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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS

DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE XXX – ESTADO DE SÃO


PAULO

MÉVIO LÚCIO TÍCIO BRENO, brasileiro, casado,


filantropo, portador da cédula de identidade RG nº 00.000.000-0, inscrito no
CPF/MF sob o nº 999.888.777-66, domiciliado e residente à Rua Maria José João,
123, Jardim Alegria, Valentino, SP, CEP 00000-000, endereço de e-mail
mltb@yahoo.com.br, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por
seu procurador infra-assinado, com fulcro nos artigos 19, da Lei nº 13.105, de
2015 (Código de Processo Civil); 186, 187 e 927, da Lei nº 10.046, de 2002
(Código Civil); 6º, VI, VIII e 14, da Lei nº 8.078, de 1990 (Código de Defesa do
Consumidor); e, ao fim, 5º, V, da Constituição da República Federativa do Brasil, de
1988, propor a presente

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA E


REPARAÇÃO DE DANOS

em desfavor de BANCOS DOS BANCOS S.A., pessoa


jurídica de direito privado sob a forma de sociedade anônima, devidamente inscrita
no CNPJ/MF sob o nº 00.000.000/0000-00, endereçada, neste Estado da
Federação, para fins de completude da citação, à Avenida Dois Mil, 100, oitavo
andar, São Paulo, SP, CEP 07383-748, pelos motivos de fato e de direito a seguir
aduzidos.

1
1. DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ÀS
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS – SÚMULA 297, DO STJ

À relação jurídica existente entre instituição financeira e


sua contraparte usufruidora (cliente), aplica-se, segundo se depreende da Súmula
297, do Superior Tribunal de Justiça – STJ, o Código de Defesa do Consumidor,
tradando-se, pois, indubitavelmente e, via de consequência, de relação de
consumo, mais especificamente, neste caso, de ruptura/mácula da escorreita
relação de consumo.

2 - DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Como sucedâneo de garantia do exercício do direito de


ampla defesa do consumidor, estabelece-se a possibilidade de inversão do ônus da
prova quando constatada a hipossuficiência do consumidor, princípio este
consectário do quanto disposto no artigo 6º, VIII, do Código de Defesa do
Consumidor.

Vislumbra-se, da relação entre ambas as partes ora


litigantes, colossal desproporção quanto aos meios e possibilidades jurídicas aos
quais possuem, mormente no que tocam aos eventos trazidos ao escrutínio do
Poder Judiciário pela propositura desta demanda.

Em havendo o ajuizamento desta, vislumbra-se que


outra alternativa não sobreveio ao Requerente senão a guarida de seus direitos
pelo munus Estatal, a sacramentar sua posição de inferioridade relacional junto à
pessoa jurídica Requerida, cuja constituição se dá por instituição financeira de
poder social e econômico torrencial, cujo valor de mercado exacerba a casa dos R$
100BI (cem bilhões de reais)1.

Salutar, pois, à luz do quanto disposto no mencionado


artigo 6ª, VII, do Código de Defesa do Consumidor, a concessão, em favor do

1
https://www.bloomberg.com/profile/company/BBAS3:BZ
2
Requerente, deste facilitador de defesa de direitos que é o instituto da inversão do
ônus da prova.

3 - DA COMPETÊNCIA TERRITORIAL DESTE D. JUÍZO

Ademais do quanto já aduzido, imperioso clamar pela


aplicação do quanto disposto no artigo 101, do Código de Defesa do Consumidor, a
alterar a regra ordinária da competência territorial para ajuizamento de demandas
judiciais de que trata o Código de Processo Civil.

Afigura-se notória a constituição da pessoa jurídica


demandada como sendo fornecedora de produtos e serviços em detrimento de seus
consumidores/clientes, como o caso do Requerente, que junto à instituição
financeira alimenta verdadeira relação de consumo.

Em assim sendo, configurada a irrefutável relação de


consumo existente entre os litigantes, à guisa do quanto previsto no artigo 101, do
Código de Defesa do Consumidor, acertado o ajuizamento da presente ação perante
este Egrégio Foro da Comarca de Valenciaga, Município do Estado de São Paulo, em
detrimento ao Foro Central da Comarca da Capital do Estado de São Paulo,
localizado no Município de São Paulo.

4 - DA SÍNTESE FATÍDICA

Precipuamente, insta salientar que se trata o


Requerente de correntista junto à instituição financeira ora demandada há mais de
15 (quinze) anos, possuindo, atualmente, conta de número 99.999-9, na agência
de número 9999-9.

