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Introdução
Insolvência traduz a situação daquele que está impossibilitado de cumprir as suas obrigações,
normalmente por ausência da necessária liquidez em momento determinado, ou em certos
casos porque o total das suas responsabilidades excede os bens de que pode dispor para as
satisfazer
a) A situação do devedor
b) As medidas de conservação e liquidação do seu património
c) Eventuais medidas de recuperação que venham a ser determinadas
d) A determinação e a graduação dos direitos dos credores
e) A satisfação dos direitos dos credores
Assim, o direito da insolvência pode ser considerado como o complexo de normas jurídicas que
tutelam a situação do devedor insolvente e a satisfação dos direitos dos seus credores
Artigo 817 CC – não sendo a obrigação voluntariamente cumprida, o credor tem o direito de
exigir judicialmente o seu cumprimento e de executar o património do devedor
Assim, tem também uma forte componente processual, dado que, por necessidade da tutela
dos direitos do devedor e dos credores envolvidos, é necessária a intervenção do tribunal,
coadjuvando pelos órgãos da insolvência
O processo de insolvência
Em termos restritos, o processo de insolvência consiste numa sequencia ordenada de atos que
se inicia com a apresentação à insolvência (artigos 18 e 19 CIRE) ou o pedido da sua declaração
(artigos 20 e ss CIRE) e se conclui com o pagamento aos credores (artigos 172 e ss CIRE e 230/a
CIRE) ou com algumas das causas de extinção do processo (artigo 230/b,c,d,e CIRE)
A insolvência constitui uma ação executiva, visto que tem como finalidade a obtenção de
providencias adequadas à reparação efetiva de direitos de crédito violados
A sua definição como execução coletiva deve-se ao facto de o seu fim ser a satisfação dos
direitos de todos os credores de um devedor – visa o tratamento igualitário de todos os
credores do devedor (par conditio creditorum)
A sua definição como execução genérica/total explica-se pelo facto de abranger todo o
património do devedor e não apenas os bens necessários para fazer face a algum ou alguns
créditos determinados – pode implicar a execução de todo o património do devedor para
efeitos de pagamento aos credores, caso seja a melhor forma de obter a satisfação dos seus
direitos
A insolvência constitui uma forma de execução para pagamento de quantia certa – envolve um
processo de liquidação destinado a converter em dinheiro os bens do insolvente e a atribuir
aos credores o pagamento respetivo
Constitui um processo especial pois afasta-se do regime comum das execuções, só sendo o CPC
aplicado a título subsidiário nos termos do artigo 17
Fim do processo de falência era assegurar aos credores a satisfação dos seus direitos através da
liquidação integral do património do falido, procedendo simultaneamente à sua punição
Fim principal deixa de ser a recuperação da empresa, passando a ter como fim único a
satisfação dos credores – recuperação da empresa vista como mero instrumento
Situação de insolvência
Estas entidades permanecem sujeitas ao critério geral constante do artigo 3/1 CIRE,
funcionando o critério de balanço previsto no artigo 3/2 como um critério alternativo
Assim, estas entidades podem ser declaradas insolventes em caso de o balanço demonstrar a
manifesta inferioridade do passivo em relação ao ativo, independentemente da natureza do
passivo ou do vencimento das obrigações
No entanto, dado que os balanços comerciais têm um significado limitado para efeitos de
insolvência, o artigo 3/3 CIRE permite para efeitos de insolvência a consideração de outros
elementos identificáveis, mesmo que não constante do balanço, a valorização de empresa com
a determinação do valor do seu património em caso de alienação imediata e numa perspetiva
de continuidade
Finalmente, possibilita-se a não consideração no passivo das dividas que só tenham que ser
pagas à custa de fundos distribuídos ou com base no ativo sobrante, após serem satisfeitos ou
acautelados os direitos dos credores – certos créditos subordinados, como créditos por
suprimentos (artigo 48/g CIRE) também devem ser aqui incluídos
Insolvência atual é ainda equiparada a insolvência iminente nos casos em que o devedor se
apresente à insolvência– artigo 3/4 CIRE
Elenco dos sujeitos passivos da insolvência compreende tanto pessoas singulares e coletivas
como também outras entidades, normalmente designadas como pessoas rudimentares ou
patrimónios autónomos – artigo 2/1 CIRE
