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Enunciado
Wilson é pai de Juliano, criança portadora de doença rara que afeta sua mobilidade. Certo dia, assistindo a um
telejornal de abrangência nacional, Wilson se deparou com a notícia de que o uso da maconha, também
denominada Cannabis sativa, estava sendo testado para fins medicinais, inclusive para tratamento da doença que
acometia seu filho. Diante da notícia, supondo ser permitido o uso da maconha para fins medicinais, Wilson se
deslocou até a cidade de Salvador/BA e adquiriu um quilo de Cannabis Sativa. Enquanto trazia consigo a substância,
foi abordado por policiais e, diante da apreensão da droga consigo, preso em flagrante pelo crime de tráfico de
drogas, tendo sido lhe deferida a liberdade provisória posteriormente. Foi realizado o laudo preliminar constatando
que efetivamente se tratava de maconha. Após conclusão do inquérito policial e juntada do laudo definitivo
constatando a natureza da substância entorpecente, o Ministério Público ofereceu denúncia contra Wilson,
imputando-lhe a prática do crime de tráfico de drogas, previsto no artigo 33, “caput”, da Lei 11.343/2006. Após
regular processamento, durante a audiência de instrução, Wilson confirmou a posse da substância entorpecente,
ressaltando, contudo, que trazia consigo porque acreditava que poderia ter a maconha em sua posse para fins
medicinais. Disse, ainda, já ter sido indiciado nos autos de inquérito policial instaurado por conta de um suposto
crime de apropriação indébita, bem como já sofreu sentença condenatória definitiva pela prática da contravenção
de vias de fato, prevista no artigo 21 do Dec.-Lei 3688/41. Após a juntada da Folha de Antecedentes Criminais do
réu, constando o inquérito mencionado e a condenação transitada em julgado pela contravenção de vias de fato,
bem como das alegações finais apresentadas pelas partes, o Magistrado da 5ª Vara Criminal da Comarca da
Salvador/BA proferiu sentença, condenando Wilson como incurso nas sanções do artigo 33, “caput”, da Lei
11.343/2006. Na primeira fase da aplicação da pena, o juiz elevou a pena-base em 04 meses, apontando a existência
do inquérito policial pelo delito de apropriação indébita, ficando em 05 anos e 04 meses. Na segunda fase,
considerou a agravante da reincidência, diante da condenação definitiva pela prática de contravenção anterior,
elevando em mais 08 meses. Na terceira fase, não reconheceu a causa de diminuição da pena relacionada ao crime
de tráfico, argumentando que o réu é reincidente, tornando a pena definitiva em 06 anos de reclusão. Ao final,
fixou o regime inicial fechado, justificando que se trata de réu reincidente, bem como que a lei prevê esse regime
inicial a agente condenado por crime equiparado a hediondo. Intimado, o Ministério Público tomou ciência da
decisão e não recorreu. A defesa foi intimada da sentença no dia 08 de maio de 2017, segunda-feira, sendo terça-
feira dia útil em todo o país.
Com base nas informações expostas acima e naquelas que podem ser inferidas do caso concreto, na condição de
advogado(a) de Wilson, redija a peça cabível, excluída a possibilidade de habeas corpus, no último dia do prazo
para interposição, sustentando todas as teses jurídicas pertinentes. (Valor: 5,00)
Obs.: A peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar respaldo à
pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não confere pontuação.
Gabarito comentado
O candidato deverá elaborar, na condição de advogado, um Recurso de Apelação, com base no artigo 593,
inciso I, do Código de Processo Penal.
Em um primeiro momento, deve ser redigida a peça de interposição do recurso, endereçada ao Juízo da 5ª
Vara Criminal da Comarca de Salvador/BA. A petição de interposição deve estar devidamente datada.
Posteriormente, devem ser apresentadas as respectivas razões recursais, peça essa endereçada diretamente ao
Tribunal de Justiça do Estado da Bahia.
