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Resumos Direito de Insolvência Menezes Leitão

Direito Comercial (Universidade de Lisboa)

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DIREITO DE INSOLVÊNCIA – MENEZES LEITÃO

Introdução

Insolvência traduz a situação daquele que está impossibilitado de cumprir as suas obrigações,
normalmente por ausência da necessária liquidez em momento determinado, ou em certos
casos porque o total das suas responsabilidades excede os bens de que pode dispor para as
satisfazer

O direito da insolvência abrange as consequências resultantes da impossibilidade de


cumprimento pelo devedor das suas obrigações, designadamente:

a) A situação do devedor
b) As medidas de conservação e liquidação do seu património
c) Eventuais medidas de recuperação que venham a ser determinadas
d) A determinação e a graduação dos direitos dos credores
e) A satisfação dos direitos dos credores

Assim, o direito da insolvência pode ser considerado como o complexo de normas jurídicas que
tutelam a situação do devedor insolvente e a satisfação dos direitos dos seus credores

Consiste essencialmente num direito substantivo, de natureza privada, constituindo um ramo


próprio da responsabilidade patrimonial

Artigo 601 CC – pelo cumprimento da obrigação respondem todos os bens do devedor


suscetíveis de penhora

Artigo 817 CC – não sendo a obrigação voluntariamente cumprida, o credor tem o direito de
exigir judicialmente o seu cumprimento e de executar o património do devedor

Assim, tem também uma forte componente processual, dado que, por necessidade da tutela
dos direitos do devedor e dos credores envolvidos, é necessária a intervenção do tribunal,
coadjuvando pelos órgãos da insolvência

Embora o CIRE regule essencialmente os aspetos substantivos da insolvência, encontra-se


estruturado em torno do processo de insolvência

O processo de insolvência

Em termos restritos, o processo de insolvência consiste numa sequencia ordenada de atos que
se inicia com a apresentação à insolvência (artigos 18 e 19 CIRE) ou o pedido da sua declaração
(artigos 20 e ss CIRE) e se conclui com o pagamento aos credores (artigos 172 e ss CIRE e 230/a
CIRE) ou com algumas das causas de extinção do processo (artigo 230/b,c,d,e CIRE)

Em termos amplos, o processo abrange ainda as tramitações estruturalmente autónomas que


surgem na dependência do processo de insolvência, em consequência da declaração de
insolvência, como os embargos à sentença declaratória de insolvência (artigos 40 e ss CIRE), as
ações apensas ao respetivo processo (artigos 85 e ss CIRE), a resolução em benefício da massa
insolvente (artigos 120 e ss CIRE), a verificação dos créditos (artigos 128 e ss CIRE) e a
restituição e separação dos bens (artigos 141 e ss CIRE) – conceção do processo de insolvência
expresso pelo legislador

A insolvência constitui uma ação executiva, visto que tem como finalidade a obtenção de
providencias adequadas à reparação efetiva de direitos de crédito violados

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No entanto, é uma execução com características especiais, pois é coletiva, genérica/total e


resulta de processo especial – processo de elevada complexidade, envolvendo múltiplas
atividades repartidas pelas fases declarativa e executiva

A sua definição como execução coletiva deve-se ao facto de o seu fim ser a satisfação dos
direitos de todos os credores de um devedor – visa o tratamento igualitário de todos os
credores do devedor (par conditio creditorum)

Através do processo de insolvência, efetua-se a reunião de todos os credores em assembleia,


para os quais se institui a administração do património do devedor através de um
administrador de insolvência que, sob fiscalização do tribunal, procura obter a melhor
valorização possível desse património e proceder à sua repartição pelos credores em termos
igualitários

A sua definição como execução genérica/total explica-se pelo facto de abranger todo o
património do devedor e não apenas os bens necessários para fazer face a algum ou alguns
créditos determinados – pode implicar a execução de todo o património do devedor para
efeitos de pagamento aos credores, caso seja a melhor forma de obter a satisfação dos seus
direitos

Consequentemente, o processo pode terminar quer com a liquidação e repartição do produto


pelos credores, quer com a aprovação de um plano de insolvência que assegure outra forma de
satisfação aos credores, podendo passar pela recuperação da empresa compreendida na massa
insolvente

A insolvência constitui uma forma de execução para pagamento de quantia certa – envolve um
processo de liquidação destinado a converter em dinheiro os bens do insolvente e a atribuir
aos credores o pagamento respetivo

Constitui um processo especial pois afasta-se do regime comum das execuções, só sendo o CPC
aplicado a título subsidiário nos termos do artigo 17

O processo de insolvência apresenta aliás desvios em relação aos princípios comuns do


processo civil: no artigo 11 do CIRE consagra-se o principio do inquisitório, nos termos do
artigo 12 do CIRE afasta-se o principio do contraditório e nos termos do artigo 14 CIRE existe
apenas um grau de recurso

Evolução regime da insolvência em PT

1ª fase – sistema de falência-liquidação (até ao CPC de 1961)

Fim do processo de falência era assegurar aos credores a satisfação dos seus direitos através da
liquidação integral do património do falido, procedendo simultaneamente à sua punição

Consagração de falência como instituto privativo dos comerciantes

Consagração de insolvência como situação dos não comerciantes

2ª fase – sistema da falência-saneamento (desde o CPC de 1961 até ao CIRE)

Regulação do processo especial de recuperação de empresas, jurisdicionalizando parcialmente


as medidas de recuperação de empresas

Instituição de um processo judicial alternativo ao processo de falência

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3ª fase – regresso ao sistema de falência-liquidação (CIRE 2004)

Retorno ao sistema de falência-liquidação

Finalidade do processo de insolvência é a liquidação do património de um devedor insolvente e


a repartição do produto obtido pelos credores ou a satisfação destes pela forma prevista num
plano de insolvência que se baseie na recuperação da empresa compreendida na massa
insolvente – artigo 1

Fim principal deixa de ser a recuperação da empresa, passando a ter como fim único a
satisfação dos credores – recuperação da empresa vista como mero instrumento

Eventual recuperação de empresa encontra-se totalmente na esfera de decisão dos credores

Situação de insolvência

Critérios para a definição da situação de insolvência

Ser insolvente significa ser incapaz de cumprir as suas obrigações

Essa incapacidade pode ser atribuída atraves de dois critérios principais

1. Critério do fluxo da caixa (cash flow)


Devedor é insolvente logo que torna incapaz, por ausência de liquidez suficiente, de
pagar as suas dividas quando estas se vencem
Facto de ativo ser superior ao passivo é irrelevante, insolvência ocorre logo que se
verifica impossibilidade de pagar dividas que surgem regularmente na sua atividade
2. Critério do balanço ou do ativo patrimonial (balance sheet ou asset)
Insolvência resulta do facto de os bens do devedor serem insuficientes para
cumprimento integral das suas obrigações
Fator decisivo é o facto do conjunto dos seus bens não permitir satisfazer as suas
responsabilidades

Critério da lei portuguesa

Insolvência é genericamente definida como a impossibilidade de cumprimento das obrigações


vencidas – artigo 3/1 CIRE – o que pressupõe a adoção do critério do fluxo da caixa

Consequentemente, face à rejeição do critério do balanco, a insolvência não corresponde à


mera insuficiente patrimonial, ou seja, a uma situação de liquidez negativa

Efetivamente, a situação líquida negativa não implica insolvência do devedor se o recurso ao


credito lhe permitir cumprir pontualmente as suas obrigações, assim como uma situação
líquida positiva não afasta a situação de insolvência caso se comprove que a falta de crédito
não permite ao devedor superar a carência de liquidez para cumprir as suas obrigações

No entanto, a lei admite a aplicação do critério do balanço em certos casos

A insolvência patrimonial funciona como um critério acessório de definição de insolvência,


aplicável às pessoas coletivas e aos “patrimónios autónomos por cujas dividas nenhuma pessoa
singular responda pessoal e ilimitadamente, por forma direta ou indireta”, os quais são ainda
considerados insolventes quando o seu passivo seja manifestamente superior ao ativo – artigo
3/2 CIRE

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Estas entidades permanecem sujeitas ao critério geral constante do artigo 3/1 CIRE,
funcionando o critério de balanço previsto no artigo 3/2 como um critério alternativo

Assim, estas entidades podem ser declaradas insolventes em caso de o balanço demonstrar a
manifesta inferioridade do passivo em relação ao ativo, independentemente da natureza do
passivo ou do vencimento das obrigações

