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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 10.

a VARA CÍVEL DE VITÓRIA – COMARCA


DA CAPITAL – ES

REFERÊNCIA : EMBARGOS DE TERCEIRO N.º 024.07.059657-2


AUTORA: COSIPA
RÉUS: ADMIR VAZZOLER e OUTROS

ADMIR VAZZOLER e OUTROS, já qualificados nos autos dos


EMBARGOS DE TERCEIRO que lhes move a COMPANHIA SIDERÚRGICA PAULISTA –
COSIPA (processo em epígrafe), por sua procuradora que esta subscreve, vêm respeitosamente à
presença de V. Exa , em cumprimento ao r. despacho de fls. 205, apresentar suas CONTRA-
RAZÕES aos EMBARGOS DE DECLARAÇÃO de fls. 188/200, nos termos que passa a
expor:

A COSIPA ingressou com embargos de terceiro em razão da respeitável decisão


judicial que determinou a constrição de valores pertencentes à FEMCO, alegando, em suma, que
seria possuidora, “ainda que indireta”, e senhora de tais ativos financeiros.

Afirmou que o dinheiro bloqueado lhe pertenceria, ou ainda, pertenceria ao


fundo que a COSIPA, agora, convenientemente nomeia como “Femco-Cosipa”, alegando, para
tanto, que um Auditor, por ela contratado, atestou que não mais existiriam valores provenientes da
COFAVI, o que, por suposto, lhe daria automático direito a reivindicar todo o numerário da
FEMCO como seu.

Indicou ainda, como prova de seu suposto direito, os seguintes dispositivos :


artigos 4.º, § 1.º e 2.º, 35, 37, 38, 40, § 1.º, 41 e 43 da Lei 6.435/75, arts 6.º, 7.º, 8.º, 12, § 1.º, 15,
19 e 27 do Dec. 81.240/78 e arts. 1.º, 7.º, 9.º, 13, 16, § 2.º, 23, 31,§ 1.º, 32, 33, I e 34 da LC n.º
109/2001.

Nada obstante, pela simples leitura de tais dispositivos (vide leis impressas em
anexo) verifica-se que nenhum destes confere à COSIPA o direito de propriedade ou posse, ou
seja, não havia, como não há, qualquer sustentáculo jurídico que legitimasse a interposição dos
embargos de terceiro em tela, o que veio a ser reconhecido por este Douto Juízo.

Com efeito, por meio da r. Sentença de fls. 179/180 (ora embargada), este
Douto Juízo rejeitou liminarmente a presente ação de embargos de terceiro, com fulcro no artigo
295, II do CPC, julgando extinto o processo, nos termos do artigo 267, I do CPC, ante a manifesta
ilegitimidade de parte da COSIPA.

Nada obstante os reclames dos embargos de declaração, os fundamentos da


brilhante Sentença em foco é preciso e suficiente para encerrar a pretensão da COSIPA : – dita
empresa não demonstrou a ocorrência dos requisitos do artigo 1.046 do CPC, ou seja, turbação ou
esbulho sobre bens sobre os quais detenha posse, mesmo que indireta.

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Isto porque o artigo 5.º da Lei 6.435/77 estabelece que as entidades de
previdência privada devam ser constituídas sob a forma de sociedades anônimas, com
personalidades jurídicas próprias (ou seja, autônomas), e o próprio Estatuto da FEMCO assegura,
em seu artigo 10, a autonomia e desvinculação de seu patrimônio que, em última análise, fora
objeto de constrição em razão da ação 024.960.099.604.

Irresignada, a COSIPA interpôs os aclaratórios de fls. 18/202, pugnando, em


suma, a reapreciação dos fundamentos articulados na inicial.

- PRELIMINARMENTE: Da impossibilidade de rediscussão da matéria em sede de Embargos


de Declaração

Inicialmente, é de se ressaltar que, embora a Embargante tenha nomeado os


embargos interpostos como “infringentes”, tal recurso não poderá ter tal efeito, já que todas as
questões ventiladas foram expressamente julgadas, em votação unânime.

Nos termos do artigo 535 do CPC, não há previsão legal de reforma de julgado
unânime em sede de embargos declaratórios, vez que tal recurso possui somente “efeito
integrativo” relativamente ao julgado, restrito à matéria que eventualmente não tenha sido
abordada, o que não ocorreu.