Na mencionada conta corrente (e poupança), o


Requerente aglutina seus proventos auferidos através de seu labor diário, de modo
que todo o seu esforço e suor, traduzidos em pecúnia, são deixados em guarda da
instituição financeira em questão.

3
Aos 12 (doze) dias, do mês de junho, do presente ano
(sexta-feira), aproximadamente às 11h40, recebeu o Requerente uma ligação em
seu telefone celular, cujo identificador de chamadas acusou como sendo do “Banco
dos Bancos” (instituição ora requerida), na qual foi interpelado por uma suposta
funcionária do banco em questão, alegando que o Requerente havia, no dia
anterior, intentado acesso via internet banking, não logrando êxito. Tal tentativa
efetivamente ocorreu (e, realmente, no dia anterior ao narrado).

Em razão da tentativa infrutífera de acesso ao sistema


bancário via internet banking, a suposta funcionária da instituição financeira
demandada informou ao Requerente que, para obter sucesso em acessar os
recursos on-line, seria necessário liberar o notebook para acesso, junto a um caixa
eletrônico do banco em comento, de modo que, em não havendo tal liberação,
sucederia o consequente bloqueio imediato da conta.

Durante a conversação havida, a suposta funcionária do


banco Requerido interpelou o Requerente por diversas vezes possuindo informações
reais e confidenciais acerca de sua movimentação bancária e dados bancários, de
modo que indubitavelmente, no sentir do Requerente, tratava-se de contato idôneo
do Banco dos Bancos. Afinal, pergunta-se: quem mais possui seus dados pessoais e
bancários além de você mesmo (e, por vezes, poucos conhecidos próximos)?

Nutrido de preocupação quanto ao bloqueio de sua


conta (e, por conseguinte, de acesso aos seus recursos), o Requerente, na ocasião
do contato, informou que procederia ao caixa eletrônico, conforme admoestado
pela “funcionária” da instituição.

Sucedeu, pois, após o término da ligação, que recebeu


o Requerente um contato via aplicativo de mensagens instantâneas “WhatsApp”, de
outro suposto funcionário da instituição financeira Requerida, o qual se prontificou a
auxiliá-lo no procedimento de “liberação” do notebook no caixa eletrônico.

Dirigiu-se o Requerente ao caixa eletrônico na absoluta


crença de que estaria, de fato, sendo direcionado por funcionários da instituição,
através de contato idôneo, e que, em minutos, teria seu acesso liberado. Afinal,
repise-se, com contato elaborado, ciência de seus dados pessoais, de seus números

4
de conta e até mesmo de suas movimentações bancárias, como saberia o
Requerente estar diante de um aprimorado esquema de fraude?

Já no caixa eletrônico, efetuou a liberação do notebook,


seguindo instruções, de modo que, importante salientar, não forneceu aos
golpistas travestidos de funcionários da instituição quaisquer senhas ou
dados pessoais de acesso à conta. Nenhuma informação pessoal foi fornecida, o
que aumentou a sensação de idoneidade advinda da abordagem recepcionada.

Horas mais tarde, ao valer-se do acesso via aplicativo


de celular junto à sua conta, observou o Requerente que o valor de R$ 9.999,99
(nove mil novecentos e noventa e nove reais e noventa e nove centavos) foi
baixado de sua conta corrente para sua conta poupança e, que, na sequência, um
boleto no importe de R$ 9.990,00 (nove mil novecentos e noventa reais) foi pago.

Por se tratar de sexta-feira, às vésperas do final de


semana, sendo certo que no sábado e domingo inexiste expediente bancário,
intentou o Requerente contato junto à instituição financeira, não logrando êxito.
Ingênuo quanto ao que ocorrera, aguardou o próximo período financeiro para dar
prosseguimento aos questionamentos e no sentido de compreender o ocorrido junto
ao banco Requerido.

Conquanto, a devassa em sua conta prosseguiu. Em


novas movimentações, todas sem critérios e muito acima do perfil e limite de
transações diárias do Requerente, logo na segunda-feira, procederam os
fraudadores em mais duas incursões de desfalque: transferiram, da conta poupança
para a conta corrente, mais R$ 5.700,00 (cinco mil e setecentos reais), e,
consequentemente, contrataram empréstimo automático no valor de R$ 4.100,00
(quatro mil e cem reais).

Ato contínuo, efetuaram outra transferência, para


terceiros, no montante de R$ 12.000,00 (doze mil reais), desfalcando o Requerente
em quantia total de R$ 26.131,80 (vinte e seis mil cento e trinta e um reais e
oitenta centavos).

