAS; em casos
especialmente previstos na lei, é permitido (ex: convenções antenupciais)  perante um contrato
sucessório válido, este prevalece sempre face ao testamento
 1ª hipótese: o contrato foi feito primeiro (2015) que o testamento (2016) e o conteúdo dos dois é o
mesmo, mas a favor de pessoas diferentes  prevalece o contrato
 Os contratos têm de ser pontualmente cumpridos (art. 406º CC), ou seja, mesmo que tenha
sido celebrado anteriormente, as partes acordaram aquilo que lá estava estabelecido, pelo
que também será necessário o acordo para desfazer o contrato
o O testamento não vai ser oponível ao contrato
 2ª hipótese: o contrato surgiu em 2016 e o testamento em 2015  os testamentos são livremente
revogáveis e, por isso, entende-se que, tendo celebrado um contrato sucessório com o mesmo conteúdo,
revogou-se tacitamente o testamento
 3ª hipótese: se estivermos perante dois testamentos, sendo incompatíveis, prevalece sempre a
última vontade, ou seja, o testamento mais recente
 4ª hipótese: se estivermos perante vários contratos sucessórios, como estes não podem ser
unilateralmente revogáveis, vai prevalecer sempre o contrato que foi feito em primeiro lugar

1.6. Os sucessores e a sua qualificação


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 Há dois tipos de sucessores: os herdeiros e os legatários (art. 2030º CC). O critério de distinção
entre ambos baseia-se na determinação ou indeterminação dos bens da herança a que o sucessor é
chamado:

 Herdeiro: chamamento do sucessor à totalidade ou a uma quota-parte do património do


falecido:
o ‘’Remanescente’’: corresponde àquilo que sobra. Os legatários recebem bens
especificados, e, por isso, estes bens especificados não vão poder cair na esfera
jurídica do herdeiro. Assim, o remanescente da herança é aquilo que resta da
herança, depois de ser feita a entrega aos legatários;
 Legatário: atribuição, por morte, de bens ou valores determinados, existentes no momento
do partilha (ex. biblioteca, prédio de habitação, automóvel, etc.)
o Prof. Correia de Matos não concorda com a noção: É aquele que sucede em bens
determinados ou determináveis, com exclusão de todos os outros bens da herança
 O prof. entende que em vez de “determinados” deveria estar escrito
“determináveis”;
 Ex. No testamento diz ‘’deixo um automóvel ao B’’, sendo que no património
existem dois (um azul e um vermelho). Só no momento da partilha é que o bem
vai ser determinado, isto é, B vai escolher o vermelho ou o azul;
o O art. 2030º/4 CC comprova o que acabámos de dizer  ex: O falecido, não
havendo quota indisponível, deixa o usufruto de todos os seus bens ao B. O B é
usufrutuário de todos os bens. Há algo que o B nunca possa receber da herança do
falecido? – sim, a propriedade de raiz não é para o B;
o Art. 2030º/5 CC: esta distinção legal baseia-se numa norma imperativa - Ex. Se o
falecido disser que B é herdeiro, ao dizer que ele é usufrutuário de todos os seus
bens, faz com que B na verdade seja legatário. Inversamente, se o testador deixar
10% ao B e chamar-lhe no testamento de legatário, não significa que ele não seja
herdeiro  a qualificação que dá pelo testador não releva, o que releva é a análise
que se faz mediante estas normas;

 Importância prática da distinção: O regime jurídico é diferente consoante se trata de herdeiros ou


legatários;

 Direito de exigir a partilha (Regra-geral – art. 2101º CC): a partilha é algo exclusivo dos
herdeiros e dos cônjuges meeiros, por isso, os legatários não têm nada a ver com a partilha.
De certa maneira o legatário é como se fosse um credor da herança, porque ele tem direito
a bens certos e especificados;
o “Cônjuge meeiro’’: Meeiro significa metade  Esta expressão diz respeito aos
casamentos no regime da comunhão geral de bens ou de comunhão de
adquiridos: O cônjuge casado em separação de bens não pode exigir a partilha,
uma vez que, se os bens forem comuns, presume-se que são em regime de
compropriedade;
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o Exceção: Caso do usufrutuário  Quanto mais bens e valores fizerem parte da


herança, mais objetos são abrangidos pelo usufruto. Este legatário deve ser
equiparado ao herdeiro para efeitos do art. 2101º CC, ou seja, no que toca a exigir
a partilha. Se o testamento especificar sobre aquilo que incide o usufruto, então
esta exceção já não se verifica
 Quem é responsável pelo pagamento das dívidas da herança?  São os herdeiros e não
os legatários (art. 2068º CC);
o Dívidas do legado: Se são dívidas que nasceram quando o autor da sucessão
estava vivo, então trata-se de dívidas da herança, no entanto, nada impede o
testador de no testamento ter imposto certa condição de pagamento da dívida em
causa – ex: ‘’legatário fica com esta casa desde que se comprometa a pagar o IMI em
atraso’’;
 Ex: A casa que ficou para o legatário está como garantia de um crédito de
empréstimo que o falecido tinha ficado de pagar. Quem tem de pagar a
dívida do empréstimo são os herdeiros, sendo que se estes não pagarem,
então, o banco pode executar a casa, ficando, no limite, o legatário sem
nada;
o Duas formas de aceitar a herança:
 Aceitação pura e simples: herdeiro vai ter de provar em tribunal que os
bens da herança não foram suficientes para pagar a dívida aos credores
 Podem ser obrigados a pagar do seu bolso, visto que não têm como
provar que a herança estava insolvente e que não tinham bens
suficientes para pagar a totalidade da dívida aos credores;
 Aceitação a benefício de inventário: se o herdeiro desconfiar da
insolvência da herança (mais dívidas do que bens, pode requerer que se
abre um inventário ( lista dos ativos e passivos da herança)  Herdeiro
está protegido, porque sabe todos os bens que compõem a herança. O
máximo que lhe pode acontecer, no caso de dívidas, é perder todos os
bens da herança. Funciona como uma prova que os bens da herança não
dão para pagar as dívidas;
 Cabe aos credores provar que há mais bens para além daqueles
descritos no inventário  ónus da prova recai sobre os credores;
o No caso das heranças que não tem herdeiros (é toda distribuída em legados)  os
responsáveis pelo pagamento das dívidas da herança são os legatários.
 Neste caso, a responsabilidade pelas dívidas da herança, aos credores, é
conjunta  proporcional ao valor do legado  Se forem os herdeiros a
responder pelas dívidas da herança, esta responsabilidade é solidária;
o Notas:
 Os herdeiros são responsáveis pelos legados;

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 Mas, os herdeiros dão prevalência ao pagamento das dívidas da herança, o


que significa que, em primeira linha, os herdeiros satisfazem o interesse dos
credores, apenas depois é que satisfazem o interesse dos legatários;
 Direito de acrescer
o Tem o mesmo fundamento que o direito de representação: quando um sucessível
não queira/ possa aceitar a herança ou o legado;
 “Não poder”: sucessor que já morreu, não tem capacidade (indignidade ou
deserdação);
 “Não querer”: repudiar a herança;
o Para haver direito de representação, tem de haver descendentes  Para haver direito
de acrescer, têm de existir co-sucessíveis da mesma espécie ( sucessíveis que são
chamados à mesma herança ou ao mesmo legado)
 Havendo vários chamados à mesma quota, e um deles não poder/ querer
aceitar a herança, essa quota-parte será acrescida à quota dos restantes 
se houver descendentes  estes podem exercer o direito de representação
o O direito de acrescer existe não só para herdeiros, como também para legatários. No
entanto, o legatário está limitado ao seu legado, não beneficia do legado dos outros
 Possibilidade do autor da sucessão fazer depender o chamamento dos sucessíveis do
preenchimento de um termo ou uma condição
o A condição e o termo são ambos eventos futuros, mas a verificação da condição não
é certa, enquanto a do termo é
 Condição (arts. 2229º e ss. CC)
 O testador pode sujeitar a instituição do herdeiro ou a nomeação de
legatário a condição suspensiva ou resolutiva, com as limitações dos
artigos seguintes
 Termo (arts. 2243º e ss. CC)
 O testador pode sujeitar a nomeação do legatário a termo inicial; mas
este apenas suspende a execução da disposição, não impedindo que
o nomeado adquira o direito ao legado
 No caso do chamamento do herdeiro, a lei não permite que haja
herdeiros a termo  proibição absoluta. Quanto ao legatário, a lei
admite que haja legatários a termo inicial, todavia, o termo final, é, em
principio, proibido, a não ser que estejam em causa direitos
temporários (ex. usufruto)
 Direito de preferência entre os vários sucessíveis na alienação (art. 2130º/1 CC)
o No caso do legatário, como o seu objeto é limitado, a partir do momento que o aceite,
o legatário pode fazer o que quiser e não existe direito de preferência na alienação

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 Exceção: se existirem co-legatários, então são comproprietários, pelo que aí


existe direito de preferência legal, mas que resulta do direito de
compropriedade e não da herança/ legado;
o No caso dos herdeiros, se quiserem alienar a sua parte da herança, os outros têm
direito de preferência. Mas estamos numa fase em que ainda não houve partilha
 Defesa dos direitos do de cuius
o Art. 71º CC: podem ser pedidas medidas ao tribunal para fazer cessar a violação
destes direitos. Quem tem legitimidade para pedir ao tribunal essas medidas são os
herdeiros e não os legatários

 Herdeiro ex re certa – de coisa certa:


 O herdeiro não sabe o que lhe vai caber na herança  a herança é indeterminada  O
objeto do legado incide sobre bens certos e determinados
 Se no testamento, o testador mistura a classificação de herdeiro e legatário a favor da
mesma pessoa  Ficamos sem saber se este quer instituir um herdeiro ou um legatário;
o Ex. A deixa a B 10% dos seus bens, constituídos pelos imóveis que tem no Porto. 
Temos de perceber qual é realmente a vontade do testador:
 Se A pretende que B receba 10% dos seus bens  herdeiro
 Se A pretendia que B recebesse todos os imóveis que A tem no Porto 
legatário;
o a) os bens de A valem 1M€ e os imóveis que A tinha na cidade do Porto valem 120.000€.
B recebe 10% (100 mil €) ou os 120 mil € dos imóveis?  Pode haver formas de
descobrir isto (através de conversas, cartas, etc.). Se B receber os 10% da herança, só
pode receber 100 mil €, pelo que, se quiser ficar com as casas, tem de devolver a
diferença da herança (20 mil €). Se B receber os imóveis, é legatário, ficando limitado ao
legado (120 mil €);
o b) os imóveis do Porto valem 80 mil €. Se B receber 10% da herança, recebe os 80.000€
dos imóveis + 20.000€ (= 100.000€). Se B receber os imóveis, é legatário, pelo que fica
limitado ao legado (80.000€ em imóveis).

