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Direito das
obrigações II
Prof. Romano Martinez
2018/2019
Ana Figueiredo
Ana Figueiredo
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
A maior parte das obrigações são complexas, contrariamente aos exemplos dados nas aulas.
Por exemplo, quando nos dizemos A deve 500€ a B, num primeiro plano falamos de uma
obrigação simples, no entanto, A deve esse valor por alguma razão, ou seja, insere-se num
complexo obrigacional, com deveres colaterais que poderia ser por exemplo a compra e
venda. Sendo assim, é simples a obrigação de exigir o preço ou entrega de uma coisa, vistas
separadamente, e será complexa atendendo ao conjunto de vínculos derivados do contrato
compra e venda.
A obrigação é una/simples se há um só credito, uma só divida.
Será múltipla/complexa a obrigação com um conjunto de vínculos emergentes do mesmo
facto jurídico.
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Pressupostos:
• Dever de ordem moral e social – dever de justiça (ex: situação de
obrigação prescrita – art.304º/2 – jogo e aposta – art.1245º -
obrigação de alimentos – art.495º/3)
• Razão de justiça (licitude)
As obrigações naturais não podem ser convencionadas livremente pelas partes no exercício da
sua autonomia privada, uma vez que isto equivaleria a renuncia do credor ao direito de exigir o
cumprimento, o que é vedado pelo art.809º.
A lei manda aplicar às obrigações naturais o regime das obrigações civis em tudo o que não se
relacione com a realização coativa da prestação, salvas as exceções da lei (art.404º). Para o
Prof. Menezes Leitão o alcance desta remissão será́ muito mais reduzido do que à primeira
vista possa parecer. Não lhes é aplicável, o regime das fontes das obrigações. A exigência da
espontaneidade do cumprimento da obrigação natural é incompatível com a estipulação de
garantias. Finalmente, as obrigações naturais não se podem extinguir por prescrição.
São verdadeiras obrigações jurídicas, apesar de o seu regime ser diferente das restantes por
não se permitir a sua execução, segundo Menezes Cordeiro e Almeida Costa.
Para o Menezes Leitão, a obrigação natural não constitui uma verdadeira obrigação jurídica,
na medida em que nela não existe um vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica
adstrita para com outra à realização da prestação (397º). A simples existência de um dever
moral e social, que corresponda a um dever de justiça, não basta para se considerar
subsistente na obrigação natural um vinculo jurídico, uma vez que é a própria lei que recusa ao
credor natural a tutela jurídica desse direito ao negar-lhe a faculdade de exigir judicialmente o
cumprimento. Ora, essa faculdade integra o conteúdo do direito de crédito e não é dele
conceptualmente separável. Por outro lado, nas obrigações civis o cumprimento da obrigação
não aumenta o património do credor, uma vez que o devedor se limita a solver um crédito,
que já consistia um valor patrimonial no âmbito desse património. Na obrigação natural a
situação é radicalmente distinta. Sem a faculdade de exigir o cumprimento, o direito de crédito
não tem conteúdo, não podendo nunca se considerar um valor ativo patrimonial do credor.
Nas obrigações naturais, não existe, consequentemente um direito primário à prestação, como
direito de crédito. A lei limita-se a reconhecer causa jurídica à prestação realizada
espontaneamente, excluindo que o prestante possa vir a recorrer a repetição do indevido,
para 476º/1 determina que o regime de repetição do indevido é aplicável, “sem prejuízo do
disposto acerca das obrigações naturais”.
A função do artigo 403º/1 não reside numa jurisdificação da obrigação natural, mas antes na
tutela de aquisição pelo credor natural, em consequência da prestação, à qual se atribui assim
causa jurídica.
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a. Conjunção e solidariedade
Dentro das obrigações plurais temos as situações de conjunção e as situações de
solidariedade
O princípio geral do art.513º aponto no sentido de a solidariedade ser a exceção,
pois tem de resultar de lei ou convenção. De modo diverso, no âmbito comercial
há solidariedade passiva por via de regra.
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periódica, pelo contrario, ela não abrange as prestações já executadas, a não ser que entre
elas e a causa de resolução exista um vinculo que legitime a resolução de todas elas (art. 434º,
nº2). Nas prestações duradouras o decurso do tempo determina o conteúdo da obrigação e
não apenas o momento em que deve ser realizada. Por esse motivo, o tempo em que o
contrato vigorou constituiu nas partes o direito as prestações recebidas, que não é afetado
pela resolução do contrato. Por esse motivo, a resolução nestes contratos só opera
normalmente para o futuro, não tendo efeito retroativo, a menos que a causa da resolução
seja reportada as prestações já realizadas.
Finalmente, os contratos de execução duradoura caracterizam-se por neles vigorarem com
maior intensidade os deveres de boa fé́. Trata-se de relações que pressupõem uma intensa
relação de confiança e colaboração entre as partes e uma aplicação intensa da boa fé́ e de
deveres acessórios. Assim, se alguma parte lesar a confiança da outra mesmo que não
cumprindo uma prestação recíproca, ela tenha o direito de resolução do contrato, com
fundamento em justa causa (art. 1002º, 1140º, 1150º, 1194º, 1201º).
O art 211º (diz respeito a coisas relativamente futuras) define-nos coisas futuras, como as que
não estão em poder do disponente ou a que este não tem direito, ao tempo da declaração
negocial. Para o Prof. Menezes Leitão, esta definição não se apresenta totalmente correta,
uma vez que, o conceito de coisa futura é mais amplo do que este, abrangendo ainda as coisas
inexistentes e as coisas ainda não autonomizadas de outras. Os bens futuros são assim aqueles
que não tendo existência, não possuindo autonomia própria ou não se encontrando na
disponibilidade do sujeito, são objeto do negócio jurídico na perspetiva de aquisição futura
dessas características.
Se não há qualquer obstáculo a que a prestação tenha por objeto as coisas presentes, já há
algumas restrições à constituição de obrigações sobre coisas futuras uma vez que, embora o
art. 399º admita genericamente a prestação de coisa futura, refere logo, porém, a existência
de casos em que a lei a proíbe. Efetivamente, os bens futuros podem ser objeto de compra e
venda (880º), mas já não podem ser objeto de doação (942º/1).
• Facto – realizar uma conduta de outra ordem, como na hipótese de alguém se obrigar
a cuidar de um jardim e distingue-se:
o Prestação de facto positivo (tem por objeto uma ação):
§ Facto material (ex: construir uma casa)
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Na prestação de coisa pode ser distinguida a atividade do devedor da própria coisa que existe
independentemente da sua conduta. Pode assim estabelecer-se uma distinção entre a
prestação do devedor e a coisa a prestar. O interesse do credor verifica-se normalmente em
relação à coisa, que tem uma existência independente da prestação, e não em relação à
atividade do devedor. No entanto, o direito de crédito nunca incide diretamente sobre a coisa,
mas antes sobre a conduta do devedor, já que se exige sempre a mediação da atividade do
devedor para o credor obter o seu direito. Daí que mesmo nos casos de prestações de coisa, o
credor não tenha qualquer direito sobre a coisa, o que só sucede nos direitos reais, mas antes
um direito a uma prestação, que consiste na entrega da coisa.
Pelo contrario, nas prestações de facto não é possível distinguir entre a conduta do devedor e
uma realidade que exista independentemente dessa conduta. O direito tem por objeto a
prestação do devedor e o seu interesse não corresponde a nenhuma realidade independente
dessa prestação.
O art 767º/1, determina que a prestação pode ser realizada por terceiro, interessado ou não
no cumprimento da obrigação. Desta norma resulta que, regra geral, as prestações são
fungíveis, Mas, o art. 767º/2, refere os casos em que a prestação é infungível: quando a
substituição do devedor no cumprimento não prejudica o credor (infungibilidade natural), ou
quando se tenha acordado expressamente que a prestação só pode ser realizada pelo devedor
(infungibilidade convencional).
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fazer (829º). Ainda, mesmo que a prestação consista na realização de uma atividade jurídica
(por ex., celebração de um contrato), admite-se a substituição no cumprimento através da
emissão pelo Tribunal de uma sentença com os mesmos efeitos do contrato prometido (830º).
Quando, porém, essa circunstância não ocorre, tal significa que as partes delegaram numa
delas a faculdade de determinar o conteúdo da prestação.
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Esta situação vem prevista no art 400º que prevê que a determinação da prestação pode ser
confiada a uma das partes ou terceiro, mas que, em qualquer caso, deve ser feita segundo
juízos de equidade, se outros critérios não tiverem sido estipulados. Por esta norma, se pode
concluir que o poder de determinar não é absoluto, havendo que ocorrer uma conformidade à
equidade, a qual significa uma adequação ao que é comum nesses contratos e de acordo com
as circunstâncias do caso, havendo que se considerar simultaneamente o interesse do credor
em relação à prestação e as suas especiais relações económicas.
Prestações genéricas
Art.539º. Opõe-se à especifica.
A prestação genérica, à data da constituição, apresenta-se como indeterminada,
aquando da determinação, a obrigasse transforma-se em especifica.
Determina-se apenas quanto ao género (ex: trigo) e à quantidade (ex: 100 kg),
pressupondo, para a sua determinação, operações de pesagem, escolha, medida, etc.
Apesar de o art.539º. atender tão-só ao género, impõe-se igualmente a indicação da
quantidade. Por via de regra, a mera determinação do género é insuficiente para preencher o
requisito da determinabilidade, ou seja, faltam critérios para a determinação da prestação.
Ex: obrigação de entrega de 20 garrafas de vinho. Há uma referencia ao género – vinho
- e à quantidade – vinte garrafas – mas ainda não estão concretizadas quais as
unidades com que o devedor deverá cumprir a obrigação. Daí que se chame genérica,
pois apenas o género se encontra determinado.
O facto de a obrigação ser genérica implica naturalmente que tenha que ocorrer um
processo de individualização dos espécimes dentro do género. É a denominada escolha que,
nos termos do art.400º pode caber a ambas as partes (credor ou devedor) ou a terceiro. Nos
termos do art.539º a regra é a de que a escolha cabe ao devedor, referindo o art.542º as
hipóteses excecionais de a escolha caber ao credor ou a terceiro. Pergunta-se, se o devedor é
absolutamente livre na escolha que faz, podendo escolher por ex. a mercadoria de pior
qualidade? Para o Prof. Menezes Leitão, o devedor deve entregar uma coisa de qualidade
média. Esta solução resulta do art.400º que estabelece que a determinação da prestação deve
ser realizada segundo juízos de equidade.
A indeterminação inicial da obrigação genérica coloca o problema da averiguação do momento
em que tem lugar a transferência da propriedade sobre as coisas que vão servir para o
cumprimento da obrigação, o que tem importância para efeitos de risco, uma vez que a regra
é a de que o risco do perecimento de coisa corre por conta do proprietário (art.796º). Ora, na
obrigação genérica a transferência da propriedade não pode ocorrer no momento da
celebração do contrato, conforme resulta genericamente do art.408º/1, relativamente as
coisas determinadas. Efetivamente, há sempre que determinar a prestação para se obter a
transferência da propriedade, referindo o art.408º/2, que essa transferência se opera quando
a coisa é determinada com conhecimento de ambas as partes. Só que as obrigações genéricas
são excetuadas desse regime, estando a transferência da propriedade sobre as coisas que
servem para o seu cumprimento sujeita a outras regras. Efetivamente, a transmissão da
propriedade ocorre no momento da concentração da obrigação, quando a obrigação passa de
genérica a específica, não se exigindo que essa concentração seja conhecida de ambas as
partes.
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A nossa lei consagrou relativamente à concentração das obrigações genéricas por escolha do
devedor como regra geral a teoria da entrega de Jhering. Essa solução resulta do art.540º que,
ao referir que enquanto a prestação for possível com coisas do género estipulado não fica o
devedor exonerado pelo facto de terem perecido aquelas com que se dispunha a cumprir.
Efetivamente, se o devedor continua a ter que entregar coisas do mesmo género, isso significa
que a obrigação genérica ainda não se concentrou, pelo que essa concentração apenas ocorre,
regra geral, com o cumprimento. É esse, também o momento da transferência da propriedade
sobre as coisas objeto da obrigação genérica, já que, face ao art.408º/2, a transmissão da
propriedade sobre coisas genéricas exige a sua concentração, que normalmente apenas ocorre
mediante a entrega pelo devedor (540º).
A lei admite, porém, no art.541º, certos casos em que, embora cabendo a escolha ao devedor,
a obrigação se concentra antes do cumprimento. São eles:
No primeiro caso exige-se um acordo entre as partes. Esse acordo constitui um contrato
modificativo da obrigação, através do qual as partes substituem uma obrigação genérica por
uma especifica.
No segundo caso, a concentração ocorre por mero facto da natureza, mas não se está perante
um desvio da regra do art.540º, uma vez que, caso as coisas sobrantes também
desaparecessem, deixaria a prestação de ser possível com coisas do género estipulado, pelo
que o devedor estaria sempre exonerado em virtude da impossibilidade da prestação
(art.790º).
O terceiro caso vem previsto no art.813º. Nessa situação, se o credor, sem motivo justificado ,
recusa receber a prestação ou não pratica os atos necessários ao cumprimento da obrigação, a
lei determina que a obrigação genérica se concentra (art.541º), pelo que o risco do
perecimento dessas coisas correrá por conta do credor. Nesta situação a obrigação permanece
genérica.
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Para o professor Menezes Cordeiro, a norma do art.541º documento cedências do legislador às teorias
da esolha ou do envio, pelo que, neste caso, o legislador se teria desviado da teoria da entrega.
Menezes Leitão discorda.
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Finalmente, a promessa de envio referida no art.797º não consiste sequer numa hipótese de
concentração da obrigação genérica antes do cumprimento. Efetivamente, esta norma não se
refere as dívidas em que o devedor se compromete a levar ou enviar a coisa até ao local do
cumprimento, suportando até então o risco de transporte. Refere-se apenas as denominadas
dívidas de envio ou remessa, em que o devedor não se compromete a transportar a coisa para
o local do cumprimento, mas apenas a, no local do cumprimento, colocar a coisa num meio de
transporte destinado a outro local. Assim, estas obrigações cumprem-se no próprio local do
envio ou da remessa, ficando a obrigação extinta nesse momento em virtude do cumprimento.
O facto de o credor ainda não ter recebido a prestação é irrelevante, uma vez que, o
cumprimento pode ser realizado a terceiro se assim tiver sido estipulado ou consentido pelo
credor (770º/a)).
As obrigações alternativas
Caracterizam-se por existirem duas ou mais prestações de natureza diferente, mas em que o
devedor se exonera com a mera realização de uma delas que, por escolha, vier a ser designada
(art.534º).
As duas escolhas encontram-se em alternativa, mas apenas uma é concretizável através de
uma escolha.
Na falta de determinação em contrário, a escolha pertence ao devedor (art.534º/2), mas pode
também competir ao credor ou a terceiro (art.549º). Apesar de existirem duas ou mais
prestações, o devedor tem apenas uma obrigação, e o credor apenas um direito de crédito.
Só constituem obrigações alternativas aquelas que pressupõem uma escolha entre prestações.
A escolha tem de se verificar entre uma ou outra das prestações, não sendo permitido, mesmo
tratando-se de prestações divisíveis, que aquele a quem incumbe a escolha decida realizá-la
entre parte de uma prestação ou parte de outra (art.544º).
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genéricas, mas não o regime das obrigações alternativas. Em relação a estas é, portanto, a
designação do devedor, desde que conhecida da outra parte, que determina a prestação
devida (art.543º/1 in fine e art.548º). Ele pode coincidir com a oferta real da prestação, mas
também pode ocorrer anteriormente, produzindo efeitos, designadamente para operar à
transferência do risco, desde que declarada ao credor. Não é, por isso, permitida ao devedor a
posterior revogação da escolha efetuada, uma vez que, após a realização da escolha, ele só se
exonera efetuando a prestação escolhida. A escolha é igualmente irrevogável quando compete
ao credor ou a terceiro, por força da remissão do art.549º para o art.542º.
Se, porém, alguma das partes não realizar a escolha no tempo devido, a lei prevê a devolução
dessa faculdade à outra parte (art.542º/2 ex vi art.549º e art.548º), ainda que sob critérios
diferentes:
Se a escolha couber ao credor – a escolha passa imediatamente a competir ao devedor.
Se a escolha couber ao devedor – a devolução dá escolha ao credor ocorre apenas na fase da
execução, tendo o credor, na fase declarativa, que obter uma condenção em alternativa
através da formulação de um pedido alternativo.
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ideia do Prof. Menezes Cordeiro que nos diz que, quando a obrigação se torna impossível, o
terceiro perde a faculdade de realizar a escolha, uma vez que ele só pode escolher entre
duas prestações possíveis e não entre uma prestação e uma indemnização. Por esse motivo,
se a escolha pertencer a terceiro e a impossibilidade for imputável ao devedor, deve passar a
ser o credor que escolherá entre exigir a prestação possível, a indemnização ou resolução do
contrato (art. 546º). Se a escolha pertencer a terceiro e a impossibilidade for imputável ao
credor, deverá passar a ser o devedor a escolher entre considerar cumprida a obrigação ou
realizar outra prestação, exigindo simultaneamente uma indemnização (art 547º). Assim, o
terceiro só escolhe entre prestações possíveis, passando a escolha a caber as partes, quando
se verifica a impossibilidade de uma das prestações.
As obrigações alternativas representam modalidades de obrigações comprestação
indeterminada. Não se confundem, por isso, com as obrigações com faculdade alternativa (ver
ex. do art 538º), onde a prestação já se encontra determinada, mas se dá ao devedor a
faculdade de substituir o objeto da prestação por outro.
Em termos práticos, a diferença de situações reside na posição do credor. Enquanto nas
obrigações alternativas, o direito de o credor abrange duas prestações em alternativa, nas
obrigações com faculdade alternativa abrange apenas uma prestação, ainda que a outra parte
tenha a faculdade de a substituir.
As obrigações pecuniárias
Correspondem as obrigações que têm dinheiro por objeto, visando proporcionar ao credor o
valor que as respetivas espécies monetárias possuam.
Temos então dois requisitos cumulativos:
• Se a obrigação tem dinheiro por objeto, mas não visa proporcionar ao credor o valor
dele não estamos perante uma obrigação pecuniária (entrega de determinadas
moedas e notas, para integrar uma colecção).
• Se a obrigação visar apenas proporcionar ao credor um valor económico (de um
determinado objeto ou de uma componente do património) não tendo assim por
objeto a entrega de quantias em dinheiro, falar-se-á antes em dívida de valor, a qual
se caracteriza por ter objeto um valor fixo, que não sofre alterações em caso de
desvalorização da moeda, não suportando assim o credor o risco correspondente. A
dívida de valor terá em certo momento, que ser liquidada em dinheiro, pelo que nesse
momento se converterá em obrigação pecuniária.
1. Obrigação de quantidade
Têm por objeto uma quantidade de moeda com curso legal no país.
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Atualmente é o euro. O seu regime encontra-se no art. 550º dele resulta a referência a
dois princípios reguladores do regime das obrigações pecuniárias de quantidade:
• Princípio do curso legal: significa que o cumprimento das obrigações pecuniárias
se deve realizar com espécies monetárias a que o Estado reconheça função
liberatória genérica, cuja aceitação é obrigatória para os particulares. Resulta
daqui que a obrigação pecuniária de quantidade tem sempre por objeto uma
quantia de unidades monetárias, devendo o cumprimento ser realizado com
espécies que tenham curso legal.
Dogmaticamente, as obrigações de quantidade consistem em obrigações
genéricas, sujeitas ao regime respetivo, mas o género de referência toma por base
todo o universo da moeda com curso legal no país. Daí que nas obrigações
pecuniárias seja impossível a extinção do género referida no art. 541º, não ficando
o devedor libertado pelo facto de não possuir dinheiro para efetuar o pagamento,
dado que enquanto houver moeda com curso legal subsistir o género acordado
para o pagamento.
• Princípio do nominalismo monetário: Visando as obrigações pecuniárias
proporcionar ao credor o valor correspondente as espécies monetárias entregues,
que possa ser utilizado como meio geral de troca, há que determinar qual o valor a
que essas espécies monetárias devem ser referidas. A moeda além do valor
nominal, facial ou extrínseco, corresponde à quantidade de bens que pode
adquirir (valor de troca interno) ou à quantidade em moeda estrangeira pela qual
pode ser trocada (valor de troca esterno). Em, períodos de inflação ou deflação, o
valor de troca da moeda pode sofrer alterações entre o momento de constituição
da obrigação e o momento do cumprimento, levando a que a entrega das espécies
monetárias já não tenha correspondência com o valor de troca que a moeda
possuía no momento da constituição da obrigação.
A lei resolve este problema, dando preferência ao valor nominal da moeda para
efeitos do cumprimento (art. 550.o ao prever que o cumprimento das obrigações
pecuniárias se faz pelo valor nominal da moeda no momento do cumprimento). É
a consagração legal deste princípio. Como consequência temos que uma ob.
pecuniária de longo prazo acarreta o risco de desvalorização da moeda, com a
inerente perda do seu poder de compra, e que esse risco é suportado pelo credor,
já que o devedor se libera com a simples entrega da quantia monetária
convencionada.
Exceções:
o Possibilidade das partes convencionarem coisa diferente (art. 550º como
supletivo). As partes podem estipular formas de atualização da prestação
de que é exemplo a convenção de rendas escalonadas (art. 78º, n.º2 do
R.A.U.).
o A lei vem prever a atualização das obrigações pecuniárias, o que acontece
normalmente nas situações de prestações periódicas (renda no
arrendamento urbano – art. 32º do R.A.U. – obs. De alimentos – art.
2012º).
O art. 551º determina que, «quando a lei permitir a atualização das prestações
pecuniárias, por virtude das flutuações do valor da moeda, atender-se-á́, na falta de outro
critério legal, aos índices dos preços, de modo a restabelecer, entre a prestação e a
quantidade de mercadorias a que equivale, a relação existente na data em que a obrigação
se constituiu». Adota-se preferencialmente o critério do índice de preços, para efeitos de
atualização das obrigações pecuniárias, quando esta é legalmente permitida. No caso de
atualização convencional das obrigações pecuniárias, caberá́ as partes fixar o critério de
atualização.
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O art. 558.° vem consagrar a título supletivo uma categoria de obrigações volutarias
intermédia em relação a esta bipartição:
• Obrigação valutária mista: consiste na situação de ser estipulado o cumprimento
em espécies monetárias que possuem curso legal apenas no estrangeiro, mas
admitir-se a possibilidade de o devedor realizar o pagamento na moeda nacional
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Obrigação de juros
Correspondem a uma modalidade especifica de obrigações, as quais se caracterizam por
corresponderem à remuneração da cedência ou do diferimento da entrega de coisas
fungíveis (capital) por um certo lapso de tempo.
A obrigação de juros pressupõe assim uma obrigação de capital, sem a qual não se pode
constituir e tem o seu conteúdo e extensão delimitados em função do tempo, sendo, por isso,
uma prestação duradoura periódica. Por esse motivo, a lei caracteriza os juros como frutos
civis (art. 212.°, nº2) uma vez que são frutos das coisas fungíveis, produzidos periodicamente
em virtude de uma relação jurídica.
Essa relação jurídica, neste caso, consiste na cedência das coisas fungíveis com obrigação de
restituição de outro do mesmo género ou no diferimento da sua entrega, sendo o juro
calculado em função do lapso de tempo correspondente à utilização do capital. Os juros
representam assim uma prestação devida como consequência ou indemnização pela privação
temporária de uma quantidade de coisas fungíveis denominada capital e pelo risco de
reembolso desta.
A obrigação de juros aparece como uma obrigação que se constitui tendo como referência
uma outra obrigação e constitui economicamente um rendimento desse mesmo capital. São
duas obrigações distintas, já que, a partir do momento em que se constitui, o crédito de juros
adquire autonomia em relação ao crédito de capital, podendo qualquer deles ser cedido ou
extinguir-se sem o outro (art. 561º)
Relativamente aos juros é possível distinguir entre:
• Juros legais: encontram-se no art. 559º, nº1 que remete a fixação da taxa para
diploma avulso, e são aqueles que são aplicáveis sempre que haja normas legais
que determinem a atribuição de juros em consequência do diferenciamento na
realização de uma prestação (art. 806º), funcionamento ainda supletivamente
sempre que as partes estipulem a atribuição de juros sem determinarem a sua
taxa ou quantitativo (art. 559º, nº1).
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CONTRATOS
Os negócios jurídicos costumam ser distinguidos em unilaterais, que são os que possuem
apenas uma parte, e contratos, que são os que possuem duas ou mais partes. Normalmente, o
contrato possui apenas duas partes, e por isso, é designado de negócio jurídico bilateral
(quando tenha mais de duas partes, designa-se por multilateral).
Entende-se por parte, não uma pessoa, mas antes o titular de um interesse, o que poderia
implicar que duas ou mais pessoas constituíssem uma única parte, quando tivessem interesses
comuns.
Para o Prof. Menezes Leitão, devemos distinguir o negócio unilateral do contrato através do
critério da necessidade de uma declaração ou duas. No negócio unilateral há apenas uma
única declaração negocial, da qual resultam todos os efeitos jurídicos estipulados,
independentemente de ter um único autor ou vários. Por sua vez, o contrato é o resultado de
duas ou mais declarações negociais contrapostas, mas integralmente concordantes entre si, de
onde resulta uma unitária estipulação de efeitos jurídicos. Consequentemente, os contratos
pressupõem sempre uma proposta e a sua aceitação, das quais deve resultar o mútuo
consenso sobre todas as cláusulas sobre as quais uma das partes julgue necessário o acordo.
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Modalidades de contratos
1. Quanto à forma
Deve ainda distinguir-se, quanto ao seu modo de formação, entre contratos reais quoad
constitutionem e contratos consensuais.
Os contratos quoad constitutionem são aqueles para cuja celebração se exige a tradição ou
entrega da coisa de que são objeto.
Os contratos consensuais são aqueles em que a entrega da coisa é dispensada – dá-se por
mero consenso negocial.
A exigência da tradição da coisa para a constituição destes contratos costuma ser
implicitamente referida através da descrição do tipo contratual e do facto de no seu regime
não se prever a obrigação de entrega da coisa (parceria pecuária – art. 1129º – comodato –
art. 1129º – mútuo – 1142º – depósito art. 1185º). Em todos estes casos, a referência à
expressão «contrato pelo qual uma das partes entrega» na descrição do tipo contratual indica
que a entrega não consiste numa obrigação assumida no contrato, sendo antes ato livre de
uma das partes, que é pressuposto para constituir esse mesmo contrato.
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em que a referência à tradição aparece apenas na descrição do tipo legal, já que sempre que a
lei exige imperativamente a tradição para a constituição do contrato (penhor de coisas, doação
verbal de coisas móveis e no reporte) parece claro que as partes não apodemdispensar. Assim,
está-lhes vedado constituir consensualmente uma doação verbal de coisas móveis, uma vez
que, não existindo tradição, esta só poderá ser realizada por escrito (art. 947.o). No caso do
reporte e do penhor de coisa, nem a forma escrita permite dispensar a tradição, uma vez que a
lei determina que o contrato não se pode constituir sem ela (art. 669º e art. 477º do Código
Comercial).
Nos contratos como a parceria pecuária, mútuo, depósito ou comodato fará, porém, sentido a
exigência imperativa da tradição, ou deve-se antes considerar que este elemento do tipo legal
é meramente natural e não essencial? A questão só poderá ser resolvida perante a análise das
funções que a tradição desempenha nestes contratos. Quem entenda que ela não
desempenha hoje uma clara função útil, tenderá naturalmente a considerá-la dispensável para
efeitos da constituição do contrato, admitindo a celebração desses contratos como
consensuais.
A exigência da tradição da coisa tem uma função útil de não permitir que a execução do
contrato ocorra numa fase posterior à da declaração negocial, exigindo que a execução do
contrato se manifeste precisamente nessa declaração negocial. Tal regime tem a vantagem de
não permitir a execução do contrato, quando a declaração negocial da parte mais sacrificada já
não é atual, o que é ditado precisamente para evitar a emissão de declarações negociais
precipitadas, em contratos que podem implicar a abdicação do gozo das coisas de que são
objeto.
A tradição deve ser considerada um elemento essencial do contrato, não se podendo admitir a
sua dispensa dado que isso corresponderia a atribuir a eficácia constitutiva desses contratos
ao simples consenso, quando a lei determina que essa constituição apenas ocorre com a
tradição.
Por outro lado, admitir a ideia de que se pode formar, com base na autonomia privada,
contratos consensuais ao lado dos contratos reais quoad constitutionem, parece-nos incorreto
já que os tipos contratuais são definidos em função dos seus efeitos e não da sua forma de
constituição (não há um mútuo real e um mútuo consensual mas apenas e tao só contratos de
mútuo). Ora, nesse contratos, ou se defende que é exigida a tradição para se constituírem
(contratos reais quoad constitutionem) ou se entende que o contrato já está formado antes da
tradição, e então o contrato é consensual.
Deste modo, o Prof. Menezes Leitão defende a manutenção no atual direito da categoria dos
contratos reais quoad constitutionem, recusando a possibilidade de estes contratos se
constituírem como consensuais.
3. Quanto aos efeitos
3.1. Contratos obrigacionais e reais
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Ana Figueiredo
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
A regra geral, porém, é a de que a transmissão dos direitos reais sobre coisas determinada
ocorre por mero efeito do contrato (art. 408º, nº1). Está consagrada nesta disposição o
sistema do título (sistema do titulo – a constituição ou transferência de direitos reais depende
unicamente da existência de um título de aquisição, sendo assim o contrato, enquanto negócio
casual, suficiente para operar a transmissão do direito real), o qual ocorre apenas em virtude
do próprio contrato, não ficando dependente de qualquer ato posterior, como a tradição da
coisa ou o registo. Daqui resulta a consequência de que o adquirente da coisa, sendo
considerado proprietário a partir da celebração do contrato, sofre o risco da sua perda ou
deterioração a partir desse momento (art.796º/1).
É de notar, no entanto, que esta transmissão da propriedade no momento da celebração do
contrato apenas ocorre relativamente a coisas que já possuem os requisitos necessários do
art. 408º/1 (coisas presentes, determinadas e autónomas de outras coisas). Se as coisas ainda
não possuírem esses requisitos, (coisas futuras, indeterminadas, coisas ligadas a outras)
refere-nos o art 408º/2 que a transferência da propriedade é diferida para um momento
posterior ao da celebração do contrato.