As pessoas singulares sujeitas à insolvência podem ser ou não empresários, sendo que a
insolvência dos não empresários ou titulares de pequenas empresas é também sujeita a regime
especial – artigos 249 e ss CIRE
Se a pessoa singular for empresária, não há qualquer distinção entre o seu património privado
e o património da empresa – todo o património do devedor responde pelas dívidas
empresariais
Face ao artigo 2/1d CIRE são também sujeitos passivos de insolvência as sociedades civis, que
também se dissolvem com a declaração de insolvência de acordo com o artigo 1007 CC, bem
como as sociedades comerciais e as sociedades civis sob forma comercial de acordo com o
artigo 2/1e CIRE e as cooperativas, face ao artigo 2/1f CIRE
Regimes especiais
O artigo 2/2 CIRE vem consagrar uma exclusão total de aplicabilidade no caso das pessoas
coletivas públicas e entidades públicas empresariais e uma aplicabilidade condicionada à
inexistência de disposição especial incompatível com o reu regime, como sucede com as
empresas de seguros, instituições de crédito, sociedades financeiras, empresas de
investimento
Massa insolvente
Em relação aos bens e diretos que compõe a massa insolvente, correspondem à totalidade do
património do devedor à data da declaração de insolvência – artigo 601 CC
Devem considerar-se integrados na massa insolvente os bens dos responsáveis legais das
dívidas do insolvente, ou seja, das pessoas que respondem pessoal e ilimitadamente pela
generalidade das suas dívidas, ainda que a titulo subsidiário – artigo 6/2 CIRE – nomeadamente
o sócio único (artigo 84 CSC), os sócios em nome coletivo (artigo 175/1 CSC) ou comanditados
(artigo 465/1 CSC), podendo ainda ser responsabilizados por essas dívidas os gerentes e
administradores de quaisquer sociedades (artigo 78/1,4 CSC) quando o património social se
torne insuficiente para a satisfação de créditos
No caso de o cônjuge do insolvente não ser parte do processo, o mesmo adquire o direito de
separar da massa insolvente os seus bens próprios e a sua meação nos bens comuns – artigo
141/1b
A massa insolvente compreende ainda os bens que o devedor for adquirindo na pendência do
processo e aqueles que forem sendo reintegrados no mesmo através do exercício pelo
administrador de insolvência da resolução em benefício da massa – artigos 120 e ss CIRE
Também não são compreendidos na massa insolvente os bens pertencentes ao devedor que
sejam objeto de restrição de responsabilidade pelas obrigações desde, como suncede com os
bens adquiridos pelo mandatário em execução do mandato sem representação
Assim, o passivo do insolvente corresponde ao conjunto de créditos que podem ser exercidos
contra o insolvente
A massa insolvente deve primordialmente satisfazer aqueles créditos que são consequência da
própria situação de insolvência – as dívidas da massa insolvente (artigo 51 CIRE)
Só após a satisfação destes créditos é que se procede ao pagamento dos créditos anteriores à
própria insolvência ou que tenham sido adquiridos no decurso do processo, denominados
créditos sobre a insolvência (artigos 46 e ss CIRE)
Artigo 172 CIRE determina que devem ser satisfeitas antes dos créditos sobre a insolvência,
ocorrendo o pagamento na data do respetivo vencimento, seja qual for o estado do processo
Não estão por isso sujeitas a processo de verificação e graduação de créditos pelo que não têm
de ser reclamadas (artigo 128 e ss), podendo os respetivos credores exigir diretamente o seu
pagamento ao administrador de insolvência
Em caso de insuficiência de massa insolvente para satisfação das suas dívidas que tenham sido
constituídas por ato do seu administrador, o mesmo é responsável pessoalmente por essas
dívidas perante os respetivos credores, podendo elidir a sua responsabilidade mostrando que a
insuficiência da massa era previsível (artigo 59/2)
Créditos sobre o insolvente que tenham natureza patrimonial, ou sejam garantidos por bens
integrantes da massa insolvente, cujo fundamento seja anterior à massa de insolvência (artigo
47/1) e ainda aqueles cujos titulares mostrem tê-los adquirido no decurso do processo (artigo
47/3)
- Créditos garantidos
- Créditos privilegiados
- Créditos subordinados
Créditos enfraquecidos
- Créditos comuns
Órgãos da insolvência
Tribunal
Administrador da insolvência
Lei 22/2013
Tendencialmente essa atribuição tem caráter absoluto com a integral subtração ao devedor e
seus administradores (artigo 6), dos poderes de administração da massa insolvente, os quais
