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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão Terceira Turma Recursal DOS JUIZADOS ESPECIAIS DO DISTRITO


FEDERAL

Processo N. RECURSO INOMINADO CÍVEL 0700313-03.2023.8.07.0014

RECORRENTE(S) BANCO DO BRASIL S/A

RECORRIDO(S) DELCYARA LIMA ROCHA DA CRUZ


Relator Juiz DANIEL FELIPE MACHADO

Acórdão Nº 1769760

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. CONSUMIDOR E BANCÁRIO. TRANSAÇÕES POR MEIO DE


APLICATIVO DO BANCO – FRAUDE– AUSÊNCIA DE CULPA EXCLUSIVA DO
CONSUMIDOR. INEFICÁCIA DOS SISTEMAS DE SEGURANÇA – EMPRÉSTIMO
CONCEDIDO SEM AS CAUTELAS NECESSÁRIAS. RISCO DA ATIVIDADE ECONÔMICA
– FORTUITO INTERNO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. RECURSO CONHECIDO. PRELIMINAR REJEITADA. NO MÉRITO,
IMPROVIDO.

1. É manifesta alegitimidadeda instituição financeira depositária que gerencia a conta corrente do


consumidor que foi vítima defraude. A apuração da efetiva responsabilidade pela reparação dos danos,
eventual culpa do consumidor ou de terceiros serão analisadas como matéria de mérito.
PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA REJEITADA.

2. As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno
relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias (Súmula nº 479,
STJ).

3. A pretensão da parte autora é de obter a declaração de inexistência de relação jurídica subjacente ao


contrato de empréstimo bancário, bem como a reparação material e indenização por danos morais,
decorrentes de fraude perpetrada por terceiros.

4. Em sua contestação o banco alega ausência de responsabilidade de sua parte pela fraude perpetrada,
uma vez que o golpe só se tornou possível após a instalação do aplicativo “AnyDesk” pela autora, por
orientação dos falsários. Por essa linha de raciocínio o comportamento da autora (imprudente ou
negligente) teria sido a causa exclusiva dos danos sofridos. Logo não haveria dever de reparação
material, tampouco moral.

5. Procedi o reexame do conjunto probatório e, de fato, a parte autora foi vítima de golpe praticado por
organização criminosa de estelionatários que atua com engenharia social. O golpe, na modalidade de
phishing, permitiu a instalação de um aplicativo no celular da vítima, que o controlou à distância a
partir de então. Assim, a vítima que supostamente estaria ajudando o sistema de segurança do Banco,
instalando o programa “AnyDesk”, em verdade permitiu acesso ao estelionatário para utilizar o
aplicativo do Banco instalado em seu celular.

6. Apesar de reconhecer que a conduta anterior da parte autora contribuiu para a existência da fraude,
porque não houve interferência da instituição financeira, meu convencimento é de que o golpe somente
foi executado com eficácia pelos baixos de níveis de controle das operações de crédito realizadas pelo
meio do aplicativo do Banco.

7. O exame do extrato bancário juntado aos autos no ID Num. 49922210 - Pág. 1 indica que as
operações de transferência por meio do PIX realizadas pelos fraudadores, nos valores de R$ 2.985,00,
R$ 6.000,00 e R$ 1.000,00 e a transferência eletrônica de R$ 4.800.00, somente foram concluídas
porque o estelionatário realizou prontamente uma operação de empréstimo na modalidade eletrônica no
valor total de R$ 12.547,62 (R$ 10.831,00 + R$ 1.716,62) para elevar o valor das transferências.

8. A instituição financeira ao facilitar o acesso ao crédito permitindo a contratação automatizada de


empréstimo por meio de aplicativo de celular detém inteira ciência dos riscos que envolvem o negócio
realizado à distância. E esses riscos estão relacionados não só com a identificação da pessoa que
executa a contratação naquele momento, mas também à exposição dos consumidores às ações
criminosas de terceiros que buscam ganhos fraudulentos por meio da violação dessas tecnologias.

9. É o caso dos autos, porque a instituição financeira não se cercou dos cuidados necessários por
ocasião da operação de crédito no valor total de R$ 12.547,62, o que permitiu que o estelionatário
utilizasse do aplicativo do banco para perpetrar o golpe. Sem a conclusão do negócio do empréstimo no
momento antecedente, não haveria as transferências de valores acima referidos.

10. Por essas razões, impõe-se reconhecer que as falhas de segurança na concessão automatizada do
empréstimo foram determinantes para a ocorrência da fraude.

11. RECURSO CONHECIDO. PRELIMINAR REJEITADA. NO MÉRITO, IMPROVIDO.

12. Decisão proferida na forma do art. 46, da Lei nº 9.099/95, servindo a ementa como acórdão.

13. Diante da sucumbência, nos termos do artigo 55 da Lei dos Juizados Especiais (Lei nº 9.099/95),
condeno o recorrente ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em
15% (quinze por cento) do valor da condenação.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Juízes da Terceira Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, DANIEL FELIPE MACHADO - Relator,
MARCO ANTONIO DO AMARAL - 1º Vogal e MARGARETH CRISTINA BECKER - 2º Vogal,
sob a Presidência do Senhor Juiz DANIEL FELIPE MACHADO, em proferir a seguinte decisão:
CONHECIDO. PRELIMINAR REJEITADA. DESPROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do
julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 17 de Outubro de 2023


Juiz DANIEL FELIPE MACHADO
Presidente e Relator

RELATÓRIO

Dispensado o relatório, nos termos do art. 46 da Lei 9.099/95.

VOTOS

O Senhor Juiz DANIEL FELIPE MACHADO - Relator


O Senhor Juiz MARCO ANTONIO DO AMARAL - 1º Vogal
Com o relator
A Senhora Juíza MARGARETH CRISTINA BECKER - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO

CONHECIDO. PRELIMINAR REJEITADA. DESPROVIDO. UNÂNIME.

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