Observou-se a seguinte sistemática:

5
a.) Primeiro passo do golpe: Primeiramente,
conforme demonstra a imagem abaixo, houve a baixa de R$ 9.999,99 (nove mil
novecentos e noventa e nove reais e noventa e nove centavos) da conta poupança
para a corrente, com consequente pagamento de boleto, via internet, de R$
9.990,00.

b.) Segundo passo golpe: Em seguida, transferiram,


da conta poupança do Requerente, para sua conta corrente, mais R$ 5.700,00
(cinco mil e setecentos reais), conforme imagem abaixo. O valor ficou novamente
disponível em conta.

c.) Terceiro passo do golpe: Ainda em sequência,


efetuaram a contratação de linha de empréstimo no valor de R$ 4.100,00 (quatro
mil e cem reais). Veja-se:

d.) Quarto passo do golpe: Efetuaram os


fraudadores, por derradeiro, a última transferência no montante de R$ 12.000,00
(doze mil reais), havendo, também, cobrança de tarifa no importe de R$ 41,80
(quarenta e um reais e oitenta centavos).

Aloca-se, abaixo, sequência ininterrupta das transações


de golpe das quais foi vítima o Requerente:

Ora, Excelência, é possível observar que as transações


são sequenciais e em valor elevado (levando-se em conta o perfil conservador
financeiro do Requerente). Pode-se tirar prova do quanto alegado dos anexos
extratos financeiros de movimentação bancária da própria conta do Requerente. Os
valores objeto da fraude destoam (e muito), dos corriqueiros.

Resta patente que a instituição financeira Requerida


falhou sobremaneira no que diz respeito à segurança bancária do Requerente. Os
seus dados foram, num primeiro momento, vazados a terceiros (de alguma
maneira), de modo que tais terceiros interpelaram-no por telefone, conseguindo,
sem liberação de senha de acesso ou qualquer outro dado, liberação de acesso à
conta, procedendo, então nos desfalques sequenciais.

6
Coube ao Requerente, tão logo percebeu que foi vítima
de um golpe, de promover junto à instituição financeira uma contestação das
operações (protocolo número 2019/XXX) – íntegra anexa -, a qual foi julgada
desfavorável de forma sumária.

Igualmente, acautelou-se o Requerente em narrar o


acontecido perante à autoridade policial, ocasião em que foi lavrado Boletim de
Ocorrência (igualmente anexo à presente). Atualmente, inclusive, efetuou a
representação criminal contra as pessoas físicas envolvidas no golpe, de modo que
insistirá até o término da ação criminal, fazendo votos de condenação aos
estelionatários que lhes deflagraram o golpe narrado.

A despeito de tal narrativa, e de fronte a um


retumbante julgamento desfavorável quanto ao processo de contestação, bem
como diante de ignomínia por parte do Banco dos Bancos, não restam alternativas
ao Requerente senão o manejo da presente ação, posto que foi vítima de golpe em
razão da falha na prestação dos serviços bancários, bem como da
responsabilidade civil do Banco dos Bancos advinda do fortuito interno e do
risco do empreendimento da atividade bancária.

A instituição, ao claudicar quanto à prestação de seus


serviços (mormente quanto à segurança), em risco assumido, deve ser compelida a
reparar os danos sofridos. É o que se passará a tecer em sede argumentativa de
direito.

5 – DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA – DO


FORTUITO INTERNO E RISCO DO EMPREENDIMENTO

Consoante cediço, resta indiscutível tratar-se a relação


mantida entre as partes como eminentemente de consumo, nos termos dos artigos
2º e 3º, do Código de Defesa do Consumidor e enunciado de Súmula 297, do
Colendo Superior Tribunal de Justiça. Assim, direitos básicos do consumidor como a
segurança contra riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e
serviços, a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, a
facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a aplicação do alhures

7
mencionado instituto da inversão do ônus da prova2 são perfeitamente aplicáveis ao
caso ora estudado, máxime pela hipossuficiência técnica e econômica do
consumidor.

Com efeito, depreende-se, do cotejo fático ora narrado,


que a instituição financeira Requerida claudicou em relação à segurança, vez que
houve clara e abrupta alteração de perfil do correntista, de forma que o sistema de
segurança da instituição financeira deveria ter detectado tais movimentações
atípicas, à vista desse perfil, evitando o ocorrido.