ficam a pertencer ao administrador de insolvência (artigo 81)
Pode, porém, ter caráter meramente relativo, no caso de administração da massa insolvente
pelo devedor (artigo 223), caso em que a intervenção do administrador da insolvência se limita
à fiscalização e aprovação dos atos mais importantes (artigo 226)
Legitimidade
Para além do próprio devedor, têm legitimidade para requerer a insolvência aqueles que forem
responsáveis legalmente pelas suas dívidas, qualquer credor e o Ministério Público – artigo
20/1
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No caso de o juiz concluir que o património do devedor não é presumivelmente suficiente para
a satisfação das custas do processo e das dívidas previsíveis da massa insolvente, o que se
presume sempre que esse património seja inferior a 5000 euros (artigo 39/9), pode ocorrer o
encerramento do processo logo após o trânsito em julgado da sentença, sendo o processo
declarado findo (artigos 39, 230/1d, 232/5)
Artigo 39
Transferência dos poderes de administração e disposição dos bens da massa insolvente para
o administrador de insolvência
De acordo com o artigo 81/1, a declaração de insolvência priva imediatamente o insolvente dos
poderes de administração e disposição dos bens integrantes da massa insolvente, os quais
passam a competir ao administrador de insolvência
Perde a posse material e as faculdade de administração e disposição quer dos bens que possui
aquando da declaração de insolvência, quer dos bens e rendimentos que lhe advenham no
futuro (artigo 46)
Caso o insolvente celebre negócios sobre os bens da massa, estes são considerados ineficazes
em relação a ela, passando a mesma a responder apenas nos termos do enriquecimento sem
causa pelo que lhe tiver sido prestado (artigos 81/6, 479 CC)
Esses atos serão, porém, considerados eficazes em relação à massa se, não sendo suscetíveis
de resolução incondicional (artigo 121), tiverem sido celebrados a título oneroso com terceiros
de boa fé anteriormente ao registo de declaração de insolvência
No caso de os atos serem suscetíveis de resolução incondicional (artigo 121), face à posição do
terceiro de boa fé, ao qual deverá ser reconhecida a possibilidade de defesa, exige-se
igualmente a instauração da resolução pelo administrador da insolvência
Na sentença que declara a insolvência, juiz decreta apreensão dos bens – artigo 36/1g
Apreensão exclui bens insuscetíveis de penhora (artigo 822 CPC) + 602 e 603 CC
Nos termos do artigo 36 CIRE, na sentença que declara a insolvência, o juiz deve fixar
residência, quer aos administradores, de direito ou de facto, do devedor – artigo 6 CIRE
De acordo com o artigo 83 CIRE, o devedor fica vinculado por um dever genérico de prestar
toda a colaboração que lhe for requerida pelo administrador da insolvência e o dever de
prestar informações relevantes para o processo
Outro dever é o de se apresentar pessoalmente no tribunal sempre que seja requerido pelo
juiz ou administrador de insolvência, salvo a ocorrência de legitimo impedimento
Em caso de falta sem justificação, insolvência pode ser declarada como culposa – artigo 186/2i
Se o devedor carecer absolutamente de meios de subsistência e os não puder angariar pelo seu
trabalho, pode o administrador da insolvência arbitrar-lhe um subsidio a titulo de alimentos –
artigo 84/1 CIRE
Caso o insolvente pessoa singular tenha filhos a seu cargo, o tribunal pode, nos termos do
artigo 1920 CC decretar providencias especiais em ordem à proteção dos bens do filho
No caso de ter sido estabelecida a tutela do menor, os insolventes apenas podem ser
nomeados tutores se forem exclusivamente encarregados da guarda e regência do menor –
artigo 1933/2CC
O insolvente não está genericamente impedido de praticar atos com caráter patrimonial,
sendo-lhe apenas retirada a possibilidade de praticar atos com reflexos na massa insolvente
Não se verificando qualquer destas situações, a sociedade dissolvida considera-se extinta com
o registo do encerramento da liquidação – artigo 234/3 CIRE
A razão de ser do processo de insolvência é a de fazer com que todos os credores do mesmo
devedor exerçam os seus direitos no âmbito de um único processo e o façam em condições de
igualdade, não tendo nenhum credor quaisquer outros privilégios ou garantias, que não
aqueles reconhecidos pelo direito da insolvência
Por outro lado, a declaração de insolvência vai produzir o vencimento imediato de todas as