No mérito, deveria o candidato pleitear, em um momento inicial, a absolvição do acusado por falta de
potencial consciência da ilicitude ou erro de proibição inevitável. Para que determinada conduta seja considerada
crime, deve ela ser típica, ilícita e culpável. Um dos elementos da culpabilidade é a potencial consciência da ilicitude,
sendo, portanto, a falta de potencial consciência da ilicitude causa de exclusão da culpabilidade. Deveria o
examinando alegar que Wilson somente adquiriu e trazia consigo a maconha, porque considerava permitido o uso
da substância para fins medicinais, diante da notícia veiculada por um telejornal de abrangência nacional. Logo,
agiu em erro de proibição, pois, nas circunstâncias, considerou que sua conduta era permitida pelo direito, errando
quanto à ilicitude do fato. E, nos termos do artigo 21 do Código Penal, o erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável,
isenta de pena. Assim, na forma do Art. 386, inciso VI, do Código de Processo Penal, deveria o réu ser absolvido.
Caso se entenda que o fato foi típico, ilícito e culpável, o examinando, com base no princípio da
eventualidade, deveria passar a enfrentar a sanção penal aplicada. Inicialmente deveria solicitar a aplicação da pena
base em seu mínimo legal, pois, na forma do enunciado 444 da Súmula de jurisprudência do STJ, a existência de
inquéritos policiais ou ações penais em curso não são suficientes para fundamentar circunstâncias judiciais do Art.
59 do Código Penal como desfavoráveis.
Na fixação da pena intermediária, deveria o candidato buscar o afastamento da agravante da reincidência,
pois a circunstância de o agente ter praticado novo crime depois do trânsito em julgado da sentença penal
condenatória da contravenção de vias de fato não se enquadra no contexto do artigo 63 do Código Penal nem no
artigo 7º do Dec. Lei 3688/41, não podendo o Magistrado considerar circunstância agravante não prevista em lei.
Ressalta-se que não será pontuada a atenuante da confissão espontânea, porque, conforme a Súmula 630
do STJ, “A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o
reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse ou propriedade para uso
próprio”. De todo modo, quem alegou a tese da confissão fez muito bem, já que correria o bom risco de pontuar,
se estivesse no padrão de resposta. Além disso, não seria caso de qualquer perda de pontos.
Deveria, ainda, ser alegada, na hipótese de não ser acolhida a tese de erro de proibição inevitável, a
incidência da causa de diminuição da pena do erro de proibição evitável, prevista no artigo 21, parte final, do Código
Penal.
Além disso, considerando que o acusado é primário, de bons antecedentes, e que não consta em seu
desfavor qualquer indício de envolvimento com organização criminosa ou dedicação às atividades criminosas,
cabível a aplicação do redutor de pena previsto no Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006. As circunstâncias da infração
tornam até mesmo possível a aplicação da causa de diminuição em seu patamar máximo.
Em relação ao regime inicial de cumprimento de pena, o STF reconheceu a inconstitucionalidade da
exigência da aplicação do regime inicial fechado para os crimes hediondos ou equiparados trazida pelo Art. 2º, §
1º, da Lei nº 8072/90, por violação do princípio da individualização da pena, de modo que nada impede a fixação
do regime inicial aberto de cumprimento da reprimenda penal. Além disso, o STF reconheceu que o tráfico
privilegiado não tem natureza hedionda.
Em sendo reconhecida a existência do tráfico privilegiado do Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06, cabível o
requerimento de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, pois não mais subsiste a
vedação trazida pelo dispositivo. O Supremo Tribunal Federal reconheceu a inconstitucionalidade dessa vedação
em abstrato, por violação ao princípio da individualização, além de a Resolução nº 05 do Senado, publicada em
15/02/2012, suspender a eficácia da expressão “vedada a conversão em penas restritivas de direito” do parágrafo
acima citado.
