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Ana Figueiredo

DIREITO CIVIL II

Teoria Geral do Direito Civil II


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Regente: Maria Rosário Palma Ramalho
Ano letivo: 2017/2018
Ana Figueiredo

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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

21 de fev.18

Coisas/bens

 O Código civil define coisa no art.202º/1, em que afirma que coisa é “tudo aquilo que
poder ser objeto de relações jurídicas”, esta noção é tributaria da técnica de relação
jurídica – relaciona o bem/coisa com o vinculo entre dois sujeitos.
 A primeira expressão que juridicamente traduziu esta “coisa” é res, no Direito
Romano. Em termos históricos referia-se apenas a coisas corpóreas. Por exemplo, uma
criação literária não seria uma coisa. Os escravos e os animais eram considerados bens
corpóreos.
 Com o tempo, veio-se admitir que “coisa” em Direito, não podia ser limitado aos bens
corpóreos, mas também abranger bens incorpóreos, ou seja, bens não apreensíveis
pelos sentidos. Por exemplo num livro: a obra, o livre fisicamente dito, é um bem
corpóreo; o seu conteúdo, o escrito, é um bem incorpóreo.
 Coisa = bem, no entanto, o mais tradicional é “coisa”, porém com a influencia do
Código Napoleão também é usado o termo “bem”. Hoje em dia, o professor Ascensão
ainda se refere aos bens.
 O Código de Seabra definia a coisa como “tudo o que carece de personalidade” – se
não é pessoa é coisa. Definição pela negativa, vaga e ampla, gerando dificuldades em
relação aos cadáveres, nascituros...
 Quanto à distinção entre bens e coisas:
o Bem – evoca mais uma relação de pertença de alguma coisa a alguém, acaba
por ser um conceito mais liberal, mais associado à propriedade. Para além
disso, tem uma conotação mais económica
o Coisa – evoca mais as coisas corpóreas, mais adequado a bens incorpóreos,
com uma conotação mais neutra.
 A definição do Código civil é menos ampla que a do Código Seabra. No entanto, é
bastante criticada por implicar sempre necessariamente um sujeito A e um sujeito B.
Há muitas situações que não implicam um dos sujeitos. A noção de coisa faz
justamente apela a esta ideia de relação jurídica. A coisa apenas surgiria se fosse
transacionada. E se não houvesse transação? Deste ponto de vista, é uma noção com
fraco rigor técnico, ainda que compreensível.

O professor Menezes Cordeiro propõe ideias para delimitar a coisa.

1. Coisa opõe-se a pessoa – as pessoas são sujeitos e não objetos de negocio jurídico.
Ou é pessoa ou é coisa.
O código Seabra afirmava que era coisa tudo o que não era pessoa. Neste
momento, toda a pessoa é pessoa, no entanto, antigamente não era assim havia
pessoas que eram tratadas como coisas.
2. Coisa pode ser material ou imaterial.
Por exemplo, os bens de personalidades são coisas imateriais.
3. Coisa pode ter valor económico ou não – não é juridicamente relevante
4. Coisa é um conceito jurídico – corresponde a uma criação do direito.
Ex: questão dos animais, para nós não são cosas, mas o Direito entende como
tal.
Menezes Cordeiro tenta definir como “realidade delimitada pelo Direito a
partir do conceito de seres inanimados”

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Palma Ramalho fica-se pela definição do CC.


PPV: Só são coisas jurídicas aquelas que forem pessoalmente apropriáveis e
utilizáveis para a realização de fins concretos, que puderem ser pelo Direito
especialmente afetas à satisfação de fins.
Menezes Cordeiro: as coisas podem ser inalcançáveis.

Classificação das coisas

O artigo 202º/2 restringe as coisas que o nº1 do mesmo artigo define.


O artigo 203º estabelece um conjunto de classificações das coisas, no entanto não é um
enunciado fechado (não taxativo).

Qualquer classificação pode ser sobreponível a outra.

1- Coisas do comercio vs. Coisas fora do comercio (art.202º/2)

São coisas fora do comércio (uma das duas razões):


 São do domínio publico (as coisas do domínio publico não podem ser objeto de direito
privado porque a lei assim o diz).
Ex: Praias (Jurídicas)
 São insuscetíveis pela sua natureza de ser de domínio privado
Ex: lua (Naturais)
Na dúvida se está no domínio publico ou não, é o tribunal que decide.

Pedro Pais Vasconcelos: As coisas fora do comércio são insuscetíveis de apropriação – logo não
são coisas em sentido jurídico.

O Código civil não se ocupa das coisas fora do comércio.

2- Coisas corpóreas vs. Coisas incorpóreas

Uma outra classificação, em que se distingue a coisa é pela posse ou não posse. Apesar de não
estar prevista no CC, esta noção retira-se do capítulo dos direitos reais. O art.1302º e
seguintes, o artigo 1302º que define o que é a coisa.

Coisas corpóreas Coisas incorpóreas


 Existência exterior e apreensível  Produto do espírito (honra,
pelos sentidos. memoria, imagem, obras)
 Suscetíveis de posse (apropriação  Bens intelectuais:
física) Obras literárias ou artísticas:
 Podem sofrer atuação humana independentes da forma física de
direta, no sentido mais imediato de que se revestem. Regulado pelo
atuação física. código dos direitos de autor.
 Para a Palma Ramalho podem ser Inventos: dão lugar a registo e a
materiais ou imateriais. patente mesmo que impliquem
 Art.1302º - só das coisas corpóreas descobertas científicas. Regulado
se pode ser proprietário. Em pelo código da propriedade
qualquer um dos estados físicos industrial.
(gases e líquidos são corpóreos). Marcas: sinais distintivos (gráficos,

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 Para o Pedro Pais Vasconcelos: desenhos, palavras) de uma coisa ou


coisas corpóreas dividem-se em serviço. Reguladas pelo código da
coisas materiais (têm matéria e propriedade industrial e Código da
dimensão) e coisas imateriais (têm Publicidade.
realidade e existência na natureza  Prestações
física, mas não têm matéria como a Conduta humana devida por alguém
eletricidade) (Castro Mendes). A prestação em si
Direitos reais mesma é um bem jurídico. (ex: para
obter bem deve ser pago e vice-
versa- art.398º CC)
Incidem sobre prestações de facto e
não só sobre prestações de dar.
 Quia Jurídicos
Figurações técnicas e sociais
relacionadas com uma situação
jurídica em que o direito é
perspetivado como uma coisa. A
ordem jurídica perspetiva os direitos
como um bem
Ex: direitos inerentes aos imóveis
(art.204º/1/d) – pode-se transmitir o
direito de usufruto que é um bem
mas não deixa de ser um direito;
 Bens de Personalidade
Discute-se na doutrina se são bens
ou não:
Palma Ramalho: é um bem
incorpóreo em termos gerais,
sobretudo aqueles que podem ser
objetos de negócios jurídicos
(art.81º). Os não passíveis de serem
transacionados são realidades
intermédias.
Menezes Cordeiro: não são coisas os
bens de personalidade – estão
ligados intimamente com os direitos
de personalidade

3- Coisas móveis vs. Coisas imóveis

Esta distinção é importante pois os negócios jurídicos que têm como objeto as coisas
imovéis são mais exigentes nas formas e pode dar origem a deveres de registo – para
tornar a situação conhecida de terceiros e assegurar a segurança jurídica.

Dá-se mais valores aos bens imóveis. Hoje em dia há desvios pois há ações (móveis)
que podem valer mais que um metro quadrado de terra (imóvel).

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Não se definem coisas imóveis, nem móveis, devido à sua grande heterogeneidade. O
código decide enunciar, quer as de origem natural quer as construções humanas (incluindo
as realidades jurídicas).
Numeração enunciativa e não taxativa, pois, há muitas outras coisas imóveis não
cobertas pelo artigo – pontes, estradas, aquedutos...
Núcleo essencial: um bem imóvel é um bem ligado ao solo com carácter de
permanência, que dele não se pode desligar – critério da imobilidade material à exceção
dos direitos.

 Coisas imóveis
o Prédios – noção jurídica – porção de terreno ou construção incorporada
num terreno, há sempre um solo.
 Rústico: elemento predominante é o solo, mesmo que lá haja uma
construção sem autonomia económica – o elemento do solo é
predominante quando a sua afetação económica, a sua utilidade
própria, residir principalmente no solo, tendo as edificações que
nele existirem uma utilidade apenas instrumental ou acessória –
art.204º/2
 Urbano: elemento predominante é a edificação (edifício
incorporado no solo) – utilidade própria é a edificação servindo o
solo apenas como suporte físico - art.204º/2
 Logradouro: terreno à volta do qual está implantado, sem
autonomia e servente às necessidades dos habitantes prédio
urbano. Ex: jardim
 Pode-se alterar a classificação dos prédios com a submissão à
camara municipal da alteração do registo – depende apenas do
objetivo ou do elemento que agora predomine.
 Frações autónomas: decorrem da possibilidade de instituição do
regime da propriedade horizontal (art.1414º)
 Palma Ramalho - as frações são partes integrantes do prédio
urbano, sendo que apenas o edifício é encarado como um todo.
Qualificar as frações é mais fácil para identificar partes comuns por
sua vez. Autonomia total nos negócios jurídicos e seguem o
regime dos bens imóveis (mercado de arrendamento). Prédios
devem ser publicitados em registo predial ( ver se está livre de
encargos). Direito de Propriedade subscreve o subsolo e espaço
aéreo avaliado. Para reconhecer as partes comuns em
copropriedade (escadas, elevador...) enquadra-se como partes
de imóveis, mas a fração autónoma é um bem imóvel em si
mesmo e segue as regras dos bens imóveis.
 O código civil reconhece que o direito de propriedade sobre um
prédio abrange o subsolo e o espaço aéreo respetivo – art.1344º

o As águas particulares (art.1386º e 204º/1/b), nomeadamente as que


nascem na nossa propriedade ou passam ou estão no subsolo da nossa
propriedade podem ser objeto de direitos privados, de resto, toda a água
(mar, rio...) é do domínio publico.

o Árvores, arbustos e frutos naturais enquanto estiverem ligados ao solo


(art.204º/1/c) – é tido em conta o critério de incorporação no solo. A partir

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do momento que são separados do solo passam a ter autonomia e passa a


ser uma coisa móvel.

o Direitos inerente aos bens imóveis (art.204º/1/d) – quia jurídico – aplica-


se aos direitos sobre os bens imoveis o regime das coisas imóveis. Ex:
terreno X tem registo, usufruto de X também está sujeito a registo.

o Partes integrantes dos prédios rústicos e urbanos (art.204º/1/e) e


art.204º/3) – quando uma coisa móvel está ligada materialmente a um
prédio com carácter de permanência – coisas originalmente móveis que
foram integradas com caracter de permanência numa coisa imóvel e que
passaram, assim, a fazer parte dela, perdendo a individualidade e a
autonomia

 Critério da ligação material. Bens que não tem autonomia


relativamente ao prédio.
 Ao estarem separados podem ser tratadas como móveis, mas
juntas são parte integrante de um bem imóvel. Ex: azulejos da
cozinha, elevador...
 O prédio ao ser transmitido, as partes integrantes têm que
acompanhar o destino do prédio.

Como distinguir partes integrantes de coisas assessorias?

 Coisas assessorias – art.210º


o Podem aplicar-se também a bens moveis enquanto as partes integrantes é
só a bens imóveis
 A doutrina critica e defende uma extensão do regime das partes
integrantes. Ex: pneus do carro deviam ser parte integrantes e não
assessorias – asseguram a funcionalidade da coisas principal
 O adquirente da coisa principal deve explicitar quais as pertenças
abrangidas pelo negócio.
o É meramente ornamental, ao passo que a parte integrante assegura o
funcionamento das coisas.
 Ex: uma estatua no jardim é meramente assessoria.

 Coisas móveis
o Determinadas por exclusão – determinação pela negativa (tudo o que não
é imóvel é móvel)
o Ex:
 Objetos materiais
 Energia
 Gases
 Móveis de sujeito a registo – devido ao seu valor, estes moveis
estão sujeitos a registo e a matrícula – têm garantias do regime
dos imoveis! Podem ser hipotecados.
 Títulos representativos de outra realidade
 Dinheiro, cartões...

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 Coisas semoventes – coisas que se mexem, animadas. Ex: carros,


barcos...
o A maior parte das coisas moveis são coisas incorpóreas.

4- Coisas simples vs. Coisas complexas (art.206º)

 As situações compostas podem ser objeto de uma situação jurídica unitária


 A ideia de coisa composta é favorecer o tratamento de um bem que é formado por um
conjunto de coisas aglomeradas – favorecer o tratamento unitário. Ex: rebanho,
biblioteca...
 As coisas compostas podem:
o Ter uma composição material, no sentido de as coisas estarem ligada. Ex: um
telhado só é telhado porque é uma junção de coisas imóveis.
o Têm um tratamento jurídico individual autónomo, não havendo ligação
material, mas sim ligação jurídica/ sejam suscetíveis de individualização. Ex:
rebanho

5- Coisas fungíveis vs. Coisas infungíveis (art.207º)

 Não se determina se uma coisa é fungível pela coisa em si, as coisas fungíveis são as
que se determinam pelo género, qualidade e quantidade quando são objeto de
relações jurídicas
 Coisas fungíveis:
o Critério não pelas características especificais e que pode ser substituída por
outra da mesma espécie. Por exemplo: ao pedir um bolo de chocolate, não
queremos um em especifico, pedimos género e quantidade; O dinheiro é
fungível.
o Só se sabe se é fungível olhando para a situação jurídica em questão. Ex: uma
moeda pode ser infungível caso seja de coleção ou tenha valor sentimental
o Influencia os contratos em que uns pressupõem a fungibilidade dos bens e
outros não.
Ex: uma prestação é fungível caso seja indiferente a pessoa que a
compra ou infungível se tiver de ser uma certa pessoa

6- Coisas consumíveis vs. Coisas não consumíveis (art.208º)

 A vontade das partes pode atribuir a qualidade das coisas consumíveis ou não.
 Depende da sua utilidade. Ex: vela de iluminação/vela de decoração
 A coisa extingue-se ao ser consumida
 As não consumíveis podem ser Deterioráveis ou Não Deterioráveis – caso perca o valor
com o uso ou não
7- Coisas divisíveis vs. Coisas indivisíveis (art.209º)

 Critério de unidade da coisa reside na sua utilidade.


 Algo considera-se indivisível quando:
o A divisão determina uma alteração da sua substância – critério da substância
o Diminui o seu valor – critério do valor
o Deixa de ser adequada para o uso a que se destina – critério do uso
 A doutrina considera que prevalece o critério do valor – dependendo da situação
jurídica conceta e o negocio jurídico celebrado.