Não é forçoso lembrar que possui a fornecedora de


serviços financeiros responsabilidade pela situação descrita, porquanto afigura-se
por seu dever mobilizar-se para impedir fraudes como as descritas, bem como
monitorar as operações que fogem da normalidade do cliente. Inegável, pois, a
falha na prestação de serviço, nos exatos termos do artigo 14 da Lei 8.078, de
1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Salta aos olhos, ínclito julgador, a abrupta mudança do


perfil de movimentação financeira do Requerente em apenas 2 (dois) dias úteis,
motivado pela fraude da qual fora vítima. Enquanto sua média mensal de saída
típica de valores (pagamentos/transferências) gira em torno de R$ 1.000,00 (um
mil reais), em poucas horas, (da noite do dia 12/06/2020 para o início do dia
13/06/2020) houve a retirada de sua conta, por falsários, de mais de R$ 30.000,00
(trinta mil reais), ou seja, quase 30 (trinta) vezes além do valor habitualmente
movimentado pelo Requerente.

Noutras palavras, em apenas 1 (um) dia ocorreu


um aumento de aproximadamente 2.900% (dois mil e novecentos por
cento) em relação à movimentação de saída financeira comum da conta do
Requerente. E pasme, mesmo diante dessa abrupta alteração no perfil do
consumidor, o setor de segurança operacional da instituição financeira Requerida
nada fez para impedir a efetivação/conclusão das transações financeiras.

2
REsp 915.599/SP
8
Ademais disso, que não se fale, Excelência, que não
poderia a instituição financeira ter agido para impedir a concretização das
operações decorrentes da fraude nas contas do Requerente.

Em sendo o Banco dos Bancos franco conhecedor, há


mais de uma década, do perfil de movimentação financeira de seu consumidor,
caberia ao setor de segurança, ao detectar movimentações atípicas (pagamentos
de boletos de valores elevadíssimos, transferências incomuns e contratação abrupta
de crédito em sequência), em horários incomuns (além de após o expediente
bancário presencial, transações vultuosas realizadas no interregno de minutos), no
dia 03/10/2020, ainda permitiu, para o dia útil seguinte (01/30/2020), a
contratação de empréstimo e transferências igualmente elevadas a pessoas cujas
contas de destino são totalmente ignoradas.

Todo o ocorrido prosseguiu-se sem que, em nenhum


momento, tenha sido solicitado ao Requerente, por exemplo, confirmação prévia de
operações financeiras, cadastramentos de contas, alteração de limite para
pagamentos etc. Conclui-se, em arremate, ter ocorrido hialina falha do
banco no dever de gerenciamento seguro dos dados do Requerente.

Inobstante possa até se apontar culpa lato sensu da


instituição bancária ora demandada, é comezinho que o Colendo Superior Tribunal
de Justiça, apreciando o tema 466, de Recursos Repetitivos, definiu ser o ente
financeiro responsável de forma objetiva por danos decorrentes de fortuito
interno relativos a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de suas
operações.

Assim definiu aquela Corte de Justiça: “As instituições


financeira respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito
interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito das
operações bancárias”. (Grifamos).

A definição da tese jurisprudencial acima, exarada nos


autos do REsp 1.197.929/PR, deu ensejo inclusive, ao enunciado de Súmula 479,
com idêntica redação.

9
Sobre fortuito interno, preclaro julgador, PABLO
STOLZER3 vaticina:

[...] trata-se do acontecimento imprevisível, causador de dano de


consumo, e que incide no processo de elaboração ou fabricação
do produto, ou, então, no momento da realização do serviço. Em
tais casos, por óbvio, a responsabilidade do fornecedor,
que assume os riscos da sua atividade, não poderá ser
afastada. Ademais, até a colocação do produto ou a
prestação do serviço no mercado, deverá o agente
econômico garantir a qualidade daquilo que disponibiliza
ao consumidor. Havendo dano, deverá indenizar. (Negrito
nosso).

No mesmo toar, FABRÍCIO BOLZAN4 preleciona que:

Quem trata do tema com a propriedade de costume é Sérgio


Cavalieri Filho, ao entender que “a distinção entre fortuito interno
e externo é totalmente pertinente no que respeita aos acidentes
de consumo. O fortuito interno, assim entendido o fato
imprevisível e, por isso, inevitável ocorrido no momento da
fabricação do produto ou da realização do serviço, não
exclui a responsabilidade do fornecedor porque faz parte da
sua atividade, liga-se aos riscos do empreendimento,
submetendo-se à noção geral do defeito de concepção do
produto ou de formulação do serviço. Vale dizer, se o
defeito ocorreu antes da introdução do produto no mercado
de consumo ou durante a prestação do serviço, não importa
saber o motivo que determinou o defeito; o fornecedor é
sempre responsável pelas suas consequências, ainda que
decorrente de fato imprevisível e inevitável”. (Destaque
nosso).