No entanto, dado que os balanços comerciais têm um significado limitado para efeitos de
insolvência, o artigo 3/3 CIRE permite para efeitos de insolvência a consideração de outros
elementos identificáveis, mesmo que não constante do balanço, a valorização de empresa com
a determinação do valor do seu património em caso de alienação imediata e numa perspetiva
de continuidade

Finalmente, possibilita-se a não consideração no passivo das dividas que só tenham que ser
pagas à custa de fundos distribuídos ou com base no ativo sobrante, após serem satisfeitos ou
acautelados os direitos dos credores – certos créditos subordinados, como créditos por
suprimentos (artigo 48/g CIRE) também devem ser aqui incluídos

Insolvência atual é ainda equiparada a insolvência iminente nos casos em que o devedor se
apresente à insolvência– artigo 3/4 CIRE

Sujeitos passivos de declaração de insolvência

Sujeitos passivos abrangidos pelo regime comum da insolvência

Elenco dos sujeitos passivos da insolvência compreende tanto pessoas singulares e coletivas
como também outras entidades, normalmente designadas como pessoas rudimentares ou
patrimónios autónomos – artigo 2/1 CIRE

Em relação às pessoas singulares, podem ser sempre declaradas insolventes,


independentemente de serem ou não economicamente independentes ou de terem plena
capacidade jurídica

Insolvência das pessoas singulares é sujeita a regras especiais, de que se destaca a


possibilidade de solicitar a exoneração do passivo restante (artigos 235 e ss CIRE)

As pessoas singulares sujeitas à insolvência podem ser ou não empresários, sendo que a
insolvência dos não empresários ou titulares de pequenas empresas é também sujeita a regime
especial – artigos 249 e ss CIRE

Se a pessoa singular for empresária, não há qualquer distinção entre o seu património privado
e o património da empresa – todo o património do devedor responde pelas dívidas
empresariais

Em relação às pessoas coletivas (associações, fundações, sociedades comerciais, sociedades


civis sob forma comercial, cooperativas), a declaração de insolvência acarreta normalmente a
sua dissolução – artigos 182/1 CC, 192/1 CC, 141/1e CSC

É igualmente considerada como sujeito passivo da declaração de insolvência a herança jacente


– artigos 2/1b CIRE, 2046 CC, 2062 CC

Também são considerados sujeitos passivos de insolvência as associações sem personalidade


jurídica e as comissões especiais – artigo 2/1c CIRE – sendo que as pessoas singulares que as
compõem respondem ilimitadamente pelas dividas que elas contraíram

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Face ao artigo 2/1d CIRE são também sujeitos passivos de insolvência as sociedades civis, que
também se dissolvem com a declaração de insolvência de acordo com o artigo 1007 CC, bem
como as sociedades comerciais e as sociedades civis sob forma comercial de acordo com o
artigo 2/1e CIRE e as cooperativas, face ao artigo 2/1f CIRE

Pode ser igualmente declarado insolvente o estabelecimento individual de responsabilidade


limitada de acordo com o artigo 2/1g CIRE

Finalmente, podem ser declarados insolventes quaisquer outros patrimónios autónomos de


acordo com o artigo 2/1h CIRE, sendo a insolvência restrita a uma parte do seu património
sujeita a um regime especial de responsabilidade por dívidas, tratando-se de uma insolvência
particular

Regimes especiais

O artigo 2/2 CIRE vem consagrar uma exclusão total de aplicabilidade no caso das pessoas
coletivas públicas e entidades públicas empresariais e uma aplicabilidade condicionada à
inexistência de disposição especial incompatível com o reu regime, como sucede com as
empresas de seguros, instituições de crédito, sociedades financeiras, empresas de
investimento

Massa insolvente

Âmbito e a função encontram-se definidos no artigo 46 CIRE

Em termos de âmbito, abrange todo o património do devedor à data da declaração de


insolvência, bem como os bens e direitos que adquira na pendência do processo

Em termos de função, destina-se primordialmente à satisfação das dívidas da própria massa


insolvente – artigo 51 CIRE – e posteriormente dos créditos sobre a insolvência, adquirindo a
qualificação de património de afetação

Em relação aos bens e diretos que compõe a massa insolvente, correspondem à totalidade do
património do devedor à data da declaração de insolvência – artigo 601 CC

Devem considerar-se integrados na massa insolvente os bens dos responsáveis legais das
dívidas do insolvente, ou seja, das pessoas que respondem pessoal e ilimitadamente pela
generalidade das suas dívidas, ainda que a titulo subsidiário – artigo 6/2 CIRE – nomeadamente
o sócio único (artigo 84 CSC), os sócios em nome coletivo (artigo 175/1 CSC) ou comanditados
(artigo 465/1 CSC), podendo ainda ser responsabilizados por essas dívidas os gerentes e
administradores de quaisquer sociedades (artigo 78/1,4 CSC) quando o património social se
torne insuficiente para a satisfação de créditos

No caso de o insolvente ser casado em regime de comunhão de bens ou adquiridos, a massa


insolvente compreende não apenas os bens próprios, mas também a meação do cônjuge
insolvente nos bens comuns – artigo 1696 CC

Caso ambos os cônjuges se encontrem em situação de insolvência, podem apresentar


simultaneamente à insolvência ou esta ser requerida contra ambos – artigo 264 e ss CIRE

No caso de o cônjuge do insolvente não ser parte do processo, o mesmo adquire o direito de
separar da massa insolvente os seus bens próprios e a sua meação nos bens comuns – artigo
141/1b

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A massa insolvente compreende ainda os bens que o devedor for adquirindo na pendência do
processo e aqueles que forem sendo reintegrados no mesmo através do exercício pelo
administrador de insolvência da resolução em benefício da massa – artigos 120 e ss CIRE

Em termos de exclusões, não são compreendidos na massa insolvente os bens absoluta ou


totalmente impenhoráveis (artigo 822 CPC)

Os bens relativamente impenhoráveis (artigo 823 CPC) e os bens parcialmente impenhoráveis


(artigo 824 CPC) apenas podem ser integrados se forem voluntariamente apresentados pelo
devedor – artigo 46/2 CIRE

Também não são compreendidos na massa insolvente os bens pertencentes ao devedor que
sejam objeto de restrição de responsabilidade pelas obrigações desde, como suncede com os
bens adquiridos pelo mandatário em execução do mandato sem representação

Classificação dos créditos

Na situação de insolvência verifica-se um desequilíbrio entre o ativo e o passivo do insolvente,


o que torna importante determinar quais os bens e direitos que integram o seu ativo (massa
insolvente), mas também quais as obrigações que esse ativo pode vir a ser chamado a
satisfazer, ou seja, qual o passivo do insolvente

Assim, o passivo do insolvente corresponde ao conjunto de créditos que podem ser exercidos
contra o insolvente

A massa insolvente deve primordialmente satisfazer aqueles créditos que são consequência da
própria situação de insolvência – as dívidas da massa insolvente (artigo 51 CIRE)

Só após a satisfação destes créditos é que se procede ao pagamento dos créditos anteriores à
própria insolvência ou que tenham sido adquiridos no decurso do processo, denominados
créditos sobre a insolvência (artigos 46 e ss CIRE)

Dívidas da massa insolvente

Fundamento reside na própria situação de insolvência

Artigo 51/1a – custas do próprio processo de insolvência

Artigo 51/1b – remunerações do administrador de insolvência e despesas deste e dos órgãos


da insolvência

Artigo 51/1c – dividas emergentes de atos de administração, liquidação e partilha da massa

Artigo 172 CIRE determina que devem ser satisfeitas antes dos créditos sobre a insolvência,
ocorrendo o pagamento na data do respetivo vencimento, seja qual for o estado do processo

Não estão por isso sujeitas a processo de verificação e graduação de créditos pelo que não têm
de ser reclamadas (artigo 128 e ss), podendo os respetivos credores exigir diretamente o seu
pagamento ao administrador de insolvência

Em caso de insuficiência de massa insolvente para satisfação das suas dívidas que tenham sido
constituídas por ato do seu administrador, o mesmo é responsável pessoalmente por essas
dívidas perante os respetivos credores, podendo elidir a sua responsabilidade mostrando que a
insuficiência da massa era previsível (artigo 59/2)

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Créditos sobre a insolvência

Créditos sobre o insolvente que tenham natureza patrimonial, ou sejam garantidos por bens
integrantes da massa insolvente, cujo fundamento seja anterior à massa de insolvência (artigo
47/1) e ainda aqueles cujos titulares mostrem tê-los adquirido no decurso do processo (artigo
47/3)

