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FEITA PELA ESTAGIÁRIA JANAÍNA.

EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DO II JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE SÃO GONÇALO -


RJ

BANCO ITAÚ S.A., inscrito no CNPJ


60.701.190/0001-04, por seu advogado que esta subscreve (doc. anexo), nos autos
da AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, pelo rito ORDINÁRIO que lhe
move AMÉRICO CARLOS ELÍDIO (processo nº 2002.209.022816-4), oferece
sua

CONTESTAÇÃO

consubstanciada nas razões de fato e de direito a seguir aduzidas.

I. - DO OBJETO DA AÇÃO

O autor sustenta que, no dia 28/11/02, ao tentar


adentrar a agência bancária de que é correntista, foi barrado por sua porta
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giratória. Apesar de não portar objeto metálico algum, a porta permaneceu


travada, de modo que o autor solicitou a interferência do gerente do Banco. No
entanto, “a pessoa que respondia pela agência naquele momento” acionou a Polícia
Militar, e um Termo de Registro de Ocorrência foi lavrado.

Embora afirme que nenhuma ofensa racial lhe foi


dirigida, o autor sugere a possibilidade de ter sido vítima de racismo.

Em decorrência dos fatos que narrou, pleiteia


indenização por danos morais em valor de pelo menos 40 salários mínimos, além
de uma retratação pública por parte da gerência do estabelecimento.

Todavia, como será demonstrado, trata-se de


pretensão que não pode prosperar.

II. - DO MÉRITO

1. - DOS FATOS EM SUA REAL DIMENSÃO

O autor alega que, apesar de não portar objeto de


metal, foi impedido de entrar em estabelecimento do Banco réu, pois a porta
giratória foi travada por um dos guardas da segurança da agência. Ainda, segundo
o autor, o episódio culminou na intervenção da Polícia Militar, chamada por
funcionário do Banco. Por fim, mesmo reconhecendo não haver indício de que foi
vítima de racismo, não “descarta” essa hipótese.

É imperioso que os fatos sejam narrados como


efetivamente ocorreram.

Primeiramente, como adiante será demonstrado, o


travamento da porta giratória apenas ocorre quando detectada a presença de
metal. Assim, é impossível que o guarda tenha acionado o mecanismo, como alega
o autor.

De outra feita, percebendo o incômodo causado


pela acionamento da trava da porta, o gerente da agência dirigiu-se ao autor e lhe
permitiu a entrada no estabelecimento, sem, portanto, acionar a Polícia. Antes
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mesmo que o gerente pudesse averiguar se o autor realmente portava objetos de


metal, a alegação de preconceito racial veio à tona.

Na realidade, o que se constata é que o fato


ocorrido com o autor – travamento da porta giratória quando de sua passagem –
acontece todos os dias, com uma gama enorme de clientes e usuários das agências
bancárias do réu, sem que, com isso, caracterize-se o preconceito racial delineado
na inicial.

Nesse momento, importa ressaltar que a filosofia


de trabalho do réu não permite atos de discriminação (quer seja por raça, religião
ou classe social); ao contrário, o réu sempre primou pela seriedade e
respeitabilidade no trato com os seus usuários, transmitindo tal filosofia, por óbvio,
aos seus funcionários. E nem poderia ser diferente, já que o réu conta, em seus
quadros, com inúmeras pessoas de etnia negra.

O que se verifica, após a narração dos fatos, é


exatamente a adoção de comportamento, por parte dos funcionários e vigilantes,
estritamente dentro dos parâmetros normais, em cumprimento do dever legal.

Verifica-se, assim, que nenhum ilícito perpetrou o


réu.

