Você está na página 1de 7

EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE CHOROZINHO-CE

Processos no. 3084-69.2014.8.06.0068


4053-84.2014.8.06.0068

PAULO MOREIRA LIMA-ME, nos autos da AÇÃO REVISIONAL DE


CONTRATO COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA, que move contra BANCO BRADESCO
FINANCIAMENTOS S/A, bem como na Ação contrária de AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO,
ambos já devidamente qualificados nos autos do referido processo, vem, por seu procurador abaixo
assinado, com o devido respeito à presença de V. Exa., tempestivamente, apresentar Recurso de
Apelação.

Requer, assim, digne-se Vossa Excelência receber o presente


recurso em seu EFEITO SUSPENSIVO EM AMBAS AS AÇÕES, e cumprido o trâmite de praxe, seja
remetido à superior instância.
Preparo Recursal recolhido e juntado.

Nestes Termos,

Pede Deferimento.

Fortaleza, 9 de abril de 2024.

RONALD TORRES DE OLIVEIRA


OAB/CE 16.310
EGRÉGIA CÂMARA DO COLENDO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO
CEARÁ

RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO


ORIGEM: VARA ÚNICA DA COMARCA DE CHOROZINHO-CE
Processos no. 3084-69.2014.8.06.0068
4053-84.2014.8.06.0068
APELANTE: PAULO MOREIRA LIMA-ME
APELADO: BANCO BRADESCO FINANCIAMENTOS S/A

Colenda Câmara Cível,

Ínclitos Julgadores,

Inconformado com a decisão do MM. Juiz singular, PAULO


MOREIRA LIMA-ME, devidamente qualificado nos autos acima epigrafados, vem, mui
respeitosamente perante esta Colenda Câmara Cível, apresentar Recurso de Apelação para que
seja reformada a decisão monocrática nos termos adiante explicitados.

DOS FATOS

O Apelante, em 24/02/2014, ajuizou AÇÃO REVISIONAL DE


CONTRATO COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA contra o Apelado.
O Apelado, por sua vez, ingressou com AÇÃO DE BUSCA E
APREENSÃO contra o Apelante, em 19/11/2014.
Aduziu e provou o Apelante que o contrato firmado estava eivado de
vícios, tais como juros remuneratórios abusivos e juros remuneratórios capitalizados.

O banco promovido apresentou contestação, contudo, AO JUNTAR


O CONTRATO DE FINANCIAMENTO CELEBRADO ENTRE AS PARTES, CONSTATA-SE NO
MESMO A AUSÊNCIA DE CLÁUSULA EXPRESSA QUE AUTORIZASSE A SUPOSTA
LEGALIDADE DO ANATOCISMO.

PRELIMINARMENTE
DO CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA

Como consta às fls. 131, o apelante requereu, TEMPESTIVAMENTE


a produção de prova pericial, a qual, por sinal seria determinante para assinalar a incidência da
capitalização de juros, já que o contrato, repisamos, não previa tal prática.
Tal pedido foi reiterado às fls. 214, pois o Douto juiz anunciou o
julgamento do processo no estado em se encontrava. NA OPORTUNIDADE O APELANTE
REITEROU O PEDIDO FORMULADO ÀS FLS. 131.
No entanto, para surpresa do apelante, O DOUTO JUIZ “A QUO”
SIMPLESMENTE IGNOROU O PEDIDO LEGÍTIMO DO APELANTE, PROLATANDO SENTENÇA
SEM OBSERVAR O PEDIDO DE REALIZAÇÃO DE PERÍCIA, PEDIDO ESTE REALIZADO NA
EXORDIAL E EM MAIS DUAS OPORTUNIDADES NO CURSO DO PROCESSO.
Vale salientar que, caso o Douto Julgador entendesse que não
haveria a necessidade da produção de prova pericial, o mesmo deveria assim se manifestar,
fundamentando sua decisão, O QUE NO PRESENTE CASO NÃO OCORREU.

Desta forma, claro está o cerceamento de direito de defesa, pois ao


apelante foi negado o direito de produzir prova pericial.