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8- Coisas presentes vs. Coisas futuras (art.211º)


 Podem ser futuras por duas razões:
o Objetivamente futuras – ainda não existem
o Subjetivamente futuras – ainda não estão em poder do disponente, mas irão
estar.
 Venda de coisas alheias que se espera vir a ser própria – os efeitos do negócio jurídico
dependem da aquisição ou posse por parte de quem negoceia
o Coisas alheias são objeto de atos de disposição na expetativa da sua futura
aquisição pelo disponente.
o Disponente fica obrigado às diligencias necessárias para que as coisas futuras
se tornem presentes (art.880º) – negocio só está concluído quando a coisa
estiver junto da pessoa interessada.
9- Coisas principais vs
10- Frutos (art.212º e ss)
 O fruto é uma coisa que provém periodicamente de outra e que não altera a
substância dessa outra.
 A periocidade é importante, regime dos frutos moldado à ideia de que eles vão
surgindo.
 O fruto é em si mesmo uma coisa que provém de outra.
 Frutos naturais: provém diretamente da coisa (frutos das árvores, crias de
animais...).
 Frutos civis: algo que se produz em consequência de uma relação jurídica (renda
que se recebe pelo arrendamento de um prédio – a renda é o fruto civil e o prédio
é o bem)
 A lei distingue, igualmente, fruto e produto:

o Fruto – é o que a coisa produz periodicamente;


o Produto – aquilo que a coisa pode produzir
eventualmente/aleatoriamente e que sejam com prejuízo ou detrimento
da substância da coisa. (vender um prédio e obter uma mais-valia isso é
um produto)
 Frutos pendentes – ainda estão ligados à coisa principal (art.215º/2) e não t – faz
mais sentido para os frutos naturais;
 Frutos separados – são aqueles que já foram colhidos, e ao serem colhidos ou
recolhidos podem ser objeto de um negocio jurídico específico (ex. as crias nascem
sozinhas)
 Frutos perseguidos – são os separados por ação humana.
 Numa coisa composta, como o rebanho, o excesso é que é o fruto. Não conta os
que nascem e compensam os que morrem – só deve ser tido como fruto o que
sobrar depois de descontado o necessário para a manutenção da coisa frutífera.
o O art.212º/3 pode-se aplicar por analogia aos frutos civis como por
exemplo as aplicações de capital, cujos rendimentos só devem ser
considerados frutos depois de deduzido o que for necessário à reposição
do capital.

11- Benfeitorias (art.216º)

 Intervenção sobre uma coisa que existe: gasta-se dinheiro (despesas) com uma
coisa para conservar ou melhorar essa coisa.
 Envolve dispêndio de dinheiro.

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 Envolve a conservação ou melhoramento da coisa.


 Não são coisas autónomas – são uma intervenção sobre uma coisa que existe.
 Benfeitoria necessária – são feitas para evitar a perda, destruição ou deterioração
de coisa. Ex: chuva em casa
 Benfeitoria útil – não sendo necessária à subsistência do bem, lhe aumenta o seu
valor. Ex: pintar a casa para tirar manchas de humidade
 Benfeitoria voluntária – não são necessárias nem para a manutenção da coisa nem
para o seu melhoramento, servem para recreio. Ex: mudar a cor da casa, porque
não se gosta da atual.
 Quando as despesas não são feitas pelo proprietário da coisa, quem as faz tem o
direito a ser reembolsado se elas forem necessárias mas não se forem
voluntárias.

12- Património

 Conjunto de bens de alguém.


 Estes vens podem ser materiais ou imateriais.
 O património pode ter um tratamento unitário, e até se pode separar para certos
efeitos.

13- Empresas

 Serão elas coisas ou não?


o Em sentido amplo, são bem.
o No Direito Comercial estudaremos várias aceções de empresas, sendo uma
delas a aceção objetiva que afirma que a empresa é sem duvida um bem – tem
valor no mercado.
14- Animais
 Será que os animais são coisas?
o Juridicamente, os animais são coisas – diz a professora Palma Ramalho.
o Desta qualificação, decorrem várias consequências:
 Quando falamos de direitos dos animais não tem a mesma
qualificação que as crianças
Ex: quando discutimos a proteção dos animais falamos, na verdade, de
tratamentos à luz dos interesses das pessoas humanas.

15- Domínio publico

 São coisas fora do comercio as que não podem ser objeto de direitos privados:
o Ou pela sua natureza não podem ser apropriadas individualmente (mar, lua,
estrelas...)
o Ou porque por determinação legal estão fora da apropriação individual, por se
encontrarem no domínio publico.
 Hoje associado à ideia de domínio publico está a ideia de que o direito de propriedade
das coisas públicas não é idêntica à propriedade privada
 Bens comuns – aqueles que são suscetíveis de ser apreendidos por cada pessoa
 Bens públicos – são propriedade da nação, mas que todos podem utilizar (estrada...)
 Bens corporativos – são propriedade de uma determinada instituição, mas podem ser
utilizados por todos.

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 O domínio publico é determinado pela lei, e associado ao domínio publico está o


reconhecimento do poder do Estado sobre as coisas que integram esse domínio
publico.
 O domínio do estado segue regras mais apertadas do que os privados.
 Domínio publico natural (domínio publico hídrico...)
 Domínio público construído (estradas, caminhos de ferro...)
 Há países em que algumas coisas que a nossa legislação não permite que sejam
privados, sejam de domínio privado.

16- Baldios
 Fica a meio caminho entre o domínio público e domínio privado.
 Terrenos que não são de ninguém, mas de que todos usufruem.
 Aparentemente, não são do domínio público são usufruídos pelos membros dessa
comunidade, as pessoas assumem em coletividade a administração, e parece ser mais
uma compropriedade mas não regulado durante muito tempo.

Negócio Jurídico

 Facto jurídico – qualquer evento/acontecimento, que seja relevante no mundo jurídico


que seja relevante porque a ordem jurídica lhe associa determinados efeitos – todo
aquele evento capaz de produzir efeitos jurídicos.
o O conceito de facto jurídico é uma noção de grande amplitude e também de
grande heterogeneidade, daí que seja útil nos procedermos a uma
classificação dos factos jurídicos de acordo com alguns critérios.
o Estes critérios são importantes para focar melhor a realidade e porque a partir
de cada classificação emerge um determinado regime jurídico.
o Os critérios são:

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 Origem de facto
 Efeitos que produz
 Natureza das situações a que se reporta

a) Origem do facto
 Factos jurídicos naturais – facto natural, tem origem na natureza;
 Ações humanas – facto humano/ação, tem origem numa ação humana;
 Nem todos os eventos naturais são factos jurídicos, mas, por vezes os eventos naturais
produzem efeitos jurídicos e, por conseguinte, passam a ter relevância para o Direito.
o Ex: A celebrou um contrato com uma seguradora contra inundações, um dia
chove torrencialmente e a sua casa é inundada. A chuva não é um facto
jurídico, no entanto, se ela tiver efeitos sobre um contrato passa a ser um
evento com efeito jurídico, sem nunca deixarem de ser eventos naturais.

b) Tipo de efeito que produz

 Factos jurídicos constitutivos – provocam o surgimento de uma situação jurídica


o Distingue-se entre:
 Aquisição originária – ocorre quando não existia uma situação jurídica
prévia.
 Ex: Ao encontrar uma pedra no deserto e fazer dela minha, a
situação jurídica de propriedade surge sem que não houvesse
outra antes
 Aquisição derivada – ocorre quando existe uma situação jurídica
anterior.
 Sucessão ex:1255º
 Transmissão ex:1256º

 Factos jurídicos modificativos – modificam a situação jurídica


o Distingue-se entre:
 Modificações de conteúdo/objetivas – alteram o conteúdo da situação
jurídica
 Modificações de titularidade/subjetivas – alteram o titular da situação
jurídica, ela passa da esfera jurídica de um sujeito para outro.
 Transmissão em sentido estrito – altera-se o sujeito e pode
haver algumas alterações no conteúdo
 Sucessão – não há alteração no conteúdo da situação jurídica
 Factos jurídicos extintivos – extinguem a situação jurídica existente

O mesmo facto jurídico pode ter um duplo efeito.


Ex: A compra um anel a B, este facto é constitutivo para A e extintivo para B

c) Natureza das situações a que se reporta

 Facto jurídico pessoal – situação jurídica pessoal


 Facto jurídico obrigacional – situação jurídica obrigacional
 Facto jurídico real – situação jurídica real
 Facto jurídico familiar – situação jurídica familiar
 Facto jurídico sucessório – situação jurídica sucessória

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O facto jurídico é uma realidade ampla, dinâmica, multifacetada e útil.

Dentro do facto jurídico é importante distinguir factos jurídicos em sentido estrito e atos
jurídicos.

i. Facto jurídico stricto sensu


a. Facto natural com consequências juridicas – eventos naturais com
consequências jurídicas.
i. Ex: a morte abre sucessão e o nascimento tem como efeito,
primeiramente, a atribuição de personalidade jurídica.
b. Facto natural sem consequência jurídica - eventos naturais sem
consequências jurídicas.
c. Ações humanas em que a vontade não tem relevância – ações praticadas pelo
homem que são valorizadas como ocorrências, a intenção de quem as pratica
é insignificante para o direito.

ii. Atos jurídicos

 Os atos jurídicos são encarados pelo Direito como emanações da vontade humana,
isto é, não se tratam de ocorrências.
 No entanto, a vontade é valorizada gradualmente, sendo mais ampla ou mais
restrita.
 Distingue-se:
o Ato jurídico stricto sensu – é valorizada a vontade de praticar o ato –
liberdade de celebração – mas os efeitos por ele produzidos são
independentes da vontade do agente. Os efeitos sucedem porque a lei o
determina. Há liberdade de celebração, mas não há liberdade de
estipulação.
o Negocio jurídico – é valorizada a vontade em dois planos:
 Liberdade de celebração – vontade praticar o ato, o agente só
celebra o negocio porque quer;
 Liberdade de estipulação – vontade de determinar/modelar os
efeitos do ato, dentro da legitimidade jurídica

A ação humana

O fundamento da construção teórica de facto jurídico

Ato jurídico

Negócio jurídico

é axiologicamente baseada na atuação livre das pessoas, ou seja, numa ação humana.

Atos lícitos e ilícitos

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 Ato licito – ocorre dentro da esfera limitada de um sujeito, decorre de uma norma
permissiva, ou seja, é licito porque é permitido. Podendo, também, a indiferença para
o Direito ser o fundamento da licitude.
o Ex: é indiferente que uma pessoa vá pelo passeio esquerdo ou direito da rua.
 Ato ilícito - quando renega uma norma jurídica, sendo desforme à ordem jurídica, que,
por sua vez, emite sobre ele um juízo de censura. O juízo de censura vai avaliar o grau
de ilicitude, de culpa, dos danos causados e de responsabilidade.

12 de mar. de 18
Negócio jurídico e Ato Jurídico

Negócio jurídico – art.217º e seguintes


Ato jurídico stricto sensu – art.295º

Historicamente, esta distinção foi difícil de implementar. A categoria de negócio jurídico foi
difícil de implementar porque exige algum grau de abstração, e o Direito Civil teve uma base
tópica.

 Savigny defendia que a categoria relevante era o negócio jurídico, sendo este uma
emanação da vontade. Sendo assim, tudo o que não for negocio jurídico é um ato
jurídico. Savigny pouco acrescenta, e transforma o ato jurídico em algo residual.
 No BGB afirma-se que a distinção está relacionada com o critério da relevância da
vontade do autor para a produção dos efeitos. Este critério é trazido para Portugal
pelo Prof. Manuel de Andrade.
o Ato em sentido estrito – a vontade só é relevante na prática do ato, mas os
efeitos são expostos como uma decorrência da lei (liberdade de celebração)
o Negócio jurídico – a vontade é tida em consideração no momento da
celebração e no momento da estipulação dos efeitos pretendidos (liberdade
de celebração e de estipulação).
 É necessário termos uma visão atualista deste critério porque:
o Se há um negócio jurídico quando a partes querem praticar o ato e têm
presentes todos os seus efeitos, é um pouco de ficção, visto que, há sempre
coisas que as partes não preveem.
o Uma parte do conteúdo do negocio jurídico pode ser determinada
imperativamente pela lei.

 Professor Menezes Cordeiro leva este critério à exaustão, admitindo até que nalguns
contratos em que as partes não podem determinar o seu conteúdo, como o contrato
de casamento, sejam contratos não negociais, pois não têm liberdade de estipulação.
Por outro lado, há situações contratuais em que uma parte tem liberdade de
estipulação e a outra não tem. Podemos assim concluir:
o Ato jurídico: quando o autor é livre de praticá-lo;
o Negócio jurídico: quando o autor é livre de praticá-lo e de determinar o
respetivo conteúdo.

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 Professora Palma Ramalho, subscreve este critério, mas entende-o como luminoso,
pois admite a existência de uma associação lógica:
o Negócio jurídico – Maior liberdade consciente quanto aos efeitos
o Ato jurídico - Menor liberdade consciente quanto aos efeitos
 No entanto, avisa para a necessidade de não se compreender a distinção de ato
jurídico e negócio jurídico unicamente pela perspetiva fundamentalista. Pois, se assim
for, este critério vai-se tornar desfasado da realidade, perdendo validade dogmática.
o Na prática, a distinção é gradual, porque existem atos que são quase negócios
(atos em que a liberdade do agente é maior) e vice-versa (negócios cujo
conteúdo admite uma modelação bastante reduzida). Os primeiros são quase
negócios jurídicos e os segundos quase atos jurídicos, no entanto, não deixam
de pertencer à sua categoria.
 Em suma, a distinção pode ser feita recorrendo a dois critérios que se complementam:
o Critério do relevo da vontade para a produção dos efeitos principais
 Vontade irrelevante = ato jurídico
 Vontade relevante = negócio jurídico
o Critério do grau de liberdade
 Liberdade de celebração apenas = ato jurídico
 Liberdade celebração + Liberdade de estipulação = negócio jurídico

 A categoria mais importante axiologicamente é o negocio jurídico, pois manifesta


valores essenciais do Direito Civil. Já o ato em sentido estrito continua a ser uma figura
residual
 O critério gradual desta distinção é o que melhor se encaixa com o Código Civil. O
art.295º manda aplicar ao ato jurídico o regime do negócio com as devidas
adaptações.

Negocio jurídico

É necessário entender e cruzar bem duas ideias para delimitar o negócio jurídico:
 Vontade e liberdade do sujeito
 Permissão da ordem jurídica
A vontade do sujeito não pode decorrer sem o consentimento legal, ou seja, não pode partir
de um pressuposto ilícito/arbitrário.
A articulação entre estes dois preceitos está evidente nas diversas conceções doutrinárias:

1. Teoria voluntarista de Savigny ou dos efeitos jurídicos

 O negócio é um ato de vontade dirigida a certos efeitos, sendo estes produzidos


por vontade do autor – teoria voluntarista pura.
 Crítica:
o Esquece o elemento exterior. Os efeitos não decorrem exclusivamente da
vontade do autor, mas também da permissão da Ordem Jurídica – as
partes não podem prever tudo.

2. Teoria voluntarista associado com o elemento finalista de Manuel de Andrade

 O ato de vontade que tem em vista um fim, que é tutelado e permitido pelo Direito.
 A vontade é dirigida a um fim e a juridicidade do negocio não deriva da vontade, mas
do facto de a ordem jurídica sancionar a prossecução daquele fim legitimo.

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DIREITO CIVIL II

 Criticas:
o Esta teoria escapa à critica de voluntarismo, por deslocar a juridicidade para
fora da esfera do sujeito.
o No entanto, a critica de que as partes não podem prever tudo pode ser
aplicada, embora a regente não a considera tão bem aplicada, pois as partes
preveem os efeitos essenciais, podem é não antecipar os colaterais.

