Você está na página 1de 15

RESUMO

O Contrato de mandato comercial é um contrato através do qual um indivíduo, o


mandatário, recebe poderes por parte de outro, o mandante. Assim, através deste acordo,
o mandatário pode praticar actos ou administrar interesses em nome do mandante; estes
actos jurídicos são de natureza comercial. Supõe uma noção-sustentáculo no direito
privado comum, limitando-se a caracterizar a especificidade do objecto deste mandato.
Existem dois elementos essenciais e fundantes do mandato, os partícipes da relação, a
questão da representação e a figura da procuração. Em primeiro lugar, são partes do
mandato o mandante, sendo esse a parte que confere poderes e é representado; e o
mandatário, aquele que recebe os poderes e representa o mandante. Em segundo lugar,
tem-se a principal característica do mandato, a representação, ou seja, o mandatário
representa o mandante: os actos praticados pelo mandatário, dentro dos limites do
mandato, vinculam o mandante. Em terceiro lugar, encontra-se a procuração, a qual
mesmo não sendo requisito formal para a validade do mandato, é considerado
um instrumento do mandato. O contrato é consensual, acima de tudo. Pode ser
outorgado de forma verbal ou escrita e a nível jurídico as características principais são a
contratualidade, a representatividade e a revogabilidade. O mandatário pode ficar
adstrito à prática de actos jurídicos não negociais, e até actos materiais, se forem
acessórios dos actos jurídicos. Os actos de comércio objecto do mandato comercial
podem ser todos os susceptíveis de serem praticados através do mecanismo da
representação, ou através de interposição de pessoa, abrangendo portanto actos de
comércio por conexão, abstractos, e subjectivos (tendo o mandatário actuado provido de
poderes de representação). Em consonância com o regime da procuração, o mandato
pode ser conferido por via unilateral

Palavras-chaves: Contrato de mandato, comercial, civil, mandante, mandatário, actos


comerciais, actos jurídicos, direito privado comum.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................................................5
I. CONTRATO DE MANDATO COMERCIAL.............................................................6
1.1. Noção de Mandato......................................................................................................6
1.2. Mandato Civil e Mandato Comercial........................................................................7
1.2.1. Características........................................................................................................7
1.3. Subtipos do Mandato Comercial: Gerentes, Auxiliares, Caixeiros e Contrato de
comissão..................................................................................................................................9
1.3.1. Gerente....................................................................................................................9
1.3.2. Auxiliares................................................................................................................9
1.3.3. Caixeiros................................................................................................................10
1.3.4. Contrato de comissão...........................................................................................10
1.4. Espécies de Mandato................................................................................................10
1.4.1. Subespécies do Mandato: Mandato com Representação e Mandato sem
Representação.......................................................................................................................11
1.5. Direitos e obrigações do mandatário e do mandante.............................................12
1.6. Término do contrato de mandato............................................................................13
1.6.1. Revogação.............................................................................................................13
1.6.2. Caducidade...........................................................................................................14
1.7. Outros tipos de Mandato.........................................................................................15
1.7.1. Contrato de mandato forense, incluindo o mandato judicial............................15
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................17

4
INTRODUÇÃO

O Código Civil de 1867 consagrava, no ordenamento jurídico português, o mandato


civil como o contrato através do qual se atribui a outrem poderes representativos, ou
seja, para que aja em nome e por conta doutrem (designava-se de mandato ou
procuradoria). Fazia-o de resto o Código Comercial com o mandato comercial. Esta
opção - de considerar o mandato como atribuindo poderes representativos - adveio do
Direito francês, do Code Civil de Napoleão. Este modelo ainda hoje podemos encontrar
em França.
No actual Direito português, em virtude da recepção dos desenvolvimentos da
Pandectística germânica sob a égide de Rudolf von Ihering, nomeadamente através de
Pessoa Jorge, na sua dissertação "O Mandato sem representação", distinguiu-se no
Código Civil de 1966 o contrato de mandato da outorga de poderes
representativos, id est, distinguiu-se o contrato de mandato do negócio de procuração.
No contexto do Direito angolano, o Código Cívil entra em vigor, em todo o território
(ultramarino na altura), no dia 1 de janeiro de 1968.
O presente trabalho está estruturado da seguinte forma: primeiramente por abordar a
noção de Mandato, de seguida, a distinção entre o contrato de mandato civil e o contrato
de mandato comercial; reflectindo sobre as características, espécies e subespécies do
mandato, bem como dos direitos e obrigações dos mandatários e do mandante. E, além
dos contratos de mandato acima mencionados, designadamente, o civil e o comercial,
sendo este último o objecto do trabalho em causa, será apresentado, muito
sinteticamente, um outro tipo de mandato, apenas para conhecimento geral; sendo o
Contrato de mandato comercial o foco deste trabalho.
O contrato de mandato é um contrato de prestação de serviços e há, portanto, três
modalidades do contrato de prestação de serviço: mandato, depósito e empreitada; mas
no respectivo trabalho abordar-se-á sobre o contrato de Mandato exclusivamente.

