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DIREITO CIVIL II
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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II
21 de fev.18
Coisas/bens
O Código civil define coisa no art.202º/1, em que afirma que coisa é “tudo aquilo que
poder ser objeto de relações jurídicas”, esta noção é tributaria da técnica de relação
jurídica – relaciona o bem/coisa com o vinculo entre dois sujeitos.
A primeira expressão que juridicamente traduziu esta “coisa” é res, no Direito
Romano. Em termos históricos referia-se apenas a coisas corpóreas. Por exemplo, uma
criação literária não seria uma coisa. Os escravos e os animais eram considerados bens
corpóreos.
Com o tempo, veio-se admitir que “coisa” em Direito, não podia ser limitado aos bens
corpóreos, mas também abranger bens incorpóreos, ou seja, bens não apreensíveis
pelos sentidos. Por exemplo num livro: a obra, o livre fisicamente dito, é um bem
corpóreo; o seu conteúdo, o escrito, é um bem incorpóreo.
Coisa = bem, no entanto, o mais tradicional é “coisa”, porém com a influencia do
Código Napoleão também é usado o termo “bem”. Hoje em dia, o professor Ascensão
ainda se refere aos bens.
O Código de Seabra definia a coisa como “tudo o que carece de personalidade” – se
não é pessoa é coisa. Definição pela negativa, vaga e ampla, gerando dificuldades em
relação aos cadáveres, nascituros...
Quanto à distinção entre bens e coisas:
o Bem – evoca mais uma relação de pertença de alguma coisa a alguém, acaba
por ser um conceito mais liberal, mais associado à propriedade. Para além
disso, tem uma conotação mais económica
o Coisa – evoca mais as coisas corpóreas, mais adequado a bens incorpóreos,
com uma conotação mais neutra.
A definição do Código civil é menos ampla que a do Código Seabra. No entanto, é
bastante criticada por implicar sempre necessariamente um sujeito A e um sujeito B.
Há muitas situações que não implicam um dos sujeitos. A noção de coisa faz
justamente apela a esta ideia de relação jurídica. A coisa apenas surgiria se fosse
transacionada. E se não houvesse transação? Deste ponto de vista, é uma noção com
fraco rigor técnico, ainda que compreensível.
1. Coisa opõe-se a pessoa – as pessoas são sujeitos e não objetos de negocio jurídico.
Ou é pessoa ou é coisa.
O código Seabra afirmava que era coisa tudo o que não era pessoa. Neste
momento, toda a pessoa é pessoa, no entanto, antigamente não era assim havia
pessoas que eram tratadas como coisas.
2. Coisa pode ser material ou imaterial.
Por exemplo, os bens de personalidades são coisas imateriais.
3. Coisa pode ter valor económico ou não – não é juridicamente relevante
4. Coisa é um conceito jurídico – corresponde a uma criação do direito.
Ex: questão dos animais, para nós não são cosas, mas o Direito entende como
tal.
Menezes Cordeiro tenta definir como “realidade delimitada pelo Direito a
partir do conceito de seres inanimados”
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Pedro Pais Vasconcelos: As coisas fora do comércio são insuscetíveis de apropriação – logo não
são coisas em sentido jurídico.
Uma outra classificação, em que se distingue a coisa é pela posse ou não posse. Apesar de não
estar prevista no CC, esta noção retira-se do capítulo dos direitos reais. O art.1302º e
seguintes, o artigo 1302º que define o que é a coisa.
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Esta distinção é importante pois os negócios jurídicos que têm como objeto as coisas
imovéis são mais exigentes nas formas e pode dar origem a deveres de registo – para
tornar a situação conhecida de terceiros e assegurar a segurança jurídica.
Dá-se mais valores aos bens imóveis. Hoje em dia há desvios pois há ações (móveis)
que podem valer mais que um metro quadrado de terra (imóvel).
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Não se definem coisas imóveis, nem móveis, devido à sua grande heterogeneidade. O
código decide enunciar, quer as de origem natural quer as construções humanas (incluindo
as realidades jurídicas).
Numeração enunciativa e não taxativa, pois, há muitas outras coisas imóveis não
cobertas pelo artigo – pontes, estradas, aquedutos...
Núcleo essencial: um bem imóvel é um bem ligado ao solo com carácter de
permanência, que dele não se pode desligar – critério da imobilidade material à exceção
dos direitos.
Coisas imóveis
o Prédios – noção jurídica – porção de terreno ou construção incorporada
num terreno, há sempre um solo.
Rústico: elemento predominante é o solo, mesmo que lá haja uma
construção sem autonomia económica – o elemento do solo é
predominante quando a sua afetação económica, a sua utilidade
própria, residir principalmente no solo, tendo as edificações que
nele existirem uma utilidade apenas instrumental ou acessória –
art.204º/2
Urbano: elemento predominante é a edificação (edifício
incorporado no solo) – utilidade própria é a edificação servindo o
solo apenas como suporte físico - art.204º/2
Logradouro: terreno à volta do qual está implantado, sem
autonomia e servente às necessidades dos habitantes prédio
urbano. Ex: jardim
Pode-se alterar a classificação dos prédios com a submissão à
camara municipal da alteração do registo – depende apenas do
objetivo ou do elemento que agora predomine.
Frações autónomas: decorrem da possibilidade de instituição do
regime da propriedade horizontal (art.1414º)
Palma Ramalho - as frações são partes integrantes do prédio
urbano, sendo que apenas o edifício é encarado como um todo.
Qualificar as frações é mais fácil para identificar partes comuns por
sua vez. Autonomia total nos negócios jurídicos e seguem o
regime dos bens imóveis (mercado de arrendamento). Prédios
devem ser publicitados em registo predial ( ver se está livre de
encargos). Direito de Propriedade subscreve o subsolo e espaço
aéreo avaliado. Para reconhecer as partes comuns em
copropriedade (escadas, elevador...) enquadra-se como partes
de imóveis, mas a fração autónoma é um bem imóvel em si
mesmo e segue as regras dos bens imóveis.
O código civil reconhece que o direito de propriedade sobre um
prédio abrange o subsolo e o espaço aéreo respetivo – art.1344º
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Coisas móveis
o Determinadas por exclusão – determinação pela negativa (tudo o que não
é imóvel é móvel)
o Ex:
Objetos materiais
Energia
Gases
Móveis de sujeito a registo – devido ao seu valor, estes moveis
estão sujeitos a registo e a matrícula – têm garantias do regime
dos imoveis! Podem ser hipotecados.
Títulos representativos de outra realidade
Dinheiro, cartões...
