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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ (A) FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA

SUBSEÇÃO DE

NOME, brasileira, estado civil, profisão, portadora do RG nºXXXXX e do CPF nº XXXXX, com e-
mail XXXXXXXX, residente e domiciliada na XXXXXXXXX, por sua Advogada que a presente
subscreve, conforme procuração anexa, inscrita OAB nº xxxxx, com endereço XXXXXXXX, com
endereço de e-mail XXXXXXXXX, vem, perante Vossa Excelência, propor a presente:

AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE E CANCELAMENTO DE RESTRIÇÃO INTERNA COM


INDENIZAÇÃO POR DANO MORAIS C/C PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

Em face de CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, empresa pública, inscrita no CNPJ n. 00.XXXXX/0001-


04, com sede SBS Quadra 4, bloco A, Lote ¾, Presi/Gecol, 21 Andar, Bairro Asa Sul, CEP XXXXX-
900, Brasília/DF e respectiva agência nº xxx, com endereço xxxxxxxx, pelos fatos e
fundamentos a seguir expostos:

DOS FATOS

A autora contraiu uma dívida com a ré, Caixa Econômica Federal, originada do contrato nºxxxxx
no valor de R$xxxxx.

Na segunda quinzena de outubro, a ré entrou em contato com a autora propondo um acordo


para quitação integral de seu débito no valor de R$xxxxxxx e consequente retirada de seu
nome do cadastro dos inadimplentes. Inclusive, no próprio boleto consta a informação de que
“o pagamento desse boleto representa a liquidação à vista de seu contrato de
númeroxxxxxxxx”

Imediatamente a autora procurou a agência bancária, mas diante do volume de pessoas para
serem atendidas e com receio de não conseguir atendimento a tempo, fez o acordo por meio
do site da Caixa Econômica que, conferindo que as informações batiam com o que lhe foi
passado por telefone, gerou um boleto no valor proposto e foi imediatamente pago, conforme
comprovante de pagamento anexo.

Com a consciência limpa de que seu nome não mais constava no rol dos maus pagadores, e
diante da necessidade de realizar um empréstimo consignado, procurou a instituição XXXXXX.
Depois do seu pedido ser encaminhado ao setor financeiro dessa instituição, para sua surpresa,
o empréstimo foi negado.
Ao questionar o motivo da negação, foi-lhe informada que seu nome consta com restrição
interna e que não poderia realizar o empréstimo desejado.

Inconformada a autora procurou a agência da Caixa Econômica. Somente nesse momento é


que lhe foi informado que a negociação feita tiraria seu nome apenas do Serasa, mas ficaria
com uma restrição interna que a impossibilitaria de realizar financiamentos, empréstimos,
cartão de crédito, entre outros serviços.

Frisa-se que em nenhum momento, a Agência da Caixa, ao entrar em contato com a autora
para a quitação de seu débito, a esclareceu quanto às consequências de se pagar o valor
abatido, e, frisa-se que não consta referida informação em nenhum lugar no site da instituição
ou no boleto gerado.

A autora, além de ficar com seu nome restrito para operações com a ré, também teve restrição
com outra instituição, o que demonstra que seus dados não ficaram apenas internamente.

A manutenção de seu nome em cadastro interno por dívida já paga, bem como a atitude da
Caixa Econômica em omitir o fato de que a autora ficaria com restrição interna e que essa
restrição a impossibilitaria de adquirir produtos ou serviços de sua instituição e de outras
instituições financeiras vêm causando transtornos na sua vida pessoal, prejudicando sua
obtenção de crédito e impedindo que ela possa realizar seus sonhos.

2. DAS PRELIMINARES

2.1 – DA CARACTERIZAÇÃO DA RELAÇÃO DE CONSUMO

O código de Defesa do Consumidor, em seu art. 2º, conceitua consumidor como: “toda pessoa
física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”.

O art. 3º, por sua vez, estabelece o conceito de fornecedor, como sendo “toda pessoa física ou
jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados,
que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação,
importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de
serviços”.