3
Novo Curso de Direito Civil, v. 3: Responsabilidade Civil / Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo
Pamplona Filho. – 17 ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2019, p. 355.
4
Direito do Consumidor Esquematizado/ Fabrício Bolzan de Almeida ; coordenação de Pedro
Lenza. – 7. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2019, p. 284.
10
Resta, assim, indubitavelmente demonstrada a
responsabilização objetiva da instituição financeira Requerida em permitir que
terceiros fraudadores devassassem as finanças da parte Requerente, devendo
restituir ao status quo ante e, ademais, arcar com as perdas e danos equivalentes.

6 – DO ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL SOBRE A TEMÁTICA

No que concerne à temática dos serviços bancários, a


Jurisprudência resta consolidada e cristalizada no sentido de reconhecer a
responsabilização objetiva de instituições financeiras quando decorrente de fortuito
interno. O C. Superior Tribunal de Justiça já assentou entendimento a respeito:

1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: As instituições bancárias


respondem objetivamente pelos danos causados por fraudes ou
delitos praticados por terceiros – como, por exemplo, abertura de
conta corrente ou recebimento de empréstimos mediante fraude
ou utilização de documentos falsos -, porquanto tal
responsabilidade decorre do risco do empreendimento,
caracterizando-se como fortuito interno”. Recursos Especiais
1.197.929/PR e 1.199.782/PR, Min. Rel. Luís Felipe Salomão.

Notadamente em relação ao e. Tribunal de Justiça do


Estado de São Paulo, as fraudes bancárias são amplamente refutadas,
reconhecendo-se ao consumidor o direito integral de restituição das perdas dela
provenientes, in verbis (com destaques de nossa lavra):

CARTÃO DE CRÉDITO – FRAUDE PRATICADA POR TERCEIRO –


GOLPE DO "MOTOBOY" – AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C/C PEDIDOS DE DANO MATERIAL E
MORAL – SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA – APELAÇÃO DO
RÉU - Utilização indevida de cartão de crédito e saque por
terceiros fraudadores – Transações que fogem ao perfil da
correntista – Má prestação dos serviços bancários –
Responsabilidade objetiva do réu, que deve indenizar o
autor pelos danos materiais sofridos – Sentença mantida. -

11
Transações indevidas em cartão de crédito e conta corrente -
Cobrança ilegal – Dados do autor que não foram incluídos em
cadastro de inadimplentes - Danos morais inexistentes – Sentença
reformada. Recurso parcialmente provido. (TJSP. Apelação Cível
1049877-19.2019.8.26.0100; Relator (a): Marino Neto; Órgão
Julgador: 11ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 15ª
Vara Cível; Data do Julgamento: 28/11/2020; Data de Registro:
28/11/2020).

APELAÇÃO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO


CUMULADA COM PEDIDO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS
MORAIS. SENTENÇA QUE JULGOU PARCIALMENTE PROCEDENTE O
PEDIDO. INCONFORMISMO. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA QUE
DECLAROU A INEXISTÊNCIA DO DÉBITO E CONDENOU A
REQUERIDA AO PAGAMENTO DE COMPENSAÇÃO POR DANO
MORAL, TENDO EM VISTA A FALTA DE PROVA DA ORIGEM
DO DÉBITO. RECONHECIMENTO DO DEVER DE INDENIZAR.
FRAUDES OU DELITOS PRATICADOS POR TERCEIROS QUE
NÃO EXCLUEM A RESPONSABILIDADE DA REQUERIDA.
FORTUITO INTERNO. INTELIGÊNCIA DA SÚMULA Nº 479 DO
C. STJ. CONFIGURAÇÃO DA LESÃO AO DIREITO DE
PERSONALIDADE ("DAMNUM IN RE IPSA"). MANUTENÇÃO DO
VALOR DA COMPENSAÇÃO NO IMPORTE DE R$ 10.000,00 (DEZ
MIL REAIS), QUANTIA ESTA QUE SE AFIGURA RAZOÁVEL E
PROPORCIONAL LEVANDO-SE EM CONSIDERAÇÃO O SEU
CARÁTER COMPENSATÓRIO E PEDAGÓGICO E AS
PECULIARIDADES DO CASO EM ANÁLISE. RECURSO DESPROVIDO.
(TJSP. Apelação Cível 1001557-54.2020.8.26.0438; Relator (a):
Alberto Gosson; Órgão Julgador: 22ª Câmara de Direito Privado;
Foro de Penápolis - 2ª Vara; Data do Julgamento: 27/11/2020;
Data de Registro: 27/11/2020).

