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ESTADO DO CEARÁ

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADORA MARIA DE FÁTIMA DE MELO LOUREIRO

Processo: 0263862-81.2021.8.06.0001 - Apelação Cível


Apelante: Picpay Instituição de Pagamento S/A. Apelado: Rodrigo Melo
Marinho

EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO CONSUMIDOR. SENTENÇA DE


PARCIAL PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DA PARTE RÉ. FRAUDE
REALIZADA POR TERCEIROS. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA QUE RESPONDE
OBJETIVAMENTE POR FORTUITO INTERNO. APLICAÇÃO DA SÚMULA 497
DO STJ. TERCEIRO QUE CONSEGUIU A TRANSFERÊNCIA DE VALORES DA
CONTA DO CONSUMIDOR SEM QUE A INSTITUIÇÃO ADOTASSE MEDIDAS
DE SEGURANÇA CONCRETAS. RESPONSABILIDADE CONFIGURADA. DANO
MORAL IN RE IPSA. ACESSO DO AGENTE AO CELULAR ATRAVÉS DE
INFORMAÇÕES DO PRÓPRIO CONSUMIDOR. CULPA CONCORRENTE
CONFIGURADA. REDUÇÃO DA RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA PELA METADE DA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA.
RECURSO CONHECIDO PARA DAR PARCIAL PROVIMENTO. SENTENÇA
REFORMADA EM PARTE.
1. Cuida-se de RECURSO DE APELAÇÃO buscando reformar a sentença exarada pelo
Juízo da 19ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza/CE, que julgou parcialmente procedentes
os pedidos autorais nos autos da ação de indenização por danos materiais e morais com
pedido de antecipação de tutela, ajuizada em desfavor do ente financeiro apelante.
2. A relação jurídica firmada entre as partes é de consumo, porquanto o demandante/apelado é
consumidor final dos serviços financeiros prestados pela demandada/apelante, aplicando-se o
Enunciado nº 297 do STJ: "O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições
financeiras."
3. No mérito, o cerne da controvérsia reside na análise da responsabilidade da instituição
financeira e do consumidor pela fraude eletrônica realizada por terceiros e os possíveis
efeitos patrimoniais decorrentes.
4. Da Responsabilidade da instituição financeira por fato praticado por terceiros. Aplica-
se ao caso em tela o enunciado nº 479 do STJ: ''As instituições financeiras respondem
objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados
por terceiros no âmbito de operações bancárias''.
5. É cediço que a senha para acesso a aplicativos de instituições financeiras é pessoal e
intransferível, contudo, isso não exime as instituições financeiras de adotarem os cuidados
necessários e específicos para se salvaguardarem de ações delituosas que coloquem em risco a
segurança do consumidor, por exemplo, utilização de biometria, reconhecimento facial, senha
token, código numérico específico para transferências, exigência de documentação pessoal,
dentre outras medidas que são comumente exigidas por instituições bancárias para
transferência de valores.
6. A recorrente alega a existência de mecanismo de biometria, no entanto, não demonstrou ter
adotado esse mecanismo no caso concreto. Assim, é de concluir que, ou a instituição não
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possui medidas de segurança para se certificar da autenticidade da transação, ou existe


mecanismo de segurança (biometria), mas, por alguma falha no seu sistema de segurança, não
foi acionado de modo a impedir a fraude eletrônica realizada, ensejando a responsabilidade
pelo fato de terceiro, o qual equipara-se a fortuito interno.
7. Todavia, considerando que o acesso ao celular se deu a partir da conduta da própria vítima,
impõe-se o reconhecimento da culpa concorrente, com fundamento no art. 945 do Código
Civil, que não elide a responsabilidade da instituição financeira, mas possibilita a redução da
responsabilidade desta, de modo a reduzir, em relação à condenação solidária da apelante,
para a metade do que seria cabível.
8. Dano moral. In casu, o dano moral opera-se in re ipsa, ou seja, presumido, decorrente da
própria existência do ato, não exigindo prova do seu prejuízo.
9. Recurso conhecido para dar parcial provimento ao apelo da promovida. Sentença reformada
em parte.

ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes autos, acorda a 2ª Câmara Direito Privado
do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, unanimemente, em conhecer do recurso de
apelação interposto, para DAR PARCIAL PROVIMENTO à insurgência da parte ré, nos
termos do voto da e. Relatora.