obrigações do insolvente (artigo 91/1 CIRE), com exceção dos créditos suspensivamente
condicionados (artigo 50 CIRE)
Salvo estas exceções, vencem-se tanto as obrigações puras (artigo 777 CC), como as obrigações
a prazo (+ 778 CC) – a razão do vencimento antecipado deve-se à falta de confiança dos
credores na solvabilidade do devedor
No caso de a prestação não ser exigível à data da insolvência, pela qual não fossem devidos
juros remuneratórios, ou pela qual fossem devidos juros inferiores à taxa de juros legal, a
obrigação é reduzida (artigo 91/2,3,4,5 CIRE)
Relativamente ao último pressuposto, o artigo 99/3 CIRE determina que a compensação não é
prejudicada pelo facto de as obrigações terem unidades de cálculo diferentes, desde que seja
livre a conversão recíproca no lugar do contra crédito
O declarante obtém o valor integral do seu crédito, sendo subtraído ao regime do concurso de
credores
Como o cumprimento dos contratos pode ser benéfico para os interesses da massa, concede-
se ao administrador a possibilidade de optar entre o cumprimento do contrato e a sua recusa,
consoante for ou não conveniente para a massa – conciliação entre interesses da massa e
tutela de igualdade dos credores
Assim, a lei determina que os contratos bilaterais ainda não integralmente cumpridos pelas
partes se mantêm após a declaração de insolvência, ainda que num estado de suspensão até o
administrador exercer o seu direito de opção – a declaração de insolvência não afeta as
pretensões de cumprimento dos contratos bilaterais pela outra parte, apenas as suspende
temporariamente
Apenas a decisão do administrador de insolvência, caso opte pela recusa do cumprimento, que
inviabiliza essas pretensões, gerando um direito de indemnização na outra parte –
responsabilidade por factos lícitos
O contrato deixa de poder ser executado para o futuro, mas a recusa não tem eficácia
retroativa, pois nenhuma das partes tem direito de restituição do que já prestou – artigo
120/3a CIRE
Para além da indemnização ter a natureza de crédito sobre a insolvência, o seu montante é
limitado ao valor da contraprestação correspondente à prestação já efetuada pelo devedor, na
medida em que ainda não tenha sido realizada pela outra parte (artigo 102/3b CIRE), sendo
ainda abatida do quantitativa a que a outra parte tenha direto (artigo 102/3d CIRE), ou seja, o
valor da prestação do devedor, na parte incumprida, deduzido do valor da contraprestação de
que a outra parte ficou exonerada (artigo 102/3c CIRE)
Enquanto dívida da massa, a satisfação dos contratos cujo cumprimento não seja recusado
pelo administrador goza de prioridade em face dos créditos sobre a insolvência – artigo 172/1
CIRE
O artigo 103 CIRE pretende fazer referência à divisibilidade da prestação, pois mesmo que se
trate de prestações de natureza infungível, o relevante é a sua divisibilidade, conforme resulta
do nº 6
Caso o administrador venha a recusar o cumprimento, apenas passa a poder exigir a restituição
do que lhe tiver sido prestado, na medida do seu enriquecimento à data da declaração de
insolvência (artigo 103/1a CIRE)
Da mesma forma, a outra parte tem apenas direito a pedir a diferença, se favorável a essa
parte, entre os valores da totalidade das prestações contratuais (artigo 103/1b CIRE)
Para além disso, a outra parte tem direito, enquanto credor da insolvência, ao reembolso do
custo ou à restituição do valor da parte da prestação realizada anteriormente à declaração de
insolvência, consoante tal prestação seja ou não infungível (artigo 103/1c CIRE)
No entanto, nesse caso, a outra parte tem a faculdade de se opor à recusa do cumprimento do
administrador da insolvência, completando a sua prestação que ainda esteja em falta – efeitos
da recusa do administrador são afastados, sendo o contrato tido como executado, o que
confere à outra parte direito a exigir, como crédito sobre a insolvência, o direito
correspondente à contraprestação em falta (artigo 103/2 CIRE)
A opção pelo cumprimento dos contratos com prestações divisíveis implica assim que a lei
opere uma divisão do direito à contraprestação em dois créditos de natureza distinta. A parte
que não exceda o valor correspondente ao reembolso do custo da prestação de coisa
infungível, ou à parte de prestação de coisa fungível, realizada antes da declaração de
insolvência, assume a natureza sobre a insolvência, já a parte que exceda esse valor adquire a
natureza de crédito sobre a massa