Não podem revestir a natureza de dívidas da massa insolvente

Distinção entre categorias de créditos da insolvência (artigo 47/4):

- Créditos garantidos

Beneficiam de garantia real, considerando-se como tal também os privilégios especiais

Abrangem também a consignação de rendimentos, o penhor, a hipoteca e o direito de retenção

Créditos pessoais não integram esta categoria

- Créditos privilegiados

Beneficiam de privilégios creditórios gerais (mobiliários ou imobiliários), os quais não


constituem garantias reais por não incidirem sobre coisas determinadas

- Créditos subordinados

Créditos enfraquecidos

Satisfeitos depois dos restantes

- Créditos comuns

Não beneficiam de garantia geral ou privilégio

Não são objeto de subordinação

Órgãos da insolvência

Tribunal

Competência em razão da matéria atribuída a tribunais de comércio

Competência em razão do território atribuída ao tribunal da sede ou domicílio do devedor –


artigo 7

Administrador da insolvência

Lei 22/2013

Administração tem de ser atribuída a um administrador autónomo do devedor – administrador


da insolvência

Tendencialmente essa atribuição tem caráter absoluto com a integral subtração ao devedor e
seus administradores (artigo 6), dos poderes de administração da massa insolvente, os quais
ficam a pertencer ao administrador de insolvência (artigo 81)

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Pode, porém, ter caráter meramente relativo, no caso de administração da massa insolvente
pelo devedor (artigo 223), caso em que a intervenção do administrador da insolvência se limita
à fiscalização e aprovação dos atos mais importantes (artigo 226)

O administrador da insolvência é escolhido pelo juiz (artigo 52)

CONTINUAR ORGAOS PAGINA 52 – 60 PDF

Pedido da declaração de insolvência

Legitimidade

O processo de insolvência inicia-se com o pedido de declaração de insolvência – artigos 18 e ss

A legitimidade para apresentar o pedido incumbe primeiramente ao devedor, remetendo para


o seu representante legal caso seja incapaz e para o órgão social incumbido da sua
administração caso seja pessoa coletiva

Para além do próprio devedor, têm legitimidade para requerer a insolvência aqueles que forem
responsáveis legalmente pelas suas dívidas, qualquer credor e o Ministério Público – artigo
20/1

PÁGINA 61 A 70

Sentença de declaração de insolvência e os seus efeitos

A sentença de declaração de insolvência deve obedecer ao conteúdo do artigo 36

Indica o devedor insolvente, nomeia o administrador da insolvência, podendo determinar que


a administração da massa será assegurada pelo próprio devedor quando se verifiquem os
pressupostos do artigo 224/2

Juiz pode ainda nomear uma comissão de credores – artigo 66

Hipótese de insuficiência da massa insolvente

No caso de o juiz concluir que o património do devedor não é presumivelmente suficiente para
a satisfação das custas do processo e das dívidas previsíveis da massa insolvente, o que se
presume sempre que esse património seja inferior a 5000 euros (artigo 39/9), pode ocorrer o
encerramento do processo logo após o trânsito em julgado da sentença, sendo o processo
declarado findo (artigos 39, 230/1d, 232/5)

Artigo 39

Efeitos sobre o insolvente

Transferência dos poderes de administração e disposição dos bens da massa insolvente para
o administrador de insolvência

De acordo com o artigo 81/1, a declaração de insolvência priva imediatamente o insolvente dos
poderes de administração e disposição dos bens integrantes da massa insolvente, os quais
passam a competir ao administrador de insolvência

Perde a posse material e as faculdade de administração e disposição quer dos bens que possui
aquando da declaração de insolvência, quer dos bens e rendimentos que lhe advenham no
futuro (artigo 46)

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Privação não se estende a bens excluídos da massa insolvente, como os impenhoráveis, ou a


negócios obrigacionais

Ainda que a privação de faculdade de administração dos bens e direitos do insolvente se


estenda aos seus representantes legais e mandatários, face ao artigo 82 os órgãos sociais do
devedor mantem-se em funcionamento

O artigo 81/4 atribui ao administrador de insolvência a representação do devedor para todos


os efeitos de caráter patrimonial que interessem à insolvência

Caso o insolvente celebre negócios sobre os bens da massa, estes são considerados ineficazes
em relação a ela, passando a mesma a responder apenas nos termos do enriquecimento sem
causa pelo que lhe tiver sido prestado (artigos 81/6, 479 CC)

Esses atos serão, porém, considerados eficazes em relação à massa se, não sendo suscetíveis
de resolução incondicional (artigo 121), tiverem sido celebrados a título oneroso com terceiros
de boa fé anteriormente ao registo de declaração de insolvência

No caso de os atos serem suscetíveis de resolução incondicional (artigo 121), face à posição do
terceiro de boa fé, ao qual deverá ser reconhecida a possibilidade de defesa, exige-se
igualmente a instauração da resolução pelo administrador da insolvência

Há situações em que excecionam a retirada ao devedor dos poderes de administração e


disposição do património:

a) Tribunal concluir pela insuficiência da massa insolvente e nenhum credor requerer o


complemento da sentença – artigo 39/7
b) Insolvência de não empresários e titulares de pequenas empresas (artigos 249) se se
vier a aprovar um plano de pagamentos (artigos 251 e ss) – artigo 259
c) Administração da empresa pelo próprio devedor – artigos 223 e ss

Apreensão dos bens

Na sentença que declara a insolvência, juiz decreta apreensão dos bens – artigo 36/1g

Remissão para artigo 149

Apreensão exclui bens insuscetíveis de penhora (artigo 822 CPC) + 602 e 603 CC

Regime especial para a apreensão da casa de morada de família – 822 CPC

Fixação de residência ao devedor e seus administradores

Nos termos do artigo 36 CIRE, na sentença que declara a insolvência, o juiz deve fixar
residência, quer aos administradores, de direito ou de facto, do devedor – artigo 6 CIRE

Vinculação do devedor por obrigações de colaboração, informação e apresentação

De acordo com o artigo 83 CIRE, o devedor fica vinculado por um dever genérico de prestar
toda a colaboração que lhe for requerida pelo administrador da insolvência e o dever de
prestar informações relevantes para o processo

Ocorrendo a recusa de cumprimento, esta é objeto de livre apreciação pelo tribunal,


nomeadamente para efeitos de qualificação da insolvência como culposa – artigo 83/3 CIRE

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Outro dever é o de se apresentar pessoalmente no tribunal sempre que seja requerido pelo
juiz ou administrador de insolvência, salvo a ocorrência de legitimo impedimento

Em caso de falta sem justificação, insolvência pode ser declarada como culposa – artigo 186/2i

Direitos a alimentos do devedor pessoa singular

Se o devedor carecer absolutamente de meios de subsistência e os não puder angariar pelo seu
trabalho, pode o administrador da insolvência arbitrar-lhe um subsidio a titulo de alimentos –
artigo 84/1 CIRE

Limitação à possibilidade de administração de bens alheios por parte do insolvente pessoa


singular

O devedor sofre algumas limitações à possibilidade de administração de bens alheios, de modo


a proteger os titulares desses bens

Caso o insolvente pessoa singular tenha filhos a seu cargo, o tribunal pode, nos termos do
artigo 1920 CC decretar providencias especiais em ordem à proteção dos bens do filho

No caso de ter sido estabelecida a tutela do menor, os insolventes apenas podem ser
nomeados tutores se forem exclusivamente encarregados da guarda e regência do menor –
artigo 1933/2CC

Caso a declaração de insolvência do tutor se verifique em data posterior à da sua nomeação,


deverá ser-lhe retirada a administração dos bens do menor – artigo 1948/b

Eventual incapacidade do insolvente pessoa singular

Incapacidade do insolvente limita-se a impedir a prática de atos de onde possa resultar


diminuição do seu património, retirando-lhe os poderes de administração e disposição de bens
de forma a proteger o interesse dos credores

O insolvente não está genericamente impedido de praticar atos com caráter patrimonial,
sendo-lhe apenas retirada a possibilidade de praticar atos com reflexos na massa insolvente

Dissolução do insolvente pessoa coletiva

A declaração de insolvência acarreta a dissolução da pessoa coletiva, passando a sua


personalidade coletiva a restringir-se à prática dos atos necessários para a liquidação do seu
património – artigo 182/1 CC relativamente às associações, artigo 192/1 CC relativamente às
fundações, artigo 1007/c CC relativamente às sociedades civis e artigo 141/1e CSC
relativamente às sociedades comerciais