In casu, a Embargante pretende rediscutir a matéria expressamente julgada


(pretensão de reforma) em total afasia com a legislação e a jurisprudência pátrias.

Neste sentido, é a jurisprudência UNÂNIME do Egrégio TJES:

Processo : 050969000087 - Embargos de Declaração Ap Cível


Órgão Julgador : SEGUNDA CÂMARA CÍVEL
Data de Julgamento : 18/02/1997
Data de Leitura : 04/03/1997

Relator : ANTÔNIO JOSÉ MIGUEL FEU ROSA


Vara de Origem : COMARCA DA CAPITAL - JUÍZO DE VIANA
Acórdão:
EMENTA -EMBARGOS DE DECLARACAO - CARÁTER INFRINGENTE  -         
INEXISTENCIA DE OMISSAO - PRETENSAO A  NOVO JULGAMENTO  DA
CAUSA - EFEITO MODIFICATIVO - EMBARGOS REJEITADOS.                
1) ESCLARECE A MELHOR JURISPRUDENCIA QUE NAO SE  ADMITE  O
USO DA VIA RECURSAL DOS EMBARGOS DE  DECLARACAO  PARA  SE
OBTER NOVO JULGAMENTO DA CAUSA, SOB A  ALEGACAO   DE         
ERRO OU DESACERTO DO JULGADO, BEM COMO MERECEM REJEICAO 
OS EMBARGOS DECLARATORIOS QUE APRESENTAM CARATER DE
INFRINGENTES.                                                          
2) OS EMBARGOS DE DECLARACAO SO PODEM TER EFEITOS
MODIFICATIVOS SE A ALTERACAO DO ACORDAO E CONSEQUENCIA 
NECESSARIA DO JULGAMENTO QUE SUPRE A OMISSAO OU EXPUNGE
A      CONTRADICAO.    VISTOS, RELATADOS E DISCUTIDOS OS
PRESENTES  AUTOS   EM  QUE SAO PARTES AS ACIMA
MENCIONADAS.                                 
Conclusão: REJEITAR OS EMBARGOS A UNANIMIDADE

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Processo : 024970105227 - Embargos de Declaração Ap Civel
Órgão Julgador : PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL
Data de Julgamento : 05/12/2000
Data de Leitura : 06/02/2001
Data da Publicação no Diário : Não informado.
Relator : AMIM ABIGUENEM
Vara de Origem : COMARCA DA CAPITAL - JUÍZO DE VITÓRIA
Acórdão:
EMENTA : EMBARGOS DE DECLARAÇÃO-APELAÇÃO CÁVEL - NOVA
DECISÃO- IMPOSSIBILIDADE-OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO-  
NÃO               CONFIGURADO - RECURSO NÃO PROVIDO.                               A
PRETENSAO NESTE MOMENTO É DE QUE OCORRA NOVA
DECISÃO,               O QUE NÃO É POSSIVEL PELA VIA ESTREITA DOS
EMBARGOS  DE  DECLARACAO.  É DE SE RESSALTAR QUE O ACORDAO
NAO APRESENTA  QUALQUER    OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO QUE
POSSA MACULAR A LOGICA E  A CLAREZA DO DECISUM.                 
ASSIM, SE O ACORDAO CONTEM SUFICIENTE FUNDAMENTO   PARA      
JUSTIFICAR A CONCLUSAO ADOTADA NA ANALISE DO PONTO   EM         
LITIGIO, ENTAO OBJETO DA PRETENSAO RECURSAL, NAO   CABE            
FALAR EM  OBSCURIDADE E CONTRADIÇÃO, POSTO QUE A  DECISAO
ESTÁ COMPLETA.                                                   
Conclusão: A UNANIMIDADE, CONHECER DOS EMBARGOS NEGANDO-
LHES  PROVIMENTO.                                                             

Processo : 048969000842 - Embargos de Declaração Agv Instrumento


Órgão Julgador : SEGUNDA CÂMARA CÍVEL
Data de Julgamento : 25/03/1997
Data de Leitura : 15/04/1997

