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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR

PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO


DO RIO DE JANEIRO
 
 
 
Ref.: Agravo de Instrumento nº. 0067912-77.2021.8.19.0000
Recorrente: ESPOLIO DE DULCE SEIXAS CORDEIRO
Recorrido: HSBC - BANK BRASIL S/A - BANCO MULTIPLO
 
 
A PARTE RECORRENTE já devidamente qualificada
nos autos do Agravo de Instrumento em destaque, a qual figura
como RECORRIDO, vem, com o devido respeito à presença de Vossa
Excelência, por intermédio de seu patrono que ora assina, alicerçada
no art. 105, inc. III, alíneas “a”, da Constituição Federal, bem
como com supedâneo no art. 1.029 e segs. da Legislação Adjetiva
Civil, para interpor o presente

RECURSO ESPECIAL

em razão dos vv. acórdão de fls. 47/50 do recurso em


espécie, no qual, para tanto, apresenta as Razões acostadas.
 
I - Pedido de efeito suspensivo

Anote-se que a parte Recorrente, diante deste


quadrante específico (debate único acerca da decisão que negou a
justiça gratuita) máxime em sendo autos digitais, deixara de recolher
o porte de remessa e retorno (novo CPC, art. 1.007, § 3º).
 Todavia, no tocante ao preparo, segue anexa a guia de
interposição do Recurso Especial.
 As questões destacadas no presente Recurso Especial
comprovam a imperiosa necessidade da intervenção Estatal. Desse
modo, reclama, sem sombra de dúvidas, a concessão de efeito
suspensivo (novo CPC, art. 1.029, § 5º, inc. III).
Concernente aos pressupostos à concessão de efeito
suspensivo pondera Luiz Guilherme Marinoni, ad litteram:
 Os requisitos para concessão de efeito suspensivo são aqueles
mencionados no art. 1.012, § 4º, CPC -- analogicamente aplicável.” 
Nesse mesmo rumo, é de todo oportuno igualmente
gizar o magistério de Flávio Cheim Jorge, verbo ad verbum:
Concessão de efeito suspensivo pelo relator. Nos casos em que o
recurso não tenha efeito suspensivo automático (ope legis), é
possível que o relator profira decisão no sentido de sustar a eficácia
da decisão (ope judicis). Para tanto, deve o recorrente demonstrar,
nas razões recursais, que a imediata produção dos efeitos pode
causar dano grave, de difícil ou impossível reparação (periculum in
mora), e a probabilidade de que o recurso venha a ser provido
(fumus boni iuris)...
 Quanto ao pressuposto da “probabilidade de provimento do recurso”
(NCPC, art. 995, parágrafo único c/c art. 1.012, § 4º) é de
reconhecer-se que a peça recursal em espécie traz à tona inúmeros
documentos comprobatórios da hipossuficiência financeira do
Recorrente para realizar o pagamento das custas, seja parcelado em
3 vezes seja em 6, uma vez que ainda não recebeu os valores
constantes no inventário.
Da mesma maneira é inarredável, venia concessa, que
o magistrado de piso longe passou de ater-se à disciplina indicada no
art. 99, § 2º, do Código de Processo Civil de 2015, e, além disso, aos
ditames do art. 5º, caput, da Lei 1.060/50.
De outro bordo, o pleito semelhantemente obedece ao
requisito do “risco de dano de difícil reparação”. A extinção da
demanda, via reflexa, por falta do recolhimento do preparo, por si só,
representaria um evidente risco e, óbvio, de custosa reparação. E
isso já foi anunciado na decisão guerreada, vale ressaltar.
Além do mais, a decisão do agravo interno possibilitou
o pagamento das custas em 6 parcelas. Ocorre que, as custas
ultrapassam o valor de R$35.000,00 (trinta e cinco mil reais) e a
parte Recorrente embora seja herdeira de um inventário que ainda
está em andamento, não recebeu valores ainda.
Como consequência, com suporte nos ditames do art.
1.029, § 5º, inc. III, do CPC, pede-se seja concedido efeito
suspensivo ao presente Recurso Especial, ordenando, por extensão,
seja imposto regular andamento ao feito preferencialmente para que
seja pago as custas ao final do processo, ou ainda, casão não seja o
Vosso entendimento, a possibilidade de parcelar as custas em mais
vezes concomitantemente ao prosseguimento da processo.
 