1.7. A legitimação sucessória. Vocação sucessória

 Chamamento à sucessão: o chamamento, normalmente, ocorre na altura em que a pessoa


morre  abre-se a sucessão e chamam-se os sucessíveis

 O normal é que seja uma vocação inicial: chamamento que se dá na altura da sucessão
o É um chamamento virtual  ocorre automaticamente por força da lei
 MAS, há casos em que a vocação não acontece na altura da sucessão  vocação
subsequente

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o Ex1: quando se dá o chamamento, o chamado tem de responder (aceitar ou repudiar)


dentro de 10 anos – pode acontecer que, passados vários anos, o chamado recuse a
herança, tendo de se chamar o sucessível seguinte
o Ex2: pode acontecer que a verificação da incapacidade sucessória (indignidade e
deserdação) ocorra depois da abertura da herança, pelo que tem de se chamar o
sucessível seguinte
 Vocação diferida: vocação adiada

 Para uma pessoa ser chamada à sucessão tem de preencher determinados requisitos:

 Morte
 Art. 2032º/1 CC  são pressupostos cumulativos e de verificação simultânea (têm de estar
todos preenchidos ao mesmo tempo) e, além disso, são gerais a qualquer tipo de
sucessão:
o Titularidade, pelo chamado, de designação sucessória prevalente (no momento da
morte)  aquele que tiver prioridade na hierarquia dos sucessíveis
o Existência do chamado
 Há autores que, neste âmbito, se referem à personalidade jurídica  MAS,
pode haver situações em que sejam designadas pessoas que ainda não
tinham adquirido personalidade jurídica (ex: nascituros/ conceturos)
 Todas as pessoas nascidas ou concebidas ao tempo da abertura da
sucessão
 Este pressuposto exige uma dupla característica:
 Existência anterior do chamado (anterior à morte)
o Regra: personalidade jurídica
 Pessoas singulares: art. 66º CC (pessoa nasce
completa e com vida)
 Pessoas coletivas: quando adquire personalidade
jurídica – art. 158º CC
o Exceções: os nascituros e os conceturos não são herdeiros
legitimários, pelo que tem de estar previsto no testamento
 Nascituros: art. 66º/2 e 2033º/1 CC – equiparação às
pessoas nascidas, chamando-as à sucessão  é uma
vocação pendente da condição legal do seu
nascimento (vocação condicional e diferida
suspensiva)
 A administração da herança, enquanto a
pessoa não nasce, deve ser feita pelos pais,
tutores, etc. (arts. 2240º/2, 2237º a 2239º CC)
 Conceturos (vocação sucessória diferida e condicional
 aplica-se por analogia o art 66º/2 CC)
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 Período legal de concessão  o legislador faz


uma presunção (ilidível mediante prova em
contrário – art. 1800º CC), de que o período de
conceção é nos primeiros 120 dias, dentro dos
300 que antecederam o nascimento
 A partir da data da morte, contam-se 300 dias
 se o bebé nascer dentro desse período,
presume-se filho do falecido
o E se nascesse antes dos 180 dias, ou
depois dos 300 dias?  é preciso fazer
prova
 PMA pós-morte (arts. 22º, 23º e 26º Lei
32/2006)  existindo um embrião à data da
abertura da sucessão, já houve fecundação 
já há, por analogia, uma situação de nascituro
 Apenas têm capacidade sucessória passiva, na
sucessão testamentária ou contratual, nos
termos do art. 2033º/2, al. a) CC  não têm
capacidade sucessória na sucessão legal
(legítima ou legitimária)
o Tem de ser filho de uma pessoa
determinada e viva à data da abertura
da sucessão (ex: não se pode deixar a
um filho de um nascituro)
 Administração da herança = nascituros
 Partilha da herança: coloca-se a questão de
saber se se pode fazer a partilha, nestes casos
o Art. 2101º CC: qualquer herdeiro pode
exigir a partilha quando quiser  a
partilha faz-se entre os herdeiros já
vivos, MAS, é feita sob condição
resolutiva do nascimento dos
conceturos
 Havendo resolução da partilha
por terem nascido mais
herdeiros, deve aplicar-se por
analogia o disposto no art.
2029º/2 CC  a quota do
herdeiro superveniente deve ser
composta em dinheiro
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 Pessoas coletivas não dotadas de personalidade


jurídica à data da abertura da sucessão  vocação
condicional e diferida, de aquisição da personalidade
 Existência posterior do chamado/ sobrevivência (posterior à morte)
o O chamado tem de ter sobrevivido ao autor da sucessão, nem
que seja por breves instantes  no fundo, tem de estar vivo
no momento da morte do outro
o É a falta deste pressuposto que faz com que, por exemplo,
nos casos de comoriência, não se aplique o direito de
transmissão, mas sim o de representação, ou de acrescer 
há uma pré-morte do chamado
 Art. 2317º, al. a) CC: a disposição testamentária
caduca em caso de morte do herdeiro testamentário, a
menos que haja direito de representação
o Capacidade para efeitos sucessórios, naquele momento da abertura da sucessão
 Prof. Pereira Coelho: idoneidade para ser chamado a suceder como herdeiro
ou legatário
 Regra: é capaz de suceder a outrem quem tiver capacidade jurídica  em
regra, todos temos capacidade sucessória
 MAS, é ainda mais ampla que a capacidade jurídica, por causa dos
nascituros e conceturos (a sua capacidade jurídica está bastante
limitada pela falta de capacidade de exercício)
 Exceção: incapacidades sucessórias
 Dr. Oliveira Ascensão e Dr. Capelo de Sousa: devia-se falar, ao invés
de uma incapacidade sucessória, de uma ilegitimidade sucessória 
as pessoas são ilegítimas/ inidóneas para receber os bens do de
cuius
 A lei faz uma presunção de que, praticados determinados atos, a
pessoa não será digna para suceder a outra  torna-se indigna
o Art. 2034º CC: ilegitimidades por indignidade (são genéricas,
aplicando-se a qualquer espécie de sucessão)  tem um
elenco taxativo de causas de indignidade:
 Condenado por atentado contra:
 a vida do autor da sucessão e seus familiares
(remeter para art. 2035º/1 CC)
 a honra do autor da sucessão e seus familiares
(remeter para art. 2035º/1 CC)
 a liberdade de testar (remeter para o art. 2201º
CC)

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 o próprio testamento
 Art. 2036º CC
 Legitimidade para intentar a ação de
indignidade: qualquer pessoa que tenha um
interesse direto na demanda ou o MP
 Há autores que entendem que a indignidade
funciona automaticamente, e outros que
entendem que carece de declaração judicial 
a nova redação deste artigo deu a clara
indicação de que é necessária uma ação
judicial em que se declara
o A declaração judicial apenas é
necessária para efetivar a incapacidade
quando o indigno tiver entrado na posse
efetiva dos bens da sucessão
o O STJ, no ac. 7/01/2010, considerou que, embora esta
configuração de enumeração taxativa do art. 2034º CC, havia de
reconhecer-se uma ilegitimidade por indignidade sucessória de
um pai que violou uma filha de 14 anos e que a obrigou a abortar
aos 15 anos  depois de ter cumprido pena de prisão, persistiu
com o comportamento, e veio exigir a sua parte da herança
quando esta, aos 29 anos, faleceu num acidente de viação 
seria ofensivo dos bons costumes que este pai lhe pudesse
suceder, havendo uma situação de claro abuso de direito (art.
334º CC)
o Principal efeito da indignidade: tornar inexistente o
chamamento, por carecer do pressuposto da capacidade
 Art. 2037º/1 CC: remeter para arts. 1271º, 1273º e
1275º CC
o Não havendo chamamento do indigno, far-se-á o
chamamento dos subsequentes herdeiros
o Há que distinguir, aqui, dois tipos de situações:
 Sucessão legal: a incapacidade do indigno não
prejudica o direito de representação dos seus
descendentes (arts. 2037º/2, 2039º e 2042º CC)
 Sucessão testamentária: a indignidade afasta o
chamamento dos sucessíveis por direito de
representação (arts. 2041º/1, 2037º/2 a contrario,
2317º, al. c), por referência às alíneas a) e e) CC)
o Arts. 2166º e 2167º CC: deserdação
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 Art. 2166º CC: o autor da sucessão pode, em


testamento, deserdar o herdeiro da sucessão
legitimária, privando-o da legítima, quando se verificar
uma das causas deste elenco  tem de invocar as
causas justificativas
 coloca-se a questão de saber se acresce a
este elenco as causas do art. 2034º CC, como
causas de deserdação
o As do art. 2166º CC só se aplicam nos
casos da sucessão legitimária
o As do art. 2034º CC, como são
genéricas, aplicam-se a todos os casos
 sendo indigno, não pode ser
chamado à sucessão
 SÓ pode acontecer nestes casos,
taxativamente previstos
 Esta declaração de deserdação só pode produzir
efeitos por vontade do autor da sucessão, no
testamento, com expressa menção da causa que lhe
der efeito
 Objetivo: privar da legítima  é a única forma de
evitar que o herdeiro legitimário receba a sua legítima
 Esta deserdação pode ser impugnada – art. 2167º CC
 O Dr. Oliveira Ascensão considera que são 2
anos a contar da abertura do testamento ou do
conhecimento da deserdação ou do testamento
 As pessoas coletivas só têm capacidade sucessória no caso da sucessão
testamentária ou contratual
 Exceção: Estado  também tem capacidade sucessória na sucessão
legítima
 MAS, há requisitos especiais, que só se aplicam a certos tipos de sucessões:
o Sucessão testamentária: indisponibilidades relativas (art. 2192º a 2198º CC)
o Sucessão legitimária: causas de deserdação (art. 2166º CC)

1.8. Conteúdo da vocação sucessória


 O conteúdo principal da vocação é o nascimento de um direito novo na esfera jurídica do
chamado  o direito de aceitar ou recusar  direito de responder ao chamamento
 O chamado tem um direito de informação e um direito de inspecionar a herança, de modo a
poder, justificadamente, responder se aceita ou não a herança ou o legado

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 Transmissão do direito de resposta (art. 2058º CC):


 O chamado pode levar 10 anos a decidir se aceita ou não a herança  prazo de
caducidade do direito de resposta
o Se, dentro deste período temporal, o chamado morrer, este direito é transmissível
por morte, pelo que faz parte da herança que se irá transmitir aos seus herdeiros
o Caso em que é fácil confundirmo-nos:
 Ex: A morre em 2016. Foram chamados à sucessão os seus filhos, B e C. B
morre em 2017 (é casado com Z e têm um filho, D). Morrendo o B, a mulher e o
filho vão herdar o seu património, onde se encontra o direito de responder face à
herança de A  estamos perante um caso de transmissão, porque quem
adquiriu originariamente o direito de resposta foi B
 Ex2: no mesmo caso, A morre em 2017 e B morre em 2016  para a herança de
A, B já não existia e, por isso, os herdeiros de A são C e D, com direito de
representação face à herança do avô
 O cônjuge de B não tem quaisquer direitos face à herança de A  não
há, aqui, transmissão do direito de resposta, porque B nunca chegou a
ser chamado  funciona o direito de representação

1.9. Prova da qualidade de sucessor


 Na maior parte dos casos, as pessoas optam pela habilitação notarial
 MAS, existem outros meios de provar, mediante, por exemplo, registo na conservatória do
registo civil – procedimento simplificado
 Há casos em que os herdeiros não estão de acordo, desde logo, quanto à qualidade de herdeiro
de um e de outro. Havendo litigio, o inventário pode ir para tribunal, que vai decidir a questão da partilha
 Ex: J morre solteiro. Os irmãos dele acham que vão receber a herança dele, uma vez que são
os parentes mais próximos. Um dia, aparece uma mulher a dizer que é a viúva de J  aqui,
temos de averiguar a qualidade de herdeiro desta mulher

1.10. Modos de vocação sucessória


 Vocação direta: quando os sucessíveis são chamados por si, isto é, a vocação destina-se àquela
pessoa, àquele herdeiro ou legatário
 Vocação indireta: quando não é o sucessível que é diretamente chamado  nestes casos, é
aquele que é chamado indiretamente que vai ter de preencher os pressupostos da vocação sucessória:
 Direito de representação
 Direito de acrescer
 Substituição direta ou vulgar

Direito de representação – art. 2039º CC


 Não basta, aqui, que o sucessível não queira ou não possa aceitar o legado ou a herança  é
necessário que o sucessível tenha descentes, para o representarem