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Não se determina se uma coisa é fungível pela coisa em si, as coisas fungíveis são as
que se determinam pelo género, qualidade e quantidade quando são objeto de
relações jurídicas
Coisas fungíveis:
o Critério não pelas características especificais e que pode ser substituída por
outra da mesma espécie. Por exemplo: ao pedir um bolo de chocolate, não
queremos um em especifico, pedimos género e quantidade; O dinheiro é
fungível.
o Só se sabe se é fungível olhando para a situação jurídica em questão. Ex: uma
moeda pode ser infungível caso seja de coleção ou tenha valor sentimental
o Influencia os contratos em que uns pressupõem a fungibilidade dos bens e
outros não.
Ex: uma prestação é fungível caso seja indiferente a pessoa que a
compra ou infungível se tiver de ser uma certa pessoa
A vontade das partes pode atribuir a qualidade das coisas consumíveis ou não.
Depende da sua utilidade. Ex: vela de iluminação/vela de decoração
A coisa extingue-se ao ser consumida
As não consumíveis podem ser Deterioráveis ou Não Deterioráveis – caso perca o valor
com o uso ou não
7- Coisas divisíveis vs. Coisas indivisíveis (art.209º)
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Intervenção sobre uma coisa que existe: gasta-se dinheiro (despesas) com uma
coisa para conservar ou melhorar essa coisa.
Envolve dispêndio de dinheiro.
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12- Património
13- Empresas
São coisas fora do comercio as que não podem ser objeto de direitos privados:
o Ou pela sua natureza não podem ser apropriadas individualmente (mar, lua,
estrelas...)
o Ou porque por determinação legal estão fora da apropriação individual, por se
encontrarem no domínio publico.
Hoje associado à ideia de domínio publico está a ideia de que o direito de propriedade
das coisas públicas não é idêntica à propriedade privada
Bens comuns – aqueles que são suscetíveis de ser apreendidos por cada pessoa
Bens públicos – são propriedade da nação, mas que todos podem utilizar (estrada...)
Bens corporativos – são propriedade de uma determinada instituição, mas podem ser
utilizados por todos.
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16- Baldios
Fica a meio caminho entre o domínio público e domínio privado.
Terrenos que não são de ninguém, mas de que todos usufruem.
Aparentemente, não são do domínio público são usufruídos pelos membros dessa
comunidade, as pessoas assumem em coletividade a administração, e parece ser mais
uma compropriedade mas não regulado durante muito tempo.
Negócio Jurídico
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Origem de facto
Efeitos que produz
Natureza das situações a que se reporta
a) Origem do facto
Factos jurídicos naturais – facto natural, tem origem na natureza;
Ações humanas – facto humano/ação, tem origem numa ação humana;
Nem todos os eventos naturais são factos jurídicos, mas, por vezes os eventos naturais
produzem efeitos jurídicos e, por conseguinte, passam a ter relevância para o Direito.
o Ex: A celebrou um contrato com uma seguradora contra inundações, um dia
chove torrencialmente e a sua casa é inundada. A chuva não é um facto
jurídico, no entanto, se ela tiver efeitos sobre um contrato passa a ser um
evento com efeito jurídico, sem nunca deixarem de ser eventos naturais.
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Dentro do facto jurídico é importante distinguir factos jurídicos em sentido estrito e atos
jurídicos.
Os atos jurídicos são encarados pelo Direito como emanações da vontade humana,
isto é, não se tratam de ocorrências.
No entanto, a vontade é valorizada gradualmente, sendo mais ampla ou mais
restrita.
Distingue-se:
o Ato jurídico stricto sensu – é valorizada a vontade de praticar o ato –
liberdade de celebração – mas os efeitos por ele produzidos são
independentes da vontade do agente. Os efeitos sucedem porque a lei o
determina. Há liberdade de celebração, mas não há liberdade de
estipulação.
o Negocio jurídico – é valorizada a vontade em dois planos:
Liberdade de celebração – vontade praticar o ato, o agente só
celebra o negocio porque quer;
Liberdade de estipulação – vontade de determinar/modelar os
efeitos do ato, dentro da legitimidade jurídica
A ação humana
Ato jurídico
Negócio jurídico
é axiologicamente baseada na atuação livre das pessoas, ou seja, numa ação humana.
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Ato licito – ocorre dentro da esfera limitada de um sujeito, decorre de uma norma
permissiva, ou seja, é licito porque é permitido. Podendo, também, a indiferença para
o Direito ser o fundamento da licitude.
o Ex: é indiferente que uma pessoa vá pelo passeio esquerdo ou direito da rua.
Ato ilícito - quando renega uma norma jurídica, sendo desforme à ordem jurídica, que,
por sua vez, emite sobre ele um juízo de censura. O juízo de censura vai avaliar o grau
de ilicitude, de culpa, dos danos causados e de responsabilidade.
12 de mar. de 18
Negócio jurídico e Ato Jurídico
Historicamente, esta distinção foi difícil de implementar. A categoria de negócio jurídico foi
difícil de implementar porque exige algum grau de abstração, e o Direito Civil teve uma base
tópica.
Savigny defendia que a categoria relevante era o negócio jurídico, sendo este uma
emanação da vontade. Sendo assim, tudo o que não for negocio jurídico é um ato
jurídico. Savigny pouco acrescenta, e transforma o ato jurídico em algo residual.
No BGB afirma-se que a distinção está relacionada com o critério da relevância da
vontade do autor para a produção dos efeitos. Este critério é trazido para Portugal
pelo Prof. Manuel de Andrade.
o Ato em sentido estrito – a vontade só é relevante na prática do ato, mas os
efeitos são expostos como uma decorrência da lei (liberdade de celebração)
o Negócio jurídico – a vontade é tida em consideração no momento da
celebração e no momento da estipulação dos efeitos pretendidos (liberdade
de celebração e de estipulação).
É necessário termos uma visão atualista deste critério porque:
o Se há um negócio jurídico quando a partes querem praticar o ato e têm
presentes todos os seus efeitos, é um pouco de ficção, visto que, há sempre
coisas que as partes não preveem.
o Uma parte do conteúdo do negocio jurídico pode ser determinada
imperativamente pela lei.
Professor Menezes Cordeiro leva este critério à exaustão, admitindo até que nalguns
contratos em que as partes não podem determinar o seu conteúdo, como o contrato
de casamento, sejam contratos não negociais, pois não têm liberdade de estipulação.
Por outro lado, há situações contratuais em que uma parte tem liberdade de
estipulação e a outra não tem. Podemos assim concluir:
o Ato jurídico: quando o autor é livre de praticá-lo;
o Negócio jurídico: quando o autor é livre de praticá-lo e de determinar o
respetivo conteúdo.