3. Teoria normativista

 O negocio jurídico é a forma de regulamentação de interesses, como uma norma, mas


os interesses em questão são os das partes – auto-regulamentação.
 Normativista, porque equipara o negocio à norma, sem lhe incluir a característica de
generalidade.
 Criticas:
o Esquece a vontade, esquecendo o essencial
o Não distingue ato jurídico e negocio jurídico, desprezando a figura do ato em
sentido estrito.
o Não explica a figura dos negócios cujos efeitos ultrapassam as partes.

4. Teoria do principio da autonomia privada

 O negocio jurídico é um ato de autonomia privada a que o Direito associa à


constituição, modificação ou extinção de uma situação.
 Menezes Cordeiro segue esta teoria.
 Está implícito a liberdade de celebração e estipulação
 Os efeitos são produzidos pela permissão da lei e pela vontade das partes envolvidas –
o negocio tem uma estrutura finalista: com a pratica do negocio atinge-se um certo
fim, sendo a sua vontade sempre relevante.
 No negócio jurídico a vontade releva da seguinte forma:
o É uma vontade dirigida a um fim;
o É uma vontade que envolve as opções fundamentais associadas a esse fim –
não tem de envolver tudo o que as partes não podem prever;
o É uma vontade que se pode dirigir a fins secundários – efeitos acidentais,
clausulas acessórias, não sendo esta pratica obrigatória
o É uma vontade limitada pelas normas imperativas – se as partes previrem algo
ilícito o negocio é invalido.

A Regente concorda com este entendimento, mas ressalva que a aplicação da distinção entre
negocio e o ato é feita em termos gradativos. O relevante nesta teoria é que a vontade é
dirigida a um fim e que esse concretiza por essa vontade e pelo aval da Ordem Jurídica.

 O código civil assenta na distinção entre ato e negocio, mas a figura do contrato é
retratada fora dessa esfera.
 Contratos – art.405º e ss

Classificações dos negócios jurídicos

1. Negócios unilaterais vs. Negócios multilaterais/contratos

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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

Negócios unilaterais – 457º do CC


Contratos – 405º do CC

Qual é o critério de distinção?

Número de partes:
 Negócio unilateral – uma só parte
o Ex: testamento, renuncia, promessa, confirmação...
 Contrato – duas (bilateral) ou mais partes
o Ex: contrato compra e venda, casamento...

É importante definir o conceito de parte:


 Parte não equivale a pessoas
o Um negocio não é unilateral ou multilateral porque é constituído por uma ou
duas pessoas, respetivamente. Na verdade, uma parte pode ser constituída
por várias pessoas.
 Parte não equivale a uma declaração negocial
o A e B ao comprarem o bem emitem cada um uma declaração negocial no
sentido de comprar, mas as declarações são iguais.

O conceito de parte é retirado pela doutrina através do critério do interesse:


Parte equivale à titularidade de determinado interesse num negocio jurídico. O
interesse pode ser comum ou afeto a uma pessoa.

 Negócio unilateral – um único interesse


o Ex: A tem interesse em fazer um testamento
 Contrato – vários interesses
o Ex: A e B tem interesse em comprar e C tem interesse em vender.

Nota: Menezes Cordeiro adita um preceito que está relacionado com o tipo de efeitos
produzidos:
 Efeitos iguais – uma parte
 Efeitos diferentes – mais do que uma parte.

O negocio multilateral só surge quando as partes conciliam os interesses e chegam a um


consenso (art.232º). Já nos casos dos negócios unilaterais não existe qualquer consenso, o
negocio só depende da declaração do seu autor.
Quando os negócios unilaterais envolvem uma diversidade de pessoas, trata-se de negócios
plurais.

Negócios unilaterais

 O negocio fica formado com a declaração negocial da parte, mesmo que esta
beneficie outros sujeitos.
 Dispensa-se a presença de outras pessoas

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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

 Caso estes negócios envolvam uma diversidade de pessoas, trata-se de


negócios unilaterais plurais.
 Negócios unilaterais plurais:
o Negócios conjuntos – exigem uma vontade unanime: todas as pessoas
envolvidas necessitam de emitir uma declaração negocial no mesmo
sentido de interesse.
o Deliberações – exigem apenas a vontade da maioria.
 Estão sujeitos ao princípio de tipicidade – art.457º - encerra o principio geral
que só permite a celebração deste tipo de negócios quando estes são previstos
pela lei.

Princípio da tipicidade imperfeita

são possíveis diversas combinações que resultam em negócios jurídicos unilaterais não
diretamente previstos pela lei. Não deixa, porém, de existir um principio geral que consiste na
liberdade de celebração não é muito relevante.

o A proposta contratual e a procuração são um negócios unilaterais.

Negócios multilaterais/contratos

o Está dependente da convergência das declarações negociais das partes.


o As declarações negociais mais importantes, em sede de formação do contrato, são:
o A proposta
o A aceitação
o Na convergência de ambas surge o consenso, que é a condição indispensável para a
efetivação do contrato – art.232º
o Estes estão sujeitos a um princípio de atipicidade (as partes podem celebrar contratos
que entenderem, dentro dos limites legais, podendo criar, combinar e fazer depender,
entre si, diferentes modalidades de negócios multilaterais) – art.405º.

o Contratos sinalagmáticos vs. Contratos não sinalagmáticos


o Contratos sinalagmáticos:
 As partes vinculam-se reciprocamente. O nexo de reciprocidade é
denominado sinalagma (elo de ligação).
 Ambas assumem uma obrigação, que se encontra dependente da
obrigação do outro contraente.
 Ex: contrato de compra e venda – A (vendedor) tem de entregar o bem
a B, porque B (comprador) está obrigado a pagar o valor em causa
o Contratos não sinalagmáticos:
 As obrigações excluem, de todo, o nexo de correspetividade, ou pode
dar-se o caso de só haver uma parte vinculada.
 Existem duas partes, mas o que acontece, é que uma parte encerra
uma posição ativa e a outra, por seguinte adora uma posição passiva.
Todavia ambas tomarem, simultaneamente, posições passivas e ativas,
as obrigações têm de ser independentes.
o NOTA:

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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

o É costume chamar aos contratos sinalagmáticos, contratos bilaterais. No


entanto, não podemos confundir contrato bilaterial (obrigações reciprocas), e
negocio bilateral (duas partes).
o Existem regimes jurídicos civis que só se aplicam aos contratos sinalagmáticos
– regime da exceção do contrato art.428º - o incumprimento de uma das
partes pode ser invocado como justificação do incumprimento de outra

o Contratos monovinculantes vs. Contratos bivinculantes


o O critério de distinção está relacionado com o facto de o contrato produzir
obrigações só para uma das partes (monovinculante) ou para ambas
(biviculante).
o Monovinculante:
 Ex: A e B celebram um contrato, nos termos do qual, B se compromete
a dar preferência a A, na venda de um bem. B obriga-se a dar
preferência, mas o A não está obrigada a comprar.
o Biviculante:
 Sinalagmático
 Ex: compra e venda de um bem – a obrigação de entregar um
bem está dependente do pagamento de um preço (obrigações
reciprocas)
 Não sinalagmático
 Ex: doação de um bem, com uma condição imposta ao
donatário – o doador está numa posição passiva, já o
donatário não deixa de ter uma posição ativa, só por causa da
imposição.

 Negócios inter vivos vs. Negócios mortis causa


o O critério da distinção assenta no momento da produção dos efeitos
o Inter vivo
 Negócios concebidos para produzirem efeitos em vida dos seus
autores
o Mortis Causa
 Negócios celebrados para produzirem efeitos por morte de um dos
seus autores
o Nem todos os negócios que envolvam a morte de alguém são classificados
como mortis causa.
 Ex: O seguro de vida não é um negócio mortis causa, mas sim
intervivos, porque durante a vida o assegurado paga as prestações do
seguro.
O testamento é um negócio mortis causa, os seus efeitos
produzem-se pela morte do autor

 Negócios formais vs. Negócios consensual


o O critério é o da obrigatoriedade da sujeição do negócio a uma forma especial
o Formal:
 Se a lei exigir uma forma especial
 Ex: escritura publica...
o Consensual:
 Se os autores tiverem liberdade para escolher a forma

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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

o É errado afirmar que os negócios consensuais não têm forma, pois todos os
negócios carecem de forma (oral, escrito em língua portuguesa, em língua
inglesa...), senão não chegariam a realizar-se.
o Esta classificação já foi mais importante do que é hoje. No direito Romano, na
Idade Média, todos os negócios ou a grande maioria era formal. Hoje em dia o
princípio é outro, é um principio o consensualismo, de liberdade de forma
(art.219º). Esta evolução atende a um princípio de materialidade – desde que
as partes se entendam podem fazer como quiserem.
o A ordem jurídica pode atenuar esta liberdade de forma em casos especiais,
atendendo a razões como:
 Maior valor do bem em causa
 A obrigação das partes refletirem
 Razões de publicidade.
o Se o negocio for formal, a consequência de não se seguir a forma indicada é a
nulidade – o negocio não vale (art.220º).

 Negócios obrigacionais vs. Negócios reais vs. Negócios familiares vs. Negócios
sucessórios
o O critério está na forma de eficácia, ou seja, nos efeitos que o negócio produz
o Negócios obrigacionais:
 Situações jurídicas obrigacionais, sendo que os seus contraentes ficam
a adstritos a prestações, ou seja, deles resulta a vinculação das partes;
o Negócios reais:
 Referem-se a situações reais
o Negócios familiares:
 Têm por base situações ou relações jurídicas familiares, que podem
ser constituídas, modificadas ou extintas por eles;
o Negócios sucessórios:
 Respeitam a situações sucessórias, produzindo o efeito de extinguir,
modificar ou construir as mesmas

 Negócios reais quoad effectum vs. Negócios reais quoad constitutionem


o Quanto à constituição ou quanto aos efeitos.
o O critério de classificação tem a ver com os atos materiais necessários para
que o negócio se considere perfeito.
o Negócio real quoad effectum:
 Têm eficácia real, têm efeitos reais
 Ex: contrato de compra e venda
o Negócio real quoad constitutionem
 A sua celebração depende da tradizção do objeto negocial e só se
materializam com a transmissão do mesmo (enquanto não se der a
entrega do bem o negócio não está concluído)
 Ex: depósito (art.1185º), mútuo (art.1142º), comodato
(art.1129º)
 São um resquício do Direito Romano – os negócios nesse tempo só
eram válidos depois da traditio. Alguma doutrina tende hoje a admitir
que estes contratos, quando não haja traditio, têm apesar de tudo
algum valor – seja valendo como promessa de contrato final, seja um
valor meramente obrigacional, só se produzindo o efeito real com a
entrega – Prof. Menezes Cordeiro.

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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

 Negócios típicos vs. Negócios atípicos


o Negócios típicos:
 Previstas pela lei;
o Negócios atípicos:
 As suas regulações são fruta da vontade das partes, sendo que a lei
não prevê um regime para eles.
o Existem negócios mistos, ou seja, constituídos por elementos típicos e atípicos.

 Negócios nominados vs. Negócios inominados


o Negócios nominados:
 A lei atribui-lhes nomes e classificação, por via da regra, são negócios
típicos.
o Negócios inominados:
 São aqueles que a lei não os intitula, normalmente, são negócios
atípicos.

 Negócios onerosos vs. Negócios gratuitos


o Negócios onerosos:
 Decorrem vantagens para as duas partes
 Ex: contrato de compra e venda
o Negócios gratuitos:
 Distinguem-se pelas vantagens e desvantagens das partes. Uma das
partes fica numa situação passiva em relação à situação ativa da outra.
 Ex: doação (ex. 940º)

 Negócios casuais vs. Negócios abstratos


o O critério de distinção em causa está relacionado com a origem/fonte da
situação jurídica.
o Negócio casual:
 Importa saber a fonte, isto é, a situação jurídica que o originou.
 Ex: contrato de compra e venda
procuração
o Negócio abstrato:
 Não é necessário invocar a sua causa, ele vale por si próprio. Regime
autónomo da situação jurídica que lhe deu de base.
 Ex: transferência de dinheiro roubado

 Negócios de administração vs. Negócios de disposição


o Negócios de administração:
 Se o negocio tiver um efeito modificativo
o Negócios de disposição:
 Se o negócio produzir um efeito extintivo

 Negócios aleatório vs. Negócios não aleatório


o Negócios aleatório
o Negócio não aleatório

 Negócios parciários vs.


o Negócios parciários: as partes querem repartir os efeitos

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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

 Ex: art.1121º - parceria pecuária


o Negócios de organização: visam estabelecer um nº estável (....)
 Ex: sociedade civil
 Negócios conjuntos – tem de ser celebrado por um conjunto de
pessoas necessariamente, visto que eles são titulares daquela situação
jurídica
 Deliberações –
o Negocio de distribuição: tem em contacto o promotor de um determinado
produto e o comprador
 Ex: contrato de franquia

Todos se os negócios têm um risco: ninguém sabe realmente algo vai acontecer. O risco é a
razão de ser
Estrutura do negócio jurídico

Teoria elementarista divide a estrutura do negocio jurídico:


 Elementos essenciais:
o São necessários
 Por exemplo: na compra e venda é necessário dinheiro
 Elementos naturais:
o Pode ter e normalmente tem, mas não é obrigatório
 Por exemplo: pagar a pronto
 Elementos ocasionais:
o Pode ter, no entanto, normalmente não tem. Não tem caracter obrigatório.
 Por exemplo: pagar a casa de um amigo

Esta teoria falha, conceitos muito estritos

Relacionam-se não conseguindo fazer definições de contratos


Surgiu, assim, a granulação – divisão de contratos em minicontratos

Pressupostos - aquilo que precisa de haver para surgir contrato:


 Capacidade dos sujeitos
 Legitimidade
 Objeto do contrato

Formação do negócio jurídico


As declarações negociais

O processo de formação de um negócio jurídico é útil se recorrermos à ideia de processo


negocial. A formação pode equivaler a processo negocial, mas a equiparação dos termos não é
muito usual em Direito, porque na ordem jurídica a expressão “processo” é utilizada no seio do
Direito adjetivou ou processual.

21
Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

Todavia é uma expressão que tem várias virtudes aplicadas às áreas de Direito substantivo,
nomeadamente, à formação do negócio jurídico:

 Processo explica o facto de um negócio jurídico poder ser constituído de um modo


muito rápido ou quase instantâneo. Como, também, permite compreender o facto de
ele poder envolver um conjunto de atos que se sucedem no tempo ou um grau de
complexidade variável e, até, negócios jurídicos preparatórios – permite dar uma ideia
da complexidade que pode estar associada à formação de um negócio jurídico. Este
possibilita-nos constatar que existem negócios onde o processo de formação é simples
e rápido e outros em que o mesmo processo é moroso e complicado
o Ex: contrato de venda de um livro numa papelaria vs. Contrato de venda de
uma casa
 Constata-se, com maior facilidade, que as partes contraentes encontram-se sujeitos a
alguns deveres, no decorrer do processo. Não é coerente defender que o nada se
transforma num tudo negocial, sem antes ter existido um processo de transição. Há,
verdadeiramente, uma fase intermédia entre o nada e a celebração do contrato. Nela
as partem têm, efetivamentemente, deveres mútuos.
o Os deveres referidos assentam, sobretudo, no princípio da boa fé.
 Importa conceber os atos que compõem a formação do negocio como atos
encadeados com uma finalidade própria. Neste sentido, a expressão processo
evidencia que o negocio é um ato com uma componente finalística. As partes
pretendem com ele atingir determinado fim ou efeito.

A formação de um negócio jurídica corresponde a um processo denominado processo


negocial.