Destacando-se também a redação do parágrafo 2º desse mesmo artigo que inclui como serviço
a atividade de natureza bancária.
Vislumbra-se, desse modo, a aplicação das disposições contidas no Código de Defesa do
Consumidor in casu, posto que a relação estabelecida entre a autora e a ré é manifesta relação
de consumo.

2.2 – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

É direito do consumidor a facilitação da defesa de seus direitos em juízo, inclusive com a


inversão do ônus da prova, quando for verossímil a alegação ou quando o consumidor for
hipossuficiente (art. 6º, VIII, CDC).

A verossimilhança é ter aparência de verdade, o que no caso em tela constata-se através dos
documentos acostados aos autos. Já a hipossuficiência é a diminuição da capacidade do
consumidor diante da situação econômica do prestador do serviço, também presente no caso,
uma vez que o réu é Instituição bancária de grande porte.

Requer-se, portanto, caso seja necessário novas provas, que seja determinada a inversão do
ônus da prova em desfavor do réu.

2.3 – DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

A legislação pátria possibilita a concessão de tutela provisória de urgência, nos termos do art.
300 e seguintes do Código de Processo Civil c/c com a legislação consumerista.

Para tanto, é necessário demonstrar dois requisitos: a probabilidade do direito e o perigo de


dano ou risco ao resultado útil do processo.

O primeiro requisito é demonstrado por meio da robustez de provas documentais anexadas ao


processo; o segundo requisito, por sua vez, também está presente, pois a demora para a
concessão da tutela definitiva pode ocasionar sérios prejuízos para a autora, uma vez que seu
nome está com restrição em cadastro interno que foi disponibilizado a outras instituições,
fazendo com que estas se negam a prestar o serviço ou os produtos necessários à autora.

Desse modo, faz-se necessária a concessão da tutela provisória de urgência para a retira de seu
nome no cadastro interno da instituição ré.
3 – DO MÉRITO

3.1 – DA OMISSÃO NA PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÕES. DA ILEGALIDADE DA MANUTENÇÃO DO


NOME COM RESTRIÇÃO INTERNA. VIOLAÇÃO AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.

A restrição interna é abusiva, uma vez que inibe a consumidora a adquirir outros
produtos/serviços, sem justo motivo já que a própria Caixa Econômica considerou os débitos
quitados, conforme se nota na informação fornecida no boleto emitido. Houve nítida violação
ao art. 39, II, do Código de Defesa do Consumidor:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:

II – recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas


disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes

A restrição colocada para a autora implementa discriminação e restringe o acesso aos serviços
bancários mesmo quando já cumpriu o acordo firmado que foi proposto pelo próprio agente
financeiro, configurando prática abusiva e desproporcional.

As informações desabonadoras da consumidora no cadastro interno estão impedindo


aprovação de financiamento, mesmo com o nome limpo nos cadastros de Proteção ao Crédito
(Serasa, SPC).

Além disso, a autora não foi informada sobre a colocação e manutenção de seu nome em
cadastro interno. A autora sequer tinha conhecimento da existência dessa prática pela
Instituição.

Diante de sua falta de conhecimento técnico, uma vez que ninguém é obrigada a conhecer a
rotina administrativa interna de um Banco, a autora acreditou que, uma vez paga a dívida, seu
nome seria retirado de todos os cadastros de inadimplentes. Ela não imaginava que negociar a
dívida com desconto geraria restrição interna.

Nesse ponto a Caixa econômica violou um dos direitos básicos dos consumidores, qual seja, o
direito à informação clara e precisa:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:

III – informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação
correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem
como sobre os riscos que apresentem.
A informação deve ser ampla em sentido e em abrangência, englobando inclusive o dever de
informar as consequências dos atos realizados pelo consumidor dentro da relação de consumo.

A violação do dever de informar enseja dano ao consumidor e cabe ao fornecedor,


independentemente da existência de culpa, repará-lo. Nesse sentido:

Art. 14. O fornecedor de serviço responde, independentemente da existência de culpa, pela


reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Com efeito, a “restrição cadastral interna” não considera a existência de anotação nos órgãos
de restrição ao crédito, mas apenas o fato de ter havido quitação de empréstimos e dívidas
anteriormente negociadas, o que impede o consumidor de realizar novas transações, obtenção
de talonários e outros benefícios.