I. CONTRATO DE MANDATO COMERCIAL

5
I.1. Noção de Mandato
Mandato provem do latim mandatum, de mandare, composto por manus, 'mão' + dare,
'dar': 'dar na mão', no sentido de confiar, encarregar, ordenar, mandar.
O mandato “é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a praticar um ou mais
actos jurídicos por conta de outra” (art. 1157º CC). Trata-se de uma relação onde há a
autorização expressa (por meio do voto ou contratual) da pessoa que cede seus poderes
a outrem.
Enquadra-se no âmbito do contrato de prestação de serviços , em que o prestador é o
mandatário. Este age de acordo com as indicações e instruções do mandante quer
quanto ao objecto, quer quanto à própria execução; os serviços são prestados de acordo
com o querido e programado pelo mandante; ao mandatário só é permitido deixar de
executar o mandato ou afastar-se das instruções recebidas nos casos previstos no art.
1162º CC :“O mandatário pode deixar de executar o mandato ou afastar-se das
instruções recebidas, quando seja razoável supor que o mandante aprovaria a sua
conduta, se conhecesse certas circunstâncias que não foi possível comunicar-lhe em
tempo útil”.
É elemento essencial do contrato de mandato que o mandatário esteja obrigado, por
força do contrato, à prática de um ou mais actos jurídicos (art. 1157º CC).
O mandatário vincula-se, à prática de um acto jurídico. O acto jurídico em causa é um
acto jurídico alheio, aparecendo assim, o mandato como um contrato de cooperação
jurídica entre sujeitos.
Quer os actos jurídicos stricto sensu, quer os negócios jurídicos – figuras em que se
desdobra o acto jurídico – podem ser objecto de mandato, estando definitivamente
afastada a doutrina que circunscrevia os actos jurídicos, objecto de mandato, aos actos
negociais. A circunstância de o mandatário ficar adstrito à prática de actos jurídicos não
significa que não possa praticar actos materiais.
Contudo, é por vezes destacado, como elemento autónomo, a necessidade de o
mandatário agir no interesse do mandante. A posição do mandatário é comparada à do
gestor de negócios, que segundo o art. 464º CC “Dá-se a gestão de negócios, quando
uma pessoa assume a direcção de negócio alheio no interesse e por conta do respectivo
dono, sem para tal estar autorizada”.
Conforme decorre dos art.ºs 1170º e 1175º CC, por vezes o mandato é conferido
também no interesse do mandatário ou de terceiro. O mandatário mantém, nesses casos,
o dever de agir por conta do mandante que contínua a ser o dominus; simplesmente,
através da actuação gestora é também perseguida a satisfação de um interesse do gestor
ou de um terceiro.

6
I.2. Mandato Civil e Mandato Comercial
O mandato pode ser civil ou comercial. Existe um contrato de mandato comercial
quando uma pessoa (mandatário) se encarrega de praticar um ou mais actos de
comércio por mandado de outrem (mandante). Está especialmente regulado nos arts.
231.º e 266.º do Código Comercial. Este, por sua vez, pode ter vários subtipos:
a) Gerentes de comércio;
b) Auxiliares de comércio;
c) Caixeiros;
d) Contrato de comissão.
Ao passo que, no mandato civil, o mandatário obriga-se a praticar actos jurídicos de
natureza civil (1157.º CC).
Entretanto, é de sublinhar que o mandato previsto no art.º 231.º do CCom é sempre um
mandato com representação. O mandato previsto no art.º 266.º do CCom corresponde ao
mandato sem representação, conhecido por contrato de comissão.
O contrato de mandato comercial presume-se oneroso (art.º 232.º CCom) e o mandato
civil presume-se gratuito (nº 1 do art.º 1158.º do CC : “O mandato presume-se
gratuito, excepto se tiver por objecto actos que o mandatário pratique por profissão;
neste caso, presume-se oneroso” e no nº 2 : “se o mandato for oneroso, a medida da
retribuição, não havendo ajuste entre as partes, é determinada pelas tarifas
profissionais; na falta destas, pelos usos; e, na falta de umas e outros, por juízos de
equidade”).