II – Requerimentos

 Requer, por fim, que esta Eg. Presidência conheça e dê


seguimento ao presente recurso, com a consequente remessa dos
autos ao Egrégio Superior Tribunal de Justiça.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Nesta cidade, 29 de abril de 2022


EVANDRO JOSÉ LAGO
OAB/RJ 136.516
RAZÕES DO RECURSO ESPECIAL

 
EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PRECLARO MINISTRO RELATOR
 

1 – Tempestividade
 
O recurso ora interposto preencher o requisito da
tempestividade, uma vez que o prazo para recurso especial é de 15
dias úteis, conforme determina o artigo 219 c/c artigo 1.003 § 5º do
CPC/2015.
                    
2 - Considerações (CPC, ART. 1.029, I)
 
A Recorrente ajuizou Ação de Cumprimento de
Sentença para reaver direito seu, em relação a valores do plano
verão, conforme demonstram os documentos acostados à inicial.
Na referida ação, na petição inicial, a Recorrente, por
seu patrono, na forma do que dispõe o art. 99, caput c/c art. 105,
caput, do CPC, asseverou não estava em condições de pagar as
custas do processos e os honorários de advogado, por ser
hipossuficiente na forma da lei.
Além disso, trouxe à baila, naquela ocasião inicial do
processo, com a peça vestibular, vários documentos comprobatórios
da referida hipossuficiência.
Certo é que inexiste, no caso, presunção legal quanto à
hipossuficiência financeira do Recorrente (CPC, art. 99, § 3º).
Todavia, indiscutível que os aludidos documentos eram suficientes a
comprovarem a impossibilidade de pagamentos de despesas
processuais tendo em vista que somente as custas iniciais
ultrapassam a quantia de R$35.000,00 (trinta e cinco mil reais). 
Conclusos os autos, ao apreciar a regularidade formal
da peça vestibular, o magistrado, indeferiu o pedido da Recorrente
determinando o pagamento das custas pelo fato da mesma ser
herdeiro em processo de inventário de valor significativo.
Na oportunidade foi requerido o pagamento das custas
ao final do processo (preferencialmente) ou o parcelamento das
custas.
Colhe-se da decisão guerreada a inexistência de
fundamento apto a contrapor-se à comprovação cabal da
impossibilidade alegada pelo Recorrente, uma vez que a parte
Recorrente ainda não recebeu valores no processo de inventário que
tramita sob o número 0027097-74.2017.8.19.0001, na 5ª Vara de
Orfãos e Sucessões da Capital. Sendo que, o M.M. Juiz de Direito tem
total acesso aos autos e poderia verificar que a parte ainda não
recebeu valores.
Por isso interpusera, naquele momento, recurso de
Agravo de Instrumento, buscando, no âmago, a revogação da decisão
hostilizada, para que a parte Recorrente pudesse pagar as custas ao
final do processo ou que fosse dada oportunidade de parcelar as
custas em parcelas que não prejudicasse a sua subsistência.
Contudo, o Tribunal Local, rejeitou os pedido da
Recorrente monocraticamente.
Em decorrência do conteúdo do julgamento meritório
colegiado, a Recorrente opusera Agravo Interno, buscando-se,
máxime para fins de prequestionamento, a possibilidade de
pagamento ao final do processo ou o parcelamento em tantas vezes
quantas necessárias para não prejudicar a sua subsistência. No
entanto, o Tribunal “a quo”, oportunizou apenas, o pagamento em
apenas 06 (seis) parcelas, o que para a Recorrente ainda é inviável
devido o alto valor das custas iniciais.
Eis, pois, a decisão meritória guerreada, a qual, sem
sombra de dúvidas, deve ser reformada.
 
3 - Cabimento do Recurso Especial (CPC, ART. 1.029, II)
 
Segundo a disciplina do art. 105, inc. III, letra “a” da
Constituição Federal, é da competência exclusiva do Superior Tribunal
de Justiça, apreciar Recurso Especial fundado em decisão proferida
em última ou única instância, quando a mesma contrariar lei federal
ou negar-lhe vigência.   
Na hipótese em estudo, exatamente isso que ocorreu,
situação essa que converge ao exame deste Recurso Especial por
esta Egrégia Corte.
 