RELATÓRIO

Cuida-se de RECURSO DE APELAÇÃO interposto por PICPAY


Instituição de Pagamento S/A, buscando reformar a sentença exarada pelo Juízo da
19ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza/CE, que julgou parcialmente procedentes
os pedidos autorais nos autos da ação de indenização por danos materiais e morais
com pedido de antecipação de tutela, ajuizada em desfavor do ente financeiro
apelante.

Em sede de exordial, narra o requerente que no dia 06/08/2021


compareceu à loja da requerida IPX comércio serviços e acessórios de telefonia
LTDA, em decorrência de um problema técnico em seu aparelho celular e, após
análise, foi encaminhado para uma empresa terceirizada parceira. Alega que a
empresa terceirizada devolveu o aparelho celular no dia 12/08/2021, no entanto, o
promovente afirma ter detectado uma transferência de R$ 38.000,00 (trinta e oito mil
reais) realizada no período que o celular estava na posse da terceirizada, tratando-
se de transação fraudulenta. Por fim, alega que o seu aparelho celular foi
dolosamente danificado com o intuito de apagar as provas.

Assim, veio a Juízo requerer a condenação das requeridas,


solidariamente, em R$ 46.000,000 (quarenta e seis mil reais) a título de danos
materiais, correspondente ao valor do seu aparelho celular e da transação
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fraudulenta, bem como a condenação da requerida IPX comércio em R$ 25.000,00


(vinte e cinco mil reais) a título de danos morais, e da demandada PICPAY no
montante de 50.000,00 (cinquenta mil reais).

Após regular trâmite processual, sobreveio a sentença de fls.


188-200, mediante a qual o MM. Juiz a quo julgou parcialmente procedentes os
pleitos do requerente para condenar as promovidas à quantia de R$ 38.000,00
(trinta e oito mil reais) a título de danos materiais, e em R$ 5.000,00 (cinco mil reais)
por danos morais.

Inconformada com o teor da decisão proferida pelo MM. Juízo a


quo, o ente financeiro promovido interpôs Apelação Cível (fls. 219-237), alegando a
sua ilegitimidade passiva e a ausência de responsabilidade, sustentando o
adequado funcionamento dos mecanismos de segurança do aplicativo, a culpa
exclusiva do recorrido e, subsidiariamente, o reconhecimento da culpa concorrente
do consumidor. Desta feita, requer a reforma da sentença para que sejam julgados
improcedentes os pedidos autorais.

As Contrarrazões foram apresentadas às fls. 243-256.

É o que importa relatar.

VOTO

Conheço do presente recurso, porquanto presentes os


pressupostos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade recursal.

O cerne da controvérsia posta em julgamento reside na


perquirição da responsabilidade da instituição financeira e do consumidor pela
fraude eletrônica realizada por terceiros e os possíveis efeitos patrimoniais
decorrentes.

Pois bem. A relação jurídica estabelecida entre as partes é de


consumo, porquanto o demandante/apelado é consumidor final dos serviços
financeiros prestados pela demandada/apelante, conforme dispõem os artigos 2º e
3º do Código de Defesa do Consumidor (Lei Nº 8.078/90), in verbis:

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou


utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou


privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
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despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,


montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

As atividades realizadas pela recorrente são devidamente


enquadradas como serviço, nos termos do art. 3º, §2º, do CDC:

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de


consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes
das relações de caráter trabalhista.

É consabido a possibilidade de incidência do Código de Defesa do


Consumidor às instituições bancária. Esse é o entendimento sumulado do Superior
Tribunal de Justiça (STJ): Enunciado nº 297: O Código de Defesa do
Consumidor é aplicável às instituições financeiras.

Assim, sendo o recorrido consumidor da recorrente, por utilizar os


seus serviços financeiros, e tendo este sofrido inegável dano material, por conduta
praticada no ambiente virtual da apelante, não há como afastar a sua legitimidade
passiva. A questão que deve ser analisada, no entanto, refere-se à responsabilidade
da apelante sobre os fatos ocasionados ao consumidor, o que enseja exame de
mérito.

Feitas tais considerações, passo à análise das particularidades do


caso concreto.