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Professora Palma Ramalho, subscreve este critério, mas entende-o como luminoso,
pois admite a existência de uma associação lógica:
o Negócio jurídico – Maior liberdade consciente quanto aos efeitos
o Ato jurídico - Menor liberdade consciente quanto aos efeitos
No entanto, avisa para a necessidade de não se compreender a distinção de ato
jurídico e negócio jurídico unicamente pela perspetiva fundamentalista. Pois, se assim
for, este critério vai-se tornar desfasado da realidade, perdendo validade dogmática.
o Na prática, a distinção é gradual, porque existem atos que são quase negócios
(atos em que a liberdade do agente é maior) e vice-versa (negócios cujo
conteúdo admite uma modelação bastante reduzida). Os primeiros são quase
negócios jurídicos e os segundos quase atos jurídicos, no entanto, não deixam
de pertencer à sua categoria.
Em suma, a distinção pode ser feita recorrendo a dois critérios que se complementam:
o Critério do relevo da vontade para a produção dos efeitos principais
Vontade irrelevante = ato jurídico
Vontade relevante = negócio jurídico
o Critério do grau de liberdade
Liberdade de celebração apenas = ato jurídico
Liberdade celebração + Liberdade de estipulação = negócio jurídico
Negocio jurídico
É necessário entender e cruzar bem duas ideias para delimitar o negócio jurídico:
Vontade e liberdade do sujeito
Permissão da ordem jurídica
A vontade do sujeito não pode decorrer sem o consentimento legal, ou seja, não pode partir
de um pressuposto ilícito/arbitrário.
A articulação entre estes dois preceitos está evidente nas diversas conceções doutrinárias:
O ato de vontade que tem em vista um fim, que é tutelado e permitido pelo Direito.
A vontade é dirigida a um fim e a juridicidade do negocio não deriva da vontade, mas
do facto de a ordem jurídica sancionar a prossecução daquele fim legitimo.
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Criticas:
o Esta teoria escapa à critica de voluntarismo, por deslocar a juridicidade para
fora da esfera do sujeito.
o No entanto, a critica de que as partes não podem prever tudo pode ser
aplicada, embora a regente não a considera tão bem aplicada, pois as partes
preveem os efeitos essenciais, podem é não antecipar os colaterais.
3. Teoria normativista
A Regente concorda com este entendimento, mas ressalva que a aplicação da distinção entre
negocio e o ato é feita em termos gradativos. O relevante nesta teoria é que a vontade é
dirigida a um fim e que esse concretiza por essa vontade e pelo aval da Ordem Jurídica.
O código civil assenta na distinção entre ato e negocio, mas a figura do contrato é
retratada fora dessa esfera.
Contratos – art.405º e ss
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Número de partes:
Negócio unilateral – uma só parte
o Ex: testamento, renuncia, promessa, confirmação...
Contrato – duas (bilateral) ou mais partes
o Ex: contrato compra e venda, casamento...
Nota: Menezes Cordeiro adita um preceito que está relacionado com o tipo de efeitos
produzidos:
Efeitos iguais – uma parte
Efeitos diferentes – mais do que uma parte.
Negócios unilaterais
O negocio fica formado com a declaração negocial da parte, mesmo que esta
beneficie outros sujeitos.
Dispensa-se a presença de outras pessoas
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são possíveis diversas combinações que resultam em negócios jurídicos unilaterais não
diretamente previstos pela lei. Não deixa, porém, de existir um principio geral que consiste na
liberdade de celebração não é muito relevante.
Negócios multilaterais/contratos
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o É errado afirmar que os negócios consensuais não têm forma, pois todos os
negócios carecem de forma (oral, escrito em língua portuguesa, em língua
inglesa...), senão não chegariam a realizar-se.
o Esta classificação já foi mais importante do que é hoje. No direito Romano, na
Idade Média, todos os negócios ou a grande maioria era formal. Hoje em dia o
princípio é outro, é um principio o consensualismo, de liberdade de forma
(art.219º). Esta evolução atende a um princípio de materialidade – desde que
as partes se entendam podem fazer como quiserem.
o A ordem jurídica pode atenuar esta liberdade de forma em casos especiais,
atendendo a razões como:
Maior valor do bem em causa
A obrigação das partes refletirem
Razões de publicidade.
o Se o negocio for formal, a consequência de não se seguir a forma indicada é a
nulidade – o negocio não vale (art.220º).
Negócios obrigacionais vs. Negócios reais vs. Negócios familiares vs. Negócios
sucessórios
o O critério está na forma de eficácia, ou seja, nos efeitos que o negócio produz
o Negócios obrigacionais:
Situações jurídicas obrigacionais, sendo que os seus contraentes ficam
a adstritos a prestações, ou seja, deles resulta a vinculação das partes;
o Negócios reais:
Referem-se a situações reais
o Negócios familiares:
Têm por base situações ou relações jurídicas familiares, que podem
ser constituídas, modificadas ou extintas por eles;
o Negócios sucessórios:
Respeitam a situações sucessórias, produzindo o efeito de extinguir,
modificar ou construir as mesmas
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Todos se os negócios têm um risco: ninguém sabe realmente algo vai acontecer. O risco é a
razão de ser
Estrutura do negócio jurídico
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Todavia é uma expressão que tem várias virtudes aplicadas às áreas de Direito substantivo,
nomeadamente, à formação do negócio jurídico:
No seio do processo negocial, ato mais importante é o da declaração negocial. É por esse
motivo que o legislador civil, procurou estruturar toda a matéria da formação do negocio
jurídico a partir da declaração negocial (art.217º)
Esta opção do código é excessivamente abstrata:
o Na prática, a esmagadora maioria dos negócios jurídicos são os
contratos, nos quais há, pelo menos, duas declarações negociais
(proposta e aceitação) que se conjugam e dão origem ao consenso,
que permite, por sua vez a consolidação do negócio. Uma parte não
celebra um contrato sem a outra.
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Contrato entre presentes – é imprescindível o contacto direto entre as partes (contato direito
não equivale a presença física dos sujeitos. As duas declarações essenciais (proposta e
aceitação) podem aproximar-se em termos temporais
O critério relevante para esta distinção não está relacionado com a presença física, mas com a
comunicação direta e imediata das partes. As novas tecnologias viabilizam que um que um
contrato realizado por telefone, seja entre presente – a comunicação continua a ser direta e
imediata. Sendo assim o critério que realmente importa é o momento da receção da proposta:
o Se for imediato – contrato entre presentes
o Se não for imediato – contrato entre ausentes
Importa ficar o tempo de eficácia das declarações negociais, ou seja, o tempo durante o qual
ela vincula o autor (+importante nos contratos entre ausentes)
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Proposta Negocial
Tem de expor todos os requisitos necessários à aceitação, ou seja, todos os detalhes que
possibilitem o outro contraente a decidir aceitar o negocio, no momento da sua receção.