3.1. Pressupostos de admissibilidade
 
Verifica-se, mais, que o presente Recurso Especial é (a)
tempestivo, quando o foi ajuizado dentro do prazo previsto na
legislação processual civil (art. 1.003, § 5º), (b) a Recorrente tem
legitimidade para interpor o presente recurso e, mais, (c) há a
regularidade formal do mesmo.
Diga-se, mais, a decisão recorrida foi proferida em
“última instância”, não cabendo mais nenhum outro recurso na
instância originária (STF, Súmula 281).
Por outro ângulo, a questão federal foi devida
prequestionada, quando a mesma foi expressamente ventilada,
enfrentada e dirimida pelo Tribunal de origem (STF, Súmula 282/356
e STJ, Súmula 211).
Outrossim, todos os fundamentos lançados no Acórdão
guerreado foram devidamente infirmados pelo presente recurso, não
havendo a incidência da Súmula 283 do STF.
Ademais, o debate trazido à baila não importa reexame
de provas, mas sim, ao revés, unicamente matéria de direito, não
incorrendo, portanto, com a regra ajustada na Súmula 07 desta
Egrégia Corte.
 
3.2. Reexame de provas

INEXISTE PRETENSÃO DE REEXAME DE FATOS


Não incidência da Súmula 07 do STJ
 
É necessário apontarmos argumentos no que concerne
à ausência de pretensão, na hipótese, de reexame de fatos ou
provas.
É consabido que, a esta Corte, descabe revolver o
acervo probatório já delineado e minuciado no Tribunal de Origem
(STJ, Súmula 07). Restringe-se às questões de direito, bem sabemos,
máxime por ser, com respeito aos recursos, unicamente voltado
àqueles de natureza extraordinária. É dizer, visa, tão só, nessas
hipóteses, revisar a correta aplicação do direito (CF, art. 105, inc.
III).
Todavia, importa ressaltar um quadrante de
argumentos, ocorridos neste processo, que, em princípio, possa
aparentar reanálise de provas. Não será esse o propósito,
certamente.
O que se busca, aqui, é sanar uma inarredável falha, do
Tribunal de piso, do ensejo do acórdão guerreado, quando,
equivocadamente, dera ao âmago das provas debatidas, uma
qualificação jurídica desacertada. Desse modo, os fatos e provas em
espécie, a seguir explicitado, verdadeiramente ocorreram, nos moldes
do que constam da decisão hostilizada. Dessarte, trata-se de exame
de fatos, não reexame.
Nesse compasso, o acórdão vergastado revela
incorreção quando laborou na subsunção dos fatos à norma aplicada.
Com efeito, nessas circunstâncias, emerge inescusável necessidade
de revaloração do fato comprovado.
Por esse ângulo, por ter-se, na hipótese, o desígnio
único relativo à incorreta qualificação jurídica dos fatos, trata-se, por
isso, de examinar-se matéria de direito. 
Assim, o exame a ser feito por esta Corte, neste apelo
nobre, quanto à caracterização do estado de hipossuficiência
financeira, em face do conteúdo probatório avaliado pelo acórdão
guerreado. Assim, o Recorrente se reporta ao indevido
enquadramento legal feito pelo Tribunal turmário.
A propósito do tema, vejamos as lições de José Miguel
Garcia Medina, verbo ad verbum:
 “IV. Questão unicamente de direito. A questão, de acordo com o art.
976, I, do CPC/2015, deve ser ‘unicamente de direito’.
Rigorosamente, nenhuma questão pode ser exclusivamente de
direito; afinal, pensa-se na construção de normas jurídicas para