Temos, assim, que relativamente a coisas futuras, o momento da transferência da
propriedade é o da aquisição da coisa pelo alienante, regime que é aplicável, quer se trate
de coisas relativamente futuras (art.211º), quer de coisas absolutamente futuras (as que
ainda não existem, ao tempo da declaração negocial). Esta norma é essencialmente aplicável à
compra e venda (art.880º), uma vez que a doação não pode abranger bens futuros (art.942º) e
o próprio 408º/2 exclui deste regime a empreitada.
Tratando-se de coisas ligadas a outras, como sucede nos frutos naturais e as partes
componentes integrantes de outras coisas, a transferência verifica-se no momento da colheita
ou separação (880º).
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Ana Figueiredo
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
possibilidade de cobrar o preço. Este é, porém, um mero direito de crédito, que não lhe atribui
qualquer preferência no pagamento, o que implica para o vendedor ter de concorrer com
todos os credores comuns do comprador sobre o património deste (604º/2). Assim, caso o
comprador não possua bens suficientes para pagar a todos os seus credores, o vendedor não
terá́ possibilidade de cobrar a totalidade do preço.
A compra e venda a crédito apresenta-se por isso um negócio que envolve riscos elevados
para o vendedor, pois a celebração do contrato acarreta para ele a mudança de uma situação
de proprietário de um bem para a de um mero credor comum, sem qualquer garantia especial,
nem sequer sobre o bem vendido.
Para mais, a lei através do art. 886º retira ao vendedor a possibilidade de resolução do
contrato por incumprimento de outra parte (801º/2), a partir do momento em que ocorra a
transmissão da propriedade e a entrega da coisa.
Em virtude dessas consequências, tornou-se comum, nos contratos de compra e venda a
crédito, a celebração de uma cláusula de reserva de propriedade. A reserva de propriedade
vem referida no art 409º, podendo ser definida como a convenção pela qual o alienante
reserva para si a propriedade da coisa, até ao cumprimento total ou parcial das obrigações da
outra parte, ou até à verificação de qualquer outro evento (409º/1). A clausula de reserva de
propriedade pode ser celebrada em relação a quaisquer bens, mas a lei dispõe que, no caso
de bens imóveis ou móveis sujeitos a registo, só a cláusula constante do registo é oponível a
terceiros (409º/2). Nos outros casos, não será exigida qualquer publicidade, para se poder
opor a reserva de terceiro, mesmo que esteja de boa fé e tenha obtido a propriedade por
transmissão do adquirente sob reserva. No entanto, se o terceiro adquirir a propriedade a
titulo originário (ex. usucapião ou acessão), naturalmente que a reserva de propriedade se
extinguirá.
A clausula de reserva de propriedade implica que, por acordo entre vendedor e comprador,
a transmissão da propriedade fique diferida para o momento do pagamento integral do
preço. A função desse acordo não é permitir ao vendedor a continuação do gozo sobre o bem,
mas apenas defender o vendedor de eventuais consequências do incumprimento do
comprador.
Em caso de incumprimento por parte do comprador, o vendedor continua a poder resolver o
contrato nos termos do art. 801º/2, uma vez que a exclusão deste direito pelo art. 886º só se
verifica se tiver ocorrido a transmissão da propriedade da coisa. No entanto, em caso de venda
a prestações, o art 934º exclui imperativamente a resolução do contrato se o comprador faltar
ao pagamento de uma única prestação e esta não exceder a oitava parte do preço. Já haverá́,
no entanto, lugar à resolução do contrato, se o comprador faltar ao pagamento de duas
prestações, mesmo que estas, em conjunto, não excedam a oitava parte do preço.
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
evento exterior ao mesmo, antes se faz depender um dos efeitos essenciais desse mesmo
negócio. Não há, assim, qualquer condição, mas antes uma alteração da ordem de produção
dos efeitos negociais. Sem a reserva, a transmissão da propriedade ocorre antes do
pagamento do preço. Com a reserva, ela passa a ocorrer posteriormente a ele.
O problema, no entanto, é que nesse caso, a conservação da propriedade no vendedor visa
essencialmente funções de garantia do pagamento do preço, uma vez que o negócio
translativo já foi celebrado. Ora, assim sendo, esse negócio já confere ao comprador uma
expectativa jurídica de aquisição do bem, a qual deve ser considerada oponível a terceiros.
Não pode considerar-se o comprador como mero detentor, uma vez que a celebração de
compra e venda torna-o possuidor em nome próprio. Esta expectativa real atribui-lhe assim
poder de usar e fruir a coisa, apenas lhe estando vedada a sua disposição por tal ser
incompatível com a função de garantia visada com a conservação da propriedade no
vendedor.
Assim, tanto o vendedor como o comprador são titulares de situações jurídicas reais, havendo
que distribuir o risco de acordo com o proveito que cada um tirava da respetiva situação
jurídica, como o vendedor conservava apenas a propriedade como função de garantia, deve
apenas suportar o risco da perda dessa garantia. Pelo contrario, como o comprador já se
encontrava a tirar todo o proveito da coisa, é a ele que competirá suportar o risco pela sua
perda ou deterioração.
O contrato diz-se nominado, quando a lei o reconhece como categoria juridica através de um
nomen iuris.
O contrato diz-se inominado, quando a lei não o designa através de um nomen iuris, não o
reconhecendo assim nas suas categorias contratuais.
A integração do contrato entre as categorias legais opera-se através da sua qualificação e
depende da circunstância\ de os elementos principais do contrato corresponderem aos
elementos principais do tipo legal, independentemente de a vontade das partes ir ou não ao
encontro dessa qualificação
Os contratos nominados podem ser típicos e atípicos. O contrato inominado é sempre atípico
de acordo com Menezes Leitão. Assim, a compra e venda (art.874º e ss.) ou a doação (art.940º
e ss.) são contratos nominados e típicos, uma vez que, alem de possuírem um nome, têm
estabelecido um regime jurídico na lei. Outros contratos, como a hospedagem, são contratos
nominados e atípicos, pois apesar de a lei os reconhecer como categorias jurídicas não
estabelece qual o seu regime. Por outro lado, se as partes celebrarem um contrato que a lei
desconheça por completo, tratar-se-á de um contrato inominado e atípico.
A atipicidade legal pode, porém, ocorrer relativamente a certos contratos que, apesar de não
estarem regulados na lei, são amplamente conhecidos na pratica juridica, levando que pela
sua simples designação as partes identifiquem um regime, que essa pratica teria vindo a
impor. Fala-se nesses casos em tipicidade social, a qual, normalmente, acaba por desencadear
um posterior reconhecimento do contrato pelo legislador. É o que sucede por ex. com os
contratos de franchising. Nos contratos socialmente típicos poderá eventualmente admitir-se
a existência de verdadeiros tipos jurídicos, sempre que a prática social reiterada, ligada à
convicção de obrigatoriedade, tenha feito surgir verdadeiras normas de direito
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
6. Contratos sinalagmáticos
A existência de obrigações recíprocas para ambas as partes implica que o surgimento de cada
prestação apreça ligado ao surgimento da outra, que se apresenta assim como sua
contraprestação. O
surgimento deste nexo entre duas prestações no momento da celebração do contrato
denomina-se sinalagma genético.
Do surgimento deste nexo entre as duas obrigações retira a lei como consequência a
imposiçãõ o de uma interdependência entre as duas prestações, que se deve manter durante
toda a vida do contrato, estabelecendo-se por isso que uma prestação não deve ser executada
sem a outra e que, se uma das prestações se impossibilitar, a outra também se deve extinguir.
Esta situação é denominada de sinalagma funcional e corporiza-se em vários aspetos do
regime dos contratos sinalagmáticos. O primeiro é o de cada uma das partes pode recusar a
sua prestação enquanto a outra não efectuar a que lhe cabe ou não oferecer o cumprimento
simultâneo (428º). A segunda é a de que o contraente fiel pode resolver o contrato se a outra
parte incumprir a sua obrigação (801º/2). A terceira é a de que a impossibilitação de uma das
prestações extingue o contrato e determina a restituição da outra (795º/1).
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
gerado pela realização apenas de uma das prestações, sem que a outra fosse igualmente
realizada.
8. Contratos Mistos
Denomina-se de contrato misto aquele que reúne em si regras de dois contratos total ou
parcialmente típicos, assumindo-se dessa forma como um contrato atípico, por não
corresponder integralmente a nenhum tipo contratual regulado por lei. Como, porém, a sua
atipicidade resulta da adoção de regras de dois ou mais contratos típicos põe-se um problema
de conflito entre regimes aplicáveis, o que justifica a autonomização do contrato misto.
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
Contratos múltiplos ou combinados são aqueles em que as partes estipulam que uma delas
deve realizar prestações correspondentes a dois contratos típicos distintos, enquanto a outra
realiza uma única contraprestação comum. Como exemplo teríamos a situação de alguém
vender um automóvel a outrem e simultaneamente se comprometer a conduzi-lo, contra uma
única contraprestação (compra e venda e prestação de serviços)
Contratos de tipo duplo ou geminados, correspondem àqueles contratos em que uma parte
se encontra obrigada a uma prestação típica de certo tipo contratual, enquanto a contraparte
se encontra obrigada a uma contraprestação oriunda de outro tipo contratual. Como ex.,
teríamos a situação de alguém arrendar uma casa contra a obrigação da outra parte de realizar
serviços de limpeza do prédio (arrendamento e prestação de serviços). Surgem neste contrato
uma prestação típica do contrato de arrendamento e uma prestação típico do contrato de
prestação de serviços, mas não surgem às contraprestações típicas destes contratos (renda e
retribuição), ocorrendo assim uma situação de contrato misto.
Nos contratos mistos coloca-se com muita frequência a questão da determinação pelo qual o
regime que lhes deva ser aplicado, uma vez que as partes, ao reunirem no mesmo contrato
regras de dois ou mais negócios total ou parcialmente regulados na lei, provocam sempre um
conflito de regimes legais potencialmente aplicáveis.
A teoria da absorção vem defender que o conflito de regimes contratuais suscitado pelos
contratos mistos deve ser resolvido pela opção a favor de um único regime contratual, o qual
absorveria as regulações respeitantes aos outros tipos contratuais.
A teoria da combinação vem, por outro lado, sustentar que o conflito entre os regimes
contratuais não deve ser resolvido pela opção a favor de um deles, mas antes se deve realizar
uma aplicação combinada dos dois regimes.
A teoria da analogia vem sustentar que o conflito de regimes contratuais deve implicar a não
aplicação de qualquer deles, configurando-se por isso o contrato misto como um contrato
integralmente atípico, não regulado por qualquer tipo contratual, mas apenas pela parte geral
do Direito das Obrigações, e sendo as questões do seu regime considerados por isso como
lacunas da lei, a resolver pela integração analógica, com base na norma mais próxima em
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Ana Figueiredo
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
• Galvão Telles – os contratos múltiplos e de tipo duplo se deveriam reger pela teoria da
combinação, enquanto os contratos cumulativos e os contratos complementares se
derivam reger pela teoria da absorção.
• Antunes Varela – sempre que a lei não estabeleça m regime para o contrato misto,
não seria de adotar uma solução em abstrato, havendo antes que ponderar em
concreto, perante cada contrato misto, se o seu regime deveria ser estabelecido
através da absorção ou combinação.
• Menezes Cordeiro – inicialmente defende uma aplicação menos rígida da solução
proposta por Galvão Telles, entendendo, à semelhança de Antunes Varela, que a
ponderação concreta de cada contrato misto poderá ditar uma solução diferente da
resultante daquele modelo abstrato. Mais tarde, veio, porem propugnar a aplicação
preferencial da teoria da absorção, admitindo subsidiariamente o recuso à
combinação ou à analogia quando a aplicação daquela teoria seja afastada por normas
injuntivas, vontade das partes em contrario ou se torne inviável.
Para o Prof. Menezes Leitão, apenas a teoria da analogia merece um afastamento liminar.
Efetivamente, defender a exclusão simultânea da aplicação das regras dos dois regimes implica
desvirtuar a natureza do contrato misto.
9. União de contratos
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
Dos contratos mistos deve ser distinguida a figura da união de contratos. No contrato misto,
ainda que se recolham elementos de vários tipos contratuais, existe um único contrato, já que
esses elementos se dissolvem para formar um contrato único. Na união de contratos, pelo
contrário, essa dissolução não ocorre, verificando-se antes a celebração conjunta de diversos
contratos, unidos entre si. Assim, a união de contratos permite que cada contrato mantenha a
sua autonomia, possibilitando a sua individualização face ao conjunto.
• união externa;
• união interna;
• união alternativa;
Fala-se em união externa quando a ligação entre os diversos contratos resulta apenas da
circunstância de serem celebrados ao mesmo tempo, já que as partes não estabeleceram
qualquer nexo de dependência entre os diversos contratos. Assim, se alguém vai a um café e
pede simultaneamente um café, um bolo e um maço de cigarros, existem três contratos, mas
cada um conserva a sua autonomia entre si, só existindo a união de contratos pelo facto de os
três contratos serem celebrados ao mesmo tempo.
Na união interna, pelo contrário, os dois contratos apresentam-se ligados entre si por uma
relação de dependência, já que na altura da sua celebração uma das partes estabeleceu que
não aceitaria celebrar um dos contratos sem o outro. Essa dependência pode ser unilateral
quando apenas um dos contratos depende do outro, ou bilateral, quando ambos os contratos
se encontram dependentes entre si. Em qualquer caso, as partes querem um dos contratos, ou
ambos, como associados economicamente, pelo que a validade e a vigência de um ou de
ambos os contratos ficarão dependente da validade e vigência do outro. (ex: alguém só
compra computador se lhe oferecerem impressora).
10. Subcontrato
• Contrato base
• Subcontrato
Em primeiro lugar, uma das partes no subcontrato terá de ser, por sua vez, parte em outro
negócio jurídico e o subcontraente é, em regra, estranho à relação contratual base.
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Ana Figueiredo
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
negociais que permitem a criação de direitos e deveres derivados. Ou seja, o negócio jurídico
base deverá ser um contrato duradouro e celebrado sem intuito personae.
Em terceiro lugar, o sujeito que é parte nos dois contratos, para celebrar o subcontrato, utiliza-
se da posição contratual adquirida na relação originária. O intermediário conclui o contrato
derivado com base na posição jurídica que detém em outra convenção. Foi esta ideia que o
legislador imprimiu no conceito de sublocação (art. 1060.º). A nova situação jurídica é derivada
da anterior. Deste carácter derivado advêm as várias características do subcontrato em relação
ao contrato base: a identidade de conteúdo e de objeto, a posterioridade lógica e a
subordinação.
Em quarto lugar, como o intermediário é parte nos dois contratos e, por celebrar o
subcontrato, não se desvincula da convenção base, passam a coexistir duas relações jurídicas
distintas: a do contrato principal e a do subcontrato.
Por último, permite-se no subcontrato, ou o gozo por terceiro das vantagens de que o
intermediário é titular (p. ex, sublocação e subafretamento ), ou a substituição deste no
cumprimento da atividade a que estava adstrito (p. ex., submandato e subempreitada).Tanto a
cedência do gozo com o a substituição no cumprimento podem ser totais ou parciais.
Poderá, então, definir-se o subcontrato como o negócio jurídico bilateral, pelo um dos sujeitos,
parte em outro contrato, sem deste se desvincular e com base posição jurídica que daí lhe
advém, estipula com terceiro, quer a utilização, total ou parcial, de vantagens de que é ti tu
lar, quer a execução, total ou parcial, de prestações a que esta adstrito.
A formação do contrato não apresenta especificidades com respeito à formação dos negócios
jurídicos – art.217º e ss. Remete-se, pois, para o estudo feito em Teoria Geral.
Importa ter em conta a tripartição do regime jurídico dos contratos: art.217º e ss. (formação
dos contratos;); art.405º e ss. (regime geral dos contratos); art.874º e ss. (contratos em
especial).
Tem sido discutida na doutrina a possibilidade de admitir uma outra fonte das obrigações, que
viria a ser a das relações contratuais de facto.
Este conceito destinar-se-ia a preencher uma pretensa lacuna, colocada pela forma rígida
como tem sido entendida o modo de formação do contrato. Efetivamente, um contrato é
composto por duas declarações negociais, a proposta e a aceitação, que têm que ser
necessariamente coincidentes entre si por forma a gerar o mutuo consenso. Não chegaria
assim a formar um contrato sempre que não fosse emitida qualquer das declarações
negociais, ou faltasse algum pressuposto necessário para a sua emissão válida, como, por
exemplo, a capacidade das partes.
Para além disso, ainda se podia sustentar a existência de uma declaração negocial tácita, mas
essa qualificação não resolveria as hipóteses de se emitir por via expressa uma declaração
contrária à celebração do contrato ou da ausência de capacidade para contratar.
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Ana Figueiredo
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
Foram precisamente estes os problemas que estiveram na base da instituição da doutrina das
relações contratuais de facto por Gunther Haupt, em 1941. Este autor defendeu que, embora
o contrato seja o instrumento do trafego jurídico mais importante, na moderna organização da
vida social efetuam-se a todo o momento prestações em que não se escolhe um preceito
contratual ou que não podem ser imputadas ao conteúdo de um contrato celebrado pelas
partes, para o faltarem as necessárias proposta e aceitação. Como exemplo refere a situação
do aviador desportivo que, utilizando um aeroporto para aterrar, depois se recusa a pagar o
serviço de utilização, considerando falaciosa a qualificação desta situação como contrato
tácito, uma vez que o que estaria em causa seria a mera utilização doa aeroporto, e não as
declarações tacitas das partes.
Menezes Cordeiro, diz que relativamente às duas primeiras categorias referidas por HAUPT, as
vinculação que delas resultam para as partes têm por base meros comportamentos de facto,
sendo assim factos contratuais, pelo que poderiam ser incluídos por razões explicativas numa
categoria de relações contratuais de facto. Já quanto aos comportamentos sociais típicos, o
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Ana Figueiredo
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
autor considera corresponderem eles a uma lacuna legal, que deve ser integrada por analogia
com os contratos, integrando-os assim igualmente, agora por razões normativas, na categoria
das relações contratuais de facto.
Cabe questionar neste momento se se justifica a defesa de uma fonte autónoma de obrigações
constituída pelas relações contratuais de facto. A resposta de Menezes Leitão é negativa.
Quanto aos dois primeiros casos referidos por HAUPT a sua resolução dogmática dispensa
qualquer aplicação da doutrina das relações contratuais de facto. Efetivamente, no primeiro
caso, pretende-se discutir apenas se a culpa in contrahendo ou o transporte de favor devem
ser sujeitos à responsabilidade contratual ou à responsabilidade delitual, questão que pode ser
resolvida sem aplicação da doutrina das relações contratuais de facto. No segundo caso,
pretende-se apenas que a invalidade do contrato de sociedade ou do contrato de trabalho não
tenha efeitos retroativos, solução que o nosso legislador expressamente consagrou sem
necessidade de qualquer apela à doutrina das relações contratuais de facto (art.52º do CSC e
122º CT)
A única solução em que a doutrina das relações contratuais de facto teria alguma utilidade
seria no âmbito dos comportamentos sociais típicos em que se verificasse o fornecimento de
bens ou serviços sem contrato, que obrigasse ao pagamento do respetivo preço. Desde
sempre, no entanto, que a doutrina alemã propôs para estes casos uma solução alternativa,
que consiste na aplicação do enriquecimento por intervenção. Esta solução foi igualmente
defendida entre nós por Ribeiro de Faria que sustenta a aplicação analógica do art.479º/1 à
situação das relações contratuais de facto, sendo que nessa hipótese o devido por
enriquecimento seria o contra-valor da prestação ou a própria retribuição. No seu entender, as
relações contratuais de facto representariam uma lacuna no direito do enriquecimento
indevido, relativa à responsabilidade pela retribuição por prestações oferecidas em certas
condições e que foram utilizadas ou fruídas. Não haveria, no seu entender, razões para
defender que a retribuição esteja conceitualmente limitada ao domínio negocial e seja alheia
ao direito do enriquecimento.
Menezes Cordeiro e mais alguns autores rejeitam a aplicação do enriquecimento sem causa
neste domínio, argumentando com a dificuldade em calcular neste caso os limites do
enriquecimento e do dano ou com a impropriedade funcional do enriquecimento sem causa,
dirige à restituição das deslocações patrimoniais, face à dinâmica de troca que ocorre nestas
situações.
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Ana Figueiredo
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
Conclui-se assim, pela rejeição integral, no nosso ordenamento jurídico de uma fonte
autónoma de obrigações, constituída pelas relações contratuais de facto.
Contratos promessa
12.1. Noção e regime aplicável
De acordo com o art. 410º/1, o contrato-promessa é a convenção pela qual alguém (uma parte
ou duas) se obriga a celebrar novo contrato. Estamos assim perante um contrato preliminar de
outro contrato que, por sua vez, se designa de contrato definitivo. O contrato-promessa
caracteriza-se assim pelo seu objeto, uma obrigação de contratar – declaração negocial, a
qual pode ser relativa a qualquer outro contrato.
Podemos qualificar assim o contrato-promessa como um contrato preliminar que tem por
objeto a celebração de um outro contrato, o contrato prometido. Constitui, no entanto, uma
convenção autónoma deste, uma vez que se caracteriza normalmente por ter eficácia
meramente obrigacional, mesmo que o contrato definitivo tenha eficácia real.
Apesar da autonomia entre os dois contratos, a lei não deixou de sujeitar, em princípio, o
contrato-promessa ao mesmo regime do contrato definitivo (410º/1). É o que se denomina de
princípio da equiparação. Efetua-se uma extensão do regime do contrato definitivo ao
contrato-promessa, sujeitando-se este, em princípio, às mesmas regras que vigoram para o
contrato definitivo.
Relativamente à primeira exceção, dela resulta que a forma do contrato-promessa não seja
necessariamente a mesma do contrato definitivo, o que permite que ao contrato-promessa
seja atribuída uma forma menos solene do que a que seria exigida para o contrato definitivo.
Ex: o art.879º refere os efeitos da compra e venda. Nenhum desses efeitos pode ser estendido
em relação ao contrato-promessa, já que dele resulta apenas a obrigação de celebrar um novo
contrato – art.410º/1. Da mesma forma, o regime das perturbações da prestação no contrato
de compra e venda não se estende ao contrato-promessa. Daí que, embora a venda de bens
alheios seja nula sempre que o vendedor careça de legitimidade para realizar (882º), o
contrato promessa de venda de bens alheios é valida, já que, estando em causa uma mera
obrigação de contratar, não se exige em relação ao promitente-vendedor qualquer requisito
de legitimidade
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Ana Figueiredo
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
O contrato-promessa unilateral pode ser remunerado, o que sucede sempre que a outra
parte assuma a obrigação de pagar ao promitente determinada quantia como contrapartida
pelo facto de se manter durante certo tempo vinculado à celebração de um contrato (preço de
imobilização). Em qualquer caso, no contrato-promessa unilateral, a lei considera que o direito
à celebração do contrato definitivo apenas deve poder ser exercido dentro de um prazo
limitado, pelo que, sempre que as partes não o estipulem, é possível ao promitente fixar à
outra parte um prazo para o exercício do direito, findo o qual este caducará (411º).
Há, no entanto, uma importante exceção, referida no art.410º, nº2, que nos refere que
quando a lei exige um documento, autêntico ou particular, para o contrato prometido é
também exigido documento para o contrato-promessa, bastando, porém, um documento
particular, ainda que o contrato-prometido exija um documento autêntico. Assim, o contrato-
promessa de compra e venda de um imóvel, sujeita por lei a escritura pública (875º), pode
realizar-se por simples documento particular. A exigência de forma escrita para o contrato-
promessa não é naturalmente preenchida com a simples outorga de um recibo de sinal.
Nos termos do art. 410º/2, o referido documento tem que ser assinado apenas pela parte que
vincula à celebração do contrato definitivo. Assim, se o contrato-promessa for unilateral, só
terá que ser assinado pelo promitente, apenas se exigindo a assinatura de ambos nos
contratos-promessa bilaterais.
Uma questão que tem suscitado muita controvérsia tem sido a de averiguar se o contrato-
promessa bilateral, que seja assinado apenas por um dos promitentes, pode ser válido como
promessa unilateral, permitindo a subsistência da obrigação por parte de quem assinou o
documento. A doutrina tem-se dividido sobre esta questão:
33
Ana Figueiredo
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
c) a tese da conversão;
A tese da conversão foi defendido por Antunes Varela e, posteriormente, por Galvão Telles. Os
seus argumentos partem do pressuposto de que se apresentaria como iníquo não permitir o
aproveitamento do negócio, mas que este deve ser realizado através do mecanismo da
conversão e não da redução, já que a redução pressupõe uma invalidade parcial (art.292º) e o
contrato-promessa bilateral a que falte uma das assinaturas se apresenta como totalmente
nulo por falta da forma exigida por lei. Por outro lado, a natureza sinalagmático contrato-
promessa bilateral torná-lo-ia radicalmente diferente do contrato-promessa unilateral, que
não reveste essa natureza. Não se estaria, assim, perante um aproveitamento parcial do
negocio, mas perante a sua transformação num negocio de tipo ou, pelo menos, de conteúdo
diferente, situação sujeita por isso no art.293º. Finalmente, em face do regime da redução,
cabe à parte interessada na invalidade total do negocio alegar e provar que este não teria sido
concluído sem a parte viciada, quando o correto seria antes que este ónus recaísse sobre a
parte interessada no aproveitamento do negócio.
Menezes Cordeiro adota uma posição intermedia. Considera, em primeiro lugar, que, sendo a
promessa unilateral visceralmente diferente da bilateral, a situação nunca poderia ser de
invalidade parcial, mas antes de invalidade total pelo, que, em principio, só a conversão
poderia salvar o negocio. Como, no entanto, reconhece que a redução pode em concreto
salvaguardar melhor os interesses do contraente vinculado propugna uma aplicação conjunta
dos dois preceitos, remetendo ainda, com base no art.239º, para a boa fé em ordem a
encontrar a solução mais justa.
Finalmente, para o Prof. ML não se lhe afigura, problemática a qualificação da situação como
invalidade parcial, uma vez que, apesar de se tratar de uma invalidade formal, esta é cindível
em relação às duas partes. Efetivamente, por força do 410º/2, admite-se que no contrato-
promessa unilateral, a assinatura das partes seja apenas necessária para a constituição da
obrigação de contratar, adquirindo a outra parte o direito à celebração do contrato-definitivo
sem ter que assinar o contrato-promessa. Ora, se assim é no contrato-promessa unilateral,
não se vê porque motivo esta solução não haveria de valer também para o contrato-promessa
bilateral, considerando-se, em virtude da falta de uma das assinaturas, como formalmente
válida a assunção de uma das obrigações e formalmente inválida a assunção da outra, o que
representaria sempre um caso de invalidade parcial do contrato. A partir daí, saber se essa
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Ana Figueiredo
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
Daqui resulta que a referida invalidade não pode ser invocada por terceiros, nem conhecida
oficiosamente pelo Tribunal. A omissão destas formalidades não constitui para o Prof. ML, por
isso, uma verdadeira nulidade, sujeita ao regime do art. 286º, mas antes uma situação de
invalidade mista, estabelecida no interesse do promitente adquirente em evitar a aquisição de
um imóvel clandestino. Por esse motivo, o promitente adquirente pode invocar essa
invalidade a todo o tempo, admitindo -se, porém, que essa invocação possa ser restringida
com base no abuso de direito (334º). Invalidade sanável a todo tempo.
A execução específica encontra-se prevista no art.830º. Desta norma resulta que o não
cumprimento da promessa atribui à outra parte do direito a recorrer à execução específica. A
referência legal a “não cumprimento” deve ser entendida em sentido amplo, uma vez que para
efeitos da execução específica é suficiente a simples mora, já que o credor mantém interesse
na prestação, exercendo o seu direito a ela. Aliás, a execução específica deixa de ser possível, a
partir do momento em que se verifique uma impossibilidade definitiva de cumprimento (ex: o
bem que se prometeu vender já ter sido alienada a um terceiro. A sentença judicial não
poderia produzir os efeitos de um contrato definitivo válido, mas antes os efeitos de uma
venda de bens alheios nula (892º e ss) o que não é admissivel. Esta solução é aplicável mesmo
que o registo da venda somente ocorra após o registo da ação de execução especifica, uma ves
que até à decisão da ação de execução especifica continua a ahver apenas um direito de
crédito, que não adquire prevalência sobre direitos reias, mesmo que seja registado.) – 790º
impossibilidade objetiva.
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
A lei procura ainda resolver dois problemas que a execução específica poderia
desencadear. O primeiro diz respeito à hipótese de o bem ter sido prometido vender livre de
ónus ou encargos, mas se encontrar presentemente hipotecado. Ora, nesse caso, a execução
específica não protegeria adequadamente os interesses do adquirente, que ficaria sujeito a ver
o bem posteriormente executado para pagamento da dívida ao credor hipotecário. Por esse
motivo admite-se que na ação de execução específica seja simultaneamente pedida a
condenação do promitente faltoso na quantia necessária para expurgar a hipoteca, assim se
conseguindo a sua extinção, necessária para o beneficiário da promessa (830º/4).
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Ana Figueiredo
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
beneficiar da prestação conferida pelo sinalagma funcional, caso a ação de execução especifica
seja julgada procedente.
12.3. Sinal
O regime do contrato-promessa deve ser articulado com o regime do sinal. O sinal consiste
numa cláusula acessória dos contratos onerosos, mediante a qual uma das partes entrega à
outra, por ocasião da celebração do contrato, uma coisa fungível, que pode ter natureza
diversa da obrigação contraída ou a contrair.
O sinal funciona então como fixação das consequências do incumprimento, uma vez que se a
parte que constitui o sinal deixou de cumprir a sua obrigação, a outra parte tem o direito de
fazer sua a coisa entregue. Se o não cumprimento partir de quem recebeu o sinal, tem este
que o devolver em dobro (442º/2, 1a parte). Caso, porém, se verifique o cumprimento do
contrato, a coisa entregue será imputada na prestação devida – valendo como princípio de
pagamento – ou restituída, caso essa imputação não seja possível (442º/1).
O sinal representa, para o Prof. Menezes Leitão, um caso típico de datio rei (entrega da coisa)
que transmite a propriedade com uma função confirmatória-penal, podendo nessa medida
qualificar-se como um contrato real simultaneamente quoad constitutionem e quoad
effectum.