Palma Ramalho – defende que a primeira versão é mais simples e mais segura
O código civil, no artigo 232º, dispõe que o contrato não fica concluído
enquanto não forem aplicadas todas as clausulas sobre as quais qualquer
parte julgue necessário impor.
o Questão subjetiva, pois pode dar-se o caso de o proponente
resolver voltar com a decisão atras e, por má fé, implementar
mais condições, sobre as quais a outra parte não pode contar,
fazendo com que desista do negocio.
o Sendo assim, a declaração é completa quando possuir todos os
elementos decisivos para a vontade do preponente, tal como
eles são compreendidos pelo destinatário. Não podendo o autor
voltar atras na sua decisão.
o O destinatário pode atribuir um sentido a uma clausula que
esteja omissa.
Formal
A proposta tem de ter um caracter inequívoco quanto ao propósito de
contratar. Quando não existe margem para duvidas quanto à vontade do
autor a contratar.
o Ex: não pode ser “A gostava de vender o quadro” mas sim “A
vende quadro a B”
O caracter inequívoco pode ser compatível com:
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Formal
Forma deve corresponder aos requisitos formais do contrato em questão
o Contrato consensual: as partes adotam a forma que pretenderem
o Contrato formal: existe uma imposição de forma
Nos casos em que os negócios formais envolvem vários projetos anteriores,
não significa que esses sejam desconsiderados, pois eles valem não como
proposta, mas como declaração negocial com caracter mais ou menos
vinculativo,
Convite a contratar
Declaração que evidencia a vontade de vir a celebrar um contrato, mas que ainda não tem
todos os elementos de uma proposta negocial (bens expostos em montras para venda ao
publico – quando o preço está posto já é uma proposta).
Sob a designação de convite a contratar cabe uma diversidade de declarações intermédias,
que estão entre o nada negocial e o contrato.
2. Oferta ao público
É uma modalidade de proposta que se caracteriza por ser dirigida a uma generalidade de
pessoas desconhecidas.
A previsão desta modalidade é feita, apenas subtilmente, no código civil a prepósito da
irrevogabilidade da proposta – art.230º/3.
Características:
o Indeterminação da pessoa do destinatário – o destinatário é o publico em geral;
o Fungibilidade do futuro contraente – tem de ser indiferente vender a A ou B
o Utilização do anúncio publico como meio de difusão
Para ser considerada uma oferta ao publico é necessário que compreenda os 3 requisitos:
completa, formal e firme. Presença de todos os elementos essenciais para qualificação da
declaração negocial como proposta, se não é convite a contratar.
É uma declaração negocial não receptícia, produzindo efeitos a partir do momento em que é
comunicada art.224º/1.
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A oferta ao publico pode ser revogada de forma mais acessível que as restantes propostas –
art.230º/3 – o proponente pode tirar a proposta, desde que o faça de forma adequada –
exceção à norma de não revogabilidade da proposta negocial.
É obvio que perante a aceitação de uma proposta, o destinatário fica sujeito a uma nova
situação jurídica: se ele aceitar faz surgir um contrato. Podemos assim dizer que ele fica titular
de um direito potestativo (situação ativa, que se caracteriza pelo poder de alterar,
unilateralmente, a esfera jurídica de outrem), visto que, o preponente fica sujeito à decisão do
destinatário da proposta, caso aceite, a esfera jurídica daquele é modificada.
Este Direito potestativo mantém-se enquanto a proposta for eficaz, ou seja, enquanto ela for
vinculativa. Todavia, por motivos de segurança jurídica, a vinculação do proponente à própria
proposta não pode ser eterna.
3 tipos de situações:
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Ex: se uma proposta for enviada no dia 1 de Outubro ela é eficaz até 7
de Outubro (3 dias para chegar e 3 para retomar)
Quando é enviado por mail ou plataforma similar, existe uma
presunção que esta chega no mesmo dia, portanto deverá revogar
nesse dia.
Art.228º/1/ c) – as partes não estabelecem prazo e a proposta é dirigida a um ausente
ou um presente, se tiver forma escrita
o Não existe nenhum prazo definido, neste caso
o A Código Civil estipula que a eficácia se mantem até ao momento em que, em
condições normais, a proposta e a resposta cheguem ao seu destino com o
acréscimo de 5 dias (3 de chega + 3 de vinda + 5 de acréscimo)
o Se esta for enviada por fax é 6 dias
o Se a proposta for feita a presente por escrito, o prazo começa logo a percorrer.
O prazo fixado é de 5 dias mais o necessário à receção da proposta e retoma
da resposta.
O proponente pode manter a proposta indefinidamente, declarando que está valido até
quando o destinatário quiser – neste caso, aplica-se a solução geral da prescrição dos direitos.
O prazo de prescrição é de 20 anos – art.309º - porém a doutrina afirma que é um prazo
excessivo. Nada impede, no entanto, que o proponente peça ao tribunal um prazo de validade
específico.
Quando o proponente muda de ideias, ele goza do direito de revogação, que é logo previsto
no art.228º/2, remetendo para o 230º. Todavia, o princípio geral da irrevogabilidade, ou seja,
uma vez que a proposta chegue à esfera de atuação do destinatário, com base no art.224º, o
seu autor não pode voltar atras. A lei admite duas situações de revogação da proposta:
Art.230º/1 – a proposta é revogada depois de chegar ao destinatário ou
que ele saiba da sua existência, salvo declaração em contrário. A proposta
pode ressalvar a possibilidade de o seu autor poder mudar de ideias.
Art.230º/2 – o proponente muda de ideias e envia a retração antes ou ao
mesmo tempo da proposta chegar à esfera jurídica do destinatário. Aqui a
retração prevalece.
Revogação:
Art.224º, 228º, 230º
Aceitação
A aceitação não pode acrescentar ou dispor critérios presentes na proposta, ela limita-se a
aceitá-la, conforme esta se encontra estruturada. Caso contrário, não tem validade
(art.233º/1ºparte).
Está é uma declaração reptícia, seguindo as normas do art.224º e os prazos do art.228º. Está
vinculada aos requisitos da proposta com um acréscimo de um: formal, completa, inequívoca
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(surge o consentimento), tempestiva (emitida em tempo útil, art.228º). Caso não respeite
qualquer um destes é invalida.