Em relação a fatos praticados por terceiros em operações


financeiras, há entendimento sumulado do Superior Tribunal de Justiça sobre o
tema, que assim dispõe:

Enunciado nº 479 do STJ: ''As instituições financeiras respondem


objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a
fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações
bancárias''.

Acrescente-se que, nos termos dos preceitos da legislação


consumerista, a responsabilidade da instituição apelante, como prestadora de
serviço, é objetiva, respondendo independentemente de culpa, pelos danos
causados aos consumidores, nos termos do art. 14, verbis:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


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existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos


consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruição e riscos.

Diante disso, o fornecedor de produto ou de serviço só se exime da


responsabilidade se provar que o defeito do serviço inexistiu ou que a culpa é
exclusiva do consumidor ou de terceiro, nos termos do § 3º do diploma lega cima
mencionado (“O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando
provar: I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa
exclusiva do consumidor ou de terceiro”).

Analisando detidamente os autos, é possível constatar a ação de


terceiro que, de posse do telefone celular do recorrido, realizou indevida
transferência bancária da conta que o consumidor possui junto à recorrente.

Conforme interrogatório à fl. 26, referente ao Inquérito Policial nº


126-117/2021, o terceiro confessa ter realizado transferência de R$ 38.000,00 (trinta
e oito mil reais) para a conta de sua companheira, em 06/08/2021, afirmando que: “o
interrogando conseguiu ressuscitar o aparelho do cliente, e percebeu a existência
de um aplicativo chamado PICPAY; Que considera o aplicativo vulnerável; Que
quando a senha de acesso do aplicativo é vinculada à senha do próprio aparelho,
isso facilita a realização de transações; que com o acesso ao menu, é possível
realizar a transferência (…)”.

Nesse ínterim, o agente esclareceu que com o acesso ao menu já


foi possível a realização da transferência, o que evidencia a vulnerabilidade do
sistema de segurança da recorrente, por não ter sido adotado nenhuma medida
para se certificar da autenticidade da transação, principalmente por se tratar de um
valor alto, correspondente a R$ 38.000,00 (trinta e oito mil reais).

In casu, verifica-se que, com a simples senha de acesso ao


aplicativo, o agente conseguiu realizar transações, pois, com o acesso ao menu, foi
possível, de logo, a realização da transferência.

É cediço que a senha para acesso a aplicativos de instituições


financeiras é pessoal e intransferível, contudo, isso não exime as instituições
financeiras de efetivarem os cuidados necessários e específicos para se
salvaguardarem de ações delituosas que coloquem em risco a segurança do
consumidor, por exemplo, utilização de biometria, reconhecimento facial, senha
token, código numérico específico para transferências, exigência de documentação
pessoal, dentre outras medidas que são comumente exigidas por instituições
bancárias para transferência de valores.
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Sobre o tema em discussão, é cediço que as instituições exigem,


além da senha de acesso ao aplicativo, uma senha específica para a transferência
de valores, o que poderia – e deveria – ter sido adotado pela recorrente no caso em
tela.

Na espécie, inobstante a recorrente tenha alegado a existência de


mecanismo de biometria, não demonstrou ter adotado esse mecanismo no caso
concreto. Assim, é de concluir que ou a instituição não possui medidas de
segurança para se certificar da autenticidade da transação, ou existe mecanismo de
segurança (biometria) mas, por alguma falha no seu sistema de segurança, não foi
acionado de modo a impedir a fraude eletrônica realizada.

Ademais, a parte autora ressaltou que a transação diverge das


habitualmente realizadas por ela, de forma que cabia à recorrente observar essa
particularidade de que a transação destoava do perfil do consumidor e ter adotado
uma medida de segurança de modo a suspender a transação, até obter a
confirmação pelo correntista/consumidor.

Consigne-se que quando a instituição financeira disponibiliza o uso


de novas tecnologias a seus clientes, deve se responsabilizar também pelos riscos
inerentes, não se admitindo que o consumidor tenha que arcar com os prejuízos
sofridos em razão da adoção pelo banco dessas tecnologias.

Não se pode desconsiderar que nos dias atuais são corriqueiras as


ocorrências de fraudes eletrônicas, bem assim de destrave do sistema eletrônico por
terceiros mal intencionados, o que impõe às instituições o ônus de tomarem as
medidas necessárias de segurança.