AÇÃO DECLARATÓRIA C.C. INDENIZATÓRIA – PRELIMINAR –


CERCEAMENTO DE DEFESA – Devidamente instruída, cabível o
julgamento antecipado da lide, sendo desnecessária a realização
de depoimento pessoal da autora – Ausência de cerceamento de

12
defesa – Elementos presentes nos autos suficientes ao julgamento
- Inteligência do art. 355, inciso I, do NCPC – Preliminar afastada."
"TRANSAÇÕES INDEVIDAS – CARTÃO DE CRÉDITO – FALHA NA
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS – DANOS MORAIS – I- Sentença de
procedência – Apelo do banco réu – II- Relação de consumo
caracterizada – Inversão do ônus da prova – Autora vítima do
golpe da falsa central – Autora que, induzida a erro, enviou seu
cartão com chip pelo correio – Compras efetuadas
fraudulentamente com o cartão de crédito da autora –
Transações impugnadas que foram realizadas fora do
padrão normal da autora – Dever do banco réu de checar a
regularidade das operações, sobretudo porque fugiam ao
padrão de gastos da consumidora – Réu que não provou a
legitimidade das transações – Responsabilidade objetiva do
fornecedor decorrente do risco integral de sua atividade -
Falha no sistema de segurança do banco caracterizada –
Inteligência dos arts. 6, VIII, e 14, § 3º, II, do CDC – As
instituições bancárias respondem objetivamente pelos
danos causados por fraudes ou delitos praticados por
terceiros, porquanto tal responsabilidade decorre do risco
do empreendimento, caracterizando-se como fortuito
interno – Orientação adotada pelo STJ em sede de recurso
repetitivo – Art. 543-C do CPC/1973, atual art. 1.036 do
NCPC – Súmula nº 479 do STJ [...] Apelo parcialmente provido.
(TJSP. Apelação Cível 1034101-19.2018.8.26.0001; Relator (a):
Salles Vieira; Órgão Julgador: 24ª Câmara de Direito Privado; Foro
Regional I - Santana - 4ª Vara Cível; Data do Julgamento:
19/11/2020; Data de Registro: 27/11/2020).

AÇÃO INDENIZATÓRIA. Sentença de procedência para


condenar a ré a restituir o montante desviado por
fraudadores e a indenizar a autora por danos morais no
valor de R$ 7.000,00. Apelo da ré. Autora que foi vítima de
fraude. Fraudador que, após captar a confiança da autora,
informou da necessidade de desbloqueio das senhas por
motivo de segurança, passando a realizar operações

13
financeiras na conta bancária da autora. Responsabilidade
objetiva. Fortuito interno. Serviço defeituoso. Utilização de
dados sigilosos. Adequada condenação da ré a restituir o
numerário desviado. Danos morais caracterizados. Perda do
sossego. Valor arbitrado escorreito e dentro dos parâmetros da
razoabilidade e proporcionalidade. Apelo desprovido. (TJSP.
Apelação Cível 1064059-73.2020.8.26.0100; Relator (a): Ramon
Mateo Júnior; Órgão Julgador: 15ª Câmara de Direito Privado;
Foro Central Cível - 36ª Vara Cível; Data do Julgamento:
27/11/2020; Data de Registro: 27/11/2020).

7 – DOS DANOS EMERGENTES

O dano material, na espécie de dano emergente,


consiste naquilo que efetivamente o Requerente perdeu em razão da atuação de
terceiro falsário em suas contas bancárias. Além dos valores retirados e ainda não
estornados, engloba todas as tarifas bancárias inerentes às operações realizadas –
indevidamente – em suas contas, bem ainda para impressão de extratos com o fito
de instrumentalizar a presente ação judicial, débitos de parcelas de empréstimos
etc.

8 – DOS DANOS MORAIS (EXTRAPATRIMONIAIS)

O dano moral, intimamente ligado à honra à imagem, à


dignidade, deve ser analisado sob a ótica da perturbação anímica trazida ao
Requerente em razão não apenas da devassa realizada por estelionatários em suas
contas bancárias, mas, também, pelo tratamento indiferente recebido pela
instituição Requerida (Banco dos Bancos), quando da análise de suas contestações
aos débitos (processo de análise 2020/XXX), como ainda à luz da teoria do desvio
produtivo.

De forma preambular, imperioso notar que a falha de


segurança nos serviços prestados pelo Banco dos Bancos permitiu com que, em

14
poucas horas, o Requerente perdesse suas reservas financeiras acumuladas
durante anos de sua vida laboral. Ainda que se tratasse de importância sem maior
expressividade, já seria possível vislumbrar abalo emocional do consumidor que se
vê, do dia para a noite, sem nenhum dinheiro em suas contas.