Sendo uma figura de aplicação geral, o sinal tem um campo de aplicação privilegiado no
âmbito dos contratos-promessa. Do art.440º resulta que normalmente a realização de uma
datio rei, por uma das partes, na altura da celebração do contrato ou em data posterior, não
implica a presunção de constituição de sinal, sempre que se verifique coincidência entre a
datio realizada e o objeto da obrigação a que aquela parte está adstrita. Nesta situação,
entende-se que o que visou com a datio foi antecipar o cumprimento da obrigação e não a
constituição do sinal. Se as partes quiserem que a prestação entregue tenha o carácter de
sinal, deverão atribuir-lhe especificamente essa natureza.
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
Dispondo pelo contrario o art.441º que a entrega de quantias em dinheiro pelo promitente-
comprador ao promitente vendedor constitui presunção de estipulação de sinal por essa via,
isto mesmo que as quantias entregues o sejam a título de antecipação ou princípio de
pagamento do preço. Efetivamente, uma vez que a obrigação de pagamento do preço só
surge com a celebração do contrato definitivo, a sua antecipação ou princípio de pagamento
na fase do contrato-promessa tem por referência uma obrigação ainda não existente, o que
não chega para elidir a presunção de ter sido estipulado sinal.
No entanto, e uma vez que a lei não considera inilidível a presunção da estipulação de sinal,
admite-se a produção de prova em sentido contrário (350º/2). Trata-se, porém, para o Prof.
ML de uma prova difícil de efetuar. Caso, porem, as partes venham a efetuar essa
demonstração, a quantia entregue valerá como antecipação do cumprimento de uma
obrigação futura, devendo a quantia entregue ser imputada na prestação devida, após a
constituição dessa obrigação, ou restituída em singelo quando a obrigação não se venha a
constituir-
Funcionamento do sinal
A lei estabelece uma distinção no regime do sinal, consoante ele seja aplicado genericamente
a todos os contratos, ou especificamente ao contrato-promessa. O regime do art.442º, não
distingue, porém, estas duas situações, cabendo à doutrina fazê-lo.
O art 442º/1, refere-se ao regime do sinal em geral, indicando o seu funcionamento em caso
de cumprimento da obrigação. Em caso de cumprimento, o sinal é imputado na prestação
devida, quando coincida com esta. Se for impossível a imputação, por a coisa entregue não
coincidir com a prestação devida, deve o sinal ser restituído em singelo (442º/1). A restituição
do sinal em singelo ocorrerá igualmente nos casos em que se verifique a impossibilidade da
prestação por facto não imputável a qualquer das partes. Efetivamente, em ambas as
situações, a parte deixa de ter causa justificativa para a conservação do sinal, pelo que terá
que o restituir.
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A lei vem esclarecer que o que aquele pode exigir é a valorização obtida pela coisa entre o
momento da celebração do contrato e o momento do não cumprimento, valor esse que se
obtém subtraindo ao valor atual da coisa o preço convencionado, A este montante acresce a
restituição do sinal (em singelo) e de parte do preço que tenho sido paga (442º/2, 2ª parte).
exemplo: Imagine-se que A promete vender a B, e B promete comprar-lhe, uma casa pelo
preço de 50.000 Euros, pagando B logo 25.000 Euros como sinal, e sendo efetuada a tradição
da coisa. Posteriormente, no entanto, o valor real da casa sobe para 200.000 Euros. Se A
tivesse que restituir o sinal em dobro, entregaria 50.000 Euros, e iria ganhar 150.000 através
da alienação da casa a terceiro, o que tornaria para ele o incumprimento do contrato mais
vantajoso do que o seu cumprimento. Havendo a possibilidade de B optar pela valorização da
coisa, A teria que pagar-lhe o seu valor atual, com dedução do preço convencionado (200.000
– 50.000 = 150.000) e restituir-lhe o sinal em singelo (25.000), no total de 175.000 Euros, o que
torna desvantajosa a opção pelo incumprimento.
Uma questão que tem sido controvertida em face desta norma é saber se a exigência do
aumento do valor da coisa ou do direito, a que se refere o contrato-prometido, pressupõe
que tenha sido constituído sinal ou bastasse apenas com a tradição da coisa. Menezes
Cordeiro defendeu que deve ser exigida a constituição de sinal, uma vez que, quando este não
é estipulado, a tradição d a coisa para o promitente comprador apresenta-se como um ato de
mera tolerância, não havendo razão para que ele seja prejudicado com este ato.
O Prof. Menezes Leitão concorda com Prof. Menezes Cordeiro. Efetivamente, o regime do
art.442º/2, 2ª parte, pretende evitar, nos casos em que houve tradição da coisa, que o
funcionamento tradicional do sinal se torne uma sanção platónica para o promitente
vendedor, em virtude de a inflação ter alterado a correspondência entre o valor dessa coisa e
o preço convencionado.
Da leitura do art.442º/3 parece resultar a ideia de que o contraente não faltoso tem sempre a
possibilidade de optar pela execução específica em alternativa ao sinal. Não é, porém, assim
dado que, em face do art.830º, havendo sinal, presume-se que as partes efetuam uma
estipulação contrária à execução específica (830º/2), só podendo esta funcionar em
alternativa, caso as partes ilidam esta presunção, ou se trate da hipótese prevista no
art.830º/3 onde a execução específica é imperativa. O que este artigo quer simplesmente
referir é que, a execução específica é possível, haja ou não tradição da coisa a que se refere o
contrato-prometido. A possibilidade de se conseguir a finalidade, o credor perante uma
hipótese de incumprimento, vai pressionar o devedor por via judicial normalmente. Neste
art.830º qualquer um dos promitentes perante o incumprimento da outra pode judicialmente
requerer a execução especifica do contrato. Se uma das partes não quer emitir a sua
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declaração de vontade, pode ir-se pela via da execução especifica. A execução especifica não é
imperativa, as partes podem afastar. Por exemplo, ao haver sinal presume-se que as partes
afastaram a execução especifica, convenção em contrario, a natureza...
A disposição do art 442º/3, na redação que lhe foi dada pelo DL 379/86, suscitou, porém,
alguma discussão na doutrina. Questionou-se se, em virtude da admissão de uma posterior
oferta de cumprimento, salvo o disposto no art.808º, paralise o direito ao aumento do valor da
coisa, não se teria passado a exigir apenas uma situação de mora no cumprimento para
determinar a perda do sinal ou a sua restituição em dobro, ou a alternativa do aumento do
valor da coisa, ou do direito, ou se, pelo contrário se continuaria a exigir o incumprimento
definitivo da obrigação para a constituição desses direitos. Efetivamente, o art.808º, refere-se
aos casos em que a mora se transforma em incumprimento definitivo, pelo que a ressalva
desta disposição no art.442º/3, faria pressupor que o incumprimento definitivo ainda não se
tinha verificado. Ora, sendo a previsão dessa norma a opção pelo aumento do valor da coisa, o
que aparece no 442º/2, como alternativa à perda do sinal ou sua restituição em dobro,
pareceria que todos estes efeitos seriam consequência da simples mora no cumprimento. A
isto acresce que uma oferta de cumprimento em relação a um contrato-promessa
definitivamente incumprido faria pouco sentido.
Para Prof. ML deverá referir-se que o art.442º/3, é uma norma específica sobre o regime do
contrato-promessa, pelo que dele não poderão ser extraídas conclusões sobre o
funcionamento do regime do sinal em geral, previsto nos art.442º/1 e 2, 1ª parte. Ora, em
relação, ao sinal em geral, parece-nos claro que a lei exige o incumprimento definitivo da
obrigação, uma vez que seria uma sanção excessiva e desproporcionada que um simples
atraso no cumprimento (por ex.: dois dias), legitimasse a outra parte de exigir as sanções
correspondentes à perda do sinal ou à sua restituição em dobro. Esta solução, introduziria uma
quebra sistemática com o regime da cláusula penal, com qual o sinal parcialmente se
identifica, dado que esta só pode ser exigida com o incumprimento definitivo da obrigação, a
menos que as partes a estabeleçam para o atraso da prestação (811º/1).
Mas se é esta a interpretação correta do regime geral do sinal, não se vê que no contrato-
promessa haja algo que possa justificar a aplicação de uma solução diferente, que seria a
perda ou restituição do sinal em dobro em caso de simples mora. Efetivamente, seria absurdo
que, por algum dos promitentes não outorgar na data prevista o contrato definitivo (por ex.,
por simples esquecimento) a outra parte pudesse conservar definitivamente o sinal ou exigir a
sua restituição em dobro. A única solução é assim exigir, para a obtenção destes efeitos, a
transformação da mora em incumprimento definitivo, por objetiva perda do interesse na
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Mas se estes efeitos do sinal ocorrem apenas em caso de incumprimento definitivo, já a opção
pelo aumento do valor da coisa ou do direito pode ocorrer antes, em caso de simples mora,
valendo esta como renúncia do promitente comprador a desencadear o mecanismo do sinal,
uma vez verificado o incumprimento definitivo. Efetivamente, neste caso, o promitente
comprador, perante a mora, avisa o promitente vendedor que, caso venha a incumprir
definitivamente a obrigação não poderá prevalecer-se da estipulação da indemnização através
do sinal. Perante esta opção, o promitente vendedor tem ainda como alternativa cumprir a
obrigação, a menos que se venha a verificar o incumprimento definitivo, pela perda de
interesse ou pela ultrapassagem suplementar do prazo de cumprimento (808º), caso em que
terá sempre que pagar o aumento do valor da coisa ou do direito.
Perante esta solução, cabe questionar qual a natureza deste direito ao aumento do valor da
coisa ou do direito, que ser reconhece ao promitente comprador, que recebeu a tradição da
coisa, em caso de incumprimento da outra parte.
• Antunes varela – sustentou não constituir uma indeminização, mas ante suma forma
especial de sanção pecuniária compulsória.
• Galvão Telles – refere que se trata de uma indeminização compensatória, destina a
ressrciar os prejuízos causados pelo incumprimento definitivo do contrato-promessa,
atento o facto de surgir em paralelismos com a exigência do sinal em dobro.
• Menezes Leitão – o princípio que serve de fundamento a este regime não é o do
ressarcimento de danos, mas antes o da restituição do enriquecimento injustificado.
Efetivamente, perante uma situação em que o promitente-vendedor, tendo
antecipadamente realizado a tradição da coisa, se enriqueceria à custa do promitente
comprador através da restituição do sinal em dobro, atenta a valorização entretanto
verificada na coisa entregue, a lei vem determinar que essa valorização possa ser
atribuída ao promitente-comprador, em alternativa à indeminização convencionada
Do art 442º/4 resulta que o sinal funciona como fixação antecipada da indemnização devida,
em caso de não cumprimento, pelo que a parte não poderá reclamar outras indemnizações,
para além das previstas nesta disposição. Admite-se, porém, estipulação em contrário. Neste
caso, a convenção de sinal funcionará como um limite mínimo da indemnização, que não
impedirá a parte lesada de reclamar uma quantia superior se demonstrar que sofreu danos
mais elevados.
Deve referir-se, porém, que esta norma apenas exclui outras indemnizações resultantes do
não cumprimento do contrato-promessa, e não a aplicação genérica à obrigação emergente
do sinal do regime do não cumprimento das obrigações. Assim, se o contraente faltoso não
cumprir a obrigação de restituição do sinal em dobro, poderá naturalmente ser-lhe exigida
indemnização pela mora, ou incumprimento definitivo.
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Funções do sinal
Para o Prof. Menezes Leitão o sinal só pode ser exigido em caso de incumprimento definitivo
da obrigação pela outra parte, funcionando como pré-determinação das consequências desse
incumprimento. Não é, por isso, um preço de arrependimento, não se podendo assim
qualificar como penitencial. Por isso, o sinal tem natureza confirmatório-penal.
A atribuição deste direito de retenção suscitou bastante controvérsia na doutrina, pelo facto
de prevalecer sobre as hipotecas, mesmo que registadas anteriormente (759º/2). Ora, nesta
situação tornaria mais forte a posição do promitente comprador do que a do próprio
comprador, já que este, como adquirente de bens hipotecados, veria a hipoteca ser-lhe
oponível e portanto os bens adquiridos responderem, em caso de execução da hipoteca. Pelo
contrario, o promitente comprador, titular de um direito real de garantia prevalecente sobre a
hipoteca, teria o direito de ser pago pelo não cumprimento da obrigação, à frente do credor
hipotecário, que posteriormente dificilmente conseguiria obter a satisfação do credito. Para
além disso, a situação é facilmente manipulável, já que as exigências de forma do contrato-
promessa não permitem um adequado controlo da veracidade da situação, sendo fácil efetuar-
se a sua simulação no intuito de prejudicar os credores hipotecários existentes. A solução de
atribuição do direito de retenção ao promitente que obteve a tradição da coisa originou, por
isso, bastantes criticas na doutrina, face as consequências que acarreta.
Para o Prof. Menezes Leitão deverá efetuar-se uma interpretação restritiva do art 755º f), a
única que pode harmonizar o direito de retenção do titular da promessa de constituição ou
transmissão de direito real com os direitos de credor hipotecário.
Chama-se a atenção que os créditos referidos no 755º f) são apenas a restituição do sinal em
dobro e o direito ao aumento do valor da coisa, e não a indemnização geral por
incumprimento, prevista no 798o. Daqui resulta, que o direito de retenção atribuído no art
755º f) pressupõe, além da tradição da coisa, a estipulação de sinal. Efetivamente, caso não
tenha sido estipulado sinal, a tradição da coisa apresenta-se como um ato de mera tolerância,
não havendo razão para penalizar o promitente vendedor, através da atribuição à parte
contrária de uma garantia como o direito de retenção. Na verdade, a restituição do sinal em
dobro ocorre, haja ou não haja tradição da coisa, como consequência do não cumprimento da
obriga de contratar, não se vendo justificação para que a tradição da coisa implique a
atribuição da garantia suplementar do direito de retenção a essa obrigação.
Daqui, poder-se-á então inferir que o direito de retenção, consagrado no art.755º f) só tem
conexão com o direito ao aumento do valor da coisa ou do direito, que é o único crédito
resultante do não cumprimento que tem uma relação direta com a coisa a reter. Parece,
assim, que o credor só deve poder exercer a retenção em relação ao seu crédito. Assim, a
retenção não deve poder ser exercida em relação ao crédito da restituição do sinal em dobro,
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mas apenas em relação ao aumento do valor da coisa, se o credor optar por essa alternativa. E,
mesmo no caso de exercer essa opção, não devem ficar garantidos pelo direito de retenção os
créditos relativos à restituição do sinal (em singelo) e do preço pago, uma vez que em relação
a estes falta também a conexão direta com a coisa.
Menezes Leitão critica ambas as posições. Em primeiro lugar, a execução especifica contra o
obrigado faz pouco sentido quando ele já não é dono do bem, sendo também de rejeitar a
qualificação da alienação por ele efetuada como venda de bens alheios, já que ele era
proprietário no momento da venda, a qual é plenamente válida, e só é posta em causa se a
eficácia real for exercida, a qual não pode por isso consistir numa ação de nulidade. Mas a
execução especifica contra o terceiro coloca o prolema de ele não se ter obrigado a celebrar
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qualquer contrato com o beneficiário da promessa, faltando por isso o pressuposto essencial
da sua aplicação. Finalmente, a reivindicação contra o terceiro suscita a dificuldade de a
reivindicação ser uma ação destinada a reconhecer um direito real a reclamar a restituição da
coisa que é seu objeto (art.1311º/1), não tendo assim natureza constitutiva, enquanto o
exercício da eficácia real teria que revistar essa natureza, uma vez que através dela se procede
a uma aquisição potestativa do direito real.
Sendo assim, para o professor Menezes Leitão o exercício da eficácia real não corresponde a
uma ação judicial típica, devendo considerar-se como uma ação declarativa constitutiva,
eventualmente cumulável com um pedido de restituição, a instaurar em litisconsórcio
necessário contra o promitente e o terceiro adquirente, destinada a fazer prevalecer o direito
de aquisição do promitente comprador sobre a aquisição desse terceiro.
Pacto de preferência
1. Noção e qualificação jurídica
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com assinatura do obrigado, referindo a entidade emitente, data e número do seu documento
de identificação, e procedam à respetiva inscrição no registo.
Para além disso, por vezes a lei concede a certos titulares de direitos reais ou pessoais de gozo
sobre determinada coisa a preferência na venda ou dação em cumprimento da coisa objeto
desse direito. Ex: comproprietário (art.1409º). Neste caso estamos perante o que denomina de
preferências legais, as quais se caracterizam para o terem sempre eficácia real, permitindo aos
que dela disfrutam exercer o seu direito de prefere cia Ex: comproprietário (art.1409º). Neste
caso estamos perante o que denomina de preferências legais, as quais se caracterizam para o
terem sempre eficácia real, permitindo aos que dela disfrutam exercer o seu direito de
preferência, mesmo perante o terceiro adquirente.
A atribuição de eficácia real ao pacto de preferência coloca, por isso, o problema do seu
eventual conflito com os direitos legais de preferência. A lei vem esclarecer essa questão,
determinando que o direito convencional de preferência não prevalece contra os direitos reais
de preferência – art.422º - o que corresponde à sua solução logica, uma vez que não faria
sentido que as partes através de convenção tivessem a possibilidade de afetar direitos
legalmente atribuídos.
4. A obrigação de preferência
A lei regula genericamente o regime da obrigação de preferência nos arts.416º a 418º. Esse
regime é também aplicável em relação aos direitos legais de preferência.
Relativamente à forma de cumprimento da obrigação de preferência, ela encontra-se prevista
no art. 416º.
Esta disposição levanta dúvidas interpretativas:
Resulta, em primeiro lugar, desta norma que a forma adequada de cumprir a obrigação de
preferência é efetuar uma comunicação para preferência. A lei não exige uma forma específica
para essa comunicação, nem para o posterior exercício do direito, o que implica que ela possa
ser inclusivamente verbal, ao abrigo do art. 219º (embora as partes quase sempre optem por
fazer estas comunicações por escrito, como forma de se precaverem para a hipótese de
posterior discussão judicial da questão).
Por outro lado, ao se referir ao projeto de venda e às cláusulas do respetivo contrato, parece
claro que a comunicação da preferência tem que estabelecer por referência a existência de um
contrato preferível, não podendo ser considerada como comunicação para preferência a
emissão de propostas contratuais ou de convides a contratar (não é, portanto, comunicação
para preferência aquela em se pergunte simplesmente: “Queres comprar por 100?”. Deve
antes informar-se: “Vou vender a X por 100”. Queres preferir”). Assim, caso o titular da
preferência rejeite uma proposta contratual ou convite a contratar não perde, o seu direito de
preferência, mesmo que o contrato preferível tenha exatamente o mesmo conteúdo que a
proposta ou convite rejeitados. Se vier a ser celebrado o contrato em consequência dessa
proposta ou convite, o direito de preferência extinguir-se-á por inutilidade.
A comunicação para a preferência não pode ser realizada logo que o obrigado se encontre na
situação de «querer vender», ao contrário do que parece resultar do art. 416º, nº1. Exigir-se-á
antes uma negociação com terceiro, com o qual sejam acordadas as cláusulas a comunicar,
designadamente preço e condições de pagamento. A comunicação para preferência terá que
ser efetuada antes da celebração de um contrato definitivo com o referido terceiro, pois no
caso contrário já teria ocorrido o incumprimento da obrigação de preferência.
Quanto ao conteúdo da comunicação para a preferência. Ao se referir não apenas o projeto de
venda, mas também as cláusulas do respetivo contrato, a lei esclarece que não basta indicar os
elementos gerais do negócio, mas que terão igualmente que ser comunicadas todas as
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Efetuada a comunicação para a preferência, conforme se referiu, o titular tem que exercer o
seu direito no prazo de oito dias, salvo se o pacto de preferência o vincular a um prazo mais
curto, ou se o obrigado lhe assinalar um prazo mais longe. Cabe porem perguntar, quais os
efeitos do exercício desse direito. Parece claro, que uma vez exercida a preferência, ambas as
partes perdem a liberdade de decidir celebrar ou não o contrato, praticando um facto ilícito se
voltarem atrás com a sua decisão.
Para o Prof. Menezes Leitão com a comunicação e exercício da preferência, ambas as partes
formulam uma proposta de contrato e respetiva aceitação, que em princípio deveria implicar
sem mais a celebração do contrato definitivo, desde que estejam preenchidos os seus
requisitos de forma. Quando tal não suceda, essas declarações poderão ainda valer como
promessas de contratar, caso tenha sido observada a respetiva forma, o que permitirá o
recurso à execução específica prevista no 830º, em caso de não cumprimento. Se nem sequer
essa forma for observada, haverá responsabilidade pré-contratual (227º), subsistindo a
obrigação de preferência, que só é definitivamente incumprida com a celebração de contrato
incompatível com um terceiro.
O direito de preferência só surge caso o obrigado tome a decisão de celebrar o contrato em
relação ao qual tenha cedido preferência, não havendo naturalmente incumprimento da
obrigação de preferência se o obrigado celebrar um contrato de natureza diferente do
contrato preferível, mesmo que esse contrato implique a não celebração em definitivo do
contrato preferível (se alguém se compromete a dar preferência no arrendamento de uma
casa e posteriormente decide vendê-la, não ocorre incumprimento). Há, no entanto, duas
hipóteses que a lei considerou poderem ainda justificar a manutenção da preferência, que são:
• União de contratos (art. 417º) – refere-se à hipótese de venda de uma coisa
juntamente com outras, por um preço global. Trata-se de uma situação de união entre
diversos contratos de compra e venda, pela estipulação de um preço comum para
várias coisas vendidas simultaneamente. Nesse caso, haverá que distinguir entre união
interna e externa.
Sendo externa a união de contratos, há apenas uma estipulação comum do preço, sem
qualquer dependência entre os vários contratos , pelo que nada impede o titular de
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• Contratos mistos (art. 418º) - refere-se apenas aos contratos mistos complementares,
o que justifica que se questione se é possível exercer a preferência em relação aos
outros tipos de contratos mistos. Em relação aos contratos múltiplos ou combinados
(ex: transmissão de um bem com um obrigação principal de prestação de serviços, a
título oneroso) ou aos contratos de tipo duplo ou geminados (ex: transmissão de um
bem como contrapartida de uma prestação de serviços), não nos parece possível o
exercício da preferência, uma vez que o contrato efetivamente realizado não
corresponde ao contrato em relação ao qual se concedeu a preferência
• . Já quanto aos contratos mistos cumulativos ou indiretos (ex: venda com preço a
favor), é claramente admissível o exercício da preferência, uma vez que foi
efetivamente celebrado um contrato em relação ao qual se concedeu a preferência,
mesmo que no caso concreto as partes tenham utilizado a sua estrutura contratual
para fins distintos dos que lhe são típicos.
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O direito de preferência pode, no entanto, ter eficácia real caso se trate de direitos legais
de preferência ou caso as partes atribuam essa característica ao pacto de preferência,
cumprindo os requisitos de forma e publicidade para tal exigidos (art.413º, aplicável por força
do art.421º). Nesse caso, o titular da preferência não possui apenas um direito de crédito à
preferência, mas também um direito real de aquisição, que pode opor erga omnes, mesmo a
posteriores adquirentes da propriedade.
A lei esclarece neste caso que o processo adequado para o exercício do direito de
preferência é a denominada ação de preferência. Está prevista no art.1410º, a propósito da
preferência do comproprietário, mas é extensível, a qualquer titular de direitos reais de
preferência (art.421º/2, 1091º/4 e art.1535º/2). Esta ação deve ser intentada no prazo de seis
meses a contar da data em que o titular da preferência teve conhecimento dos elementos
essenciais da alienação, tendo como condição de procedência que ocorra o deposito do preço
devido nos quinze dias posteriores à propositura da ação.
Uma das dúvidas que se colocou na doutrina diz respeito à legitimidade passiva para a
ação de preferência
o Posição maioritária (Galvão Telles, Almeida Costa, Menezes Cordeiro), dizem
que o obrigado à preferência não seria, enquanto tal, parte legitima para ação
de preferência, só sendo caso o titular da preferência decida simultaneamente
exigir uma indeminização. A fundamentação apresentada para esta solução é
a de que na ação de preferência discute unicamente se o bem é atribuído ao
titular da preferência ou permanece na propriedade do tterceiro, não
podendo a ação afetar o obrigado, que normalmente já recebeu o preço que
lhe era devido, nada mais tendo a ganhar ou a perder.
o Antunes Varela – o obrigado à preferência tinha necessariamente que ser
demandado para ação de preferência, existindo assim um litisconsórcio
necessário passivo entre ele e o terceiro adquirente.
o Menezes Leitão – concorda com Antunes Varela. Efetivamente, o que dá causa
à ação de preferência é o incumprimento da obrigação de preferência por
parte do obrigado, não fazendo sentido que essa questão fosse apreciada sem
que ele seja chamado à ação (art.3º CPC). Parece haver, assim, uma situação
de litisconsórcio necessário passivo entre o obrigado à preferência e o terceiro
adquirente (art.33º CPC). Assim, o titular deverá interpor a ação de
preferência simultaneamente contra o obrigada à preferência e o terceiro
adquirente. Já não será, porém, necessário que demande igualmente os
subadquirentes de direitos reais de gozo e garantia incidentes sobre o bem.
Outra questão que suscitou dúvidas residiu em determinar se o depósito do preço devido
exigido no art. 1410º abrange apenas o preço propriamente dito, ou também as outras
despesas que, por lei, devem ficar a cargo do comprador como os impostos de transmissão ou
os emolumentos notariais e registais. A solução correta deve ser a de que apenas é exigido o
depósito do preço devido, ainda que o preferente deva, no caso de ficar também sujeito às
mesmas despesas com a sisa e a escritura e na medida em que o ficar, reembolsar ao terceiro
as despesas por ele suportadas, sem o que haveria enriquecimento sem causa.
Outra questão levantada pela ação de preferência prende-se como problema da simulação
de preço (art. 240º e ss.). Efetivamente, as partes no intuito de enganar terceiros podem por
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acordo celebrar um negócio que não corresponda à sua verdadeira vontade. Essa simulação
pode passar pela indicação de um preço superior, no intuito de defraudar o próprio exercício
da preferência, ou inferior, no intuito de evitar o pagamento dos impostos de transmissão.
Como realizar o exercício de preferência numa situação deste género?
• Se o preço declarado para a transmissão é superior ao preço efetivamente praticado,
nenhumas dúvidas existem no sentido de que o titular da preferência deve exercê-la
pelo preço real. Efetivamente, nesse caso o negócio simulado é nulo (art. 240º, nº2),
sendo válido o dissimulado (art. 241º), pelo que a preferência é naturalmente exercido
em relação ao negócio válido.
• Se o preço declarado para a transmissão é inferior ao preço efetivamente praticado,
a questão torna-se mais complexa, parecendo que a lei vedaria aos simuladores a
possibilidade de exigir que a preferência seja efetuada pelo preço real. Com efeito, o
preferente sustenta-se com base no negócio nulo, pelo que a preferência só poderia
ser afastada através da invocação dessa nulidade. Só que o art. 243º, nº1 proíbe a
arguição da nulidade proveniente da simulação por parte dos simuladores contra
terceiro de boa fé, constituindo a boa fé na ignorância da simulação ao tempo em que
foram constituídos os respetivos direitos (art. 243º, nº2). Por outro lado, a lei é
extremamente restritiva em relação à prova da simulação, uma vez que exclui o
recurso à prova testemunhal (art. 394º, nº2), bem como às prestações judiciais (art.
351º), o que restringiria em termos práticos a possibilidade de os simuladores
demonstrarem com êxito a simulação, sustentando Antunes Varela que a lei vedaria
aos simuladores exigir que a preferência seja exercida com base no preço real.
Para o Prof. Menezes Leitão essa solução contraria frontalmente, e deforma artificiosa, a
disposição do art. 394º, n.º2, a pretexto de uma tutela da posição dos simuladores, cuja
justificação se apresenta como duvidosa. A lei quis evitar que, com base numa prova
testemunhal de conteúdo autêntico, na qual os terceiros confiam para exercer os seus direitos.
Daqui que não seja admitido que a confiança do terceiro na veracidade do negócio constante
do documento autêntico possa ser elidida com base na prova testemunhal. E, sendo proibida a
prova testemunhal, menos admissível ainda será a prestação de depoimento de parte. Para
além disso a celebração de escrituras de retificação parece ilegal, uma vez que o art. 1410º,
nº2, veda que a modificação ou distrate da alienação possa prejudicar o exercício da
preferência, não se vê como uma escritura de retificação, alegando simulação, poderia ter esse
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
efeito, já que tal equivaleria a deixar entrar pela janela o que a lei quis evitar fechando essa
porta.
Finalmente, note-se que é condição de procedência da acção de preferência que o
preferente deposite o preço devido nos quinze dias posteriores à interposição da ação (art.
1410º, nº1). Defender que o preferente é obrigado a preferir pelo preço real, em caso de
simulação, implicaria não ter depositado o preço devido dentro do prazo legal, inviabilizando-
se assim o exercício da preferência, o que julgamos ser a solução que ninguém defenderá.
Por outro lado, não julga correto afirmar que não existe qualquer investimento de
confiança por parte do titular da preferência. Efetivamente, note-se que poucos dias após a
interposição da ação ele tem que depositar o preço devido, e para fazer o preferente pode ter
tido custos consideráveis. Ora, seria manifestamente iníquo que, tendo o preferente feito o
que a lei lhe exigia para procedência da ação de preferência, e suportado despesas para que
esse efeito, visse no fim improceder a respetiva ação, por os simuladores virem, em
contrariedade ao art. 243º, nº2, invocar a simulação do preço que eles próprios tinham
declarado em documento autêntico e em cuja exatidão o preferente confiou.
O Menezes Leitão adere à posição de que o titular da preferência pode exercê-la pelo
preço simulado.
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promissário, uma atribuição patrimonial indireta deste ao terceiro, que é executado pelo
promitente. O terceiro, no entanto, não é interveniente no contrato, embora adquira um
direito contra o promitente, em virtude do compromisso deste para com o promissário.
O contrato a favor de terceiro pode ser analiticamente decomposto em três relações:
a) uma relação de cobertura (ou relação de provisão);
b) uma relação de atribuição (ou relação de valuta);
c) uma relação de execução;
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terceito e outro do promissário, coadjuvante deste. Parece, para o Prof. Menezes Leitão que
existe aqui uma única prestação jurídica objetiva que permite a aquisição da prestação, que é
o direito de crédito do terceiro, independentemente de a vinculação subjetiva do promitente
ocorrer tanto em relação ao terceiro como ao promissário.