No seio do processo negocial, ato mais importante é o da declaração negocial. É por esse
motivo que o legislador civil, procurou estruturar toda a matéria da formação do negocio
jurídico a partir da declaração negocial (art.217º)
 Esta opção do código é excessivamente abstrata:
o Na prática, a esmagadora maioria dos negócios jurídicos são os
contratos, nos quais há, pelo menos, duas declarações negociais
(proposta e aceitação) que se conjugam e dão origem ao consenso,
que permite, por sua vez a consolidação do negócio. Uma parte não
celebra um contrato sem a outra.

O código aprecia as declarações negociais separadamente, como se


estas não estivessem interligadas. Facto que não corresponde em nada
com a realidade.
No entanto, a escolha é justificada com a pretensão do legislador de
incluir os negócios unilaterais no mesmo regime dos contratos, ou
seja, no regime dos negócios jurídicos.

É de prever que algumas matérias relacionadas, exclusivamente, com os negócios multilaterais


tenham de ser adaptadas às circunstâncias práticas, ou seja, ter uma interpretação distinta,
quer se trate de um contrato ou de um negócio unilateral. Neste sentido, iremos abordar a
realização dos contratos quanto à sua especificidade.

22
Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

O professor Menezes Cordeiro não partilha este entendimento, referindo-se à declaração


negocial em conformidade com a construção do código civil.

Declaração de vontade ou negociais vs. Declarações de ciência

A partir do art.217º podemos retirar os elementos para caracterizar a declaração negocial:


 Vontade – a declaração negocial é um ato de vontade do seu autor
 Comunicação – elemento de exteriorização dessa mesma vontade

3 ideias a ter em consideração:


 A declaração negocial é uma ação humana voluntária
o Ex: Se A disser enquanto sonha “Eu vendo o meu carro a B” – não estamos
perante uma declaração negocial
 A declaração negocial envolve uma exteriorização da vontade
o Sendo esta realizável nas mais diversas formas (escrita, oral em diferentes
línguas, linguagem gestual...).
o Não envolve necessariamente um interlocutor, só nos casos dos contratos.
 A declaração negocial não é apenas uma ação voluntaria, por corresponder à vontade
do seu ator, é também um ato volitivo, sendo um ato destinado a produzir certos
efeitos previstos pelo autor.
Toda e qualquer declaração negocial é tutelada e protegida pela Ordem Jurídica.

Tipos de declaração negocial:

 Declaração emitida com reserva mental


o Art.224º
o Este tipo de declaração dá-se sempre que é emitida uma declaração em
sentido contrário à vontade do declarante, com o fim de enganar o
declaratório.
o Segundo art.224º/2, a reserva mental não prejudica a validade da declaração
negocial em questão. No entanto, se esta for do conhecimento do
declaratório, então ela funciona com uma simulação.
 Declaração emitida por incapacidade acidental
o Declaração negocial produzida por um sujeito que se encontra acidentalmente
incapacitado de compreender o seu sentido ou que não possa desempenhar o
exercício livre da sua vontade negocial.
o É anulável, nos termos do art.257º, desde que o declaratório esteja a par da
incapacidade do proponente, quer pelo facto de ser notório (art.257º/2) ou
por ser do seu próprio conhecimento
 Declaração emitida em erro
o Declaração cuja vontade declarada não corresponde com a real vontade do
declaratório, sendo essa discrepância causada pelo erro.
o É anulável, segundo o art.247º, sempre que o declaratório tenha
conhecimento do erro ou tenha ignorado, indevidamente, esse elemento
essencial.

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DIREITO CIVIL II

Declaração expressa vs. Declarações tácita

 O critério de distinção assenta no art.217º - modo como a vontade negocial é


manifestada
 Declaração tácita – a vontade é implícita em ações, comportamentos e condutas do
agente, logo é deduzida por factos que a relevam:
o Consensual – as partes acordam ambas sobre a declaração
o Formal – os factos de que se deduz a declaração têm se ter uma natureza
formal (art.217º/2).
 Declaração expressa – a vontade é explicitamente manifestada, quer seja por palavras,
escrita ou outro meio direto de comunicação
 A declaração tácita não equivale ao silencia ou à inércia. Perante uma proposta, eles
valem como rejeição e não como aceitação. Exceto nos casos em que as partes ou a
lei o convencionem desta forma.
 Todavia, pode ser atribuído valor declarativo ao silencia, nos termos do art.218º:
o Quando a lei o disser
 A lei atribui valor jurídico ao silencio
o Decorrente dos usos:
 O silencio pode ter valor porque isso decorre dos usos do comercio,
dos usos da profissão, mas não convém esquecermo-nos de relacionar
o art.218º com o art.3º do CC, sobre usos genéricos. Mas em
empresas, em comercio, pode haver valor para os usos
o As partes o entenderem:
 As partes podem celebrar um acordo, nos termos do qual combinam
que no negocio que está em formação que se nada for dito se
presume que o negócio vale.

Declaração receptícias vs. Declarações não receptícias

o O art.224º fixa o critério de distinção tendo em consideração a determinação ou


indeterminação do destinatário.
o Declaração receptícia – tem um destinatário destinado
 Ex: A propõe a B vender o seu carro
 Teoria da expedição – a declaração produz efeitos a partir do
momento em que é enviada
 Teoria da receção – a declaração é eficaz quando chega ao
destinatário
 Teoria do conhecimento – a declaração é eficaz quando o destinatário
tenha conhecimento da sua existência e do seu teor
 O código incorpora um misto destas conceções. O art.224º diz:
 Nº1/1º parte – a declaração recipienda torna-se eficaz quando
chegue à posse do seu destinatário (teoria da receção) ou
quando este tenha conhecimento dela (teoria do
conhecimento)
 Nº2 – é eficaz a declaração que, por culpa do destinatário, não
tenha sido recebida oportunamente (teoria da expedição)
 Nº3 – a declaração é ineficaz quando chega ao seu
destinatário, em condições tais que não seja possível a sua

24
Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

apreensão; desde que este não tenha culpa no acontecido


(principio negativo da teoria do conhecimento)

o Declaração não receptícia – refere-se a uma generalidade de pessoas logo o


seu destinatário é indeterminado.
 Ex: A escreve no jornal que quer vender o carro
 Segundo o art.224º/2ºparte, elas têm eficácia a partir do momento
em que são emitidas ou publicadas, desde que na sua forma
adequada.

Formação dos contratos

Os contratos implicam um processo mais complexo do que os negócios jurídicos unilaterais,


porque o consenso exige, pelo menos, a emissão de duas declarações negociais (proposta e
aceitação).

Contrato entre presentes – é imprescindível o contacto direto entre as partes (contato direito
não equivale a presença física dos sujeitos. As duas declarações essenciais (proposta e
aceitação) podem aproximar-se em termos temporais

Contrato entre ausentes – aqueles em que o contacto não é necessário. As declarações


negociais tendem a separa-se temporalmente.

O critério relevante para esta distinção não está relacionado com a presença física, mas com a
comunicação direta e imediata das partes. As novas tecnologias viabilizam que um que um
contrato realizado por telefone, seja entre presente – a comunicação continua a ser direta e
imediata. Sendo assim o critério que realmente importa é o momento da receção da proposta:
o Se for imediato – contrato entre presentes
o Se não for imediato – contrato entre ausentes

Importa ficar o tempo de eficácia das declarações negociais, ou seja, o tempo durante o qual
ela vincula o autor (+importante nos contratos entre ausentes)

No âmbito de formação de um contrato pode haver múltiplas declarações negociais, algumas


delas não têm valor vinculativo. Por outro, lado também pode haver uma diversidade de atos
materiais durante a formação do contrato (ex. exigência de uma amostra).
O código civil apresentou esta matéria em termos simplistas e, portanto, abstratos. Partiu das
declarações negociais mais importantes, a proposta e a aceitação, tratando-as como se fossem
as únicas declarações negociais e como se fosse o modelo de formação do contrato único, por
isso:
o Proposta
o Aceitação
o Consenso – quando a aceitação entra na esfera de atuação do proponente

No entanto, raramente um negocio contratual se processa desta maneira, havendo mais


detalhes e particularidades pelo meio.

1. Proposta negocial e convite a contratar

25
Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

Proposta Negocial

Declaração negocial que manifesta a vontade de contratar do seu autor/proponente.

Tem de expor todos os requisitos necessários à aceitação, ou seja, todos os detalhes que
possibilitem o outro contraente a decidir aceitar o negocio, no momento da sua receção.

Proposta e declaração negocial não se equivalem. A proposta é apenas a modalidade de


declaração negocial que evidencia a vontade de contrair pelo autor e tem os elementos
essências para justificar, no ato, a aceitação e, por conseguinte, a confirmação do contrato.
A declaração negocial só pode ser considerada como proposta se for:
 Completa
 Tem de possuir todos os elementos relevantes para a formação da decisão de
aceitar – aqueles elementos essenciais, que permitem diferenciar o referido
contrato de outros contratos semelhantes.
 O que é fundamental para se considerar uma proposta completa? Duas
perspetivas:
o A proposta é completa quando identifica todos os elementos
essenciais, tal como estão estabelecidos na lei.
 Num contato compra e venda, por exemplo, identificar
o bem e o preço
o A proposta é completa quando corresponde, exatamente, a
tudo aquilo que o proponente considerou essencial para ele.
Incluindo os elementos essenciais do contrato, mas também
eventuais clausulas assessórias, que constituem uma condição
determinante sem a qual o proponente não faria a proposta.

 Palma Ramalho – defende que a primeira versão é mais simples e mais segura
 O código civil, no artigo 232º, dispõe que o contrato não fica concluído
enquanto não forem aplicadas todas as clausulas sobre as quais qualquer
parte julgue necessário impor.
o Questão subjetiva, pois pode dar-se o caso de o proponente
resolver voltar com a decisão atras e, por má fé, implementar
mais condições, sobre as quais a outra parte não pode contar,
fazendo com que desista do negocio.
o Sendo assim, a declaração é completa quando possuir todos os
elementos decisivos para a vontade do preponente, tal como
eles são compreendidos pelo destinatário. Não podendo o autor
voltar atras na sua decisão.
o O destinatário pode atribuir um sentido a uma clausula que
esteja omissa.

 Formal
 A proposta tem de ter um caracter inequívoco quanto ao propósito de
contratar. Quando não existe margem para duvidas quanto à vontade do
autor a contratar.
o Ex: não pode ser “A gostava de vender o quadro” mas sim “A
vende quadro a B”
 O caracter inequívoco pode ser compatível com:

26
Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

o Uma limitação da vontade do proponente, por exemplo uma


confissão suspensiva
 Ex: A vende o carro a B, se conseguir vender o seu carro
atual
o Propostas em alternativa
 Ex: A vende o carro a B por 5€, mas se ele pagar em
prestações o valor é de 10€
 Em ambas as situações, a proposta não deixa de ser inequívoca, pois estão
bem patentes em condições do proponente.

 Formal
 Forma deve corresponder aos requisitos formais do contrato em questão
o Contrato consensual: as partes adotam a forma que pretenderem
o Contrato formal: existe uma imposição de forma
 Nos casos em que os negócios formais envolvem vários projetos anteriores,
não significa que esses sejam desconsiderados, pois eles valem não como
proposta, mas como declaração negocial com caracter mais ou menos
vinculativo,

Estes requisitos são cumulativos. Basta a falta de um para se desqualificar a declaração


negocial como proposta, estando antes perante uma declaração intermédia, como, por
exemplo, o convite a contratar.

Convite a contratar

Declaração que evidencia a vontade de vir a celebrar um contrato, mas que ainda não tem
todos os elementos de uma proposta negocial (bens expostos em montras para venda ao
publico – quando o preço está posto já é uma proposta).
Sob a designação de convite a contratar cabe uma diversidade de declarações intermédias,
que estão entre o nada negocial e o contrato.

2. Oferta ao público

É uma modalidade de proposta que se caracteriza por ser dirigida a uma generalidade de
pessoas desconhecidas.
A previsão desta modalidade é feita, apenas subtilmente, no código civil a prepósito da
irrevogabilidade da proposta – art.230º/3.

Características:
o Indeterminação da pessoa do destinatário – o destinatário é o publico em geral;
o Fungibilidade do futuro contraente – tem de ser indiferente vender a A ou B
o Utilização do anúncio publico como meio de difusão

Para ser considerada uma oferta ao publico é necessário que compreenda os 3 requisitos:
completa, formal e firme. Presença de todos os elementos essenciais para qualificação da
declaração negocial como proposta, se não é convite a contratar.
É uma declaração negocial não receptícia, produzindo efeitos a partir do momento em que é
comunicada art.224º/1.

Não é a mesma coisa que:

27
Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

o Convite a contratar – é um incentivo à contratação, mas não tem a presença


de todos os elementos;
o Proposta à pessoa desconhecida ou de paradeiro desconhecido – é uma
proposta comum, simplesmente o seu destinatário é ignorado, mas é
especifico não genérico
o A formação de contratos através de clausulas contratuais gerais tem em
comum, com as propostas ao publico, o facto de serem dirigidas a uma
generalidade de pessoas. No entanto, as clausulas contratuais gerais são
disposições genéricas que são integradas em contratos que vierem a ser
celebrados com elas e por isso podem dar lugar a negociação e, assim, não
correspondem, a uma oferta ao publico.

Alguns meios de comunicação:


o Anuncio contratual difundido na imprensa escrita, em serviços de televenda ou na
internet
o Catálogos
o Montras com indicação do preço
o ...

A oferta ao publico pode ser revogada de forma mais acessível que as restantes propostas –
art.230º/3 – o proponente pode tirar a proposta, desde que o faça de forma adequada –
exceção à norma de não revogabilidade da proposta negocial.

3. Aceitação, rejeição e contraproposta

É obvio que perante a aceitação de uma proposta, o destinatário fica sujeito a uma nova
situação jurídica: se ele aceitar faz surgir um contrato. Podemos assim dizer que ele fica titular
de um direito potestativo (situação ativa, que se caracteriza pelo poder de alterar,
unilateralmente, a esfera jurídica de outrem), visto que, o preponente fica sujeito à decisão do
destinatário da proposta, caso aceite, a esfera jurídica daquele é modificada.
Este Direito potestativo mantém-se enquanto a proposta for eficaz, ou seja, enquanto ela for
vinculativa. Todavia, por motivos de segurança jurídica, a vinculação do proponente à própria
proposta não pode ser eterna.

A lei fixa prazos de validade de eficácia – art.228º

3 tipos de situações:

 Art.228º/1/ a) – a proposta tem explicito um prazo de validade de eficácia, seja este


fixado pelo proponente ou convencionado pelas partes (+simples)
 Art.228º/1/ b) – a proposta não é emitida com prazo, mas o proponente exige
resposta imediata
o Fax ou aparelhos eletrónicos – resposta de 1 dia
o Carta/correio – resposta demora o tempo utilizado para chegar ao destinatário
e voltar para o preponente
o A lei afirma que a proposta é eficaz ate que em condições normas esta chegue
ao destino, à esfera jurídica do destinatário – teoria da receção – e volte em
forma de declaração de aceitação.
o O codifo do processo civil – art.254º - consagra que o prazo normal de receção
de uma carta é 3 dias.

