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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA CIVEL DA COMARCA DE CAMPOS


DOS GOYTACAZES /RJ

Proc.: 0039608-46.2009.8.19.0014

JOSIMAR SANTOS MANHAES, já qualificado nos autos da


AÇÃO DE COBRANÇA DE COMPLEMENTO DE SEGURO DPVAT, que move em face de
SEGURADORA LÍDER DOS CONSÓRCIOS DE SEGURO DPVAT, vem respeitosamente
perante Vossa Excelência, através de seus advogados abaixo assinados, tempestivamente, com
fulcro no artigo 1009 e seguintes do Novo Código de Processo Civil, interpor o presente:

RECURSO DE APELAÇÃO

Contra a retro sentença que julgou parcialmente procedente o pedido


do Recorrente, requerendo o recebimento em seu duplo efeito e sua ulterior remessa ao E.TJ/RJ,
ante o preenchimento de seus requisitos de admissibilidade, conforme razões na peça apartada:

Termos em que,

Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 2021.

MARCELO CRUZ EVANGELISTA LEVI SIMÕES DE FREITAS


OAB/RJ 58.404 OAB/RJ 196.585

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA,


Autos do processo nº: 003960846.2009.8.19.0014

Apelante: JOSIMAR SANTOS MANHAES

Apelado: Seguradora Líder dos Consórcios do Seguro DPVAT S/A

Origem: MM. Juízo da 3ª Vara Cível da Comarca de Campos dos Goytacazes/RJ

RAZÕES DE APELAÇÃO

Colenda Câmara,

Trata-se de recurso de apelação interposto contra sentença que julgou


procedente em parte o pedido formulado pelo Autor, ora Apelante, contra a qual se insurge pelos
motivos que passará a expor adiante.

PRELIMINARMENTE

DA TEMPESTIVIDADE

O presente recurso é tempestivo, uma vez que tendo sido intimado da


r. sentença nesta data, em consonância com o artigo 219, caput do Novo Código de Processo Civil,
bem como a suspensão de prazos e feriados até a presente data, sendo assim, incontestavelmente foi
respeitada a quinzena legal.

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Conforme se verifica dos autos, o Apelante por ser juridicamente


pobre e não dispor de recursos para arcar com as custas processuais que lhe foi concedido o
benefício da gratuidade de justiça deferida em decisão proferida pelo juízo a quo.

Nestas condições, aproveita a oportunidade para asseverar que em


face disso deixa de recolher as custas processuais.

SÍNTESE DA DEMANDA
Trata-se de Ação de cobrança de Seguro DPVAT, objetivando a
condenação da Ré ao pagamento da complementação de indenização em virtude de acidente
automobilístico ocorrido em 23/08/2008, onde acarretou sequelas permanentes no Autor.

Após a apresentação de contestação pela parte Ré fora realizada


perícia médica por Perito nomeado pelo Juízo, onde restou comprovado o nexo causal entre o
acidente e os danos sofridos pelo Autor, sendo atestada sequela em razão de retirada do baço.

Ao exarar sua sentença, o nobre Magistrado a quo decidiu no


julgamento parcialmente procedente da demanda, nos seguintes termos:

Trata-se de ação ajuizada por JOSIMAR SANTOS MANHÃES em face


SEGURADORA LIDER DOS CONSÓRCIOS DE SEGURO DPVAT S/A,
alegando, em síntese, que sofreu um acidente automobilístico, em 23/08/2008, que
lhe ocasionou sequelas permanentes, especificamente audição debilitada, sentindo
fortes dores, devido à otorracia à esquerda. Ao final requer o pagamento de
indenização do seguro obrigatório DPVAT no valor de R$13.500,00. A petição
inicial veio instruída pelos documentos de fls. 07/34. Proferida decisão à fls. 36, na
qual foi deferida a gratuidade de justiça. Citação regular à fls. 22-v. Assentada de
audiência às fls. 41/42, na qual o feito foi julgado extinto. Contestação tempestiva às
fls. 43/52, instruída pelos documentos de fls. 53/68, na qual alega, em síntese, a falta
do interesse de agir; a ausência de provas dos fatos alegados; que a indenização deve
ser proporcional à natureza, alcance, impacto, grau e extensão da lesão. Apelação às
fls. 73/81. Recebida à fls. 85. Contrarrazões às fls. 88/99. Anulada a sentença às fls.
103/109. Proferida decisão à fls. 112, na qual foi afastada questão preliminar,
saneado o feito, fixado ponto controvertido e deferidas provas documental e pericial.
Laudo pericial às fls. 191/195. Manifestações às fls. 198 e 201/203. Encaminhados
os autos ao Grupo de Sentença à fls. 221. Vieram-me os autos conclusos. É o
relatório. Passos a decidir. Busca o Autor o pagamento de diferença em indenização
do seguro DPVAT, pelos fundamentos explicitados na inicial. Considerando que não
há mais provas a serem produzidas, impõe-se o julgamento antecipado da lide, nos
termos do art. 355, I do Código de Processo Civil. Estamos em evidente sede de
direito do consumidor, no qual os prestadores de serviço respondem pelos danos
causados aos consumidores objetivamente, só se isentando de sua responsabilidade
caso comprovem uma das excludentes prevista no art. 14, §3º I e II do Código de
Defesa do Consumidor, ou seja, a inexistência de defeito na prestação ou culpa
exclusiva do consumidor ou de terceiro. Restou comprovado pelo laudo pericial (fls.
191/195) que o Autor é portador de incapacidade parcial e permanente avaliada em
10% (dez por cento), por lesões neurológicas, conforme trechos que passamos a
reproduzir: ´Em virtude das lesões crânio-faciais, com debilidade permanente total
em grau residual das funções neurológicas, o periciado faz jus a indenização
DPVAT que corresponde a 10% de R$13.500,00.´ Para apuração do valor a ser
indenizado, deve-se observar a tabela anexa à Lei 6194/74. Considerando que o
patamar máximo de indenização é de R$13.500,00, cabe ao Autor uma indenização
no valor de R$1.350,00. Não podemos deixar de observar que o Autor formulou
requerimento administrativo apenas após o ajuizamento da presente demanda,
acarretando a fluência da correção monetária a contar da juntada do laudo pericial
nestes autos. Na mesma toada, tendo em mente o Princípio da Causalidade,
esclarecendo que este não se contrapõe ao Princípio da Sucumbência, mas sim o
mitiga em ocasiões nas quais a aplicação pura e simples deste causaria uma situação
de injustiça, deverá o Autor arcar com as custas processuais, eis que ajuizou a
demanda se que houvesse resistência do Réu. Pelo exposto, JULGO
PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido para condenar o Réu ao pagamento em
favor do Autor da quantia de R$1.350,00 (um mil, trezentos e cinquenta reais),
acrescido de juros a contar da citação e correção monetária a contar da data da
juntada do laudo pericial, observando-se os índices oficiais da Corregedoria Geral de
Justiça e julgo extinto o processo, na forma do art. 487, inciso I, do Código de
Processo Civil. Com base na teoria da causalidade, condeno o Autor ao pagamento
das custas processuais e honorários advocatícios que fixo em 10% (dez por cento)
sob o valor da causa, com fulcro no § 2º do art. 85 do Código de Processo Civil,
observando-se a gratuidade de justiça deferida. Certificados o trânsito em julgado e a
insubsistência de custas, dê-se baixa e arquive-se. P.R.I.

Excelências, apesar de comumente exarar decisões acertadas, o


Magistrado a quo equivoca-se em relação à ocorrência de sucumbência recíproca, bem como em
relação à incidência de correção monetária e juros de mora, conforme se demonstrará a seguir.

DA ERRÔNEA CONDENAÇÃO EM SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA

As custas processuais e os honorários sucumbenciais em razão de


condenação em montante inferior ao pleiteado na inicial não são recíprocos, considerando que os
valores apontados na inicial têm natureza meramente estimativa, o qual se define somente
com a realização da perícia cabível – a qual ocorreu devidamente nos autos.

Consequentemente, não se pode considerar que o Apelante e Apelada


foram sucumbentes em parte, vez que apenas o interesse da parte Autora foi satisfeito, mesmo que
em valor inferior ao solicitado.

Senão vejamos decisão recente sobre o tema:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. SANEAMENTO DO VÍCIO.


SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA AFASTADA. EFEITOS INFRINGENTES. No caso em
análise, o Acórdão atacado julgou procedente em parte o recurso da ré-embargada para
determinar o rateio das custas processuais e condenar o autor-embargante ao pagamento de
honorários advocatícios de 10% (dez por cento) sobre a diferença entre o valor pleiteado e o
proveito econômico efetivamente obtido e o réu ao pagamento de honorários advocatícios de
10% (dez por cento). Embargos de declaração opostos pelo autor. De fato, o acidente
automobilístico suportado pelo autor-embargado provocou incapacidade cuja extensão
dependia de prova pericial. Por certo, não poderia o demandante-recorrente prever, antes
da diligência judicial, o grau de lesão decorrente do sinistro, a justificar a sucumbência
reciproca, pelo recebimento de indenização inferior ao valor pleiteado. Dessa forma,
impõe-se a reforma da parte do Acórdão que reconheceu a sucumbência recíproca, mantido
nesse ponto os termos da sentença recorrida. Precedentes desta Câmara Cível.
PROVIMENTO DO RECURSO COM EFEITO MODIFICATIVO. (TJ-RJ - APL:
02401795720188190001, Relator: Des(a). ALCIDES DA FONSECA NETO, Data de
Julgamento: 07/10/2020, VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
20/08/2020)

APELAÇÃO. SEGURO DPVAT. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. PLEITO DE


AFASTAMENTO DA SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. RECONHECIMENTO DA
INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA EM PATAMAR INFERIOR QUE NÃO IMPLICA
NA SUCUMBÊNCIA DA PARTE. REFORMA DA SENTENÇA. Trata-se de ação
objetivando o pagamento do seguro obrigatório DPVAT, em razão de acidente sofrido pelo
autor, do qual teria resultado incapacidade permanente. O sentenciante julgou parcialmente
procedente a pretensão autoral, condenando a parte ré a pagar R$2362,50, acrescido de juros
legais desde a citação e correção monetária a contar do sinistro, quantia inferior à pleiteada
pela parte. Por fim, reconheceu a sucumbência recíproca das partes. (doc. 254) Por sua vez, a
parte apelante persegue a reforma da sentença sob o fundamento de que a fixação do
percentual reparatório em valor inferior ao pleiteado pela parte não configura sucumbência
recíproca, como sedimentado pelo C. STJ na Súmula 326. Pelo exposto, requer a reforma da
sentença, impondo à apelada, de forma integral, o ônus sucumbencial. Merece prosperar a
irresignação autoral. A apuração das consequências danosas do evento e da intensidade das
sequelas deixadas pelo acidente perfazem o próprio objeto da demanda, exigindo a produção
de prova técnica, de modo que que a conclusão aquém do narrado pela parte autora não
implica no reconhecimento da sucumbência parcial da parte autora. Portanto, tal como no
caso das ações ressarcitórias por danos morais, a fixação de quantum inferior ao pleiteado na
exordial não importa na sucumbência da parte demandante. Nessa esteira, o entendimento do
C. STJ mencionado pelo recorrente. Na ação de indenização por dano moral, a condenação
em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca. Merece
prosperar, portanto, o recurso autoral. Considerando a procedência total da pretensão autoral,
compete à parte ré suportar os ônus sucumbenciais, ou seja, arcar com as despesas processuais
e honorários advocatícios. Diante da singeleza da causa, fixo os honorários advocatícios no
mínimo legal – 10% sobre o valor da condenação, ex vi do art. 85, § 2 do NCPC.
(APELAÇÃO CÍVEL Nº 126454-32.2014.8.19.0001, DECISÃO 04/08/2017)

Sendo assim, frise-se, não houve sucumbência recíproca. Houve


sucumbência total da seguradora.

Assim, os honorários e custas devem ser redimensionados e imputados


exclusivamente à Seguradora, livrando-se a parte Autora de sua condenação.

Por isso, é de se destacar, igualmente, que não procede tal


determinação, devendo a sentença ser reformada nesse parte além do já exposto acima.
Ademais, salienta ainda que a Autora, ora Apelante, é beneficiária da
gratuidade de justiça, não havendo que se falar em cobrança de custas, honorários periciais e afins
em relação a este, razão pela qual reitera os argumentos supra.