Nesse contexto, é curial salientar a incidência da teoria do risco do


empreendimento, pela qual todo aquele que se dispõe a exercer alguma atividade
no campo do fornecimento de bens e serviços tem o dever de responder pelos fatos
e vícios resultantes do empreendimento, independentemente de culpa, pois a
responsabilidade decorre do simples fato de dispor-se alguém a realizar a atividade
de produzir, distribuir e comercializar produtos ou executar determinados serviços.

Ora, se os fornecedores de serviços se dispõem a aderir a


transações financeiras eletrônicas para melhor organizar suas atividades, devem de
outro lado estar cientes de que lhes incumbirá a prova da efetiva utilização pelo
consumidor.

A propósito, colaciono precedentes dos tribunais pátrios, inclusive


desta E. Câmara de Direito Privado:
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Ação de indenização por danos morais e materiais – autora que


comunicou o furto de seu aparelho celular à autoridade policial –
banco requerido que não comprovou que a transferência bancária
realizada horas após do furto tenha sido efetuada mediante uso de
senha informada pela autora – ausência de prova de que o
aplicativo de celular seja guarnecido com meios de assegurar a
identidade de quem tenta realizar transações bancárias à
distância – segurança que se espera do referido serviço
bancário não evidenciada no caso – responsabilidade civil
caracterizada pela falha na prestação dos serviços – danos
materiais comprovados – danos morais caracterizados na hipótese -
"quantum" adequado – impossibilidade de redução – demanda
procedente – sentença mantida – recurso improvido. (TJSP;
Apelação Cível 1070931-70.2021.8.26.0100; Relator (a): Jovino de
Sylos; Órgão Julgador: 16ª Câmara de Direito Privado; Foro Central
Cível - 39ª Vara Cível; Data do Julgamento: 28/06/2022; Data de
Registro: 28/06/2022) (GN)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


DÉBITO C/C DANOS MORAIS. EMPRÉSTIMO PESSOAL
REALIZADO POR APLICATIVO DE CELULAR. FRAUDE NA
CONTRATAÇÃO. AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO DE VONTADE.
DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. OCORRÊNCIA.
REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. POSSIBILIDADE. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. I. Versam
os autos sobre ação indenizatória movida pela autora apelada em
face do Banco Bradesco S/A, ora apelante, através da qual a autora
busca a declaração de inexistência da dívida, bem como a
indenização por danos morais, sob a alegação de que não efetuou a
contratação do empréstimo pessoal questionado na presente
demanda. II. Destaco, inicialmente, que ao caso aplica-se o Código
de Defesa do Consumidor, conforme Súmula 297 do STJ, por se
tratar de suposta relação de consumo decorrente de celebração de
contrato bancário, em cuja hipótese a responsabilidade civil da
instituição financeira é objetiva, não sendo necessária a verificação
de culpa para sua caracterização, conforme estabelecido pelo art. 14
do CDC. III. Cabe ressaltar, inicialmente, que, em casos como o
presente, em que a autora alega desconhecer o débito, incumbe à
parte ré a comprovação da regularidade da sua atuação ou a culpa
exclusiva do consumidor, não sendo dado impor à demandante, que
nega a existência da contratação e da dívida, a impossível produção
da prova negativa. IV. Desta forma, a responsabilidade civil da
instituição bancária está fundamentada nas normas de relação de
consumo e, diante das atividades desenvolvidas, submete-se à
Teoria do Risco do empreendimento, segundo a qual toda pessoa
que exerce atividade cuja natureza cria um risco de dano a terceiros
deve ser obrigada a repará-lo, ainda que sua conduta seja isenta de
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culpa. V. Assim, conclui-se que a responsabilidade civil do banco por