Por fim, deve o candidato deve pleitear o conhecimento e provimento do recurso, com consequente
reforma da decisão, elaborando os seguintes pedidos:
a) absolvição do crime de tráfico, na forma do Art. 386, inciso VI, do Código de Processo Penal;
b) subsidiariamente, aplicação da pena base no mínimo legal;
c) afastamento da circunstância agravante da reincidência;
d) aplicação da causa de diminuição da pena pelo erro de proibição evitável, nos termos do artigo 21, parte final,
do Código Penal;
e) aplicação da causa de diminuição do Art. 33, § 4º da Lei nº 11.343/2006;
f) aplicação do regime inicial aberto de cumprimento da pena, nos termos do artigo 33, §2º, alínea “c” do Código
Penal;
g) substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
Em relação ao prazo, deve a peça ser datada em 15 de maio de 2017, tendo em vista que o prazo para apelação é
de 05 dias, mas o dia 13 de maio de 2017 é um sábado, logo o prazo é prorrogado para segunda-feira.
Além disso, deveria o examinando apontar que a peça é tempestiva, pois apresentada dentro do prazo de 5 dias,
previsto no artigo 593, “caput”, do CPP.
Obs.: a falta de data em qualquer uma das peças implicará na perda de pontos pela estrutura; a colocação de datas
diferentes nas peças implicará na perda dos pontos relativos ao item “prazo”, pois a questão exige uma única data.
Distribuição de pontos
ITEM PONTUAÇÃO
PONTUAÇÃO
DO ALUNO
1. Interposição 0 0
1.1 Endereçamento Juízo da 5ª Vara Criminal da Comarca de Salvador/BA
0/0,10
(0,10)
1.2 Cabimento: Recurso de Apelação, com base no Art. 593, inciso I, do CPP
0/0,10
(0,10)
1.3 Tempestividade: Prazo de 5 dias na forma do Art. 593, “caput”, do CPP
0/0,10
(0,10).
2. Razões de Recurso 0
Endereçamento: Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (0,10) 0/0,10
3. Mérito 0
Absolvição do crime imputado de tráfico de drogas (0,40), nos termos do artigo 0/0,10/0,20/
386, inciso VI, do CPP (0,10), com fundamento na existência do erro de 0,30/0,40/0,50/0,60/
proibição inevitável (0,50), causa excludente de culpabilidade (0,20), prevista 0,70/0,80/0,90/1,00/
no Art. 21 do Código Penal (0,20) 1,10/1,20/1,30/1,40
4. Teses subsidiárias 0
4.1 Desenvolvimento fundamentado acerca do afastamento dos maus
antecedentes (0,10), com a fixação da pena-base no mínimo legal (0,10), por 0/0,10/
força da Súmula 444 do Superior Tribunal de Justiça OU princípio da presunção 0,20/0,30
da inocência (0,10)
4.2 Afastamento da agravante da reincidência (0,20), porque não se enquadra 0/0,10/
nas hipóteses previstas em lei (0,10) 0,20/0,30
4.3 Aplicação da causa de diminuição da pena (0,20), previsto no artigo 21 do
0/0,10/0,20/
Código Penal (0,10) OU erro de proibição evitável (0,20), previsto no artigo 21
0,30
do Código Penal (0,10)
4.4. Aplicação da causa de diminuição do Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06 OU
reconhecimento do tráfico privilegiado (0,20), pois o réu era primário, de bons 0/0,10/
antecedentes, não se dedicando a atividade criminosa nem integrando 0,20/0,30
organização criminosa (0,10)
4.5. Aplicação do regime inicial aberto para cumprimento de pena (0,20), pois
o crime de tráfico privilegiado não é considerando hediondo pelo STF OU
0/0,20/0,40
porque é inconstitucional a previsão do Art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90 de
aplicação obrigatória do regime inicial fechado aos crimes hediondos (0,20)
4.6. Desenvolvimento fundamentado acerca da substituição da pena privativa 0/0,10/
de liberdade por restritiva de direitos (0,10), já que a vedação em abstrato 0,20/0,30
COMARCA DE SALVADOR/BA
Processo nº
Nestes termos,
Pede deferimento.