A lei procura ainda resolver o problema das relações entre o promissário e pessoas
estranhas ao benefício (450º/1), designadamente para os casos em que a diminuição do
património do promissário, gerada pela sua atribuição ao terceiro, não seja legalmente
permitida e deva por isso ser revertida, como sucede nas hipóteses de colação (2104º),
imputação ou redução das doações (2114º e 2168º) ou impugnação pauliana (art.610º e ss).
Nesses casos, a interposição da prestação do promitente poderia colocar em dúvida qual o
valor que se deveria tomar em conta para efeitos dessa restituição: a diminuição patrimonial
por parte do promissário ou a efectiva aquisição por parte de terceiro. A lei vem esclarecer
que apenas o primeiro desses valores é tomado em consideração para efeitos de aplicação
destes institutos. No caso, porém, de se verificar a revogação por ingratidão do donatário, é o
próprio bem recebido pelo terceiro ou o seu valor, que deve ser objeto de restituição ao
promissário (art 450º/2 e 974º).
A doutrina costuma realizar uma distinção entre os verdadeiros contratos a favor de terceiros
(art.443º e 444º/1 e 2) e os falsos contratos a favor de terceiro ou contratos a favor de terceiro
impróprios, de que seria exemplo a promessa de liberação (444º/3).
Estamos neste caso, perante uma situação em que o promitente e promissário acordam
uma obrigação de resultado: a de que o promitente obterá a extinção de uma dívida que o
promissário tem para com terceiro. Assim, o promitente não se obriga a realizar uma
prestação a terceiro, mas apenas a conseguir obter a liberação da dívida do promissário.
Mas, embora o promitente não assuma uma obrigação perante o terceiro, para obter o
resultado da liberação do promissário, naturalmente que terá que efetuar uma prestação a
esse terceiro (cumprir a obrigação ou conseguir o seu acordo para satisfação do crédito por
outra via). Só que essa prestação é meramente instrumental em relação à obrigação do
promitente, que é antes a de obter a liberação do promissário. Nestes termos, considera-se
que só o promissário (e não o terceiro) tem interesse na promessa. Daí que a lei considere que
as partes não visaram atribuir ao terceiro qualquer direito de crédito, mas apenas proceder à
exoneração do promissário, pelo que só o promissário (e já não o terceiro) poderá exigir do
promitente o cumprimento da promessa.
Neste caso, e uma vez que não há qualquer direito atribuído a terceiro, é manifesto que
não estaremos perante um verdadeiro contrato a favor de terceiro.
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2. Natureza jurídica
A natureza do contrato para pessoa a nomear é controvertida. Para alguma doutrina, no
contrato para nomear existiria um fenómeno de representação anonima. Para outros, tratar-
se-ia de um contrato a favor de terceiro.
A maioria da doutrina considera-o como um contrato celebrado simultanemanete em
nome próprio e em nome alheio, sendo a sua celebração em nome próprio sujeita a uma
condição resolutiva, e a sua celebração em nome alheio sujeita a uma condição suspensiva (a
eficaz nomeação do terceiro).
Professor Menezes Leitão prefere a ultima posição. Efetivamente, a qualificação como
representação anonima é duplamente incorreta: primeiro, porque é essencial à representação
a existência de contemplatio domini (258º); segundo, porque os efeitos do negocio podem
acabar por se repercutir exclusivamente no contraente originário, o que nunca acontece com o
representante, mesmo que este atua sem poderes (art.268º/1). Também a doutrina do
contrato a favor de terceito peca porque o objeto do contrato não é a atribuição de um
beneficio ao nomeado, pelo que a sua aquisição não opera automaticamente, como no
contrato a favor de terceiro (art.444º/1),mas antes depende da sua vinculação voluntaria ao
contrato, por procuração ou ratificação (art.453º/2).
1. Generalidades
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do cessionário, enquanto destas norma resulta claramente que, pelo contrario, o cessinario só
virá a adquirir o direito, se o ceente, sem a cessão, o tivesse igualmente adquirido, ficando
assim o crédito sujeito ao mesmo regime que aquele que teria na esfera do cedente. Tal
corresponde manifestmanete à doutrina da transmissão, que é assim a solução consagrada
relativamente à transmissão de créditos futuros.
Normalmente, o negócio jurídico que serve de base à cessão será um contrato, pelo que
será necessário para a sua formação tanto a declaração negocial do cedente como do
cessionário. Não há porem, obstáculos a que a cessão de créditos resulte de negócio jurídico
unilateral, nos casos em que este é admitido (457º e ss.). Efetivamente, a lei prevê igualmente
a possibilidade de a cessão de créditos resultar de contrato a favor de terceiros (443º/2), caso
em que a aquisição do crédito também se verificará sem a declaração do cessionário (444º/1).
Se o negócio transmissivo vier a ser declarado nulo ou anulado, é manifesto que tal
determinará a anulação da transmissão do crédito de acordo com as regras dos art. 289º a
291º.
2.3. O crédito não esteja, em virtude da própria natureza da prestação, ligado à pessoa
do credor
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Em relação às partes, a cessão opera apenas por efeito do contrato, determinando logo
este a transmissão do crédito para o cessionário. No entanto, essa transmissão não é
imediatamente oponível a terceiros, uma vez que a lei dispõe que a cessão só produz os seus
efeitos em relação ao devedor após a sua notificação, aceitação (583º/1) ou conhecimento
(583º/2), sendo também a notificação ou aceitação pelo devedor que decide qual a cessão que
vai prevalecer em caso de dupla alienação do mesmo crédito (584º). Verifica-se assim uma
diferenciação temporal na eficácia da cessão de créditos que, em relação ás partes opera no
momento da celebração do contrato, mas em relação ao devedor ou a terceiros só ocorre em
momento posterior, quando o devedor é notificado da cessão, a aceita, ou dela tem
conhecimento.
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intimamente à pessoa do cedente, pelo que só poderá ser transmitida por acordo expresso
entre cedente e cessionário.
Também quanto à reserva da propriedade – art.409º - é duvidoso que esta possa ser
transitida com a cessão doc reedito, uma vez que para o seu exercício seria necessária a
resolução do contrato por falta de pagamento do preço, e este é um poder que apenas no
âmbito da cessão da posição contratual poderia ser transmitido.
A lei considera também admissível a cessão do penhor ou da hipoteca sem o crédito
(arts 676º e 727º e ss.) para garantia de outro crédito sobre o mesmo devedor, mas já não do
direito de retenção (760º).
Para além das garantias, transmitem-se para o cessionário os outros acessórios do
crédito. Assim, se o crédito vence juros, parece claro que o crédito a juros vincendos se
transmite para o cessionário. Já relativamente aos juros vencidos, o artigo 561º determina a
sua autonomia em relação ao crédito principal, a menos que tal seja expressamente
estipulado. Também as cláusulas penais estipuladas para a hipótese do incumprimento são
transmitidas para o cessionário.
É elemento essencial da cessão a transmissão do crédito, pelo que a lei determina que
o cedente tenha que prestar ao cessionário da existência e exigibilidade do crédito ao tempo
da cessão, nos termos aplicáveis ao negócio gratuito ou oneroso em que a cessão se integra
(587º/1). No entanto, o cedente só garante a solvência do devedor se a tanto se tiver
expressamente obrigado (587º/2).
A garantia a prestar pelo cedente diz assim, regra geral, apenas respeito à existência e
exigibilidade do crédito, consistindo numa garantia por vícios do direito, que compreende o
assegurar da subsistência e acionabilidade do crédito ao tempo da cessão, com todas as suas
garantias e acessórios, a qualidade de credor no cedente e a faculdade de dispor do crédito.
Naturalmente que essa garantia varia consoante o negócio que serve de base à cessão seja
uma compra e venda ou uma doação. Assim, no caso de se estar perante uma venda, o
cedente terá que restituir ao cessionário o preço do crédito (894º) e responde objetivamente
pelos danos emergentes (899º), podendo ainda constituir-se em responsabilidade pelo
incumprimento da obrigação de convalidação (900º/1). Havendo, porém, dolo da sua parte, o
cedente responderá por lucros cessantes, que podem ter por base o interesse contratual
negativo (898º) ou o incumprimento da obrigação de convalidação, no caso de cessionário
pretender optar por essa solução (900º/2). No caso de doação, o cedente não responde
objetivamente pela existência da referida posição contratual, apenas tendo que responder se
se tiver expressamente responsabilizado ou haver atuado com dolo (956º e 957º).
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
A cessão de créditos apenas produz efeitos em relação ao devedor, desde que lhe seja
notificada, ainda que extrajudicialmente, ou desde que ele a aceite (583º/1). A notificação e a
aceitação não estão sujeitas a forma especial (219º), podendo inclusivamente a aceitação ser
efectuada tacitamente (217º), como acontecerá no caso de o devedor combinar com o
cessionário qualquer alteração na obrigação (lugar e tempo do cumprimento, garantias, etc…).
Se o devedor, antes da notificação ou aceitação, por ignorar a cessão de créditos, pagar ao
cedente ou celebrar com ele algum negócio relativo ao crédito, quer o pagamento, quer o
negócio têm efeitos sobre o crédito, podendo inclusivamente produzir a sua extinção, e esses
efeitos são oponíveis ao cessionário, exceto se ele demonstrar que o devedor tinha
conhecimento da cessão (583º/2). A razão para esta restrição reside na má-fé do devedor que,
sabendo que ocorreu a cssão, decide pagar ao cedente ou celebrar com ele qualquer negocio
relativo ao crédito. A alegação desse conhecimento por parte do cessionário equivale assim a
uma exceptio doli. É, por isso, necessário que tenha ocorrido um conhecimento efetivo, não
bastando o desconhecimento por negligencia. Verificando-se, no entanto, esse conheciemtno,
ele terá o mesmo egeito que a notificação ao devedor.
É do interesse do cessionário fazer a notificação ao devedor. Sendo a obrigação solidária,
parece que a notificação deve ser efetuada a todos os devedores, já que um devedor não
notificado poderia cumprir perante o credor, sendo o efeito extintivo comunicado a todos os
devedores, mesmo notificados, por força do artigo 523º.
O devedor pode opor ao cessionário, ainda que este o ignorasse, todos os meios de defesa
que lhe era lícito invocar contra o cedente, com ressalva dos que provenham de facto
posterior ao conhecimento da cessão (585º). Assim toda e qualquer exceção, seja ela
temporária ou definitiva, que o devedor, antes da cessão, possuísse contra o cedente (prazo
da prestação, prescrição, exceção de não cumprimento do contrato, compensação) é oponível
ao cessionário, permitindo ao devedor recusar-se a efetuar-lhe o cumprimento.
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
A sub-rogação
1. Conceito de sub-rogação
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A sub-rogação prevista nos arts 589º e ss., consiste numa situação que se verifica quando,
cumprida uma obrigação por terceiro, o crédito respetivo não se extingue, mas antes se
transmite por efeito desse cumprimento para o terceiro que realiza a prestação ou forneceu os
meios necessários para o cumprimento.
Tanto a sub-rogação como a cessão de créditos são formas de transmissão do crédito.
Distinguem-se entre si, porque, enquanto a cessão tem por base um negócio jurídico (578º), a
sub-rogação resulta de um acto não negocial, que é o cumprimento, sendo a medida deste
que determina a medida da sub-rogação (593º/1). Ainda, a sub-rogação é insuscetível de se
verificar em relação a prestações futuras, ao contrário do que vimos suceder com a cessão de
créditos. Para além disso, enquanto na cessão de créditos o cedente tem que garantir a
existência e a exigibilidade do crédito (587º/1), semelhante garantia não se verifica na sub-
rogação (594º), limitando-se a ocorrer a transmissão para o sub-rogado dos direitos que
cabiam ao sub-rogante, sejam eles quais forem.
A sub-rogação não deve ser confundida com o direito de regresso, existente no ambiro das
obrigações solidarias (art.524º). Efetivamente, enquanto que na sub-rogação se verifica uma
transmissão dos direitos do credor, no direito de regresso essa transmissão não ocorre,
surgindo antes um direito novo em virtude de uma relação especial já existente ente o autor
do pagamento e o devedor.
2. Modalidades de sub-rogação
A sub-rogação pelo credor, prevista no artigo 589º, verifica-se através da declaração deste,
de que pretende que o terceiro que cumpre a obrigação venha, por virtude desse
cumprimento, a adquirir o crédito.
A sub-rogação pelo credor pressupõe assim sempre dois requisitos (se faltar algum, não se
verfica a sub-rogação pelo credor):
a) o cumprimento da obrigação por terceiro;
b) a declaração expressa anterior do credor a determinar a sub-rogação;
Assim, se o terceiro se limita a cumprir a obrigação, sem que o credor nada declare, o que
se verifica é apenas um cumprimento por terceiro, sem que este venha a adquirir o crédito por
via da sub-rogação. Igualmente se o credor declarar a sub-rogação, esta não ocorrerá
enquanto para terceiro não efetuar o cumprimento.
A declaração de sub-rogação pelo credor tem que ser expressa (217º), embora para ela
não se exija forma especial (219º). Essa declaração tem que ser, porém, emitida até ao
momento do cumprimento para evitar que a obrigação se extinga em lugar de se transmitir.
Ultrapassado este prazo, a sub-rogação não é mais possível.
Havendo declaração expressa do credor a determinar a sub-rogação, esta também não
se verifica enquanto o terceiro não cumprir a obrigação. Efetivamente, a sub-rogação só
ocorre com o cumprimento, não sendo a declaração do credor do credor só por si eficaz para
determinar a transmissão do crédito.
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
A sub-rogação pelo devedor coloca algumas dificuldades de natureza dogmática, uma vez
que o devedor não é detentor do credito, pelo que dificulmente se compreende que possa
dispor dele e inclusivamente determinar que as garantias prestadas por terceiro passem para
o novo credor, em lugar de se extinguirem com o cumprimento. A lei veio, no entnaro,
pertmiti-la por razões de ordem prática, já que se considerou mercedor de tutela o interesse
do devedor em. obter a intervenção de terceiro em ordem a satisfazer o credito reclamada,
que sem a possibilidade de sub-rogação deificilmente poderia ser conseguida.
Também na sub-rogação pelo devedor se exige a declaração expressa dele até ao
momento do cumprimento, para evitar que o crédito se extinga, não se admitindo igualmente
que o devedor pudesse retroativamente qualificar como sub-rogação o que tinha sido apenas
um cumprimento por terceiro, prejudicando assim os seus outros credores ou os terceiros que
garantiram o cumprimento.
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
dos seus bens pelo credor. Assim, se o terceiro for fiador do devedor ou tiver constituído um
penhor ou hipoteca sobre bens seus para garantia do cumprimento, a lei determina a sub-
rogação como efeito direto do cumprimento, independentemente de outros requisitos (para a
fiança 644º).
O interesse direto do terceiro no cumprimento tem que corresponder a um interesse
próprio com conteúdo económico prático, não bastando um interesse meramente jurídico.
Não haverá assim, sub-rogação legal sempre que o pagamento seja realizado exclusivamente
no interesse do devedor (ex: o cumprimento efectuado por gestor de negócios) ou quando o
interesse de terceiro no cumprimento seja meramente moral ou afetivo (ex: o pai que paga a
dívida do filho, atendendo ao bom-nome da família).
3. Efeitos da sub-rogação
O artigo 594º manda aplicar a esta transmissão as disposições dos artigos 582º a 584º,
relativas à cessão de créditos, pelo que a transmissão do crédito acarreta igualmente a
transmissão de todas as suas garantias e acessórios (582º). Transmitem-se assim para o sub-
rogado as garantias não inseparáveis da pessoa do credor, como a fiança, consignação de
rendimentos, penhor, hipoteca e alguns privilégios creditórios. No caso de sub-rogação parcial
parece as garantias passarão a beneficiar ambos os créditos (o de credor originário e o do sub-
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
rogado ou dos sub-rogados), ainda que, por força da sua indivisibilidade, cada credor tenha
que exercer o direito real de garantia por inteiro, estabelecendo-se, no entanto, a preferência
de acordo com as já referidas regras do artigo 593º, n.º 2 e 3.
Também por força da mesma disposição os acessórios do crédito, como a obrigação de
juros e a cláusula penal, se transmitirão para o sub-rogado, com exceção daqueles que sejam
inseparáveis da pessoa do credor.
O artigo 594º não efetua, porém, qualquer remissão para o artigo 585º, onde se determina
que as exceções que o devedor tinha contra o cedente podem ser também invocáveis contra o
cessionário, a não ser que provenham de facto posterior à cessão.
Efetivamente, apenas nos casos em que a sub-rogação se realiza sem intervenção do
devedor é que se justifica defender que ela não o possa colocar em pior situação do que
aquela em que ele se encontrava antes da transmissão, aplicando-se o regime da cessão de
créditos (585º), não por remissão, mas antes por analogia. Assim, tanto na sub-rogação pelo
credor como na sub-rogação legal, o devedor poderá continuar a invocar contra o credor com
ressalva daqueles que provenham de facto posterior ao conhecimento. No caso de a sub-
rogação provir do próprio devedor, já lhe será, porém, vedada a invocação de qualquer
exceção que tinha contra o credor originário, a menos que a tivesse comunicado ao terceiro
antes de ele proceder ao pagamento.
4. Natureza da sub-rogação
É discutida a natureza da sub-rogação. Surgiram por isso na doutrina inúmeras teses que,
partindo do pressuposto comum de que na sub-rogação se verificava a extinção da obrigação,
procuraram conciliar essa situação com a aquisição do credito pelo sub-rogado. Essas teses
correspondem às seguintes:
• Extinção do credito, ocorrendo, porém, uma ficção da sua manutenção, a fim de
possibilitar a sua transmissão. Defendida por Pothier, que considerou existir na
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sub-togação uma ficção atraves da qual se consideraca que um credito pago por
terceito se mantinha subsistente, por forma a ser transferido para esse mesmo
terceiro.
• Extinção do credito, subsistindo apenas os seus acessórios. Com o pagamento por
terceiro ocorreria uma efetiva extinção do credito, ainda que se mantivessem os
acessórios o memso, os quais iriam acrescer a um credito novo do solvens sobre o
devedor que por isso não revestiria as mesmas características do credito extinto
• Extinção relativa do credito, que ocorreria apenas em relação ao credor,
mantendo-se este, porém, em relação ao devedor e ao sub-rogado. Defendida por
Vaz Serra
• Extinção relativa do credito, que ocorreria apenas em relação ao credor,
mantendo-se este, porém, em relação ao devedor e ao sub-rogado;
• Configuração da sub-rogação como premio atribuído ao sub-rogado, em virtude da
cooperação prestada.
Para o Professor Menezes Leitão, nenhuma das posições se apresenta coo uma correta
qualificação dogmática do isntituito jurídico da sub-rogação.
Este adere à posição claissica que qualifica a sub-rogação como uma transmissão legal do
credito baseada num ato jurídico n\ao negocioal que é o cumprimento. Efetivamente, o
cumprimento por terceiro normalmente produz a extinção do credito com a consequente
liberação do devedor, mas pode tal não acontecer sempre que ocorra uma circunstancia que
determine, em lugar dessa extinção, a transmissão do credito para o solvens. Conforme se
verificou, essa circusntancia pode ser a declaração previa de sub-rogação pelo credor ou
devedor, ou o facto de o próprio solvens ter interesse direito na satisfação do credito
A assunção de dívida
O nosso Código prevê nos artigos 595º e ss. a transmissão a título singular de dívidas
através da figura denominada de “assunção de dívida”. Esta consiste na transmissão singular
através de negócio jurídico celebrado com terceiro.
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
enquanto o credor não o ratificar (596º/1), podendo inclusivamente qualquer delas fixar ao
credor um prazo para a ratificação, findo o qual esta se considerará recusada (596º/2). A
ratificação, que pode ser expressa ou tácita nos termos gerais, podendo ser declarada a
qualquer das partes, é assim essencial para que se possa produzir a assunção de dívidas, uma
vez que sem ela o contrato celebrado não é eficaz perante o credor, não ficando o novo
devedor vinculado eem face dele. Só a partir do momento em que ocorre a ratificação, é que a
assunção de dívidas se torna definitiva, deixando as partes de a poder distratar.
Suscita-se, porém, a questão de se averiguar se, apesar da não ratificação pelo credor,
o negócio celebrado entre as partes não poderá valer como promessa de liberação, também
denominada assunção de cumprimento, vinculando-se assim o assuntor perante o primitivo
devedor a liquidar a dívida deste (444º/3). No BGB estabelece que caso o credor não conceda
ou negue a raticicação, na duvida o assuntor continua obrigado perante o devedor a satisfazer
a prestação dentro do prazo, o que leva a doutrina a sustentar existir uma regra interpretativa
de que qualquer assunção de divida não ratificada vale, em principio, como assunção de
cumprimento. Entre nós, semelhante a solulão tem sido igualmente defedia pela doutrina com
base na vontade presumível ou conjectural da partes, por referencia aos art.239º e 293º.
Uma vez sendo realizada, a ratificação terá, em regra, eficácia retroatica, considernado-se
a divida transmirida no momento da celebração do contrato, uma vez que será essa
normalmente, quer a vontade do credor, quer a das partes outorgantes do contrato de
transmissão.
• Pires de Lima e Antunes Varela, no entanto, sustentam que essa retroatividade
não implicará a inutilização dos atos conservatórios do credito, praticados no
periorod que medeia entre a ratificação e o contrato de assunção de dividas.
Assim se, por exemplo, o credor nesse período interpelasse o antigo devedor para
o cumprimento da obrigação, a interpelação realizada deveria considerar-se eficaz
perante o novo devedor.
• Para o Prof. ML, sendo a assunção liberatória, é manifesto que a retroactividade
atribuída à ratificação tem que ser plena, sendo assim naturalmente ineficazes os
atos conservatórios do crédito, uma vez que não foram dirigidos ao verdadeiro
devedor. Relativamente á assunção cumulativa, a lei estabelece neste caso uma
solidariedade imperfeita entre o antigo devedor e o novo obrigado (595º/2), pelo
que a interpelação realizada pelo credor primitivo devedor terá os efeitos
previstos no artigo 519º, não sendo o novo devedor responsável naturalmente
pelos danos moratórios imputáveis ao primitivo devedor.
Na assunção externa a transmissão da dívida resulta apenas de um único negócio
jurídico: o contrato entre o novo devedor e o credor, ao qual o antigo devedor pode ou não
dar o seu consentimento. Nesta forma de assunção de dívidas o consentimento do devedor é
assim irrelevante, sendo apenas o acordo entre o credor e o novo devedor que desencadeia a
transmissão da dívida para este último, com ou sem exoneração do antigo devedor.
Tem sido questionado se, em virtude do princípio do contrato, poderá ser determinada
a liberação da obrigação do primitivo devedor, sem que ele dê o seu acordo. Para o Prof. ML,
se o credor pode aceitar a prestação de terceiro (767º), que determina necessariamente essa
liberação, naturalmente que também poderá celebrar com ele uma assunção externa,
independentemente da oposição do devedor (595º/1 b)).
Esta distinção baseia-se no artigo 595º/2. Distingue-se, assim, consoante falte ou ocorra a
exoneração pelo credor, entre a assunção cumulativa de dívida, em que o antigo devedor não
é liberado da sua obrigação, mantendo-se solidariamente obrigado perante o credor e
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Para que possa ocorrer a transmissão da dívida, a lei exige que esta decorra de um
contrato transmissivo da obrigação que exista e que não seja nulo ou anulável. Á semelhança
do que sucede com a cessão de créditos, parece não existirem obstáculos legais à transmissão
de dívidas futuras, desde que esteja preenchido o requisito de determinabilidade (280º), quer
estas resultem de negócio já celebrado (ex: assunção da obrigação de pagamento das rendas
devidas pelo locatário no próximo ano) quer de negócio a celebrar (ex: assunção da dívida
resultante de um empréstimo bancário a contrair por outrem. Neste caso, naturalmente que a
assunção a penas produzirá efeitos com a constituição efetiva da obrigação.
É igualmente discutido na doutrina se, na assunção de dividas futuras, deve adotar-se
a teoria da imediação, segundo a qual a dívida surge depois diretamente na esfera do
assuntor, ou antes a teoria da transmissão, segundo a qual a divida ainda vem a passar
primariamente pelo património do transmitente durante uma scintilla temporis, só após
ocorrendo a mudança de devedor. Mais uma vez. Estamos de acordo com Mota Pinto, quando
este refere que a «doutrina da transmissão-, a que alguns oporão a obieção conceptualista de
considerar efeitos jurídicos num simples átomo de tempo, é o único enquadramento para o
fenómeno representado pela circunstância de os pressupostos de constituição da dívida terem
de ocorrer na pessoa do devedor originário.
Caso o contrato de transmissão não venha a ser celebrado, seja nulo por
impossibilidade legal ou seja anulado por qualquer motivo, a lei determina que renasce a
obrigação anterior, mesmo que o credor tenha exonerado o primitivo obrigado. Apenas ficam
extintas as garantias prestadas por terceiro, exceto se este conhecia o vício na altura que teve
notícia da transmissão (597º).
A oposição da invalidade do contrato de transmissão ao credor pode, porém, ser
questionada perante a disposição do art. 598º, que determina que o novo devedor não tem o
direito de opor ao credor as exceções derivadas das relações entre ele e o primitivo devedor,
norma que se apresenta em cena medida em contradição com a disposição anterior. Mota
Pinto, propugnando a denominada teoria da oferta ou teoria contratual, vem sustentar que,
tanto na assunção interna como na externa, há uma proposta ao credor, que na primeira
ocorre por parte do antigo e do novo devedor em conjunto, e na segunda apenas por parte do
novo devedor. Assim sendo, a assunção interna consistiria num contrato trilateral, o que
legitimaria a não extensão automática em relação ao credor dos motivos de invalidade
ocorridos nas relações entre o antigo e o novo devedor (relação de cobertura), estendendo-se,
em relação ao credor, a proteção do declaratário no comum dos negócios jurídicos (v.g., em
caso de dolo de terceiro, ou outros vícios como a incapacidade acidental ou erro sobre o
objeto) .
Antunes Varela, opõe-se a esta solução defendendo a teoria da disposição, segundo a qual
a assunção interna da divida implica sempre a disposição do património do credor por quem
não tem legitimidade para o fazer, a qual por isso apenas se toma eficaz com a ratificação por
ele. O autor entende que a conjugação dos art. 597º e 598º implica que o novo devedor possa
opor ao credor os vícios na formação da vontade que o afetarern relativamente ao contrato de
assunção de dívida, desde que esses vícios procedessem igualmente contra o devedor
originário, mas não pode invocar contra o credor a nulidade ou a anulação do contrato que
serviu de fundamento à assunção. Esta tese parece vir igualmente a ser sustentada por
Menezes Cordeiro.
Menezes Leitão, crê que é a teoria da disposição que se apresenta como estranha ao
nosso direito, uma vez que do contrato entre o antigo e o novo devedor não resulta qualquer
afetação do direito do credor, que tivesse que ser por este ratificada. Efetivamente, o antigo
devedor permanece obrigado, a menos que o credor o exonere. Por outro lado, o grande
argumento apresentado contra a teoria contratual – a autonomia entre ambas as alíneas do
art.595º - não se apresenta como decisivo, uma vez que conforme se referiu, quer num caso
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quer noutro, sem a declaração negocial credor não se pode considerar realizada a assunção de
dívida. Parece. assim, que em caso de invalidade do contrato de transmissão se poderão
aplicar as regras gerais relativas à proteção do credor como declaratário, evitando que lhe
sejam opostas causas de invalidade relativas à relação de cobertura, e que o credor ignorasse
e não devesse conhecer. Esta é a solução que melhor permite a harmonização entre os arts.
597º e 598º, evitando-se assim a contradição que representaria não poder o novo devedor
opor ao credor exceções resultantes do contrato, mas poder opor-lhe vides na formação da
vontade relativos a esse contrato, bastando que eles pudessem ser opostos ao primitivo
devedor. Por outro lado, não se vê razão para estabelecer a este propósito, uma distinção
entre os arts.595º a) e b ), uma vez que é manifesto que o art.597p se aplica a ambas as
situações. O professor Menezes leitaão defende assim a teoria contratual.
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consequentemente, das condições em que a mesma é prestada. Assim, por ex., se o antigo
devedor constitui um penhor ou hipoteca sobre bens seus para garantia da sua própria
obrigação, não seria correto impor-lhe que passasse posteriormente a garantir com esses bens
a obrigação de um terceiro, no caso de a assunção resultar de contrato entre ele e o credor,
sem o seu consentimento (595º/1 b)), uma vez que o antigo devedor pode não ter confiança
no cumprimento da obrigação por parte do assuntor. Da mesma forma, se um terceiro a
prestar uma fiança em relação à obrigação do primitivo devedor seria inaceitável que essa
fiança se mantivesse sem o seu consentimento em relação ao novo devedor, não só porque a
situação patrimonial deste poderia ser diferente, mas também porque a pessoa em questão
pode não lhe dar a mesma segurança de que irá cumprir a obrigação. O credor deverá, por
isso, assegurar a existência desse consentimento de garante, antes de permitir a transmissão
da dívida.
Solução diferente ocorre, porém, em relação às garantias que já tivessem sido
constituídas pelo assuntor antes da transmissão da dívida ou que resultem diretamente da lei.
Efetivamente, se o assuntor já era garante dessa mesma obrigação por ser, por ex.,
proprietário da coisa onerada com o penhor ou a hipoteca, não faria sentido que visse extinta
essa garantia em virtude do facto de ter passado a ser o próprio devedor. Igualmente, se a
garantia é conferida por lei. Por ex., se alguém gozar de direito de retenção sobre certa coisa,
continua a poder reter essa coisa até efetivo pagamento, mesmo que a dívida em questão
tenha sido transmitida para outrem. Efetivamente, as garantias legais são conservadas, apesar
de se ter verificado a alteração na pessoa do devedor, salvo se naturalmente o credor
concordar renunciar a elas.
O artigo 598º vem referir quais os meios de defesa a que pode recorrer o novo
devedor, após a celebração do contrato de transmissão.
Verifica-se, que o novo devedor não pode, em primeiro lugar, opor ao credor
quaisquer meios de defesa que resultem da relação entre o antigo e o novo devedor, a qual se
apresenta como casual em relação à assunção de dívida. Assim, por ex., se o antigo devedor
prometeu ao novo devedor uma prestação como contrapartida da assunção de dívida é
vedado a este último opor ao credor, quer a exceção de não cumprimento, quer a resolução
do contrato fundadas no não cumprimento daquela prestação.
Pelo contrário, o novo devedor pode opor ao credor os meios de defesa derivados da
relação entre ele próprio e o credor. Assim, se, por ex., o credor aquando da assunção de
dívida, concedeu ao novo devedor uma moratória no prazo de pagamento ou uma remissão
parcial da sua obrigação, naturalmente que o novo devedor poderá opor essas excepções ao
credor.