Relator : ANTÔNIO JOSÉ MIGUEL FEU ROSA


Vara de Origem : COMARCA DA CAPITAL - JUÍZO DA SERRA
Acórdão:
EMENTA :  PROCESSUAL CIVIL - EMBARGOS DE  DECLARACAO  -              
CARATER INFRINGENTE - APARENCIA DE DECLARATORIOS -
PRETENSAO  A NOVO JULGAMENTO DA CAUSA - EFEITO MODIFICATIVO
- NAO CABIMENTO - JURISPRUDENCIA CONSOLIDADA  -  REJEICAO.
1)  MERECEM REJEICAO OS EMBARGOS QUE,SOB A APARENCIA
DE               DECLARATORIOS, BUSCAM INFRINGIR O JULGADO, NAO SE
ADMI-               TINDO AINDA O USO DESTE RECURSO PARA OBTER NOVO 
JULGA-               MENTO DA CAUSA, SOB A ALEGACAO DE ERRO OU
DESACERTO  DO               JULGADO.                                                              2)  OS
EMBARGOS DE DECLARACAO SOMENTE PODEM TER EFEITOS              
MODIFICATIVOS SE A ALTERACAO DO ACORDAO E  CONSEQUENCIA   
NECESSARIA DO JULGAMENTO QUE SUPRE A OMISSAO OU EXPUNGE
A CONTRADICAO.                                                        3)  EMBARGOS DE
DECLARACAO REJEITADOS.                                VISTOS, RELATADOS E
DISCUTIDOS  OS  PRESENTES  AUTOS EM               QUE SAO PARTES AS
ACIMA MENCIONADAS.                                 
Conclusão: NEGAR PROVIMENTO AOS EMBARGOS, A UNANIMIDADE

Processo : 024029003456 - Embargos de Declaração Agv Instrumento


Órgão Julgador : QUARTA CÂMARA CÍVEL
Data de Julgamento : 24/02/2003
Data de Leitura : 31/03/2003
Data da Publicação no Diário : 16/04/2003
Relator : FREDERICO GUILHERME PIMENTEL

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Vara de Origem : COMARCA DA CAPITAL - JUÍZO DE VITÓRIA
Acórdão:
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – ALEGAÇÃO DE OMISSÃO E
CONTRADIÇÃO – INEXISTÊNCIA - PRETENSÃO DE MODIFICAÇÃO DO
JULGADO OU ANULAÇÃO DO ACÓRDÃO – REDISCUSSÃO DO MÉRITO DO
RECURSO – INADMISSIBILIDADE – RECURSO IMPROVIDO – MULTA DE
1% SOBRE O VALOR DA CAUSA IMPOSTA À AGRAVANTE, POR ENTENDÊ-
LOS PROTELATÓRIOS.
 
1. Reiteradamente o STJ tem decidido que os embargos de declaração são recurso de
integração e não de substituição do julgado, daí porque inviável que a embargante
pretenda, por esta via recursal, a anulação do acórdão embargado, sob alegação de
omissão ou contradição inexistentes.
 
2. Os embargos de declaração não devem se revestir de efeito infringente, quando,
na verdade, o que se pretende é rediscutir a matéria que constituiu o mérito do
recurso de agravo de instrumento e obter a desconstituição do acórdão que lhe foi
desfavorável, acerca da mesma matéria, em duas outras oportunidades.
 
3. Recurso improvido. Multa de 1% sobre o valor da causa, prevista no art. 538,
parágrafo único, do CPC, por serem estes embargos considerados protelatórios.
Conclusão:
À UNANIMIDADE, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO NOS TERMOS DO
VOTO DO EMINENETE RELATOR.

Ad argumentandum, cumpre ressaltar o que segue:

- Do direito: da flagrante improcedência dos embargos de terceiro – e do manifesto cunho


protelatório destes embargos

Conforme já devidamente declarado na r. Sentença embargada, a FEMCO é


pessoa jurídica distinta da COSIPA, possui diferente CNPJ, sede, objetivo social, estatuto, etc., e,
portanto, com ela não pode ser confundida, nem tampouco pode a FEMCO ter seu patrimônio
próprio reivindicado como sendo de propriedade exclusiva de quem quer que seja.

Os valores bloqueados pertencem à FEMCO, e não à embargante, e estavam


sob sua exclusiva posse/guarda e administração, tanto é assim que foram retirados de suas
próprias contas bancárias, no mês de julho de 2007.

O fato de um atuário/auditor atestar que, contabilmente, haveria um


desequilíbrio de aportes de patrocinadoras do fundo, ou algo que o valha, não serve como prova
de que a COSIPA seria dona ou possuidora do dinheiro, data vênia.