Tratando-se de sociedades comerciais, a dissolução do insolvente pode cessar com um


regresso à atividade da sociedade após o encerramento do processo, sempre que este resultar
na aprovação de um plano de insolvência que preveja a continuidade da sociedade comercial
de acordo com o artigo 234/1 CIRE, ou sempre que seja deliberado pelo sócios, de acordo com
o artigo 234/2, 230/1c

Não se verificando qualquer destas situações, a sociedade dissolvida considera-se extinta com
o registo do encerramento da liquidação – artigo 234/3 CIRE

Efeitos sobre as ações judiciais

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A restrição que se verifica em relação às faculdades de administração e disposição por parte do


insolvente implica que se lhe retire a possibilidade de instaurar ou prosseguir ações em que se
apreciem questões relativas a bens compreendidos na massa insolvente – artigo 85/1 CIRE

O administrador da insolvência substitui o insolvente em todas as ações referidas – artigo 85/3


CIRE

O processo de insolvência determina a proibição de instauração ou prosseguimento de ações


executivas, bem como de qualquer penhora, arresto ou arrolamento sobre os bens que
integram a massa insolvente, sendo que os credores apenas recuperam essa possibilidade após
o encerramento do processo – artigo 233/1c

Efeitos sobre os créditos

A razão de ser do processo de insolvência é a de fazer com que todos os credores do mesmo
devedor exerçam os seus direitos no âmbito de um único processo e o façam em condições de
igualdade, não tendo nenhum credor quaisquer outros privilégios ou garantias, que não
aqueles reconhecidos pelo direito da insolvência

Consequentemente, durante a pendencia do processo, os credores apenas podem exercer os


seus direitos no âmbito do processo de insolvência face ao artigo 90 CIRE, deixando de poder
instaurar ações independentes ou continuar a prosseguir outros processos

Assim se garante a intangibilidade do património do devedor, já que a massa insolvente deixar


de poder ser utilizada como garantia real de outros créditos que não aqueles que sejam
exercidos no processo de insolvência

Por outro lado, a declaração de insolvência vai produzir o vencimento imediato de todas as
obrigações do insolvente (artigo 91/1 CIRE), com exceção dos créditos suspensivamente
condicionados (artigo 50 CIRE)

Em relação aos créditos resolutivamente condicionados, a lei equipara-os a créditos


incondicionados enquanto a condição não se preencher, sem prejuízo de os pagamentos
recebidos deverem ser restituídos uma vez verificada a condição (artigo 94 CIRE)

Salvo estas exceções, vencem-se tanto as obrigações puras (artigo 777 CC), como as obrigações
a prazo (+ 778 CC) – a razão do vencimento antecipado deve-se à falta de confiança dos
credores na solvabilidade do devedor

Em consequência desse vencimento antecipado, as obrigações passarão a vencer juros legais a


partir dessa data, ainda que esses juros tenham a natureza de créditos subordinados, salvo se
estiverem abrangidos por garantia real ou por privilégios creditórios gerais, até ao valor dos
bens respetivos (artigo 48/b CIRE)

No caso de a prestação não ser exigível à data da insolvência, pela qual não fossem devidos
juros remuneratórios, ou pela qual fossem devidos juros inferiores à taxa de juros legal, a
obrigação é reduzida (artigo 91/2,3,4,5 CIRE)

Sentença de declaração de insolvência determina a suspensão de todos os prazos de prescrição


e caducidade oponíveis pelo devedor (artigo 100 CIRE)

Declaração de insolvência determina igualmente a extinção de certas garantias (artigo 97 CIRE):

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a) Os privilégios creditórios gerais que forem acessórios de créditos sobre a insolvência


de que forem titulares o Estado, as autarquias locais e as instituições de segurança
social, constituídos mais de 12 meses antes do início do processo
b) Os privilégios creditórios especiais que forem acessórios de créditos sobre a
insolvência de que forem titulares o Estado, as autarquias locais e as instituições de
segurança social, vencidos mais de 12 meses antes do início do processo
c) As hipotecas legais cujo registo haja sido requerido dentro dos dois meses anteriores à
data de início do processo de insolvência e que forem acessórias de créditos sobre a
insolvência do Estado, das autarquias locais e das instituições de segurança social
d) Se não forem independentes de registo, as garantias reais sobre imoveis ou moveis
sujeitos a registo integrantes da massa insolvente, acessórias de créditos sobre a
insolvência e já constituídas, mas ainda não registadas nem objeto de pedido de
registo
e) As garantias reais sobre bens integrantes da massa insolvente acessórias dos créditos
havidos como subordinados

A declaração de insolvência restringe ainda a faculdade de os credores da insolvência


compensarem os seus créditos com dívidas à massa

Os credores da insolvência apenas podem efetuar a compensação na hipótese de o


preenchimento dos pressupostos legais da compensação (artigo 847 CC) ser anterior à
declaração de insolvência (artigo 99/1a CIRE) e de ter o crédito sobre a insolvência preenchido
antes do contra crédito da massa os requisitos estabelecidos no artigo 847 CC – crédito é
exigível judicialmente e não procede contra ele exceção perentória dou dilatória de direito
material e que as duas obrigações têm por objeto coisas fungíveis do mesmo género e
qualidade

Relativamente ao último pressuposto, o artigo 99/3 CIRE determina que a compensação não é
prejudicada pelo facto de as obrigações terem unidades de cálculo diferentes, desde que seja
livre a conversão recíproca no lugar do contra crédito

O artigo 99/4 CIRE estabelece que a compensação não é admissível:

a) Se a dívida à massa se tiver constituído após a data da declaração de insolvência,


designadamente em consequência da resolução de atos em benefício da massa
insolvente (artigos 120 e ss CIRE)
b) Se o credor da insolvência tiver adquirido o seu crédito de outrem, após a data da
declaração de insolvência
c) Com dívidas do insolvente pelas quais a massa não é responsável
d) Entre dívidas à massa e créditos subordinados sobre a insolvência

Sendo admissível a compensação, a sua declaração extingue tanto o crédito do declarante


como o crédito do insolvente

O declarante obtém o valor integral do seu crédito, sendo subtraído ao regime do concurso de
credores

Consequentemente, não necessita de efetuar a reclamação do seu crédito, apenas quando o


valor do mesmo ultrapasse o montante do crédito do insolvente, podendo efetuar a
reclamação pelo remanescente

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Efeitos sobre os negócios em curso

- Direito de opção do administrador de insolvência

A lei estabelece genericamente um direito de opção do administrador de insolvência entre a


execução do contrato e a recusa do cumprimento – artigo 120 CIRE

No entanto, só se aplica a contratos bilaterais em que, à data da declaração de insolvência, não


haja ainda total cumprimento, quer pelo insolvente quer pela outra parte

Os contratos ficam suspensos até à tomada de decisão por parte do administrador de


insolvência, mas a outra parte tem a faculdade de fixar um prazo para exercer a opção, findo o
qual se considera que recusa o cumprimento – artigos 120/1,2 CIRE

A concessão do direito de opção resulta do facto de a insolvência consistir numa


impossibilidade geral de cumprimento das obrigações, o que justifica a adoção de medidas em
defesa dos credores

Se o insolvente se visse forçado a cumprir negócios em curso, os pagamentos que efetuasse


beneficiariam alguns credores em detrimento de outros – lei estabelece com a declaração de
insolvência que os credores perdem a possibilidade de exigir autonomamente os seus créditos

No entanto, tratando-se de negócio bilaterais, que correspondem a contratos sinalagmáticos, a


outra parte não é obrigada a cumprir caso o insolvente não o faça

Como o cumprimento dos contratos pode ser benéfico para os interesses da massa, concede-
se ao administrador a possibilidade de optar entre o cumprimento do contrato e a sua recusa,
consoante for ou não conveniente para a massa – conciliação entre interesses da massa e
tutela de igualdade dos credores

Assim, a lei determina que os contratos bilaterais ainda não integralmente cumpridos pelas
partes se mantêm após a declaração de insolvência, ainda que num estado de suspensão até o
administrador exercer o seu direito de opção – a declaração de insolvência não afeta as
pretensões de cumprimento dos contratos bilaterais pela outra parte, apenas as suspende
temporariamente

Apenas a decisão do administrador de insolvência, caso opte pela recusa do cumprimento, que
inviabiliza essas pretensões, gerando um direito de indemnização na outra parte –
responsabilidade por factos lícitos