28
Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

 Ex: se uma proposta for enviada no dia 1 de Outubro ela é eficaz até 7
de Outubro (3 dias para chegar e 3 para retomar)
 Quando é enviado por mail ou plataforma similar, existe uma
presunção que esta chega no mesmo dia, portanto deverá revogar
nesse dia.
 Art.228º/1/ c) – as partes não estabelecem prazo e a proposta é dirigida a um ausente
ou um presente, se tiver forma escrita
o Não existe nenhum prazo definido, neste caso
o A Código Civil estipula que a eficácia se mantem até ao momento em que, em
condições normais, a proposta e a resposta cheguem ao seu destino com o
acréscimo de 5 dias (3 de chega + 3 de vinda + 5 de acréscimo)
o Se esta for enviada por fax é 6 dias
o Se a proposta for feita a presente por escrito, o prazo começa logo a percorrer.
O prazo fixado é de 5 dias mais o necessário à receção da proposta e retoma
da resposta.

O proponente pode manter a proposta indefinidamente, declarando que está valido até
quando o destinatário quiser – neste caso, aplica-se a solução geral da prescrição dos direitos.
O prazo de prescrição é de 20 anos – art.309º - porém a doutrina afirma que é um prazo
excessivo. Nada impede, no entanto, que o proponente peça ao tribunal um prazo de validade
específico.

Quando o proponente muda de ideias, ele goza do direito de revogação, que é logo previsto
no art.228º/2, remetendo para o 230º. Todavia, o princípio geral da irrevogabilidade, ou seja,
uma vez que a proposta chegue à esfera de atuação do destinatário, com base no art.224º, o
seu autor não pode voltar atras. A lei admite duas situações de revogação da proposta:
 Art.230º/1 – a proposta é revogada depois de chegar ao destinatário ou
que ele saiba da sua existência, salvo declaração em contrário. A proposta
pode ressalvar a possibilidade de o seu autor poder mudar de ideias.
 Art.230º/2 – o proponente muda de ideias e envia a retração antes ou ao
mesmo tempo da proposta chegar à esfera jurídica do destinatário. Aqui a
retração prevalece.
Revogação:
Art.224º, 228º, 230º

Aceitação

Declaração negocial formulada pelo destinatário, nas situações de declarações recepticias, ou


qualquer interessado nas situações não recepticias, que exprime concordância com a
proposta.

O destinatário aceita a proposta do proponente e o negocio é realizado.

Caso a propostas contenha elementos que permitem uma decisão em alternativa, o


destinatário ao escolher a opção pretendida, aceita a proposta.

A aceitação não pode acrescentar ou dispor critérios presentes na proposta, ela limita-se a
aceitá-la, conforme esta se encontra estruturada. Caso contrário, não tem validade
(art.233º/1ºparte).
Está é uma declaração reptícia, seguindo as normas do art.224º e os prazos do art.228º. Está
vinculada aos requisitos da proposta com um acréscimo de um: formal, completa, inequívoca

29
Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

(surge o consentimento), tempestiva (emitida em tempo útil, art.228º). Caso não respeite
qualquer um destes é invalida.

No que se refere ao requisito do tempo, o princípio geral é o da invalidade. Mas a lei prevê
situações intermedias (Art.229º) – a aceitação começa a produzir efeitos quando a proposta já
tenha cessado a sua eficácia:
 A aceitação foi expedida fora do tempo. Para todos os efeitos ela é ineficaz, se o
proponente tiver intenção de consolidar o negócio, terá de enviar uma nova proposta.
 A aceitação foi enviada dentro do prazo de validade, mas recebida depois. A lei
estabelece que o proponente deve avisar a outra parte que o contrato não se
celebrou, sob pena de responder pelos danos causados (229º/1). Se mesmo assim, o
preponente fizer questão do contrato, ele pode considerar a declaração de aceitação
eficaz (229º/2)

A declaração de aceitação pode ser tácita ou expressa (art.217º).

Palma Ramalho: não concorda com ao art.234º - deixa transparecer, enganosamente, que em
alguns casos não é necessário a aceitação para a conclusão do negocio. Realmente, o que
pretende transmitir é que por vezes, não é necessário comunicar a decisão de aceitar

A revogação da aceitação após a sua emissão – art.235º, todavia, não é uma revogação em
sentido próprio, mas sim uma retratação.
Caso a retratação chegue antes ou ao mesmo tempo que a aceitação, então a
aceitação é revogada – art.235º/2

Rejeição

Declaração negocial formulada pelo destinatário com o efeito de recusar a proposta. Ela pode
ser tácita ou expressa (art.217º), com a ressalva de que o silencio vale como rejeição. Caso o
destinatário pretenda recusar deve:
 Emitir uma declaração de rejeição
Ou
 Ignorar a proposta

A lei também admite a revogação da rejeição – caso o destinatário recuse a proposta e se


arrependa de ter recusado e enviar uma declaração de aceitação, se chegar antes ou ao
mesmo tempo que a aceitação, então a aceitação é válida – art.235º/1

Contraproposta

É denominada por nova proposta pelo código civil (art.233º/2ºparte)


Está no âmbito de um processo negocial, que já envolveu uma proposta e, em vez de ser
seguido de aceitação, o seu destinatário altera o conteúdo da proposta inicial, contrapropondo
o negocio. Cabe ao destinatário (antigo proponente) aceita-la.

Consenso

O consenso é o momento que finda o processo negocial, o momento em que as partes


chegam a um acordo.
A forma de ter certeza se o consenso foi conseguido é:

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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

 Verificar se as partes concordam com todos os elementos sobre os quais consideram


imperativo acordar – art.232º
O consenso não existe numa contraproposta (233º).

4. Atos preparatórios na contratação

Atos necessários em processos de formação negocial mais complexos – visam a formação do


contrato. A partir de um nível de complexidade o esquema do negocio formado pela proposta
e pela adaptação não se adapta.

 Atos preparatórios materiais vs. Atos preparatórios jurídicos


o Atos preparatórios materiais – estão relacionados apenas com o processo
negocial
o Atos preparatórios jurídicos – insere-se na esfera da formação do contrato
mas produzem efeitos jurídicos

 Atos preparatórios vinculativos vs. Atos preparatórios não vinculativos


o Atos preparatórios vinculativos – produzem obrigações para os seus autores
o Atos preparatórios não vinculativos – não vinculam o sujeito

 Liberdade Contratual
o Ela mantém-se ao longo de todo o processo

 Necessidade de uma conduta assenta na boa-fé


o Nesta fase as partes estão sujeitas a deveres especiais – art.227º

Atos e negócios jurídicos preparatórios

 Convenção sobre a forma do futuro contrato:


o As partes podem convencionar a forma a adotar

 Convenção sobre o valor do silencio


o As partes podem afastar a regra feral do art.218º, atribuindo valor declarativo
ao silencio

 Convenção sobre prazo de eficácia das declarações


o Art..228º/1/a)

 Contrato-promessa
o As partes podem vincular-se imediatamente ao contrato definitivo, ou seja,
comprometem-se a celebrar o negocio num momento posterior – art.410º

 Pacto de preferência
o As partes acordam em que darão preferência à outra na eventualidade de
celebrar negocio – art.414º

 Concurso na formação dos contratos

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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

o Forma de orientar o surgimento de um contrato que potencia o eventual


interesse de vários sujeitos. Assim, este propicia a seleção do melhor
candidato

5. Processo de contratação, em especial a contratação por meios informáticos

Novas formas de contratação (adequadas às novas realidades):


 Contratação por meios autómatos ou automática – máquinas automáticas.
o A doutrina discute quem é o proponente e quem é o aceitante. Existem duas
teorias:
 Teoria da oferta automática – sendo a máquina a portadora da
proposta, pois está é feita pelo responsável do equipamento. Em
sentido contrario, o sujeito que celebra o negocio é o aceitante.
Estamos perante uma oferta ao publico
 Teoria da aceitação automática – o sujeito que se serve da máquina,
para celebrar o negocio, é o preponente. Existindo, assim, uma
aceitação automática
o Estas teorias são ambas admissíveis, visto que em uma serie de casos a tese
aplicada é a da oferta e noutra pluralidade de situações recorre-se à
prespetica da aceitação automática.
 Contratação por computador
o Feita com recuso à internet. Importa salvaguardar que nem sempre a
comunicação por internet é instantânea. Podendo variar entre negócio entre
ausentes e presentes.
o Quando se trata de um negócio entre ausentes, as regras aplicadas são as
gerais, existindo prazos estabelecidos tendo em conta os meios de
comunicação. Aqui para identificarmos quem deveria ser o proponente e o
aceitante, temos de ver as circunstâncias do caso:
 Se o negocio se fizer por base de um anúncio, que configure todos os
requisitos de uma oferta ao público, o proponente é o responsável
pela sua publicação
 Se o negócio se realizar por meio de um anúncio publicitário, que não
compreenda os elementos da oferta ao publico, sendo, por sua vez,
um convite a contratar.
o O grande problema, nestes contratos, é comprovar a autenticidade do
negócio. Tem havido uma grande preocupação, no âmbito comunitário, para
tutelar os consumidores e autenticar este tipo de contratação:
 Diretiva 97/7 de 1997 completada pela de 2000/31 de 29 de julho.
Estas foram transportas, nacionalmente, pelo DL 143 de 2001:
 Protegeu o consumidor intensificando os deveres de
informação e admitiu o direito ao arrependimento – num
prazo mínimo de 14 dias, sobre a data de celebração do
negócio.
 Diretiva 7 de 2004, considera a contratação eletrónica livre, exceto em
matéria pessoal, ou seja, nem todos os negócios podem ser celebrados
eletronicamente. Equipara a escrita em computadores à forma escrita,
reconhecendo, em consequência o valor da assinatura digital.

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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

Forma das declarações

Art.219º e ss.

Forma - modo de expressão da declaração negocial, todas têm uma forma. Sendo assim, todo
o negocio tem forma, mesmo que seja informal ou não formal. Um negocio informal é aquele
onde não se exige uma forma especial.

Forma qualificada – quando a lei não exige apenas a adoção de certa forma, mas também que
do negocio constem certas e determinadas menções.

Formalidade – ato material ou jurídico associado à celebração do negocio. Por exemplo, o


registo do negócio.

Critério das consequências de falta de forma

 Forma ad substantiam – quando a forma especial condiciona a validade do negocio. O


negocio só é valido se adotar a forma, caso contrario é nulo – art.364º/1
 Forma ad probaationem – quando a forma especial é importante apenas para
comprovar a existência do negocio, ou seja, para efeitos de prova não para efeito de
validade. A consequência da nulidade do negócio por falta de forma – art.220º - pode
ser superada se as partes conseguirem comprovar que o negocio foi feito por outra
via. A forma adequada não foi seguida, mas as partes, através de outro meio de
provada conseguem confirmar a realização do negocio

Liberdade de forma e justificação das exigências de forma

O princípio seguido hoje é o da liberdade ou consensualista – art.219º. A validade da


declaração negocial não depende da forma especial, salvo quando a lei assim o exige.

Nos casos em que a lei permite, a forma pode ser convencionada por ambas as partes,
com um único requisito: a forma tem de ser cognoscível para os contraentes, eles têm de ter
plena consciência das vontades implicadas no negocio que vão celebrar.

Quando a lei exige forma estamos perante um negocio formal, sendo uma exceção
pois a regra é da liberdade de forma.

Razões da exigência de forma:

1. Solenidade – a adoção de certa forma torna o negocio mais solene, sendo


particularmente importante para contratos de foro pessoal.

2. Reflexão – se a forma do negócio é mais exigente, maior é a reflexão feita pelas partes
o que propicia uma decisão mais consciente. A reflexão é especialmente importante
quando estão em causa bens com maior valor económico. A lei é mais severa com
bens imoveis do que com bens móveis.

33
Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

3. Publicidade – os negócios jurídicos devem ter por princípio a transparência, sendo


conhecido por terceiros. A maior exigência de forma implica uma maior facilidade no
conhecimento.

É importante referir que estes preceitos estão desatualizados, atualmente, o valor dos bens
não assenta apenas no critério dos bens imoveis e moveis. As exigências de publicidade podem
ser asseguradas por outras vias, que não sejam a escrita. Desta maneira, a tendência é
diminuir a exigência de forma, compensando com o acréscimo de atos de registo das
transações.

Consequências dos vícios de forma

 A consequência geral é a nulidade – art.220º, quando a lei exige forma especial, é


particularmente rigorosa quanto à inobservância daquela. Ela determina a nulidade do
negocio, ele é nulo, o que significa que não produz efeitos e pode ser desfeito,
retroativamente, por qualquer interessado.
 Outro tipo de sanções:
o Apenas é sancionado o proponente.
 Ex: A celebra um contrato de trabalho com B, a termo, via oral. Neste
tipo de negocio a lei exige a forma escrita. Porém, não seria justo para
B que o contrato não produzisse qualquer efeito, logo a ordem jurídica
sanciona apenas o A ao transformar o negocio num contrato de
trabalho sem termo.
o Inalegabilidade formal – o vicio foi culposamente criado por uma parte.
 Ex: A (advogado) celebra um contrato de venda de uma propriedade
com B (agricultor), sem recorrer, intencionalmente, à forma especial
prevista pela lei, com o fim de, num momento posterior, vir reclamar a
nulidade do negócio. Ora, estamos perante uma parte ingénua que cré
nas boas intenções do advogado e celebra o contrato, sem recorrer a
forma especial; e uma parte que estava informada sobre as exigências
formais, mas que não as cumpriu por má fé. Aqui não seria justo que o
advogado alegasse a nulidade.

 A lei nada diz sobre qual a sanção a ser aplicada, então aplica-se a nulidade.
 Alguns autores defendem que as consequências da falta de forma se devem, também,
estender aos negócios de forma convencional – art.223º
 Se as partes escolhem obrigar-se por determinada forma, então o vicio de forma
também deve provocar a nulidade – art.220º
 Palma Ramalho: duvidas sobre esta aplicação analógica do art.220º, defende que as
exigências de forma legal são sempre fundamento no interesse publico, mas os
negócios consensuais não são dotados de qualquer interesse geral, a não ser o
interesse dos contraentes. Torna-se assim excessiva, o vicio deve ter a consequência
da anulabilidade.
 Regras no código civil que tendem para atenuar as consequências da forma legal:
o Conversão
o Interpretação dos negócios jurídicos formais
o Clausulas acessórias

34
Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

Critério da origem das exigências de forma

Forma legal – A lei é a origem da exigência da forma. Na falta da forma legal o negocio é nulo –
art.220º

Forma voluntária – aquela que não sendo exigida por lei, é adotada por opção do declarante –
art.222º

Forma convencional – forma escolhida pelas partes. Elas, em sede de formação do contrato,
estipulam qual a forma de celebração do negócio – art.223º

O art.221º dispõe que se for exigida determinada forma, essa exigência só se estende ao
núcleo fundamental do negócio jurídico. A forma não se estende a todos os elementos do
negocio, pois o princípio vigorante é o do consensualismo. Com efeito, um negocio será nulo
se no seu núcleo fundamental não tiver sido observada a forma legal imposta.

A lei é mais severa em relação aos atos acessórios anteriores à celebração do negocio, do que
aos atos posteriores:
 Art.221º/1 – as estipulações mais relevantes anteriores à celebração do negocio
carecem dos mesmos requisitos de forma
 Art.221º/2 – as estipulações posteriores ao ato de celebração só se sujeitam as
mesmas exigências de forma, se a lei estipular que as razões da exigência especial o
justificarem.
Esta diferença de exigência assenta em razões de reflexão. Os imperativos de maior reflexão
das partes são relevantes, sobretudo, no processo de formação do negocio, pois quando este
se concretiza, as partes já refletiram o suficiente, por isso, o legislador considerou o sistema
jurídico não deve ser tão severo posteriormente ao negócio.