Em verdade, os argumentos que vêm sendo lançados pela COSIPA, ora por via
de Reclamação contra Magistrado desta r. Vara Cível, ora por meio de embargos de terceiro - no
sentido de que a FEMCO não teria numerário para arcar com os valores relativos às
complementações de aposentadoria dos Autores - não procedem, por uma premissa óbvia: - Os
Autores/embargados estão pleiteando os valores que lhes pertencem, quantias foram entregues à
administração da FEMCO durante anos de trabalho, sob a modalidade de contribuição
previdenciária, mediante o compromisso da FEMCO de lhes dar a contrapartida sob a forma de
complementação de suas respectivas aposentadorias.

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Veja-se que, como os Embargados já estão aposentados, eles já cumpriram com
sua obrigações e condições estabelecidas para a aquisição do direito ao recebimento dos
benefícios ora postulados, nos termos do §1.º do art. 68 da LC 109/01:

Art. 68. As contribuições do empregador, os benefícios e as condições


contratuais previstos nos estatutos, regulamentos e planos de benefícios
das entidades de previdência complementar não integram o contrato de
trabalho dos participantes, assim como, à exceção dos benefícios
concedidos, não integram a remuneração dos participantes.

§ 1o Os benefícios serão considerados direito adquirido do


participante quando implementadas todas as condições estabelecidas
para elegibilidade consignadas no regulamento do respectivo plano.

Tal raciocínio já foi devidamente deduzido na respeitável Sentença de fls.


2.678/2.694 do processo principal (doc. de fls. 63 e ss. destes autos), que declarou que, se os
Autores, ora Embargados, já estão aposentados, eles já adquiriram o direito a receber a
contrapartida que, agora, cabe apenas à FEMCO.

É o que explicitam as leis especiais invocadas pela própria COSIPA nos


embargos de terceiro em tela, todas com arrimo no artigo 202 da Constituição Federal:

“Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e


organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência
social, será facultativo, baseado na constituição de reservas que
garantam o benefício contratado, e regulado por lei complementar.”

Ora, se o sistema privado de previdência social se baseia “na constituição de


reservas que garantam o benefício contratado”, e funciona com a devolução de valores que
seus contratantes/autores/embargados repassaram ao fundo/FEMCO durante toda a sua vida de
trabalho, não há como se alegar que o dinheiro que está nos cofres da FEMCO não lhes pertence!

Além de ser regra constitucional, a legislação especial é exaustiva ao prever a


obrigação da FEMCO na constituição de reservas que garantam os benefícios contratados com os
embargados, ex vi do artigo 12 do Dec. 81.240/78, artigos 15 e 40 da lei 6.435/77, artigos 1.º, 7.º,
9.º da LC 109/01 (doc. anexo), sendo por demais explícita que tais reservas estejam aptas a
garantir a cobertura integral dos compromissos assumidos, senão vejamos dos artigos 18 e 19 da
LC 109/01:

Art. 18. O plano de custeio, com periodicidade mínima anual, estabelecerá


o nível de contribuição necessário à constituição das reservas garantidoras
de benefícios, fundos, provisões e à cobertura das demais despesas, em
conformidade com os critérios fixados pelo órgão regulador e fiscalizador.

        § 1o O regime financeiro de capitalização é obrigatório para os


benefícios de pagamento em prestações que sejam programadas e
continuadas.

        § 2o Observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e


atuarial, o cálculo das reservas técnicas atenderá às peculiaridades de cada
plano de benefícios e deverá estar expresso em nota técnica atuarial, de

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apresentação obrigatória, incluindo as hipóteses utilizadas, que deverão
guardar relação com as características da massa e da atividade
desenvolvida pelo patrocinador ou instituidor.

        § 3o As reservas técnicas, provisões e fundos de cada plano de


benefícios e os exigíveis a qualquer título deverão atender
permanentemente à cobertura integral dos compromissos assumidos
pelo plano de benefícios, ressalvadas excepcionalidades definidas
pelo órgão regulador e fiscalizador.

        Art. 19. As contribuições destinadas à constituição de reservas


terão como finalidade prover o pagamento de benefícios de caráter
previdenciário, observadas as especificidades previstas nesta Lei
Complementar.

Veja-se que a FEMCO não sofreu intervenção (na forma do artigo 44 da LC


109/01 ou 55 e ss. da Lei 6.435/77), nem tampouco foi liquidada (nem há notícias que venha a ser,
dada a sua proverbial pujança econômica) – logo, não há como se alegar a ausência de fundos
nem como se cogitar na exclusão dos ora embargados da condição de proprietários daquelas
verbas, posto que, como visto, estes já entregaram à FEMCO todo o numerário necessário à
aquisição do direito de receber, na inatividade, os benefícios que ora pleiteiam.