O contrato deixa de poder ser executado para o futuro, mas a recusa não tem eficácia
retroativa, pois nenhuma das partes tem direito de restituição do que já prestou – artigo
120/3a CIRE

Porém, a massa insolvente pode exigir o valor da contraprestação correspondente à prestação


já efetuada pelo devedor, na medida que ainda não tenha sido realizada pela outra parte
(artigo 120/3b CIRE), assim como a outra parte tem direito a exigir, como crédito sobre a
insolvência, o valor da prestação do devedor, deduzido do valor da contraprestação
correspondente que ainda não tenha sido realizada (artigo 102/3c CIRE)

A recusa de cumprimento por parte do administrador não prejudica o direito à indemnização


pelos prejuízos causados à outra parte pelo incumprimento, ainda que a indemnização seja
restringida – artigo 102/3d CIRE

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Para além da indemnização ter a natureza de crédito sobre a insolvência, o seu montante é
limitado ao valor da contraprestação correspondente à prestação já efetuada pelo devedor, na
medida em que ainda não tenha sido realizada pela outra parte (artigo 102/3b CIRE), sendo
ainda abatida do quantitativa a que a outra parte tenha direto (artigo 102/3d CIRE), ou seja, o
valor da prestação do devedor, na parte incumprida, deduzido do valor da contraprestação de
que a outra parte ficou exonerada (artigo 102/3c CIRE)

No caso de o administrador optar pelo cumprimento do contrato, adquire o direito a exigir as


prestações contratualmente acordadas, tendo a outra parte igualmente o direito de exigir esse
cumprimento, o qual constitui dívida à massa nos termos do artigo 51/1f CIRE, salvo na medida
correspondente à contraprestação já realizada pela outra parte anteriormente à declaração de
insolvência ou que se reporte a período anterior a essa declaração

Enquanto dívida da massa, a satisfação dos contratos cujo cumprimento não seja recusado
pelo administrador goza de prioridade em face dos créditos sobre a insolvência – artigo 172/1
CIRE

É considerada abusiva a opção pela execução do contrato se o cumprimento pontual das


obrigações contratuais por parte da massa insolvente por manifestamente improvável – artigo
102/4 CIRE

- Casos especiais de prestações de coisas infungíveis e prestações fracionadas

O artigo 103 CIRE pretende fazer referência à divisibilidade da prestação, pois mesmo que se
trate de prestações de natureza infungível, o relevante é a sua divisibilidade, conforme resulta
do nº 6

Quando as prestações de coisas infungíveis e as prestações fracionáveis constituem créditos do


insolvente, pretende-se que o direito de escolha do administrador continue a ser exercido em
relação à parte da prestação ainda não realizada

Caso o administrador venha a recusar o cumprimento, apenas passa a poder exigir a restituição
do que lhe tiver sido prestado, na medida do seu enriquecimento à data da declaração de
insolvência (artigo 103/1a CIRE)

Da mesma forma, a outra parte tem apenas direito a pedir a diferença, se favorável a essa
parte, entre os valores da totalidade das prestações contratuais (artigo 103/1b CIRE)

Para além disso, a outra parte tem direito, enquanto credor da insolvência, ao reembolso do
custo ou à restituição do valor da parte da prestação realizada anteriormente à declaração de
insolvência, consoante tal prestação seja ou não infungível (artigo 103/1c CIRE)

No entanto, nesse caso, a outra parte tem a faculdade de se opor à recusa do cumprimento do
administrador da insolvência, completando a sua prestação que ainda esteja em falta – efeitos
da recusa do administrador são afastados, sendo o contrato tido como executado, o que
confere à outra parte direito a exigir, como crédito sobre a insolvência, o direito
correspondente à contraprestação em falta (artigo 103/2 CIRE)

Caso o administrador opte pela execução do contrato, o direito da outra parte à


contraprestação só constitui crédito sobre a massa no que exceda o valor que seria apurado
por aplicação do disposto no artigo 103/1c CIRE se o administrador tivesse optado pela recusa
do cumprimento (artigo 103/3 CIRE)

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A opção pelo cumprimento dos contratos com prestações divisíveis implica assim que a lei
opere uma divisão do direito à contraprestação em dois créditos de natureza distinta. A parte
que não exceda o valor correspondente ao reembolso do custo da prestação de coisa
infungível, ou à parte de prestação de coisa fungível, realizada antes da declaração de
insolvência, assume a natureza sobre a insolvência, já a parte que exceda esse valor adquire a
natureza de crédito sobre a massa

O regime das prestações de coisas infungíveis e fracionáveis altera-se, caso essas prestações
correspondam antes a dividas do insolvente

Caso o administrador opte pela recusa do cumprimento, e se trata de uma prestação de coisa
infungível, a massa insolvente perde o direito de exigir o valor da contraprestação
correspondente à parte já efetuada pelo devedor, na medida que ainda não tenha sido
realizada pela outra parte (artigos 103/4a, 102/3b CIRE)

No caso de se tratar de prestação de coisa fungível, esse direito é substituído pelo direito à
restituição do valor da parte da prestação já efetuada anteriormente à declaração de
insolvência (artigo 103/4a CIRE)

Porém, a lei continua, em qualquer caso, a permitir à outra parte o direito a pedir a diferença,
se favorável a essa parte, entre os valores da totalidade das prestações contratuais (artigo
103/1b CIRE), a que acresce o direito ao reembolso do que tiver sido prestado, como crédito
sobre a insolvência (artigo 103/4b)

Caso o administrador da insolvência opte pela execução d contrato, o direito da outra parte à
contraprestação em dívida constitui, na sua totalidade, crédito sobre a massa (artigo 103/5
CIRE)

- Venda com reserva de propriedade, locação financeira e locação-venda

Insolvência do devedor ou locador

Artigo 104 determina que a insolvência do devedor não afeta a possibilidade de o comprador
exigir o cumprimento do contrato no caso de a coisa já lhe ter sido entregue, não conferindo ao
administrador a possibilidade de efetuar a sua recusa, nos termos do artigo 102 – solução que
pretende tutelar as expectativas de aquisição da propriedade

Caso o comprador ou locatário não exerça a sua opção pelo cumprimento do contrato, deve
devolver-se ao administrador a possibilidade de optar pelo cumprimento do contrato, forçando
o comprador ou locatário a adquirir a propriedade, ou pela sua recusa, com as consequências
previstas no artigo 104/5

Essa opção do administrador também se verifica se, apesar da reserva de propriedade, a coisa
ainda não tiver sido entregue ao comprador, dado que o vendedor mantém a possibilidade de
resolver o contrato (artigo 886 CC)

Nos casos em que o administrador possa recusar o cumprimento, o artigo 104/5 estabelece
que a recusa tem os efeitos previstos no artigo 102/3, o que implica que o comprador ou
locatário não tenha o direito à restituição das prestações realizadas (artigo 102/3ª), mas ossa
exigir, como crédito sobre a insolvência, a diferença, caso esta seja positiva, entre o valor da
coisa na data da recusa e o montante das prestações previstas até ao fim do contrato
(atualizadas por aplicação do artigo 90/2), tendo igualmente o direito a ser indemnizado nos
termos do artigo 102/3d como crédito sobre a insolvência

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Caso seja o comprador ou locatário o insolvente, e se encontrar na posse da coisa, o artigo


104/3 determina a aplicação plena do direito de escolha do administrador da insolvência, nos
termos do artigo 102

O administrador pode optar pela continuação do contrato, caso a massa tenha disponibilidade
para adquirir o bem, sendo então o pagamento do preço respetivo considerado dívida da
massa insolvente, na parte correspondente ao período posterior à declaração de insolvência
(artigo 51/1f)

No entanto, a opção pela execução só faz sentido caso o bem em questão se apresente como
necessário para a continuação da atividade do estabelecimento

Optando o administrador pela recusa do cumprimento, dispõe o artigo 194/5 que os seus
efeitos são os previstos no artigo 102/3

Consequentemente, nesse caso nenhuma das partes terá direito à restituição do que prestou
(artigo 102/3a), o que implica que o vendedor não terá que restituir as prestações que tenha
recebido anteriormente como contrapartida pela aquisição do bem, não sendo aplicável o
artigo 102/3b, na medida que a entrega da coisa pelo vendedor suplanta os pagamentos que
tiverem sido feitos pelo comprador

Aplica-se o direito previsto no artigo 102/3c (artigo 104/5)