resolver problemas, e problemas que ocorrem no plano dos fatos. É,
até mesmo, difícil pensar-se em norma jurídica sem se recorrer a um
fato, ainda que hipotético. O que se quer dizer, ao se exigir que a
questão seja somente de direito, é que a controvérsia diga respeito
não ao modo como ocorreram os fatos, mas apenas sobre como deve
ser considerada a disposição legal, ou o princípio, que servirá à
solução controvérsia...
De igual modo é o magistério de Teresa Arruda Alvim
Wambier:
 “2.5 É matéria de direito a adequação da subsunção dos fatos à
solução normativa encontrada pelo juiz encontrada pelo juiz. A
qualificação jurídica dos fatos não é questão de fato, mas questão de
direito, que, como tal, sujeita-se ao controle dos Tribunais
Superiores... 
Não é demais trazer ao ensejo o que ensina Fredie Didier Jr:
 “Possivelmente o critério de distinção preferível reside, então, na
análise de caso a caso, mediante percepção da necessidade de a
decisão a ser proferida pelas Cortes Superiores dizer se e como
teriam ocorrido os fatos e se e como teriam sido provados.
Nesta trilha, podemos afirmar que é possível às Cortes Superiores
conhecer dos fatos quando não se faça necessário o seu reexame,
pelo que, concordamos quando se diz que ‘os fatos são examinados
pelos tribunais superiores tal como descritos na decisão recorrida.
Isto porque, cabe aos Tribunais Superiores a adequação da
subsunção dos fatos – soberanamente decididos pela instância
anterior – à norma, o que permite, a revaloração da prova pelas
instâncias superiores...
Com efeito, constata-se que não se trata de “simples
reexame de provas”, como anuncia a Súmula em destaque. Aqui,
sem sombra de dúvidas é a hipótese de “revaloração da prova”.
Nesse exato enfoque salientamos, mais uma vez, os
dizeres de José Miguel Garcia Medina, o qual professa ad litteram:
 “V. Questão de direito. Qualificação jurídica dos fatos. Distinção
entre reexame de prova e revaloração da prova. A petição de recurso
deverá conter ‘a exposição do fato e do direito’ (cf. art. 1.029, I, do
CPC/2015). Tanto a questão constitucional quanto a questão federal
que serão objeto de discussão constituem questões de direito, sendo
estranha aos recursos especial e extraordinário a discussão de
controvérsias relativas a fatos debatidos no processo (cf. Enunciado
279 do STF, e Enunciados 5 e 7 do STJ, nota supra). É também
considerada questão de direito a qualificação jurídica dos fatos, isso
é, embora não se admita recurso especial em que se discuta se
determinado fato ocorreu, ou não (reexame de prova), tal recurso é
admitido, no entanto, quando não há dúvida acerca da ocorrência de
determinado fato, mas discute-se como ele deve ser qualificado
juridicamente (revaloração do fato provado). Como se decidiu com
acerto, ‘a redefinição do enquadramento jurídico dos fatos
expressamente mencionados no acórdão hostilizado constitui mera
revaloração da prova’, e não reexame de prova, que seria vedado
pelo Enunciado n. 7 da Súmula do STJ (STJ, AgRg no REsp
1.036.178/SP, rel. Min. Marco Buzzi, 4ª T., j. 13.12.2011; a respeito,
cf. o que escrevemos em O prequestionamento ...cit., 1. Ed.,...