DA CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS

Excelências, equivoca-se também o juízo a quo quanto ao termo


inicial da correção monetária e juros para fins de pagamento da condenação.

Conforme jurisprudência do C. Superior Tribunal de Justiça, a


correção monetária incidente sobre a verba indenizatória do DPVAT, opera-se desde a data do
evento danoso, vejamos:

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. CIVIL. SEGURO DPVAT.


INDENIZAÇÃO. ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA. TERMO 'A QUO'. DATA DO
EVENTO DANOSO. ART. 543-C DO CPC. 1. Polêmica em torno da forma de
atualização monetária das indenizações previstas no art. 3º da Lei 6.194/74, com
redação dada pela Medida Provisória n. 340/2006, convertida na Lei 11.482/07, em
face da omissão legislativa acerca da incidência de correção monetária. 2.
Controvérsia em torno da existência de omissão legislativa ou de silêncio eloquente
da lei. 3. Manifestação expressa do STF, ao analisar a ausência de menção ao direito
de correção monetária no art. 3º da Lei nº 6.194/74, com a redação da Lei nº
11.482/2007, no sentido da inexistência de inconstitucionalidade por omissão (ADI
4.350/DF). 4. Para os fins do art. 543-C do CPC: A incidência de atualização
monetária nas indenizações por morte ou invalidez do seguro DPVAT, prevista no §
7º do art. 5º da Lei n. 6194/74, redação dada pela Lei n. 11.482/2007, opera-se desde
a data do evento danoso. 5. Aplicação da tese ao caso concreto para estabelecer
como termo inicial da correção monetára a data do evento danoso. 6. RECURSO
ESPECIAL PROVIDO. (REsp 1483620/SC, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/05/2015, DJe 02/06/2015)

Portanto, cediço que a correção monetária deve incidir desde o evento


danoso, não havendo que se acolher qualquer outro entendimento divergente.

Ademais, quanto aos juros moratórios, também cabe aplicar aqui o


entendimento pacificado do e. STJ:

Súmula nº 426 - Os juros de mora na indenização do seguro


DPVAT fluem a partir da citação.
Vejamos o entendimento hodierno deste Tribunal acerca do tema:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. DPVAT. IRRESIGNAÇÃO DA SEGURADORA


QUANTO AO TERMO DE FLUÊNCIA DE JUROS MORATÓRIOS E
CORREÇÃO MONETÁRIA. Apelo que merece prosperar em relação à correção
monetária, que deve começar a fluir a partir do evento danoso. Súmula nº 580, do e.
STJ. Precedente. Os juros moratórios incidem a partir da citação, conforme
corretamente estabelecido na sentença. Súmula nº 426, do e. STJ. PARCIAL
PROVIMENTO DO RECURSO. (TJ-RJ - APL: 00032036920178190001 RIO DE
JANEIRO CAPITAL 3 VARA CIVEL, Relator: NILZA BITAR, Data de
Julgamento: 18/07/2018, VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 19/07/2018)

Sendo assim, Excelências, deve a retro sentença ser reformada a fim


de que conste que a indenização deve ser paga com correção monetária desde a data do evento
danoso, bem como acrescido de juros da citação.

DO PEDIDO

Posto isso, e somados os doutos suplementos que certamente este


Juízo irá dispensar ao fato concreto, espera confiantemente a Apelante, que V.Exas. analisem
com cautela e concluam ao final que o Douto Julgador a quo se equivocou ao julgar
parcialmente procedente a ação, devendo a sentença ser reformada de modo que seja afastada
a sucumbência recíproca, condenando-se o Réu ao pagamento de honorários em sua
integralidade e afastando quaisquer ônus de custas e afins da parte Autora, ante a gratuidade
de justiça deferida, além considerar a incidência de correção monetária desde a data do
evento danoso (23/08/2008) e juros de mora da citação, por ser medida de lídima Justiça.

Nestes Termos,
Pede Deferimento.

Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 2021.


MARCELO CRUZ EVANGELISTA
OAB/RJ 58.404

LEVI SIMÕES DE FREITAS


OAB/RJ 196.585

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