O regime das prestações de coisas infungíveis e fracionáveis altera-se, caso essas prestações
correspondam antes a dividas do insolvente
Caso o administrador opte pela recusa do cumprimento, e se trata de uma prestação de coisa
infungível, a massa insolvente perde o direito de exigir o valor da contraprestação
correspondente à parte já efetuada pelo devedor, na medida que ainda não tenha sido
realizada pela outra parte (artigos 103/4a, 102/3b CIRE)
No caso de se tratar de prestação de coisa fungível, esse direito é substituído pelo direito à
restituição do valor da parte da prestação já efetuada anteriormente à declaração de
insolvência (artigo 103/4a CIRE)
Porém, a lei continua, em qualquer caso, a permitir à outra parte o direito a pedir a diferença,
se favorável a essa parte, entre os valores da totalidade das prestações contratuais (artigo
103/1b CIRE), a que acresce o direito ao reembolso do que tiver sido prestado, como crédito
sobre a insolvência (artigo 103/4b)
Caso o administrador da insolvência opte pela execução d contrato, o direito da outra parte à
contraprestação em dívida constitui, na sua totalidade, crédito sobre a massa (artigo 103/5
CIRE)
Artigo 104 determina que a insolvência do devedor não afeta a possibilidade de o comprador
exigir o cumprimento do contrato no caso de a coisa já lhe ter sido entregue, não conferindo ao
administrador a possibilidade de efetuar a sua recusa, nos termos do artigo 102 – solução que
pretende tutelar as expectativas de aquisição da propriedade
Caso o comprador ou locatário não exerça a sua opção pelo cumprimento do contrato, deve
devolver-se ao administrador a possibilidade de optar pelo cumprimento do contrato, forçando
o comprador ou locatário a adquirir a propriedade, ou pela sua recusa, com as consequências
previstas no artigo 104/5
Essa opção do administrador também se verifica se, apesar da reserva de propriedade, a coisa
ainda não tiver sido entregue ao comprador, dado que o vendedor mantém a possibilidade de
resolver o contrato (artigo 886 CC)
Nos casos em que o administrador possa recusar o cumprimento, o artigo 104/5 estabelece
que a recusa tem os efeitos previstos no artigo 102/3, o que implica que o comprador ou
locatário não tenha o direito à restituição das prestações realizadas (artigo 102/3ª), mas ossa
exigir, como crédito sobre a insolvência, a diferença, caso esta seja positiva, entre o valor da
coisa na data da recusa e o montante das prestações previstas até ao fim do contrato
(atualizadas por aplicação do artigo 90/2), tendo igualmente o direito a ser indemnizado nos
termos do artigo 102/3d como crédito sobre a insolvência
O administrador pode optar pela continuação do contrato, caso a massa tenha disponibilidade
para adquirir o bem, sendo então o pagamento do preço respetivo considerado dívida da
massa insolvente, na parte correspondente ao período posterior à declaração de insolvência
(artigo 51/1f)
No entanto, a opção pela execução só faz sentido caso o bem em questão se apresente como
necessário para a continuação da atividade do estabelecimento
Optando o administrador pela recusa do cumprimento, dispõe o artigo 194/5 que os seus
efeitos são os previstos no artigo 102/3
Consequentemente, nesse caso nenhuma das partes terá direito à restituição do que prestou
(artigo 102/3a), o que implica que o vendedor não terá que restituir as prestações que tenha
recebido anteriormente como contrapartida pela aquisição do bem, não sendo aplicável o
artigo 102/3b, na medida que a entrega da coisa pelo vendedor suplanta os pagamentos que
tiverem sido feitos pelo comprador
Para além disso, o alienante tem direito a ser indemnizado pelos prejuízos resultantes do
incumprimento, o qual é, no entanto, abatido do valor a que o vendedor ou locador tenha
direito por força do crédito anterior (artigo 103/3dii), constituindo igualmente crédito sobre a
insolvência (artigo 103/3diii)
No cálculo dos prejuízos sofridos pelo vendedor ou locador inclui-se a desvalorização que o
bem tenha sofrido
A declaração de insolvência do comprador não prejudica o direito de separação dos bens, por
parte do locador, nos termos do artigo 141/1a, ou do vendedor, caso tenha sido estipulada
clausula de reserva de propriedade
O artigo 105 refere-se ao caso da venda sem entrega, em que já ocorreu transmissão da
propriedade
Em caso de insolvência do vendedor, mesmo que o contrato não esteja cumprido por nenhuma
das partes, a situação não poderia ser enquadrada no artigo 102 e objeto do direito de escolha