Formas especiais

Quando a lei exige forma especial – art.219º/parte final, pode referir-se a dois tipos:
 Forma escrita em documento exarado pelas partes
o É-lhes exigido a assinatura -art.373º - que permite confirmar a autenticidade
da declaração negocial, imputando-a ao seu autor
o Art.363º - Documentos particulares – são autenticados pelos particulares, com
a exigência mínima de assinatura:
 Documentos particulares simples – sem outra exigência para alem da
assinatura
 Documentos particulares autenticados/reconhecidos – exigem uma
certificação publica do conteúdo ou da identidade dos contraentes
 Forma escrita em documento exarado por uma autoridade publica
o Art.363º - Documentos autênticos – aqueles que são exarados por uma
autoridade publica, dentro dos limites da sua competência

Deveres das partes na formação dos contratos

Responsabilidade in contrahendo = culpa in contrahendo – responsabilidade na formação do


contrato

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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

A dificuldade geral desta matéria prende-se com o facto da responsabilidade in contraindo


estar entre:
 responsabilidade civil extracontratual (art.483º) - ocorre no âmbito de atuação danosa
 responsabilidade contratual (art.798º) – decorre do não cumprimento de uma
obrigação

A culpa in contrahendo pretende tutelar as expetativas e os interesses das partes na fase do


processo negocial. As partes ainda não celebraram o contrato, logo não se aplica a
responsabilidade contratual, mas também elas já não são completamente estranhas.

Muitas vezes há interesses específicos que necessitam de uma tutela própria. Jhering
desenvolveu, a prepósito do direito subjetivo, a teoria do interesse, referindo-se ao interesse
juridicamente tutelado, isto é, interesses particulares que a Ordem Juridica protege:
Ele afirma que se de um contrato – que estava em processo de formação e não chegou
a ser realizado ou que foi celebrado, mas, num momento, posterior, foi considerado nulo por
ter um qualquer vicio – resultar danos para uma das partes por culpa da outra, existe direito
de indeminização. Assim, a parte que injustificadamente frustrou as expetativas da outra,
deve responder pelos danos causados, no decurso do processo negocial. Esta é a
configuração do instituto de culpa in contrahendo.

Existem, no entanto, princípios conflituantes:


 Liberdade contratual – projeta uma liberdade de vinculação, as partes vinculam-se ao
negocio por escolha própria. Tem duas facetas:
o Positiva – liberdade de celebrar
o Negativa – liberdade de não celebrar
Quando A desiste do negocio, ele está a fazer uso da faceta negativa da liberdade
contratual, a liberdade de não se vincular. Este princípio deporia contra qualquer
responsabilização por parte do desistente, pois ele está a recorrer à sua liberdade
contratual.

 Tutela da confiança – as partes no decorrer do processo negocial depositam


confiança uma na outra e vão, por conseguinte, ganhando expetativa de que o
negocio se irá concretizar. Se estas expetativas forem frustradas injustificadamente e
causarem danos à parte frustrada, é mais que justo que haja tutela a protege-las.
Prevalece sobre o da liberdade contratual, o que justifica a obrigação de indemnizar.

Estas situações não são sempre idênticas, estando dependentes de vários critérios, que
compõem o regime do art.227º.
No entanto, só o conflito entre estes dois princípios justifica o dever de indemnizar. As
partes devem-se comportar corretamente no âmbito do processo negocial e após a
celebração do contrato, ou seja, sob os desígnios da boa fé.

Enquadramento do instituto da culpa in contrahendo

 Enquadramento negocial:
o Os deveres das partes, no decorrer do processo de negociação, já são deveres
contratuais.
o Visto que, são dirigidos À formação de um contrato, sendo este um pré-
negocio ou um negocio preparativo do contrato final.
o Nota: só é acional juridicamente nos casos em que o contrato seja celebrado
 Enquadramento legal

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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

o Na formação do negocio as partes estão sujeitas a certos deveres que


decorrem da lei, existem quer o negocio se venha a concretizar ou não.

Deveres legais:

Dever de informação

As partes devem fornecer todos os elementos necessários para permitir uma decisão
esclarecida e consciente.
Em certos negócios a lei é mais exigente quanto a este esclarecimento mutuo.
Limites:
 Art.253º/2 – artifícios e sugestões naturais do comercio jurídico não
constituem dolo ilícito, todavia exige-se das partes uma diligencia mínima de
informação
 Direito de reserva a certo tipo de informações, ou seja, existem certas
informações que se podem dar ou não, mediante um específico contrato. Há
questões que devem ser postas, mas se estas questões forem ilícitas ou
irrelevantes para o contrato, o questionado pode fazer uso do seu direito de
reserva e não responder – normalmente é a contratos de caracter pessoal,
porque por vezes, ultrapassam a esfera da vida privada. Quando estamos na
esfera de direitos pessoais, não há dever de informação.

Dever de lealdade

As partes devem comportar-se com respeito pelas expetativas da outra parte na formação do
contrato.

 Sentido amplo – o dever de lealdade envolve o dever de informação


 Sentido estrito – este apela à conduta correta dos contraentes.

Limites:
 Não deve impor um sacrifício desmesurado a uma das partes, obrigando esta a
fornecer informações não necessárias para a formação da vontade negocial da outra –
a jurisprudência tem se debruçado amplamente sobre esta matéria, identificando, em
alguns casos quebras do dever de lealdade na formação do contrato

Dever de proteção/segurança

Na fase pré-contratual é necessário assegurar a proteção física dos eventuais contraentes.


Ex: A está num estabelecimento comercial e escorrega numa casca de banana. Esta é uma
situação em que ainda não há contrato, mas existem um ambiente contratual.

O Professor Menezes Cordeiro entende que estamos perante uma situação de


responsabilidade in contrahendo.
A professora Palma Ramalho e o professor Pedro Pais Vasconcelos, afirma que os deveres e
proteção só correspondem a culpa in contrahendo quando os danos causados tenham a ver
com contrato. Não bastando, neste sentido, a existência de um ambiente contratual. Há
responsabilidade, mas é extracontratual.

Regime do código civil

37
Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

Art.227º - quem negoceia a celebração de um contrato, deve tanto nos momentos


preliminares como no ato de celebração, seguir uma conduta baseada nas regras de boa fé,
sob pena de responder pelos danos que, culposamente, vier a causar.

 Reporta a responsabilidade in contrahendo à boa fé num sentido objetivo, ou seja, as


partes devem comportar-se de forma correta e leal
 Estende-se não só à formação, como aos preliminares do contrato – a partir do
momento em que as partes entram em contacto negocial já estamos no âmbito desta
responsabilidade
 A condição geral é a culpa – seja por via de dolo ou por negligencia, o que importa é o
comportamento culposo
 Todos os danos são ressarcidos, quer os patrimoniais quer os não patrimoniais. No
entanto, os últimos só são alvo de indeminização se forem muito graves – art.496º.

Pressupostos da tutela da confiança

Só surge a necessidade de indemnizar na culpa in contrahendo se:


 Tenha sido criada uma situação de confiança, ou seja, que tenha sido criada a
expetativa de ser vir a realizar o contrato
 A imputação da situação de confiança à outra parte – tem de haver um fundamento
objetivo para a criação de expetativa.
 Tenha havido um investimento na situação de confiança
 Imperativamente, seja frustrada, injustificadamente, aquela situação de confiança e
que, por conseguinte, tenha ocorrido danos

Cabe ainda ter em consideração duas matérias, decorrentes do art.227º:


 Interesses contratuais protegidos:
o Interesse contratual negativo – a indeminização destina-se a repor a situação
que existiria, se não tivesse havido contacto negocial entre as partes. A
doutrina entende que só há tutela deste interesse, porque não não chegou a
ser celebrado o contrayo ou o contrato foi produzido com vícios
o Interesse contratual positivo – a indeminização visa repor a situação que
existiria, se tivesse sido concretizado o contrato. Esta conceção colide
diretamente com principio da liberdade contratual, todavia ela não deve ser
posta de parte, em especial, para os contratos nulos que tenham sido,
efetivamente, executados.

O regime aplicável a esta responsabilidade é contratual ou extracontratual? 798º ou 483º?


 Certos é que estes são regimes diferentes: na responsabilidade contratual presume-se
a culpa, o que não acontece na responsabilidade extra-contratual.
 Sendo mais vantajoso, para quem quer argumentar a favor da indeminização, a
aplicação das regras da responsabilidade contratual, pois a outra parte é que tem de
apresentar o ónus da prova.
 Palma Ramalho: deve-se aplicar a responsabilidade contratual, nomeadamente, a
presunção da culpa, pois estamos no âmbito de um processo negocial. No entanto, a
situação altera-se quando estão em causa a violação dos deveres de proteção,
colocando-se as regras da responsabilidade extra-contratual.

Olá Ana gosto muito de ti beijinhos e bom estudo

38
Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

23/04/18

Formação dos contratos através de cláusulas contratuais gerias

O processo negocial comum é um modelo teórico/ficcional.


Há varias variantes que decorrem do moderno trafego de massas: contratação massiva de
pessoas.
Assim existem formas de contratação que divergem da logica, ponderada e refletida, adotada
pelo código. Há dois tipos de situações que evidenciam estas formas de contratação:
 Relações contratuais de facto, nomeadamente, os comportamentos concludentes
 Contratação com recurso a clausulas contratuais gerais

Relações contratuais de facto

Gunther Haupt procurou refutar aquelas situações em que não houve qualquer manifestação
da vontade contratual, mas, ainda assim, o negocio produziu os seus efeitos. Dois tipos
distintos:
.
 Vontade inicial foi viciada, sendo que o contato acaba por invalido. Porém, tratando-
se de um contrato continuado os efeitos foram produzidos durante algum tempo
o Ex: um contrato de arrendamento ou um contrato de trabalho que estiveram
em execução durante um determinado período de tempo e, posteriormente,
foram invalidados por um vício originário. No primeiro caso, o inquilino
ocupou o imóvel e pagou a respetiva renda. Na segunda situação, o sujeito
trabalhou e foi remunerado em concordância.
 Comportamento concludentes em sentido estrito - Não há uma manifestação de
vontade de acordo, com um determinado sentido negocial. Todavia, por força de certo
comportamento, aplica-se o regime jurídico correspondente a um negocio. Ou seja, o
regime juridico aplica-se sem que a pessoas tenha declarado a sua intenção contratual

Relações contratuais de facto – o que se tem em consideração é o enquadramento a dar aos


efeitos produzidos pelo negócio nulo que foi executado durante um determinado período de
tempo. Pois se o negocio é invalidado os efeitos são destruídos retroativamente, devendo a
situação real ser reposta como se o negocio não se tivesse concretizado.
No entanto, em alguns casos, nomeadamente nos negócios que perduram no tempo,
este procedimento não é adequado.
Ex: o contrato de arrendamento foi declarado nulo, todavia o inquilino habitou o
imóvel por um período de um ano. Como é que se desfazem os respetivos efeitos? O senhorio
devolve o montante equivalente às rendas pagas, e o inquilino devolve o que? Possivelmente,
devolveria o valor da ocupação do imóvel, ou seja, o valor das rendas.

Assim o que se tem de conceber é a salvaguarda dos efeitos produzidos pelo negocio,
estipulando as situações nulidade que devem operar retroativamente e o momento a partir do
qual elas operam:
 Definir que a declaração da nulidade não tem efeitos retroativos , sendo uma exceção
ao regime geral da nulidade
 Considerar que os efeitos do negocio se produziram ao abrigo de uma relação de facto
e não de uma relação jurídica. Pois, a situação não era valida, mas mesmo assim os
efeitos foram produzidos por um certo tempo. Durante o tempo em que o negocio foi
executado estamos perante uma relação contratual de facto.

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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

No nosso sistema jurídico a ressalva dos efeitos produzidos, por um negócio jurídico inválido
mas continuando no tempo, é possibilitada pela regra da não retroatividade dos efeitos da
nulidade, prevista pela lei em algumas situações.

Se nos aplicássemos a regra da nulidade teríamos de destruir retroativamente todas as regras

Comportamentos concludentes em sentido estrito


 O relevo destes comportamentos decorre do facto de ser associada a certa conduta
um dado sentido negocial. Tornando dispensável a indagação.
 Socialmente o que se interpreta destes comportamentos é a vontade de usufruir
daqueles bens, ou seja, eles são associados a uma intenção negocial. Mesmo, que a
vontade real não seja aquela.
 Para que possa ser associada a um determinado comportamento a disciplina jurídica
de certo negócio, este tem de ser um comportamento lícito e, socialmente, não pode
existir duvidas sobre o significado que lhe é atribuído. Tendo sempre em consideração
o ambiente e o contexto negocial.
 Assim, os comportamentos concludentes podem ser qualificados como uma nova
forma de manifestação da vontade negocial, sem a necessidade de uma de declaração
(expressa ou tacita) ou, até, em casos que a declaração formal contrarie a conduta
praticada.

Contratação com recurso a clausulas contratuais gerais

 Estão relacionadas com uma outra dimensão do tráfego de massas: contratuação


através de modelos uniformes.
 Estes modelos contratuais são elaborados por uma das partes e, posteriormente, são
apresentados a uma generalidade de possíveis contraentes. Sendo que,
habitualmente, os referidos dependem dos serviços prestados, tendo assim pouca
margem de negociação.
 Existe uma expressa liberdade de celebração, mas uma das partes vê a sua liberdade
de estipulação reduzida ou, até mesmo, liquidada.

1. Elementos essenciais

Art.1º/1 do diploma das clausulas contratuais gerais, permite identificar os três elementos
essenciais:
 Pré-elaboração – as clausulas contratuais gerais são preposições negociais
previamente feitas e apresentadas em bloco, aos destinatários.
 Rigidez – não permitem alterações
 Generalidade/indeterminação dos destinatários – destinam-se a um numero
indeterminado de sujeitos

2. Características gerais

 Desigualdade das partes – a parte que apresentas as clausulas contratuais gerais é


mais forte do que a outra
 Natureza formularia – existem formulários pré-determinados para fazer face à
generalidade de destinatários, assim apenas se limita a subscrever o conteúdo

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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

 Complexidade das cláusulas – as clausulas tendem a ser minuciosas, muitas vezes


escritas em letras pequenas

3. Vantagens/Desvantagens

Vantagens:
 Facilita o comercio juridico de massas
 Uniformiza os modelos de contratação pelas empresas, tratnado de forma semelhante
todos os contraentes

Desvantagens
 Facilidade com que este tipo de contratação pode dar lugar a abusas, dos seus autores.