No que se refere ao requisito do tempo, o princípio geral é o da invalidade. Mas a lei prevê
situações intermedias (Art.229º) – a aceitação começa a produzir efeitos quando a proposta já
tenha cessado a sua eficácia:
A aceitação foi expedida fora do tempo. Para todos os efeitos ela é ineficaz, se o
proponente tiver intenção de consolidar o negócio, terá de enviar uma nova proposta.
A aceitação foi enviada dentro do prazo de validade, mas recebida depois. A lei
estabelece que o proponente deve avisar a outra parte que o contrato não se
celebrou, sob pena de responder pelos danos causados (229º/1). Se mesmo assim, o
preponente fizer questão do contrato, ele pode considerar a declaração de aceitação
eficaz (229º/2)
Palma Ramalho: não concorda com ao art.234º - deixa transparecer, enganosamente, que em
alguns casos não é necessário a aceitação para a conclusão do negocio. Realmente, o que
pretende transmitir é que por vezes, não é necessário comunicar a decisão de aceitar
A revogação da aceitação após a sua emissão – art.235º, todavia, não é uma revogação em
sentido próprio, mas sim uma retratação.
Caso a retratação chegue antes ou ao mesmo tempo que a aceitação, então a
aceitação é revogada – art.235º/2
Rejeição
Declaração negocial formulada pelo destinatário com o efeito de recusar a proposta. Ela pode
ser tácita ou expressa (art.217º), com a ressalva de que o silencio vale como rejeição. Caso o
destinatário pretenda recusar deve:
Emitir uma declaração de rejeição
Ou
Ignorar a proposta
Contraproposta
Consenso
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Liberdade Contratual
o Ela mantém-se ao longo de todo o processo
Contrato-promessa
o As partes podem vincular-se imediatamente ao contrato definitivo, ou seja,
comprometem-se a celebrar o negocio num momento posterior – art.410º
Pacto de preferência
o As partes acordam em que darão preferência à outra na eventualidade de
celebrar negocio – art.414º
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Art.219º e ss.
Forma - modo de expressão da declaração negocial, todas têm uma forma. Sendo assim, todo
o negocio tem forma, mesmo que seja informal ou não formal. Um negocio informal é aquele
onde não se exige uma forma especial.
Forma qualificada – quando a lei não exige apenas a adoção de certa forma, mas também que
do negocio constem certas e determinadas menções.
Nos casos em que a lei permite, a forma pode ser convencionada por ambas as partes,
com um único requisito: a forma tem de ser cognoscível para os contraentes, eles têm de ter
plena consciência das vontades implicadas no negocio que vão celebrar.
Quando a lei exige forma estamos perante um negocio formal, sendo uma exceção
pois a regra é da liberdade de forma.
2. Reflexão – se a forma do negócio é mais exigente, maior é a reflexão feita pelas partes
o que propicia uma decisão mais consciente. A reflexão é especialmente importante
quando estão em causa bens com maior valor económico. A lei é mais severa com
bens imoveis do que com bens móveis.
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É importante referir que estes preceitos estão desatualizados, atualmente, o valor dos bens
não assenta apenas no critério dos bens imoveis e moveis. As exigências de publicidade podem
ser asseguradas por outras vias, que não sejam a escrita. Desta maneira, a tendência é
diminuir a exigência de forma, compensando com o acréscimo de atos de registo das
transações.
A lei nada diz sobre qual a sanção a ser aplicada, então aplica-se a nulidade.
Alguns autores defendem que as consequências da falta de forma se devem, também,
estender aos negócios de forma convencional – art.223º
Se as partes escolhem obrigar-se por determinada forma, então o vicio de forma
também deve provocar a nulidade – art.220º
Palma Ramalho: duvidas sobre esta aplicação analógica do art.220º, defende que as
exigências de forma legal são sempre fundamento no interesse publico, mas os
negócios consensuais não são dotados de qualquer interesse geral, a não ser o
interesse dos contraentes. Torna-se assim excessiva, o vicio deve ter a consequência
da anulabilidade.
Regras no código civil que tendem para atenuar as consequências da forma legal:
o Conversão
o Interpretação dos negócios jurídicos formais
o Clausulas acessórias
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DIREITO CIVIL II
Forma legal – A lei é a origem da exigência da forma. Na falta da forma legal o negocio é nulo –
art.220º
Forma voluntária – aquela que não sendo exigida por lei, é adotada por opção do declarante –
art.222º
Forma convencional – forma escolhida pelas partes. Elas, em sede de formação do contrato,
estipulam qual a forma de celebração do negócio – art.223º
O art.221º dispõe que se for exigida determinada forma, essa exigência só se estende ao
núcleo fundamental do negócio jurídico. A forma não se estende a todos os elementos do
negocio, pois o princípio vigorante é o do consensualismo. Com efeito, um negocio será nulo
se no seu núcleo fundamental não tiver sido observada a forma legal imposta.
A lei é mais severa em relação aos atos acessórios anteriores à celebração do negocio, do que
aos atos posteriores:
Art.221º/1 – as estipulações mais relevantes anteriores à celebração do negocio
carecem dos mesmos requisitos de forma
Art.221º/2 – as estipulações posteriores ao ato de celebração só se sujeitam as
mesmas exigências de forma, se a lei estipular que as razões da exigência especial o
justificarem.
Esta diferença de exigência assenta em razões de reflexão. Os imperativos de maior reflexão
das partes são relevantes, sobretudo, no processo de formação do negocio, pois quando este
se concretiza, as partes já refletiram o suficiente, por isso, o legislador considerou o sistema
jurídico não deve ser tão severo posteriormente ao negócio.
Formas especiais
Quando a lei exige forma especial – art.219º/parte final, pode referir-se a dois tipos:
Forma escrita em documento exarado pelas partes
o É-lhes exigido a assinatura -art.373º - que permite confirmar a autenticidade
da declaração negocial, imputando-a ao seu autor
o Art.363º - Documentos particulares – são autenticados pelos particulares, com
a exigência mínima de assinatura:
Documentos particulares simples – sem outra exigência para alem da
assinatura
Documentos particulares autenticados/reconhecidos – exigem uma
certificação publica do conteúdo ou da identidade dos contraentes
Forma escrita em documento exarado por uma autoridade publica
o Art.363º - Documentos autênticos – aqueles que são exarados por uma
autoridade publica, dentro dos limites da sua competência
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Ana Figueiredo
DIREITO CIVIL II
Muitas vezes há interesses específicos que necessitam de uma tutela própria. Jhering
desenvolveu, a prepósito do direito subjetivo, a teoria do interesse, referindo-se ao interesse
juridicamente tutelado, isto é, interesses particulares que a Ordem Juridica protege:
Ele afirma que se de um contrato – que estava em processo de formação e não chegou
a ser realizado ou que foi celebrado, mas, num momento, posterior, foi considerado nulo por
ter um qualquer vicio – resultar danos para uma das partes por culpa da outra, existe direito
de indeminização. Assim, a parte que injustificadamente frustrou as expetativas da outra,
deve responder pelos danos causados, no decurso do processo negocial. Esta é a
configuração do instituto de culpa in contrahendo.