I.2.1. Características
Quando se fala em qualquer instituto jurídico, contratual ou não, é sempre elementar
trazer suas características e sua natureza jurídica, o que não poderia ser diferente com o
mandato. Assim, é o mandato contrato consensual; personalíssimo; em parte gratuito e
unilateral, quando se tratar de mandato civil; oneroso e bilateral, no caso do mandato
comercial; e não solene. Agora, analisar-se-á cada uma dessas características.
O contrato é consensual, pois independe para o seu aperfeiçoamento da entrega do
objeto do contrato, aperfeiçoando-se tão somente pelo acordo de vontades entre as
partes, lê-se, seu consenso; é personalíssimo, pelo facto de decorrer de características da
pessoa do mandatário, ou seja, é firmado em torno da confiança, da ideia de lealdade e
responsabilidade depositadas no mandatário. Pode ser unilateral, haja vista que não se
estipula quando gratuito for, obrigações para o mandante, mas tão somente para o
mandatário, não obstante os casos em que for oneroso, tornando-se bilateral; é ainda não
solene, pois, possibilita que o contrato seja firmando de forma verbal ou de forma tácita.
O Código Civil, no capítulo do mandato, não estabelece quaisquer exigências em
matéria de forma desse contrato; assim sendo, parece vigorar neste domínio o princípio
da liberdade de forma, consagrado no art. 219º CC “A validade da declaração negocial

7
não depende da observância da forma especial, salvo quando a lei a exigir”; portanto,
prima facie, o contrato de mandato é essencialmente um contrato consensual.
O contrato de mandato caracteriza-se por ser um contrato consensual, salvo o caso do
mandato judicial regulado no Código de Processo Civil. Coisa distinta será a forma da
procuração: não obstante o mandato ser consensual, isto é, não carecer de forma
especial, quanto à procuração vale um princípio de equiparação em relação ao acto
jurídico a praticar ou para o qual são atribuídos poderes representativos: a procuração
deverá revestir a forma exigida para o negócio que o procurador deva realizar (art.262.º,
n.º2, CC).
Segundo o art. 262º/2 CC “salvo disposição legal em contrário, a procuração revistará
a forma exigida para o negócio que o procurador deva realizar”.
Dado o regime do art. 262º/2 CC não será de fazer uma diferenciação de regime, em
matéria de forma, consoante o mandato seja representativo ou não representativo: de
acordo com esta distinção, por força da remissão do art. 1178º/1 CC “Se o mandatário
for representante, por ter recebido poderes para agir em nome do mandante, é também
aplicável ao mandato o disposto no artigo 258º e seguintes”, quando o mandato fosse
representativo aplicar-se-ia a regra do art. 262º/2 CC; no caso contrário, o contrato
seria consensual, a não ser que a lei estabelecesse o contrário.
E quanto ao mandato não representativo, o Código Civil não impõe, expressamente,
uma forma específica para o mandato, em função do acto a praticar, como faz na
procuração (art. 262º/2 CC). Mas tal circunstância não resolve, pelo menos de imediato,
a questão no sentido da consensualidade do contrato, pese embora o princípio da
liberdade de forma e a correlativa excepcionalidade das disposições que impõem uma
determinada forma para certos contratos. No mandato para adquirir, perfilhada que seja
a tese da dupla transferência sucessiva, o mandato alberga a obrigação típica de um
pactum de contrahendo, pelo que estará sujeito à exigência de forma decorrente do
disposto no n.º 2 do art. 410º CC “Porém, a promessa relativa à celebração de contrato
para o qual a lei exija documentos, quer autêntico, quer particular, só vale se constar
de documento assinado pelos promitentes”.
Não deve confundir-se forma do mandato com forma da procuração, embora
frequentemente o mandato venha subentendido na procuração; ou esta nele. O contrato
de mandato é ainda nominado, típico, obrigacional quanto aos seus efeitos, e
normalmente de execução instantânea, embora possa não sê-lo. É ainda possível a
formulação de um mandato colectivo (nos termos do artigo 1173º do CC), este
mandato é conferido por várias pessoas e para assunto de interesse comum. Neste
mandato a revogação só produzirá os seus efeitos se realizada por todos os mandantes.
O mandato pode ser sinalagmático quando dê lugar a obrigações recíprocas ou não
sinalagmático quando do mesmo apenas decorram obrigações para o mandatário, e
pode ser conferido de forma unilateral, como é o caso de recusa do mandato comercial
por parte do comerciante (art.º 234.º do CCom). Quando o mandato é gratuito pode vir a
revelar-se como sinalagmático imperfeito, uma vez que o mandante fica adstrito ao
8
cumprimento das obrigações referidas no art. 1167º c) d) CC, as quais têm carácter
acidental, nascendo de factos posteriores à constituição do vínculo de gestão.