do administrador, dado que a recusa do cumprimento não pode impedir o comprador, já
proprietário, de reivindicar a sua propriedade
Porém, o administrador pode optar pelo cumprimento, o que vai ao encontro do artigo 468 do
CCom
- Contrato-promessa
O artigo 106/1 passou a determinar que a não afetação do contrato promessa com eficácia real
(artigo 413 CC), em caso de insolvência do promitente vendedor, depende de o beneficiário
estar na posse da coisa à data da declaração de insolvência
Para além disso, a estipulação de sinal e o direito ao aumento do valor da coisa não podem ser
nesse caso afetados por esta recusa de cumprimento do administrador
Contrato promessa com eficácia real não é em caso algum afetado pela declaração de
insolvência
Sendo realizada essa recusa do cumprimento, nenhuma das partes tem direito à restituição do
que prestou (artigo 102/3a), o que leva a que o promitente-vendedor não tenha de restituir o
sinal recebido ou qualquer antecipação do preço
No entanto, por força do artigo 104/5, promitente comprador terá direito como indemnização
a receber a diferença, caso esta seja positiva, entre o valor da coisa objeto do contrato
prometido, na data da recusa, e o montante do preço que ainda teria de pagar, a qual constitui
crédito sobre a insolvência
Nesse caso qualquer recusa do cumprimento por parte do administrador da insolvência não
prejudicará a manutenção do direito de o promitente vendedor solicitar a restituição e
separação de bens nos termos do artigo 141/1a, no caso de a coisa objeto do contrato
prometido estar na posse do promitente comprador, uma vez que a sua propriedade se
mantém na esfera daquele
Por outro lado, como a recusa de cumprimento não determina a restituição do que foi
prestado (artigo 102/3a), o administrador também não poderá reclamar a restituição do sinal
que o promitente comprador tenha prestado ao promitente vendedor
Neste caso não faz sentido que o promitente vendedor adquira simultaneamente direito à
indemnização prevista no artigo 104/5 por força do artigo 106/2
Assim, nos contratos promessa sinalizados, o promitente vendedor não pode reclamar a
indemnização prevista no artigo 104/5, em caso de insolvência do comprador, tendo apenas
direito ao sinal recebido e à restituição e separação da coisa
Direito à indemnização existe apenas em relação a contratos promessa não sinalizados, caso
em que o vendedor, não tendo que restituir parte do preço já recebida, terá direito a reclamar
como crédito sobre a insolvência, a diferença, se positiva, entre o montante do preço ainda não
satisfeito e o valor da coisa na data da recusa
O administrador pode, no entanto, optar pela execução do contrato nos termos do artigo
102/1, caso em que poderá solicitar a execução especifica do contrato promessa, perdendo
nesse caso, o promitente vendedor, que não seja o insolvente, o direito à restituição e
separação de bens
- Operações a prazo
Com esta solução obtém-se a cessação imediata destes contratos retirando o poder de escolha
ao administrador
No entanto, caso as operações a prazo não sejam abrangidas pelo artigo 107/1, já é aplicável a
opção pela execução ou pela recusa de cumprimento pelo administrador da insolvência, tendo
esta as consequências previstas no artigo 104/5 devidamente adaptado (artigo 107/5)
- Contrato de locação
Insolvência do locatário
Artigo 108 estabelece que a declaração de insolvência do locatário não suspende esse
contrato, mas atribui ao administrador o direito de proceder à sua denuncia com um pré aviso
de 60 dias, o que constitui a outra parte no direito a receber, como crédito sobre a insolvência,
A esse valor são abatidos os custos inerentes à prestação do locador por esse período bem
como os ganhos obtidos através de uma aplicação alternativa do locado, desde que imputáveis
à antecipação do fim do contrato
Neste caso, o administrador apenas pode declarar que o direito ao pagamento das rendas
vencidas decorridos 60 dias após essa declaração não será exercível no processo de insolvência
Nessa hipótese, o senhorio ficará constituído no direito a exigir, como crédito sobre a
insolvência, a indeminização pelos prejuízos sofridos em caso de despejo por falta de
pagamento de alguma ou algumas das referidas rendas, até ao montante das correspondentes
a um trimestre (artigo 108/2)
Insolvência do locador
No caso de ser o locador o insolvente os direitos do locatário só vêm a ser afetados se a coisa