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 Esta figura vale tanto para a sucessão voluntária, como para a legal. Em qualquer um dos casos,
aquilo que faz desencadear o direito de representação é a lei (art. 2040º CC)
 Neste artigo, o legislador refere-se a “sucessão testamentária”, deixando de fora a
sucessão contratual  MAS, deve-se entender, aqui, que o legislador se quis referir a
“sucessão voluntária”
 Requisitos específicos, consoante o tipo de sucessão:
 Sucessão voluntária (art. 2041º CC):
o A incapacidade não permite que haja direito de representação, ou seja, apenas dá
lugar à possibilidade de direito de representação na sucessão voluntária: a pré-
morte (não pode aceitar) e o repúdio (não quis aceitar);
 Note-se que, até através do art. 2037º/2 a contrario CC se compreende que
a indignidade (incapacidade) prejudica o direito de representação na
sucessão voluntária (e não na sucessão legal);
o O direito de representação não existe nos casos do nº 2:
 Al. a): quando está previsto um substituto  a substituição impede que haja
direito de representação;
 Ex. No testamento, o testador diz que deixa o legado ao A, mas logo a
seguir diz que se o A não quiser, então o legado fica para o B. Aqui, os
descendentes do B já não vão poder exercer o direito de representação.
Aqui prevalece a vontade do autor da sucessão, uma vez que estamos
no campo da sucessão voluntária;
 Al. b): substituição fideicomissária  Está em causa uma espécie de
substituição: os fideicomissos têm alguns aspetos especiais e, por isso, é
que o legislador previu especificamente esta alínea;
 Ex. Testador: ‘’deixo a minha casa ao B, para que após a sua morte a
casa vá para o C’’  Há dois titulares da herança ou legado, sendo que
o primeiro não é um verdadeiro titular, visto que só pode usufruir do bem
até à sua morte, pois a partir da sua morte o titular já é o segundo;
 Al. c): legado de usufruto ou outro direito pessoal  Devido à pessoalidade
daquela situação, isto é, a única razão pela qual o testador deixou o direito
de usufruto foi porque quis beneficiar aquela pessoa e apenas aquela
pessoa, o que significa que, graças ao caráter pessoalíssimo do usufruto,
não quis o autor da sucessão beneficiar os descendentes do sucessível.
Esta disposição é feita por intuito personae, ou seja, em benefício apenas
daquela pessoa.
o Não pode estar em causa a caducidade da vocação sucessória (art. 2041º/1, última
parte CC). Se o testamento já tiver caducado então não é possível recorrer ao
direito de representação  as causas de caducidade estão previstas no art. 2317º
CC
 Sucessão legal (art. 2042º CC):
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o Aqui, o direito de representação pode sempre existir  há representação no caso


de pré-morte, incapacidade e repúdio. No entanto, não é assim para todos os
herdeiros legais
o A representação tem sempre lugar:
 Na linha reta: em benefício dos descendentes do filho do autor da sucessão
 Na linha colateral: em benefício dos descendentes do irmão do falecido
 Logo, só há direito de representação a favor dos netos e dos sobrinhos 
não há, por exemplo, direito de representação a favor dos descendentes dos
ascendentes do falecido
o “qualquer que seja o grau de parentesco”  não há limite/ grau máximo para a
produção de efeitos no que diz respeito ao direito de representação
o Representação nos casos de repúdio e incapacidade (art. 2043º CC):
 O chamado indireto é que tem de preencher os pressupostos da vocação
sucessória
 O facto de o neto não ter capacidade relativamente ao pai, não
prejudica a sua capacidade face à herança do avô
 O indireto apenas tem de preencher os pressupostos da vocação sucessória
face à herança do falecido em causa  não são relevantes, para este efeito,
os pressupostos da vocação sucessória relativamente ao primeiro chamado
(o pai)

 Consequências jurídicas:

 Exceção ao princípio da prevalência do parentesco


o Ex: A morreu em 2017. B e C são filhos de A. C repudiou. D é filho de C, pelo que exerce o
direito de representação
 B é parente em 1º grau da linha reta, e D apenas em 2º grau  se não existisse
direito de representação, a herança ia toda para o filho e nada para o neto. Neste
caso, a herança vai ser repartida em 2, por B e D.
o Art. 2135º CC: preferência entre graus de parentesco
 Exceção ao princípio da divisão por cabeça
o Ex: A morreu em 2017. Os filhos B e C não podiam aceitar a herança. E, F e D são netos,
todos no mesmo grau de parentesco  a herança vai-se repartir em duas metades (aquela
que caberia a B e a que caberia a C) e, depois, pelos netos, porque na vocação sucessória,
os direitos dos representantes são os mesmos dos representados (art. 2044º CC)
 Se B tivesse só um filho e C tivesse dois, o filho de B iria ficar beneficiado em
relação aos seus primos
 Se não existisse direito de representação, dividiríamos a herança em partes iguais
pelos 3 netos (art. 2136º CC)
o Art. 2044º/1 CC: “estirpe”  linha de parentesco
 No caso, B e C são os “cabeça de estirpe”

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 Limite do direito de acrescer no âmbito de cada estirpe


o Ex. Tanto B e C tiveram 2 filhos cada. Existem 4 netos, todos no mesmo grau. Se dividirmos
por cabeça, temos 1/4 da herança para cada filho. B estava chateado com o pai, pelo que
repudiou a herança, bem como E. A parte da herança de E acresce a F, seu irmão. O direito
de acrescer só beneficia os membros da mesma estirpe (não beneficia os primos);
 Cálculo da legítima
o Ex. A teve 1 filho, B. B teve 2 filhos, C e D. B não pode ou não quis aceitar a sua herança.
Os parentes da linha reta são também herdeiros legitimários (parte da herança reservada
para os herdeiros legitimários  legítima – quota indisponível. A quota indisponível varia em
função do nº e da qualidade dos herdeiros legitimários). Se houver 1 descendente, a
legítima é de metade da herança, se houver mais do 1, a legitima é de 2/3. Os netos não
são chamados à herança por si, são chamados indiretamente, em representação do seu pai,
pelo que a legítima é também de metade (não de 2/3)
 Sujeição do representante às mesmas obrigações do representado
o Ex. A tem um filho, B. B tem um filho, C. A tinha feito uma doação ao filho de uma casa
(90.000€), em 2010. Esta doação foi feita por conta da legítima de B (uma espécie de
“adiantamento”). Mas o valor desta casa será contabilizado naquilo a que B terá direito,
como herdeiro legitimário. Com a morte de A, em 2017, B repudia a herança. A deixou o
remanescente da herança para Z. A tinha um património de 110.000€ (bens deixados). O
valor de referência para calcular a quota disponível, são os bens deixados (110.000€) –
dívidas (0) + doações feitas (90.000€) = 200.000€ é o valor de referência para calcular a
quota disponível e indisponível (2162º). A quota indisponível é de 100.000€ e a quota
disponível é de 100.000€;
 Se B aceitasse a herança, teria direito a metade da herança do pai (100.000€). No
entanto, em 2010, tinha recebido uma doação, por conta da legítima (90.000€), pelo
que só lhe restam 10.000€. Z recebe o restante da herança (110.000€-10.000€ =
100.000€)
 Se B repudiasse a herança, e não existisse direito de representação, não existia
legítima (quota indisponível) de B. MAS, teria de se retirar aos bens deixados
(110.000€), a legítima de 100.000€ de C. Assim só restariam 10.000€ para Z.  Com
o direito de representação, C tem o mesmo direito que o pai (10.000€);
o O representante está sujeito às mesmas obrigações que o representado  no caso,
imputar a doação feita por conta da legítima
 Colação: sujeita-se os representantes à colação que estaria sujeito o representado

  Transmissão

 Significa ter um direito que se vai transmitir a outra pessoa  ninguém pode transmitir um
direito que não tem
 A transmissão só acontece no caso da morte do sucessível, no decurso do prazo para
aceitação ou repúdio da herança
o Indignidade:
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 B pode ser indigno face ao de cuius porque o matou e face ao seu pai, porque
matou o seu ascendente (o avô, de cuius)
 No entanto, se B tivesse destruído o testamento do avô, apenas era indigno
quanto a este, e não quanto ao seu pai  assim, relativamente ao seu pai, estão
preenchidos todos os requisitos  pode herdar o direito de aceitar ou repudiar a
herança do avô

Direito de acrescer

 Ponto de partida comum: sucessível que não quis, ou não pode aceitar a herança ou o legado;

 Pressupostos positivos:

 Tem de haver co-sucessíveis (co-herdeiro ou co-legatários): sucessíveis que são chamados


simultaneamente à mesma herança ou ao mesmo legado;
o Co-sucessíveis da mesma espécie, chamados à mesma parte da herança  não há
direito de acrescer de herdeiros a favor de legatários, nem vice-versa.
 Direito de acrescer de herdeiro a favor de legatário: O objeto do legado é sempre
limitado.
 Direito de acrescer de legatário a favo dos herdeiros: A disposição testamentária
caduca, porque o destinatário não pode ou não quis aceitar a herança. O objeto do
legado vai englobar-se na massa indistinta da herança. Quem lucra com isto são os
herdeiros, MAS não é através do direito de acrescer, mas sim da elasticidade do
direito dos herdeiros
 Um dos herdeiros não pode ou não quis aceitar, pelo que há uma quota vaga, e esta acresce
aos outros herdeiros/ legatários
o Art. 2301º/2 CC: A quota-parte é distribuída proporcionalmente pelos herdeiros, se as
suas quotas forem desiguais
 Ex. A faz um testamento e deixa a sua herança aos seus amigos (B, C, D), mas deixa
1/2 ao B, 1/4 ao C e 1/4 ao D. B, C e D são co-herdeiros. D não pode, ou não quis
aceitar a sua parte. Esta quota-parte acresce aos outros, mas terá de ser distribuída
proporcionalmente por B e C. Dividimos a quota-parte em 3, duas delas serão para B e a
outra quota-parte será para C
o Art. 2301º/1 CC: “Seja ou não conjunta a instituição”
 Ex. A faz um testamento e deixa a sua herança aos seus amigos (B, C, D), mas deixa
1/2 ao B e a outra metade ao C e D. B, C e D são co-herdeiros. D não pode, ou não quis
aceitar a sua parte. A sua parte apenas acresce ao C. Embora os 3 sejam chamados à
mesma herança, relativamente aquela metade há um chamamento conjunto. Há uma
espécie de preferência face aquela metade em relação a C.
o Art. 2302º CC: direito de acrescer entre legatários

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 Ex1: A deixa a casa B, o recheio da casa a C e o automóvel a D. Neste caso, já não há


direito de acrescer, pois eles não são co-legatários.
 Ex2: A deixa a casa a B e o recheio da casa e o automóvel a C e D. Neste caso, já há
co-legatários, pelo que já pode haver direito de acrescer, mas apenas entre C e D

 Pressupostos negativos do direito a acrescer (impedem que haja direito de acrescer):

 Direito de representação
 Transmissão
o Ex. A deixa os seus bens a B, C e D. A morreu a 29/03/2017. D, sucessor, morre a
30/03/2017. No momento da morte da herança, D reúne todos os pressupostos da
vocação sucessória, pelo que este adquiriu o direito de aceitar ou recusar a herança.
Não há uma quota-parte livre. Os herdeiros de D poderão exercer esse direito
 Substituição (art. 2304º CC)
o “Se o testador tiver disposto outra coisa”  Designou um substituto, no caso de um
dos sucessíveis não querer ou poder aceitar;
 Vontade contrária ao direito de acrescer
o Art. 2304º CC: “Se o testador tiver disposto outra coisa”  Isto só pode haver no
âmbito da sucessão testamentária
 Legado tem natureza pessoal
o Art. 2304º CC: “Se o legado tiver natureza puramente pessoal”  Pretende
beneficiar apenas a pessoa do herdeiro/ legatário, pelo que não aproveita terceiros
 MAS, o art. 2305º CC prevê o direito de acrescer entre usufrutuários
o Comparando o art. 2041º/2, al. c) e 2304º CC, vemos que há dois
graus de pessoalidade:
 Grau normal – direito pessoal
 Grau extremo – direito puramente pessoal.
 O legislador foi mais exigente com o direito de
representação (art. 2041º/2 CC) do que com o direito
de acrescer  asta que o direito tenha natureza
pessoal para se concluir que essa pessoalidade é
incompatível com o direito de representação. Para
efeitos de impedir o direito de acrescer, só valem os
direitos puramente pessoais (ex. rendas vitalícias, direito
de uso e habitação, servidões pessoais).