Para além disso, o alienante tem direito a ser indemnizado pelos prejuízos resultantes do
incumprimento, o qual é, no entanto, abatido do valor a que o vendedor ou locador tenha
direito por força do crédito anterior (artigo 103/3dii), constituindo igualmente crédito sobre a
insolvência (artigo 103/3diii)

No cálculo dos prejuízos sofridos pelo vendedor ou locador inclui-se a desvalorização que o
bem tenha sofrido

A declaração de insolvência do comprador não prejudica o direito de separação dos bens, por
parte do locador, nos termos do artigo 141/1a, ou do vendedor, caso tenha sido estipulada
clausula de reserva de propriedade

- Venda sem entrega

O artigo 105 refere-se ao caso da venda sem entrega, em que já ocorreu transmissão da
propriedade

Em caso de insolvência do vendedor, mesmo que o contrato não esteja cumprido por nenhuma
das partes, a situação não poderia ser enquadrada no artigo 102 e objeto do direito de escolha
do administrador, dado que a recusa do cumprimento não pode impedir o comprador, já
proprietário, de reivindicar a sua propriedade

Relativamente à insolvência do comprador, o artigo 105 admite a recusa de cumprimento pelo


administrador, caso em que o comprador terá de devolver a diferença entre o valor da
prestação incumprida e o valor da coisa na data da recusa, que constitui crédito sobre a
insolvência

Porém, o administrador pode optar pelo cumprimento, o que vai ao encontro do artigo 468 do
CCom

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- Contrato-promessa

O artigo 106/1 passou a determinar que a não afetação do contrato promessa com eficácia real
(artigo 413 CC), em caso de insolvência do promitente vendedor, depende de o beneficiário
estar na posse da coisa à data da declaração de insolvência

O artigo 106/2 estabelece que a recusa de cumprimento da promessa de compra e venda é


sujeita ao mesmo regime do estabelecido para a venda com reserva de propriedade quanto à
limitação de indemnização, quer a insolvência respeite ao promitente-comprador, quer ao
promitente-vendedor

A disposição omite a hipótese de o beneficiário da promessa de venda sem eficácia real se


encontrar na possa da coisa, caso em que o artigo 755/f CC lhe atribui um direito de retenção
que tem de ser atendida em sede de insolvência

Para além disso, a estipulação de sinal e o direito ao aumento do valor da coisa não podem ser
nesse caso afetados por esta recusa de cumprimento do administrador

Assim, ML defende uma interpretação diferente do artigo 106

Contrato promessa com eficácia real não é em caso algum afetado pela declaração de
insolvência

A recusa do cumprimento do contrato promessa, em caso de insolvência do promitente-


vendedor, só é possível se não tiver sido verificado a tradição da coisa para o promitente-
comprador, independentemente de o contrato promessa ter ou não eficácia real

Sendo realizada essa recusa do cumprimento, nenhuma das partes tem direito à restituição do
que prestou (artigo 102/3a), o que leva a que o promitente-vendedor não tenha de restituir o
sinal recebido ou qualquer antecipação do preço

No entanto, por força do artigo 104/5, promitente comprador terá direito como indemnização
a receber a diferença, caso esta seja positiva, entre o valor da coisa objeto do contrato
prometido, na data da recusa, e o montante do preço que ainda teria de pagar, a qual constitui
crédito sobre a insolvência

O promitente comprador acaba assim, em consequência da recusa de cumprimento, por ver


afetados os seus direitos decorrentes do contrato promessa, uma vez que não pode recorrer à
execução especifica (artigo 830 CC) nem solicitar o pagamento do sinal em dobro (artigo 442/2
CC)

No caso de existir tradição da coisa para o promitente-comprador, já não parece possível a


recusa de cumprimento por parte do administrador da insolvência, devendo ser reconhecida
no âmbito da graduação dos créditos a garantia do direito de retenção, prevista no artigo 75/1f
C, a qual naturalmente se manterá como referente à restituição do sinal em dobro ou ao
aumento do valor da coisa

É diferente caso a insolvência seja do promitente comprador

Nesse caso qualquer recusa do cumprimento por parte do administrador da insolvência não
prejudicará a manutenção do direito de o promitente vendedor solicitar a restituição e
separação de bens nos termos do artigo 141/1a, no caso de a coisa objeto do contrato
prometido estar na posse do promitente comprador, uma vez que a sua propriedade se
mantém na esfera daquele

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Por outro lado, como a recusa de cumprimento não determina a restituição do que foi
prestado (artigo 102/3a), o administrador também não poderá reclamar a restituição do sinal
que o promitente comprador tenha prestado ao promitente vendedor

Neste caso não faz sentido que o promitente vendedor adquira simultaneamente direito à
indemnização prevista no artigo 104/5 por força do artigo 106/2

Assim, nos contratos promessa sinalizados, o promitente vendedor não pode reclamar a
indemnização prevista no artigo 104/5, em caso de insolvência do comprador, tendo apenas
direito ao sinal recebido e à restituição e separação da coisa

Direito à indemnização existe apenas em relação a contratos promessa não sinalizados, caso
em que o vendedor, não tendo que restituir parte do preço já recebida, terá direito a reclamar
como crédito sobre a insolvência, a diferença, se positiva, entre o montante do preço ainda não
satisfeito e o valor da coisa na data da recusa

O administrador pode, no entanto, optar pela execução do contrato nos termos do artigo
102/1, caso em que poderá solicitar a execução especifica do contrato promessa, perdendo
nesse caso, o promitente vendedor, que não seja o insolvente, o direito à restituição e
separação de bens

- Operações a prazo

Abrangem as entregas de mercadorias ou a realização de prestações financeiras (artigo 107/3),


que tenham um preço de mercado, que tiver de ser efetuada em determinada data ou dentro
de certo prazo

Verificando-se a declaração de insolvência antes de ocorrer a data ou se extinguir o prazo


previsto para a realização da operação, a execução não pode ser exigida por nenhuma das
partes, tendo o comprador ou o vendedor apenas direito ao pagamento da diferença entre o
preço ajustado e o preço de mercado do bem

O vendedor terá que restituir ao comprador as importâncias já pagas, podendo compensar


essa obrigação com o seu crédito à diferença de preço até à concorrência dos respetivos
montantes, constituindo o direito à restituição crédito sobre a insolvência, no caso de ser o
vendedor o insolvente (artigo 107/2)

Com esta solução obtém-se a cessação imediata destes contratos retirando o poder de escolha
ao administrador

O artigo 122 exclui a resolução em benefício da massa em relação a estas operações

No entanto, caso as operações a prazo não sejam abrangidas pelo artigo 107/1, já é aplicável a
opção pela execução ou pela recusa de cumprimento pelo administrador da insolvência, tendo
esta as consequências previstas no artigo 104/5 devidamente adaptado (artigo 107/5)

- Contrato de locação

Insolvência do locatário

Artigo 108 estabelece que a declaração de insolvência do locatário não suspende esse
contrato, mas atribui ao administrador o direito de proceder à sua denuncia com um pré aviso
de 60 dias, o que constitui a outra parte no direito a receber, como crédito sobre a insolvência,

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as rendas ou alugueres correspondentes ao período intercedente entre a data da produção dos


seus efeitos e o fim do prazo contratual estipulado

A esse valor são abatidos os custos inerentes à prestação do locador por esse período bem
como os ganhos obtidos através de uma aplicação alternativa do locado, desde que imputáveis
à antecipação do fim do contrato

Esse direito de denuncia é excluído se se tratar de arrendamento para a habitação do


insolvente

Neste caso, o administrador apenas pode declarar que o direito ao pagamento das rendas
vencidas decorridos 60 dias após essa declaração não será exercível no processo de insolvência

Nessa hipótese, o senhorio ficará constituído no direito a exigir, como crédito sobre a
insolvência, a indeminização pelos prejuízos sofridos em caso de despejo por falta de
pagamento de alguma ou algumas das referidas rendas, até ao montante das correspondentes
a um trimestre (artigo 108/2)

A lei retira ao senhorio a possibilidade de resolver o contrato após a declaração de insolvência


do locatário com fundamento na falta de pagamento das rendas ou alugueres respeitantes ao
período anterior ao da declaração de insolvência (artigo 108/4a) ou deterioração da situação
financeira do locatário (artigo 108/4b + 119/3)

Insolvência do locador

No caso de ser o locador o insolvente os direitos do locatário só vêm a ser afetados se a coisa
ainda não lhe tiver sido entregue

Tendo a coisa já sido entregue ao locatário, estabelece o artigo 109/1 que a declaração de
insolvência do locador não suspende a execução do contrato de locação, só sendo a denuncia
por qualquer das partes possível para o fim do prazo em curso