ainda não lhe tiver sido entregue
Tendo a coisa já sido entregue ao locatário, estabelece o artigo 109/1 que a declaração de
insolvência do locador não suspende a execução do contrato de locação, só sendo a denuncia
por qualquer das partes possível para o fim do prazo em curso
No caso de a coisa ainda não lhe ter sido entregue, quer o administrador quer o locatário,
podem resolver o contrato, podendo qualquer das partes ficar um prazo para o efeito, findo o
qual cessa o direito de resolução (artigos 109/2 e 108/5)
A lei estabelece ainda que a alienação da coisa locada no processo de insolvência não priva o
locatário dos direitos que lhe são reconhecidos pela lei civil (artigo 109/3), nomeadamente a
manutenção da posição contratual (artigo 1057 CC) e o direito de preferência (artigo 1091 CC)
Neste caso, nem existe direito de escolha do administrador, havendo antes uma caducidade do
mandato, sem direito a qualquer indemnização
Em relação aos créditos, uma vez que o mandante pode substituir-se ao mandatário no
exercício dos respetivos direitos (artigo 1181/2 CC), poderá o mesmo reclamá-los no âmbito da
reclamação de bens, a fim de os poder receber diretamente do devedor (artigo 141/5)
Compete ao administrador, logo que inicia as suas funções, efetuar diligências com vista à
alienação da empresa do devedor ou dos seus estabelecimentos (artigo 162/2)
Caso seja aprovado um plano de insolvência, este pode ainda prever a transmissão da empresa
a terceiro (artigo 195/2b)
Com a transmissão da empresa os credores podem reclamar esses créditos ao adquirente, mas
não há motivo para se excluir a responsabilidade do transmitente quando o pagamento pelo
adquirente não se verificar
- Insolvência do trabalhador
Uma vez que o trabalhador é necessariamente uma pessoa singular, pode ser-lhe concedida a
exoneração do passivo restante (artigos 235 e ss)
Caso o insolvente não possa angariar rendimentos com o seu trabalho e careça absolutamente
de meios de subsistência, a lei admite a possibilidade de lhe ser atribuído, a título de
alimentos, um subsídio à custa dos rendimentos da massa insolvente (artigo 84/1)
Caso os contratos não caduquem por força do artigo 110, de acordo com o artigo 111 não se
suspendem com a declaração, podendo ser denunciados por qualquer das partes nos termos
do artigo 108
A prestação de serviços em geral é sujeita às regras do mandato (artigo 1156 CC) e, em relação
a este, já se prevê no artigo 1170 CC um direito de livre revogação
No artigo 111/2 estabelece-se que a denuncia apenas dá lugar a indemnização se for efetuada
pelo administrador, constituindo crédito sobre a insolvência
O artigo 114/1 estende a aplicação do artigo 113 aos contratos pelos quais o insolvente, sendo
uma pessoa singular, esteja obrigado à prestação de um serviço
O artigo 114/2 estende ainda a aplicação do artigo 111 aos contratos que tenham por objeto
uma prestação duradoura de um serviço pelo devedor insolvente, estabelecendo, no entanto,
que o dever de indemnizar apenas existe se for da outra parte a iniciativa da denuncia
Assim, no caso de a prestação de serviços pelo devedor ter caracter duradouro, embora a
declaração de insolvência não suspenda o contrato, qualquer das partes o pode denunciar,
devendo a denuncia ser efetuada com um pré-aviso de 60 dias a menos que da lei ou do
contrato resulte um prazo inferior (artigos 111, 108, 114/2)
Se a denuncia provier da outra parte, esta fica obrigada a pagar as prestações em falta até ao
fim do prazo contratualmente estipulado ou daquele em que a denuncia seria legal ou
contratualmente possível, com dedução dos custos que o insolvente suportaria e dos proveitos
que a cessação antecipada lhe proporciona
Relativamente aos negócios de cessão e penhor de créditos futuros, o artigo 115 aplica-se
apenas em relação a cessões realizadas antes da declaração, uma vez que após a mesma ,
qualquer cessão de bens ou rendimentos futuros passa a ser interdita ao devedor, mesmo que
a aquisição apenas ocorra após o encerramento do processo (artigo 81/2)
O credor pode assim apenas durante esse período continuar a exigir para si as prestações
objeto de cessão e penhor passam a ser devidas novamente à massa insolvente
O artigo 116 estabelece que a declaração importa o encerramento das contas correntes, sendo
este indispensável em ordem ao apuramento exato da posição do insolvente como credor ou
devedor da outra parte, o qual só se pode determinar através do exame do saldo da conta