eventual fato danoso é objetiva, devendo a instituição responder
independentemente de culpa, salvo se comprovar a ausência de
defeito na prestação dos serviços ou a culpa exclusiva da vítima e/ou
terceiro. VI. Compulsando os autos, percebo que o apelante
reconhece que o empréstimo foi contratado por aplicativo de
celular. Nestes casos, ao disponibilizar aos consumidores a
possibilidade de solicitar a contratação de serviços via internet,
o banco assume os riscos dessa facilitação, devendo tomar
todas as medidas cabíveis e necessárias para evitar possíveis
prejuízos ou equívocos, como os então observados. VII.
Considerando, pois, que a parte ré não tomou todas as precauções
necessárias para evitar a ação de estelionatários, concedendo
empréstimo a terceiro falsário, impunha-se, realmente, a declaração
de inexistência do negócio jurídico firmado entre as partes, até
porque ausente qualquer manifestação de vontade por parte da
apelada, a fim de que se firmasse o contrato validamente,
merecendo, portanto, ser mantida, nesse ponto, a sentença judicial
combatida. VIII. Diante da análise dos autos, restou caracterizada a
falha na prestação do serviço bancário a cardo do demandado, que
não demonstrou, na condição de fornecedor do serviço
supostamente prestado, a regular contratação do empréstimo
pessoal impugnado na lide, restando comprovada a fraudulência do
pacto fustigado e a necessidade de declaração judicial de
inexigibilidade do débito. IX. O valor arbitrado a título de dano moral
deve ser fixado de acordo com o princípio da proporcionalidade, a
partir do sopesamento entre o valor compensatório e pedagógico
imanente à responsabilidade civil, constitutivo do prejuízo
extracontratual e o limite que evite o enriquecimento ilícito da parte
ofendida. Nessa esteira de entendimento, tenho como adequado a
manutenção do valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) fixado pelo
Juízo primevo, tendo em vista sua harmonização com o caso em
tela. Nessa trilha, segue a 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal
de Justiça do Estado do Ceará X. Recurso conhecido e desprovido.
Sentença mantida. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes
autos, acorda a 2ª Câmara Direito Privado do Tribunal de Justiça do
Estado do Ceará, por unanimidade, em conhecer do presente
recurso, para negar-lhe provimento, nos termos do voto do Relator.
Fortaleza, 14 de setembro de 2022 CARLOS ALBERTO MENDES
FORTE Presidente do Órgão Julgador JUIZ CONVOCADO
IRANDES BASTOS SALES PORT. Nº 1748/2022 Relator (TJ/CE,
Apelação Cível - 0255465-33.2021.8.06.0001, Rel.
Desembargador(a) IRANDES BASTOS SALES PORT. Nº
1748/2022, 2ª Câmara Direito Privado, data do julgamento:
14/09/2022, data da publicação: 15/09/2022) (GN)

Em relação ao dano moral, tem-se que nos casos de debitação


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direta na conta do consumidor, reduzindo seus proventos, caracteriza dano moral in


re ipsa, ou seja, presumido, decorrente da própria existência do ato, não exigindo
prova do seu prejuízo.

Por óbvio, em situações como a dos autos, a subtração de qualquer


quantia atinge as finanças da parte lesada, impedindo o cumprimento de
compromissos essenciais para a sua subsistência.

Corroborando com o entendimento adotado, colhem-se os julgados a


seguir:

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – Transferências via pix e
pagamento de boleto, não reconhecidas e não autorizadas pelo autor
– Sentença de procedência – Recurso do banco réu –– Incidência do
CDC na espécie – Inexistência de demonstração da culpa exclusiva
do correntista ou de terceiros – Segurança deve ser adequada na
prestação dos serviços – Risco da atividade – Responsabilidade
objetiva da instituição financeira – Art. 14 do CDC e Súmula nº
479 do STJ – Falha na prestação de serviços caracterizada – Dano
moral in re ipsa – Valor da indenização arbitrado com razoabilidade
– RATIFICAÇÃO DO JULGADO – Artigo 252, do Regimento Interno
do TJSP – Aplicabilidade – Sentença mantida – Honorários recursais
devidos – RECURSO NÃO PROVIDO. (TJSP; Apelação Cível
1003388-49.2021.8.26.0068; Relator (a): Spencer Almeida Ferreira;
Órgão Julgador: 38ª Câmara de Direito Privado; Foro de Barueri - 4ª
Vara Cível; Data do Julgamento: 14/03/2022; Data de Registro:
14/03/2022) (GN)