4. Regime jurídico

 Diploma que surge em 1985 e é denominado por “lei das clausulas contratuais gerais”
 Estes contratos estavam sujeitos às regras comuns da contratação, no entanto, aplicar-
se o esquema da propostas e aceitação aqui é inviável, sendo ineficaz.
 O código civil optou por incluir normas de proteção da parte mais fraca, quando o
negócio tivesse sido celebrado com recurso a cláusulas contratuais gerais.
 Criou-se então um quadro legal específico.
 O direito europeu prenunciou-se sobre a matéria, através da diretiva 1993.
 Alterações do diploma lei das clausulas contratuais gerais:
o 1995
o 1999 – Estendeu o regime jurídico das clausulas contratuais gerais a outras
situações de contratação com consumidores em que não tenha havido pré-
negociação individual – art.1º/2

4.1.Âmbito de aplicação do diploma

Art.1º/1
A lei aplica-se às clausulas contratuais geras pré-elaboradas, com o requisito dos
destinatários apenas se limitarem a aceitá-las

Art.1º/2
A lei aplica-se, também, a clausulas pré-elaboradas inseridas em contratos elaborados
individualizados, relativamente às quais a contraparte não tem liberdade de estipulação –
contratos pré-formulados, ou seja, contratos por adesão - não se trata de clausulas
contratuais gerais pois faltam as características de generalidade e abstração.

Palma Ramalho: interpretação restritiva da matéria, o diploma não é aplicável a todos os


contratos de adesão, mas apenas aos contratos que envolvam um desequilíbrio negocial. Pois,
só, efetivamente, nestes casos é necessário tutelar a parte fraca contra os abusos da
contraparte.

Art.2º
A lei abrange todas as clausulas contratuais gerais do negocio desde que não tenham
sido alvo de pré-negociação, independentemente da sua forma de comunicação.

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DIREITO CIVIL II

Não exclui à partida nenhuma parte do conteúdo dos contratos, porém pode suceder
que algumas clausulas sejam objeto de negociação individual, ao passo que o mesmo não
acontece com outras – a lei abrange apenas as clausulas que não sejam sujeitas a negociação
A lei estabelece que o ónus da prova da clausula negociada cabe à parte que pretenda
o prevalecer da mesma

Art.3º

A lei tem como âmbito central de aplicação o domínio obrigacional, não devendo
interferir com outras formas de proteção do contraente que possam existir. O regime não é
aplicado:
 Em relação a clausulas típicas aprovadas pelo legislador ou resultantes de tratados e
convenções internacionais;
 A contratos submetidos ao Direito Público
 A clausulas de convenções coletivas de trabalho
 A atos e negócios no âmbito do direito da família e das sucessões.

4.2.Principais especificidades

Art.4º
As cláusulas, sendo formuladas unilateralmente por uma das partes, só se incluem nos
contratos singulares se a contraparte aceitar (232º do CC)

Todavia, pelas especificidades deste processo negocial, a lei estabelece alguns deveres
especiais, que condicionam a validade das clausulas na fase de formação dos contratos.
 Dever de comunicação – art.5º - as clausulas contratuais gerais devem ser
comunicadas na integra, na forma adequada e com antecedência suficiente, para que
a outra parte possa formar a sua vontade contratual.
 Dever de informação – art.6º - o autor da celebração, que contenha as clausilas deve
esclarecer a outra parte sobre os aspetos do respetivo conteúdo. Dever é uma
concretização do art.227º do CC.

Consequências de uma omissão:

Caso as clausulas não tenham sido devidamente comunicadas, visando a sua incorreta
interpretação ou se a contraparte não tenha sido informada sobre o conteúdo então estas são
consideradas excluídas dos contratos singulares (Art.8º). Sanção mais forte do que a prevista
no art.227º do CC.

No entanto, o dever de indeminização do art.227º não é descartado.

Por outro lado, nos casos dos contratos que contenham clausulas contratuais gerais e
cláusulas negociadas, o art.7º defende que as clausulas contratuais gerais que contrariam as
disposições acordadas não o integram, sendo assim as clausulas negociadas prevalecem sobre
as contratuais gerais.

A lei veda a inclusão nos contratos das clausulas surpresas – art.8º/c)/d) – são aquelas
clausulas que não foram inicialmente integradas e que só surgem no momento final da
celebração do contrato, bem como aquelas que passam despercebidas ao destinatário.

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DIREITO CIVIL II

O que acontece se houver inclusão das partes contratuais gerais nos contratos
singulares em contravenção com o art.8º. Surge assim o art.9º:
 Regra geral, o contrato subsiste sem as clausulas
 Se a falta destas tornar o negocio irrealizável ou extremamente
desequilibrado, por se tratarem de elementos essenciais, opta-se pela
nulidade

4.3.Regras especiais de interpretação e integração

No caso de duvida quanto à interpretação, quanto ao sentido a atribuir às cláusulas,


deve optar-se pelo sentido mais favorável á parte fraca do negócio – art.11º/2º

4.4. Cláusulas proibidas

Para proteger a parte mais fraca, o diploma enuncia um conjunto de cláusulas


proibidas. Caso sejam utilizadas, são consideradas nulas – art.12º.
São distinguidos dois tipos de clausulas proibidas e dois níveis de operatividade da
proibição.
Assim:
 Há cláusulas que são absolutamente proibidas e cláusulas que são
relativamente proibidas.
 Há clausulas que são genericamente proibidas, ou seja, interditas a todos
os negócios, e clausulas que são proibidas apenas nos negócios que
envolvam relações com consumidores finais. Sendo permitidas se
envolverem uma relação entre empresas, partindo da premissa que estas
estão melhor preparadas para a celebração destes negócios.

Entre empresários e equiparados são definitivamente proibidas as clausulas contratuais gerais


do art.18º e 19º

Entre consumidores finais, junta-se ao art.18º e 19º o art.21º e art.22º.

Existe então um juízo de proibição sobre as seguintes cláusulas:


 De limitação ou exoneração de responsabilidade do autor
 Relativas ao cumprimento dos contratos
 Estabelecem uma ligação perpétua
 Relativas a prazos de cumprimento
 De fraude à lei
 Penais desproporcionadas
Proíbe todas as cláusulas que limitem ou exonerem uma das partes da responsabilidade pelo
cumprimento do contrato.

O princípio geral da proibição das clausulas contratuais gerais contrárias à boa-fé (art.15º e
16º)

4.5. Nulidade

As clausulas proibidas são nulas, mas esta nulidade tem um efeito diferente ao nível de cada
contrato singular e geral
 Contrato singular

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DIREITO CIVIL II

o As clausulas são nulas em si, sendo que o aderente pode optar pela
manutenção do contrato, desde que estas já não façam parte do conteúdo –
art.13º.
o No caso de o negócio ser insuprível, sem as referidas clausulas, é que se
recorre a nulidade – art.14º

 Contrato geral
o Há um efeito que possibilita a promoção de uma ação (inibitória) para evitar a
inclusão de clausulas formularias em futuros contratos. Independentemente
de cada contrato, é possível promover uma ação para retirar aquelas clausulas
dos formulários, para não serem mais utilizadas – art.25º

Conteúdo do Negócio Jurídico

Conteúdo e objeto do negócio

O conteúdo inclui todos os elementos sobre os quais as partes dispuseram e os


elementos normativos, aqueles decorrentes da lei e que se aplicam ao negócio independente
da vontade das partes.

O objeto é o bem sobre o qual incide o negócio


O conteúdo é constituído por todas as estipulações das partes e pelas regras legais.

A própria lei cai numa certa confusão de planos, confundindo o objeto com o
conteúdo. O art.280º refere-se ao objeto negocial. Porém, na verdade, o teor desta palavra
não se refere apenas aos vícios do objeto negocial, mas também ao conteúdo.

Elementos integrativos

A doutrina civilista tem apurado a decomposição do conteúdo do negócio, visando a


classificação dos elementos integrativos. No entanto, para efeito de apreciação não é
decomponível, ele tem de ser apreciado integralmente,

 Elementos normativos – regras aplicadas pela força da lei (ex lege)


o Elementos normativos injuntivos/imperativos – aqueles que não podem, de
modo algum, ser afastados pelas partes
o Elementos normativos supletivos – aqueles que só são aplicados ao negócio
porque as partes não se pronunciaram a esse respeito.
 Elemento voluntários – regras aplicadas por vontade das partes:
o Elementos voluntários necessários – correspondem aos elementos essenciais
do negócio jurídico, sem estes o negócio descaracteriza-se
o Elementos voluntários eventuais – importantes para a formação da vontade,
mas não são necessários para qualificar o negócio.

Tipo negocial – evidencia os traços característicos do negócio jurídico e permite identificar


aqueles negócios que não estejam definidos na lei (negócios atípicos)

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DIREITO CIVIL II

Requisitos objetivos do negócio

Está matéria está ligada com a matéria da estrutura do negócio, nomeadamente, os


pressupostos.
Os pressupostos são as condições externas da validade/invalidade do negócio jurídico:
 Pressupostos objetivos – condições externas de validade, atinentes ao objeto, ao
conteúdo ou ao fim. O objeto do negócio tem de ser possível e o seu fim tem de estar
em concordância com a lei.
 Pressupostos subjetivos – condições externas de validade subjacentes às
partes/sujeitos. Ex: capacidade jurídica e legitimidade.

Os pressupostos objetivos têm de ocorrer no momento da celebração do negócio, caso


contrário, o negócio é invalidado pela existência de um vício. Art.280º e art.281º (requisitos
não só ao objeto, mas também ao conteúdo e ao fim.
Os artigos permitem identificar quatro pressupostos:
1- Possibilidade
2- Determinabilidade
3- Licitude
4- Conformidade com os valores da ordem pública e dos bons costumes
Caso não se verifique estes requisitos a consequência será a nulidade.

Possibilidade e determinabilidade

1. Possibilidade

A possibilidade diz que o objeto, o conteúdo e o fim do negócio têm de ser possíveis, caso
contrário, o negócio é nulo.

 Impossibilidade física vs. Impossibilidade legal


o Impossibilidade física – o objeto do negócio é inexistente ou inalcançável
 Ex: lua
o Impossibilidade legal – o objeto é legalmente inalcançável, a ordem jurídica
não permite o efeito do negócio
 Ex: torre de Belém
 O art.281º afirma que é nulo o negócio cujo objeto é físico ou legalmente impossível.

 Impossibilidade legal vs. Ilicitude


o Impossibilidade legal – negócio é nulo porque o seu objeto é legalmente
impossível
o Ilicitude – negócio ser contrário à lei. Pode não ter a ver com o objeto.
o Um negócio legalmente impossível costuma ser contrário à lei, mas não
significa que um negócio contrário à lei seja, também, legalmente impossível.

 A lei admite que se realizem negócios sobre bens futuros (bens que ainda não existem
ou que não estão na disponibilidade do contraente)
o Impossibilidade absoluta/objetiva vs. Impossibilidade relativa/subjetiva
 Impossibilidade absoluta – o objeto é inviável em qualquer negócio
 Impossibilidade relativa – o objeto é inviável apenas para aquele
sujeito
o Impossibilidade definitiva vs. Impossibilidade temporária

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DIREITO CIVIL II

 Impossibilidade definitiva – o objeto é permanentemente impossível


 Impossibilidade temporária – o objeto é temporariamente impossível
o Para efeitos de nulidade só releva a impossibilidade definitiva.

 Impossibilidade material vs. Impossibilidade económica/onerosidade excessiva


o O critério desta distinção é o desequilíbrio das prestações.
o A grande questão é saber se o negócio pode ser considerado impossível
porque a prestação é excessivamente onerosa para uma das partes.
o Por estarmos no âmbito da autonomia provada, a mera impossibilidade
económica não dita a nulidade do negócio.
o Apenas em situações de extremo desequilíbrio se pode considerar o negócio
nulo, nestes casos, estamos perante negócios usuários.

 Impossibilidade inicial vs. Impossibilidade superveniente


o Impossibilidade inicial – impossibilidade no momento de celebração do
negócio. É um vicio no momento da celebração, correspondendo à falta de um
pressuposto objetivo. Se desde o princípio é impossível, então é nulo
o Impossibilidade superveniente – impossibilidade ocorre depois da celebração,
a propósito do seu cumprimento. Pode produzir a extinção da obrigação de
cumprimento, como ou sem aplicação das regras do incumprimento,
consoante tenha sido causada por uma das partes.

2. Determinabilidade

Requisito pelo qual os objetos têm de estar determinados ou ser determináveis –


art.280º/1 (parte final).
É nulo o negócio cujo objeto seja indeterminado.

Licitude do objeto e do fim

Negócios contrários à lei são nulos – art.280º/281º/294º


A ilicitude pode decorrer do:
 Objeto – 280º - é sempre nulo
 Fim do negócio – 281º - só é nulo quando o fim for comum a ambas as partes (as
partes têm conhecimento do fim)

Negócios em fraude à lei


 Fraude à lei:
o Importante nas situações em que as partes convencionam várias regras de
modo a conseguirem um resultado ilícito – ilicitude indireta
o A doutrina reconhece que é igualmente grave violar a lei de forma direta ou
indireta.
o A figura da fraude à lei não foi autonomizada da figura da ilicitude.

 Conformidade com a ordem pública e os bons costumes


o Art.280º/2 e 281º
o Bons costumes
 Ideias da moral social e estão associados ao comportamento correto.
 Áreas de incidência:
 Negócios jurídicos envolvendo prestações de natureza sexual

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DIREITO CIVIL II

 Negócios jurídicos envolvendo prestações de natureza familiar


 Negócios jurídicos limitativos da ética profissional
 Negócios jurídicos atentatórios das regras deontológicas
 Se algum negócio for celebrado contra os bons costumes, nestas áreas
de incidência, são nulos. Mas se o fim for contrário, o negócio só é
nulo se o fim for comum a ambas as partes.

o Ordem pública
 Regra geral de limitação da autonomia privada que remete para
princípios estruturantes da ordem jurídica.

Cláusulas negociais típicas

Elementos essências – são aqueles elementos que caracterizam o negócio, sempre de forma
cumulativa, sem eles o negócio desqualifica-se

Elementos acessórios – elementos que surgem da vontade das partes, mas não são relevantes
para caracterizar o negócio

Cláusulas negociais típicas previstas na lei, cujas partes podem recorrer:


 Condição
 Termo
 Modo/encargo
 Sinal
 Cláusula penal

1. Condição

Art.270º e seguintes.
 As partes podem subordinar a um acontecimento futuro e incerto a produção dos
efeitos do negócio jurídico ou a sua resolução.
 É uma clausula negocial acessória típica que faz depender os efeitos do negócio de um
evento futuro e incerto.
 Características:
o Incerteza
o Tem como fim condicionar o negócio jurídico
 Existe uma exceção que permite que a condição seja certa, mas ela terá de ser na sua
essência incerta. Ou seja, o momento da realização da condição pode ter um prazo
determinado. Porém, é imperativo que não se tenha certezas sobre a concretização
efetiva.
 A ordem jurídica proíbe que alguns negócios se realizem por condição
o Ex: 1618º

 Modalidades da condição
o Art.270º
o Condição suspensiva – o negócio só produz efeitos se/quando ocorrer o
acontecimento futuro e incerto
o Condição resolutiva – quando o negócio, que estiver em curso, deixar de
produzir efeitos se/quando ocorrer a condição

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DIREITO CIVIL II

 Condições inadmissíveis
o Apesar do princípio geral: as partes podem dar à condição o conteúdo que
entenderem. O art.271º estabelece algumas limitações.
o A lei não admite
 Que conste num negócio jurídico uma condição que a contradiga ou
que seja contrária aos bons costumes e à ordem pública – art.280º -
negócio nulo
 Que possa ser imposta a condição suspensiva que seja física ou
legalmente impossível – negócio nulo.
o O art.271º/2, afirma que o caso da condição resolutiva, determinando que
esta se tem como não escrita – o negócio vale como se não houvesse
condição. A nulidade só afeta a condição, pois em termos de ter em
consideração que o negócio já está em produção (Palma Ramalho)
 Menezes Cordeiro afirma que todas as condições ilícitas devem ser
sujeitas à nulidade.
o Sem ser na exceção do caso 271º/2, o negócio, não vale no seu todo.