Esta Corte já se pronunciou acerca de pertinência da
interposição do recurso nobre em situação similar, ou seja, do exame
da revaloração das provas, verbo ad verbum:
 PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ART.
217-A DO CP. ATOS LASCIVOS DIVERSOS DA CONJUNÇÃO
CARNAL. TIPIFICAÇÃO. SÚMULA Nº 7/STJ. NÃO INCIDÊNCIA.
REVALORAÇÃO DE PROVAS. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. Nos termos da jurisprudência desta Corte, nega-se vigência ao art.
217-A do CP quando, diante de atos lascivos diversos da conjunção
carnal e atentatórios à liberdade sexual da vítima (menor de 14
anos), desclassifica-se a conduta para contravenção penal. 2. "A
controvérsia atinente à inadequada desclassificação para a
contravenção penal prevista no art. 65 do Decreto-Lei n. 3.688/1941
prescinde do reexame de provas, sendo suficiente a revaloração de
fatos incontroversos explicitados no acórdão recorrido. (RESP
1.605.222/MS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA
TURMA, julgado em 28/6/2016, DJe 1/8/2016). 3. Agravo regimental
não provido [ ... ]
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. ATRASO NA ENTREGA
DO IMÓVEL. CLÁUSULAS PENAL MORATÓRIA. POSSIBILIDADE
DE REVERSÃO. REVALORAÇÃO DE PROVAS. POSSIBILIDADE.
NÃO INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO Nº 7/STJ. AGRAVO
INTERNO NÃO PROVIDO.
1. O STJ possui entendimento no sentido de que é possível a inversão
da cláusula penal moratória em favor do consumidor, na hipótese de
inadimplemento do promitente vendedor, consubstanciado na
ausência de entrega do imóvel. Precedentes. 2. O Tribunal de origem
reconheceu a impossibilidade de inversão da multa contratual em
favor do adquirente do imóvel, uma vez que esta não estaria prevista
contratualmente para o caso de inadimplemento das promitentes
vendedoras, o que contraria a atual jurisprudência desta Corte a
respeito do tema. 3. Não há se falar em violação ao enunciado da
Súmula nº 7/STJ quando a decisão agravada, ao dar provimento ao
Recurso Especial, realiza mera valoração probatória dos fatos
sobejamente delineados no acórdão recorrido. 4. Agravo interno não
provido [ ... ]
 AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO
ORDINÁRIA. DIREITO DO CONSUMIDOR. CONTRATO DE
COMPRA E VENDA. ATRASO NA ENTREGA DO IMÓVEL.
REVALORAÇÃO DE PROVAS. POSSIBILIDADE. NÃO
INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO Nº 7/STJ. INVERSÃO DA
CLÁUSULA PENAL. CABIMENTO.
1. A revaloração da prova constitui em atribuir o devido valor jurídico
a fato incontroverso, sobejamente reconhecido nas instâncias
ordinárias, prática admitida em sede de Recurso Especial, razão pela
qual não incide o óbice previsto no Enunciado Nº 7/STJ. 2.
Possibilidade, segundo o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça, de inversão da cláusula penal moratória em favor do
consumidor, em caso de inadimplemento do promitente vendedor,
consubstanciado no atraso da entrega do imóvel no prazo estipulado
pelas partes. 3. Não apresentação pela parte agravante de
argumentos novos capazes de infirmar os fundamentos que
alicerçaram a decisão agravada. 4. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO [
... ]