 Casos especiais de direito de acrescer:

 Art. 2303º CC: Não havendo direito de acrescer entre os legatários, o objeto do legado, é
atribuído ao herdeiro ou legatário onerado com o encargo do seu cumprimento, SALVO se
esse objeto estiver genericamente compreendido noutro legado;

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 Art. 2306º CC: A aquisição da parte acrescida dá-se por força da lei, sem necessidade de
aceitação do beneficiário, que não pode repudiar separadamente essa parte, EXCETO
quando sobre a parte acrescida recaiam encargos especiais impostos pelo testador. Neste
caso, sendo objeto de repúdio, a porção acrescida reverte para a pessoa ou pessoas a
favor de quem os encargos hajam sido constituídos
o O funcionamento do direito de acrescer é um funcionamento automático, pelo que o
legatário não tem direito a aceitar uma parte e a recusar outra.
o Exceção: Ex. A faz um testamento e deixa todos os seus bens a B, C e D. D, à custa da
sua parte, tem que dar todos os meses à tia de A 500€. D repudia a sua quota-parte.
Neste caso, a lei admite excecionalmente que B e C podem não querer a parte
acrescida, sem prejudicar a aceitação da sua parte inicial. A quota-parte livre (de D)
reverte para a tia de A

Substituição

Substituição direta ou vulgar – arts. 2281º e ss. CC


 Art. 2281º CC: o testador pode substituir outra pessoa ao herdeiro instituído (ou ao legatário
nomeado) para o caso de este não querer aceitar a herança (ou o legado)
 É uma forma de vocação indireta (como acontece com o direito de acrescer e o direito de
representação)  o substituto vai ser chamado em lugar do substituído
 Vale nos casos de repúdio do substituído?  depende da interpretação do testamento:
 A menos que diga o contrário, à partida, se disser “não quiser” abrange os casos de “não
puder” e vice-versa
 Arts. 2041º/2, al. a), 2131º e 2304º CC: prevalece sobre o direito de representação e sobre o
direito de acrescer, tanto na sucessão legítima como na sucessão testamentária.
 Tem 3 modalidades:
 Art. 2281º/1 CC: substituição simples  quando há um único instituído e um único
substituto
 Art. 2282º CC: substituição plural  podem substituir-se várias pessoas a uma só, ou
uma só a várias
 Art. 2283º CC: substituição recíproca  os herdeiros ou os legatários podem substituir-se
entre si
 Art. 2284º CC: caso o substituído não possa ou não queira, o substituto vai substitui-lo e, caso
este aceite, ocupa a posição jurídica do substituído, passando a ser titular dos direitos e obrigações que
lhe caberiam, mesmo que envolvam encargos especiais

Substituição fideicomissária ou fideicomisso – arts. 2286º e ss. CC


 Institui um herdeiro (fiduciário), impondo-lhe o encargo de conservar a herança (art. 2290º CC)
para que, por morte dele, reverta para outro (fideicomissário)

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 ex: por morte de A, os bens transferem-se para B e, por morte deste, os bens vão-se
transferir para C  B é fiduciário e C é fideicomissário
 Vão existir duas transmissões sucessórias (de A para B e de B para C)  na substituição direta
vamos ter apenas uma transmissão (do autor da sucessão para o substituído)
 O fideicomissário (C) tem de ser capaz em relação ao primeiro testador (A) porque,
verdadeiramente, o transmitente é o primeiro (C vai receber a herança de A  B está ali apenas com a
função de conservar aquela herança)
 Não é possível haver uma substituição no âmbito da sucessão legitimária  é um encargo,
estando proibido (art. 2136º CC)

2. Liberdade de dispor por testamento


2.1. Noção e modalidades do testamento
 Testamento: art. 2179º/1 CC: ato pelo qual uma pessoa dispõe dos seus bens, depois da morte.
 No entanto, esta noção é um pouco restrita e redutora, uma vez que impõe um conteúdo
patrimonial/ pecuniário  MAS, o testamento pode conter disposições de outra natureza
o Ex: disposições que dão informações sobre o funeral; estabelecimento da filiação
(reconhecimento voluntário da paternidade); indicação de um tutor para o filho menor
 Nº2: são admitidas, então, disposições de caráter não patrimonial
 Modalidades do testamento: o testamento é um negócio formal, ou seja, exige-se determinada
forma legal, sob pena de nulidade – a lei prevê, então, formas comuns e especiais
 Testamento comum – arts. 2204º e ss. CC
o Testamento público: o testamento é sigiloso e, portanto, só pode ser conhecido
pelos interessados após a morte do interessado. Assim, por “público”, entende-se
que se trata de um documento que é feito e redigido por um notário e devidamente
assinado
 Este testamento fica para sempre registado e transcrito no Livro dos
testamentos
o Testamento cerrado: não é feito pelo notário, mas pelo próprio autor/ testador, pelo
seu próprio punho
 Exceções:
 O testador não consegue escrever, encontrando-se apenas em
condições de o assinar
 O testador nem sequer está em condições de assinar – tem de
constar do testamento o motivo que impede o autor de escrever e
assinar
 Requisito extra: só podem recorrer a este, pessoas que saibam e estejam
em condições de ler (art. 2208º CC)  os analfabetos ou pessoas que
estejam incapazes de ler têm de recorrer ao testamento público

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 Requisito formal adicional: o notário tem de o provar  não está aqui em


causa um juízo de mérito, mas sim de autenticidade daquele documento
 Testamento especial – art. 2210º e ss. CC: há um risco da pessoa morrer e,
simultaneamente, uma impossibilidade de recorrer ao testamento comum
o Testamento de militares e pessoas equiparadas (ex: cenário de guerra)
o Testamento feito a bordo de navio
o Testamento feito a bordo de aeronave
o Testamento em caso de calamidade pública (ex: terramoto, incêndio)
o MAS, pode acontecer que a pessoa afinal não tenha morrido  nesses casos, e
deixando de existir o risco de morte próxima, se a pessoa quiser manter aquelas
disposições testamentárias terá de renovar o seu testamento, recorrendo à forma
comum, dentro do prazo de 2 meses a contar do fim das circunstâncias que
legitimavam o testamento especial, sob pena de caducidade – art. 2222º CC

2.2. O testamento como ato de disposição de última vontade. A liberdade de testar. A tutela da vontade
do testador
2.3. Características do testamento como negócio jurídico
 Negócio jurídico: papel decisivo da vontade  comportamentos voluntários (ex: celebração do
contrato/ assinar) destinados à obtenção de um fim, isto é, destinados à produção de certos efeitos
jurídicos (ex: comprar uma casa)
 Unilateral: não estamos, aqui, perante um contrato  apenas existe o lado do testador
 Mortis causa: a produção dos efeitos jurídicos do testamento está dependente da morte do autor
 Não recetício: o testamento é válido e eficaz mesmo que não seja conhecido dos destinatários
 não é preciso levar ao conhecimento de ninguém
 Gratuito: só há atribuições patrimoniais de um património (do disponente) a favor de outro
património (do beneficiário)
 Pessoal: a lei não admite a representação voluntária no caso de testamento
 Exceções:
o Substituição pupilar: ex: “quando o meu filho morrer, se morrer ainda menor, os bens
que ele tenha herdado de mim vão para a Maria”
o Substituição quase pupilar: ex: “quando o meu filho morrer, e se ele morrer ainda
interdito, os bens que ele tenha herdado de mim vão para a Maria”
 Singular: a lei proíbe que se possa, num mesmo testamento, testar mais do que uma pessoa 
são proibidos os testamentos coletivos
 Porém, podemos encontrar testamentos em que há mais do que uma pessoa a fazer
declarações: se uma pessoa for casada num regime que não seja o da separação, pode
acontecer que a pessoa queira dispor de um bem que é comum

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o Ora, para dispor dos bens comuns, é necessário o consentimento de ambos os


cônjuges  essas declarações não significam que se trate de um testamento
coletivo, mas sim de um consentimento
 Livremente revogável: o testador pode fazer quantos testamentos quiser, e pode mudá-lo
quando quiser  a ultima palavra/ vontade do testador é aquela que vale, se estes forem incompatíveis
entre si
 Esta faculdade é irrenunciável – art. 2311º/1 e 2 CC  tem-se por não escrita a cláusula
que renuncia esta faculdade ao testador
 A revogação pode ser:
o Expressa: é necessário que se inclua a palavra “revogação” na declaração/
testamento – art. 2312º CC
o Tácita: quando não há nenhuma revogação expressa, mas dois testamentos são
incompatíveis entre si  o mais antigo considera-se revogado na parte em que for
incompatível com o mais recente – art. 2313º CC
 Exemplos nítidos de revogação tácita:
 Ex: A tem uma casa e faz um testamento em 2010, em que deixa a casa
a B. Passado uns anos, noutro testamento, deixa a casa a C  tendo
em conta que A só tem uma casa, há incompatibilidade  prevalece o
segundo testamento – incompatibilidade total
 Ex2: em 2010, A deixa a casa ao B. Mais tarde, faz um testamento em
que deixa metade da casa ao C  metade fica para C e a outra metade
para B  incompatibilidade parcial
 Exemplos duvidosos de revogação tácita:
 Ex1: o autor, que tinha uma herança de 300.000€ e uma quota
indisponível de 200.000€, no primeiro testamento diz “deixo o meu carro
(de 20.000€) a B” e no segundo testamento diz “deixo a minha casa (de
100.000€) a C”  avaliando o valor do carro e da casa, somados,
ultrapassam a quota disponível do autor (de 100.000€)
o Prof. Correia de Matos: estamos perante uma
incompatibilidade tácita, devendo prevalecer a última vontade
do testador, pelo que se revoga tacitamente o primeiro
testamento  dá-se a totalidade da casa ao C e nada ao B
o Prof. Rita Lobo Xavier: se não há uma contradição direta
entre os dois testamentos, não há uma revogação tácita. Se a
herança não tiver suporte suficiente, vai-se fazer uma redução
proporcional dos dois legados, de modo a não se ultrapassar
a quota indisponível (art. 2313º CC)
 O prof. Correia de Matos entende que esta solução só
faz sentido valer se as duas disposições constarem do
mesmo testamento
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o MAS, mais importante que a data do testamento é a


qualidade dos sucessíveis  estas soluções apenas valem
quando estejam em causa sucessíveis da mesma espécie
 Se um for herdeiro e outro for legatário, então o
legatário vai prevalecer sempre sobre o herdeiro,
independentemente da data do testamento  A
primeira hierarquia está, portanto, na espécie de
sucessíveis
 Revogação do testamento revogatório: art. 2314º CC
 Ex: 1º testamento (2010); 2º testamento (2012) – neste testamento há
uma revogação expressa do primeiro; 3º testamento (2014) – revogação
expressa do testamento de 2012  aqui, vai-se estar a revogar a
vontade de revogar que se encontra expressamente prevista no 2º
testamento. No entanto, esta ultima revogação NÃO vai produzir um
efeito repristinatório do 1º testamento, isto é, o 1º testamento NÃO vai
renascer!  o ultimo testamento revoga todos os anteriores
 Forma específica de revogação do testamento cerrado : basta a inutilização
do testamento cerrado, desde que essa inutilização tenha sido feita ou
causada pelo próprio testador (ex: rasgou o testamento)  art. 2315º CC
 Alienação total ou parcial da coisa legada : esta alienação tem de ser feita
pelo autor, e vai implicar a revogação correlativa do legado  está aqui em
causa uma revogação real – art. 2316º CC

2.4. Capacidade testamentária e ilegitimidades testamentárias (arts. 2192º a 2198º CC)


 Regra: presume-se que se tem capacidade testamentária
 Exceções: art. 2189º CC
 Menores não emancipados (a falta de autorização dos pais não leva à invalidade do
casamento e, por isso, como não afeta o valor do casamento, o menor vai ter na mesma
capacidade para testar)
 Interditos por anomalia psíquica
o Ou seja, todos os outros interditos e todos os inabilitados podem testar
 Os inabilitados nem sequer precisam de estar acompanhados de um curador
para testar, uma vez que o testamento é um negócio pessoal
 Incapacidades específicas: arts. 2192º e ss. CC
 Arts. 2192º e ss. CC: casos de indisponibilidade relativa
o Nº1: proteção da liberdade de testar  proibição do interdito e inabilitado fazerem
disposições testamentárias a favor do seu tutor, curador ou administrador legal de
bens  nulidade