I.3. Subtipos do Mandato Comercial: Gerentes, Auxiliares, Caixeiros e


Contrato de comissão

I.3.1. Gerente
Conforme o artigo 248º do CCom, é gerente de comércio todo aquele que, sob qualquer
denominação, consoante os usos comerciais, se acha proposto para tratar do comércio
de outrem no lugar onde este o exerce ou noutro qualquer.
O mandato conferido ao gerente, verbalmente ou por escrito, enquanto não registado,
presume-se geral e compreensivo de todos os actos pertencentes e necessários ao
exercício do comércio para que houvesse sido dado, sem que o proponente possa opor a
terceiros limitação alguma dos respectivos poderes, salvo provando que tinham
conhecimento dela ao tempo em que contrataram (artigo 249ºCCom).
Os gerentes tratam e negoceiam em nome de seus proponentes: nos documentos que nos
negócios deles assinarem devem declarar que firmam com poder da pessoa ou sociedade
que representam. (Artigo 250º CCom).
Segundo o artigo 253º do CCom, nenhum gerente poderá negociar por conta própria,
nem tomar interesse debaixo do seu nome ou alheio em negociação do mesmo género
ou espécie da de que se acha incumbido, salvo com expressa autorização do proponente.
Se o gerente contrariar a disposição deste artigo, ficará obrigado a indemnizar de perdas
e danos o proponente, podendo este reclamar para si, como feita em seu nome, a
respectiva operação.
O gerente pode accionar em nome do proponente, e ser accionado como representante
deste pelas obrigações resultantes do comércio que lhe foi confiado, desde que se ache
registado o respectivo mandato (artigo 254º). As disposições precedentes são aplicáveis
aos representantes de casas comerciais ou sociedades constituídas em país estrangeiro
que tratarem habitualmente no reino, em nome delas, de negócios do seu comércio
(artigo 255º CCom).
A morte do proponente não põe termo ao mandato conferido ao gerente (artigo 261º
CCom).
A revogação do mandato conferido ao gerente entender-se-á sempre sem prejuízo de
quaisquer direitos, que possam resultar-lhe do contrato de prestação de serviços (artigo
262º CCom).
I.3.2. Auxiliares
Conforme previsto art. 256º do CCom, os comerciantes podem encarregar outras
pessoas, além dos seus gerentes, do desempenho constante, em seu nome e por sua
conta, de algum ou alguns dos ramos do tráfico a que se dedicam, devendo os
comerciantes em nome individual participá-lo aos seus correspondentes. As sociedades