No caso concreto, trata-se de quantia que remonta ao


total de quase R$ 30.000,00 (trinta mil reais) que foram, sorrateiramente, furtados
das contas do Requerente.

A princípio, é sabido que, no seio da jurisprudência


temática, a mera utilização fraudulenta de conta bancária não enseja, à parte
lesada, o reconhecimento de dano moral, inclusive in re ipsa. Entretanto, existem
exceções (como é o caso)!

Nesse sentido, parece ser didática a exposição dos


motivos dadas pelo eminente Ministro Marco Aurélio Bellizze, nos autos do REsp
1.573.859/SP5, no qual, inclusive, afastou o dano moral in re ipsa, contudo, deixou,
de modo irretocável, ensinamentos aplicáveis ao presente processo. Senão
vejamos:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS. SAQUE INDEVIDO DE NUMERÁRIO NA CONTA CORRENTE
DO AUTOR. RESSARCIMENTO DOS VALORES PELA INSTITUIÇÃO
BANCÁRIA. AUSÊNCIA DE DANO MORAL IN RE IPSA. TRIBUNAL DE
ORIGEM QUE, DIANTE DAS PECULIARIDADES DO CASO, AFASTOU
A OCORRÊNCIA DE DANO EXTRAPATRIMONIAL. MANUTENÇÃO DO
ACÓRDÃO RECORRIDO. RECURSO DESPROVIDO. 1. O saque
indevido de numerário em conta corrente não configura dano
moral in re ipsa (presumido), podendo, contudo, observadas as
particularidades do caso, ficar caracterizado o respectivo dano se
demonstrada a ocorrência de violação significativa a algum direito
da personalidade do correntista. 2. Na hipótese, o Tribunal de
origem consignou, diante do conjunto fático-probatório dos autos,
que o autor não demonstrou qualquer excepcionalidade a justificar
5
REsp 1.573.859/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado
em 07/11/2017, DJe 13/11/2017.
15
a compensação por danos morais, razão pela qual nada há a ser
modificado no acórdão recorrido. 3. Recurso especial desprovido.

Nos fundamentos da decisão, todavia, o eminente


relator, acerca dos requisitos fáticos que podem ensejar a configuração de dano
moral em situação análoga a ora exposta em juízo, assinalou o seguinte:

[...]

De início, não se olvida que, conforme afirmado pelo recorrente


nas razões do especial, esta Terceira Turma tem precedente nesse
sentido, isto é, de considerar que o saque indevido em conta
corrente, por si só, acarreta dano moral.

A propósito, confira-se a ementa do referido julgado:

[...]

Não obstante, com a devida vênia, tenho que a questão merece


outro entendimento.

Vale destacar que a Segunda Seção desta Corte, por ocasião do


julgamento do Recurso Especial Repetitivo n. 1.197.929/PR, fixou
a tese de que as instituições bancárias respondem de forma
objetiva pelos danos causados aos correntistas, decorrentes de
fraudes praticadas por terceiros, caracterizando-se como fortuito
interno.

O acórdão do aludido julgado foi assim ementado:

[...]

Assim, na linha do que ficou decidido no referido recurso especial


representativo da controvérsia, os valores sacados de forma
fraudulenta na conta corrente do consumidor, tal como ocorrido na
espécie, devem ser integralmente ressarcidos pela instituição

16
bancária. Logo, nessas hipóteses, o consumidor não terá qualquer
prejuízo material em decorrência do defeito na prestação do
serviço oferecido pelo banco.

Entretanto, o aludido entendimento não se aplica,


necessariamente, no que concerne à ocorrência de dano moral.

Embora não se tenha dúvida de que a referida conduta


acarreta dissabores ao consumidor, para fins de
constatação de ocorrência de dano moral é preciso analisar
as particularidades de cada caso concreto, a fim de verificar
se o fato extrapolou o mero aborrecimento, atingindo de
forma significativa algum direito da personalidade do
correntista (bem extrapatrimonial).

Circunstâncias, por exemplo, como o valor total sacado


indevidamente, o tempo levado pela instituição bancária
para ressarcir os valores descontados e as repercussões daí
advindas, dentre outras, deverão ser levadas em conta para
fins de reconhecimento do dano moral e sua respectiva
quantificação.

Não seria razoável que o saque indevido de pequena


quantia, considerada irrisória se comparada ao saldo que o
correntista dispunha por ocasião da ocorrência da fraude,
sem maiores repercussões, possa, por si só, acarretar
compensação por dano moral. (Destaque nosso).