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 Nº3: exceção  quando o tutor, curador ou administrador legal de bens


corresponde, também, a descendentes, ascendentes, colaterais até ao
terceiro grau (tios ou sobrinhos) ou cônjuge do testador
o Art. 2194º CC: médicos, enfermeiros e sacerdotes
 Nº1: nulidade da disposição feita a favor de médico ou enfermeiro que tratar
o testador, assim como a favor de sacerdote que prestar ao testador
assistência espiritual, quando a disposição testamentária tenha sido feita
durante a doença e o testador vier a morrer dessa mesma doença
 Assim, para que estejamos perante uma incapacidade, é necessário
que se verifiquem os seguintes pressupostos cumulativos:
o A doença foi a causa da morte
o O testamento foi feito durante a doença
o O testamento foi feito a uma destas pessoas
 Exceção: art. 2195º CC  a nulidade estabelecida no artigo anterior
não funciona se estiver em causa:
o Legados remuneratórios de serviços recebidos pelo doente
(art. 941º CC – doação remuneratória): legados com os quais
se pretende compensar serviços que o testador recebeu, mas
que não são exigíveis judicialmente  dívida natural
o Disposições a favor das pessoas indicadas no art. 2192º/3 CC
o Art. 2197º CC: intervenientes no testamento
o Art. 2196º CC: cúmplice do testador adúltero
 Nº1: para que seja nula a disposição testamentária em causa, é necessário
que:
 A pessoa seja casada no momento em que faz o testamento
 A pessoa faça o testamento a favor da pessoa com quem cometeu
adultério (ter relações sexuais completas com alguém fora do
casamento)
 Nº2: exceções
o Art. 2198º CC: interpostas pessoas
 Nº1: é nula a disposição dos artigos anteriores, quando feitas por meio de
interposta pessoa (ex: em vez de deixar ao médico, deixou à sua mulher)
 Nº2: consideram-se interpostas as pessoas constantes do art. 579º/2 CC

2.5. Falta e vícios da vontade

2.6. Interpretação e integração do testamento (art. 2187º CC)

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 Como o testamento é unilateral e como apenas damos atenção aos interesses do testador, as
exigências de interpretação do testamento são maiores do que as exigências interpretativas de um
contrato
 O juiz vai ter de tentar descobrir a vontade real do testador (e não a vontade hipotética das
partes – critério do bom pai de família, como acontece num contrato) – art. 2187º CC

2.7. Regime da invalidade do testamento (arts. 2308º a 2310º CC) e aproveitamento de disposições
inválidas
 Validade do testamento: arts. 2308º e ss. CC  tudo o que não estiver regulado nestes artigos,
quanto a esta matéria, é aplicável o regime geral previsto para os negócios jurídicos em geral
 Prazo: art. 2308º CC:
 Nulidade: a ação de declaração de nulidade caduca ao fim de 10 anos (nº1)
 Anulabilidade: a ação caduca ao fim de 2 anos (nº2)

2.8. Caducidade do testamento (art. 2317º CC)


 Al. a): está em causa a pré-morte, ou seja, falta o pressuposto do sucessível sobreviver ao de
cuius, exceto se existir direito de representação
 Al. b): quando o sucessível morre antes de preencher a condição
 Al. c): quando o sucessível se torna incapaz  o chamamento caduca
 Al. d): quando, no momento da morte, já não são marido e mulher  o divórcio feito depois do
testamento faz caducar a disposição testamentária a favor do ex-cônjuge
 Al. e): quando há repúdio, salvo quando haja direito de representação

3. Sucessão “forçada” a favor dos familiares mais próximos (sucessão legitimária a favor do cônjuge,
descendentes e ascendentes)
 Há uma parte do património do de cuius que está reservada imperativamente aos herdeiros
legitimários: quota indisponível ou quota legitimária

3.1. Herdeiros legitimários


 Art. 2157º CC: herdeiros legitimários  cônjuge, descendentes e ascendentes, pela ordem
estabelecida para a sucessão legítima
 Ordem (art. 2133º CC):
 1º: cônjuge e descendentes
 2º: cônjuge e ascendentes
 3º: cônjuge
 União de facto: a lei 7/2001 permite ao companheiro pedir determinados direitos:
 o direito de habitação e do uso do recheio são garantidos por esta lei  MAS, isto não
significa que o unido de facto passa a ter a qualidade de cônjuge e de herdeiro legitimário,
visto que, para isso, é exigido o casamento
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3.2. A legítima ou quota indisponível


 O valor da quota indisponível depende do número e da qualidade dos herdeiros legitimários
 A quota indisponível NUNCA esgota a herança  há sempre uma quota disponível. Assim,
ainda que sejam herdeiros legitimários, não têm direito à totalidade da herança
 A quota indisponível pode atingir 3 valores diferentes: 1/3 da herança; metade da herança e 2/3
da herança
 Por sua vez, o valor da quota disponível varia de forma inversa ao valor da quota
indisponível  ex: se a quota indisponível for de 1/3, a quota disponível é de 2/3
 Quota indisponível de 1/3: quando os herdeiros legitimários forem, apenas, ascendentes do
segundo grau (art. 2161º/2 CC)
 Quota indisponível de ½:
o Há apenas um descendente na linha reta
o Há apenas o cônjuge (art. 2158º CC)
o Há apenas ascendentes do primeiro grau (art. 2161º/2 CC)
 Quota indisponível de 2/3: todas as restantes situações:
o Quando houver cônjuge e descendentes ou cônjuge e ascendentes: arts. 2159º e
2161º/1 CC
o Quando houver pluralidade de filhos

3.3. Princípios da sucessão legitimária (arts. 2157º, 2134º, 2135º e 2136º CC)
 Princípio da sucessão por classes: os herdeiros legitimários não são todos chamados ao mesmo
tempo  são, sim, chamados por classes (art. 2134º CC)
 Importa notar, aqui, que o cônjuge tem um papel mais importante, uma vez que aparece em
todas as classes assim, tem sempre direito à quota indisponível, quer haja descendentes
e/ ou ascendentes ou não
 Princípio da preferência por grau de parentesco: dentro de cada classe, os parentes de grau
mais próximo prevalecem sobre os parentes de grau mais longínquo (art. 2135º CC)
 Ex: se houver filhos e netos, a quota indisponível é para os filhos e não para os netos
 Ex2: se houver pais e avós, a quota indisponível é para os pais e não para os avós
 Este princípio não vale para o cônjuge  apenas para os parentes
 Exceção: direito de representação
 Princípio da divisão por cabeça: a divisão é feita em partes iguais (art. 2136º CC)
 Art. 2139º CC: quando estamos na primeira classe, vale este princípio, ou seja, dividimos
em partes iguais entre o cônjuge e os descendentes, sendo que o cônjuge não pode
receber menos do que ¼  até aos 3 filhos é sempre em partes iguais
o MAS, se houver mais do que 3 filhos, não se pode dividir em partes iguais  ¼ é
sempre dado ao cônjuge e o restante será dividido em partes iguais entre os filhos
o Exceção: direito de representação

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 Ex: A teve 3 filhos: B, C e D. D tinha dois filhos: E e F. A morreu em 2017 e D


morreu em 2016. Os herdeiros legitimários de A são 4: B, C e os netos E e F.
 Aplicamos a divisão por cabeça relativamente aos filhos de A: B, C e D
o MAS, como D já morreu, os filhos dele vão ter direito àquilo que
caberia ao pai
o Assim, 1/3 vai para o B, 1/3 para o C e 1/3 para D, representado
pelos seus filhos E e F, que irão dividir por cabeça
 Na segunda classe, a divisão entre o cônjuge e os ascendentes NÃO é em partes iguais 
o cônjuge tem direito a 2/3 e os ascendentes têm direito a 1/3  se os ascendentes forem
dois, então dividimos esse 1/3 em partes iguais para o pai e para a mãe  art. 2142º CC

Cálculo do valor da herança


 A herança corresponde ao valor do património à data da morte do de cuius  a diferença entre
o ativo e o passivo leva ao valor da herança
 Exceção: quando há herdeiros legitimários, o cálculo da herança tem também de contar
tudo aquilo que a pessoa deu durante a sua vida, ou seja, todas as doações e liberalidades
que a pessoa fez durante a vida (art. 2162º CC)
 Ao mesmo tempo, é preciso ter em conta as parcelas negativas: despesas sujeitas à colação e
dívidas da herança
 Assim, há duas formas de fazer esta conta:
 Escola de Coimbra: esta soma tem de inverter a soma dos fatores:
o Quando a pessoa não está insolvente:
 Bens deixados – dívidas da herança = x
 X + doações em vida + despesas sujeitas a colação = valor da herança
(saldo positivo)
o Quando a pessoa está insolvente:
 Bens deixados – dívidas da herança = saldo negativo
 Transforma-se o saldo negativo em 0 e fazemos: 0 + doações em vida +
despesas sujeitas a colação = valor da herança (saldo negativo)
 Escola de Lisboa:
o Quando a pessoa não está insolvente: = Escola de Coimbra
o Quando a pessoa está insolvente: vai levar a um valor menor do que o da Escola de
Coimbra, pelo que os herdeiros legitimários ficariam prejudicados

3.4. Intangibilidade da legítima


 Mecanismos e institutos de proteção e salvaguarda da legítima:
 Forma de cálculo da legítima (art. 2162º CC)
 Redução das liberalidades inoficiosas (arts. 2168º e ss. CC)
o As liberalidades (todos os atos gratuitos) que prejudiquem a legítima e os herdeiros
legitimários podem ser reduzidas até a sua legítima ficar totalmente preenchida
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 Medidas que podem ser utilizadas antes da morte do autor da sucessão


o Inabilitação por habitual prodigalidade daquela pessoa
 Ex: pessoa que dá tudo a toda a gente; pessoa que não sabe o valor das coisas;
pessoa viciada no jogo
 Os herdeiros legitimários podem pedir ao tribunal que declare que aquela
pessoa é incapaz
o Contratos simulados
 Qualquer interessado pode interpor a nulidade de um negócio simulado, ou
seja, qualquer pessoa que tenha um valor que foi ou vai ser afetado por
aquele negócio simulado
 Os herdeiros legitimários têm legitimidade para propor esta ação (art. 242º/2
CC), sendo que o negócio em causa tem de ser simuladamente celebrado
pelo autor da sucessão com o intuito de prejudicar esses mesmos herdeiros
legitimários
 Ex: A finge uma venda e, na prática, está a fazer uma doação
 Medidas que só podem ser utilizadas depois da morte do de cuius:
o Art. 2163º CC: o testador não pode impor encargos sobre a legítima  o herdeiro
legitimário tem direito a escolher qualquer bem da herança
 MAS, ainda que o de cuius não possa impor essa escolha, pode propor
o Legado em substituição da legítima (art. 2165º CC):
 O herdeiro legitimário tem de escolher entre a legítima e o legado, ou seja,
tem de repudiar uma e aceitar a outra
 O silêncio é fonte de declaração negocial: se o herdeiro nada disser,
presume-se que ele aceita o legado
 Nº4  ex: A tem 2 filhos (B e C). Os bens do A eram de 90.000€. A faz um
testamento: deixa a B um carro, em substituição da legítima a que ele tem direito
e deixa a Z o remanescente da quota disponível
 1ª hipótese: o carro vale 25.000€  valor do legado inferior ao da
legítima
o o valor da legítima dos dois filhos é de 2/3  a quota disponível é
de 30.000€ e a quota indisponível é de 60.000€  logo, a quota
indisponível de cada filho é de 30.000€
o Se B aceitar a vontade do pai, ele vai ficar prejudicado, pois com
a legítima ficava com mais. Se ele aceitar: 90.000€ - 25.000€ =
65.000€ (valor que resta da herança)
o C vai ficar com a sua legítima: 30.000€  65.000€ - 30.000€ =
35.000€ (valor que resta da herança)
 Além disso, C vai ainda receber aquilo que B não pode
receber por ter aceite o legado em substituição da
legítima  5.000€ (funciona, aqui, o direito de acrescer)