9
que quiserem usar da faculdade concedida neste artigo, devem consigná-la nos seus
estatutos.
Os auxiliares não encarregados de um desempenho constante em nome e por conta dos
comerciantes de algum (s) dos ramos de tráfico.
I.3.3. Caixeiros
Segundo o artigo 259º do CCom, os caixeiros encarregados de vender por miúdo em
lojas reputam-se autorizados para cobrar o produto das vendas que fazem: os seus
recibos são válidos, sendo passados em nome do proponente. As mesmas faculdades
têm os caixeiros que vendem em armazém por grosso, sendo as vendas a dinheiro de
contado e verificando-se o pagamento no mesmo armazém; quando, porém, as
cobranças se fazem fora ou procedem de vendas feitas a prazo, os recibos serão
necessariamente assinados pelo proponente, seu gerente ou procurador legitimamente
constituído para cobrar.
Quando um comerciante encarregar um caixeiro do recebimento de fazendas
compradas, ou que por qualquer outro título devam entrar em seu poder, e o caixeiro as
receber sem objecção ou protesto, a entrega será tida por boa em prejuízo do
proponente; e não serão admitidas reclamações algumas que não pudessem haver lugar,
se o proponente pessoalmente as tivesse recebido (artigo 260º CCom).
Não se achando acordado o prazo do ajuste celebrado entre o patrão e o caixeiro,
qualquer dos contraentes pode dá-lo por acabado, avisando o outro contraente da sua
resolução com um mês de antecedência. § Único. O caixeiro despedido terá direito ao
salário correspondente a esse mês, e o patrão não será obrigado a conservá-lo no
estabelecimento nem no exercício das suas funções (artigo 263º CCom).
I.3.4. Contrato de comissão
Segundo o artigo 266º CCom, dá-se contrato de comissão quando o mandatário executa
o mandato mercantil sem menção ou alusão alguma ao mandante, contratando por si e
em seu nome, como principal e único contraente.
Entre o comitente e o comissário dão-se os mesmos direitos e obrigações que entre
mandante e mandatário, com as modificações constantes deste capítulo (artigo 267º
CCom). O comissário fica directamente obrigado com as pessoas com quem contrata,
como se o negócio fosse seu, não tendo esta acção contra o comitente, nem este contra
elas, ficando, porém, sempre salvas as que possam competir, entre si, ao comitente e ao
comissário (artigo 268º CCom).

I.4. Espécies de Mandato


Distingue o Código Civil ao abrigo do art. 1159.º CC, o mandato geral do mandato
especial; o Mandato geral é aquele que “formulado em termos absolutamente
genéricos confere os poderes para a prática de uma quantidade indiferenciada de actos
jurídicos de administração ordinária, relativamente a uma situação jurídica de que é
sujeito o mandante”. Mandato especial é tradicionalmente definido como aquele que é
10
conferido para a prática de um ou mais actos singulares determinados. O art. 1159º/2
CC refere que, o mandato especial abrange, além dos actos nele referidos, todos os
demais necessários à sua execução.
O Mandato Geral sem procuração: decorre o dever de agir por conta do mandante;
pratica actos de carácter genérico, de administração ordinária (ex.: gerir uma empresa,
gerir um móvel)
O Mandato especial acompanhado com procuração: trata-se de um tipo contratual
próprio, um mandato com o outorga de poderes de representação, não o mero poder,
mas o dever de agir em nome do mandante. O mandatário pratica actos específicos e
concretos conferidos na procuração e todos os demais actos necessários para a execução
do mandato. O mandato forense é especial, mas é um mandato com as seguintes
características: a) é um contrato; b) de mandato (art. 1157.º do CC) com outorga de
poderes de representação (ao advogado que tem o dever de agir não só por conta, mas
em nome do mandante, salvo estipulação em contrário, nos termos do art. 1178.º, n.º 2
do CC: ex.: cláusula de pessoa a nomear) e d) forense (para foro= tribunal).
A procuração e o mandato são figuras jurídicas distintas. Porém, em concreto, na
procuração está normalmente subjacente um mandato. E, na prática, o que se formaliza
é apenas à procuração. Portanto, esta opera como o título do mandato. Ou seja, a
procuração não é a forma do mandato, mas sim a consequência deste; o instrumento
pelo qual se oficializa o mandato. Entretanto, há também a existência de
mandato verbal.
Assim sendo, a Procuração é o negócio jurídico unilateral pelo qual alguém atribui a
outrem, voluntariamente, poderes representativos (art.262.º, n.º1, do Código Civil).
No mandato, contudo, a procuração não se confunde com a figura da representação,
nem esta com a procuração. Com efeito, a representação dá-se quando uma pessoa
manifesta vontade em nome de outrem na prática de um determinado acto jurídico.
A representação pode ser legal, nas relações jurídico familiar, judicial, se decorrer de
um processo judicial, como ocorre com os tutores, curadores, e administradores de
falência e, finalmente, pode ser convencional (voluntária), quando decorrer de um
negócio jurídico específico denominado mandato (há também o exercício de
representação em contratos como a comissão, preposição, gestão e agência).