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS - VIOLAÇÃO DE CONTA CORRENTE -
INTERNET BANKING - TRANSFERÊNCIA BANCÁRIA SEM
AUTORIZAÇÃO DO TITULAR DA CONTA - FALHA NA
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO - INSTITUIÇÃO BANCÁRIA -
RESPONSABILIDADE OBJETIVA - DEVER DE INDENIZAR -
DANOS MORAIS E MATERIAIS. A apreensão e insegurança
suportados pelo cliente bancário em razão de operações
financeiras fraudulentas realizadas por terceiros, via sistemas
eletrônicos disponibilizados, configuram danos morais
indenizáveis se não há demonstração de adoção das devidas
precauções, porque há quebra do dever legal de vigilância. Deve-
se atentar na fixação da indenização pelos danos morais, às
circunstâncias dos fatos do caso concreto, evitando o
enriquecimento indevido, mas proporcionando à vítima uma
satisfação e ao ofensor um desestímulo à prática de condutas
abusivas. (TJ/MG, Relator(a): Des.(a) Marco Aurélio Ferrara
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Marcolino, Data de Julgamento: 27/05/2021) (GN)

INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. Transferência


bancária via PIX contestada pela autora. Valor debitado
indevidamente de sua conta corrente. Falha na prestação de serviço.
Réu não comprovou que a transação bancária se deu de forma
regular. Ausente culpa exclusiva da vítima. Responsabilidade do
banco não elidida na forma do artigo 14, § 3º, I e II do CDC.
Responsabilidade objetiva do requerido por fortuito interno
decorrente de fraude. Súmula 479, do STJ. Dano moral in re
ipsa. Caracterizado. Agravada pelo desvio produtivo da
consumidora. Valor arbitrado de acordo com os critérios de
proporcionalidade e razoabilidade. RECURSO PROVIDO. (TJSP;
Apelação Cível 1001766-15.2021.8.26.0009; Relator (a): Anna
Paula Dias da Costa; Órgão Julgador: 38ª Câmara de Direito
Privado; Foro Regional IX - Vila Prudente - 1ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 16/11/2021; Data de Registro: 16/11/2021) (GN)

APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. DESCONTOS INDEVIDOS NOS PROVENTOS DE
APOSENTADORIA DA AUTORA. APLICABILIDADE DO CÓDIGO
CONSUMERISTA. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. NÃO
COMPROVAÇÃO DA LEGALIDADE DA CONTRATAÇÃO. DEVER
DE INDENIZAR. DANOS MORAIS. QUANTUM INDENIZATÓRIO
PROPORCIONAL E RAZOÁVEL AS PARTICULARIDADES DO
CASO. DANOS MATERIAIS. REPETIÇÃO DO INDÉBITO EM
DOBRO. RECURSOS CONHECIDOS E IMPROVIDOS. 1- Tratam-
se de recursos de apelação recíprocos interpostos contra a sentença
de fls. 108/113, prolatada pelo Juízo da Vara Única da Comarca de
Hidrolândia/CE, em sede de Ação anulatória c/c repetição de
indébito e indenização por danos morais e materiais, proposta por
Maria Ferreira de Lima, em desfavor do Banco Bradesco S.A. 2- A
ausência de cuidados da instituição financeira proporciona a
ocorrência de usuais fraudes cometidas por terceiro na
contratação do serviço, especialmente contratos de tarifa bancária
com desconto em folha de aposentados da previdência social.
Comete ato ilícito a instituição financeira que permite descontos nos
vencimentos da parte autora, na medida em que deixa de agir com o
cuidado necessário para o regular desenvolvimento de sua atividade,
o que caracteriza verdadeiro defeito na prestação do serviço,
resultando, por via de consequência, na obrigação de reparar o
dano. 3- A promovida não foi capaz de produzir prova impeditiva,
modificativa ou mesmo extintiva do direito alegado na inicial.
Portanto, a não comprovação pela instituição financeira da
realização de negócio jurídico para substanciar os descontos no
benefício do promovente, implica na nulidade do pacto impugnado.
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4- Em relação à devolução em dobro dos valores indevidamente