Advogado...
OAB...
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA
Apelante: WILSON
Processo nº
I) DOS FATOS
II) DO DIREITO
A) DO ERRO DE PROIBIÇÃO
substância para fins medicinais, diante da notícia veiculada por um telejornal de abrangência
nacional.
que sua conduta era permitida pelo direito, errando quanto à ilicitude do fato.
fato, se inevitável, isenta de pena. Assim, deverá o réu ser absolvido, por falta de potencial
antecedentes inquérito policial em que o réu foi indiciado pela prática do crime de
apropriação indébita.
artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal, bem ainda de acordo com a Súmula 444
C) DA REINCIDÊNCIA
Código Penal, nem no artigo 7º do Dec. Lei 3.668/41, não podendo o Magistrado
proibição, pois, nas circunstâncias, considerou que sai conduta era permitida pelo direito,
não consta em seu desfavor qualquer indício de envolvimento com organização criminosa
no Artigo 33, §4º da Lei 11.343/06. As circunstâncias da infração tomam até mesmo
reincidente, bem como que a lei prevê esse regime inicial a agente condenado por crime
equiparado a hediondo.
inicial fechado para os crimes hediondos ou equiparados trazida pelo Artigo 2º, §1º da Lei
8.072/90, por violação do princípio da individualização da pena, previsto no artigo 5º, XLVI
da Constituição Federal, de modo que nada impede a fixação do regime inicial aberto de
se espera, o regime inicial de cumprimento da pena deve ser o aberto, nos termos do
por restritiva de direitos, pois eventual pena aplicada não será superior a 04 anos,
acima citado.
restritiva de direitos.
a) A absolvição do crime de tráfico de drogas, com base no artigo 386, inciso VI do Código
de Processo Penal;
d) Seja aplicada a causa de diminuição da pena pelo erro de proibição evitável, nos termos
f) Seja fixado o regime inicial de cumprimento de pena no regime aberto, nos termos do artigo
Nestes termos,
Pede deferimento.
Advogado...
OAB...
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL
36º EXAME DE ORDEM UNIFICADO
PROVA PRÁTICO-PROFISSIONAL
SIMULADO 4
ÁREA: DIREITO PENAL
“O gabarito preliminar da prova prático-profissional corresponde apenas a uma expectativa de resposta,
podendo ser alterado até a divulgação do padrão de respostas definitivo.”
Qualquer semelhança nominal e/ou situacional presente nos enunciados das questões é mera coincidência.”
**Esse documento é uma simulação que usa os mesmos padrões da prova prático-profissional aplicada pela
Fundação Getúlio Vargas.
PADRÃO DE RESPOSTA – QUESTÃO 1
Enunciado
No dia 10 de janeiro de 2018, Wilson desfere dois disparos em Caio, filho de um conhecido policial civil da região
com atuação de destaque no combate ao tráfico que imperava na cidade de Santa Cruz do Sul/RS, porque estaria,
a princípio, tendo relação amorosa com sua namorada. Após a conclusão das investigações, Wilson foi denunciado
pelo crime de homicídio qualificado, previsto no artigo 121, § 2°, inciso VII, do Código Penal (homicídio funcional),
perante o juízo da 1° Vara Criminal de Santa Cruz do Sul/RS. Após regular instrução processual, Wilson foi
pronunciado, nos exatos termos da denúncia, tendo a defesa sido intimada no dia 18 de março de 2020 (quarta-
feira). Nesse sentido, tendo como base apenas as informações contidas no enunciado, responda justificadamente
às questões a seguir.
A) Qual a peça processual, diferente de habeas corpus, a ser apresentada pela defesa técnica, e qual o último dia
do prazo para interpô-la? Justifique. (Valor: 0,60)
B) Existe argumento de direito material para questionar a capitulação atribuída pelo Ministério Público ao fato
praticado por Wilson? (Valor: 0,65)
Obs.: O(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere
pontuação.
