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4.

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO CUMULADA COM


INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS (saques e débitos indevidos
em conta-corrente)

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ___ Vara Cível do Foro de Mogi das
Cruzes, São Paulo.

L. C. de O., brasileiro, casado, porteiro, sem endereço eletrônico, portador


do RG 00.000.000-SSP/SP e do CPF 000.000.000-00, residente e domiciliado na Rua Hugo
Torres, nº 00, Jardim Nove de Julho, cidade de Mogi das Cruzes-SP, CEP 00000-000, por seu
Advogado que esta subscreve (mandato incluso), com escritório na Rua Adelino Torquato, nº 00,
sala 00, Centro, cidade de Mogi das Cruzes-SP, onde recebe intimações
(e-mail: gediel@gsa.com.br), vem à presença de Vossa Excelência propor ação declaratória de
inexistência de débito cumulada com indenização por danos morais, observando-se o
procedimento comum, com pedido liminar, em face de Banco G. S.A., inscrito no CNPJ
nº 00.000.000/0000-00, com endereço eletrônico desconhecido, com filial na Avenida Voluntário
Fernando Pinheiro Franco, nº 00, Centro, cidade de Mogi das Cruzes-SP, CEP 00000-000, pelos
motivos de fato e de direito que a seguir expõe:

Dos Fatos:
O autor é titular de conta-corrente junto ao banco réu, onde recebe o seu
salário (agência 0000-0, conta 00-00000-0).

Como porteiro, o autor recebe o valor líquido total de R$ 1.685,51 (um mil,
seiscentos e oitenta e cinco reais e cinquenta e um centavos). Regra geral, a única movimentação
que faz na referida conta é justamente o saque do seu salário.

No último dia 00 de outubro de 0000, o autor, como faz todo mês,


compareceu na sua agência para sacar o seu salário, contudo não conseguiu porque o saque do
valor total ultrapassava o seu “limite” de cheque especial. Ele ficou muito surpreso
principalmente porque sequer sabia que tinha “um limite”.

Depois de esperar por quase uma hora e meia, foi atendido por uma moça
que se identificou como “S”, auxiliar de gerência; ela lhe mostrou um extrato da sua conta-
corrente, no qual constavam vários saques e algumas compras feitas na modalidade de “débito”
durante o mês anterior, totalizando o valor total de R$ 4.329,00 (quatro mil, trezentos e vinte e
nove reais), até aquele momento; ela ainda lhe explicou que como cliente antigo ele tinha pré-
aprovado um limite de “cheque especial”, razão pela qual tinha sido possível a referida
movimentação.

O autor explicou que não fora ele quem fizera as referidas movimentações,
também declarou que não havia perdido ou emprestado o seu cartão de débito; não obstante as
suas declarações, a auxiliar de gerência disse que a responsabilidade era dele, visto que o sistema
do banco era à prova de fraudes.

Convencido que tinha sido vítima de um crime, o autor compareceu na


delegacia de polícia e lavrou “boletim de ocorrência” (cópia anexa).

A atitude do banco réu, que se negou a assumir a responsabilidade pelo


ocorrido, não deixa outra alternativa ao autor senão a de buscar a tutela jurisdicional.

Do Direito:
“Da aplicação do Código de Defesa do Consumidor”.

A relação entre as partes é de natureza consumerista, conforme súmula do


Superior Tribunal de Justiça:

Súmula 297 do STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às


instituições financeiras.

“Da responsabilidade objetiva das instituições financeiras por fraudes


perpetradas por terceiros nas relações de natureza bancária.”

O CDC é claro e direto sobre a natureza da responsabilidade da ré quanto aos


fatos narrados nesta inicial, in verbis:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
(grifo nosso)

Quanto a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações


bancárias, o Superior Tribunal de Justiça também já emitiu súmula:

Súmula 479 do STJ: As instituições financeiras respondem


objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a
fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações
bancárias.

Neste particular, há que se observar que as movimentações ocorridas na


conta-corrente do autor foram totalmente atípicas; ou seja, caberia ao banco réu dispor de meios
que lhe permitisse perceber que as movimentações destoavam do “perfil do correntista” e assim
agir para bloquear o “esquema” criado por terceiros para fraudá-los.

Inegável que houve falha grave no sistema de segurança do banco réu.

“Da prática abusiva – liberação de limite de cheque especial não


requerido”.

Há que se lembrar que todos os problemas do autor ocorreram porque o


banco réu, ignorando a letra expressa da lei, lhe disponibilizou limite de “cheque especial” não
solicitado; ou seja, o banco criou um produto sem solicitação, depois ainda “permitiu” que
terceiros não identificados acessassem este produto causando inaceitáveis prejuízos ao
consumidor.