A Jurisprudência assim nos socorre:

“TJ-RS - Apelação Cível AC 70063845093 RS (TJ-RS)

Data de publicação: 15/04/2015


Ementa: DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. PRELIMINAR
DECERCEAMENTO DE DEFESA ACOLHIDA. FALTA
DE PRODUÇÃO DE PROVAPERICIAL CONTÁBIL. Incabível o julgamento antecipado da lide se
a autora postulou a produção de prova pericial contábil, especialmente levando em conta que
existem nos autos questões fáticas que merecem ser
esclarecidas.Cerceamento de defesa caracterizado. Acolhida a preliminar
de cerceamento dedefesa para desconstituir a sentença. Prejudicado o exame do mérito da
apelação. (Apelação Cível Nº 70063845093, Décima Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Voltaire de Lima Moraes, Julgado em 09/04/2015)”.

“TJ-RJ - APELACAO APL 03010627720128190001 RJ 0301062-77.2012.8.19.0001 (TJ-RJ)

Data de publicação: 21/02/2014


Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. RITO SUMÁRIO. AÇÃO REVISIONAL
DE CLÁUSULAS C/C INDENIZATÓRIA E OBRIGAÇÃO DE FAZER. CONTRATO DE
FINANCIAMENTO DE VEÍCULO. ALEGAÇÃO DE ANATOCISMO, COBRANÇA DE TARIFAS
ABUSIVAS, COMISSÃO DE PERMANÊNCIA C/C JUROS DE MORA E MULTA
CONTRATUAL. PROVA PERICIAL INDEFERIDA. SENTENÇA DE IMPROCEDENCIA.
INCONFORMISMO. PEDIDO DE ANULAÇÃO DA SENTENÇA POR CERCEAMENTO DE DEFESA.
NECESSIDADE DE PERÍCIA TÉCNICA CONTÁBIL. QUESITOS APRESENTADOS NA INICIAL,
OBSERVADO O RITO. BANCO APELADO QUE EM CONTESTAÇÃO, IGUALMENTE, PUGNA
PELAPRODUÇÃO DA PROVA TÉCNICA COM APRESENTAÇÃO DE QUESITAÇÃO. ERROR IN
PROCEDENDO. PRECEDENTES. ANULAÇÃO DA SENTENÇA. In casu, verifica-se ser
indispensável a prova pericial para o deslinde da controvérsia, a qual foi expressamente
requerida pelo Autor/apelante na inicial, com repetição nas razões do apelo. Sentença anulada.
Prosseguimento regular do processo com a realização da prova pericial técnica. ART. 557 , § 1º-A
DO CPC . PROVIMENTO DO RECURSO AUTORAL, para anular a sentença, determinando o
prosseguimento do processo com a realização da prova pericial contábil”.”.

Assim sendo, requer o apelante o reconhecimento da presente


preliminar, com a consequente anulação da sentença, determinando o prosseguimento do processo
no juízo “a quo”, com a realização de prova pericial contábil.

DO MÉRITO
DA SENTENÇA ATACADA

O Magistrado “a quo’, julgou improcedente em sua totalidade o


pedido inserto na peça exordial, reconhecendo como legal a capitalização de juros praticada no
contrato, EMBORA NO PRESENTE PROCESSO, O CONTRATO FIRMADO ENTRE AS PARTES
NÃO INDICASSE A EXISTÊNCIA DE CLÁUSULA EXPRESSA QUE AUTORIZASSE A
CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS.
Concomitantemente, o Douto Juízo “a quo”, julgou totalmente
procedente a Ação de Busca e Apreensão, proposta pelo apelado.

DA CAPITALIZAÇÃO DE JUROS

Na sentença ora atacada, às fls. 225/226, o Douto Magistrado afirma


que:

“Deflui que os elementos informativos insertos no


contrato são suficientes para aferição das taxas de juros mensal e anual...”

A pergunta que se faz é a seguinte: Como o MM. Juiz conseguiu


chegar a este resultado se no contrato acostado aos autos não há qualquer especificação
com relação a capitalização?
Simplesmente houve um julgamento precipitado, sem que o
documento elucidativo (contrato de financiamento) fosse apreciado com a acuidade que merecia.