I.4.1. Subespécies do Mandato: Mandato com Representação e


Mandato sem Representação
O mandato, no Direito angolano, pode, portanto, ser sem representação e com
representação. Ou seja, quando o mandatário age em nome do mandante, por este facto,
os efeitos dos actos de execução do mandato, directamente, se repercutem na esfera
jurídica do mandante (Mandato com Representação), ou quando o mandatário age em
nome próprio, os efeitos dos actos por si praticados se reflectem desde logo na sua
esfera jurídica, obrigando-se ele a, num segundo momento, transferir para o mandante
11
os direitos e obrigações gerados pela prática de tais actos (Mandato sem
Representação).

No que concerne ao Contrato de Mandato Comercial, é um mandato com poderes de


representação (231.º e 233.º). Quando o contrato de mandato comercial não for
acompanhado com poderes de representação, estamos perante a figura do contrato de
comissão (art.º 266.º e segs do CCom).

I.5. Direitos e obrigações do mandatário e do mandante


Segundo o art. 1161º do Código Civil o mandatário é obrigado:
a) A praticar os actos compreendidos no mandato, segundo as instruções do
mandante;
b) A prestar as informações que este lhe peça, relativas ao estado da gestão;
c) A comunicar ao mandante, com prontidão, a execução do mandato ou, se o não
tiver executado, a razão por que assim procedeu;
d) A prestar contas, findo o mandato ou quando o mandante as exigir;
e) A entregar ao mandante o que recebeu em execução do mandato ou no exercício
deste, se o não despendeu normalmente no cumprimento do contrato.
A al. a) do art 1161º CC, constitui o efeito essencial do contrato de mandato disposto no
art. 1157º CC. Não é apenas um núncio (que se impõe ao mandante a simples emissão
de uma declaração de vontade), com efeito, o mandatário tem a obrigação de negociar e
dar execução de um acto ou a um conjunto de actos jurídicos. As instruções podem ser
dadas no momento em que o mandato é constituído ou em momento posterior, durante a
execução do contrato.
A obrigação de prestação de contas (art. 1161º-d CC), quando haja, em relação às
partes, créditos e débitos recíprocos.
O mandatário tem ainda a obrigação de pagar ao mandante os juros legais
correspondentes às quantias que recebeu dele ou por conta dele, a partir do momento em
que devia entregar-lhas ou remeter-lhas, ou aplicá-las segundo as suas instruções (art.
1164º CC).
Por sua vez, o mandante tem também obrigações, tais como a obrigação de lealdade
e cooperação decorrente do princípio expresso no art. 762º/2 CC, segundo a qual as
partes devem proceder de boa-fé tanto no cumprimento da obrigação quanto ao
exercício do direito respectivo, assente numa relação de confiança.
Deve ainda o mandante fornecer ao mandatário os meios necessários à execução do
mandato, se outra coisa não foi convencionada (art. 1167º-a CC); pagar a retribuição
que ao caso competir, e fazer a provisão que for de uso (art. 1167º-b CC). A
retribuição só existe quanto tiver sido convencionada ou o mandato tiver por objecto
actos que o mandatário pratique por profissão (art. 1158º/1 CC), cuja medida, sem

12
ajuste das partes, é determinada pelas tarifas profissionais, pelos usos, ou por juízos de
equidade (art. 1158º/2 CC).
O mandante tem a obrigação de reembolsar o mandatário de despesas feitas, com juros
legais desde que foram efectuadas (art. 1167º-c CC). Os juros são compensatórios e
não moratórios, pois não há por parte do mandante a falta de cumprimento de uma
obrigação. Por último, o mandante é obrigado a indemnizar o mandatário dos prejuízos
sofridos em consequência do mandato. Esta obrigação não depende de culpa do
mandante (responsabilidade objectiva).
O mandatário goza do direito de retenção sobre as coisas que tenha em seu poder para a
execução da gestão, pelo crédito proveniente desta (art. 755º/1-c CC).
Introduz um regime especial na perfeição do contrato- o silêncio vale como aceitação do
mandato. Pressupõe que mandatário aceitará o mandato, uma vez que faz dele profissão
e é remunerado. Não querendo aceitar, deve comunicá-lo o mais depressa possível, e
praticar as diligências indispensáveis para a conservação de mercadorias (será
indemnizado destes gastos pelas regras do enriquecimento sem causa). Deve recorrer a
tribunal para que se ordene o depósito e segurança das mercadorias. Apesar da
expressão “comerciante” (devida ao facto de serem os comerciantes os que na grande
maioria dos casos exercem o mandato mercantil), as obrigações também se estendem a
não comerciantes.