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o Z, herdeiro testamentário, vai receber a quota disponível toda, ou


seja, 30.000€
 2ª hipótese: carro vale 35.000€  valor do legado superior ao da legítima
o 35.000€ não cabe na legítima de B (30.000€), então, ele vai
imputar 30.000€ à sua quota indisponível e 5.000€ na quota
disponível
o C recebe na mesma a sua legítima
o Z vai receber o remanescente, que corresponde a 25.000€
 3ª hipótese: se o carro fosse de 70.000€, ia funcionar o instituto das
liberalidades inoficiosas, para proteger a quota indisponível dos herdeiros
legitimários (C)
o Legado por conta da legítima
 Toda a doutrina concorda que a solução anteriormente dada não é a única
possibilidade, embora seja a única hipótese que a lei prevê  a doutrina
entende que o autor da sucessão também pode fazer um legado por conta da
legítima
 Aqui, o herdeiro legitimário não tem de fazer uma escolha, podendo aceitar o
legado sem perder o direito à legítima
 Ex: 1ª hipótese:
 B continua a manter o direito à legítima, mesmo que aceite o legado
 B vai receber todo o legado e vai receber toda a sua legítima, se o valor
do legado for menor  não há direito de acrescer para ninguém (recebe
25.000€ do carro + 5.000€ restantes que tinha direito por conta da
legítima
 C vai receber na mesma a sua legítima, só não irá receber aquilo que
sobra do irmão
 2ª hipótese: igual à solução do legado em substituição da legítima
o Cautela (art. 2164º CC)
 Ex: igual ao acima dado, mas, agora, A deixa a Z (legatário) 500€ por mês até
ele morrer – pensão vitalícia
 500€ por mês são 6.000€ por ano  os herdeiros podem aceitar cumprir
o que está no testamento, MAS poderão sair prejudicados, dependendo
da quantidade de tempo que Z sobreviver
 Se isto prejudicar a herança e a legítima, então os herdeiros legitimários
podem entregar a quota disponível toda a Z
o Deserdação (art. 2166º CC):
 Instituto que se aplica apenas aos herdeiros legitimários, sendo que só
existem 3 hipóteses de deserdação
 Diferenças e semelhanças com a indignidade:

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 A indignidade é automática  na deserdação é preciso que o de cuius


diga que quer deserdar, sendo que tem de ser em testamento com
expressa declaração da causa
 Comparação das alíneas:
o Na indignidade temos o homicídio doloso e na deserdação
exige-se apenas um crime doloso, desde que a pena máxima
de prisão seja superior a 6 meses
o A al. b) coincide nos dois casos  na deserdação não se
exige pena nenhuma
o Na deserdação não existe nenhuma situação semelhante às
outras duas alíneas da indignidade, mas existe a situação de
recusa de alimentos ao autor da sucessão
 O deserdado é equiparado ao indigno em termos das suas consequências
jurídicas (nº2)
 Impugnação da deserdação (art. 2167º CC): a ação de impugnação com
fundamento na existência da causa invocada caduca ao fim de 2 anos a
contar da abertura do testamento
o Redução das liberalidades inoficiosas (arts. 2168º e ss. CC):
 Qualquer liberalidade que ofenda a legítima pode ser reduzida  se não
houver acordo, os herdeiros legitimários têm legitimidade para intentar esta
ação em tribunal
 Liberalidades: abrange todos os atos gratuitos, quer tenha efeitos inter vivos
ou mortis causa
 Atos gratuitos em vida: doações e despesas sujeitas a colação
 Atos gratuitos mortis causa: testamento, onde podemos encontrar as
disposições a título de herança e a titulo de legado
 Ordem da redução: 3 etapas (sem completar totalmente a primeira, não é
possível passar para as seguintes):
 Redução das disposições testamentárias a título de herança
(herdeiros testamentários)
o Reduzem-se sempre primeiro as liberalidades quanto aos
herdeiros testamentários, mesmo que no testamento mais
antigo só haja legatários  o mais importante é a espécie de
sucessíveis e não a data do testamento em causa
 Não se pode reduzir um legatário enquanto não se
tiverem reduzido todos os herdeiros testamentários
 Redução das disposições testamentárias a título de legado (herdeiros
legatários)
 Redução das doações (em vida, mortis causa/ contratos sucessórios
e despesas sujeitas a colação)
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o Art. 2173º CC: começa-se a reduzir a liberalidade mais


recente e só depois é que se reduz a antiga  princípio de
que todos os contratos têm de ser cumpridos e, por isso,
reduz-se a doação que foi feita há menos tempo
 Prazo (art. 2178º CC): 2 anos a contar da aceitação da herança pelo herdeiro
legitimário
 Basta que um deles esteja a tempo de propor a ação, para que todos
beneficiem desta propositura
o Proibição da venda a filhos ou netos (art. 877º CC)
 Os outros filhos e netos têm de consentir na venda de avós ou pais a filho ou
neto
 MAS, os outros filhos ou netos só saem prejudicados se estiver em
causa uma venda simulada  sai um bem do património e não entra
o preço correspondente
 Nº2: a venda é anulável  os herdeiros legitimários têm legitimidade para
propor a ação
o Partilha em vida (art. 2029º CC)
 Não é havido por sucessório o contrato pelo qual há uma partilha em vida 
trata-se de uma forma de antecipar a partilha
 A partilha em vida corresponde a uma doação em vida, do ponto de vista
estrutural
 Requisitos:
 Doação feita entre o doador e os donatários, que têm de ser os seus
sucessíveis presumíveis (herdeiros legitimários)
 Têm de intervir todos os herdeiros legitimários presumíveis, que
recebem todos ou apenas alguns bens
 No final da partilha em vida, todos têm de sair iguais  aqueles que
recebem a mais têm de pagar tornas (compensações) aos outros, de
modo a receberem todos exatamente o mesmo valor
o Não é preciso que este pagamento seja feito na altura 
nasce o dever jurídico desse pagamento
 MAS, pode surgir um novo herdeiro legitimário (ex: doador tem um filho que
nasce depois da partilha em vida; a pessoa que partilhou em vida casa-se depois
da partilha)
 Art. 2029º CC: a partilha em vida não fica posta em causa, mas o
novo herdeiro legitimário pode exigir que lhe seja composta em
dinheiro a parte correspondente
 O objeto da partilha NÃO tem de corresponder à totalidade da herança

3.5. Natureza jurídica da vocação legitimária


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3.6. A colação como medida indireta de proteção da legítima


 Art. 2104º CC: restituição à massa da herança, com o valor de colação
 É uma medida indireta de proteção da legítima  trata-se de um instituto que só aparece na
partilha, isto é, no final do fenómeno sucessório
 Só faz sentido falar de colação se houver herdeiros legitimários
 A lei parte do princípio que, quando uma pessoa faz doações aos seus filhos/ descendentes, isto
não quer necessariamente dizer que aquele pai queira beneficiar esse filho e prejudicar os outros
 Assim, para que os outros filhos não fiquem prejudicados, aqueles que receberam doações
em vida do pai têm de trazer à colação, na partilha  ou seja, entrar em contas com aquele
valor, com o objetivo de igualação da partilha
o Os filhos que receberam não vão, então, receber nada da herança enquanto os
outros não receberem o valor correspondente àquela doação
 Os ascendentes NÃO estão sujeitos à colação  o que é normal é morrerem primeiro os mais
velhos e só depois os mais novos. Por isso, se a ideia subjacente à colação é a antecipação do gozo da
herança, então não faz sentido que exista em relação aos ascendentes
 Esta obrigação de colação não é uma norma imperativa, mas sim um instituto supletivo 
perante uma doação feita a um filho, no silêncio das partes, aquela doação está sujeita a colação
 Pode ser dispensada no próprio ato de doação ou num momento posterior (art. 2113º/2 CC –
por ser posterior, tem de ser feita por escritura pública e em testamento e, além disso, haver vontade do
autor da doação)
 Isto é por vontade do autor da doação
 MAS, o art. 2113º/3 CC estabelece algumas situações em que a colação é dispensada 
presunção absoluta
o Doação manual (art. 947º/2 CC): doação de coisas móveis, feita verbalmente e
acompanhada da entrega da coisa (simbólica ou material)
 Ex: entrega em mão um automóvel (sujeito a registo)  em princípio, não há
uma doação manual porque é preciso mudar o nome da pessoa no registo
o Doação remuneratória (art. 941º CC): pagamento de uma obrigação natural 
não há uma obrigação judicialmente exigível, mas há um dever moral
 Em caso de doações não sujeitas a colação, a doação é imputada na quota disponível
o MAS, se esta não for suficiente para todo o valor, deve imputar-se a doação,
quanto ao excesso, na legítima subjetiva do descendente. Só se ultrapassar
também esta é que a doação pode ser reduzida por inoficiosidade.
 Art. 2104º CC: “descendentes”  têm de ser mais do que um, senão não há colação
 Sobre quem recai a obrigação de conferir? – art. 2106º CC
 O donatário, se vier a suceder ao doador
 Ou os seus representantes, hajam ou não tirado benefício da liberalidade
o Desde que não estejam dispensados pelo autor da sucessão ou por lei de
conferir os bens doados (ou seja, que não haja dispensa de colação)
 Nota: ascendentes NUNCA estão sujeitos à colação. Quanto ao cônjuge, a doutrina diverge
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 Em suma  3 pressupostos cumulativos da colação:


 Doações ou despesas gratuitamente feitas pelo autor da sucessão aos descentes que, à
data dessa liberalidade, eram seus presuntivos herdeiros legitimários
 Essas liberalidades não estejam dispensadas de colação pelo autor da sucessão ou
pela lei
 Os descendentes beneficiários da liberalidade ou os seus representantes concorram
efetivamente com outros descendentes à sucessão do doador
 Art. 2118º CC: garantia da colação  é um ónus real que tem de ser registado
 Objeto da colação: o que está sujeito a coação?
 Doações para efeitos dos arts. 940º e ss. CC
 Despesas sujeitas a colação – art. 2110º CC
 Regimes da colação
 Regime supletivo legal – arts. 2104º e ss. CC
o A colação faz-se pela imputação do valor da doação ou da importância das
despesas na quota hereditária do donatário  o donatário é obrigado a conferir o
valor desta forma:
 Imputa o valor das liberalidades na sua legítima/ quota indisponível
 Naquilo que exceda a legítima (se houver excesso), a imputação será feita
nas quotas hereditárias a que o descendente donatário possa ser chamado
por via da sucessão legal ou voluntária, MAS apenas até onde haja bens na
herança suficientes para fazer a igualação dos descendentes
 Há autores (nomeadamente o Dr. Carvalho Fernandes) que entendem
que, quanto ao excesso, apenas se deve aplicar à sucessão legal
 Se não houver na herança bens suficientes para igualar todos os herdeiros,
as liberalidades já não precisam de ser conferidas a partir daí  só serão
reduzidas se forem inoficiosas
 MAS, se houver valor remanescente na herança:
 Ex: A falece, em 2016, deixando 3 filhos: B, C e D. Os bens deixados
foram no valor de 300.000€. Em 2015, ainda vivo, doou a B 60.000€.
o Art. 2162º CC: havendo herdeiros legitimários, aos bens
deixados acrescem as doações (360.000€)
 Valor da quota indisponível é de 2/3 da herança (art.
2159º/2 CC) – 240.000€
 Valor da quota disponível: 120.000€
o A quota indisponível é dividida pelos 3 filhos  cada um tem
direito a 80.000€
 Como B já tinha recebido 60.000€, agora, só vai receber
mais 20.000€
 C e D vão receber, cada um, 80.000€