Gabarito comentado
A) A peça processual a ser apresentada pela defesa técnica é a interposição de Recurso em Sentido Estrito, nos
termos do artigo 581, inciso IV, do Código de Processo Penal, no prazo de 5 dias, tendo em vista o disposto no artigo
586 do Código de Processo Penal. O último dia do prazo para interpor o recurso seria 23 de março de 2020 (segunda-
feira).
B) A tese de direito material para fins de diminuir a responsabilidade penal de Wilson é o afastamento da
qualificadora prevista no §2°, inciso VII, do artigo 121, do Código Penal, tendo em vista que o dispositivo legal em
questão se refere exclusivamente a crime praticado no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição. No caso, Wilson
efetuou disparos contra Caio, porque estaria tendo relação amorosa com sua namorada, não havendo, portanto,
relação com a função de policial civil que seu pai exerce.
Distribuição de pontos
PONTUAÇÃO
ITEM PONTUAÇÃO
DO ALUNO
A) A peça processual a ser apresentada pela defesa técnica é a interposição
de Recurso em Sentido Estrito (0,30), nos termos do artigo 581, inciso IV, do 0/0,10/0,20/0,30/
Código de Processo Penal (0,10). O último dia do prazo para interposição 0,40/0,50/0,60
seria o dia 23/03/2020 (0,20).
B) A tese de direito material para fins de diminuir a responsabilidade penal
de Wilson é o afastamento da qualificadora prevista no §2°, inciso VII, do
0/0,25/0,40/
artigo 121, do Código Penal (0,40), tendo em vista que o crime não foi
0,65
praticado no exercício da função ou em razão da função de policial civil
(0,25)
Enunciado
No dia 02 de fevereiro de 2020, Wilson foi vítima de roubo, supostamente praticado por Alberto. Logo após o roubo,
a vítima acionou a polícia, comunicando que, durante a subtração da sua carteira e o celular, foi agredido com um
soco pelo acusado, que lhe causou lesões leves, não sabendo afirmar se o mesmo estava armado. Mauro, que estava
próximo ao local, testemunhou os fatos. A vítima e a testemunha apontaram a direção pela qual o acusado teria
empreendido fuga, tendo a polícia saído imediatamente em sua perseguição. Após alguns minutos, a autoridade
policial conseguiu localizar o acusado, prendendo-o em flagrante na posse dos objetos subtraídos, bem como de um
facão que estava na sua cintura. Após conclusão do inquérito policial, o Ministério Público ofereceu denúncia contra
Alberto, imputando-lhe a prática do crime previsto no Art. 157, § 2º, inciso VII, do Código Penal. Ao regular
andamento do processo, durante a audiência de instrução, o Magistrado ouviu a vítima, que confirmou os fatos,
reiterando não saber se o mesmo portava alguma arma no momento da subtração. Após, acolhendo a justificativa
apresentada pelo não comparecimento da testemunha de acusação, porque teria testado positivo para o Covid,
passou, apesar da inconformidade da defesa, a interrogar o réu, sob o fundamento de celeridade dos atos
processuais, aproveitando que ele estava presente. Designada nova audiência, em que foi ouvida somente a
testemunha da acusação, o Magistrado converteu os debates orais em Memoriais Escritos. Considerando apenas as
informações narradas, responda, na condição de advogado(a) de Alberto, aos itens a seguir.
A) Existe argumento de direito processual a ser apresentado em memoriais para questionar toda a instrução
produzida? (Valor: 0,60)
B) Existe argumento de direito material a ser apresentado em favor de Alberto para questionar a capitulação
atribuída pelo Ministério Público na denúncia? (Valor: 0,65)
Obs.: O(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação.