(artigo 346/4 CCom)
O artigo 117/2 obriga o associada a entregar à massa insolvente do associante a parte ainda
não liquidada das perdas em que deva participar, conservando, porém, o direito de reclamar,
como crédito sobre a insolvência, as prestações que tenha realizado e que não devam ser
incluídas na sua participação nas perdas
Requisitos
O processo de insolvência visa a satisfação igualitária dos direitos dos credores, logo não é
admissível a concessão de vantagens especiais a qualquer deles a partir do momento em que a
situação de insolvência do devedor vem a ser conhecida
Caso o devedor tenha concedido alguma vantagem desse tipo no período anterior à
declaração, a lei permite à massa insolvente a recuperação das atribuições patrimoniais
correspondentes
Para esse efeito, o administrador pode determinar a resolução de atos e omissões em benefício
da massa insolvente
Requisitos gerais são dispensados no caso de se tratar de atos referidos neste artigo, os quais
são resolúveis, independentemente de quaisquer outros requisitos para além dos referidos na
mesma disposição legal
Exclusão da resolução
Relativamente à legitimidade passiva, direito de resolução deve ser dirigido contra ambas as
partes no ato que se pretende resolver
Forma de exercício
Coerência com o regime geral da resolução que estabelece que a mesma se pode fazer por
simples declaração à outra parte – artigo 436 CC
Artigo 123 não exige que a resolução seja realizada por ação judicial, basta uma simples
comunicação por carta registada com aviso de receção
Artigo 125 estabelece que aos destinatários da resolução incumbe o ónus de impugnar a
mesma em ação dirigida contra a massa insolvente, tendo um prazo de três meses
Pode apenas recorrer-se à ação judicial para obter a condenação das partes no cumprimento
das obrigações que a mesma desencadeia (artigo 126/2)
A resolução pode ainda ser exercida por via de exceção quando o negócio não esteja cumprido
(artigo 123/2)
Resolução terá de conter os fundamentos da mesma, sem os quais será afetada de nulidade
Resolução tem de ser exercida no prazo de seis meses após o conhecimento do ato pelo
administrador, mas nunca depois de decorridos dois anos sobre a data da declaração – artigo
123
No caso de o negócio ainda não estar cumprido, a resolução pode ser exercida sem
dependência de prazo
À semelhança do que se prevê para a impugnação pauliana no artigo 613 CC, a resolução em
benefício da massa pode ser oposta a transmissários do direito, bem como àqueles que
constituam direitos sobre os bens em relação ao quais a resolução seja exercida
Impugnação da resolução
Cabe à parta que se opõe à resolução o ónus de intentar a ação correspondente, destinada à
impugnação da mesma, a qual corre como dependência do processo de insolvência – artigo
125
Ação deve ser instaurada no prazo de três meses, o qual se inicia a partir do momento em que
a parte tem conhecimento da resolução, o que se considera ocorrer quando recebe a carta
registada comunicando o seu exercício
O prazo é perentório, pelo que o seu decurso implica a caducidade do direito de impugnação,
devendo em consequência ter-se como verificada a resolução
Efeitos da resolução
A resolução tem efeitos retroativos, devendo reconstituir-se a situação que existira se o ato não
tivesse sido praticado (artigo 126)
A resolução faz cessar os efeitos do ato praticado em prejuízo da massa, surgindo uma relação
de liquidação, nos termos da qual se determina a restituição das prestações já realizadas
Se o ato tiver sido celebrado a título oneroso, o terceiro deve restituir à massa os bens e
valores objeto da resolução dentro do prazo fixado – artigo 126/3
Se o terceiro estiver de má fé, o crédito que para ele resulta em virtude da resolução assume a
natureza de crédito subordinado (artigo 48/e)
Pelo contrário, se a aquisição ocorrer a título gratuito, a sua obrigação de restituição só existe
na medida do seu próprio enriquecimento, salvo o caso de má fé real ou presumida (artigo
126/6)
Artigo 127
A contrario, não estão os credores impedidos de recorrer à impugnação pauliana enquanto não
se verificar a resolução em benefício da massa
O artigo 127/2, estabelece que estas ações, pendentes à data da declaração ou propostas
posteriormente, não serão apensas ao processo de insolvência e, em caso de resolução do ato
pelo administrador, só prosseguirão os seus termos se tal resolução vier a ser declarada
ineficaz por sentença definitiva