Estas situações não são sempre idênticas, estando dependentes de vários critérios, que
compõem o regime do art.227º.
No entanto, só o conflito entre estes dois princípios justifica o dever de indemnizar. As
partes devem-se comportar corretamente no âmbito do processo negocial e após a
celebração do contrato, ou seja, sob os desígnios da boa fé.
Enquadramento negocial:
o Os deveres das partes, no decorrer do processo de negociação, já são deveres
contratuais.
o Visto que, são dirigidos À formação de um contrato, sendo este um pré-
negocio ou um negocio preparativo do contrato final.
o Nota: só é acional juridicamente nos casos em que o contrato seja celebrado
Enquadramento legal
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Deveres legais:
Dever de informação
As partes devem fornecer todos os elementos necessários para permitir uma decisão
esclarecida e consciente.
Em certos negócios a lei é mais exigente quanto a este esclarecimento mutuo.
Limites:
Art.253º/2 – artifícios e sugestões naturais do comercio jurídico não
constituem dolo ilícito, todavia exige-se das partes uma diligencia mínima de
informação
Direito de reserva a certo tipo de informações, ou seja, existem certas
informações que se podem dar ou não, mediante um específico contrato. Há
questões que devem ser postas, mas se estas questões forem ilícitas ou
irrelevantes para o contrato, o questionado pode fazer uso do seu direito de
reserva e não responder – normalmente é a contratos de caracter pessoal,
porque por vezes, ultrapassam a esfera da vida privada. Quando estamos na
esfera de direitos pessoais, não há dever de informação.
Dever de lealdade
As partes devem comportar-se com respeito pelas expetativas da outra parte na formação do
contrato.
Limites:
Não deve impor um sacrifício desmesurado a uma das partes, obrigando esta a
fornecer informações não necessárias para a formação da vontade negocial da outra –
a jurisprudência tem se debruçado amplamente sobre esta matéria, identificando, em
alguns casos quebras do dever de lealdade na formação do contrato
Dever de proteção/segurança
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23/04/18
Gunther Haupt procurou refutar aquelas situações em que não houve qualquer manifestação
da vontade contratual, mas, ainda assim, o negocio produziu os seus efeitos. Dois tipos
distintos:
.
Vontade inicial foi viciada, sendo que o contato acaba por invalido. Porém, tratando-
se de um contrato continuado os efeitos foram produzidos durante algum tempo
o Ex: um contrato de arrendamento ou um contrato de trabalho que estiveram
em execução durante um determinado período de tempo e, posteriormente,
foram invalidados por um vício originário. No primeiro caso, o inquilino
ocupou o imóvel e pagou a respetiva renda. Na segunda situação, o sujeito
trabalhou e foi remunerado em concordância.
Comportamento concludentes em sentido estrito - Não há uma manifestação de
vontade de acordo, com um determinado sentido negocial. Todavia, por força de certo
comportamento, aplica-se o regime jurídico correspondente a um negocio. Ou seja, o
regime juridico aplica-se sem que a pessoas tenha declarado a sua intenção contratual
Assim o que se tem de conceber é a salvaguarda dos efeitos produzidos pelo negocio,
estipulando as situações nulidade que devem operar retroativamente e o momento a partir do
qual elas operam:
Definir que a declaração da nulidade não tem efeitos retroativos , sendo uma exceção
ao regime geral da nulidade
Considerar que os efeitos do negocio se produziram ao abrigo de uma relação de facto
e não de uma relação jurídica. Pois, a situação não era valida, mas mesmo assim os
efeitos foram produzidos por um certo tempo. Durante o tempo em que o negocio foi
executado estamos perante uma relação contratual de facto.
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Ana Figueiredo
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No nosso sistema jurídico a ressalva dos efeitos produzidos, por um negócio jurídico inválido
mas continuando no tempo, é possibilitada pela regra da não retroatividade dos efeitos da
nulidade, prevista pela lei em algumas situações.
1. Elementos essenciais
Art.1º/1 do diploma das clausulas contratuais gerais, permite identificar os três elementos
essenciais:
Pré-elaboração – as clausulas contratuais gerais são preposições negociais
previamente feitas e apresentadas em bloco, aos destinatários.
Rigidez – não permitem alterações
Generalidade/indeterminação dos destinatários – destinam-se a um numero
indeterminado de sujeitos
2. Características gerais
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3. Vantagens/Desvantagens
Vantagens:
Facilita o comercio juridico de massas
Uniformiza os modelos de contratação pelas empresas, tratnado de forma semelhante
todos os contraentes
Desvantagens
Facilidade com que este tipo de contratação pode dar lugar a abusas, dos seus autores.
4. Regime jurídico
Diploma que surge em 1985 e é denominado por “lei das clausulas contratuais gerais”
Estes contratos estavam sujeitos às regras comuns da contratação, no entanto, aplicar-
se o esquema da propostas e aceitação aqui é inviável, sendo ineficaz.
O código civil optou por incluir normas de proteção da parte mais fraca, quando o
negócio tivesse sido celebrado com recurso a cláusulas contratuais gerais.
Criou-se então um quadro legal específico.
O direito europeu prenunciou-se sobre a matéria, através da diretiva 1993.
Alterações do diploma lei das clausulas contratuais gerais:
o 1995
o 1999 – Estendeu o regime jurídico das clausulas contratuais gerais a outras
situações de contratação com consumidores em que não tenha havido pré-
negociação individual – art.1º/2
Art.1º/1
A lei aplica-se às clausulas contratuais geras pré-elaboradas, com o requisito dos
destinatários apenas se limitarem a aceitá-las
Art.1º/2
A lei aplica-se, também, a clausulas pré-elaboradas inseridas em contratos elaborados
individualizados, relativamente às quais a contraparte não tem liberdade de estipulação –
contratos pré-formulados, ou seja, contratos por adesão - não se trata de clausulas
contratuais gerais pois faltam as características de generalidade e abstração.
Art.2º
A lei abrange todas as clausulas contratuais gerais do negocio desde que não tenham
sido alvo de pré-negociação, independentemente da sua forma de comunicação.