Nesse diapasão, verifica-se, no caso, que a negativa e/ou restrição na prestação de serviços
bancários pela chamada “restrição interna”, a despeito do adimplemento pelo consumidor,
afigura-se abusiva e desproporcional, em flagrante abuso do direito, causando
constrangimento e aborrecimentos acima do admissível, que devem ser objeto de reparação.

3.2 – DA ILEGALIDADE DO FORNECIMENTO DE INFORMAÇÕES DE CADASTRO INTERNO À


OUTRA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.

Ainda que Vossa Excelência considere que a manutenção de cadastro interno é exercício
regular do direito do fornecedor, o compartilhamento destas informações não o é, mormente,
quando se refere à dívida quitada.

Isso porque, o compartilhamento da restrição (que seria apenas interna) com outras
instituições equivale a uma negativação indevida, na medida em que dá publicidade a terceiros
à anotação irregular de dívida inexistente e tem, por certo, o condão de macular o nome e a
honra da consumidora.

E como relatado houve a divulgação desses dados, pois a autora tentou obter crédito em outra
financeira e lhe foi negado.

3.2 – DA CONFIGURAÇÃO DO DANO MORAL


A restrição cadastral interna, portanto, atingiu a honra subjetiva da autora, sentimento que
cada um tem a respeito de seu decoro ou dignidade, sendo presumido que tal fato causa
mácula ao nome do cidadão e à sua honra, provocando dor íntima, sentimento depreciativo,
sofrimento.

Houve o agravamento da situação quando, pensando estar com o nome limpo, tentou crédito
em outra instituição financeira, mas que lhe foi negado em virtude da restrição interna feita
pela Ré, causando grande constrangimento.

Houve falha na prestação do serviço de modo a ensejar a responsabilidade objetiva do Banco


pelos danos causados, nos termos de art. 14 do CDC;

É cediço na doutrina e na jurisprudência que a indenização por dano moral tem dupla
finalidade, qual seja, finalidade satisfativa e punitiva.

É satisfativa porque visa compensar o lesado das consequências extrapatrimoniais advindas da


conduta ilícita, e é punitiva, uma vez que visa desestimular a prática de atos lesivos ao direito
de outrem.

Assim, o valor fixado deve ser suficiente para atender ambas as finalidades, atendidos os
princípios da proporcionalidade e razoabilidade.

Considerou-se para tanto a gravidade da conduta ofensiva, a desconsideração dos sentimentos


humanos no agir, a força econômica da ré, as consequências do ato e a necessidade da punição
ter efeito pedagógico e ser um desestímulo efetivo para não se repetir a violação ao direito.

Por todo o exposto, o valor de R$5.000,00 (cinco mil reais), requerido a título de dano moral,
mostra-se proporcional e adequado ao caso.

4 – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, reque-se:

a) Em preliminar, o deferimento da tutela de urgência para retirar o nome da autora da


restrição interna e consequente cessação da divulgação desses dados a outras
instituição financeiras;
b) Ainda em sede de preliminar, a inversão do ônus da prova, com a aplicação dos
institutos protetivos que lhe são de direito, conferidos pelo Código de Defesa do
Consumidor;

c) No mérito, que seja JULGADA TOTALMENTE PROCEDENTE para declarar a nulidade e


cancelamento da restrição interna feita pela Ré, Caixa Econômica Federal;

d) Subsidiariamente, caso Vossa Excelência entenda pela legalidade da manutenção do


nome no cadastro interno, que as informações ali contidas não sejam divulgadas a
outras instituições financeiras;

e) A condenação da Ré ao pagamento de danos morais no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil


reais), com a incidência de juros e correção monetária, nos termos da lei; ;

f) A citação da ré, por meio eletrônico, nos termos do art. 246, § 1º do CPC;

Salienta-se que a autora tem interesse na realização da audiência de conciliação, nos termos do
art. 334 do CPC;

Protesta provar por todos os meios de prova admitidos em direito, que ficam desde já
requeridos e pelos documentos anexados à exordial.

Dá-se o valor da causa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais);

Nestes termos,

Pede deferimento

Data

Nome Advogado
OAB nº

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