Eis o que diz o CDC:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras


práticas abusivas:
III – enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer
produto, ou fornecer qualquer serviço;
(grifo nosso)

Em outras palavras, foi o próprio banco réu quem criou, sem solicitação do
consumidor, as condições que possibilitaram a terceiros fraudar o seu sistema causando graves
prejuízos ao autor, pessoa simples e de parcos recursos.

“Do dano moral.”

O dano moral é devido em razão dos atos ilícitos praticados na conta-


corrente do autor, seja a retirada indevida de valores sem o seu conhecimento, seja a
disponibilização de limite de cheque especial não requerido, fatos que inegavelmente lhe
trouxeram enormes problemas. Tratando-se de pessoa com parcos recursos, o autor não só se viu
indevidamente responsabilizado pelos prepostos da ré, mas também foi alijado do seu salário que
foi consumido pelo saldo devedor oriundo dos saques indevidos em sua conta-corrente, mais
precisamente no limite do cheque especial, concedido e implementado sem pedido ou
autorização do autor.

Há ainda que se considerar a maneira como a ré tratou a questão, negando


qualquer assistência ao seu correntista e o forçando a buscar os seus direitos por meio do
ajuizamento da presente ação.

Registrar boletim de ocorrência, contratar advogado, lidar com um débito


que é muito superior ao dobro da sua renda, conseguir ajuda de familiares para pagar as contas
do mês (apenas para citar algumas das dificuldades que vem enfrentando o autor), vão muito
além de simples aborrecimentos.

Da Tutela Provisória de Urgência:


Deve ser concedida, em caráter liminar, tutela provisória de urgência que
“suspenda” a cobrança oriunda dos saques e débitos ocorridos na conta-corrente do autor no
período de 00.00.0000 a 00.00.0000 (extrato anexo), assim como a cobrança de juros e outras
despesas oriundas do uso indevido do limite do “cheque especial” que estes saques provocaram,
visto que presentes os requisitos legais, quais sejam: a fumaça do bom direito e o perigo da
demora.
A fumaça do bom direito se manifesta por meio da Súmula 479 do Superior
Tribunal e Justiça, que estabeleceu que as instituições financeiras respondem objetivamente pelos
danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito
de operações bancárias.

O perigo da demora se evidencia na medida em que a cobrança da referida


dívida (saques indevidos mais juros e despesas advindos de cheque especial não requerido nem
autorizado), consumirá toda a renda mensal do autor, colocando em risco não só a sua
sobrevivência, mas principalmente a da sua família (mulher e filhos).

Dos Pedidos:
Ante o exposto, considerando que a pretensão do autor encontra arrimo nos
arts. 4º, 6º, I e VI, 14, 39, III, da Lei 8.078/90, requer:

a) os benefícios da justiça gratuita, vez que se declara pobre no sentido


jurídico do termo, conforme declaração anexa;

b) seja concedida liminar, em tutela provisória de urgência (art. 300 do


CPC), no sentido de determinar a “suspensão imediata” da cobrança total do débito oriundo dos
saques indevidos assim como de transações de débito ocorridas no período de 00.00.0000 a
00.00.0000 na conta-corrente do autor, assim como de juros e despesas advindas do uso indevido
do cheque especial, sob pena de multa diária no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais);

c) a citação do réu, na pessoa de um de seus representantes legais, para que,


querendo, apresente resposta no prazo legal, sob pena de sujeitar-se aos efeitos da revelia;

d) seja declarada a inexigibilidade de todas as transações efetuadas na conta-


corrente do autor no período de 00.00.0000 a 00.00.0000, consistentes em saques e débitos cujo
valor total hoje soma a importância de R$ 4.329,00 (quatro mil, trezentos e vinte e nove reais),
confirmando-se a liminar;

e) seja declarado nulo e sem qualquer valor o contrato acessório de cheque


especial elaborado e implantado sem requerimento e/ou autorização do autor, cancelando-se
todas as cobranças feitas a título de juros, despesas e/ou tarifas;

f) considerando o poderio econômico do banco réu, assim como os valores


envolvidos e os problemas causados ao autor e à sua família, seja o banco réu condenado a pagar
indenização por danos morais ao autor no valor total de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Das Provas, da Audiência de Conciliação e do Valor da Causa:


Ressalvando-se que a responsabilidade do banco réu, na qualidade de
fornecedor de serviços, é objetiva (art. 14 da Lei 8.078/90-CDC), indica que provará o que for
necessário, usando de todos os meios permitidos em direito, em especial pela juntada de
documentos (anexos) e oitiva de testemunhas (rol anexo).

Em atenção ao que determina o art. 319, VII, do CPC, o autor registra que
NÃO TEM interesse na designação de audiência de conciliação neste momento, fato que apenas
atrasaria o trâmite do feito.

Dá-se ao feito o valor de R$ 14.329,00 (quatorze mil, trezentos e vinte e


nove reais).

Termos em que,
P. Deferimento.

Mogi das Cruzes, 00 de novembro de 0000.

Gediel Claudino de Araujo Júnior


OAB/SP 000.000

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