 
3.3. Violação de norma federal    
          
3.3.1. Justiça Gratuita - parcelamento das custas/pagamento
ao final do processo - hipossuficiência comprovada –
Valoração equivocada da prova
 
Antes de tudo, urge asseverar que a Lei nº 1.060/50,
até então principal legislação correspondente a regular os benefícios
da justiça gratuita, apesar da vigência do novo CPC, ainda
permanecem em vigor, embora parcialmente.
Disciplina a Legislação Adjetiva Civil, in verbis:
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
Art. 1.072 -  Revogam-se:
(...)
III - os arts. 2º, 3º, 4º, 6º, 7º, 11, 12 e 17 da Lei
no 1.060, de 5 de fevereiro de 1950;
Art. 98
§ 6º Conforme o caso, o juiz poderá conceder
direito ao parcelamento de despesas processuais
que o beneficiário tiver de adiantar no curso do
procedimento.
Nesse compasso, com a vigência do CPC, há apenas
uma revogação limitada, a saber:
 “5. A Lei 1.060/1950. Até a edição do CPC/2015,
a Lei 1.060/1960 constituía a principal base
normativa do benefício da justiça gratuita. Essa lei
não foi completamente revogada pelo CPC/2015,
sobretudo porque há nela disposições que se
relacionam à assistência judiciária...
Nesse compasso, com a vigência do CPC, há apenas
uma revogação limitada, a saber:
5. A Lei 1.060/1950. Até a edição do CPC/2015, a Lei 1.060/1960
constituía a principal base normativa do benefício da justiça gratuita.
Essa lei não foi completamente revogada pelo CPC/2015, sobretudo
porque há nela disposições que se relacionam à assistência
judiciária...
No caso em tela, não se vislumbra qualquer indício de
boa situação financeira do Recorrente. Como afirmado alhures, parte
Recorrente não possui valores para realizar o pagamento. O fato de
existir bens em inventário a qual é herdeira que encontra-se em
andamento não quer dizer que a mesma disponha de valores no
momento.
Vale a pena observar o comprovante de recebimento do
seu benefício para compreender que o que a Agravante recebe
mensalmente não comporta o pagamento das custas.
Não é crível que crível tenha se apoiado, unicamente,
no montante financeiro a ser recebido pela Recorrente como
incompatível com o estado de insuficiência financeira, na forma do
que rege o art. 98 da Legislação Adjetiva Civil.
Na realidade, o acesso ao Judiciário é amplo, voltado
também às pessoas hipossuficientes financeiramente. A Recorrente,
como visto acima, demonstrou sua total carência econômica, de
modo que se encontra impedido de arcar as custas e despesas
processuais. 
De outro compasso, é inarredável que a decisão
atacada é carente de fundamentação. Assim, far-se-ia necessária a
indicação precisa da irrelevância dos documentos afirmados como
indicativos da hipossuficiência (CPC, art. 99, § 2º c/c art. 5º, caput,
da Lei 1.060/50). Assim não o fez.
Ao contrário disso, sob pena de ferir-se princípios
constitucionais, como os da razoabilidade e o da proporcionalidade, a
restrição de direitos deve ser vista com bastante cautela.
Nesse diapasão, o Tribunal de piso tão somente poderia
indeferir o pedido quando absolutamente seguro que a parte, em
verdade, teria condições de arcar com as custas e despesas judiciais.
Ao revés do entendimento em testilha, às veras,
quando alegada pela parte, existe uma presunção legal de
insuficiência financeira em benefício da mesma (CPC, art. 99, § 3°).
Nesse passo, sem dúvidas a decisão guerreada buscara inverter esse
gozo, previsto em lei processual. É dizer, o julgador, seguramente,
com a devida vênia, não fizera distinção entre a miserabilidade
jurídica e a insuficiência material ou indigência.
A corroborar o exposto acima, urge transcrever o
magistério de Daniel Assumpção Neves:
A presunção de veracidade da alegação de insuficiência, apesar de
limitada à pessoa natural, continua a ser a regra para a concessão do
benefício da gratuidade da justiça. O juiz, entretanto, não está
vinculado de forma obrigatória a essa presunção nem depende de
manifestação da parte contrária para afastá-la no caso concreto,
desde que existam nos autos ao menos indícios do abuso do pedido
de concessão da assistência judiciária...
Com efeito, a extensa prova documental, sobremaneira
a remuneração mensal ínfima percebida pelo Recorrente,
sobejamente, permite superar quaisquer argumentos pela ausência
de pobreza, na acepção jurídica do termo. É indissociável a existência
de todos os requisitos legais à concessão dos benefícios pleiteados.
O acórdão ora guerreado põe em risco a segurança
jurídica do tema e desrespeita este Superior Tribunal de Justiça que
já pacificou o tema.
Desta forma, por respeito às normas processuais, de
rigor o conhecimento e provimento do presente recurso especial, por
ser medida de adequação à lei e à justiça.

3.3. Negativa de vigência à Lei Federal    

Segundo Rodolfo Camargo Mancuso (), “contrariamos a


lei quando distanciamos da mens legislatoris, ou da finalidade que lhe
inspirou o advento; e bem assim quando a interpretamos mal e lhe
desvirtuamos o conteúdo”. Por outro lado, ainda conforme o Autor,
negamos-lhe vigência “quando declinamos de aplicá-la, ou aplicamos
outra, aberrante da fattispecie”, ou quando, “o aplicador da norma
atua em modo delirante, ignorando a real existência do texto
regência.
Para Daniel Amorim Assumpção Neves (), “contrariar”
significa distanciar-se da mens legislatoris ou da finalidade da norma,
incluindo uma má interpretação que importe o desvirtuamento de seu
conteúdo, enquanto “negar vigência” significa deixar de aplicar a
norma correta no caso concreto.