 Pendência da condição
o Como é as partes se devem comportar na pendência de uma condição –
art.272º
o Condição pendente – desde o momento em que o negócio seja celebrado até
que se verifique a condição ou que haja certezas de que ela não se pode
verificar-se, diz-se que a condição está pendente.
o Conflito de interesses, visto que uma das partes irá beneficiar daquela
condição, ao passo que a outra será prejudicada.
o A lei estipula assim que as partes se devem comportar segundo os ditames da
boa fé. Surgem assim outras regras menores relativas aos atos que podem ser
praticados durantes esta fase do negócio:
 Atos conservatórios – art.273º - se for necessário praticar atos de
conservação do objeto, estes podem ser realizados livremente.
 Atos de disposição do objeto – Art.274º - estes atos podem ser
praticados, mas os efeitos dependem do destino final do negócio.

 Verificação ou não verificação da condição


o Verificação da condição – o evento futuro e incerto ocorre
o Não verificação da condição - o evento futuro e incerto não ocorre – ineficaz

 Retroatividade
o Art.276º - o princípio da retroatividade da condição.
o Os efeitos do negócio se retroagem à data da conclusão do mesmo – regra
geral.
o Não é uma regra forte:
 As partes podem sempre estabelecer a não retroatividade dos efeitos
do negócio
 Certos negócios a regra aplicada não é a da retroação, mas a dos
efeitos produzidos para o futuro
 Ex: contratos continuados – art.277º

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DIREITO CIVIL II

2. Termo

Art.278 e 279º
 Clausula típica pela qual as partes subordinam a um acontecimento futuro e certo o
começo ou cessação dos efeitos do negócio jurídico.
 Em muitos aspetos este regime remete para o da condição.

 Termo suspensivo vs. Termo resolutivo


o Suspensivo/dilatório – os efeitos do negócio não se produzem até que ocorra
o evento.
o Resolutivo/perentório – os efeitos cessam quando ocorre o evento, até um
certo momento.

 Termo certo/prazo vs. Termo incerto


o certo/prazo – quando sabe o momento em que o evento irá ocorrer
o incerto – sabe-se que ele vai acontecer, mas não se sabe quando.

 Regras da contagem do termo – art.279º - simples, de natureza supletiva e tem em


conta a correspondência de dias, horas, meses, etc...
 Na pendencia do termo aplicam-se as regras da condição (art.278º remete para o 272º
e 273º)

3. Modo/encargo

 Clausula típica dos negócios gratuitos, podendo ser inter vivos (doação) ou mortis
causa (testamento).
 Limita o valor da liberdade, impondo ao beneficiário um cumprimento de algo, sendo
esse algo um encargo.
 Diminui o espírito gratuito do negócio.
 Pode ter um teor patrimonial ou não patrimonial.

 Modo vs. Condição suspensiva


o Condição suspensiva – os efeitos ficam paralisados até que se verifique a
condição. Suspende o negócio, mas não vincula
o Modo - os efeitos do negócio produzem-se, mas o negócio pode vir a ser
resolvido no futuro se o modo não for cumprido. Vincula o negócio, mas não o
suspende.

 Doação – art.963 (doação modal ou onerosa) – o valor do encargo, sendo patrimonial,


não pode ser superior ao valor da doação.
 Se o encargo não for cumprido, a lei estipula que qualquer interessado pode exigir ao
donatário o cumprimento do mesmo – art.965º
 Art.966º - possibilidade da resolução do negócio no caso o incumprimento do encargo
(precisa de estar presente no contrato)

 Encargos proibidos:

o Art.967º
 Ilícitos
 Contrários à ordem pública
 Contrários aos bons costumes

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DIREITO CIVIL II

 Físico ou legalmente impossível

4. Sinal

Art.440º
 Clausula típica dos negócios onerosos cujo cumprimento seja diferido no tempo.
 Uma das partes entrega à outra uma parcela do valor da prestação devida para melhor
assegurar o cumprimento do negócio
 Incumprimento:
o Por parte do comprador – perde o sinal
o Por parte do vendedor – paga o sinal em dobro

5. Clausula penal

art. 810º ao 812º


 Não está relacionada com Direito penal.
 Clausula típica dos negócios jurídicos em que as partes fixam o valor da indeminização
em caso de incumprimento.
 Tem de revestir a forma das obrigações:
o Ex: Se o contrato for escrito a clausula é escrita
 Pode ser incumprimento
o Definitivo
o De atraso do cumprimento
 Não é cumulável com outras indeminizações, no entanto, as partes podem estabelecer
que a clausula penal não substitui a indeminização

Interpretação e integração do negócio jurídico

Interpretação – atividade que permite a busca do sentido juridicamente relevante das


estipulações negociais.
Integração – operação de integração/concretização dos aspetos do conteúdo que não foram
previstos, ou seja, das lacunas do negócio.

A interpretação é em sentido amplo abrangendo a interpretação stricto sensu e a integração.


A integração é uma interpretação complementadora, pois ela não se desassocia da
interpretação

1. Interpretação

Art.236º e ss.
 A interpretação não se dedica a uma declaração considerada isoladamente, mas sim a
todos os constituintes do negócio, nomeadamente, o consenso produzido pela
conjugação da proposta e da aceitação.
 O negócio jurídico deve ser interpretado no seu todo, em moldes unitários.
 O negócio é o objeto da interpretação e não a declaração
 Todas as declarações negociias são alvo de uma interpretação, pois é necessário que
se retire de cada uma delas o seu sentido jurídico – todas têm um significado.

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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

 Interpretação da lei vs. Interpretação do negócio


o Interpretação da lei tem um pendor mais objetivo, pois os valores da
segurança jurídica e os interesses gerais são sempre prevalecentes.
o Na interpretação do negócio relevam os interesses das partes, porque o
negócio é uma manifestação da vontade contratual – subjetivo

 Elementos da interpretação
o Elemento histórico - antecedentes do negócio
o Elemento sistemático – contexto jurídico
o Elemento teológico – objetivo último
o Elemento literal – o que está expresso na declaração

 Interpretação de facto vs. Interpretação de direito


o A tarefa de interpretar o negócio jurídico não é uma simples questão de facto,
mas também uma questão de direito.
o O núcleo fundamental da interpretação reside na verificação factual do acordo
das partes e na valorização jurídica do mesmo.

 Teoria subjetivista vs. Teoria objetivista


o Subjetivista – dá mais importância à vontade dos declarantes, avaliando o
negocio como produto das vontades - Palma Ramalho, P.P.V (pai)
o Objetivista – dá mais importância ao sentido da declaração, tal como ela é
compreendida pelos destinatários – Menezes Cordeiro.

 Art.236º, três regras:


o Art.236º/1 – regra da impressão do destinatário
 A declaração negocial vale com o sentido que o declaratório normal
lhe atribuir se fosse o declaratório real.
 O declaratário normal é um declaratário típico, já o declaratário real é
os destinatários da declaração em causa.
 A declaração vale por força de padrões comuns de interpretações,
tendo em conta o contexto em que o negócio está inserido.
o Art.236º/1 parte final
 O sentido da declaração, atribuído pelo declaratário normal, não vale
se o declaratário real não puder contar com ele.
 Menezes Cordeiro – fazer uma interpretação restritiva do preceito,
visto que, ele é lesivo por atender a estados de alma do sujeito.
o Art.236º/2
 Caso o declaratário esteja a par da vontade real, a declaração vale e
concordância com esta.
 Menezes cordeiro – não basta que o declaratário conheça a vontade
real, ele tem de concordar com ela.

Palma Ramalho
 O art.236º revela uma situação de compromisso quanto aos critérios de interpretação
do negócio. Todavia, a regra essencial é a do nº2 – a declaração vale de acrodo com a
vontade real das partes ou do seu conhecimento
 Só no caso de não haver conhecimento da vontade rela é que se aplica a regra da
teoria da impressão do destinatário (nº1)

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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

Regras especiais

1. Interpretação de negócios onerosos – 237º


a. Em caso de dúvida, segue-se o entendimento que torne as prestações mais
equilibradas
2. Interpretação de negócios gratuitos – 237º
a. Em caso de dúvida, deve valer segundo o sentido menos gravoso para o
doador
3. Interpretação negócios formais – 238º
a. A interpretação tem de ter um mínimo de correspondência com a letra/texto
da declaração. Todavia, não necessita de ser uma correspondência total.
b. No entanto, a lei admite que a declaração valha sem correspondência, desde
que sejam verificadas certas condições:
i. Se existir outro sentido correspondendo à vontade real de ambas as
partes
ii. Se as exigências de forma não se oponham a essa vontade
4. Interpretação do testamento
a. A interpretação deve estar de acordo com a vontade do testador. Mas esta
tem de ser situada no tempo e no contexto em que o testamento foi
elaborado.
5. Interpretação de negócios com clausulas contratuais gerais ou negócios com
consumidores – 11º do diploma
a. A regra geral coincide com a teoria da impressão do destinatário. Em caso de
duvida, a declaração deve valer com o sentido menos gravoso para o
aderente, devido à sua posição de inferioridade.
6. Interpretação de negócios normativos
a. Os negócios normativos são caracterizados pela generalidade e pela abstração.
Aqui, importa saber se se deve aplicar a regra do 236º ou as regras da
interpretação da lei.
b. Palma Ramalho defende que se aplique as regras da interpretação da lei

Integração do negócio jurídico

Delimitação das lacunas

 A integração está relacionada com aquela parcela do conteúdo do negócio jurídico que
as partes não previram.
 Importa ter em consideração que nem tudo o que as partes não preveem constitui
uma lacuna. Apenas existe lacuna quando as partes não podem recorrer às regras
gerais supletivas para regular a referida parcela.

Integração das lacunas

239º - consagra o critério da vontade hipotética temperado com a boa-fé,


A integração dos pontos omissos deve ser feita de acordo com a vontade de ambas as partes
(vontade hipotética) – conceção subjetivista

No entanto, a norma subjetiva tem um limite: a boa fé. Quando a solução for imposta pelos
ditames da boa-fé, então é por essa via que deve seguir a interpretação.

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DIREITO CIVIL II

Vícios da vontade e da declaração

Enunciado e classificação dos vícios do negócio jurídico

O negócio (como manifestação da autonomia privada) deve corresponder à vontade das


partes.

Quando assim não sucede diz-se que o negócio está viciado.

Negócio viciado: negócio que não equivale à vontade contratual

Valores importantes no processo negocial:


 Autonomia privada – valor primordial – pode estabelecer a invalidade do negócio,
 Tutela de confiança – proteção das expetativas dos declaratórios. Pode determinar
que uma declaração, mesmo viciada, continue a valer, considerando o vicio
irrelevantes.

Por vezes, o código civil dá primazia à autonomia privada, noutras à tutela da confiança.
Consoante o negócio em questão e a gravidade do vício. Assim, o negócio viciado nem sempre
é viciado.

Quadro dos vícios do negócio


 Dois elementos estruturais do negócio:
o Vontade
o Manifestação da vontade – declaração

Vícios da vontade:
Dificuldade na formação da vontade do autor da declaração. Porque ele não teve vontade
negocial ou porque a sua vontade foi incorretamente formal.

I. Falta de vontade- o negócio é celebrado embora o autor não o queira celebrar


a) Falta de consciência da declaração -246º, 1ª parte
b) Incapacidade acidental – 257º
c) Declaração não séria - 245º
d) Coação física – 246º, 2ª parte

II. Vontade malformada – declarante quis celebrar o negócio, mas não nas condições
a) Coação moral (255.º) – falta de liberdade do sujeito
b) Erro
o Sobre o sujeito – 251º
o Sobre o objeto – 251º
o Sobre o motivo – 252º

A vontade pode ser malformada por:


 Erro do declarante
 Falta de liberdade do autor

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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

Vícios da declaração
Sendo a vontade bem formada, ela é mal expressa

I. Vício Intencional
a. Erro na declaração – 247º
b. Erro de escrita ou de calculo – 249º
c. Erro na transmissão – 250º
II. Vício não intencional
a. Reserva mental – 244º
b. Simulação – 240º

As consequências de cada vício, quando considerado relevante, reflete-se no desvalor do


negócio. Todavia, a invalidade pode revelar-se na nulidade, da anulabilidade ou na
inexistência. Tudo depende do modo como a lei valoriza os interesses em causa, seja pelo
princípio de autonomia privada ou pela tutela da confiança.

Ausência de vontade negocial

1- Falta de consciência da declaração


A falta de consciência da declaração aplica-se quando o declarante emite uma declaração sem
ter a noção que esta vale como tal ou será assim entendida.
Ex: erguer a mão para cumprimentar alguém no leilão

Regime jurídico

Art.246º - falta de consciência da declaração como, também, da coação física. A regra geral diz
que a declaração não produz qualquer efeito. Se ela produzir, o interesse que está a tutelar é o
do declarante.

Aqui, dentro do equilíbrio dos dois princípios do negócio jurídico o que se protege é a
autonomia privada. No entanto, se a falta de consciência for devida a culpa, o declarante fica
sujeito ao dever de indemnizar o declaratário.
 Tutela do declarante mitigada pela possibilidade indemnizatória
o Oliveira de Ascensão – a consequência é a inexistência.
o Palma Ramalho – a consequência é a nulidade
 Como se prova a falta de consciência:
o A figura é de tal ordem difícil de aplicar que não pode ser autonomizada,
sendo aplicada de forma excecional e residual – a doutrina propõe uma
interpretação restritiva desta normal (246º) – defendem que é necessária uma
total falta de consciência da declaração.

2- Incapacidade acidental

Art.257º - está relacionado com aquelas situações em que uma declaração negocial é emitida
por alguém, que naquele momento, estava privado da capacidade de compreender o
conteúdo/sentido da declaração.

O regime estipula que o negócio é anulável se estiverem presentes os requisitos: o facto de ser
notório ou conhecido pela contraparte.

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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II

Se não se verificar, os interesses do declaratário deixam de ser merecedores da tutela. Sendo o


negócio possível de ser anulável. Caso contrário, a declaração é valida, assim como o negócio.

3- Declaração não séria

245º - declarações que são emitidas sem vontade, na expetativa que o declaratário soubesse
desse facto. O objetivo destas declarações não é de todo negocial.

Nem sempre é fácil distinguir entre a declaração não seria e falta de consciência da declaração.

Declaração não seria:


 O declarante tem expetativa de que o declaratário perceba a sua intenção não
negocial.

Falta de consciência da declaração:


 O declarante não quer o negócio, mas não tem nenhuma previsão sobre qual a posição
de declaratário.

Nem sempre é fácil distinguir entre a declaração não seria e a reserva mental.
Reserva mental, tal como na declaração não seria, o declarante age de uma forma, mas pensa
noutra.

A doutrina e a jurisprudência apuraram os seguintes critérios:


 Se a declaração for patentemente não seria – art.245º/1
 Se a declaração for não seria, mas ainda assim engana o declaratário, mas não a
generalidade dos presentes – art.245º/2
 Se a declaração for secretamente não séria – só o declarante sabe da sua intenção –
aplica-se o regime da reserva mental.

Consequência da declaração não seria – nulidade – art.245º/1 parte final

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