I.6. Término do contrato de mandato


O mandato pode cessar por revogação, denúncia, caducidade e por resolução ou acordo
das partes
O contrato de mandato pode terminar se o mandante o revogar, se o mandatário
renunciar expressamente às condições, pela morte de uma das partes, incapacidade
física ou mental, mudança de estado, término do prazo ou simplesmente pela conclusão
do negócio que o originou.

I.6.1. Revogação

Segundo Januário C. Gomes, aplica-se o regime civil: está consagrado o princípio da


livre revogabilidade (vs. 406CC pacta sunt servanda), que assenta na sua especial
configuração como contrato de prestação de serviços, e sobretudo como contrato
gestório. No direito comercial este princípio não se aplica, pelo facto de o mandato
comercial não ter por característico ou qualificador o interesse do mandatário ao lado do
interesse do mandante, sendo necessário o acordo do mandatário quando este também
tiver um interesse próprio e verdadeiro no mandato. 1. A existência duma justa causa
para a revogação não dá à contraparte direito a indemnização; 2. a revogação sem justa
causa só dá direito a indemnização nas situações enunciadas no art 1172 CC; 3. a
necessidade de realização da revogação com antecedência conveniente tanto tem
aplicação ao mandato por tempo indeterminado (o art 245 CCom impõe um pré-aviso

13
para a revogação de mandatos por tempo indeterminado, por semelhança com o art 263
CCom), quanto ao por tempo determinado, ou para determinado assunto (no que toca a
este tipo de mandatos, o art 245 CCom inovou apenas ao prever expressamente a
possibilidade de uma pena convencional). 4.a obr de indemnização pela revogação sem
antecedência conveniente não se circunscreve ao mandato oneroso.
O mandato de interesse comum não pode, em princípio, ser revogado unilateralmente,
apenas se houver acordo do outro interessado, ou justa causa. Conforme o art.
1171 CC, a revogação tácita está dependente do conhecimento da designação pelo
mandatário. Este regime tem natureza supletiva, pois a outra nomeação pode ter o
propósito de provocar uma actuação disjunta dos mandatários (art. 1160 CC).
O art. 245 CCom é um regime especial face ao regime civil, devido à natureza
comercial da figura – a indemnização é assegurada desde que a revogação seja
injustificada.

I.6.2. Caducidade

Para Janurário C. Gomes, o art 246º CCom pressupõe caducidade, mas esta não é
regulada especialmente pelo direito comercial, aplicando-se o regime civil da
caducidade do mandato. Contudo, o art 246º CCom é uma disposição especial, pois
assenta no carácter de instituto profissional do mandato comercial, sendo prevista uma
autêntica compensação (e não indemnização), tutelando as expectativas do mandatário,
dos seus herdeiros ou representante (ver o art 1174º b) CC).
O arti 246º CCom abrange a inabilitação do mandante (interpretação extensiva); era
intenção do legislador contemplar todas as situações de caducidade do mandato. No
caso de o mandato ser estabelecido por tempo indeterminado, a compensação não pode
ser proporcional, logo, o Prof. propõe uma compensação equitativa.
No 1174º CC, a natureza pessoal da relação de mandato justifica a não transmissão das
posições do mandante e do mandatário.
O mandato não caduca quando tenha sido conferido também no interesse do mandatário
ou de terceiro (interesse comum determina excepção à livre revogabilidade, repete-se
solução na caducidade); no mandato de interesse simples, a caducidade só opera a partir
do momento em que seja conhecida do mandatário, mas se da caducidade resultarem
prejuízos para o mandante ou para os herdeiros, o mandatário deve continuar com o
mandato, embora não tenha nem o direito, nem o dever de continuar com a execução até
ao cumprimento integral do mandato ( art 1175º CC).
No 1176º CC considera que herdeiros, ou representante, devem prevenir o mandante e
tomar as providências adequadas, e apenas serão responsabilizados pelo não
cumprimento destas obrigações se tiverem culpa (p.e., se conheciam a existência do
mandato); no 1176º, 2) CC, a incapacidade natural das mesmas obrigações do nº1
recaem sobre as pessoas que convivem com o mandatário, estando estas
14
responsabilizadas pessoalmente, dependendo da sua culpa, da mesma forma que os
herdeiros e o representante.