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Não exclui à partida nenhuma parte do conteúdo dos contratos, porém pode suceder
que algumas clausulas sejam objeto de negociação individual, ao passo que o mesmo não
acontece com outras – a lei abrange apenas as clausulas que não sejam sujeitas a negociação
A lei estabelece que o ónus da prova da clausula negociada cabe à parte que pretenda
o prevalecer da mesma
Art.3º
A lei tem como âmbito central de aplicação o domínio obrigacional, não devendo
interferir com outras formas de proteção do contraente que possam existir. O regime não é
aplicado:
Em relação a clausulas típicas aprovadas pelo legislador ou resultantes de tratados e
convenções internacionais;
A contratos submetidos ao Direito Público
A clausulas de convenções coletivas de trabalho
A atos e negócios no âmbito do direito da família e das sucessões.
4.2.Principais especificidades
Art.4º
As cláusulas, sendo formuladas unilateralmente por uma das partes, só se incluem nos
contratos singulares se a contraparte aceitar (232º do CC)
Todavia, pelas especificidades deste processo negocial, a lei estabelece alguns deveres
especiais, que condicionam a validade das clausulas na fase de formação dos contratos.
Dever de comunicação – art.5º - as clausulas contratuais gerais devem ser
comunicadas na integra, na forma adequada e com antecedência suficiente, para que
a outra parte possa formar a sua vontade contratual.
Dever de informação – art.6º - o autor da celebração, que contenha as clausilas deve
esclarecer a outra parte sobre os aspetos do respetivo conteúdo. Dever é uma
concretização do art.227º do CC.
Caso as clausulas não tenham sido devidamente comunicadas, visando a sua incorreta
interpretação ou se a contraparte não tenha sido informada sobre o conteúdo então estas são
consideradas excluídas dos contratos singulares (Art.8º). Sanção mais forte do que a prevista
no art.227º do CC.
Por outro lado, nos casos dos contratos que contenham clausulas contratuais gerais e
cláusulas negociadas, o art.7º defende que as clausulas contratuais gerais que contrariam as
disposições acordadas não o integram, sendo assim as clausulas negociadas prevalecem sobre
as contratuais gerais.
A lei veda a inclusão nos contratos das clausulas surpresas – art.8º/c)/d) – são aquelas
clausulas que não foram inicialmente integradas e que só surgem no momento final da
celebração do contrato, bem como aquelas que passam despercebidas ao destinatário.
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DIREITO CIVIL II
O que acontece se houver inclusão das partes contratuais gerais nos contratos
singulares em contravenção com o art.8º. Surge assim o art.9º:
Regra geral, o contrato subsiste sem as clausulas
Se a falta destas tornar o negocio irrealizável ou extremamente
desequilibrado, por se tratarem de elementos essenciais, opta-se pela
nulidade
O princípio geral da proibição das clausulas contratuais gerais contrárias à boa-fé (art.15º e
16º)
4.5. Nulidade
As clausulas proibidas são nulas, mas esta nulidade tem um efeito diferente ao nível de cada
contrato singular e geral
Contrato singular
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o As clausulas são nulas em si, sendo que o aderente pode optar pela
manutenção do contrato, desde que estas já não façam parte do conteúdo –
art.13º.
o No caso de o negócio ser insuprível, sem as referidas clausulas, é que se
recorre a nulidade – art.14º
Contrato geral
o Há um efeito que possibilita a promoção de uma ação (inibitória) para evitar a
inclusão de clausulas formularias em futuros contratos. Independentemente
de cada contrato, é possível promover uma ação para retirar aquelas clausulas
dos formulários, para não serem mais utilizadas – art.25º
A própria lei cai numa certa confusão de planos, confundindo o objeto com o
conteúdo. O art.280º refere-se ao objeto negocial. Porém, na verdade, o teor desta palavra
não se refere apenas aos vícios do objeto negocial, mas também ao conteúdo.
Elementos integrativos
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Possibilidade e determinabilidade
1. Possibilidade
A possibilidade diz que o objeto, o conteúdo e o fim do negócio têm de ser possíveis, caso
contrário, o negócio é nulo.
A lei admite que se realizem negócios sobre bens futuros (bens que ainda não existem
ou que não estão na disponibilidade do contraente)
o Impossibilidade absoluta/objetiva vs. Impossibilidade relativa/subjetiva
Impossibilidade absoluta – o objeto é inviável em qualquer negócio
Impossibilidade relativa – o objeto é inviável apenas para aquele
sujeito
o Impossibilidade definitiva vs. Impossibilidade temporária
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2. Determinabilidade
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o Ordem pública
Regra geral de limitação da autonomia privada que remete para
princípios estruturantes da ordem jurídica.
Elementos essências – são aqueles elementos que caracterizam o negócio, sempre de forma
cumulativa, sem eles o negócio desqualifica-se
Elementos acessórios – elementos que surgem da vontade das partes, mas não são relevantes
para caracterizar o negócio
1. Condição
Art.270º e seguintes.
As partes podem subordinar a um acontecimento futuro e incerto a produção dos
efeitos do negócio jurídico ou a sua resolução.
É uma clausula negocial acessória típica que faz depender os efeitos do negócio de um
evento futuro e incerto.
Características:
o Incerteza
o Tem como fim condicionar o negócio jurídico
Existe uma exceção que permite que a condição seja certa, mas ela terá de ser na sua
essência incerta. Ou seja, o momento da realização da condição pode ter um prazo
determinado. Porém, é imperativo que não se tenha certezas sobre a concretização
efetiva.
A ordem jurídica proíbe que alguns negócios se realizem por condição
o Ex: 1618º
Modalidades da condição
o Art.270º
o Condição suspensiva – o negócio só produz efeitos se/quando ocorrer o
acontecimento futuro e incerto
o Condição resolutiva – quando o negócio, que estiver em curso, deixar de
produzir efeitos se/quando ocorrer a condição
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Condições inadmissíveis
o Apesar do princípio geral: as partes podem dar à condição o conteúdo que
entenderem. O art.271º estabelece algumas limitações.
o A lei não admite
Que conste num negócio jurídico uma condição que a contradiga ou
que seja contrária aos bons costumes e à ordem pública – art.280º -
negócio nulo
Que possa ser imposta a condição suspensiva que seja física ou
legalmente impossível – negócio nulo.
o O art.271º/2, afirma que o caso da condição resolutiva, determinando que
esta se tem como não escrita – o negócio vale como se não houvesse
condição. A nulidade só afeta a condição, pois em termos de ter em
consideração que o negócio já está em produção (Palma Ramalho)
Menezes Cordeiro afirma que todas as condições ilícitas devem ser
sujeitas à nulidade.
o Sem ser na exceção do caso 271º/2, o negócio, não vale no seu todo.