Relativamente aos méis de defesa que existem na relação entre o antigo devedor e o
credor, estes poderão, em princípio, ser opostos pelo novo devedor, uma vez que ao assumir a
dívida ele passa a responder exatamente nos mesmos termos em que respondia o antigo
devedor. Há, no entanto, uma restrição a essa possibilidade de invocação. È que o fundamento
dessas exceções tem que ser anterior à assunção de dívida e não podem constituir meios de
defesa pessoais do antigo devedor.
Assim, por ex., o novo devedor poderá opor ao credor, quer a nulidade do contrato
constitutivo da obrigação, quer a sua ineficácia, quer a verificação de causas objectivas de
extinção do crédito. Já não poderá, porém, opor ao credor meios de defesa pessoais do antigo
devedor, que apenas podem ser utilizados pelo seu titular, como a anulabilidade do contrato
por erro, dolo, coação ou incapacidade (287º) e a compensação (847º), ou os direitos
potestativos que extravasem da dívida transmitida, abrangendo a própria relação contratual.
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Se, no entanto, o antigo devedor tivesse invocado previamente esses meios de defesa perante
o credor, parece que essa invocação continua a aproveitar ao novo devedor.
2. Teoria da cessão
Esra cencepção conheceu duas formulações: a doutrina da cessão dopstnnónio passivo
e a doutrina da cessão da qualidade de devedor.
5. Teoria da disposição
O devedor. Ao negociar a assunção interna de dívidas, dispõe de um direito que não
lhe pertence, actuando de forma análoga à daquele que cede um crédito de que io é
credor. O negócio de assunção de dívidas seria assim um acto de disisicão de um
direito de terceiro.
Menezes Leitão:
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Em primeiro lugar, não parece mais possivel dispensar o conceito de transmissão das dívidas,
conforme pretende fazer a teoria da substituição nos direitos de crédito. Esta conceção
baseia-se num preconceito nominalista de cariz lógico, que é o de afirmar a impossibilidade de
continuação do vinculo obrigacional, após a mudança dos seus sujeitos, sem se atender que
em termos axiológicos é o próprio Direito que vem estabelecer essa continuidade de efeitos.
Já a tese da cessão, quer na modalidade de D£LBRÜCK, quer na de · 5ALEILLES, não parece
proceder.
Relativamente à qualificação da assunção de dividas como contrato a favor de terceiro, esta
igualmente não procede, já que o contrato a favor de terceiro implica a constituição de uma
nova obrigação em benefício do terceiro, enquanto que na assunção de dividas ocorre uma
mera transmissão da obrigação.
A tese que considera a assunção de dividas um ato de disposição dos direitos do credor
alcançou grandes adeptos, quer na doutrina alemã, quer mesmo entre nós. No entanto, esta
tese é igualmente suscepnvel de críticas, uma vez que se o credor tem, para se poder operar
uma assunção liberatória de dívida, não apenas que ratificar, mas também que exonerar o
primitivo obrigado, não se vê como se poderá defender ‘que, com a mera celebração do
contrato de transmissão, o antigo devedor e o assuntor efetuaram uma ingerência nos direitos
do credor. Efetivamente, necessitando a transmissão do consentimento deste, conforme se
verificou, é manifesto que o contrato de assunção tem que ser entendido como uma mera
proposta ao credor, não havendo qualquer ingerência se a mesma for recusada. A isto acresce
que os dados legislativos em que a doutrina alemã se baseia para defender a teoria da
disposição não são transponíveis facilmente para outros direitos.
Por este motivo, Menezes Leitão apoia a teoria da oferta ou contratual.
Ocorre uma situação de subcontrato sempre que alguém celebra determinado contrato
com base na posição jurídica que lhe advém de outro contrato do mesmo tipo, já previamente
celebrado com outrem. O subcontrato depende assim da existência de um contrato anterior
do mesmo tipo, em relação ao qual se apresenta em situação de dependência.
Ex: sublocação (1060º e ss. e 1088º e ss.); subempreitada (art.1213º); submandato (art.1165º
e 264º)
Em todas essas situações um dos contraentes, com base na posição jurídica que lhe é
atribuída por um contrato já existente, contrata com terceiro um contrato com conteúdo total
ou parcialmente idêntico, de onde resultará necessariamente uma sua substituição total ou
parcial no exercício da referida posição jurídica, que passará a caber ao subcontratante. É, no
entanto, clara a relação de dependência do subcontrato em relação ao contrato principal,
expressa, por exemplo, na circunstância de a extinção deste provocar a extinção daquele (art.
1089º)
Esta situação se distingue da cessão da posição contratual uma vez que nesta se verifica a
transmissão da posição adveniente de um contrato de um sujeito para o outro, sendo assim
alterados os sujeitos da relação contratual. No subcontrato, pelo contrário, a primitiva relação
contratual permanece inalterada, apenas se verificando a constituição de um novo vínculo que
se coloca em relação ao anterior numa situação de dependência.
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Nesta, o que se verifica é que um terceiro vem a constituir-se como parte numa
relação contratual existente entre duas pessoas, participando da posição jurídica já atribuída a
uma delas, sem que esta perca, por sua vez, a titularidade dessa mesma posição. Assim,
aderente torna-se co-titular dos créditos do seu parceiro contratual, e assume da mesma
forma as obrigações que a este competem, instituindo-se assim uma pluralidade de sujeitos na
relação obrigacional, cujo regime jurídico (solidariedade ou conjunção) depende do estipulado
no negócio de adesão.
Uma vez que não é indiferente para a outra parte ter um ou mais parceiros contratuais,
designadamente em relações contratuais duradouras como a sociedade ou o arrendamento,
entendes que a adesão ao contrato tem que resultar de um negócio trilateral ou, pelo menos,
que o outro contraente, antes ou depois, dê o seu consentimento à adesão.
Conforme se pode verificar, a adesão ao contrato apresenta grandes semelhanças com a
cessão da posição contratual, dela se distinguindo apenas em virtude de a cessão implicar que
o cedente deixe de ser parte no contrato, em virtude da sua transmissão para outrem,
enquanto que na adesão não ocorre qualquer transmissão, mas apenas a agregação de outro
sujeito a uma posição contratual que é conservada.
Podemos encontrar manifestações no art. 1057º do Código Civil e no art. 285º do CT.
Do art.1057º resulta que o contrato de locação não é prejudicado em virtude da alienação
a terceiros da coisa locada, pelo que o novo proprietário da coisa vem a suceder na posição
jurídica de locador que possuía o anterior proprietário.
O art.285º/1 CT visa proteger a unidade do estabelecimento, esta norma determina que a
sua transmissão para outrem determina que o adquirente ocupe a posição de entidade
patronal nos contratos de trabalho abrangidos pelo estabelecimento.
Conforme se pode verificar, o regime assim estabelecido distancia-se bastante da figura da
cessão da posição contratual. Uma vez que neste caso a transmissão da posição contratual não
resulta de um negócio jurídico entre cedente e cessionário, nem sequer se exige o
consentimento do outro contraente. Trata-se antes de uma transmissão imposta por
determinação legal, que é independente da estipulação das partes, e que por isso se baseia
num facto jurídico stricto sensu.
2. Noção
3.1. Generalidades
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3.3. A questão da inclusão da referida posição contratual no âmbito dos contratos com
prestações recíprocas.
O art.424º parece restringir a cessão da posição contratual aos contratos com prestações
recíprocas, ou seja, aos contratos bilaterais ou sinalagmáticos. Assim, Galvão Teles e Antunes
Varela, para os quais se pode transmitir a posição contratual de comprador ou de
arrendatário, mas já não de mutuário ou de doador, já que as posições resultantes dos
contratos unilaterais apenas se poderiam transmitir através dos institutos da cessão de
créditos ou da assunção de dívidas. Em coerência com esse entendimento, tem-se defendido
igualmente a exclusão da aplicação da cessão da posição contratual aos contratos bilaterais
em que uma das prestações já tenha sido executada, dado que nesse caso se estaria perante
um contrato bilateral tornado unilateral.
4.1. Generalidades
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situações como as dos arts. 243.º e 291.º em que a lei tutela a situação dos terceiros de boa fé
que confiaram na validade do negócio.
Admite-se, porém, que o cedente se possa constituir em responsabilidade civil, ou por ter
tido culpa na celebração do contrato de cessão que veio a ser invalidado (art.227º), ou por
abuso de direito (art.334º), no caso em que o seu interesse na anulação do contrato seja de
muito menor importância do que o prejuízo causado ao cessionário.
À semelhança do que se prevê para a cessão de créditos (art. 587.º), o art. 426.º, n.º1, vem
determinar, no âmbito da cessão da posição contratual que o cedente garante ao cessionário,
no momento da cessão, a existência da posição contratual transmitida nos termos aplicáveis
ao negócio, gratuito ou oneroso, em que a cessão se integra. A garantia do cumprimento das
obrigações é que só existe se for expressamente convencionada nos termos gerais (art. 462.º,
n.º2).
Do art. 426.º, n.º1, resulta, portanto, que a lei assegura ao cessionário uma garantia legal,
relativa à existência da posição contratual transmitida. Assim, se essa posição contratual não
existe- por não ter sido celebrado o negócio em questão ou este ser inválido – ou se encontra
na titularidade de outrem que não o cedente, este torna-se responsável perante o cessionário.
Como sucede também na cessão de créditos, essa garantia varia consoante o negócio que
serve de base à cessão da posição contratual seja uma compra e venda ou uma doação. No
primeiro caso, o incumprimento da garantia dá lugar à aplicação do regime dos arts. 892.º e
ss., enquanto no segundo caso a situação será regulada pelos arts. 956.º e 957.º.
Assim, no caso de se estar perante uma venda, o cedente terá que restituir ao cessionário
o preço da posição contratual transmitida (art. 894.º) e responde objetivamente pelos danos
emergentes (art. 899.º), podendo ainda constituir-se em responsabilidade pelo incumprimento
da obrigação de convalidação (art. 900.º, n.º1). havendo, porém, dolo da sua parte, o cedente
responderá por lucros cessantes, que podem ter por base o interesse contratual negativo (art.
898.º) ou o incumprimento da obrigação de convalidação, no caso de o lesado pretender optar
por essa solução (art. 900.º, n.º2). No caso de doação, o cedente não responde objetivamente
pela existência da referida posição contratual, apenas tendo que responder se se tiver
expressamente responsabilizado ou houver atuado com dolo (arts. 956.º e 957.º).
Em princípio, o cedente apenas responde pela existência e titularidade da posição
contratual transmitida, pelo que não poderá ser responsabilizado se o contraente cedido deixa
de cumprir as suas obrigações contratuais perante o cessionário, ou se torna insolvente, uma
vez que este assume o risco desse incumprimento ou insolvência ao celebrar o contrato de
cessão. Pode, porém além da garantia legal de existência e titularidade da posição contratual
transmitida, ser estipulada uma garantia relativa ao cumprimento das obrigações pelo
contraente cedido (art.426º/2). Os termos dessa garantia resultarão naturalmente do que se
determinou no contrato de cessão, podendo, por exemplo, as partes estipular que o cedente
responderá como fiador, como principal pagador, como devedor pelo cessionário em
resultado do contrato de cessão.
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não terá efeito liberatório, a menos que, tendo o contraente cedido dado o seu consentimento
antes da transmissão, não tenha ainda ocorrido a sua notificação ou reconhecimento (art.
424.º, n.º2).
A posição do cessionário perante o contraente pode, porém, não coincidir integralmente
com a posição que anteriormente teve o cedente, uma vez que a cessão da posição contratual
pode não abranger todos os direitos e obrigações que foram originados por aquele contrato.
Efetivamente, se esta tem lugar após ter sido cumprida alguma das obrigações não pode já ser
transmitido, mesmo que as partes pretendam atribuir eficácia ex tunc à cessão. Porém, o facto
de o contrato já ter sido integralmente executado não é obstáculo a que as partes celebrem
uma cessão da posição contratual, uma vez que esta pode pretender abranger outras
situações jurídicas, como por exemplo, as garantias contra vícios das coisas ou direitos
transmitidos.
Presumindo-se, por isso, salvo estipulação em contrário, que os créditos e obrigações, já
vencidos mas que ainda não tenham sido satisfeitos, se mantêm na titularidade do cedente,
não assumindo o cessionário qualquer responsabilidade pelo seu cumprimento. Efetivamente,
não corresponderá normalmente à vontade das partes fazer abranger na cessão da posição
contratual os direitos de crédito e as obrigações que, embora ainda não estejam extintos, já
deveriam estar, em virtude de ter ocorrido o respetivo vencimento.
Integram-se na posição contratual transmitida os poderes potestativos e as
correspondentes sujeições, pelo que naturalmente eles serão transmitidos para o cessionário.
Assim, poderá o cessionário invocar a exceção de não cumprimento ou o direito de retenção e
resolver o contrato com base em incumprimento ou em alteração das circunstâncias. Pode,
porém, questionar-se se o cessionário poderá invocar como fundamento do exercício desses
poderes potestativos, situações que ocorreram anteriormente à cessão da posição contratual.
A doutrina tem distinguido consoante o fundamento do direito potestativo em questão. Assim,
no caso da resolução do contrato, se estiver em causa o incumprimento de obrigações pelo
cedente não poderá o contraente cedido exercer esses direitos perante o cessionário, não só
porque estas obrigações não se transmitem normalmente para ele, mas também porque a
ameaça da resolução não produzirá qualquer efeito de coerção ao cumprimento. Se, porém, se
tratar do incumprimento de uma obrigação duradoura, que persista após a cessão
naturalmente que o contraente cedido poderá exercer perante o cessionário os direitos
correspondentes, mesmo que o seu fundamento tenha ocorrido em data anterior à cessão.
Relativamente às garantias das obrigações de que o contraente cedido é titular, parece
que se deverá aplicar analogicamente o regime do art.599.º, relativo à assunção de dívida.
Assim, parece que as garantias se manterão se tiverem sido prestadas pelo cedente ou pelo
cessionário, salvo se o contraente cedido consentir na sua extinção. Efetivamente, em relação
ao cessionário, não deve a cessão da posição contratual implicar automaticamente a extinção
das garantias que ele tinha constituído quando a obrigação lhe era alheia e, em relação ao
cedente, ele tem que consentir na cessão, pelo que se verifica necessariamente a manutenção
das garantias determinada pelo art.599.º, n.º2. Já, porém, se a garantia tiver sido prestada por
terceiro (fiança, penhor ou hipoteca sobre bens deste), a regra será a sua extinção, salvo se o
terceiro tiver dado o seu acordo à transmissão da posição contratual (art. 599.º, nº2).
O art.427º refere as exceções. Assim, aqui não está implicado que a outra parte conserve
integralmente as exceções que possuía contra o cedente, apenas passando a poder invocar
contra o cessionário as exceções que resultam da própria relação contratual. Admite-se,
porém, que o contraente cedido possa reservar outros meios de defesa de que disponha como
condição para consentir na cessão, caso em que o cessionário já saberá de antemão que terá
que contar com o exercício dessas exceções. Aliás também o cessionário poderá
eventualmente reservar exceções resultantes de outras relações com o cedente, antes de
prestado ou requerido o consentimento do cedido.
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5. Natureza
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cedente, -o que leva a constituição de uma relação negocial de conteúdo idêntico mas
com fonte distinta da anterior relação entre cedente e cessionário. A cessão da
posição contratual seria assim apenas a renovação de uma declaração negocial por
parte de um sujeito distinto do contraente originário
Menezes Leitão:
Concorda com a teoria unitária. A cessão da posição contratual implica a transmissão
do com plexo unitário que constituí a posição contratual, levando à aquisição pelo
terceiro da posição jurídica do cedente e ao consequente ingresso deste como parte
contratual, uma vez que abrange a transmissão da posição contratual.
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não será lícito a uma das partes exigir da outra o cumprimento das suas obrigações sempre que
uma alteração o estado de coisas posterior à celebrado do contrato tenha levado a um
desequilíbrio das prestações gravemente lesivo para essa parte.
O CC consagra esta figura no art. 437.º. Ao mesmo tempo, porém, numa formulação algo
enigmática vem prever no art. 252.º, n.º2, o erro sobre a base do negócio, como uma categoria
especial do erro sobre os motivos referindo que «se, porém, recair sobre as circunstâncias que
constituem a base do negócio, é aplicável ao erro do declarante o disposto sobre a resolução ou
a modificação do contrato por alteração das circunstâncias vigentes no momento em que o
negócio foi concluído».
O âmbito do 437.º é para as circunstâncias efe ,tivamente existentes no momento da
celebração do contrato e que depois se alteram; já o 252.º, n.º2, estará em causa a falsa
representação sobre essas circunstâncias.
2.2.1. Requisitos
Resulta do art. 437.º a existência dos seguintes requisitos para a aplicação da alteração das
circunstâncias:
a) Uma alteração das circunstâncias em que as partes fundaram a decisão de contratar:
Apenas são relevantes as alterações das circunstâncias efetivamente existentes à data
da celebração do contrato, e que tenham sido causais em relação à sua celebração pelas
partes. Não relevam para efeitos desta norma, os casos de falsa representação das
partes quanto às circunstâncias presentes ou futuras, que apenas colocam um problema
de erro, nem circunstâncias que, apesar de efetivamente existentes, não se apresentem
como causais em relação à celebração do contrato.
b) O carácter anormal dessa alteração:
Exige-se que fosse de todo imprevisível para as partes a sua verificação. Situações
excecionais como uma revolução podem ser qualificadas como alteração das
circunstâncias, assim como alterações legislativas. Da mesma forma, uma mudança
radical nos pressupostos de facto que determinaram a celebração do negocio (Ex: crise
económica). Já a alteração do preço dos produtos comercializados ou a não obtenção
das autorizações administrativas necessárias não preencherão o requisito da
anormalidade.
c) Que essa alteração provoque uma lesão para uma das partes:
Surgir de um desequilíbrio contratual, que provoque danos significativos.
d) Que a lesão seja de tal ordem que se encontre como contrária à boa fé no
cumprimento das obrigações:
Neste sentido pode considerar-se como uma modalidade específica de abuso do direito
(art. 334.º), neste caso de um direito de credito, já que, por força da boa fé se torna
ilegítimo ao credor a exigenica da prestação numa situação em que os limites relativos
ao equilivrio das prestações no contrato se encontram ultrapassados.
Consequentemente a alteração das circunstâncias não pode ser aplicada a contratos já
executados, uma vez que após a troca das prestações, já passa a ser um risco do recetor
da prestação as alterações de valor que ela venha a sofrer.
Assim, se alguém recebu a prestação de determinado bem, cujo valor vem depois a
diminuir consideravelmente em virtude de uma alteração das circusntancias, não pode
socorrer-se do art.437º, uma vez que esta norma pressupõe uma abusiva exigencia de
cumprimento, não podendo aplicar-se para determinar a restituição de prestações num
contrato já integralmente cumprido (Menezes Cordeiro).
Galvão Telles e Almeida Costa consideram excecional a aplicação da alteralão das
cirucnstancas a contratos já executados.
e) Que não se encontre coberta pelos riscos próprios do contrato:
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Uma restrição à aplicação do regime da alteração das circunstâncias resulta do art. 438.º
que nega à parte lesada o direito à resolução ou modificação do contrato se se encontrava em
mora no momento em que a alteração se verificou. Trata-se de uma situação coerente dado que
a mora inverte o risco da prestação (art. 807.º), pelo que, se o devedor, por causa que lhe é
imputável, não cumprir na data fixada, entende-se que assume o risco da verificação de
posteriores desequilíbrios contratuais, não podendo impor ao credor uma distribuição do risco
distinta.
Para além disso, permitir ao devedor invocar alterações das circunstnacias verificadas na
situação de mora resultaria em termos objetivos num prémio concedido por uma falta
contratual, uma vez que se o devedor tivesse cumprudo em tempo, o contrato já estaria
executado, ficando assim excluindo o recurso à alteração das circusntnacias.
Este regime sofre um quebra no art. 830.º, n.º3, que vem estabelecer que, na ação de
execução específica, a sentença pode, a requerimento do faltoso, determinar a modificação do
contrato nos termos do art. 437.º, ainda que a alteração das circunstâncias seja posterior à
mora. O promitente faltoso nos contratos promessa de venda de edifícios ou frações
autónomas, goza assim de uma maior tutela face ao desequilíbrio contratual gerado pela
alterção das cirucnstnaicas, uma ez que este pode ser sempre invocado como defesa na ação de
execução especifica.
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2.3.1. Generalidades
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Nos termos do art. 300.º, esse regime tem carácter absolutamente imperativo, pelo que
«são nulos os negócios jurídicos destinados a modificar os prazos legais de prescrição ou a
facultar ou dificultar por outro modo as condições em que a prescrição opera os seus efeitos».
Resulta do art. 303.º que a prescrição não pode ser conhecida ex officio, necessitando, para
ser eficaz, de ser invocada judicial ou extrajudicalmente, por aquele a quem aproveita. A
prescrição não resulta assim automaticamente do decurso do prazo sendo necessária a sua
invocação pelo devedor, para que possa ocorrer a extinção da obrigação. Se o devedor não
invocar a prescrição quando demandado judicialmente pelo credor, o tribunal condená-lo-á
necessariamente no cumprimento da obrigação.
A prescrição atribui assim ao devedor a faculdade de recusar o cumprimento da obrigação
ou de se opor, por qualquer modo, ao exercício do direito prescrito (art. 304.º, n.º1). Caso o
devedor venha a cumprir a obrigação prescrita, não pode recorrer ao instituto da repetição do
indevido, uma vez a lei estabelece, no art. 304.º, n.º2, que não poderá «ser repetida a prestação
realizada espontaneamente em cumprimento de uma obrigação prescrita, ainda que feito com
ignorância da prescrição», sendo o mesmo regime «aplicável a quaisquer formas de satisfação
do direito prescrito, bem como ao seu reconhecimento ou à prestação de garantias».
Por razões de tutela do equilíbrio contratual, não se admite que a extinção da obrigação por
prescrição tivesse por efeito permitir ao devedor adquirir o exercício pleno de direitos sobre a
contraparte, que anteriormente se encontravam dependentes do cumprimento da obrigação
que se extinguiu. Assim, quando a contraparte tenha invocado a exceção do não cumprimento,
a prescrição da sua obrigação não prejudica essa invocação, a menos que se trate de prescrição
presuntiva (art. 430.º). Também, se um bem for vendido com reserva de propriedade, a
prescrição do crédito do preço não impede o vendedor de continuar a restituição da coisa
quando o preço não seja pago (art. 304.º, n.º3).
A prescrição é renunciável, mas apenas após o prazo prescricional (art. 302.º, n.º1), tendo
legitimidade para renunciar à prescrição quem puder dispor do benefício que a prescrição tenha
criado (art. 302.º, n.º3). A renúncia não carece naturalmente de aceitação e pode ser efetuada
tacitamente (art. 302.º, n.º2).
A lei admite que, além do devedor, possam invocar a prescrição os seus credores e
quaisquer terceiros com legítimo interesse na sua declaração, ainda que o devedor a ela tenha
renunciado (art. 305.º, n.º1), ficando, no entanto, em caso de renúncia, a invocação da
prescrição pelos credores dependente da demonstração dos requisitos da impugnação pauliana
(art. 305.º, n.º2). Se o devedor não invocar a prescrição e vier a ser condenado, o caso julgado
nessa ação não afecta o direito reconhecido aos seus credores (art. 305.º, n.º3).
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
Em relação à duração do prazo de prescrição, o seu prazo ordinário é de vinte anos (art.
309.º). Existe, porém, um prazo especial de cinco anos para as anuidades de rendas perpétuas
ou vitalícias, rendas e alugueres devidos pelo locatário, ainda pagos de uma só vez, entre outras
prestações periodicamente renováveis como juros ou pensões alimentícias (art. 310.º). As
prescrições presuntivas estão, como se referiu, sujeitas a prazos ainda mais curtos, de seis meses
(art. 316.º) e dois anos (art. 317.º). Os prazos especiais de prescrição, mesmo os da prescrição
presuntiva, deixam, porém, de se aplicar, passando a vigorar o prazo da prescrição ordinária, a
partir do momento em que o direito esteja reconhecido por sentença transitada em julgado ou
outro título executivo (art. 311.º, n.º1), salvo se esse título se referir a prestações ainda não
devidas (art. 311.º, n.º2).
Em relação ao início do prazo de prescrição, a lei determina que este só se verifica a partir
do momento em que o direito puder ser exercido (art. 306.º, n.º1), ou seja, a partir do momento
em que o credor tem a possibilidade de exigir do devedor que realize a prestação devida, o
ocorre a todo o tempo nas obrigações puras ou com prazo em benefício do credor, e após o
decurso do prazo nas obrigações com prazo estipulado em benefício do devedor. Se a lei atribuir
ao devedor um prazo de cumprimento posterior à verificação da interpelação (art. 1148.º, n.º1),
o prazo de prescrição só se inicia após o decurso desse prazo (art. 306.º, n.º1).
Nas obrigações cum potuerit ou cum voluerit (778º), a prescrição só se inicia após a morte
do devedor (art.306º/3).
No caso de o direito estar sujeito a condição suspensiva ou termo inicial, naturalmente que
o prazo de prescrição só se inicia após a verificação da condição ou termo (306º/3).
No caso de se tratar de renda prepetua ou vitalícia ou outras prestações periódicas do
mesmo tipo, a prescrição do direito unitário do credor só se incia com a exigibilidade da primeira
prestação que não for paga – art.307º
É de referir que a iliquidez da dívida não impede o início do prazo de prescrição, se cabia ao
credor promover a liquidação e não o fez. Se o credor promover a liquidação, só após o
apuramento do respetivo quantitativo por acordo ou sentença transitada em julgado, é que se
verifica a respetiva prescrição (art. 306.º, n.º4).
A lei prevê a possibilidade de ocorrer a transmissão do prazo de prescrição, sempre que se
verificar uma transmissão do crédito ou da dívida. Efetivamente, o art. 308.º, n.º1, vem
estabelecer que a transmissão do direito, após o início do prazo de prescrição, não impede que
este continue a correr.
O prazo da prescrição pode ser objeto de suspensão ou de interrupção. Ocorre a suspensão
do prazo da prescrição quando a sua contagem é paralisada durante a verificação de certos
factos ou situações a que a lei atribui esse efeito, contando-se no entanto após a sua cessação
o lapso de tempo anteriormente decorrido (arts. 318.º). Ocorre a interrupção do prazo de
prescrição quando não apenas a sua contagem é paralisada em virtude de certos factos ou
situações que a lei atribui esse efeito, mas também se inutiliza o prazo anteriormente decorrido
(art. 323.º).
Regra geral, a suspensão verifica-se em relação ao curso do prazo, impedem que o prazo
de prescrição se inicie ou continue a correr (arts. 318.º, 319.º, 320.º, n.º1 e 3 e 321.º), mas em
certos casos prevê-se que ela se verifique apenas em relação ao seu termo, impede que se
complete (art. 320.º, n.º1 e n.º3 e 322.º).
Entre as causas suspensivas relativas ao curso do prazo da prescrição temos as referidas no
art. 318.º. Para além disso suspendem ainda a prescrição os casos do art. 319.º, 320.º, 321.º e
322.º.
Entre as causas interruptivas temos os casos do art. 324.º, n.º1, n.º4, n.º2, 325, tendo o
prazo de recontagem do tempo uma regra especial no art. 327.º
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A prescrição cosntitui, face ao art.304º/1, uma exceção peremptória, uma vez que permite
paralisar definitivamente um direito da contraparte, que deixa de poder ser exigio, fiando a
tutela do credor limitada ao facto de a prestação realizada espontaneamente em cumprimento
da obrigação prescrita não poder ser repetida – 304º/2
Não parece, porém, adequado considerar que a obrigação prescrita se manteria vigente,
ocorrendo apenas uma exceção que funcionaria para o devedor como uma causa de justidicação
do não cumpromento de caracter permanente, como parececia resultar do art.304º/1.
Efetivamente, como a situação juridica do credor da obrigação prescrita é semelhante à do
credor da obrigação natural, parece adeuqado antes qualificar a prescrição como uma hipótese
de transformação da obrigação civil em obrigação natural, qualificação essa que tem
importância apara efeitos de aplicar ao cumprimento da obrigação prescrita as disposições do
art.403º e 615º/2. Na medida em que recusamos atribuir a natureza de verdadeiras obrigações
jurídicas às obrigações naturais, entendemos que a prescrição deve ser incluída entre as causas
de extinção das obrigações.
2. Princípios gerais
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Significa que a vinculação do devedor deve ser concretizada numa conduta real e efetiva,
implicando assim o cumprimento a transposição do plano deontológico da vinculação do
devedor para o plano ontológico de um comportamento efetivamente realizado. A
transposição é regulada não apenas em termos de exigência de certos pressupostos para o
cumprimento (capacidade das partes, disponibilidade da coisa dada em prestação,
legitimidade), mas também através da disciplina da sua forma de realização (lugar e tempo do
cumprimento) ou da determinação dos seus efeitos concretos (imputação do cumprimento).
Analisemos esses aspetos de seguida.
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No 1º caso, estamos perante uma situação de doação indireta, sujeita ao regime respetivo
(art.940º e ss.). Como é característico da doação, o terceiro nada vai adquirir antes suporta a
redução patrimonial correspondente à liberalidade. Normalmente, porém, o cumprimento por
terceiro investe este num direito de crédito sobre o devedor. Esta aquisição poderá ter
justificações distintas como se verá.
No 2º caso o pagamento é visto como um facto determinante da transmissão do crédito
adquirindo assim o terceiro o mesmo direito que o credor possuía (art. 593.º, nº 1). Não se
verifica, por isso, a liberação do devedor mas apenas uma mudança do credor em virtude
dessa transmissão.
No 3º caso tal resulta da circunstância do pagamento ser juridicamente considerado um
ato jurídico alheio, realizado por conta do devedor, o que legitima o seu autor a demandar a
restituição do que nele despendeu (art. 468.º, nº 1 e 1167.º, nº 1 /c))
No 4º caso, o terceiro visou realizar uma prestação ao credor ou ao devedor mas não
existe causa jurídica para essa realização pelo que a lai determina a sua restituição (arts. 477.º
e 478.º).