Ad argumentandum, caso tivesse ocorrido a hipótese de intervenção, deveria ter


havido todo o procedimento de liquidação e apuração de ativos, nos termos do art. 47 e ss. da LC
109/01, dando privilégio especial aos Autores/embargados sobre todas as reservas técnicas (art. 17
da Lei 6.435/77) – o que não ocorreu - e mais, caso dita liquidação fosse derivada da ausência de
fundos por falta de aporte, haveriam de ser responsabilizados todos os envolvidos, especialmente
os administradores da FEMCO, ex vi dos seguintes dispositivos:

Da Lei 6.435/77:

Art. 76. Os diretores, administradores, membros de conselhos


deliberativos, consultivos, fiscais ou assemelhados, das entidades de
previdência privada responderão solidariamente com a mesma pelos
prejuízos causados a terceiros, inclusive aos seus acionistas, em
conseqüência do descumprimento de leis, normas e instruções
referentes às operações previstas nesta Lei e, em especial, pela falta
de constituição das reservas obrigatórias.

Art. 77. Constitui crime contra a economia popular, punível de acordo


com a legislação respectiva, a ação ou omissão dolosa, pessoal ou
coletiva, de que decorra a insuficiência das reservas ou de sua
cobertura, vinculadas à garantia das obrigações das entidades de
previdência privada.

Art. 42. Deverão constar dos regulamentos dos planos de benefícios, das
propostas de inscrição e dos certificados dos participantes das entidades
fechadas, dispositivos que indiquem: ...

§ 4º Os administradores das patrocinadoras que não efetivarem


regularmente as contribuições a que estiverem obrigadas, na forma
dos regulamentos dos planos de benefícios, serão solidariamente
responsáveis com os administradores das entidades fechadas, no

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caso de liquidação extrajudicial destas, a eles se aplicando, no que
couber, as disposições do Capítulo IV desta Lei.

Da LC 109/01:

Art. 63. Os administradores de entidade, os procuradores com poderes


de gestão, os membros de conselhos estatutários, o interventor e o
liquidante responderão civilmente pelos danos ou prejuízos que
causarem, por ação ou omissão, às entidades de previdência
complementar.

 Parágrafo único. São também responsáveis, na forma do caput, os


administradores dos patrocinadores ou instituidores, os atuários, os
auditores independentes, os avaliadores de gestão e outros
profissionais que prestem serviços técnicos à entidade, diretamente
ou por intermédio de pessoa jurídica contratada.

Art. 58. No caso de liquidação extrajudicial de entidade fechada motivada


pela falta de aporte de contribuições de patrocinadores ou pelo não
recolhimento de contribuições de participantes, os administradores
daqueles também serão responsabilizados pelos danos ou prejuízos
causados.”

 Art. 59. Os administradores, controladores e membros de conselhos


estatutários das entidades de previdência complementar sob intervenção ou
em liquidação extrajudicial ficarão com todos os seus bens indisponíveis,
não podendo, por qualquer forma, direta ou indireta, aliená-los ou onerá-los,
até a apuração e liquidação final de suas responsabilidades.”

Do Dec. 81.240/78:

Art 22 - Os administradores das patrocinadoras que não efetivarem


regularmente as contribuições a que estiverem obrigadas na forma dos
regulamentos dos planos de benefícios serão solidariamente responsáveis
com os administradores das entidades fechadas, no caso de liquidação
extra judicial destas, a eles se aplicando, no que couber, as disposições do
Capítulo IV da Lei nº 6.435, de 15 de julho de 1977.

Como visto acima, a eventual ausência de fundos/dinheiro para pagar a


complementação de aposentadoria dos ora embargados – o que não é o caso - acarretaria na
ocorrência de crime contra a economia popular, pelo qual responderiam os diretores da
FEMCO e demais responsáveis, nos termos da legislação especial que rege a matéria.

Por fim, quanto ao segundo fundamento dos presentes embargos de terceiro - no


sentido de que este Douto Juízo estaria a descumprir ordem proferida em Mandado de Segurança
favor da COSIPA, pedimos vênia para nos reportar às razões já oportunamente expedidas nos
autos principais, nos seguintes termos:

“Argüiu a embargante que a sentença embargada teria se omitido com relação ao


julgamento proferido nos autos do Mandado de Segurança n.º 100960015871, que concedeu a ordem
requerida pela COSIPA (terceira interessada), suspendendo a antecipação de tutela no que tange ao fundo
previdenciário pertencente àquela empresa.