Gabarito comentado
A) O argumento de direito processual seria no sentido de haver a nulidade do processo a partir da audiência de
instrução. Isso porque, apesar da inconformidade da defesa, o Magistrado inverteu a ordem de inquirição prevista
no Art. 400 do CPP, quando passou a interrogar o réu antes da testemunha. Logo, deve ser declarada a nulidade do
processo a partir da audiência de instrução, porque houve violação do princípio da ampla defesa e do contraditório,
previsto no Art. 5º, inciso LV, da CRFB, bem como com base no Art. 564, inciso IV, do CPP.
B) O candidato deveria arguir que existe argumento de direito material para questionar a capitulação atribuída pelo
Ministério Público. Nos termos do Art. 157, § 2º, inciso VII, do CP, o crime de roubo será majorado se a violência ou
grave ameaça for exercida com emprego de arma branca. No caso, a vítima afirmou não saber se o réu portava
Distribuição de pontos
PONTUAÇÃO
ITEM PONTUAÇÃO
DO ALUNO
A) O argumento de direito processual seria no sentido de ser declarada a
nulidade do processo a partir da audiência de instrução (0,20), já que houve
0,10/0,20/0,30/
inversão da ordem de inquirição (0,20), conforme o Art. 400 do CPP OU Art.
0,40/0,50/0,60
564, inciso IV, do CPP (0,10). Logo, houve violação do princípio da ampla
defesa e do contraditório, previsto no Art. 5º, inciso LV, da CRFB (0,10).
B) O candidato deveria arguir o afastamento da causa de aumento de pena
do emprego de arma branca OU que deveria responder por roubo simples 0/0,20/0,45/0,65
(0,45), uma vez que não restou comprovado o emprego de arma branca no
ato da subtração (0,20).
Enunciado
Wilson foi denunciado pela prática de um crime de homicídio simples. Dois dias antes do julgamento em plenário, o
Ministério Público juntou ao processo a Folha de Antecedentes Criminais (FAC) do acusado, conforme requerido
quando da manifestação em diligências, em que constavam anotações referentes a processos pela prática de tráfico
de drogas. Na data do julgamento, mas antes de iniciar a Sessão Plenário do Júri, a defesa de Wilson vem a tomar
conhecimento da juntada da FAC. No dia do julgamento, durante o debate em plenário, o Ministério Público faz
expressa referência à folha de antecedentes criminais do réu, destacando o seu envolvimento em crimes anteriores.
Ao final, ao serem indagados, os jurados consideraram o réu responsável pelo delito de homicídio, sendo, pois,
condenado. O Magistrado, ao fixar a pena, tornou a reprimenda definitiva em 06 (seis) anos de reclusão, em regime
semiaberto. A defesa de Wilson é intimada no dia 16 de novembro de 2022, quarta-feira. Em face dessa situação
hipotética, analise o caso narrado e, com base apenas nas informações dadas, responda, fundamentadamente, aos
itens a seguir.
A) Qual o recurso que a defesa de Wilson deverá interpor e qual o último dia do prazo para apresentá-lo?
(Valor: 0,60)
B) Qual argumento de direito processual pode ser apresentado em busca da desconstituição do julgamento
perante o plenário do júri? Justifique (Valor: 0,65)
Obs.: O(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A simples menção ao dispositivo legal não será
pontuada.
Gabarito comentado
A) O examinando deveria indicar que o recurso a ser interposto é o recurso de Apelação, com base no artigo 593,
inciso III, alínea “a”, do Código de Processo Penal. Considerando que a defesa foi intimada no dia 16 de novembro
de 2022, quarta-feira, o prazo último dia do prazo seria 21 de novembro de 2022, segunda-feira.