Importa mencionar decisão do Terceiro Colégio


Recursal dos Juizados Especiais Cíveis da Capital do Estado de São Paulo, no
julgamento do Recurso nº 62, em 02/02/1999, em que era recorrente o ora
contestante e recorrido Benedito José dos Santos, proferida em processo análogo a
este, cuja ementa é a seguinte:

“Cliente de Banco que fica retido em porta automática


de entrada dotada de dispositivo detector de metais.
Não comprovação de que o travamento da porta se deu
por iniciativa do funcionário encarregado da segurança.
Indenização por danos morais indevida. Provimento do
recurso para esse fim.”

E, no corpo do acórdão, o Juiz Macedo Leme,


atuando como relator, bem explicita:
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“Ninguém, na verdade, se alegra em ser barrado na


porta de estabelecimentos bancários, mas compreende-
se a existência dela. O fator único desencadeante do
travamento, que é automático, é a existência de objeto
de metal em poder do cliente, não se podendo cogitar
de nenhum preconceito resultante de raça ou cor, (...),
até porque, como observou o recorrente em sua
contestação, conta em seu quadro funcional com
inúmeras pessoas de etnia negra (fl. 26). Aliás, é
comum avistar-se pessoas dos mais variados matizes no
interior de agências bancárias, o que significa que
transpuseram a porta de segurança porque não
portavam ou desapossaram-se momentaneamente de
seus pertences de metal.”

Não havendo a configuração de qualquer ato ilícito


por parte do réu, despiciendo cogitar-se sobre o elemento culpa. Só por isso é de
rigor julgar-se improcedente o feito.

2. - DA AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS À


OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR

Conhecidos são os elementos para que um ato


gere responsabilidade civil.

De início, a pretensão indenizatória pressupõe,


necessariamente, uma ação ou omissão ilícita, em regra, culposa, daquele que se
aponta como ofensor.

Além disso, mister comprovar-se a ocorrência de


um dano efetivo e o nexo causal entre esse dano e a conduta do agente.

Ausente um dos pressupostos não há que se falar


em obrigação de indenizar.

2.1. - DA INEXISTÊNCIA DE ATO ILÍCITO


IMPUTÁVEL AO RÉU.
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A responsabilidade civil, no direito brasileiro,


norteia-se pelo princípio da culpa, cuja noção tem fundamental importância na
caracterização do ato ilícito e sua responsabilização.

Daí resulta que não basta a prática do ato (ou a


omissão); é necessário que tal prática esteja revestida de ilicitude.

Importante, neste particular, a lição de Pontes de


Miranda , segundo a qual, “para que a indenização se haja de dar sem ter
1

havido agente culpável, é preciso que se tire do texto legal”. E


complementa (página 85) “que o simples cometimento de dano patrimonial
em bem de outrem não torna, de regra, responsável pelo dano, a pessoa
que o causou; pois é preciso existir determinado fundamento pessoal da
parte do autor, que justifique o ressarcimento.”

Na espécie, como já foi dito, não houve qualquer


ato ilícito imputável ao réu, o que, efetivamente, impede o acolhimento da
pretensão indenizatória.

Definitivamente, o fato de o episódio em questão


ter ocorrido no interior da agência do réu, por si só, não implica responsabilidade
objetiva de sua parte de reparar os danos alegados. Inexiste amparo legal a
embasar entendimento nesse sentido.

No sistema legal brasileiro, o princípio geral da


responsabilidade civil está fundado na culpa lato sensu, vale dizer, em erro de
conduta ou ofensa a uma regra determinada (art. 186 do novo ou art. 159 do
antigo Código Civil). A responsabilidade sem culpa só existe quando expressamente
prevista em lei, hipótese não corrente nos autos.

No lamentável episódio, é de se destacar que não


houve violação de qualquer norma legal por parte do réu. Tanto os seus
funcionários/gerentes quanto os vigilantes envolvidos não agiram, em hipótese
alguma, culposamente.

A. - DO FUNCIONAMENTO DA PORTA
GIRATÓRIA

1Tratado de Direito Privado - volume 53/82


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Inicialmente, cumpre esclarecer o funcionamento


da aludida porta de segurança e o procedimento que os administradores das
agências e os vigilantes devem observar em caso de travamento automático da
porta giratória.