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No sentir da embargante, a r. sentença teria “desrespeitado comando superior” do
TJES ao condenar a FEMCO, e ainda quando determinou o bloqueio dos R$ 4.600.530,64, correspondente
às parcelas atrasadas1.

Nada obstante, a decisão do MS invocada pela FEMCO não possui o efeito que esta
busca lhe emprestar, sendo de todo inócua no que tange ao julgamento da vertente demanda.

Inicialmente, cumpre registrar a seqüência dos fatos processuais passíveis de


influenciar na medida liminar de fls. 184/185, bem como o andamento - paralelo ao presente feito -, do
aludido Mandado de Segurança:

1 - Em 26.04.1996, este Douto juízo concedeu a antecipação dos efeitos da tutela às fls.
184/185, determinando à FEMCO que cumprisse com sua obrigação de pagar a complementação de
aposentadoria aos Autores/aposentados.

2 – Em 04.06.1996, a FEMCO ingressou com agravo de instrumento n.º


024.969.000.983, (doc. de fls. 609/635), tendo por objeto a reforma da liminar de fls. 184/185.

3 – Em 02.08.1996, foi negado efeito suspensivo ao agravo n.º 024.969.000.983 da


FEMCO, conforme Ofício de fls. 654, da E. Primeira Câmara Cível do TJES.

4 - Em 16.10.1996, a COSIPA ingressou com Mandado de Segurança n.º


100.960.015.871, tendo por objeto a suspensão da medida liminar de fls. 184/185 (docs. de fls. 707/726).

5 – Em 12.11.1996, por julgamento de mérito, a E. Primeira Câmara Cível confirmou


a liminar de fls. 184/185 nos autos do agravo n.º 024.969.000.983 (que havia sido interposto pela
FEMCO).

6 – Em 17.06.1997, a E. Quarta Câmara Cível do TJES julgou extinto o MS da


COSIPA, sem julgamento de mérito, por questão processual preliminar, concernente à inadequação da
via processual, tendo referido julgado sido comunicado nestes autos, conforme Ofício de fls . 971.

7 - Foi interposto o Recurso Ordinário no referido MS perante o STJ, que foi provido
em 24.10.2000 – ficando a análise daquele recurso adstrito à questão processual pertinente ao terceiro,
que se entendeu não estar obrigado a interpor recurso de agravo, podendo desde logo ingressar com
mandado de segurança – tendo sido determinado à Quarta Câmara do TJES que retomasse o julgamento
do mandamus.

8 - Referido mandado de segurança veio a ser analisado pela Quarta Câmara do TJES
somente em 22.04.2002, quando foi concedida a ordem para suspender os efeitos da medida liminar com
relação àquela terceira impetrante (COSIPA), ressaltando o Douto Relator, naquele dispositivo, que não
tinha informação sobre a atual tramitação do feito (na data daquele julgamento), uma vez que o Douto
magistrado singular não teria respondido aos Ofícios enviados.

Com efeito, ressalvou o Exmo. Des. Relator que, in verbis:

“Em suma, diante da patente possibilidade de irreversão fática da decisão impugnada,


é de se proteger o direito da impetrante, até que a demanda originária acabe,
ressaltando não ter o magistrado singular informado sobre a atual tramitação,
pugnando somente a impetrante em petição às fls. 477/480 para apreciação do writ,
eis que até a presente data demonstra ter interesse”.

Decerto os aludidos ofícios não foram respondidos em razão dos inúmeros expedientes
que eram sucessivamente acostados aos autos pela FEMCO, e também porque, a esta altura dos
acontecimentos, o processo fora remetido para a Vara de Falências em razão da decisão de fls.
2.180/2.181 (de 05.05.2000), que veio a ser cumprida em 20.09.2001, conforme despacho de fls. 2.330.
1
Valendo frisar que a ordem de bloqueio não partiu da sentença, mas sim da decisão interlocutória de fls. 2.784,
que foi proferida para dar cumprimento a medida liminar anterior.