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o Preenchida a quota indisponível, ainda restam 120.000€  abre-


se a sucessão legítima, repartindo-se por cabeça (art. 2136º CC)
 cada um vai receber mais 40.000€
o Conclusão: no total, cada um recebeu 120.000€
 Ex2: A deixou bens no valor de 260.000€ e doou a B 100.000€ em vida
o Os bens deixados acrescem às doações: 360.000€
 Valor da quota indisponível: 2/3 da herança  240.000€
 cada um tem direito a 80.000€
 Como B já recebeu 100.000€, é imputado 80.000€
(não vai receber nada pela quota indisponível) 
o excesso será imputado na quota disponível
 C e D vão receber cada um 80.000€
 Valor da quota disponível: 120.000€  cabe 40.000€ a
cada
 São imputados os restantes 20.000€ a B
o Para igualar todos, são dados 20.000€ a C
eD
 Os restantes 60.000€ são distribuídos por cabeça
 20.000€ a cada um
 B vai receber 20.000€ e C e D vão receber
40.000€
o Conclusão: no total, cada um recebeu 120.000€
 Ex3: a doação de 100.000€ é feita a B e ao cônjuge de B (X)
o Art. 2107º CC: as doações feitas ao cônjuge do descendente
presuntivo herdeiro legitimário não estão sujeitas à colação
 Como foi feita aos dois, só seria imputado 50% - 50.000€
 Ex4: remanescente na herança, que não chega para igualar todos os
descendentes – A deixou bens no valor de 200.000€ e doou a B
160.000€
o 200.000€ + 160.000€ = 360.000€
 Quota indisponível: 2/3: 240.000€  80.000€ a cada
 São imputados a B os 80.000€
 C e D recebem 80.000€ cada
 Quota disponível: 120.000€  40.000€ a cada
 São imputados a B os restantes 80.000€
 Só sobram 40.000€, que serão apenas divididos
entre C e D porque B já recebeu demais 
20.000€ a cada
o Conclusão: neste caso, não foi possível igualar todos
 B: 160.000€
 C e D: 100.000€ cada
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 Ex5: não há remanescente na herança, mas há bens suficientes para


preencher a legítima de todos os herdeiros legitimários – A deixa bens
no valor de 160.000€ e doou a B 200.000€ em vida
o 160.000€ + 200.000€ = 360.000€
 Quota indisponível: 2/3: 240.000€  80.000€ a cada
 São imputados a B os 80.000€
 C e D recebem 80.000€ cada
 Quota disponível: 120.000€
 São imputados os 120.000€ a B
 Não há mais bens para deixar a C e D
o Conclusão: neste caso, não foi possível igualar todos
 B: 200.000€
 C e D: 80.000€ cada
 Ex6: não há sequer na herança bens que permitam preencher a
legítima dos herdeiros legitimários – A deixa bens no valor de 120.000€
e doou a B 240.000€ em vida
o 120.000€ + 240.000€ = 360.000€
 Quota indisponível: 2/3: 240.000€  80.000€ a cada
 São imputados 80.000€ a B
 Quota disponível: 120.000€  40.000€ a cada
 Teriam de ser imputados 160.000€ a B  o valor
total dos 120.000€ da quota disponível não chega
sequer para cobrir a legítima de C e D
 Art. 2168º CC: quando o valor da doação (já
imputada na quota indisponível), ultrapassa a
quota disponível, é inoficiosa, pelo que terá de
ser reduzida em tanto quanto for necessário
para preencher a legítima dos restantes
herdeiros legitimários  B terá de pagar o
excesso (40.000€), que serão divididos entre C e
D: 20.000€ a cada
o Conclusão: neste caso, não foi possível igualar todos
 B: 200.000€ (porque teve de pagar 40.000€)
 C e D: 80.000€ cada  60.000€ da legítima + 20.000€
que serão pagos por B
o Nota: o primeiro passo é imputar a doação em ambas as quotas (indisponível e
disponível) e depois ver se ainda existem bens suficientes para preencher as
legítimas dos restantes herdeiros  se não existirem, a doação tem de ser reduzida
por inoficiosidade

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 Regime de dispensa de colação/ por conta da quota disponível : regime convencional (só se
aplica quando tiver sido declarado expressamente pelo autor da sucessão)
o A doutrina, neste caso, tem entendido que o ascendente que faz esta doação com
dispensa de coação é porque quis beneficiar, objetivamente, aquele descendente 
vai ser imputada na quota disponível (art. 2114º/1 CC)
 MAS, se o valor da doação exceder a quota disponível, o excesso deverá ser
imputado na legítima do descendente donatário
 Apenas quando exceder as duas quotas é que será inoficiosa
o Ex: A deixa bens no valor de 300.000€ e doa a B, em vida, 60.000€ com dispensa de
colação/ por conta da quota disponível
 300.000€ + 60.000€ = 360.000€
 Quota indisponível: 240.000€
 Quota disponível: 120.000€
 Em primeiro lugar: imputar os 60.000€ doados na quota disponível do herdeiro
donatário
 Vão ser imputados 60.000€ a B
 Os restantes 60.000€ são divididos pelos 3 (B, C e D): 20.000€ a cada
 Cada um vai receber 80.000€ por conta da quota indisponível
 Conclusão: não foi possível igualar  o objetivo é exatamente beneficiar aquele
descendente
 B: 80.000€ (quota indisponível) + 80.000€ (quota disponível) = 160.000€
 C e D: 80.000€ (quota indisponível) + 20.000€ (quota disponível) =
100.000€
o Ex2: bens deixados no valor de 200.000€ e doação no valor de 160.000€
 200.000€ + 160.000€ = 360.000€
 Quota indisponível: 240.000€
 Quota disponível: 120.000€
 Não é possível imputar o valor todo da doação na quota disponível  faltam
40.000€
 Este valor vai ter de ser imputado na quota indisponível de B
o B vai receber apenas 40.000€ de quota indisponível
o C e D vão receber 80.000€ de quota indisponível
 Conclusão:
 B: 200.000€ (120.000€ de quota indisponível + 80.000€ de quota
disponível)
 C e D apenas vão receber a quota indisponível, porque não há quota
disponível suficiente para eles  80.000€ cada
o Ex3: A faleceu, deixando vivos 3 filhos (B, C e D). Antes de morrer, doou a B 120.000€
com dispensa de coação. Deixou bens no valor de 240.000€. Fez um testamento a favor
de X, a quem deixou a quota disponível
 240.000€ + 120.000€ = 360.000€
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 Quota indisponível: 240.000€


 Quota disponível: 120.000€
 Os 120.000€ doados a B têm de ser imputados à sua quota disponível (cobre
toda)
 A quota indisponível é dividida entre todos os herdeiros legitimários: 80.000€ a
cada
 Conclusão:
 B: 120.000€ (doação por conta da quota disponível) + 80.000€ (quota
indisponível) = 200.000€
 C e D: 80.000€ (quota indisponível)
 X não vai receber nada porque não sobra quota disponível para ele
o Ex4: mesma situação do ex3, mas, agora, A deixa a X 50.000€  passa a ser legatário,
e não herdeiro
 Os 120.000€ de B são imputados à quota disponível
 X tem de ser pago pelo valor dos bens deixados (240.000€ - 50.000€ =
190.000€)
 Na quota disponível, dispôs de 170.000€, quando só podia dispor de
120.000€  há inoficiosidade
 190.000€ a dividir pelos 3 herdeiros legitimários, dá 63.000€ a cada  MAS,
estes têm direito a 80.000€ cada
 Art. 2168º e ss. CC  tem de se reduzir tanto quanto for necessário
o Em primeiro lugar, reduz-se o legado em tanto quanto for
necessário para preencher a legítima  50.000€ - 50.000€  0€
 Conclusão:
 B: 120.000€ + 80.000€ = 200.000€
 C e D: 80.000€
 X acaba por não receber nada porque esta disposição testamentária foi
inoficiosa, pelo que tem de ser reduzida em tanto quanto for necessário
para preencher a quota indisponível  na verdade, o legado só é pago
se isso não afetar os herdeiros legitimários
 Regime de colação absoluta
o Alguma doutrina, nomeadamente a escola de Coimbra, admite a possibilidade de
haver um regime convencional diferente dos dois anteriores  este regime não tem
qualquer suporte na lei, pelo que apenas se aplica se houver convenção expressa
neste sentido
 A escola de Lisboa, por sua vez, entende que não existe este regime  pode
acontecer, mas não se trata de colação
o O autor da sucessão tem de estipular, expressamente, na doação, que esta se
encontra sujeita ao regime da colação absoluta/ é por conta da legítima/ por conta da
quota indisponível/ com igualação total

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o O de cuius defende a igualação total entre os seus descendentes, mesmo que isso
implique uma redução das doações (ainda que não seja inoficiosa!!)  os
descendentes donatários e não donatários vão receber exatamente o mesmo
o O donatário está obrigado a conferir todos os bens que lhe foram doados  se o
valor da doação for superior ao valor da legítima do herdeiro donatário, este, tendo
que restituir à herança todos os bens doados, pode ver reduzido o valor da sua
doação se não existirem bens na herança suficientes para assegurar a igualação de
todos os descendentes
 Distingue-se do regime supletivo porque, para haver redução da herança,
basta que não haja bens suficientes para igualar todos os descendentes 
não é preciso que a doação seja inoficiosa (quando ultrapassa a quota
indisponível e disponível)
 Ex: bens deixados no valor de 200.000€ e doação no valor de 160.000€,
com colação absoluta
o 200.000€ + 160.000€ = 360.000€
 Quota indisponível: 2/3  240.000€  80.000€ a cada
um
 Quota disponível: 120.000€
o Em primeiro lugar, é preciso imputar 80.000€ na quota
indisponível de B. Os restantes 80.000€ serão imputados na sua
quota disponível
 Quota indisponível: 80.000€ para cada um
 Quota disponível
 São imputados 80.000€ à quota de B
 C e D ficam, cada um, com 20.000€
o MAS, ainda que a doação não seja inoficiosa (porque não
ofendeu as legítimas dos restantes herdeiros legitimários), na
colação absoluta é preciso que todos recebam o mesmo, pelo
que a doação terá de ser reduzida
 B terá de ficar apenas com 40.000€, entregando os
restantes 40.000€ da sua doação a C e D (20.000€ a
cada)
o Conclusão: houve igualação total
 B: 80.000€ (quota indisponível) + 40.000€ (doação) =
120.000€
 C e D: 80.000€ (quota indisponível) + 20.000€ (quota
disponível) + 20.000€ (pagos por B, por conta da sua
doação) = 120.000€
 Partilha hereditária com liberalidade/ mistura de regimes

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o Ex: A morre em 2016, e deixa 220.000€ a 3 descendentes (B, C e D). Doou a B, em


2015, 100.000€. Doou a D, em 2014, 40.000€ com dispensa de coação
 220.000€ + 100.000€ + 40.000€ = 360.000€
 Quota indisponível: 240.000€  80.000€ a cada
 Quota disponível: 120.000€
 Relativamente à doação a B, como não é dito nada, aplica-se o regime supletivo
legal
 Em primeiro lugar, imputar as liberalidades:
 80.000€ na quota indisponível de B + 20.000€ na sua quota disponível =
10.000€
 40.000€ na quota disponível de D (porque é o regime de dispensa de
colação)
 Preencher as quotas indisponíveis  80.000€ a cada
 Com os bens deixados, preencher as quotas disponíveis:
 Já tinham sido imputados 20.000€ a B
o (Também já tinham sido imputados 40.000€ a D, mas não
interessa porque o objetivo deste regime é beneficiá-lo)
 Terão de ser dados 20.000€ a C e D para igualar
 Sobram 20.000€  dividir por cabeça: 6.6666€ a cada
 Conclusão:
 B: 80.000€ (quota indisponível) + 20.000€ (quota disponível, por causa
da doação) + 6.66666€ (quota disponível) = 106.66666€
 C: 80.000€ (quota indisponível) + 20.000€ (para igualar) + 6.66666€
(quota disponível)
 D: 80.000€ (quota indisponível) + 40.000€ (doação com dispensa de
colação) + 20.000€ (para igualar) + 6.66666€ (quota disponível) =
146.6666€
o Ex2: (com 3 regimes)  bens deixados no valor de 160.000€. Doação a B de 100.000€.
Doação a C de 60.000€ com colação absoluta. Doação a D de 40.000€ com dispensa de
colação
 160.000€ + 100.000€ + 60.000€ + 40.000€ = 360.000€
 Quota indisponível: 240.000€  80.000€ a cada
 Quota disponível: 120.000€
 Em primeiro lugar, imputar as doações:
 80.000€ na quota indisponível de B + 20.000€ na quota disponível de B =
100.000€
 40.000€ na quota disponível de D (porque é com dispensa de colação)
 60.000€ na quota indisponível de C
 Com os bens deixados, preencher as quotas indisponíveis:
 Já foram imputados 80.000€ a B