cobrados, verifica-se que o juiz de primeiro grau agiu corretamente,
diante da modulação de efeitos realizada pela Corte Superior,
quando do julgamento do recurso nº 1.413.542 (EREsp). 5- O pedido
de compensação arguido pela instituição financeira em nada merece
atenção, pois não se encontra nos autos comprovante de depósitos
de quaisquer valores na conta da requerente. Portanto, ausente
valores a serem compensados. 6- No que alcança o quantum fixado
a título de danos morais, o montante de R$ 1.000,00 (um mil reais),
se mostra proporcional ao conteúdo econômico da causa e não é
ínfimo nem excessivo, ao tempo que cumpre sua função reparatória
e não caracteriza enriquecimento sem causa à promovente. 6-
Recursos conhecidos e improvidos. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e
discutidos estes autos nº 0200050-70.2022.8.06.0100, acorda a 4ª
Câmara Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará,
pela unanimidade de seus membros, em conhecer dos recursos
apelação para negar-lhes provimento, nos termos do voto do relator.
Fortaleza, 20 de junho de 2023. MARIA DO LIVRAMENTO ALVES
MAGALHAES Presidente do Órgão Julgador DESEMBARGADOR
JOSÉ EVANDRO NOGUEIRA LIMA FILHO Relator (Apelação Cível -
0200050-70.2022.8.06.0085, Rel. Desembargador(a) JOSE
EVANDRO NOGUEIRA LIMA FILHO, 4ª Câmara Direito Privado,
data do julgamento: 20/06/2023, data da publicação: 21/06/2023)
(GN)

No entanto, não se ignora que a parte recorrida (consumidor)


também inobservou o dever de cautela no caso concreto, posto que a senha que
possibilitou o acesso ao aplicativo não foi obtida através de meios fraudulentos ou
com violação às normas de segurança da recorrente, mas através do próprio
demandante, ainda que tenha sido de modo indireto, posto que a senha do celular
correspondia à mesma senha de acesso do aplicativo.

Assim, concorre-se para o resultado tanto a conduta da recorrente,


que não se certificou da autenticidade da transação, como a conduta do próprio
recorrido, de forma que não é possível imputar somente à instituição financeira a
ocorrência dos fatos.

A possibilidade de culpa concorrente, entretanto, não tem o condão


de ilidir a responsabilidade das instituições financeiras, o que somente seria possível
em caso de culpa exclusiva, nos termos do art. 14, §3º, inciso III, do CDC, mas é o
suficiente para reduzir o grau de responsabilidade do fornecedor, de forma a influir
na redução do montante indenizatório.

Nesse sentido, aplica-se o art. 945 do Código Civil, em diálogo das


fontes:
ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADORA MARIA DE FÁTIMA DE MELO LOUREIRO

Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento


danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a
gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.

Corroborando com o entendimento vergastado, colhem-se os


seguintes arestos jurisprudenciais, inclusive do Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXIBILIDADE DE DÉBITO. CONSUMIDOR.
GOLPE DO MOTOBOY. RESPONSABILIDADE CIVIL. USO DE
CARTÃO E SENHA. DEVER DE SEGURANÇA. FALHA NA
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. 1. Ação declaratória de inexigibilidade
de débito. 2. Recurso especial interposto em 16/08/2021. Concluso
ao gabinete em 25/04/2022. 3. O propósito recursal consiste em
perquirir se existe falha na prestação do serviço bancário quando o
correntista é vítima do golpe do motoboy. 4. Ainda que produtos e
serviços possam oferecer riscos, estes não podem ser excessivos ou
potencializados por falhas na atividade econômica desenvolvida pelo
fornecedor. 5. Se as transações contestadas forem feitas com o
cartão original e mediante uso de senha pessoal do correntista,
passa a ser do consumidor a incumbência de comprovar que a
instituição financeira agiu com negligência, Edição nº 0 - Brasília,
Publicação: quinta-feira, 27 de abril de 2023 Documento eletrônico
VDA36380850 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º
inciso III da Lei 11.419/2006 Signatário(a): MINISTRO Marco Aurélio
Bellizze Assinado em: 26/04/2023 17:38:34 Publicação no DJe/STJ
nº 3622 de 27/04/2023. Código de Controle do Documento:
96588014-942a-4719-b2fe-ea97ada9adc0 imprudência ou imperícia
ao efetivar a entrega de numerário a terceiros. Precedentes. 6. A
jurisprudência deste STJ consigna que o fato de as compras terem
sido realizadas no lapso existente entre o furto e a comunicação ao
banco não afasta a responsabilidade da instituição financeira.
Precedentes. 7. Cabe às administradoras, em parceria com o
restante da cadeia de fornecedores do serviço (proprietárias das
bandeiras, adquirentes e estabelecimentos comerciais), a verificação
da idoneidade das compras realizadas com cartões magnéticos,
utilizando-se de meios que dificultem ou impossibilitem fraudes e
transações realizadas por estranhos em nome de seus clientes,
independentemente de qualquer ato do consumidor, tenha ou não
ocorrido roubo ou furto. Precedentes. 8. A vulnerabilidade do sistema
bancário, que admite operações totalmente atípicas em relação ao
padrão de consumo dos consumidores, viola o dever de segurança
que cabe às instituições financeiras e, por conseguinte, incorre em
falha da prestação de serviço. 9. Para a ocorrência do evento
danoso, isto é, o êxito do estelionato, necessária concorrência
de causas: (i) por parte do consumidor, ao fornecer o cartão
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GABINETE DESEMBARGADORA MARIA DE FÁTIMA DE MELO LOUREIRO