8
Certamente em razão deste desencontro, a E. Quarta Câmara veio a analisar o mérito
do MS em tela desnecessariamente - ou seja, sem que houvesse interesse processual ou competência para
fazê-lo -, já que, em abril de 2002 (data do julgamento do MS), a liminar de fls. 184/185 já havia sido
confirmada pelo v. acórdão de fls. 1536/1542, proferido em 12.11.1996, pela E. Primeira Câmara Cível,
nos autos do agravo n.º 024.969.000.983 (interposto pela FEMCO).

Tendo a liminar de fls. 184/185 sido confirmada pelo TJ em 12.11.1996, o Mandado de


Segurança n.º 100.960.015.871 perdeu o seu objeto, sendo certo que a competência para a análise de
decisão confirmada por Câmara do TJ – isto na hipótese de ter sido interposto novo MS - seria exclusiva
do Tribunal Pleno do TJES, a teor do artigo 50 do Regimento Interno.

Como se não bastasse, após a decisão liminar de fls. 184/185, outras várias decisões se
sucederam nos autos - e não foram sequer ventiladas ou abrangidas pelo MS em tela -, tendo destaque a r.
decisão interlocutória de fls. 2.335, de 21.02.2002, proferida pelo MM. Juiz da Vara de Falências, que
determinou a retomada do pagamento das contribuições para os autores, sob pena de multa mensal de
R$1.000,00 por autor.

Referida decisão de fls. 2.335 foi objeto do agravo de instrumento n.º 024.029.002.383
(doc. de fls. 2346/2394), que teve o efeito suspensivo negado pela decisão de fls. 2.428, de 14.03.2002,
proferida pelo Exmo. Des. Arnaldo Santos Souza, e foi posteriormente mantida pela E. Primeira Câmara
Cível que, via de conseqüência, confirmou (mais uma vez) a ordem de pagamento (desta feita sob pena de
multa mensal), ex vi do ofício de fls. 2.514, datado de 26.06.2003.

Note-se que a decisão proferida no MS n.º 100.960.015.871, além de desprovida de


eficácia (porque, há época de seu julgamento, a liminar de primeiro grau já havia sido confirmada pela E.
Primeira Câmara Cível), também não abrangeu os efeitos das decisões posteriores, a exemplo da decisão
interlocutória de fls. 2.335, que renovou os efeitos da decisão de fls. 184/185 e impôs, ainda, multa
cominatória, sendo novamente mantida pela Primeira Câmara do TJES, em decisão proferida na sessão de
julgamento do dia 21.06.2003, posterior ao julgamento do referido MS.

Registre-se, por oportuno, que somente agora, por oportunidade dos vertentes
embargos declaratórios, a FEMCO se ocupou de noticiar o julgado nos autos, sendo certo que não há
qualquer ofício ou informação anterior a respeito, para que tais fatos pudessem ou devessem ter sido
objeto de análise por parte do r. comando sentencial de fls. 2.678/2.694, ou mesmo pela r. decisão de fls.
2.784.

Logo, não há que se falar em omissão ou contrariedade da sentença, uma vez que,
como demonstrado, a decisão proferida no MS n.º 100.960.015.871, não foi noticiada nos autos.

De igual modo, a decisão proferida no MS em tela, atinente a provimento de caráter


interlocutório, não vincula o julgamento de mérito contido na sentença sub examen, além de não
apresentar qualquer efeito prático ou jurídico relativamente à decisão interlocutória de fls. 2.784 – essa
que, aliás, não foi objeto de agravo, a despeito da ciência do Douto Patrono da FEMCO às fls. 2.791.”

Confirmando tudo o quanto exposto, vale ressaltar que sua Exa., o


Desembargador Manoel Alves Rabelo, relator do aludido Mandado de Segurança n.º
100960015871, esclareceu ao MM. Juiz (nos autos do processo 024.960.099.604), que a ordem
concedida nos autos daquele writ fora “até a prolação da sentença de primeiro grau”,
autorizando, destarte, o bloqueio dos valores (doc. anexo).

Logo, não há fundamento jurídico para os vertentes embargos, que possuem


cunho meramente procastinatório.

Por todo exposto, requer-se que os pedidos contidos nos embargos declaratórios
em tela sejam julgados totalmente improcedentes, mantendo-se na íntegra a r. sentença afrontada,
pelos seus doutos e jurídicos fundamentos.

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Nestes Termos,
Pedem Deferimento.

Vitória, 26 de setembro de 2008.

DANIELA RIBEIRO PIMENTA VALBÃO


OAB/ES 7.322

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