No 5º caso o terceiro cumpriu a dívida sem estar abrangido nas situações anteriores, mas
verifica-se em qualquer caso, proveito para o devedor nessa situação o que justifica que, nos
limites do enriquecimento, ele proceda à restituição da despesa que o beneficiou. Este ultimo
fundamento tem sido objeto de discussão na doutrina:
• Pires de Lima/Antunes Varela: entendem que, se o terceiro sabe que é obrigado ao
cumpromento e não tem interesse em cumprir, não lhe assiste, tanto em relação
ao credor como em realação ao devedor, qualquer direito.
• Menezes Cordeiro: rejeita a inexistência de qualquer ação, por considerar que
nesta hipótese existe claramente uma deslocação patrimonial sem causa,
admitindo uma ação de enriquecimento contra o devedor ou contra o credor,
consonate aquele que se enriquece com a operação. A ação seria dirigida contra o
credor quando a obrigação não existisse ou quando este receba nova prestação do
devedor e será dirigida contra o devedor quando a obrigação existisse, mas este
não a cumprisse.
• Menezes Leitão: esta ação, tem por base o enriquecimento por despesas, é
sempre dirigida contra o devedor, uma vez que a prestação do terceiro o
enriquece, quer porque obtém a liberação da sua obrigação, quer porque adquire
um direito à repetição do indevido por parte do credor.
Uma ação de enriquecimento interposta pelo terceiro contra o credor deve para Menezes
Leitão considerar-se excluída uma vez que viola as regras relativas ao concurso de credores, à
oposição de exceções e à distribuição do risco de insolvência que impõem que cada parte deva
apenas exigir uma restituição ao seu parceiro contratual, regras essas que se aplicam mesmo
nesses casos. O terceiro que cumpre deve apenas poder intentar ação de enriquecimento
contra o devedor.
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6. Tempo do cumprimento
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É possível as partes estabelecerem que o prazo corra em benefício do credor. Nessa altura
o credor tem a faculdade de exigir a todo o tempo a prestação, mas o devedor só tem a
possibilidade de cumprir no fim do prazo. A dívida já é exigível mas ainda não é pagável. Um
exemplo é o do art. 1194.º.
É o 1º caso de perda do benefício do prazo, ainda que não judicialmente declarada (art.
780.º).
É considerado situação de insolvência o devedor que se encontre impossibilitado de
cumprir as obrigações vencidas. Quando há mais passivo do que ativo.
A lei exige a verificação de uma efetiva situação de insolvência, não bastando o justo
receio da mesma. Não se exige, porém, que a insolvência seja juridicamente declarada através
da sentença de declaração de insolvência. Após esta não ocorre apenas a perda do benefício
do prazo verificando-se antes o vencimento antecipado de todas as obrigações do insolvente,
não subordinadas a uma condição suspensiva, independente de interpelação.
Este é o caso de, por causa imputável ao devedor, diminuírem as garantias do crédito ou
não serem prestadas as garantias prometidas. No entanto, em alternativa ao cumprimento
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Nas dividas a prestações, caso o devodor falte ao pagãmente d euma das prestações,
admite-se que o credor possa exigir antecipadamente a prestações que ainda não venceram.
Está prevista no art. 781.º. Esta disposição apenas se aplica em relação às prestações
instantâneas fracionadas, e não às prestações periódicas. Não tem por isso o senhorio a
possibilidade de reclamar rendas ainda não vencidas, caso o locatário falte ao pagamento de
alguma delas.
Tratando-se de prestações fracionadas a não realização de uma permite ao credor exigir
logo a totalidade da dívida. Apesar da lei descrever a situação como de vencimento
antecipado, parece tratar-se antes de perda do benefício do prazo, já que se o credor não
exigir as prestações restantes, não parece que fique logo constituído em mora pela totalidade
da obrigação. Esta situação ocorre em virtude da má fé demonstrada pelo devedor ao não
reaizar o cumprimento ou em virtude das suspeitas de insolvabilidade que tal atitude
demonstra. Saliente-se que na venda a prestações esta solução é restringida pelo art. 934.º,
determinando-se que a perda do beneficio do prazo apenas ocorra quando o devedor falte ao
pagamento de uma prestação que exceda um oitavo do preço ou a duas prestações,
independentemente do seu montante.
Estabelecido no art. 782.º. Daqui resulta que a perda do benefício do prazo tem carácter
pessoal pelo que não pode afetar nem os codevedores nem os terceiros garantes. Assim, em
caso de perda do benefício do prazo, o credor poderá exigir ao devedor o cumprimento
imediato da obrigação, mas terá que esperar o seu vencimento normal para exigir o
cumprimento aos codevedores ou a terceiros garantes.
A exclusão da perda do benefício em relação a codevedores e 3ºs garantes sofre, porém,
algumas restrições. Em relação aos codevedores, na hipótese da obrigação ser solidária, pode
dar-se o caso de a insolvência ou responsabilidade pela diminuição das garantias se verificar
em mais de um dos devedores, o que legitimará naturalmente o credor a exigir imediatamente
o cumprimento aos outros codevedores em relação aos quais se verifiquem essas
circunstâncias.
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Em relação aos terceiros garantes através da hipoteca ou do penhor, pode acontecer que,
sendo o devedor estranho à constituição da garantia, a diminuição desta seja devida a culpa
do 3º garante. Neste caso, o credor poderá exigir dele a substituição ou reforço da garantia ou,
quando tal não suceda, o cumprimento imediato da obrigação (art. 701.º, nº 2, 2ª parte, e
678.º).
Nos dois primeiros casos o lugar da prestação conincide com o lugar do resultado. No terceiro
caso ocorre uma diferencicaiação entre o lugar da prestação e o lugar do resultado da mesma.
O devedor realiza a prestação no lugar em que envia a coisa ao credor, mas a obrigação só se
extingue a partir do momento em que o credoe recebe a coisa envidada. No entanto, a partir
do moento em que realiza o envio, a obrigação do devedor fica consideravelmente atenuada,
praticamente se resumindo a não impedir o transporte para o credor, o que cosntitui um mero
dever acessório de conduta
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8. Imputação do cumprimento
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isso, adequado, por contrário aos interesses do credor, permitir-se ao devedor amortizar essas
prestações enquanto continuasse a dever o capital.
Caso o devedor não efetue a designação, o credor não é livre de efetuar ele mesmo a
imputação, havendo antes que aplicar as regras supletivas do art. 784.º.
Numa hipótese de verificação difícil pois presume uma constituição simultânea de várias
obrigações, com datas de vencimento idênticas, a mesma onerosidade e idênticas garantias a
lei vem ainda prever a hipótese de não ser possível aplicar as regras referidas no art.784º,
prevendo que nessa situação a prestação considera.se realizada por contad de todas as dividas
rateadamente, sem que o credor possa recursar o pagãmente parcial – 784º/2
A lei regula ainda de forma supletiva a forma de realizar a imputação do cumprimento
quando o devedor simultaneamente com a dívida de capital esteja obrigado a pagar despesas,
juros, ou a indemnizar o credor em consequência de mora (art. 785.º, nº 2). A lei vem, porem,
estbaelcer ainda uma ordenação supletiva, em termos de imputação do cumrpomento,
estabelencendo que, na ausência de designação, a prestação se tem por sucessivamente feita
por conta das despesas, da indeminização, dos juros e do capital – 785º/1.
As regras relativas à imputação do cumprimento cedem ainda perante regime especial, de
que se salienta o caso do contrato de conta corrente e a situação de insolvência.
9. Prova do cumprimento
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D) Teoria do contrato real ou do acordo sobre o fim, sustenta, da mesma forma que a
teoria geral do contrato, que o cumprimento constitui uma facti species composta de
dois elementos: a atribuição do devedor (elemento objetivo) e um acordo das partes
sobre o fim de cumprimento dessa atribuição (elemento subjetivo)
E) teoria da realização final da prestação, , entende que o cumprimento não exige
nenhum contrato nem qualquer acordo entre as partes sobre o fim da prestação, mas
apenas a definição unilateral pelo solvens desse fim. A função desta definição do fim
da prestação seria apenas as a de relacionar com determinada divida, e não a de
produzir o cumprimento como consequência jurídica. Pelo que não se poderia
considerar um negócio jurídico.
F) A teoria da realização real da prestação, Segundo ela, para o cumprimento é
suficiente, na maior parte aos casos, especialmente quando é evidente a referência a
uma determinada dívida, a obtenção do resultado da prestação através do ato de
prestar do devedor ( ou do seu auxiliar e eventualmente também de um terceiro), que
de uma forma objetivamente reconhecível, corresponda à prestação devida.
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Ou seja, a prestação que o devedor realiza não coincide com aquela a que está vinculado e
que por isso não possa produzir a sua exoneração ao abrigo do art. 762.º, nº1 por não ser
considerada como atuação do vínculo obrigacional. Enquanto no cumprimento o devedor
realiza a prestação devida, produzindo assim a extinção da obrigação, na dação em
cumprimento realiza um aliud em relação ao que está vinculado ainda que com o fim de
extinguir essa mesma obrigação.
Tem sido, porém, questionado se o art. 837.º limita a dação em cumprimento às prestações
de coisa, e dentro delas, à entrega de uma coisa de natureza diferente (ex: a entrega de um
carro em lugar do barco prometido), ou se pode igualmente abranger qualquer outro tipo de
prestação diferente da que for devida ( como por exemplo a entrega de uma quantia em
dinheiro em substituição do automóvel devido).
Relativamente às obrigações que podem ser extintas por dação em cumprimento, não
resulta do art. 837.º qualquer tipo de limitação. Apesar de esta norma parecer referir apenas a
extinção de obrigações de prestação de coisa específica a verdade é que a lei refere amplamente
a dação em cumprimento como causa de extinção de obrigações pecuniárias (art. 877.º, nº 3,
art.1091º/1/a)), não havendo razões para excluir a sua aplicação à extinção de outro tipo de
obrigações genéricas ou inclusivamente à de obrigações de prestação de facto, como de facere
(ex: realização de uma obra em lugar do pagamento de uma quantia em dinheiro) ou de coisa
fungível (abrangendo, quantias de dinheiro).
Essa prestação não pode corresponder a uma nova obrigação assumida perante o credor já
que nesse caso estaríamos perante a figura da novação (art. 857.º) e não da dação em
cumprimento.
É elemento essencial da dação em cumprimento que a prestação seja definitivamente
realizada não parecendo ser suficiente a mera celebração do acordo transmissivo do direito.
Apesar do previsto no art. 408.º, nº1 parece resultar claramente do art. 837.º que a dação em
cumprimento só se verifica com a efetiva realização da prestação.
Esta regra é perfeitamente justificável mesmo que a prestação realizada tenha valor igual
ou superior à prestação devida, uma vez que era esta a que o credor tinha direito, e não se
compreenderia que fosse forçado a receber outra prestação a qual, mesmo que tivesse valor
superior poderia não corresponder ao seu interesse.
Sendo a obrigação solidária, aplicam-se os arts. 523.º (a dação pode ser realizada apenas
por um dos devedores), em relação ao devedor, e o art. 532.º (a dação pode ser realizada apenas
por um dos credores) para o credor. Nesse caso para ocorrer a extinção da obrigação nas
relações externas bastará o consentimento das partes na dação em cumprimento ainda que
posteriormente nas relações internas a diferença de valor entre a prestação devida e a realizada
não possa ser oposta aos outros participantes na obrigação que não tenham dado o seu
assentimento à dação em cumprimento.
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O autor da dação deve conceder uma garantia pelos vícios da coisa ou do direito transmirido
nos termos prescritos para compra e venda ao credor nos termos do art. 838.º. Assim, sempre
que a dação tenha conteúdo translativo, o seu autor responderá pela evicção (arts. 892.º e ss),
bem como por ónus e limitações existentes (arts. 905.º e ss) e pelos vícios da coisa (arts. 913.º
e ss). No caso da dação em cumprimento se referir a uma cessão de créditos parece porém que
o alienante apenas responderá pela veritas nominis, não garantindo a solvência do devedor (art.
587.º).
Em alternativa à garantia pelos vícios da coisa ou do direito transmitido nos termos da
compra e venda, o credor pode optar pela prestação primitiva e pela reparação dos danos
sofridos. Uma vez que a obrigação anterior se tenha extinto, esta opção do credor implicará um
verdadeiro renascimento da obrigação, com todas as suas garantias e acessórios.
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
Menezes Leitão concorda com Menezes Cordeiro, quando recusa a integração da dação em
cumprimento noutras categorias, limitando-se a qualifica-la uma forma convencional de
extinção das obrigações atraves da realização de uma prestação diversa da devida.
Efetivamente, a dação em cumprimento pode ser definida como um contrato oneroso, pelo
qual se extingue uma obrigação atraves da realização perante o credor de uma prestação
diferente da devida como contrapartida da sua renuncia a receber a prestação primitiva. Só
esta explicação pode justificar o regime do art.838º, em que os vícios da prestação recebida
não apenas determinam a aplicação da garantia edilicia, mas também a possibilidade de
resolução da dação com esse fundamento, com a natural recuperação do direito à prestação
primitiva.
A dação pro solvendo ou dação em função do cumprimento, prevista no art. 840.º, consiste
na execução de uma prestação diversa da devida para que o credor proceda à realização do
valor dela e obtenha a satisfação do seu crédito por virtude dessa realização. Por isso na dação
pro solvendo o crédito subsiste até que o credor venha a realizar o valor dele (por ex: através
da venda do bem entregue).
A dação pro solvendo distingue-se da dação em cumprimento porque naquela a realização
da prestação diversa da devida não visa obter a imediata exoneração do devedor, mas antes
proporcionar ao credor uma forma mais fácil de obter a satisfação do seu crédito, através da
transformação em dinheiro da prestação que for realizada. Enquanto na dação em cumprimento
se verifica uma causa distinta de extinção das obrigações, na dação pro solvendo há apenas um
meio de facilitar o cumprimento das obrigações, podendo esta ser qualificada como um negócio
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
A consignação em deposito
1. Generalidades
O primeiro requisito encontra-se referido no art. 916.º, nº1 do CPC e resulta da própria
natureza das coisas, já que as prestações de facto positivo são insuscetíveis de depósito e em
relação às prestações de facto negativo, ocorre o cumprimento da obrigação
independentemente da cooperação do credor.
O segundo requisito encontra-se referido no art. 841.º, nº 1 que discrimina 2 situações:
• Impossibilidade não imputável ao devedor de ele realizar a presação ou de o
fazer com seguranã. Por qualquer motivo relacionado com a pessoa do credor.
Como exemplo temos o facto de se ignorar o paradeiro do credor.
• A mora do credor, ou seja, a recusa do credor em receber a prestação ou
praticar os atos necessários ao cumprimento (813º)
Exemplo: os casos do credor recusar receber a prestação ou passar quitação
da dívida (art. 787,º nº 2).
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
i. Generalidades
A consignação em depósito apresenta uma eficácia complexa, dado que além de implicar o
surgimento de um processo judicial entre o consignante e o credor, regulado pelos arts. 926.º
e ss CPC, vai instituir uma nova relação substantiva, uma vez que o depósito da coisa devida
implica o surgimento de obrigações a cargo do consignatário. Para além disso, a consignação
em depósito tem efeitos sobre a obrigação, podendo eventualmente conduzir à sua extinção.
É possível distinguir 3 tipos de efeitos da consignação em depósito:
a) instituição de uma relação processual entre o consignante e o credor;
b) instituição de uma relação substantiva triangular entre o consignante, o consignatário e
o credor;
c) eficácia da consignação sobre a obrigação.
Esta relação tem grandes semelhanças com o contrato a favor de terceiro (arts. 443.º e ss),
uma vez que através dela o credor adquire imediatamente um direito à entrega da coisa por
parte do consignatário (art. 844.º). Temos exatamente: uma relação de cobertura entre
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
A compensação
1. Generalidades
A lei admite nos arts. 847.º e ss outra forma de extinção das obrigações que consiste na
compensação, segundo a qual, quando 2 pessoas estejam reciprocamente obrigados a entregar
coisas fungíveis da mesma natureza é admissível que ambas as obrigações sejam extintas, total
ou parcialmente, pela dispensa de ambas de realizar as suas prestações ou pela dedução a uma
das prestações da prestação devida pela outra parte.
Assim, se 1 comerciante deve a outro 1000 € de 1 fornecimento que este lhe fez, mas tem
por sua vez 1 crédito de 1000€ sobre aquele, resultante de um empréstimo antigo, podem tanto
a dívida do fornecimento como a dívida do empréstimo ser declaradas extintas por
compensação entre elas, ficando os 2 comerciantes liberados de realizar a sua prestação.
A extinção das obrigações por compensação assegura 2 importantes vantagens: a primeira
é a de que se produz a extinção das obrigações dispensando a realização efetiva da prestação
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
a. Pressupostos da compensação
Reside na existência de créditos recíprocos, o que significa que cada uma das partes tem
que possuir na sua esfera jurídica um crédito sobre a outra parte, e só pode operar a
compensação para extinguir a sua própria dívida.
O declarante só pode usar para efetuar a compensação créditos seus sobre o seu credor,
estando-lhe vedada a utilização para esse efeito de créditos alheios, ainda que o titular respetivo
dê o seu consentimento (art. 851.º, nº 2). Não é assim permitido ao fiador invocar a
compensação com um crédito do devedor, nem ao devedor solidário invocar o crédito de outro
codevedor sobre o credor. A não utilização de créditos alheios compreende-se uma vez que para
a disposição desse crédito seria sempre necessário o consentimento do respetivo credor, mas,
mesmo que ele o concedesse, a situação geraria uma desigualdade, uma vez que só o declarante
poderia recorrer à compensação, ficando ao declaratário vedada essa possibilidade.
Também só procedem para a compensação créditos do declarante sobre o seu credor,
não podendo este utilizar créditos seus sobre outras pessoas, ainda que ligadas por qualquer
relação ao credor. Não é assim permitido ao promitente, no contrato a favor de terceiro invocar
perante o terceiro a compensação com um crédito sobre o promissário (art. 449.º), nem ao
demandado por dividas à herança invocar a compensalao com o credito sobre um dos herdeiros.
Mas já é admissível, face ao art. 532.º, que o devedor de vários credores solidários invoque a
compensação dessa obrigação solidária com base no crédito de que disponha sobre qualquer
um dos credores.
Da mesma forma, o declarante não pode em principio, através da compensação com um
crédito seu extinguir uma dívida que outrem tenha com o seu devedor, mesmo que pudesse,
em razão da sua fungibilidade, realizar a prestação em lugar dele (art. 851.º, nº 1). Essa
possibilidade só lhe é reconhecida no caso de estar em risco de perder os seus bens em
consequência de execução por dívida de terceiro, o que sucede por ex na hipótese de ter
garantido esse cumprimento através da fiança, penhor ou hipoteca.
As duas obrigações devem ter por objeto coisas fungíveis da mesma espécie e qualidade.
A nossa lei não restringiu a compensação às dívidas em dinheiro, admitindo-a ainda em
relação a prestações de coisa fungíveis (art. 207.º), do mesmo género e qualidade. É, assim,
possível compensar obrigações relativas à entrega de quantidades de uma mesma mercadoria.
Não é admissível a compensação relativamente a prestações de facto, ainda que a atividade seja
idêntica.
Cabendo a uma das partes determinar o objeto da prestação só se poderá recorrer à
compensação se a escolha implicar prestações de coisas fungíveis homogéneas para ambos os
créditos.
Sendo necessária a identidade do género e qualidade das coisas objeto das prestações ,
já não se exige que a sua quantidade seja idêntica. Se as dívidas não forem de igual montante
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Ana Figueiredo
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
Para que a compensação se possa verificar é ainda necessário cumprir o requisito do art.
847, nº 1/a). Só podem ser assim compensados os créditos em relação aos quais o declarante
esteja em condições de obter a realização coativa da prestação.
Não podem ser compensados créditos de obrigação natural com dívidas respeitantes a
um obrigação civil. Também não pode ser feita compensação se o crédito ainda não estiver
vencido – mesmo que essa falta de vencimento decorra de moratória concedida gratuitamente
pelo credor (art. 849.º) – ou a outra parte poder recusar o cumprimento, por ex, as situações
dos arts. 428.º e ss e 300.º e ss. Para esta ultima exigem-se as condições do art. 850.º.
Da mesma forma que o declarante, também o declaratário tem que ser titular de um
crédito válido sem o que a compensação nunca poderia operar já que o declarante nem sequer
seria devedor. Para além disso, esse crédito do declaratário tem que estar na situação de poder
ser cumprido pelo devedor , uma vez que só nesse caso é legitimo ao declarante invocar a
compensação. Não pode assim o declarante pretender compensar uma dívida sua ainda não
vencida, se o prazo tiver sido estabelecido em benefício do credor.
Já não constitui pressuposto da compensação que o declaratário esteja em condições
de poder exigir judicialmente o cumprimento, pelo que nada impede o declarante de compensar
dívidas ainda não vencidas, se o prazo correr em seu benefício, ou dívidas em relação às quais
pretenda recorrer. Pode igualmente o declarante utlizar a compensação para extinguir dívidas
naturais suas com créditos civis que tenha sobre o declaratário, uma vez que em relação a elas
se verifica a possibilidade de cumprimento, ao qual a lei atribui causa jurídica quando
espontaneamente realizado (art. 403.º).
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
alimentos, fosse suscetível de extinção por compensação com uma obrigação que não fosse de
idêntica natureza devido à especial importância que tem para o credor. Não haverá problema
se os créditos forem da mesma natureza.
Também se excluem de compensação os créditos do Estado ou de outras pessoas coletivas
públicas, exceto quando a lei o autorize. A razão para esta solução, reside essencialmente nas
dificuldades que a compensação poderia provocar na contabilidade pública.
Também excluída está a situação prevista no art. 853.º, nº 2. Assim se o crédito tiver sido
arrestado ou penhorado a compensação lesaria o terceiro que tinha adquirido aquele direito
sobre o crédito, pelo que a compensação só é admitida se os créditos se tivessem tornado
compensáveis antes da constituição deste último direito. A mesma solução vigora em caso de
insolvência do devedor, caso em que a compensação só pode ser decretada se os seus
pressupostos legais se tiverem preenchido antes da declaração de insolvência ou se o crédito
sobre a insolvência tiver preenchido antes do crédito os requisitos do art. 847.º.
Finalmente não é admitida a compensação sempre que o devedor a ela tenha renunciado.
A renúncia à compensação, que pode ser expressa ou tácita (art. 217.º) impede igualmente a
possibilidade dela ser declarada. Se as partes expressamente afastam a possibilidade de
compensação, ou se comprometem a realizar um efetivo pagamento, ou a entregar a
mercadoria num lugar e tempo determinado, a compensação será excluída devendo o
cumprimento ser realizado.
c. Regime da compensação
Para a compensação se tornar efetiva é necessária a declaração de uma das partes à outra
(art. 848.º, nº 1) a qual pode ser feita tanto judicial como extrajudicialmente. No 1º caso, a
compensação pode ser realizada quer em notificação avulsa (arts. 228.º, nº 2 e 261.º CPC), quer
no âmbito de ação judicial, em qualquer dos seus articulados. No 2ª caso, a declaração de
compensação não está sujeita a forma especial (art. 219.º), produzindo efeitos logo que chegue
ao poder do declaratário ou dele seja conhecida (art. 224.º)
A lei estabelece que a declaração de compensação é ineficaz se for fita nos termos do art.
848.º, nº 2. Justifica-se pelo grau de certeza que é necessário conferir à extinção da obrigação
que retroage ao momento da compensabilidade do crédito, não podendo por isso a declaração
de compensação deixar em aberto alguma incerteza sobre os seus efeitos. Não há, porem
obstáculos me que se conteste a existência da obrigação, mas se invoque subsidiariamente a
compensação, para a hipótese de a divida existir.
Pode suceder que existam vários créditos compensáveis de qualquer das partes, podendo a
qualquer deles ser referida a declaração de compensação. Neste caso, a escolha dos créditos
extintos pertence ao declarante (art. 855.º, nº 1). Na ausência de escolha seguimos o previsto
no art. 855.º, nº 2. A outra parte não terá assim a possibilidade de manifestar oposição à escolha,
salvo se esta se referir a uma dívida de capital, quando ainda existam juros, despesas ou
indemnização uma vez que nos parece que a norma do art. 785.º, nº 2 que determina que neste
caso a imputação só se pode realizar com o consentimento do credor, deve ser igualmente
extensiva à compensação.
d. Compensação convencional
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
recíprocos, nem que eles sejam exigíveis, nem sequer que tenham por objeto prestações
homogéneas. Também se admite a compensação convencional nos casos do art. 853.º a) e c),
e ainda de créditos para os quais tenha havido renúncia à compensação. Não se admitirá nos
restantes casos do art. 853.º.
A natureza do contrato de compensação tem vindo a ser controvertida na doutrina.
Alguma doutrina qualifica como um contrato pelo qual se procede a uma dupla remissão dos
créditos. Outros entendem tratar-se de uma dupla e reciproca dação em cumprimento.
Para o professor Menezes Leitão efetivamente, não existe no cotrato de compensação
qualquer remissão, porque nenhuma das partes renuncia à satisfação do seu direito de
crediro, mas antes a obtém por outra via. Mas, apesar de existir essa satisfação, também não
se está perante uma dação em cumprimento, uma vezz que nenhuma das partes recebe uma
prestação diferente da devida, mas antes é dispensada de realizar a sua popria prestação. O
contrato de compensação constitui um tipo contratual autónomo através do qual se vem
suprir reciprocamente o cumprimento de 2 obrigações.
Novação
e. Conceito e modalidades
O que caracteriza a novação é assim a circusntancia de que o facto jurídico que desencadeia
a extinção da obrigação antiga ser simultaneamente o facto jurídico que cosntitui a nova
obrigação. Dessa circusntancia resulta uma dependência da causa juridica do facto extintivo da
obrigação antifa em relação ao facto constitutivo da nova obrigação e vice-versa. Efetivamente,
a antiga obrigação só se extinhue porque veio a ser cinstituida uma nova e a nova obrigação só
se constitui porque veio a ser extinta a antiga.
f. Pressupostos da novação
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
A novação tem que resultar de declaração expressa a determinar a contração de uma nova
obrigação em substituição da antiga (859º), logo não se pode inferir uma novação de simples
modificações da obrigação, como alterações do prazo de pagamento, taxas de juro, prestações
de garantia.
Também não cosntitui novação o reconhecimento da obrigação ou a sua confirmação
quando resulte de negocio anulável nem muito menos a transmissão do credito ou da divida.
Efetivamente nos termos legais, só há novação se as partes exteriorizarem diretamente o
animus novandi, o que implica não se admitirem presunções de novação, nem poder resultar
essa declaração tacitiamente atraves de factos conludentes.
A nova obrigação tem que ser validamente constituída (860º/2), uma vez que se tal não
ocorre, não se pode verificar a novação, subsistindo assim a obrigação primitiva, já que a sua
extinção apenas yinha sido determinada em razão da constituição de uma nova obrigação.
A subsitencia da obrigação primitiva pode, porém, afetar a situação de terceiros garantes,
que deixaram de contar, na sua planificação patrimonial, com a eventualidade de terem que
satisfazer essa obrigação. Assim a lei tutela essa situação de confiança, sempre que a invalidade
da nova obrigação seja imputável ao credor. Assim, se é por culpa do credor que a nova
obrigação vem a ser anulada, continuará ele sem poder dispor das garantias que existiam para
a obrigação primitiva.
g. Regime da novação
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
do terceiro, pode, ser prestada previamente à novação, bastando para tal, por exemplo, que no
ato de constituição da obrigação primitiva ou da garantia se estabeleça que esta se manterá
para a obrigação que eventualmente fosse criada por novação.
Relativamente aos meios de defesa, a lei determina a sua extinção em consequência da
novação, a menos que as partes estipulem o contrário (862º). Isto justifica-se pela própria
natureza da novação que, ao extinguir a divida anterior, naturalmente que extingue igualmente
os meios de defesa que a ela respeitavam. Assim, se o devedor podia invocar perante a
obrigação primitiva a existência de um prazo ou a exceção do não cumprimento do contrato,
deixa de o poder fazer perante a obrigação nova, salvo convenção em contrário. Admite-se,
porém, que as partes convencionem a manutenção das exceções perante nova obrigação, desde
que tal seja claramente estipulado.
A remissão
h. Conceito
A remissão (863º e ss) consiste no que é vulgarmente designado por perdão de dívida e é
um acordo entre o credor e o devedor pelo qual aquele prescinde de receber deste a prestação
devida.
Por exemplo, o credor sabe que o devedor se encontra em dificuldades económicas e não
tem condições de cumprir pode acordar com ele em perdoar-lhe a divida, evitando assim uma
ação executiva que seria totalmente destituída de efeitos práticos. Da mesma forma, a remissão
pode ocorrer seu credor, por razões de amizade com o devedor, entende não lhe dever cobrar
dívida.
i. Pressupostos da remissão
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
No caso de ser realizada a título de liberalidade, a remissão por negocio entre vivos é havida
como doação (863º/2), e sujeita ao regime dos artigos 940º e ss. Efetivamente, estão neste caso
preenchidos todos os pressupostos da doação já que este tipo de remissão constitui uma
atribuição patrimonial geradora do enriquecimento, que produz a diminuição do património do
doador, sendo efetuada por espírito de liberalidade.
j. Efeitos da remissão
Entre as partes a remissão produz a extinção da obrigação. No caso porem, de existir uma
pluralidade de partes, haverá que distinguir se a remissão foi concedida a todas ou por todas as
partes ou apenas por uma ou a algumas delas. No primeiro caso, a remissão refere-se a toda a
dívida (remissão in rem), produzir igualmente a sua extinção definitiva em relação a todos
sujeitos. No segundo caso, a remissão é apenas concedida por um ou em benefício de pessoa
específica (remissão in personam), pelo que a remissão apenas produzirá efeitos, em relação a
estas, mantendo-se a obrigação para as restantes.
A remissõa in personam tem efeitos distintos conoante o regime especifico de pluralidade
das partes na realção obrigacional aplicável.
Se o regime for o da dívida conjunta extinguem-se as frações da obrigação em relação às
partes em relação quais ocorreu a remissão, não sendo afetada a obrigação quanto aos seus
restantes sujeitos.
Se o regime for o da solidariedade passiva, e vem a ser remitida a divida de um dos
devores, a obrigação deste extingue-se, mantendo-se a dos restantes devedores, que ficam
liberados pela parte relativa ao devedor exonerado (864º/1). Mas pode no entanto suceder que
o credor declare reservar o direito por inteiro contra os outros devedores, sendo que estes
também conservam por inteiro o seu direito de regresso contra o devedor exonerado (864º/2).
Se o regime for o da solidariedade activa, e um dos credores concede a remissão, o devedor
fica exonerado, mas apenas na parte relativa a esse credor (864º/3).