Subsumindo a parte final do trecho acima transcrito é


forçoso concluir que, no caso dos fatos aqui narrados, o reconhecimento de dano
moral ao Requerente se impõe, a saber:

O valor indevidamente sacado (retirada da conta) foi de


aproximadamente R$ 30.000,00 (trinta mil reais), representativo de toda economia
do Requerente, poupado durante anos de seu labor. Tal quantia correspondeu a

17
todo o saldo disponível em contas bancárias, mais a contratação de empréstimo
havida.

Com efeito, não fosse suficiente tudo isso, mister


lembrar que o Requerente, no afã de solucionar o prejuízo amargurado, tem
perdido tempo (bem jurídico finito), impactando em suas atividades existenciais,
como estudo, trabalho, descanso, lazer, dentre outros. Os prejuízos sofridos são
evidentes, afinal, vislumbra-se certeira alteração de rotina para resolver problemas
que não deveriam existir, desperdiçando, assim, seu tempo.

Sob esse viés surgiu a teoria do desvio produtivo do


consumidor, caracterizada quando o consumidor, diante de uma situação de mau
atendimento, precisa desperdiçar o seu tempo e desviar as suas competências – de
uma atividade necessária ou por ele preferida – para tentar resolver um problema
criado pelo fornecedor, a um custo de oportunidade indesejado, de natureza
irrecuperável. Essa teoria é aplicada, inclusive pelo C. STJ, em diversos precedentes
(REsp 1.634.851/RJ, AREsp 1.260.458/SP, AREsp 1.241.259/SP, AREsp
1.132.385/SP etc.).

Portanto, vislumbra-se ser inequívoco o dano moral


indenizável ao Requerente, devendo-se, com esse prisma, apenas quantifica-lo.

Ante ao critério bifásico adotado pelo C. STJ, afigura-se


elementar trazer à lume notável escólio do eminente Desembargador deste e.
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Ênio Santarelli Zuliani 6, acerca da
fixação do dano moral:

O arbitramento é um ato de consciência jurídica e o juiz deve


mentalizar, em primeiro lugar, a situação da vítima (a extensão do
dano e a sua repercussão na esfera íntima do indivíduo e no
aspecto social). Esse é um exercício que se cumpre examinando
todas as condições pessoais do lesado, sua capacidade de
autodeterminação diante da gravidade do fato e do trauma que
um ser humano dotado de personalidade mediada (entre o fraco e

6
ZULIANI, Ênio Santarelli, in Direitos in Particularidades do Arbitramento do Dano Moral na
Responsabilidade Civil do Estado – Responsabilidade Civil do Estado, Desafios
Contemporâneos – Editora Quartier Latin.
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o forte) suporta, vem como a perspectiva de superação com o
poder do dinheiro a ser pago.

Diante desse cenário, mostra-se razoável pretender


indenização por danos morais em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), sobretudo com
esteio em precedentes do próprio e. TJ/SP para casos análogos.

9. DOS PEDIDOS

À vista do exposto, requer-se a Vossa Excelência que


se digne:

1. Citar a parte demandada, consoante disposição do


artigo 334, do CPC, para se fazer presente à audiência de conciliação ou mediação
a ser designada pelo d. Juízo, sob pena de ato atentatório à dignidade da justiça e
penalização equivalente;

2. Ofertar à demandada a oportunidade de contestar,


sob pena de revelia e incidência de seus efeitos;

3. No mérito, dê procedência à pretensão do Requerido


para:

a.) declarar a nulidade das transações contestadas pela


presente demanda que foram efetuadas nas contas corrente e poupança do
Requerente, desconstituindo-as;

b.) condenar a Requerida ao pagamento de indenização


por danos materiais no valor de R$ 26.131,80 (vinte e seis mil cento e trinta e
um reais e oitenta centavos), acrescido de todo e qualquer valor que seja
eventualmente debitado nas contas do Requerente, em relação ao pagamento de
débitos/tarifas, com atualização e acréscimos legais a partir da citação;

19
c.) condenar a Requerida ao pagamento de indenização
por danos morais no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Protesta-se, por fim, expressamente, pela inversão do


ônus da prova em favor do Requerente e, ademais, pelo direito de provar o quanto
alegado por todos os meios em direito admitidos.

Atribui-se à causa o valor de R$ 31.131,80 (trinta e um


mil cento e trinta e um reais e oitenta centavos).

Termos em que,
Pedem deferimento.

De São Paulo para Valencia, 07 de dezembro de 2020.

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