B) O examinando deveria expor que o argumento de direito processual seria a incidência da nulidade posterior à
pronúncia, conforme artigo 593, inciso III, alínea “a”, do Código de Processo Penal. Isso porque, nos termos do
artigo 479 do Código de Processo Penal, durante o julgamento no plenário do júri não será permitida a leitura de
documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três)
dias úteis, dando-se ciência à outra parte. No caso, segundo o enunciado, a folha de antecedentes criminais do réu,
mencionada expressamente pelo Ministério Público durante os debates, foi juntada ao processo dois dias antes ao
julgamento, vindo a defesa a tomar ciência na data do julgamento, havendo violação ao princípio do contraditório e
a ampla defesa, previsto no artigo 5º, inciso LV, CF/88, já que não foi conferido tempo hábil para a defesa ter acesso
Distribuição de pontos
PONTUAÇÃO
ITEM PONTUAÇÃO
DO ALUNO
A) O recurso cabível seria o de apelação (0,30), com base no artigo 593,
0/0,10/0,20/0,30
inciso III, alínea “a”, do Código de Processo Penal (0,10). Prazo: 21/11/2022
0,40/0,50/0,60
(0,20)
B) Desenvolvimento fundamentado acerca da incidência da nulidade
posterior à pronúncia (0,35), uma vez que não é permitida a leitura de 0/0,10/0,20/0,30/
documento que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência 0,35/0,45/0,55/
mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte (0,20), nos 0,65
termos do artigo 479 do Código de Processo Penal (0,10).
Enunciado
Wilson, professor do curso de segurança no trânsito, motorista extremamente qualificado, guiava seu automóvel
tendo Madalena, sua namorada, no banco do carona. Durante o trajeto, o casal começa a discutir asperamente, o
que faz com que Wilson empreendesse altíssima velocidade no automóvel. Muito assustada, Madalena pede
insistentemente para Wilson reduzir a marcha do veículo, pois àquela velocidade não seria possível controlar o
automóvel. Wilson, entretanto, respondeu aos pedidos dizendo ser perito em direção e refutando qualquer
possibilidade de perder o controle do carro. Todavia, o automóvel atinge um buraco e, em razão da velocidade
empreendida, acaba se desgovernando, vindo a atropelar três pessoas, vitimando-as fatalmente. Realizada perícia
no local, constatou-se o excesso de velocidade e ouvidos Wilson e Madalena, que relataram à autoridade policial o
diálogo travado entre o casal. Wilson foi denunciado pelo Ministério Público pela prática do crime de homicídio
doloso na modalidade de dolo eventual, três vezes em concurso formal. Após regular instrução, o Ministério
Público, na sua manifestação derradeira, pugnou pela pronúncia, nos exatos termos da denúncia, sendo a defesa
intimada no dia 21 de outubro de 2022, sexta-feira, para se manifestar. Com base somente nas informações acima,
responda, na condição de advogado(a) de Wilson, os seguintes itens:
A) Qual a peça defensiva cabível e o respectivo prazo para a apresentação? (Valor: 0,60)
B) Qual argumento de direito material pode ser adotado pela defesa para questionar a capitulação atribuída pelo
Ministério Público na denúncia? (Valor: 0,65)
Obs.: O examinando deve fundamentar suas respostas. A simples menção ao dispositivo legal não confere
pontuação.
Gabarito comentado
A) A peça cabível seria memoriais, com base no artigo 403, § 3º, do Código de Processo Penal. O prazo para
apresentação é de 5 dias, conforme o artigo 403, § 3º, do CPP. Considerando que a defesa foi intimada no dia 21
de outubro de 2022, sexta-feira, o prazo último dia do prazo seria 28 de outubro de 2022, sexta-feira.
Distribuição de pontos
PONTUAÇÃO
ITEM PONTUAÇÃO
DO ALUNO
A) A peça cabível seria memoriais (0,30), com base no art. 403, § 3º, do CPP 0/0,10/0,20/
(0,20). O prazo para apresentação é de 5 dias (0,10). 0,30/0,40/0,50/
0,60
B) Desenvolvimento fundamentado acerca da desclassificação do crime de
0/0,10/0,20/
homicídio doloso (0,25), nos termos do artigo 419 do CPP (0,10), para, em
0,25/0,30/0,35/
tese, homicídio culposo na condução de veículo automotor (0,10), previsto
0,40/0,45/0,55/
no art. 302 do CTB (0,10), já que se trata de hipótese de culpa consciente
0,65
(0,10).