Se for uma obrigação plural indivisível, a remissão concedida pelo credor implica que
aquele só pode exigir a prestação dos restantes se lhes entregar o valor da parte que compete
ao devedor exonerado (865º/1 e 536º). Da mesma forma, se a remissão for concedida por um
dos credores ao devedor, este não fica exonerado perante os restantes credores, mas este só
podem exigir-lhe a prestação se llhe entregarem o valor da parte que competia àquele credor
(865º/2)
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A confusão
k. Conceito
l. Pressupostos
m. Regime da confusão
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Fala-se igualmente em caducidade num sentido amplo se, tendo o contrato sido
celebrado com base em determinados pressupsotos, estes desaparecem.Verdadeiramente, no
rigor dos princípios, estas hipóteses em que deixam de existir os pressupostos nos quais as
partes se basearam para a celebração do contrato melhor se enquadram na impossibilidade
supervinente ou alterção de circusntancias.
Sempre que o contrato caducar por impossibilidade supervinente importa averiguar se
há ou não culpa de uma das partes.
• Há culpa – o responsável tem de indeminizar a contraparte por essa situação.
O contrato caduca, mas sobre o faltoso impenderá uma obrigação de
indeminziar a contraparte pelos prejuízos causados se tiver havido culpa no
que respeita à produção do facto que desencadeou a caducidade.
• Não há culpa – não há obrigação de indeminizar. Exceções: por exemplo no
caso de caducidade do contrato de trabalho motivado por morte, extinção ou
encerramento da empresa ou por inadaptação do trabalhador e na ipotese de
arrendamento de prédios rustiicso, se houver extinção motivada por uma
expropriação por utilizdade publica – a solução era a mesma no caso de
arrendamento urbano antes da alteração de 2006. Nestes casos, a caducidade
por causa não imputável determina a obrigação de compensar,
respetivaemnte, o trabalhador e o arrendatário.
Caducidade em sentido estrito – há caducidade se decorreu o prazo para o qual o contrato foi
celebrado. Em sentido improprio, alude-se igualmente à caducidade como forma de extinção
dos contratos em casod e imposisbildiade não imputável a uma das aprtes de efetuar a sua
prestaçãode facto, num contrato sinalagmático, se uma das partes não pode realizar a sua
prestação., a contraparte fica desobrigada da contraprestação (art. 795.v, n.º l ). Esta extinção
reciproca das prestações contratuais designa-se, impropriamente, por caducidade; é este o
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Ana Figueiredo
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
sentido do art. 343.º, alínea b), do CT, que inclui entre as causas de caducidade do contrato de
trabalho a impossibilidade superveniente de prestar ou de receber o trabalho.
Caducidade em sentido amplo – forma de cessação do contrato que decorre de um facto a que
a lei atribui o efeito extintivo. Até porque, em ambas as situações, a cessação do contrato
advém de um facto jurídico não dependente de uma declaração de vontade; ou seja, o vínculo
contratual não cessa por força de declaração de vontade emitida com essa finalidade.
Não obstante a caducidade do contrato, a subsistência do vínculo contratual pode pressupor o
seu renascimento, ou seja, a renovação do contrato. Esta renovaçãodo contrato, porém, por
motivos lógicos, não pode valer para todas as hipóteses de caducidade; em certos casos em
que a extinção da relação contratual opera ipso iure não se justifica o seu renascimento.
Assim, no caso de morte do trabalhador (art. 346.º, alínea b), do CT) ou de perda da coisa
locada (alínea e) do art. 1051.º) não faz sentido aludir-se à subsistência do vínculo contratual.
Mas ainda que a caducidade opere automaticamente – não havendo, pois, renovação do
contrato – o cumprimento das prestações depois de o negócio jurídico ter caducado
determina a sua subsistência. É isso que prescreve o art. 27.º, n.º 2, do Decreto-Lei n.º 17
8/86, a propósito da agência, e o art. 147.º, n.º 2, alínea e), do CT quanto ao contrato de
trabalho a termo incerto. No caso de contrato de trabalho a termo incerto (arts. 140.º, n.º 3,
do CT) há uma situação similar, em que a caducidade não se encontra na dependêneia da
comunicação que o empregador deve fazer ao trabalhador (art. 345º, n.º l , do CT), pois o
contrato caduca independentemente desta comunicação. Mas a caducidade do contrato de
trabalho a termo incerto é atípica, porque, apesar de verificados os seus pressupostos,
permite a conversão da situação jurídica temporária num contrato de trabalho sem termo; o
contrato de trabalho não caduca se o trabalhador, decorrido o prazo de aviso prévio ou depois
de verificado o termo ou a condição resolutiva, continuar ao serviço (art. 147.º, n.º 2, alínea e),
do CT). Dir-se-á, assim, que a caducidade do contrato é condicional, pois depende de o
trabalhador abandonar D serviço; deste modo, aos pressupostos comuns, a caducidade do
contrato de trabalho a termo incerto está dependente da condição de a atividade não
continuar a ser desenvolvida.
Nos casos mencionados (contrato de trabalho a termo incerto e contrato de agência), do
cumprimento das prestações do contrato caducado resulta uma vontade das partes no sentido
da sua manutenção. Estar-se-á, assim, perante uma hipótese de caducidade atípica, que, como
já se indicou, além dos pressupostos comuns da caducidade, se impõe que as partes não
tenham continuado a executar as prestações da relação jurídica que deveria caducar.
Revogação
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
Na revogação unilaterial, concede-se a uma das partes a possibilidade de, a todo o tempo,
revogar o contrato, mediante comunicação a enviar à contraparte ou atraves de declaração a
endereçar com uma antecedência minima (no arrendamento a antecedência é de cento e
vinte dias – art.1098º/1). Nestes casos, poderá questionar-se sse a designada revogação não
correponderá, antes, a uma denuncia. Ainda como situações atípicas é de referir a revogação
do acordo revogatório, emq eu uma das partes (o trabalhador) poe termo à revogação,
repristinando o contrato que havia cessado (art.350º CT), que corresponde a uma diferente
situação juridica.
Denuncia
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
Por via de regra, a denuncia não carece de qualquer forma. A denuncia é uma declaração
negocial recipienda sem forma especial estabelecida pela lei – 219º.
Todavia, em determinadas circusntancias exige-se forma escrita. É isso que se verifica no art.
26.º, n.º 1, do Decreto-Lei 294/2009 (arrendamento prédiosnísticos) em que, tanto o locador
como o locatário, para denunciarem o contrato de arrendamento rural, têm de o fazer por
escrito, no art. 344.º, n.º l, do CT, quando a denúncia do contrato de trabalho a termo é
exercida pelo empregador, e no art. 28º/1 do DL n.º 178/86, para a denúncia no contrato de
agência. Já no que respeita ao arrendamento urbano, a lei exige que a denúncia do senhorio,
nos casos previstos no art.1101º seja feita valer em ação judicial (art. 1103.°, n.º 1), contudo,
tratando-se de arrendamento urbano de duração limitada a denúncia deverá ser feiita
mediante comunicação dirigida ao inquilino com antecedência não inferior a um ano
(art.1097.º).
Resolução
A resolução do contrato vem prevista nos arts. 432.º e ss. e consiste na extinção da relação
contratual por declaração de um dos contraentes, baseada num fundamento ocorrido
posteriormente à celebração do contrato.
A resolução processa-se sempre através de um negócio jurídico unilateral. A extinção do
contrato ocorre por decisão unilateral de uma das partes, não sujeita ao acordo da outra.
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Ana Figueiredo
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
A resolução convencional:
A resolução convencional baseia-se num acordo, normalmente ajustado aquando da celebração
do negócio jurídico, nos termos do qual uma das partes pode pôr termo ao contrato por
qualquer motivo que as partes tenham aceitado. Atenta a liberdade contratual, é livre a inclusão
de uma cláusula de resolução, que é, contudo, limitada no âmbito de alguns contratos, corno o
contrato de trabalho.
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
comportamento de qualquer das partes (v. g., resoluçàococn base em alteração das
circunstâncias).
Não se pode, porém, entender que a extinção do vínculo contratual, prevista no art. 795. V, para
os casos em que não há culpa, seja idêntica à resolução, estabelecíd..-a no art. 801 .º. De facto,
neste último caso, para além do direito à indemnização, o credor que já tivesse realizado a sua
prestação tem direito a que a mesma lhe seja restituída por inteiro;
De modo diverso, não havendo culpa do devedor, o credor que tiver realizado a
contraprestação, tem direito a exigir a sua restituição, nos termos prescritos para o
enriquecimento sem causa (art. 795.º, n.º I).
Por outro lado, o argumento no sentido de que, com base no art. 793.v, n.º 2, a culpa não é
pressuposto da resolução, porque basta o inadimplemento, não colhe: pois o termo «resolução»
é usado, neste preceito, com significado idêntico ao de extinção do vínculo contratual, previsto
no art. 795.”, pelo que não se aplica a regra de repor a contraprestação por inteiro, própria da
resolução baseada na culpa.
Efeitos
A resolução, em qualquer das suas modalidades, tanto pode conduzir à extinção de contratos
de execução instantânea (ex:compra e venda), como de execução continuada ( v.g., locação,
contrato de trabalho). No contrato de execução instantânea, a resolução tem efeitos
retroativos, salvo se contrariar a vontade das partes. Ou a finalidade da própria resolução (art.
434.º, n.º 1), pelo que, por via de regra, como prescreve o art. 434º , quanto aos efeitos, a
resolução equipara-se à invalidade, não prejudicando os direitos entretanto adquiridos por
terceiros (art. 435.º). Tendo em conta o efeito retroativo, diferentemente da invalidade, a
resolução só pode ser invocada pela parte que estiver em condições de restituir o que houver
recebido (art. 432.º, n.º 2). Nos contratos de execução continuada, por via de regra, a resolução
não abrange as prestações efetuadas (art. 434.º, n.º 2), só produzindo efeitos para o futuro.
Como, quanto aos efeitos, a resolução é equiparada à nulidade ou à anulabilidade dos
negócios jurídicos (art. 433.º), ela tem efeito retroativo (arts. 289.º, n.º l, e 434.º n.º l ). As partes
devem ficar na situação em que estariam se não tivessem celebrado o contrato; pretende-se,
pois, estabelecer o status quo ante.
A resolução não rem, todavia, eficácia retroativa no que diz respeito aos direitos de
terceiros (art. 435º, n.º I) e, quanto aos contratos de execução continuada, não abrange as
prestações já efetuadas (art. 434.º, n.º 2). Nas situações em apreço, esta última hipótese poder-
se-á verificar no caso de empreitadas de manutenção.
A resolução do contrato pressupõe a constituição de uma nova relação jurídica, derivada
da anterior, com obrigações de devolução recíprocas. Discute-se, porém, se os deveres de
restituição são sinalagmáticos e se funcionam de forma idêntica, mas de sinal contrário, aos da
relação precedente.
De facto, a resolução não dá origem a um novo contrato, pelo qual se pretende dissolver
o anterior; ela cria uma relação legal que obriga as partes a devolverem o que receberam. Mas
estas restituições não são totalmente independentes entre si, na medida em que advêm de uma
fonte comum. Daí ser possível opor a exceção de não cumprimento ao dever de restituir.
Imagine-se que, após ter sido efetivada a resolução, o vendedor é declarado falido. Como o
comprador passa a concorrer com os demais credores com o valor do seu direito à devolução
do preço e demais despesas e indemmzações, admite-se que ele possa opor-se à restituição do
bem, caso não seja ressarcido na totalidade dos seus prejuízos.
Tendo sido resolvido o contrato, a parte que recebeu uma prestação pecuniaria (p. ex.,
preço) é obrigada a devolvê-la, acrescida dos respetivos juros. Apesar de a lei estabelecer
somente o dever de restituir o que houver sido prestado (art. 289.º, n.º1), nessa quantia dever-
se-ão incluir os juros para assim se restabelecer o status quo ante.
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
Além do preço e dos juros, a parte inadimplente está adstrita a pagar à contraparte as
despesas contratuais, tais como transportes, seguros, etc. Estas despesas também não se pode
dizer que estejam diretamente previstas na frase «( ... ) devendo ser restituído tudo o que tiver
sido prestado( ... )» (art. 289.º, n.º l), mas só se restabelece o status quo ante, na medida em
que a parte lesada seja ressarcida destes prejuízos. Tal ressarcimento entra no campo da
indemnização pelo interesse contratual negativo.
A parte que recebeu uma coisa constitui-se no dever de a entregar, assim como todos
os direitos que dela tenha recebido. O problema está em saber se devem ser devolvidos todos
os direitos, ou só aqueles que tenham sido auferidos após a declaração pela qual se resolveu o
contrato. O art. 1270.”. n.º 1, ao estatuir que o possuidor de boa fé faz seus os frutos percebidos
aponta no segundo sentido.
Um outro problema que importa discutir é o do lugar do cumprimento das obrigações
de restituição. A estes deveres dever-se-ão aplicar, analogicamente, as regras vigentes para os
correspondentes contratos que foram alvo de resolução. Assim, por exemplo, o comprador tem
de restituir a coisa no lugar onde esta se encontrava ao tempo em que for efetivada a resolução
(art. 773.º, n. º I), devendo o preço ser devolvido no mesmo local (art. 885.º, n.º I), na medida
em que estas obrigações se encontram inter-relacionadas.
O risco, nos termos do art. 432.º,n.º2,corre por conta daquele que resolve o contrato
até à data em que a declaração é recebida pelo faltoso. Mas, a partir desse momento, o risco
passa a ser suportado por este último. De facto, o artigo mencionado constitui uma exceção ao
princípio res suo domino peru, mas esta restrição à regra geral, como se deduz do n.º 2 do art.
432.º, só é válida até ao momento em que se efetiva a resolução. A partir desse instante, a
nprma segundo a qual o risco é suportado pelo proprietário (art. 796.º, n.º 1) retoma plena
eficácia. Ora, com a resolução, a propriedade do bem reverte para a parte que o vem a receber.
Nestes termos, o devedor após ter resolvido o contrato, fica na situação de depositário,
com a obrigação de conservar e de entregar a coisa.
Por via de regra, a resolução dos contratos é total, mas, tendo sido entregue uma
pluralidade de bens, pode justificar-se que o lesado peça a resolução parcial do negócio.
O problema da admissibilidade da resolução parcial prende-se com as classificações de
coisas principais e acessórias, por um lado, e de universalidades de facto e conjuntos de coisas,
por outro.
Prazo
O pedido de resolução do contrato não tem, em regra, de ser exercido num prazo curto, ou
seja, o princípio geral aponta no sentido de a resolução, como consequência”’ por exemplo do
incumprimento contratual, poder ser feita valer no prazo normal de prescrição; porém, a lei
estabelece um prazo de caducidade para o exercício do direito arrendamento, assim como no
contrato de trabalho. No urbano arrendamento urbano estabelece-se um prazo de um ano,
subsequente ao conhecimento do facto, para ser pedida a resolução do contrato pelo senhorio
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Ana Figueiredo
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
(art.1085.º n. º I). Decorrido esse prazo de caducidade de um ano, não obstante a violação do
contrato, já não pode ser pedida a sua resolução; porém, se o facto gerador de resolução for
continuado ou duradouro, o prazo de caducidade só se conta a partir da data em que ele tiver
cessado ( art. I 085. º, n. º 2). A nível laboral, a resolução do contrato, sendo invocada pelo
empregador, tem de ser precedida de um procedimento disciplinar, sujeito aos prazos do art.
329.º do CT, e, no caso de ser pedida pelo trabalhador, está sujeita ao prazo do art. 395.º, n.º I,
do CT.
Do princípio geral pacta sunt servanda ( art. 406.º, n.º 1) resulta que as partes não se Podem
desvincular dos contratos celebrados. O contrato deve ser pontualmente cumprido, pelo que
qualquer das partes, sem motivo, não se pode furtar à realização das suas prestações.
Como motivo para que uma das partes deixe de estar vinculada a cumprir as prestações a
que se obrigou é de invocar, em especial, o incumprimento da contraparte, que permite o
recurso à exceção de não cumprimento (art. 428.º) ou, inclusive, sendo o incumprimento
definitivo e grave, à resolução do contrato (art. 80l .º).
Mas nos contratos de execução duradoura é necessário atender a um princípio de não
vinculação indefinida de modo compulsório, com exceção no âmbito do arrendamento e do
contrato de trabalho.
Nas relações duradouras, que se protelam por tempo determinado ou indetenninado,
importa atender a certas particularidades, algumas já salientadas:
• Nos termos do art. 434.º, n.º2, a resolução não afeta as prestações realizadas, pelo
que o efeito extintivo só se produz para o futuro;
• A denúncia é exclusiva dos contratos com prestações duradouras·
• a liberdade das partes não se coaduna com a perpetuidade dos vínculos contratuais;
• A apreciação do motivo que Justifica a resolução (p. ex., o incumprimento da
contraparte) tem de ser sopesada no contexto global e não perante a situação
concreta
Quanto à não perpetuidade dos vínculos pode-se dizer que as partes não podem ser obrigadas
a permanecer indefinidamente adstritas às prestações a que se vincularam em determinado
momento. Mesmo na falta de uma alteração das circunstâncias que justificasse a resolução do
contrato, verificados os respetivos pressupostos (art. 437.º), contraria a liberdade uma
vinculação indefinida.
Em suma, independentemente de uma superveniente alteração das circunstâncias que
justificaria a modificação ou a resolução do contrato, não se admite que uma parte fique
vinculada indefinidamente a cumprir determinada prestação contratual, pelo que, nos contratos
de execução continuada se alude, frequentemente, à designada denuncia ad nutum ou
imotivada. Deste modo, nada obsta a que as partes se vinculem indefinidamente a cumprir as
prestações emergentes de um negócio jurídico, desde que qualquer delas possa livremente
denunciá-lo.
Contudo, o regime de livre denúncia nos contratos de execução duradoura está sujeito
a limites que decorrem tanto da natureza do vinculo assumido como da proteção que se
pretende conferir a uma das partes. Assim, não é admissível que o obrigado contratualmente
ao pagamento de uma renda vitalícia (na. 567.º, n.º 1) possa denunciar o contrato para se furtar
ao pagamento, pois isso opor-se-ia à natureza do vínculo. Por outro lado, no domínio do
arrendamento e do contrato de trabalho, atendendo à especial proteção conferida ao
arrendatário e ao trabalhador, não se admite, respetivamente, que o senhorio e o empregador
possam livremente denunciar o contrato. Porém, mesmo neste âmbito, como já se esclareceu,
excecionalmente, permite-se que o senhorio e o empregador possam recorrer à denúncia
discricionária nomeadamente no caso de arrendamento de duração limitada ( art. 1098 .º), no
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Ana Figueiredo
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
Impossibilidade de cumprimento
Constitui igualmente uma causa de extinção das obrigações a impossibilidade da prestação,
que nos surge nos arts. 790.º e ss. No entanto, para que a impossibilidade da prestação possa
acarretar a extinção da obrigação ela tem que ser superveniente, objetiva (salvo nas obrigações
de prestação infungível), absoluta e definitiva.
Efetivamente, em primeiro lugar, a impossibilidade da prestação só extingue o vínculo
obrigacional se for superveniente, ou seja, ocorrer após a constituição da dívida, uma vez que,
se a impossibilidade for originária, o negócio considera-se nulo por impossibilidade do objeto
(arts. 401.º, n.º1 e 280.º, n.º1), pelo que a obrigação não chega sequer a constituir-se.
Pode, no entanto, o negócio ser válido se a obrigação é assumida para o caso de a prestação
se tornar possível, ou se, estando o negócio dependente de condição suspensiva ou de termo
inicial, a prestação se tornar possível até à verificação da condição ou ao vencimento do termo
(art. 401.º, n.º2). A impossibilidade não deixa de ser superveniente e, por isso, não afeta a
validade do negócio, quando, sendo o negócio celebrado sob condição ou a termo, a prestação
é possível na data da conclusão do negócio, mas torna-se impossível à data da verificação da
condição ou do vencimento do termo (art. 790.º, n.º2).
Para produzir a extinção da obrigação, a impossibilidade tem igualmente que ser objetiva,
ou seja, dizer respeito à prestação em si, independentemente da pessoa que a realizar. Por
exemplo, se alguém se obriga a rebocar um barco e este entretanto naufraga, a prestação
impossibilita-se, uma vez que nem o devedor nem qualquer pessoa está em condições de
realizar a prestação. Se a impossibilidade for subjetiva, ou seja, disser respeito ao devedor, por
apenas este estar impossibilitado de prestar, em princípio não ocorre a extinção da obrigação,
já que, existindo uma legitimidade genérica para o cumprimento (art. 767.º, n.º1), o devedor
tem o dever de se fazer substituir por outrem nesse cumprimento. Assim, por exemplo, um
advogado que adoeça no dia do julgamento, deve providenciar a sua substituição por um colega,
podendo responder por incumprimento se o não fizer. Pode acontecer que o devedor não possa
fazer-se substituir por terceiro no cumprimento, ou porque a prestação é infungível (art. 767.º,
n.º2) ou porque o facto que impossibilitou o devedor de realizar a prestação o impossibilitou
igualmente de providencial pela sua substituição. Nestes casos extingue-se a obrigação (art.
791.º).
A impossibilidade a prestação tem igualmente que ser absoluta, no sentido de que a
prestação se torne efetivamente irrealizável, não bastando uma impossibilidade relativa,
correspondente à maior dificuldade de realização da prestação. A impossibilidade relativa não
importa a extinção da obrigação, embora possa desencadear a aplicação do instituto da
alteração das circunstâncias, verificados os respetivos pressupostos.
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
Finalmente, para provocar a extinção da obrigação a impossibilidade tem que ser definitiva.
A impossibilidade temporária é, porém, convertida em definitiva, logo que credor perca o
interesse na realização da prestação (art. 792.º, n.º2).
Se a impossibilidade revestir estas características, determina a extinção da obrigação (art.
790.º, n.º1), ficando em consequência o devedor exonerado e suportando o credor o risco,
através da perda do seu direito de crédito, pelo que deixa de poder exigir do devedor a
prestação. Pode, porém, suceder, no âmbito das obrigações divisíveis, que a impossibilidade
diga respeito, não à totalidade da prestação, mas apenas a uma parte dela. Neste caso, a lei
determina que o devedor se exonera mediante a prestação do que for possível, devendo, neste
caso, ser proporcionalmente reduzida a contraprestação a que a outra parte estiver vinculada
(art. 793.º, n.º1). No entanto, s eo credor não tiver justificadamente interesse na prestação pode
resolver o negócio – 793º/2.
A lei admite, porém, que se o devedor adquirir, em consequência do facto que tornou
impossível a prestação, um direito sobre certa coisa ou contra terceiro em substituição do
objecto da prestação, oc redor possa exigir a prestação dessa coisa, ou substituir-se ao devedor
na titularidade do direito que este tiver adquirido contra o terceiro (art. 794.º, n.º1). É o
denominado commodum de representação, que se destina a corrigir o enriquecimento do
devedor que obtém, através do facto que torna impossível a prestação, simultaneamente a
extinção da sua obrigação e outro benefício, determinando-se a atribuição desse benefício ao
credor.
Qual o regime aplicável às situações em que ainda é possível realizar a conduta a que o
devedor se vinculou, mas já não é possível através desta a satisfação do interesse do credor,
uma vez ou a prestação se tornou inidónea para esse fim, ou o interesse do credor já se encontra
satisfeito por outra via (por exemplo, estou doente, telefono ao médico, ele diz que para passar
no seu consultório amanhã, entretanto fico bom). A conduta a que o devedor se comprometeu
ainda é possível, mas, uma vez que dela não pode resultar qualquer utilidade para o credor, não
faria qualquer sentido que o devedor a realizasse.
Vaz Serra – integração dos casos de frustração do fim no âmbito da alteração das
circunstâncias.
Antunes Varela – embora sustente que o conceito de prestação não pode abranger o
interesse do credor, defende que a prestação pode ser igualmente aferida em realção a
condicionalismos externos à conduta do devor, cuja falta geraria uma verdadeira situação de
impossibilidade
Menezes leitão - Estes casos não são impossibilidade da prestação, uma vez que a ação
abstrata de prestar se mantém como possível. No entanto, o facto de o credor não vir a retirar
qualquer benefício da acção do devedor torna disfuncional a realização da prestação, que deve
corresponder necessariamente a um interesse do credor (art. 308.º, n.º2). Justifica-se por isso a
equiparação desta situação à impossibilidade para efeitos de exoneração do devedor.
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
Nos contratos reais, é igualmente estabelecida uma distribuição do risco distinta do que a
que resultaria da aplicação do regime da impossibilidade da prestação, ou mesmo do regime
dos contratos sinalagmáticos. Efetivamente, não está aqui em causa apenas a distribuição do
risco pela impossibilidade de prestações, mas igualmente o risco pelo perecimento ou
deterioração da coisa que é o objecto de transmissão. Ora, a regra geral é a de que o risco pelo
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
perecimento ou deterioração da coisa cabe ao que for proprietário dela, no momento em que
tal evento se verifica. Daí que, se já houve transmissão da propriedade sobre a coisa objeto da
obrigação de entrega, o seu perecimento não possa importar a extinção do direito à
contraprestação, conforme resulta do art. 796.º, n.º1. O devedor fica assim exonerado da sua
obrigação, mas o credor, uma vez que suporta o risco, continua onerado com a sua
contraprestação.
Este regime explica-se em virtude de, após a alienação da propriedade, e mesmo que não
ocorra logo a entrega da coisa, a posição do devedor em relação à coisa se alterar, já que ele
passa a funcionar como mero depositário da mesma, não retirando qualquer benefício pela sua
guarda, pelo que não seria correto que suportasse o risco pela sua perda ou deterioração.
Efetivamente, o risco pelo perecimento ou deterioração da coisa é legalmente associado ao
proveito que dela se retira, o qual compete, em princípio, ao proprietário, que após a
transmissão passa a poder exigir do devedor a sua entrega.
A transferência da propriedade acarreta, assim, a transferência do risco pela perda ou
deterioração da coisa. Conforme se salientou, em relação a coisas determinadas a transferência
da propriedade ocorre com a celebração do contrato (art. 408.º, n.º1), pelo que neste caso o
adquirente suporta imediatamente o risco pela perda ou deterioração da coisa. Se, porém, o
contrato respeitar a coisas futuras, indeterminadas, frutos naturais ou partes componentes e
integrantes de uma coisa, a transferência da propriedade dá-se e momento posterior ao da
celebração do contrato (art. 408.º, n.º2), pelo que é também só nesse momento que ocorre a
transferência do risco. No caso de coisas futuras, esse momento consiste na aquisição da coisa
pelo alienante. No caso de coisas indeterminadas, esse momento verifica-se com a
determinação da coisa com conhecimento de ambas as partes, savo nas hipóteses da
sobrigações genéricas em que a transferenica ocorre com a concentração da obrigação (arts.
540.º e 541.º). No caso de frutos naturais ou partes componenetes ou integrantes, a
transferência da propriedade, e consequentemento do risco, ocorre no momento da colheita
ou da separação.
A lei regula ainda no art. 796.º, n.º2 e 3, bem como no art. 797.º, regras especiais de
distribuição do risco, que não deixam de corresponder ao princípio previsto no art. 796.º, n.º1.
Assim, o art. 796.º, n.º2 aplica-se em casos semelhantes a este: alguém vende um quadro,
mas estabelecer que a sua entrega só ocorrerá passado um mês, em virtude de o pretender
exibir numa exposição. Se o quadro vier a ser destruído fortuitamente dentro desse prazo, é o
vendedor que suporta o risco. Efetivamente, o facto de o termo ter sido estabelecido a favor do
alienante significa que este não se pode considerar como mero depositário da coisa, mas antes
que se encontra a utilizá-Já em seu próprio proveito, o que justifica que suporte o risco pela sua
perda ou deterioração. Se, apesar da trsnsíerêncía da propriedade, o alienante ainda se
encontra a tirar proveito da coisa, não faria sentido que a lei fizesse correr por conta do
adquirente o risco pela sua perda ou deteríeração. Assim, o risco só se transfere para o
adquirente, ou com o vencimento do termo- caso em que o alienante deixa de beneficiar do
prazo para a utilização da coisa, passando a funcionar como mero depositário da mesma – ou
com a entrega da coisa, caso em que passa a ser o adquirente a utilizar a coisa. Naturalmente
que, porém, se o alienante se constituir em mora quanto à obrigação de entrega, a mora
acarreta a inversão do risco, nos termos do art.807º.
O art. 796.º, n.º3 estabelece que «quando o contrato estiver dependente de condição
resolutiva, o risco do perecimento durante a pendência da condição corre por conta do
adquirente se a coisa lhe tiver sido entregue; quando for suspensiva a condição, o risco corre
por conta do alienante durante a pendência da condição». A primeira solução é facilmente
explicável, em virtude de a condição resolutiva, apesar da sua eficácia retroativa (art. 276.º),
não impedir a transmissão da propriedade durante a pendência da condição (art. 1307.º, n.º1),
o que, associado à entrega da coisa, faz supor que é o adquirente que se encontra a tirar proveito
dela, justificando-se assim que seja a suportar o risco. Já quanto à condição suspensiva, a sua
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aposição ao contrato significa que a propriedade não se transmitiu, sendo apenas eventual a
possibilidade da sua transmissão, pelo que não se justifica que seja o adquirente a suportar o
risco pela perda ou deterioração da coisa, mesmo que esta lhe seja entregue, já que sem a
transmissão da propriedade, a situação corresponde à de mera detenção.
A lei prevê ainda o caso especial da promessa de envio no art. 797.º. Nos termos desta
disposição, «quando se trate de coisa que, por força da convenção, o alienante deva enviar para
local diferente do lugar do cumprimento, a transferência do risco opera-se com a entrega ao
transportador ou expedidor da coisa ou à pessoa indicada para a execução do envio». Esta
norma é manifestamente apenas aplicável às obrigações genéricas (art. 541.º), já que em
relação às obrigações que têm por objecto coisa determinada, a transferência do risco ocorre
com a celebração do contrato e, portanto, muito antes do envio. A norma dispõe que quando o
devedor se obriga a enviar a coisa para local diferente do local do cumprimento (dívida de
envio), a transferência do risco ocorre antes da entrega ao credor no destino, operando-se logo
que se efetua a sua entrega ao transportador.
A mora do devedor consiste na situação em que a prestação, embora ainda possível, não
foi realizada no tempo devido, por facto imputável ao devedor (804º/1). É necessário que a
prestação ainda seja possível, se não estamos perante um impossibilidade definitiva de
cumprimento (790º ou 801º) ou de incumprimento definitivo (798º).