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 Acrescenta-se mais 20.000€ a C (porque já tinham sido imputados os


60.000€)
 80.000€ para D
 Igualar as quotas disponíveis:
 Como a B já tinham sido imputados 20.000€, é preciso atribuir a C e D
20.000€
o É indiferente que D já tenha recebido 40.000€ porque tem o
regime de dispensa de colação (o objetivo é beneficiá-lo  é
como se essa doação não tivesse existido)
 Os restantes 20.000€ são divididos por cabeça  6.6666€ a cada
 Conclusão:
 B: 80.000€ (quota indisponível) + 20.000€ (quota disponível, por causa
da doação) + 6.6666€ (quota disponível) = 106.6666€
 C: 60.000€ (doação na quota indisponível) + 20.000€ (quota indisponível)
+ 20.000€ (para igualar) + 6.6666€ (quota disponível) = 106.6666€
 D: 80.000€ (quota indisponível) + 40.000€ (doação com dispensa de
colação) + 20.000€ (para igualar) + 6.66666€ (quota disponível) =
146.6666€

Esquema para resolver estes casos:


1. Imputar as liberalidades (primeiro na quota indisponível e depois na quota disponível)
a. MAS, se for o regime de dispensa de coação, imputa-se primeiro à quota disponível
2. Com os bens deixados, preencher a quota indisponível (que tem sempre de ficar preenchida!)
3. Se ainda restarem bens, preencher a quota disponível
4. Aplicar o regime específico de colação
a. Supletivo: fica assim  só se reduz a liberalidade (ou seja, o herdeiro donatário só tem de pagar
aos outros se a doação for inoficiosa)
b. Dispensa de colação/ por conta da quota indisponível: é como se aquela doação não tivesse
existido  tem de se igualar como se aquela pessoa estivesse a zeros
c. Colação absoluta: tem de se igualar sempre, mesmo que não haja inoficiosidade

 Modos de efetuar a colação: art. 2108º CC  pode ser feita de duas formas:
 Pela restituição dos próprios bens doados  coação em espécie ou substância
o Só é possível se todos os herdeiros estiverem de acordo
 Por imputação do valor da colação na quota hereditária
 Relativamente ao cônjuge, a doutrina diverge em saber se este deve ou não estar sujeito à
colação  na revisão do CC, o cônjuge ascendeu à qualidade de herdeiro legitimário e logo na primeira
classe (a concorrer com os descendentes/ ascendentes), MAS, a colação manteve-se inalterada
 3 entendimentos doutrinais:

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o Drs. Pereira Coelho, Pamplona Côrte-Real, Antunes Varela e Pires de Lima, Duarte
Pinheiro: o cônjuge não está sujeito a colação, mas beneficia do regime da colação
dos descendentes
 Beneficiar: beneficia da igualação que é feita pelos herdeiros  se não
beneficiar, não vai ser igualado (apenas vai receber aquilo que sobrar e que
seja dividido por cabeça)
o Drs. Carvalho Fernandes e Cristina Araújo Dias: o cônjuge não está sujeito a coação
nem beneficia dela
o Drs. Capelo de Sousa, Oliveira Ascensão e Leite de Campos: o cônjuge deve estar
sujeito a colação  existe uma lacuna, que tem de ser preenchida com recurso à
analogia  o legislador esqueceu-se de incluir o cônjuge no regime da colação, mas
ele deve estar sujeito a este
 MAS, note-se que o cônjuge pode sempre ficar sujeito à colação, por via contratual  se o
autor da sucessão, no momento da doação, indicar que aquela doação está sujeita a
colação  se nada disser expressamente, o cônjuge está dispensado da colação
 A nossa escola segue o entendimento de que não há, aqui, sujeição a colação
o A lógica subjacente na doação de um cônjuge a outro é a de benefício  à partida,
estes terão a mesma idade, pelo que não faz sentido ter de haver igualação
posteriormente
o A Dr. Rita Lobo Xavier entende ainda que, por vezes, esta doação pode-se tratar de
uma compensação porque, por exemplo, aquele trabalhou mais em prol da vida
familiar, sem auferir uma remuneração

4. Proibição dos contratos sucessórios


 Proibição de qualquer contrato sucessório, antes da morte do autor da sucessão
 Razão de ser: o legislador parte do pressuposto que os contratos são para ser pontualmente
cumpridos (pacta sunt servanda)  são irrevogáveis unilateralmente
 Não faz sentido que alguém se vincule a alguma coisa, que não pode revogar, e que só
vai ter efeitos passados determinados anos  o testamento, por sua vez, é livremente
revogável
 Art. 2028º/2 CC: se for celebrado um contrato sucessório que a lei proíbe, será nulo por violação
de norma imperativa
 Exceções: arts. 1700º e ss. e 1752º/2 e ss. CC
 Apesar de ser nulo, o art. 2028º/2 CC, na sua parte final, remete para as doações (art.
946º/2 CC)
o Conversão ope legis (automática por força da lei): será havida como doação
testamentária a doação que quiser produzir os seus efeitos por morte do doador,
se tiverem sido observadas as formalidades do testamento (arts. 2204º e ss. CC)
 apesar de ser nulo, pode ser convertida numa deixa testamentária

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 A doutrina entende, de forma maioritária, que “formalidades do testamento”


se refere a uma questão de solenidade do testamento  para ser válida
tem de ter sido feita por escritura pública ou documento particular
autenticado
 Depois da morte da pessoa, pode-se, livremente, alienar o quinhão hereditário
 Exceção do Direito da União Europeia:
 Reg. 650/2012, de 4/12/2012: vem permitir que um pacto sucessório possa ser
validamente celebrado
o Este regulamento europeu prevalece sobre as normas de conflito interno. Deste
modo, deveria ser esta a lei aplicável
o Outra novidade é a privação da legítima – quando uma pessoa celebra um
testamento noutro Estado membro em que a privação legítima seja permitida, este
testamento pode excluir os herdeiros legitimários de receber a sua legítima

5. Sucessão ab intestato (sucessão legítima)


5.1. Fundamento da sucessão legítima
 Conceção moderna: assenta na ideia de que o património deve ser herdado pela família do
falecido
 Tem natureza supletiva: só se aplica quando há falta de manifestação de vontade que se aplique
outro regime

5.2. Herdeiros legítimos


 Arts. 2131º e ss. CC
 Se o falecido não tiver disposto válida e eficazmente dos seus bens, vão ser chamados os
herdeiros legítimos
 Os herdeiros são: cônjuge, parentes e Estado – princípio da preferência de classes
 O adotado de forma plena é tratado de forma igual aos filhos (art. 1886º CC)

5.3. O processo especial de liquidação da herança vaga em benefício do Estado (arts. 2152º a 2155º
CC e 938º a 940º CPC)
 Na falta de cônjuge e parentes sucessíveis, é chamado o Estado – opera automaticamente, e o
Estado nunca pode repudiar aquela herança

5.4. Princípios da sucessão legítima


 Preferência de classes (art. 2134º CC)
 Preferência do grau de parentesco
 Divisão por cabeça (art. 2136º CC)
 Concurso de irmãos germanos (filhos do mesmo pai e da mesma mãe) e irmãos unilaterais (só
filhos do pai – consanguíneos – ou só da mãe – uterinos)
 Art. 2146º CC: um irmão germano vai ter o dobro daquilo que um irmão unilateral vai ter
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o Cálculo: valor da herança a dividir por 2 x número de irmãos germanos + número


de irmãos unilaterais)  se for para saber qual o valor da herança do irmão
germano no final multiplica-se por 2
 Ex: A e B são casados e, deste casamento, tiveram C, D e E. A morre e B
casa-se com X, com quem tem mais 3 filhos (F, G e H). Em 2017, morrem os
dois. C também morre em 2017, depois do pai.
 C deixou uma herança de 70.000€
o 70.000€:(2x2+3)= 10.000€
 A, D e E: multiplica-se aquele valor por 2 e ficam com
20.000€ cada
 F, G e H: ficam com 10.000€ cada um

6. Caráter unitário da herança


6.1. O tratamento unitário da herança
 A herança está sujeita a um tratamento unitário  significa isto que funciona como um
património autónomo
 MAS, ainda assim, não é uma autonomia patrimonial perfeita  para ser perfeita, é
necessário que o património respondesse pelas dívidas do de cuius, e apenas por estas 
no entanto, responde pelas dívidas da herança, mas também pelas dívidas do herdeiro

6.2. A herança jacente


 Património autónomo que deixou de ter um titular e está à espera que alguém a aceite
 Quando algum titular aceita (porque, normalmente, há mais do que um herdeiro), a herança que
era jacente passa a ser herança indivisa  herança aceite, mas ainda não partilhada
 Os herdeiros podem demorar até 10 anos a aceitar a herança – por isso, é necessário que os
bens que estão à espera de serem aceites, sejam administrados (art. 2247º CC)
 Quando a herança é aceite, produz efeitos retroativos até ao momento de abertura da sucessão
(art. 2050º/2 CC)

6.3. A herança indivisa como património autónomo e a responsabilidade pelos encargos da herança
 A herança passa a ser um património hereditário coletivo – pertence, em simultâneo, de forma
indivisa e real, a todos os herdeiros
 Cada herdeiro é titular de um património coletivo, e não de bens em particular
 Se houver apenas um herdeiro, não faz sentido falar em património coletivo, nem em
herança indivisa
 A partilha da herança é o processo que vai por termo à herança indivisa
 Ex: se B, C e D receberem a herança de A em partes iguais, esta vai ser dividida por três – cada
um recebe 1/3

6.4. A administração da herança indivisa: cabeçalato e testamentaria

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 Enquanto a herança se mantiver indivisa, os bens da herança respondem coletivamente pelos


encargos  a responsabilidade acaba por ser solidária
 Diminui o valor da herança a partilhar
 MAS, se tiver havido partilha (art. 2098º CC) – responsabilidade conjunta
 Os herdeiros vão responder proporcionalmente ao valor da herança que receberam
 Art. 2079º CC: administração da herança
 Até à sua partilha: pertence ao cabeça de casal – cabeçalato
o O cabeçalato incumbe ao cônjuge sobrevivo não separado de pessoas e bens se
for herdeiro ou tiver meação nos bens de casal (foram casados no regime de
comunhão); testamenteiro (remeter para art. 2320º e ss. CC); parentes que sejam
herdeiros legais; herdeiros testamentários, por esta ordem
o Pode também haver designação por acordo – art. 2084º CC
o Aquele que a lei designou como cabeça de casal pode vir a ser removido ou
escusar-se do cargo (arts. 2085º e 2086º CC)
o Art. 2087º CC: bens sujeitos à administração da cabeça de casal  bens próprios
do falecido + bens comuns do casal, se houver meação dos bens comuns
 A operação de partilha conjugal precede esta
o Art. 2088º CC: o cabeça de casal pode pedir aos herdeiros ou a terceiros a
entrega dos bens que deva administrar e que estes tenham em seu poder
o Art. 2089º CC: o cabeça de casal pode cobrar as dívidas ativas da herança
o Art. 2090º CC: pode vender os frutos de bens deterioráveis (ex: se tiver uma
pereira, pode vender as peras, mas não pode vender o terreno ou a pereira)

6.5. Petição da herança


 Arts. 2075º e ss. CC: petição da herança  só vale para a herança não partilhada (após a
partilha aplica-se o disposto no art. 2119º CC
 Esta herança pode ir contra terceiros, mesmo que não sejam herdeiros

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