3.4. Negativa de vigência ao Código de Processo Civil

O acórdão recorrido incorreu em patente violação aos


artigos 98 caput e § 6º do CPC/2015 quando negou os benefícios da
justiça gratuita, bem como determinou o parcelamento das custas em
apenas 6 vezes, tratando-se de um valor alto que compromete a
subsistência da parte e não se manifestando quanto ao pedido de
pagamento das custas ao final do processo.   
Determina o artigo 98§6º:
Conforme o caso, o juiz poderá conceder direito ao
parcelamento de despesas processuais que o beneficiário tiver de
adiantar no curso do procedimento.
Sobre a justiça gratuita, já decidiu o Tribunal de Justiça
de São Paulo:
AGRAVO DE INSTRUMENTO – EMBARGOS DE
TERCEIRO – JUSTIÇA GRATUITA –
HIPOSSUFICIÊNCIA COMPROVADA. No caso em
tela, a Agravante trouxe documentos que
comprovam que, mesmo momentaneamente,
encontra-se impossibilitada de arcar com o
pagamento das custas e despesas processuais sem
prejuízo de seu sustento e de sua família, sendo de
rigor a concessão do benefício da gratuidade
processual, a fim de que busque a prestação
jurisdicional pretendida. – DECISÃO REFORMADA –
RECURSO PROVIDO. (TJSP; Agravo de
Instrumento 2089866-92.2017.8.26.0000; Relator
(a): Eduardo Siqueira; Órgão Julgador: 38ª
Câmara de Direito Privado; Foro Regional VIII -
Tatuapé - 2ª Vara Cível; Data do Julgamento:
18/09/2017; Data de Registro: 18/09/2017)
Sobre o parcelamento das custas, já decidiu o Tribunal
de Justiça de Minas Gerais:
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - JUSTIÇA
GRATUITA - PESSOA FÍSICA - AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DA HIPOSSUFICIÊNCIA
FINANCEIRA - PARCELAMENTO DAS CUSTAS
PROCESSUAIS - POSSIBILIDADE. I - Segundo os
arts. 5°, LXXIV, da Constituição Federal e 99, § 2º,
do Código de Processo Civil, a concessão dos
benefícios da gratuidade judiciária depende da
comprovação da carência de recursos para
suportar as custas processuais, não bastando a
simples declaração de pobreza. II - Se não
evidenciada a situação de hipossuficiência
financeira alegadamente vivenciada, existindo
elementos denotadores da falta dos pressupostos
legais para a concessão da gratuidade, o
indeferimento dessa benesse é inarredável. III - O
§6º do art. 98 do CPC possibilita a
autorização, pelo juiz, do parcelamento das
custas iniciais.  (TJMG -  Agravo de Instrumento-
Cv  1.0000.21.231306-8/001, Relator(a): Des.(a)
João Cancio , 18ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
08/03/0022, publicação da súmula em
09/03/2022)
3.4. Negativa de vigência ao enunciado administrativo nº 27
do Fundo Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro
(FETJ)

O acórdão recorrido incorreu em patente violação ao nº


27 do Fundo Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (FETJ)
quando negou e/ou não se manifestando quanto ao pedido de
pagamento das custas ao final do processo, embora a parte
Recorrente tenha requerido inúmeras vezes.   
Sobre o tema, já decidiu o Tribunal de Justiça de Santa
Catarina:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. INVENTÁRIO.
INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE CONCESSÃO DA
JUSTIÇA GRATUITA. RECURSO DA
PARTE INVENTARIANTE. AUSÊNCIA DE LIQUIDEZ
DO PATRIMÔNIO DO ESPÓLIO. POSSIBILIDADE DE
RECOLHIMENTO DAS CUSTAS AO FINAL DO
PROCESSO.
Tratando-se de pedido de concessão dos
benefícios da justiça gratuita formulado por
espólio, não é o patrimônio dos herdeiros que
deve ser analisado para fins de concessão,
mas os bens do acervo. Assim, constatando-
se a existência de patrimônio que permite
arcar com as despesas, o pagamento das
custas processuais deve ser relegado ao
final do processo na hipótese de falta de
liquidez momentânea.
RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO. (TJSC, Agravo de Instrumento n.
5013506-80.2021.8.24.0000, do Tribunal de
Justiça de Santa Catarina, rel. Sebastião César
Evangelista, Segunda Câmara de Direito Civil, j.
31-01-2022).

4. Do Provimento Do Recurso
Ex positis, a parte Recorrente requer:
a) seja a princípio ADMITIDO e SEM OBSTRUÇÃO
guindados os autos para o colendo Superior Tribunal de Justiça;
b) seja DADO PROVIMENTO ao presente RECURSO
ESPECIAL, para conceder o benefício da justiça gratuita a parte
Recorrente, ou ainda seja deferido o pagamento das custas ao final
do processo ou o parcelamento das custas superior a 15 parcelas,
não condicionando o prosseguimento do processo ao pagamento da
última parcela, reformando o v. acórdão recorrido, e, via de
consequência, a decisão da instância primitiva.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Nesta cidade, 29 de abril de 2022


EVANDRO JOSÉ LAGO
OAB/RJ 136.516

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