Desta forma, mesmo se admitindo que esta prática (capitalização


mensal de juros) fosse permitida, TAL PRÁTICA DEVERIA CONSTAR DE FORMA CLARA E
EXPRESSA NO CONTRATO DE FINANCIAMENTO, O QUE NÃO É O CASO, POSTO QUE O
REFERIDO DOCUMENTO, A MENÇÃO É DE FORMA IMPLÍCITA, TORNANDO NULA A
SENTENÇA PROLATADA.
Cumpre salientar que esse Magnânimo Tribunal, sempre sábio em
uma de suas recentes decisões, ASSIM SE MANIFESTOU SOBRE CASO IDÊNTICO:

“Apelação 9249781200680600011
Relator(a): PAULO FRANCISCO BANHOS PONTE
Comarca: Fortaleza
Órgão julgador: 1ª Câmara Cível
Data de registro: 07/12/2011
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULAS
CONTRATUAIS JULGADA PROCEDENTE. POSSIBILIDADE DE MODIFICAÇÃO JUDICIAL DE
CLÁUSULAS ABUSIVAS. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR AOS
CONTRATOS BANCÁRIOS. SÚMULA 297 DO STJ. EXISTÊNCIA DE IMPOSIÇÕES ABUSIVAS NO
CONTRATO EM ANÁLISE. IMPOSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DA COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA COM OUTROS ENCARGOS. SÚMULA 30 DO STJ. ABUSIVIDADE DA
CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS (ANATOCISMO) ANTE A AUSÊNCIA DE EXPRESSA
PREVISÃO CONTRATUAL. NÃO SUBMISSÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS AO LIMITE DE
12% A.A. DISPOSTO NO REVOGADO ART. 192, §3º DA CF/88 E DECRETO 22.626/33,
CONHECIDO COMO LEI DE USURA. APELAÇÃO CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA. 1.
A jurisprudência é pacífica em reconhecer a possibilidade de aplicação das disposições do Código de
Defesa do Consumidor aos contratos bancários, a fim de permitir a modificação judicial das cláusulas
abusivas. Aplicação da Súmula 297 do STJ. 2. Será considerada abusiva a cláusula contratual que
permitir a cumulação da comissão de permanência com outros encargos, como a correção monetária.
Aplicação da Súmula 30 do STJ. 3. A capitalização mensal de juros (anatocismo) poderá ser
aplicada em contratos posteriores à publicação da Medida Provisória nº 1.963-17/200, desde
que expressamente previsto pelas partes. No caso, por ter a instituição financeira falhado em
demonstrar a prévia pactuação, deve ser a cobrança considerada abusiva. 4. O trecho da sentença
que impôs a limitação dos juros remuneratórios ao teto de 12% ano, por sua vez, é merecedor de
reforma. Ora, é pacífico o entendimento de que os juros remuneratórios não se submetem referido
limite, disposto no revogado art. 192, §3º do CF/88 e no Decreto 22.626/33, conhecido como Lei da
Usura. 5. A jurisprudência consolidou-se em admitir a fixação de juros em patamar superior ao limite
disposto no revogado dispositivo constitucional, uma vez que não fora editada lei ordinária que o
regulamentasse, cabendo ao magistrado, ao analisar o caso concreto, decidir se a taxa de juros
imposta pode ou não ser considerada abusiva Aplicação da Súmula Vinculante nº 07. 6. Apelação
conhecida e parcialmente provida”. (grifamos).

DA BUSCA E APREENSÃO

Aduz o R. juízo “a quo” que apesar da propositura da Ação revisional


por apelante, o mesmo já havia incorrido em mora.

No entanto, o apelante, em sua Exordial, PUGNOU PELO


DEPÓSITO DAS PARCELAS VENCIDAS PELOS SEUS VALORES INCONTROVERSOS, pedido
este negado pelo Juiz.

Além do que, tal sentença não poderia ter sido prolatada, posto
que a sentença da Ação Revisional de Contrato encontra-se nula de pleno Direito, em face do
cerceamento de direito de defesa, considerando a não realização de perícia contábil.

DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer o Apelante:

1) O Acolhimento da preliminar de cerceamento de direito de


defesa, em face da não produção de prova pericial requerida, com a conseqüente anulação da
Sentença.

2) Caso não seja acolhida a preliminar, seja a sentença da ação


Revisional de contrato, reformada “in totum”, extirpando-se a capitalização de juros mensal aplicada
ao contrato, considerando que o referido sinalagmático, em nenhuma de suas cláusulas, prevê, de
forma explícita tal prática.

3) Seja a sentença da ação de busca e apreensão reformada


em sua totalidade, considerando que a ação conexa (Ação Revisional de Contrato) foi julgada
improcedente de forma equivocada, em face do cerceamento de direito de defesa, considerando a
não realização de perícia contábil.

N. Termos.
P. Deferimento.

Fortaleza, 9 de abril de 2024.

RONALD TORRES DE OLIVEIRA


OAB/CE 16.310

Você também pode gostar