magnético e a senha pessoal ao estelionatário, bem como (ii)


por parte do banco, ao violar o seu dever de segurança por não
criar mecanismos que obstem transações bancárias com
aparência de ilegalidade por destoarem do perfil de compra do
consumidor. 10. Na hipótese, contudo, verifica-se que o consumidor
é pessoa idosa, razão pela qual a imputação de responsabilidade há
de ser feita sob as luzes do Estatuto do Idoso e da Convenção
Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos dos Idosos,
sempre considerando a sua peculiar situação de consumidor
hipervulnerável. 11. Recurso especial provido. (STJ, REsp n.
1.995.458/SP, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma,
julgado em 9/8/2022, DJe de 18/8/2022.) (GN)

APELAÇÃO CÍVEL - RESPONSABILIDADE CIVIL CONSUMERISTA


- CONSUMIDOR VÍTIMA DE FRAUDE - BOLETO FALSO -
PAGAMENTO REALIZADO - RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA - FORTUITO INTERNO - CULPA
CONCORRENTE DA VÍTIMA - CONDUTA NEGLIGENTE - DANOS
MATERIAIS - ART. 945, DO CC - RATEIO DO PREJUÍZO. No
âmbito do direito consumerista impera a responsabilidade objetiva,
razão pela qual a responsabilidade de indenizar o dano sofrido pelo
consumidor poderá ser imputada ao fornecedor, mesmo que não
tenha agido culposamente e tampouco tenha se excedido no
exercício de seus direitos, bastando, para tanto, que a atividade por
ele desenvolvida tenha exposto o consumidor ao risco do dano que
veio a se concretizar. Considera-se fortuito interno a fraude
praticada por terceiro no âmbito de operações bancárias
(Súmula 479, STJ), devendo a instituição financeira responder
pelo prejuízo material sofrido pelo consumidor. Não obstante,
contribuindo a vítima para o êxito da fraude ao não conferir o
beneficiário do boleto, deve ser reconhecida sua culpa concorrente
decorrente da prática de ato negligente, leviano ou temerário. A
culpa da vítima só tem o condão de excluir o dever de indenizar
quando rompe totalmente o nexo causal entre a conduta
daquele que praticou o ato ilícito e o resultado danoso, razão
pela qual a culpa concorrente é circunstância a ser sopesada
somente no arbitramento do quantum indenizatório, como
enuncia o art. 945, do Código Civil. (TJ/MG, Relator(a): Des.(a)
Adriano de Mesquita Carneiro, Data de Julgamento: 01/12/2022)
(GN)

Assim, reconheço a existência de culpa concorrente entre a


instituição financeira e o consumidor, de modo a reduzir, em relação à condenação
solidária da apelante, pela metade, devendo esta responder por 50% do valor
cabível.
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PODER JUDICIÁRIO
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GABINETE DESEMBARGADORA MARIA DE FÁTIMA DE MELO LOUREIRO

Ante o exposto, conheço do Recurso de Apelação interposto, para


DAR PARCIAL PROVIMENTO, reformando a sentença hostilizada tão somente
para reconhecer a culpa concorrente do consumidor e, reduzir, pela metade, a
condenação solidária da parte apelante.

É como voto.

Fortaleza, data da assinatura eletrônica.

INACIO DE ALENCAR CORTEZ NETO


Presidente do Órgão Julgador

DESEMBARGADORA MARIA DE FÁTIMA DE MELO LOUREIRO


Relatora

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