No caso de a coisa ainda não lhe ter sido entregue, quer o administrador quer o locatário,
podem resolver o contrato, podendo qualquer das partes ficar um prazo para o efeito, findo o
qual cessa o direito de resolução (artigos 109/2 e 108/5)

A lei estabelece ainda que a alienação da coisa locada no processo de insolvência não priva o
locatário dos direitos que lhe são reconhecidos pela lei civil (artigo 109/3), nomeadamente a
manutenção da posição contratual (artigo 1057 CC) e o direito de preferência (artigo 1091 CC)

- Contratos de mandato e de gestão

O artigo 110 abrange os contratos de mandato, incluindo os de comissão

Consagra-se a regra geral da caducidade do mandato, em consequência da insolvência do


mandante

Também é aplicável no interesse do mandatário ou de terceiro, em que o artigo 1170/2 CC


impede a revogação e o artigo 1175 CC exclui a caducidade

O mandato também no interesse do mandatário ou de terceiro constitui um negócio distinto


do mandato comum, uma vez que tem por fim atribuir simultaneamente um benefício ao
mandatário ou ao terceiro, pelo que não se justifica que o negócio seja afetado com a
declaração de insolvência

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Neste caso, nem existe direito de escolha do administrador, havendo antes uma caducidade do
mandato, sem direito a qualquer indemnização

Relativamente à insolvência do mandatário, considera-se que a caducidade do mandato se


deve aplicar analogicamente

Tratando-se de mandato sem representação, devem considerar-se estranhos à massa


insolvente os bens adquiridos pelo mandatário nas condições referidas no artigo 1184 C,
devendo o mandante ter direito a reclamá-los nos termos do artigo 141/1c

Em relação aos créditos, uma vez que o mandante pode substituir-se ao mandatário no
exercício dos respetivos direitos (artigo 1181/2 CC), poderá o mesmo reclamá-los no âmbito da
reclamação de bens, a fim de os poder receber diretamente do devedor (artigo 141/5)

- Efeitos em caso de encerramento da empresa

Encerramento definitivo do estabelecimento faz cessar os contratos de trabalho, sendo uma


hipótese de caducidade do contrato de trabalho porque se verifica uma impossibilidade
superveniente, absoluta e definitiva de o empregador receber a prestação do trabalho

Nos termos do artigo 156/2, a deliberação sobre o encerramento ou manutenção em atividade


do estabelecimento é tomada normalmente na assembleia de credores

Porém o administrador pode determinar o encerramento antecipado com o parecer favorável


da comissão de credores ou com o acordo do devedor

Encerramento da empresa determina a caducidade do contrato de trabalho, mas não deixa de


ter de se seguir o procedimento exigido para o despedimento coletivo

- Efeitos em caso de alienação da empresa

Compete ao administrador, logo que inicia as suas funções, efetuar diligências com vista à
alienação da empresa do devedor ou dos seus estabelecimentos (artigo 162/2)

Caso seja aprovado um plano de insolvência, este pode ainda prever a transmissão da empresa
a terceiro (artigo 195/2b)

Relativamente à responsabilidade do transmitente, se se tratar de obrigações laborais


contraídas no processo da insolvência por parte do administrador da insolvência, são
consideradas dívidas da massa (artigo 51/1c) e liquidadas nos termos do artigo 172

Se se tratar de obrigações laborais contraídas antes do processo de insolvência, são


considerados créditos sobre a insolvência (artigo 46), os quais são liquidados nos termos dos
artigos 173 e ss

Com a transmissão da empresa os credores podem reclamar esses créditos ao adquirente, mas
não há motivo para se excluir a responsabilidade do transmitente quando o pagamento pelo
adquirente não se verificar

- Insolvência do trabalhador

De acordo com o artigo 113, a declaração de insolvência do trabalhador não suspende o


contrato de trabalho, mas o ressarcimento de prejuízos decorrentes de uma eventual violação
dos deveres contratuais apenas pode ser reclamado ao próprio insolvente, não ao processo de
insolvência

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Relativamente aos efeitos da insolvência sobre a remuneração, acima do montante


impenhorável, que corresponde a dois terços, os bens ou rendimentos que sejam adquiridos
pelo devedor entram para a massa, ficando-lhe interdita a sua alienação ou cessão, mesmo que
a sua aquisição seja posterior ao encerramento do processo (artigo 81/2)

Uma vez que o trabalhador é necessariamente uma pessoa singular, pode ser-lhe concedida a
exoneração do passivo restante (artigos 235 e ss)

Nessa hipótese, é efetuada a cessão do rendimento disponível do trabalhador a um fiduciário


(artigo 239/2), ficando o insolvente apenas com o que for considerado necessário para o seu
sustento minimamente digno, bem como do seu agregado familiar

Caso o insolvente não possa angariar rendimentos com o seu trabalho e careça absolutamente
de meios de subsistência, a lei admite a possibilidade de lhe ser atribuído, a título de
alimentos, um subsídio à custa dos rendimentos da massa insolvente (artigo 84/1)

- Contratos de prestação de serviços

Caso os contratos não caduquem por força do artigo 110, de acordo com o artigo 111 não se
suspendem com a declaração, podendo ser denunciados por qualquer das partes nos termos
do artigo 108

A prestação de serviços em geral é sujeita às regras do mandato (artigo 1156 CC) e, em relação
a este, já se prevê no artigo 1170 CC um direito de livre revogação

No artigo 111/2 estabelece-se que a denuncia apenas dá lugar a indemnização se for efetuada
pelo administrador, constituindo crédito sobre a insolvência

Assim, o prestador de serviços pode denunciar o contrato com fundamento na insolvência da


outra parte, caso em que não fica sujeito a qualquer indemnização

Já a denuncia antecipada pelo administrador implica o pagamento de uma indemnização nos


termos do artigo 108/3, a qual constitui um crédito sobre a insolvência (artigo 111/2) – de
modo a compensar pelo valor das retribuições ou outras compensações que o prestador de
serviços deixou de receber em consequência da denuncia

Prestação de serviço pelo devedor insolvente

O artigo 114/1 estende a aplicação do artigo 113 aos contratos pelos quais o insolvente, sendo
uma pessoa singular, esteja obrigado à prestação de um serviço

A estas prestações de serviço de natureza infungível não enquadradas numa atividade


empresarial é aplicável o mesmo regime da não suspensão aplicado às prestações laborais em
consequência da insolvência, mas com a limitação da possibilidade da exigência de
indemnização dos prejuízos causados pelo incumprimento ao próprio insolvente, não
respondendo a massa insolvente por essa situação

O artigo 114/2 estende ainda a aplicação do artigo 111 aos contratos que tenham por objeto
uma prestação duradoura de um serviço pelo devedor insolvente, estabelecendo, no entanto,
que o dever de indemnizar apenas existe se for da outra parte a iniciativa da denuncia

Assim, no caso de a prestação de serviços pelo devedor ter caracter duradouro, embora a
declaração de insolvência não suspenda o contrato, qualquer das partes o pode denunciar,

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devendo a denuncia ser efetuada com um pré-aviso de 60 dias a menos que da lei ou do
contrato resulte um prazo inferior (artigos 111, 108, 114/2)

Se a denuncia provier do devedor insolvente, o mesmo não fica obrigado ao pagamento de


qualquer indemnização

Se a denuncia provier da outra parte, esta fica obrigada a pagar as prestações em falta até ao
fim do prazo contratualmente estipulado ou daquele em que a denuncia seria legal ou
contratualmente possível, com dedução dos custos que o insolvente suportaria e dos proveitos
que a cessação antecipada lhe proporciona

- Cessão e penhor de créditos futuros

Relativamente aos negócios de cessão e penhor de créditos futuros, o artigo 115 aplica-se
apenas em relação a cessões realizadas antes da declaração, uma vez que após a mesma ,
qualquer cessão de bens ou rendimentos futuros passa a ser interdita ao devedor, mesmo que
a aquisição apenas ocorra após o encerramento do processo (artigo 81/2)

Se o devedor tiver cedido ou dado em penhor rendimentos futuros advenientes de contrato de


trabalho, prestações de serviço ou prestações sociais, essas cessões ou penhor só se mantêm
eficazes por um período de 2 anos após a data da declaração

O credor pode assim apenas durante esse período continuar a exigir para si as prestações
objeto de cessão e penhor passam a ser devidas novamente à massa insolvente