I.7. Outros tipos de Mandato


I.7.1. Contrato de mandato forense, incluindo o mandato judicial
O contrato de mandato forense é o contrato celebrado entre Advogado e cliente,
necessariamente com poderes de representação, oneroso, que pode ser:
a) o mandato judicial para ser exercido em qualquer Tribunal, incluindo os
Tribunais ou comissões arbitrais e os julgados de paz;
b) o exercício do mandato com representação, com poderes para negociar a
constituição, alteração ou extinção de relações jurídicas (por exemplo, a
celebração de contratos); ou ainda,
c) o exercício de qualquer mandato com representação em procedimentos
administrativos, incluindo tributários, perante quaisquer pessoas coletivas
públicas ou respetivos órgãos ou serviços, ainda que se suscitem ou discutam
apenas questões de facto.

15
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mandato comercial é um subtipo do mandato civil, pois tem os mesmos elementos


essenciais que o civil, só que no comercial se acrescentam dois novos elementos típicos:
a natureza da actividade é especificada (actos de comércio), e tem-se em consideração a
onerosidade como elemento essencial. O mandato civil é passado no interesse do
mandante. Já o mandato comercial opera também no interesse do mandatário e no do
comércio em geral.
O mandato assume-se como uma relação de colaboração e uma relação gestória; o
“interesse” tem relevância na indagação de um interesse do mandatário ou de terceiro
cumulado ao interesse do mandante – mandato de interesse comum.
Em direito comercial, e ao invés do ocorre no direito civil, quando nos referimos ao
“mandato”, este envolve sempre poderes de representação; se não existirem poderes de
representação encontrar-nos-emos perante a figura da Comissão. As “áreas perdidas” do
mandato foram sendo ocupadas por outros contratos de prestação de serviços, como a
agência e a mediação.
O mandatário e o mandante têm obrigações na sua relação, ao mandante cabem as
obrigações de adiantar a importância das despesas necessárias à execução dele, quando
o mandatário lho pedir, pagar ao mandatário a remuneração ajustada e as despesas da
execução do mandato, ainda que o negócio não surta o esperado efeito, salvo tendo o
mandatário culpa e ressarcir ao mandatário as perdas que este sofrer com a execução do
mandato, sempre que não resultem de culpa sua ou de excesso de poderes. O mandatário
por sua vez, tem a obrigação de praticar actos e administrar interesses em nome do
mandante e dentro dos poderes por esse conferidos, dar contas de sua gerência ao
mandante, transferindo-lhe as vantagens provenientes do mandato, por qualquer título
que seja, ou seja, prestando contas ao mandante, aplicar toda sua diligência habitual na
execução do mandato, indemnizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a
quem substabelecer, sem autorização, poderes que devia exercer pessoalmente, deixar
claro às pessoas de que se trata de mandato, apresentando a elas a procuração e concluir
o negócio já começado, se houver perigo na demora nos casos em que estiver ciente da
morte, interdição ou mudança de estado do mandante. mandatário pode ficar adstrito à
prática de actos jurídicos não negociais, e até actos materiais, se forem acessórios dos
actos jurídicos. Os actos de comércio objecto do mandato comercial podem ser todos os
susceptíveis de serem praticados através do mecanismo da representação, ou através de
interposição de pessoa, abrangendo, portanto actos de comércio por conexão, abstractos,
e subjectivos (tendo o mandatário actuado provido de poderes de representação).

16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Pinto, Mota em “Teoria Geral do Direito Civil”, 2ª ed. actualizada, Coimbra Editora,
pág. 404.
Código Civil angolano
Código Comercial angolano
Website:

- Dizionario Etimologico, mandato e mandare

- Contrato de mandato: o que é e a quem se aplica (e-konomista.pt)

- Contrato de mandato - Flávio Mouta Mendes (sociedadescomerciais.pt)

- Mandato e Representação Comercial - CHICO DOS ARNEIROS (sapo.pt)

17

Você também pode gostar