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Uma outra questão é a repercussão em Portugal da declaração de insolvência em

processo estrangeiros, em princípio é reconhecida nos termos do artº 288º do


CIRE, salvo se: a competência do tribunal ou autoridade estrangeira não se
fundar em algum dos critérios referidos no artº 7º do CIRE ou em conexão
equivalente; e se, o reconhecimento conduzir a resultado manifestamente contrário
aos princípios fundamentais da ordem jurídica portuguesa. O Regulamento
estabelece no artº 16º as regras aplicáveis ao reconhecimento do processo de
insolvência, antes de mais, estabelece que qualquer decisão que determine a
abertura do processo de insolvência em qualquer Estado-Membro é reconhecido
em todos os EstadosMembros da União Europeia, logo que produza efeitos no
Estado da abertura do processo 226. 226 A este propósito FERNANDES, Luís A.
Carvalho, LABAREDA, João – Insolvências Transfronteiriças – Lisboa: Quid
Juris, 2003, p. 71 e 72, defendem que, “em regra, a decisão proferida no
processo tem um âmbito territorial de eficácia muito mais amplo do que sucederia
na ausência desta injunção regulamentar, estendendoa a todo o espaço
comunitário. Só assim não será quando haja alguma restrição ou limitação
também determinada no Regulamento”. 88 CAPÍTULO VI REPERCUSSÕES
JURÍDICAS “A razão de ser do processo de insolvência é a de fazer com que
todos os credores do mesmo devedor exerçam os seus direitos no âmbito de um
único processo e o façam em condições de igualdade (par conditio creditorum),
não tendo nenhum credor quaisquer outros privilégios ou garantias, que não
aqueles que sejam reconhecidos pelo Direito da Insolvência, e nos precisos
termos em que este os reconhece” 227 6. Os efeitos da declaração de insolvência O
Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE) dedica o título IV
em exclusivo aos efeitos da declaração de insolvência, dividindo-o em cinco
Capítulos 228 : Capítulo I – Efeitos sobre o devedor e outras pessoas (artº 81º a
84º); Capítulo II – Efeitos processuais (artº 85º a 89º); Capítulo III – Efeitos
dobre os créditos (artº 90º a 101º); Capítulo IV – Efeitos sobre os negócios em
curso (artº 102º a 119º); e o Capítulo V – Resolução em benefício da massa
insolvente (artº 120º a 127º). Porém, a última alteração ao CIRE operou alterações
quando aos efeitos da declaração de insolvência - artºs 82º; 84º; 88º; 93º; 120º e
125º, em que se destacam as seguintes: - Nº 1 do artº 82º - procedeu-se a uma
alteração meramente formal, retirando-se a parte final “podendo renunciar aos
cargos com efeito imediato” que ao manter-se retirava a relevância do preceituado
no nº 2 do artº 82º. - Foi aditado o nº 4 ao artº 84º - “Estando o insolvente
obrigado a prestar alimentos a terceiros nos termos do disposto no artigo 93º,
deve o administrador de insolvência ter esse facto em conta na fixação do
subsídio a que se refere o nº 1”. A introdução deste nº 4 veio permitir aos
familiares do devedor que dele dependam, solicitar ao administrador de
insolvência os alimentos a que o devedor estava obrigado a prestar. - Aditados os
nºs 3 e 4 do artº 88º - quanto ao nº 3 veio definir o desfecho das ações
executivas suspensas, logo que o processo de insolvência seja encerrado – a sua
extinção, quanto ao executado insolvente. O nº 4 atribui competência ao
administrador de insolvência 227 Cfr. LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes –
Direito da Insolvência. Ob. Cit., p. 175. E também, citado por EPIFÂNIO, Maria
do Rosário. Ob. Cit. p. 164. 228 Esta sistematização é uma inovação introduzida
pelo CIRE, o CPEREF dedicava o Capítulo IV aos efeitos da falência dividindo-
os unicamente em três seções: Efeitos em relação ao falido; Efeitos em relação
aos negócios jurídicos do falido; e, Efeitos em relação aos trabalhadores do falido.
89 para comunicar que o processo de insolvência está encerrado e que a ação
executiva se extinguiu. - Alterada a parte final do artº 93º - substituindo “… e
apenas se o juiz o autorizar, fixando o respetivo montante” por “… devendo,
neste caso, o juiz fixar o respetivo montante”. Desde logo dispõe o artº 2009º do
Código Civil a ordem das pessoas vinculadas à prestação de alimentos, contudo,
em caso de nenhuma delas os poder prestar, podem ser pedidos à massa
insolvente, até à presente alteração, a sua prestação dependia da autorização do
juiz, a partir de agora, “quem pretenda que lhe seja arbitrada pensão de
alimentar, apenas deve alegar e provar a correspondente necessidade e a
impossibilidade de a obter de outros obrigados prioritários… 229”. - Artº 120º
alterou o nº 1 e aditou o nº 6 – quanto ao nº1 reduziu-se de quatro para dois
anos os atos prejudiciais à massa praticados que podem ser resolvidos em
benefício da massa insolvente, o encurtamento do prazo de resolução vem
beneficiar em termos de segurança e solidez as relações jurídicas anteriores,
embora em detrimento do interesse dos credores. Quanto ao aditamento do nº 6
vem excluir do regime de resolução os negócios jurídicos celebrados no processo
especial de revitalização; do processo de recuperação ou saneamento das
instituições de crédito, com a finalidade de “prover o devedor com meios de
financiamento suficientes para viabilizar a sua recuperação 230”. Este preceito vai
num encalce do espírito desta última alteração ao CIRE que é a de privilegiar a
recuperação em detrimento da liquidação. - Artº 125º a alteração operada consiste
no encurtamento do prazo de caducidade do direito de impugnar a resolução de
seis meses para três meses. A maioria dos efeitos da declaração de insolvência
destina-se a facilitar a satisfação dos credores ou a obstar que algum credor
obtenha uma satisfação mais eficaz em detrimento dos outros credores. Encontra-se
subjacente aos efeitos da declaração o princípio par conditio creditorum, ou seja o
princípio do tratamento igualitário entre todos os credores, princípio enunciado no nº 1
do artº 604º do CC – “Não existindo causas legítimas de

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