Para poder ocorrer uma situação de mora, é necessário que ainda seja possível realizar a
prestação em data futura. Por isso, em certo tipo de obrigações não se admite a ocorrência de
mora, levando a violação do vínculo obrigacional ao incumprimento definitivo, pois a não
realização da prestação no momento aprazado torna-a inútil para o credor (808º). Ex:
obrigações de conteúdo negativo, que são definitivamente violadas com a realização de
qualquer ação proibida
A regra é a de que a as obrigações são puras, ou seja, que não têm um prazo certo
estipulado, cabendo a qualquer das partes determinar o momento do cumprimento (777º/1),
só ficando o devedor em mora depois de ter sido judicial ou extrajudicialmente interpelado
(comunicação pelo credor ao devedor da sua decisão de lhe exigir o cumprimento da obrigação
a qual pode ser tácita ou expressa – 217º) para cumprir (805º).
A partir da receção o devedor entra em mora. É denominada mora ex persona, na medida
em que depende de um ato juridico de natureza não negocial (interretlação) a praticar pelo
credor.
Há casos em que a mora do devedor depende apenas de factos objetivos, tornando-se
irrelebamte a existenica ou não de interpelação pelo credor. Denomina-se neste caso a situação
de mora ex re:
a) A obrigação ter prazo certo (805º/2 - a) – A interpelação torna-se desnecessário, uma vez
que, o decutso do prazo acarreta, só por si, o vencimento das obrigações. Salvo no caso de
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Ana Figueiredo
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
renumeração de transações comerciais, a lei não estabelece normalmente um prazo certo para
o cumprimento das obrigações, pelo que cabe as partes estipular nesse prazo, sob pena de a
obrigação se ter que considerar pura. Mesmo se estivermos estipulado prazo certo, se
estivermos perante as obrigações de colocação, o simples decurso do tempo não basta para
constituir o devedor em mora, na medida que o cumprimento pressupõe uma atividade do
credor, que tem que se deslocar ao lugar em que deveria receber a prestação. Apenas nas
obrigações de entrega ou de envio, a simples omissão da prestação pelo devedor no decurso do
prazo determina a constituição em mora.
b) A obrigação provier de facto ilícito (805º/2 – b) – uma vez que o devedor praticou um facto
ilícito a regra é de que deve imediatamente proceder a reparação das suas cosnequencias,
independentemente de interpelação, contando-se a mora desde a data da prática do facto
ilícito.
c) O devedor impedir a interpolação (805º/2 – c) – para evitar que o devedor beneficie do seu
comportamento incorreto, determina-se que o devedor considera-se interpelado na data em
que normalmente o teria sido.
d) O devedor declarar que não tenciona cumprir a obrigação – é o que acontece quando o
devedor decalra ao credor que não tecina cumprir a obrigação. Esta declaração do devedor
torna a interpelação pelo credor absolutamente inútil, devendo, por isos, considerar que neste
caso aquela declaração do devedor acarreta como efeito a sua constituição imediata em mora.
Essa mora ocorre mesmo que a obrigação tenha prazo certo, já que uma declaração do devedor
desse teor também acarreta logo a perda do beneficio do prazo.
Para que ocorra uma situação de mora é necessário que a obrigação seja líquida, que o seu
quantitativo já se encontre determinado (805º/3), com a exceção:
• A falta de liquidez ser imputável ao devedor, caso em que não deixa de se considerar
verificada a mora para evitar que od evedor beneficie de uma situação que ele próprio
é responsável
• Tratar-se de uma situação de responsabilidade por facto ilícito ou pelo risco, caso em
que, apesar da iliquidez, se condiera ocorrer mora a partir da citação para a ação de
responsabilidade, a menos que já ocorra mora com base em situação anterior
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
No caso, porém de responsabilidade por facto ilícito ou pelo risco, concede-se ao credor
a possibilidade de provar que a mora lhe causou dano superiro a estes juros e exigir a
indeminização correspondente (art.806º/3).
2. Inversão do risco pela perda ou deterioração da coisa devida – a inversão do risco pela
impossibilidade superveniente da prestação resultante de causa não imputável ao
devedor. A impossibilidade causal da prestação provoca a extinção da obrigação (790º),
pelo que o devedor fica liberado com a sua verificação, cujo risco corre me principio por
conta do credor. Nos contratos reais, o risco pela perda ou deterioração da coisa por
causa não impitavel ao alienante corre por conta do adquirente (796º/1), pelo que o
devedor, em caso de prestações de coisa, fixa exonerado se se verificar a sua perda ou
deterioração, mantendo o credor o dever de efetuar a contraprestação.
No entanto se o devedor estiver em mora quando se verifica a impossibilidade
superveniente da obrigação corre por sua conta o correspondente risco (807º/1).
Assim, no caso de venda de determinado objeto, a lei faz correr o risco por conta do
comprador a partir da data da celrbração do contrato (art.796º/1 e 408º/1), pelo que,
se a coisa perecer ou se deterior casualmente, o vendedor fica exonerado de proceder
à sua emtrrega e o comprador continua a ter que pagar o preço correspondente.
Estando, porém, o vendedor em mora, o risco inverte-se, pelo que ele terá que
indeminziar o credor caso se verifique a perda ou deterioração do objeto que deveria
entregar – 807º/1 – a menos que demonstre que od ano se teria continuado a verficiar,
mesmo que a obrigação tivesse sido cumprida em tempo (art.807º/2). Neste caso, a
responsabilidade resulta da consideração de que a mora do devedor funcionou como
causa indireta dos danos sofriso pelo credor, pelo que, embora se trate de um caso de
responsabilidade objetiva, esta pressupõe uma culpa anterior do devedor na verificação
da mora. Como é comum nos casos de responsabilidade agravada, admite-se, porém, a
possibilidade de exoneração dessa repsosnabilidade com base na relevância negativa
da causa virtual. Daqui resulta, a responsabilidade do devedor pela perda ou
deterioração da coisa prescinde de qualquer juízo de adequação no nexo de causalidade
( 563º) bastando a conexão causal entre a mora e os danos.
a) Acordo das partes. Efetivamente, as partes podem acordar em diferir para momento
posterior o vencimento da obrigação, com a correspondente extinção da mora. Esse acordo tem
a designação de moratória, podendo ser ou não estabelecido com eficácia retroatica. No
primeiro caso, a mora considera-se retroativamente como não verificada. No segundo caso, a
extinção da mora apenas vigora para o futuro, conservnado o credor o direito à indeminização
moratória devida até esse momento.
b) Purgação da mora – quando o devedor se apresenta tardiamente a oferecer ao credor a
prestação devida e a correspondente indemnização moratória, extinguindo assim para o futuro
a situação de mora do devedor, mesmo que se verifique a sua não aceitação pelo credor. Essa
recusa do credor produz uma inversão da mora que deixa ex nunc de ser considerada mora do
devedor para passar a ser qualificada como mora do credor.
c) Transformação da mora em incumprimento definitivo – o que sucede nas hipóteses do artigo
808º/1, quando o credor vem objetivamente a perder o interesse na prestação, ou quando esta
não e realizada num prazo suplementar que razoavelmente seja fixado pelo credor.
No primeiro caso, o atraso verificado na prestação implica que esta deixe de ter interesse para
o credor, hipótese que deve ser apreciada em termos objetivos (808º/2). Ex: o caso de se
contratar um transporte para determinada zona, onde vai ter lugar um evento em que oc redor
necessita de estar presente, e o devedor atrasa-se por forma a que já não é possível chagar ao
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local do destino em tempo útil. Neste caso, é obvio que não é admissível a purgação da mora
pela realização tardia do transporte, podendo o credor legitimamente recusar a prestação e
solicitar uma indeminização por incumprimento definitivo.
Nos egundo caso, o credo mantém o interesse na prestação, não obstante a mora, mas apesar
disso não se considera justificado admitir a possibilidade de eternização da situação. O credor
tem, por isso, a faculdade de determinar a transformação da mora em incumpriemtno
definitivo, através da fixação, em termos razoáveis de um prazo suplementar de cumprimento,
com a advertência de que a obrigação se terá por definitavamente incumprida após o decurso
deste. Caso este aviso não seja respeitado pelo devedor, importará então o incumprimrnto
definitiva da obrigação.
2. A mora do credor
2.1. Pressupostos
Art.813º
a) Recusa ou não realização pelo credor da colaboração necessária para o cumprimento
b) Ausência de motivo justificado para essa recusa ou omissão.
a) Obrigação de indemnização por parte do credor (816º) – uma vez que não se pode
considerar que o credor tenha o dever de aceitar a prestação, esta obrigação de
indeminização não tem por fonte um facto ilícito por este praticado. Trata-se de
responsabilidade por ato lícito ou pelo sacrifício, uma vez que ao entrar em mora o
credor provoca o sacrifício de interesses do devedor, sujeitando-o a maiores despesas
de que aquelas que se vinculou a suportar ao assumir a obrigação.
b) Atenuação da responsabilidade do devedor (798º) – A partir do momento em que o
credor entra em mora, a responsabilidade do devedor atenua-se, determinando a lei
que este passa, em relação ao objeto da prestação, apenas a responder pelo seu dolo
133
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
Verifica-se o incumprimento definitivo quando o devedor não a realiza no tempo devido por
facto que lhe é imputável, mas já não lhe é permitida a sua realização posterior, em virtude de
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
o credor ter perdido o interesse na prestação ou ter fixado, após mora, um prazo suplementar
de cumprimento que o devedor desrespeitou (808º). Tem com consequência a constituição de
devedor em responsabilidade obrigacional pelos danos causados ao credor (798º). Como resulta
deste artigo a responsabilidade obrigacional tem pressupostos semelhantes aos da
responsabilidade delitual.
1.2. A ilicitude
Consiste na inexecução da obrigação que o artigo 798º define como falta de cumprimento.
Este atua ilicitamente sempre que se verifique qualquer situação de desconformidade entre a
sua conduta e o conteúdo do programa obrigacional
A ilicitude obrigacional pode ser excluída por uma causa de exclusão de ilicitude:
• exceção de não cumprimento do contracto (428º e ss.)
• direito de retenção (754º e ss.)
A lei confere ao devedor uma causa legitima para não cumprir a obrigação, excluindo a
ilicitude que resultaria do não cumprimento.
1.3. A culpa
Para que o devedor se constitua em responsabilidade, a sua falta de cumprimento tem que
ser culposa (art.798º), ainda que a culpa do devedor se presuma – art.799º/1.
Caberá ao devedor demonstrar que não teve culpa na violação do vínculo obrigacional, ou
seja, que não lhe possa ser pessoalmente censurável o facto de não ter adotado o
comportamento devido, o que acontecerá sempre que esse não cumrpiemtno seja devido a
facto do credor, de terceiro, ou a caso fortuito ou de força maior.
Também aqui a culpa pudera revestir as modalidades de dolo ou de negligência.
Haverá dolo se o devedor visar intencionalmente o incumprimento (dolo direto) ou quando
o devedor não visar diretamente o incumpriemtno,mas souber que ele será uma conseuqencia
necessária da sua conduta (dolo necessário) ou ainda quando o devedor atual, conformando-se
com a possibilidade da verificação do incumprimento (dolo eventual). Quanto à negligencia, ela
ocrrerá sempre que o devedor represente a possibilidade de ocorrência do incumpriemtno, mas
atue sem se conformar com a sua verficicação (negligencia consciente), ou nem sequer chegue
a representar essa posisbilidae (negligencia inconsciente).
Tanto o dolo como a negligência são regra geral suscetíveis de gerar a responsabilidade do
devedor. No entanto, em certos casos a lei limita a responsabilidade do devedor ao dolo, como
sucede na mora do credor (814º e 815º), ou nos contratos gratuitos (956º e 957º), do
comodante (1134º) ou do mutuante a título gratuito (1151º).
A lei vem impor a responsabilidade contratual a apreciação da culpa segundo a diligencia do
bom pai de família – 487º/2 em virutde da remissão do art.799º/2.
1.4. O dano
Tem de provocar danos ao credor
Deve-se efetuar primeiro a reconstituição natural (562º), apenas se realizando a
indemnização em dinheiro quando a reconstituição natural não seja possível, não repare
integralmente os danos ou seja excessivamente onerosa para o devedor (566º). Compreender-
se-ão tanto os danos emergentes como os lucros cessantes (564º/1) bem como os danos
futuros, se forem previsíveis, devendo o tribunal remeter a fixação de indeminização para a
decisão ulterior sempre que não sejam determináveis – art.546º/2.
Na responsabilidade obrigacional a indeminização abrane o chamado interesse contratual
positivo ou de cumprimento, ou seja todas as utilidades que se frustaram em virtude da não
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
O artigo 799º vem referir que incumbe ao devedor provar que a falta de cumprimento ou o
cumprimento defeituoso da obrigação não procede de culpa sua, o que implica o
estabelecimento de uma presunção de culpa em relação ao devedor de que o incumprimento
lhe é imputável, dispensando-se assim o credor de efetuar a prova correspondente (351º/1).
Relativamente aos outros pressupostos da responsabilidade obrigacional como o facto
ilícito, o dano e o nexo de causalidade entre o facto e o dano, eles não se encontram referidos
na presunção do art. 799º o que levaria, em princípio, à aplicação do regime geral do art. 342º,
nº2 , já que sendo os restantes pressupostos da responsabilidade obrigacional factos
constitutivos do direito à indeminização, teriam que ser provados pelo credor para que o
tribunal julgue a ação procedente.
No entanto, tendo a responsabilidade obrigacional como pressuposto a violação de uma
obrigação, esta não se pode constituir sem a existência prévia de um direito de crédito, cuja
existência tem assim que ser provada pelo credor, nos termos do art. 342, nº1. Ora, o
cumprimento da obrigação aparece como facto extintivo desse direito de crédito, o que nos
termos do na. 342º, nº2, leva a que tenha que ser provado pelo devedor.
Mas, nestes termos, se o credor provar a existência do direito de crédito, parece que ficará
dispensado de provar a inexecução da obrigação, uma vez ;f é o devedor que tem que provar o
seu cumprimento. Se, no entanto, o facto ilícito não for :i mera inexecução da obrigação,
resultante da abstenção do devedor, mas antes uma sua conduta positiva, como o cumprimento
defeíruoso da obrigação, ou a violação de uma obrigação de prestação de facto negativo, já será
o credor a ter que provar esa conduta, uma vez que nesses casos a prova da inexecução da
obrigação não pode ser dispensada através da regra do art. 3422, n2
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
Relativamente ao dano, parece claro que ele tem que ser demonstrado pelo credor, sem o
que não poderá obter judicialmente qualquer indemnização.
Já relativamente ao nexo de causalidade, tem havido algum controvérsia na doutrina.
Enquanto a maioria dos aurores propugna que a sua prova deve caber ao credor, à semelhança
do que sucede com o lesado na responsabilidade delitual, alguma doutrina tem vindo a
propugnar antes a sua atribuição do devedor. É o caso de MENEZES CORDEIRO que considerou
que o na. 799º, nº 1, estabeleceria. Na responsabilidade obrigacional uma presunção de faute,
a qual não consistiria numa simples presunção de culpa, mas antes numa presunção simultânea
de ilicitude, culpa e nexo de causalidade entre o facto e os danos, cabendo assim ao devedor a
demonstração que não foi por sua causa que o credor suportou os danos que alega ter sofridos.
O professor MENEZES LEITÃO, no entanto, que o art. 799º, nº 1, consagra não uma presunção
de faute, mas uma presunção de culpa nos termos gerais, pelo que a prova do nexo de
causalidade deverá caber naturalmente ao credor.
A responsabilidade do devedor cessa sempre que este demonstrar que o facto é imputável
a terceiro – 799º/1. No entanto, não seria justo que o devedor não fosse responsável as pessoas
que estão por si comandadas, por isso, o artigo 800º/1 estabelece uma situação de
responsabilidade objetiva do devedor que assenta numa equiparação da conduta do auxiliar ou
representante legal à conduta do próprio devedor, por forma a evitar que este se pudesse
exonerar da responsabilidade, imputando àqueles o comportamento que conduziu à violação
da obrigação.
O risco é atribuído ao próprio devedor, em lugar de ficar a cargo do credor.
Os pressupostos de aplicação do na. 800º são bastante diferentes dos pressupostos do art.
500º.
Assim, em primeiro lugar, não se exige uma relação de comissão entre o devedor e o
representante legal ou auxiliar, bastando o próprio vínculo da representação legal ( que pode,
por exemplo,resultar do poder paternal, da tutela...)ou a mera utilização do terceiro para
realização da prestação debitória.
Para além disso, exige-se que a actuaçâo do representante legal ou auxiliar represente uma
violação do vínculo obrigacionaJ541. Rendo a doutrina discutido se nesta sede se abrange
apenas a violação do dever de prestar principal ou também os deveres acessórios que
acompanham o vínculo obrigacion . Parece que, visando esta norma evitar a irrespoasabilízaçâo
legal ou auxiliar, faria sennco aamitir que ela abrangesse todas as situações em que ocorra essa
reponsabilidade do devedor, incluindo a violação dos deveres acessórios de conduta. No
entanto, uma vez que a violação dos deveres acessórios pode corresponder à cutela de situações
jurídicas variadas, enquadráveis na denominada .. terceira via da responsabilidade civil’: e uma
vez que, entre nós, o art. SOOº, ao contrário do que sucede no direiro alemão, permite
igualmente estabelecer uma responsabilidade objetiva por facto de terceiro, parece preferível
considerar estar-se perante uma lacuna a integrar caso a caso, consoante o que pareça mais
adequado à situação em questão.
A nossa lei vem admitir no na. Soo11, n 2, que a responsabilidade do devedor por atos dos
seus representantes legais ou auxiliares possa ser convencionslrente limitada ou excluída
mediante acordo prévio dos interessados, desde que a exclusão ou limitação não compreenda
atos que representem a violação de deveres impostos por normas de ordem pública. Esta
exclusão, que se estende a qualquer comportamento do auxiliar, mesmo que doloso, é
admissível uma vez que não confere ao devedor a irresponsabilidade por factos próprios seus.
No entanto, a exclusão da responsabilidade por acres dos auxiliares não pode representar a
violação de deveres impostos por normas de ordem pública, como será o caso sempre que a
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
atuação do auxiliar possa implicar a lesão do direito à vida ou à integridade fisica ou psicológica
do credor
O não cumprimento das obrigações recíprocas está sujeito a um regime especial, admitindo-
se ser licita a recusa de cumprimento, enquanto a outra parte não realizar a sua prestação
(excepção de não cumprimento do contrato) e que o incumprimento definitivo de uma das
prestações permite à outra parte a resolução do contrato (resolução por incumprimento).
Nos contratos sinalagmáticos, a lei permite a qualquer dos contraentes recusar a realização
da sua prestação enquanto não ocorrer a prévia realização da prestação da contraparte, ou a
oferta do seu cumprimento simultâneo. Encontra-se prevista no artigo 498º fazendo com que
seja lícita a recusa de cumprimento, o que impede a aplicação do regime de mora e
naturalmente do incumprimento definitivo.
Se as duas obrigações forem puras a exceção de não cumprimento é, assim, sempre
invocável, nem sequer podendo ser afastada mediante a prestação de garantias (art. 428º, nº2}
Tendo havido estipulação de prazos certos diferentes para o cumprimento das prestações,
um dos contraentes obriga-se a cumprir em primeiro lugar, o que implica uma renúncia da sua
parte à excepção de não cumprimento do contrato e a consequente constituição em mora pelo
decurso do prazo (805º/2 – a). nesta hipótese o contraente que esteja obrigado a cumprir em
segundo lugar continua a poder usa da exceção de não cumprimento, não entrando em mora
se não realizar a sua prestação enquanto a contraprestação não for realizadas%_ Também nesta
hipótese, a excepção não pode ser afastada mediante a prestação de garantias. A limitação
constante da parte inicial do art. 428í!, n2 1, aplica-se, por isso, apenas ao contraente que esteja
obrigado a cumprir em primeiro lugar continuando a ser admissível para o outro o recurso à
excepção de não cumprimento.
Há, porém, uma situação em que, apesar de existirem prazos diferenres, a lei permite a
utilização da excepção de nâo cumprimento do contrato, mesmo ao contraente que esteja
obrigado a cumprir em primeiro lugar. A situação encontra-se prevista no art. 429º e reíerese à
hipótese de se verjficar, em relação à outra parte, alguma das circunstâncias que art 780º e
referem-se à hipótese de se verificar, em relação à outra parte, alguma das circunstâncias que
importem a perda do benefício do prazo. Essas circunstâncias constam do art 780º. No caso da
não prestação das garantias prometidas ou a diminuição destas, a exceção pode ser afastada
mediante a prestação de garantias de cumprimento.
Uma outra questão é a de averiguar se a excepção de não cumprimento do contrato pode
ser utilizada quando a outra parte cumpre a obrigação, mas o faz defeituosamente. A solução
deverá ser a de que a aceitação da prestação não deve predudir o recurso à exapt», se os
defeitos de que a prestação padece prejudicam a integral satisfação do interesse do credor. Já
não será, no entanto, de admitir o recurso à exaptio se os defeitos da prestação, atendendo ao
interesse do credor tiverem escassa importância (art. 802º, por analogia). O problema que
normalmente se colocará diz, porém, respeito à determinação de quem compete o ónus da
prova da relevância ou não dos defeitos para a adequada satisfação do interesse do credor.
Parece que a aceitação da prestação constituirá presunção da inexistência de defeitos, pelo que
caberá à parte que pretende utilizar a exceptio perante o cum11rimento defeituoso a
demonstração de que os defeitos existentes tornam inadequada a prestação em termos de
justificarem o recurso à exceptio.
Tem-se entendido que, para a excepção de não cumprimento do contrato poder ser
invocada sem que haja contrariedade à boa fé, se exige uma tripla relação entre o não
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
cumprimento do outro contraente e a recusa de cumprir por parte de quem invoca a excepçâo,
em termos de sucessão, causalidade e proporcionalidade entre uma e outra. A. relação de
sucessão tessul)õe que quem invoca a excepção não tenha sido o primeiro a cair em
incumprimemo, uma vez que a recusa em cumprir deve ser posterior e não anterior ao
incumprimento da outra parte. A relação de causalidade pressupõe que a invocação da exceção
vise exclusivamente compelir a outra parte à realização da sua prestação, sendo essa invocação
ilegítima quando seja determinada por outros fins. Finalmente, a relação de proporcionalidade-
pres que a legitima, não sendo admitido o recurso à exceção sempre que esse incumprimento
for de escassa importância.
A indemnização por incumprimento significa que o credor deve ser colocado na mesma
situação que existiria se não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação (562º).
Será que o credor que ainda não tiver realizado a prestação, o facto de este pretender ser
indeminizado pelo interesse contratual positivo o obriga a realizar essa mesma prestação?
• De acordo com os defensores da teoria da sub-rogação, o nexo de correspectívídade
entre as prestações que caracteriza o sinalagma mantém-se, apesar da
impossibilidade culposa ou incumprimento definitivo da prestação, ocorrendo
apenas uma substituição desta pelo seu equivalente pecuniário, que o credor só
pode exigir se realizar a sua própria prestação. Assim, neste enquadramento, o não
cumprimento de uma das presrações nos contratos sinalagmáticos obriga o faltoso
a indemnizar a outra parte pela não realização da sua prestação, mas não prejudica
o seu próprio direito à contraprestação.
• Pelo contrário, de acordo com os defensores da teoria da diferençct. A
indemnização por incumprimento nos contratos sinalagmáticos corresponde a uma
indemnização pela frustração do próprio sinalagma contrarual Por isso, o credor não
tem que realizar a sua própria prestação, uma vez que as obrigações recíprocas de
ambas as partes se convertem num único crédito à indemnização pelo montante da
diferença de valor entre ambas as prestações. A indemnização é assim fixada
tomando em consideração o valor da prestação não cumprida, deduzido do
montante corresponderre à poupança de despesas pela não realização da própria
prestação.
O professor Menezes Leitão, defende a teoria atenuada da diferença, o que implica
considerar que o credor, quando não realizou ainda a sua prestação, pode optar pela sua não
realização, descontando-a na indemnização por incumprimento, ou pela sua realização nos caso
em que tenha interesse em o fazer, reclamando nesse caso a totalidade da indemnização.
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O credor pode, perante a impossibilidade parcial, optar pela não realização de qualquer
parte da sua própria prestação, para o que tem que recorrer à resolução do contrato. Esta
destrói retroactsamente o negócio (art. 433º), pelo que ambas as partes ficam liberadas de
qualquer prestação, ficando apenas o credor com o direito de exigir indemnização pelo interesse
contratual negativo. Esta opção não será, no entanto, permitida, caso o não cumprimento
parcial, atendendo ao interesse do credor, tiver escassa importância, caso em que será antes
tutelado o interesse do devedor em realizar a parte não impossibilitada da prestação.
• O defeito é relevante:
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Qualquer credor tem, em caso de não realização da prestação, uma garantia judiciaria da
obrigação, consistente na possibilidade de exigir judicialmente o seu cumprimento e de executar
o património do devedor (817º).
Essa ação judicial de cumprimento efetua-se normalemente através da ação de condenção
onde, com base no pressuposto ou previsão da violação do direito, se exige a prestação de uma
coisa ou de um facto (art.10º/3/b) CPC).
Caso a condenção ddo devedor ao cumprimento não seja por este observada, a realização
coativa do direito do credor exige a instauração de uma ação executiva (art.10º/5). Onde se
define em que termos pode ser executado o património do devedor – 10º/5 CPC
Um dos títulos executivos é precisamente a sentença condenatória (art.703º/a) CPC). Assim,
quando o credor não disponha de outro titulo executivo, terá que instaurar contra o devedor
uma acção de condenação, só podendo executar o seu património após a obtenção da
correspondente sentença condenatória.
São igualemtnte títulos executivos os dispostos no art.703º/1/b), c) e d).
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
Quando o credor vem obter a satisfação, por via judicial, do seu crédito na forma originaria,
através da produção do mesmo resultado que lhe proporcionaria o cumprimento voluntário da
obrigação.
O pressuposto da execução por equivalente é o incumprimento definitivo da obrigação
(808º). Já a execução específica pressupõe a manutenção, na esfera do credor, do seu direito à
prestação original. O seu pressuposto é apenas a simples mora (804º).
A execução especifica encontra-se prevista nos art.827º e ss., abrangendo:
• Casos da entrega da coisa determinada. O art.827º, na redação do DL. 30/2003, de
8 de Março, prevê que o credor pode requere, em tribunal, que a entrega lhe seja
feita, aplicando-se o processo de execução para entrega de coisa certa (CPC 859º e
ss). No entanto, esta faculade só pode ser utilizada emc asa de a coisa se encontrar
determinada, não se aplicando a coisas genéricas, onde o credor não pode suprir a
faculdade de escolha que compete ao devedor.
• Prestação de facto postitivo fungível, o credor pode requerer que o facto seja
prestado por outrem à custa do devedor (828º). O tribunal porcederá à venda em
execução dos bens do devedor para com o produto dessa venda contratar a
realização da prestação por terceiro.
• Não realização da obra, permite ai cdor, em caso de incumprimento, requere em
tribunal a sua demolição – 829º/1 – mas essa faculdade compreensovelmente cessa
se os prejuízos causados pela demolição para o devedor forem consideravelmente
superiores ao prejuízo sofrido pelo credor, havendo então apenas lugar a
indeminização (829º/2). Aplica-se neste caso o processo de execução para a
prestação de facto negativo (876º e ss. CPC).
• Obrigação de contratar, prevista no art.830º, que permite ao credor requerer em
tribunal, a emissão de uma sentença que produza efeitos de contrato que o devedor
se obrigara a celebrar. Neste caso, a execução especificia, realiza-se, não através do
processos executivo, mas por via de uma ação declarativa constitutiva – 10º/3/c)
CPC
Nos casos que não é possível o recurso à execução especifica, a lei admite ainda a
possibilidade de coagir o devedor ao cumprimento, através da sanção pecuniária compulsória
(829º-A). Nestes casos pode o tribunal condenar o devedor no pagamento de uma quantia
pecuniária por cada dia de atraso no cumprimento ou por infração, conforme for mais adequado
às circunstâncias do caso (829º-A/1), sendo que só é permitida em relação a obrigações de
prestação de facto infungível, positivo ou negativo, delas excluindo, porém, as prestações que
exigem especiais qualidades cientificas ou artísticas do obrigado.
O art.829º-A/2, determina que a sanção pecuniária será fixada segundo critérios de
razoabilidade, sem prejuízo da indemnização a que houver lugar. Daqui resulta a independência
da sanção pecuniária compulsória em relação à indeminização, e a sua consequente
cumulabiliade com esta, mesmo que tenha sido fixada através da clausula penal.
Desta norma resulta a independência da sanção pecuniária compulsória em relação à
indemnização, e a sua consequente cumulabilidade com esta, mesmo que tenha sido fixada
através de cláusula penal.
Os beneficiários da sanção pecuniária compulsória são o credor o Estado, em partes iguais
(art. 829º-A, nº 3), solução que aparece justificada pelo facto de ela tutelar não apenas o
interesse particular de compelir à satisfação do crédito, mas também o interesse coletivo de as
obrigações serem regularmente cumpridas.
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O art.829-A acrescenta que em primeiro lugar, que nesta norma estão em causa obrigações
pecuniárias e que a sanção pecuniária compulsória aqui presente, que se reconduz a sendo
necessária qualquer decisão judicial a estabelecê-la. Sendo necessária qualquer decisão judicial
a estabelecê-la.
1. Generalidades
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Será admitida a sua estipulação, ao abrigo do principio da autonomia privada (405º), e por
argumento a contrario do art.809º.
A limitação convencional da indeminização a um limite máximo consiste numa clausula
que desempenha funções relevantes para efeitos de segurança na contratação.
A lei admite alias do art.602º, uma hipótese especifica, referente à limitação convencional
da responsabilidade do devedor a alguns dos seus bens, a qual é admissível, salvo quando se
trate de matéria subtraída à disponibilidade das partes (Ex: obrigação de alimentos)
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II
valor real dos bens. Esta restrição não seria, porém, aplicável à clausula penal
moratória, referida no art.811º/1 – Menezes cordeiro adere
o Menezes Leitão – o art.811º/3 é inaplicável à clausula penal estrita, sob pena
de o art.812º não fazer qualquer sentido. Há que fazer uma interpretação
restritiva e considerar aquela disposição como limitada aos casos em qeu as
partes tenham estipulado uma clausula de liquidação de danos e não uma
clausula penal estrita.
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