Pendência da condição
o Como é as partes se devem comportar na pendência de uma condição –
art.272º
o Condição pendente – desde o momento em que o negócio seja celebrado até
que se verifique a condição ou que haja certezas de que ela não se pode
verificar-se, diz-se que a condição está pendente.
o Conflito de interesses, visto que uma das partes irá beneficiar daquela
condição, ao passo que a outra será prejudicada.
o A lei estipula assim que as partes se devem comportar segundo os ditames da
boa fé. Surgem assim outras regras menores relativas aos atos que podem ser
praticados durantes esta fase do negócio:
Atos conservatórios – art.273º - se for necessário praticar atos de
conservação do objeto, estes podem ser realizados livremente.
Atos de disposição do objeto – Art.274º - estes atos podem ser
praticados, mas os efeitos dependem do destino final do negócio.
Retroatividade
o Art.276º - o princípio da retroatividade da condição.
o Os efeitos do negócio se retroagem à data da conclusão do mesmo – regra
geral.
o Não é uma regra forte:
As partes podem sempre estabelecer a não retroatividade dos efeitos
do negócio
Certos negócios a regra aplicada não é a da retroação, mas a dos
efeitos produzidos para o futuro
Ex: contratos continuados – art.277º
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DIREITO CIVIL II
2. Termo
Art.278 e 279º
Clausula típica pela qual as partes subordinam a um acontecimento futuro e certo o
começo ou cessação dos efeitos do negócio jurídico.
Em muitos aspetos este regime remete para o da condição.
3. Modo/encargo
Clausula típica dos negócios gratuitos, podendo ser inter vivos (doação) ou mortis
causa (testamento).
Limita o valor da liberdade, impondo ao beneficiário um cumprimento de algo, sendo
esse algo um encargo.
Diminui o espírito gratuito do negócio.
Pode ter um teor patrimonial ou não patrimonial.
Encargos proibidos:
o Art.967º
Ilícitos
Contrários à ordem pública
Contrários aos bons costumes
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DIREITO CIVIL II
4. Sinal
Art.440º
Clausula típica dos negócios onerosos cujo cumprimento seja diferido no tempo.
Uma das partes entrega à outra uma parcela do valor da prestação devida para melhor
assegurar o cumprimento do negócio
Incumprimento:
o Por parte do comprador – perde o sinal
o Por parte do vendedor – paga o sinal em dobro
5. Clausula penal
1. Interpretação
Art.236º e ss.
A interpretação não se dedica a uma declaração considerada isoladamente, mas sim a
todos os constituintes do negócio, nomeadamente, o consenso produzido pela
conjugação da proposta e da aceitação.
O negócio jurídico deve ser interpretado no seu todo, em moldes unitários.
O negócio é o objeto da interpretação e não a declaração
Todas as declarações negociias são alvo de uma interpretação, pois é necessário que
se retire de cada uma delas o seu sentido jurídico – todas têm um significado.
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Elementos da interpretação
o Elemento histórico - antecedentes do negócio
o Elemento sistemático – contexto jurídico
o Elemento teológico – objetivo último
o Elemento literal – o que está expresso na declaração
Palma Ramalho
O art.236º revela uma situação de compromisso quanto aos critérios de interpretação
do negócio. Todavia, a regra essencial é a do nº2 – a declaração vale de acrodo com a
vontade real das partes ou do seu conhecimento
Só no caso de não haver conhecimento da vontade rela é que se aplica a regra da
teoria da impressão do destinatário (nº1)
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DIREITO CIVIL II
Regras especiais
A integração está relacionada com aquela parcela do conteúdo do negócio jurídico que
as partes não previram.
Importa ter em consideração que nem tudo o que as partes não preveem constitui
uma lacuna. Apenas existe lacuna quando as partes não podem recorrer às regras
gerais supletivas para regular a referida parcela.
No entanto, a norma subjetiva tem um limite: a boa fé. Quando a solução for imposta pelos
ditames da boa-fé, então é por essa via que deve seguir a interpretação.
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Por vezes, o código civil dá primazia à autonomia privada, noutras à tutela da confiança.
Consoante o negócio em questão e a gravidade do vício. Assim, o negócio viciado nem sempre
é viciado.
Vícios da vontade:
Dificuldade na formação da vontade do autor da declaração. Porque ele não teve vontade
negocial ou porque a sua vontade foi incorretamente formal.
II. Vontade malformada – declarante quis celebrar o negócio, mas não nas condições
a) Coação moral (255.º) – falta de liberdade do sujeito
b) Erro
o Sobre o sujeito – 251º
o Sobre o objeto – 251º
o Sobre o motivo – 252º
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DIREITO CIVIL II
Vícios da declaração
Sendo a vontade bem formada, ela é mal expressa
I. Vício Intencional
a. Erro na declaração – 247º
b. Erro de escrita ou de calculo – 249º
c. Erro na transmissão – 250º
II. Vício não intencional
a. Reserva mental – 244º
b. Simulação – 240º
Regime jurídico
Art.246º - falta de consciência da declaração como, também, da coação física. A regra geral diz
que a declaração não produz qualquer efeito. Se ela produzir, o interesse que está a tutelar é o
do declarante.
Aqui, dentro do equilíbrio dos dois princípios do negócio jurídico o que se protege é a
autonomia privada. No entanto, se a falta de consciência for devida a culpa, o declarante fica
sujeito ao dever de indemnizar o declaratário.
Tutela do declarante mitigada pela possibilidade indemnizatória
o Oliveira de Ascensão – a consequência é a inexistência.
o Palma Ramalho – a consequência é a nulidade
Como se prova a falta de consciência:
o A figura é de tal ordem difícil de aplicar que não pode ser autonomizada,
sendo aplicada de forma excecional e residual – a doutrina propõe uma
interpretação restritiva desta normal (246º) – defendem que é necessária uma
total falta de consciência da declaração.
2- Incapacidade acidental
Art.257º - está relacionado com aquelas situações em que uma declaração negocial é emitida
por alguém, que naquele momento, estava privado da capacidade de compreender o
conteúdo/sentido da declaração.
O regime estipula que o negócio é anulável se estiverem presentes os requisitos: o facto de ser
notório ou conhecido pela contraparte.
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DIREITO CIVIL II
245º - declarações que são emitidas sem vontade, na expetativa que o declaratário soubesse
desse facto. O objetivo destas declarações não é de todo negocial.
Nem sempre é fácil distinguir entre a declaração não seria e falta de consciência da declaração.
Nem sempre é fácil distinguir entre a declaração não seria e a reserva mental.
Reserva mental, tal como na declaração não seria, o declarante age de uma forma, mas pensa
noutra.
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