Estando em causa a cessão ou penhor de créditos constituídos antes da declaração de


insolvência e relativos a rendas ou alugueres devidos por contrato de locação que o
administrador da insolvência não possa denunciar ou resolver, verifica-se igualmente a
limitação da eficácia da cessão, mas esta é consideravelmente mais abrangente, dado que a
cessão apenas se mantem eficaz em relação as rendas ou alugueres que respeitem ao período
anterior à data da declaração (artigo 115/2)

A limitação da eficácia da cessão não prejudica, no entanto, a possibilidade de o devedor por


esses créditos efetuar a compensação com dívidas à massa, desde que estejam preenchidos os
respetivos pressupostos nos termos do artigo 115/3

- Contratos de conta corrente

O artigo 116 estabelece que a declaração importa o encerramento das contas correntes, sendo
este indispensável em ordem ao apuramento exato da posição do insolvente como credor ou
devedor da outra parte, o qual só se pode determinar através do exame do saldo da conta
(artigo 346/4 CCom)

Artigo 350 CCom

- Contratos de associação em participação

Artigo 117 estabelece que a associação em participação se extingue pela insolvência do


associante

Encontra-se igualmente previsto no artigo 27/g do DL 231/81

O artigo 117/2 obriga o associada a entregar à massa insolvente do associante a parte ainda
não liquidada das perdas em que deva participar, conservando, porém, o direito de reclamar,

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como crédito sobre a insolvência, as prestações que tenha realizado e que não devam ser
incluídas na sua participação nas perdas

Resolução em benefício da massa insolvente

Requisitos

O processo de insolvência visa a satisfação igualitária dos direitos dos credores, logo não é
admissível a concessão de vantagens especiais a qualquer deles a partir do momento em que a
situação de insolvência do devedor vem a ser conhecida

Caso o devedor tenha concedido alguma vantagem desse tipo no período anterior à
declaração, a lei permite à massa insolvente a recuperação das atribuições patrimoniais
correspondentes

Para esse efeito, o administrador pode determinar a resolução de atos e omissões em benefício
da massa insolvente

Requisitos gerais – artigo 120:

a) Realização pelo devedor de determinado ato


Deixou de ser possível a resolução de omissões
b) Prejudicialidade do ato em relação à massa insolvente
Diminuírem, frustrarem, porem em perigo ou retardarem a satisfação dos credores da
insolvência
Lei estabelece no artigo 120/3 uma presunção iruis et de iure de actos prejudiciais à
massa, ao considerar como tais, sem admissão de prova em contrário, os atos de
qualquer dos tipos referidos no artigo 121, ainda que praticados ou omitidos fora dos
prazos aí contemplados
c) Verificação desse ato nos dois anos anteriores à data do início do processo de
insolvência
Só este período é considerado suspeito para efeitos da resolução
d) Existência de má fé do terceiro
Considera-se de má fé o conhecimento da situação de insolvência do devedor, o
caráter prejudicial do ato estando o devedor à data em situação de insolvência
iminente, o início do processo
Nos termos do artigo 120/4 enunciam-se circunstâncias em que se presume a má fé

Requisitos da resolução incondicional – artigo 121:

Requisitos gerais são dispensados no caso de se tratar de atos referidos neste artigo, os quais
são resolúveis, independentemente de quaisquer outros requisitos para além dos referidos na
mesma disposição legal

Exclusão da resolução

Há determinados atos em relação aos quais a lei exclui a possibilidade de aplicação da


resolução em benefício da massa insolvente

Artigo 120/6 – negócios jurídicos celebrados no âmbito do processo especial de revitalização


(artigos 17A e ss), de providencia de recuperação, de adoção de medidas de resolução, ou
outro procedimento previsto em legislação especial, cuja finalidade seja prover o devedor com
meios de financiamento suficientes para viabilizar a sua recuperação

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Artigo 122 – atos compreendidos num sistema de pagamentos, ou seja, ordens de


transferência e a compensação relativas a valores mobiliários têm carácter definitivo

Legitimidade ativa e passiva para o exercício do direito de resolução

Artigo 123 – compete exclusivamente ao administrador

A omissão do administrador de insolvência, para além de implicar a sua responsabilização


perante os credores (artigo 59), poderá determinar a sua substituição por outro (artigo 56) que
concretize a resolução

Não é admissível que os credores se substituam ao administrador

Relativamente à legitimidade passiva, direito de resolução deve ser dirigido contra ambas as
partes no ato que se pretende resolver

Forma de exercício

Coerência com o regime geral da resolução que estabelece que a mesma se pode fazer por
simples declaração à outra parte – artigo 436 CC

Artigo 123 não exige que a resolução seja realizada por ação judicial, basta uma simples
comunicação por carta registada com aviso de receção

Artigo 125 estabelece que aos destinatários da resolução incumbe o ónus de impugnar a
mesma em ação dirigida contra a massa insolvente, tendo um prazo de três meses

Pode apenas recorrer-se à ação judicial para obter a condenação das partes no cumprimento
das obrigações que a mesma desencadeia (artigo 126/2)

A resolução pode ainda ser exercida por via de exceção quando o negócio não esteja cumprido
(artigo 123/2)

Resolução terá de conter os fundamentos da mesma, sem os quais será afetada de nulidade

Prazo para o exercício do direito de resolução

Resolução tem de ser exercida no prazo de seis meses após o conhecimento do ato pelo
administrador, mas nunca depois de decorridos dois anos sobre a data da declaração – artigo
123

No caso de o negócio ainda não estar cumprido, a resolução pode ser exercida sem
dependência de prazo

A ultrapassagem deste prazo corresponde, segundo ML, a uma caducidade do direito de


promover a resolução, não a uma prescrição de direito

Oponibilidade da resolução a transmissários posteriores

À semelhança do que se prevê para a impugnação pauliana no artigo 613 CC, a resolução em
benefício da massa pode ser oposta a transmissários do direito, bem como àqueles que
constituam direitos sobre os bens em relação ao quais a resolução seja exercida

Exige-se no entanto a má fé de terceiro, salvo se se tratar de sucessor a título universal ou se a


nova transmissão tiver sido realizada a título gratuito (artigo 124)

Impugnação da resolução

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Cabe à parta que se opõe à resolução o ónus de intentar a ação correspondente, destinada à
impugnação da mesma, a qual corre como dependência do processo de insolvência – artigo
125

Ação deve ser instaurada no prazo de três meses, o qual se inicia a partir do momento em que
a parte tem conhecimento da resolução, o que se considera ocorrer quando recebe a carta
registada comunicando o seu exercício

O prazo é perentório, pelo que o seu decurso implica a caducidade do direito de impugnação,
devendo em consequência ter-se como verificada a resolução

Efeitos da resolução

Estabelecidos nos artigos 433 CC e 289 CC

A resolução tem efeitos retroativos, devendo reconstituir-se a situação que existira se o ato não
tivesse sido praticado (artigo 126)

A resolução faz cessar os efeitos do ato praticado em prejuízo da massa, surgindo uma relação
de liquidação, nos termos da qual se determina a restituição das prestações já realizadas

Se o ato tiver sido celebrado a título oneroso, o terceiro deve restituir à massa os bens e
valores objeto da resolução dentro do prazo fixado – artigo 126/3

A obrigação de restituição a cargo da massa só se verifica em espécie se o objeto prestado pelo


terceiro puder ser identificado e separado da parte restante da massa – artigo 126/4

No caso contrário, a obrigação de restituir o valor correspondente constitui dívida da massa


insolvente na medida do respetivo enriquecimento à data da declaração de insolvência, e
dívida da insolvência quanto ao eventual remanescente (artigo 126/5)

Se o terceiro estiver de má fé, o crédito que para ele resulta em virtude da resolução assume a
natureza de crédito subordinado (artigo 48/e)

Pelo contrário, se a aquisição ocorrer a título gratuito, a sua obrigação de restituição só existe
na medida do seu próprio enriquecimento, salvo o caso de má fé real ou presumida (artigo
126/6)

Preclusão da possibilidade de recurso à impugnação pauliana

Artigo 127

A contrario, não estão os credores impedidos de recorrer à impugnação pauliana enquanto não
se verificar a resolução em benefício da massa

O artigo 127/2, estabelece que estas ações, pendentes à data da declaração ou propostas
posteriormente, não serão apensas ao processo de insolvência e, em caso de resolução do ato
pelo administrador, só prosseguirão os seus termos se tal resolução vier a ser declarada
ineficaz por sentença definitiva

Procedência da impugnação pauliana tem os efeitos previstos no artigo 616 CC

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