Essas portas mantêm dispositivo de segurança que


bloqueia seu sistema de funcionamento quando detecta a existência de algum
metal portado por quem esteja, no momento, utilizando o acesso.

Dessa forma, se o funcionamento da porta for


bloqueado, o vigilante da agência, do lado de dentro, indaga ao usuário se ele está
portando algum metal e, caso positivo, que o(s) exiba ou o deposite em
compartimento apropriado imune a esse dispositivo, visível ao vigilante e hoje já
existente em quase todas as lojas bancárias.

Exibido o documento metálico e/ou feito o


depósito, o funcionamento da porta é desbloqueado e o usuário adentra sem
problemas na agência.

Persistindo o bloqueio, o vigilante deve indagar ao


usuário se está ele portando na roupa algum metal. Diante de uma resposta
positiva, o usuário decide pela sua exibição, ou pelo depósito no citado
compartimento ou no retorno posterior à agência, quando se desfizer daquele
impeditivo.

De se frisar que, ainda que fosse da vontade do


vigilante travar a porta giratória para algum cliente, isto seria impossível. A ele só é
permitido destravar a porta, jamais travá-la. Portanto, afastado qualquer tipo de
alegação de racismo ante o travamento automático da porta.

B. - DA NECESSIDADE DE INSTALAÇÃO DE
PORTA GIRATÓRIA

Hodiernamente, como é sabido por toda a


população, instalou-se na sociedade um clima de insegurança exacerbada. O
convívio social atual está eivado do sentimento de pavor por parte dos cidadãos
honestos e trabalhadores, ocasionado pela ação desenfreada de meliantes, que
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atacam em plena luz do dia, vitimando, muitas vezes fatalmente, aqueles que
ganham a vida com o suor de sua labuta.

No sistema bancário, a situação não apresenta


nenhuma atenuante. Dia após dia, as pessoas se deparam com o noticiário, tanto
escrito como televisivo, descrevendo as mais horrendas ocorrências em roubos a
bancos, os quais trazem não só amargos prejuízos às Instituições Financeiras,
como também gravosos riscos à integridade física de seus funcionários e clientes.

Dessa forma, com o objetivo de dificultar ações


criminosas, protegendo o patrimônio particular e a vida de funcionários e clientes, o
Banco Itaú S.A. viu-se impingido a desenvolver planos austeros de segurança em
suas agências. Uma das medidas adotadas foi a instalação de portas giratórias -
equipamentos opcionais notoriamente eficazes e, por isso, oficialmente
reconhecidos - que se travam automaticamente quando alguém tenta adentrar em
um estabelecimento bancário portando uma grande massa metálica entre seus
pertences, a qual poderia ser uma arma de fogo portada com finalidades espúrias.

De se mencionar que, em algumas cidades, a


instalação de porta de segurança é obrigatória, através de leis municipais que
determinam às instituições financeiras a instalação destas, sob pena de imposição
de pesadas multas e até de interdição do estabelecimento.

O procedimento de averiguação adotado pela


segurança das agências não tem o escopo de constranger os clientes, nem
tampouco as autoridades, mas tão somente a intenção de proteger os primeiros
dos percalços e das fatalidades que podem ser gerados por um assalto e ajudar os
segundos no combate ao crime organizado.

Observe-se que os acontecimentos têm-se dado de


forma tão caótica, que se tornaram freqüentes os saqueios das agências bancárias
até por indivíduos fardados como policiais militares, pois é comum, atualmente, a
compra indiscriminada da roupagem oficial das instituições policiais por qualquer
pessoa que assim desejar.

Assim sendo, não há falar-se em discriminação


(quer seja por raça, religião ou classe social), violação de direitos ou abuso de
autoridade por parte dos seguranças, quando do travamento automático da porta
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giratória, já que não existiu a vontade livre e consciente de constranger ninguém e


sim apenas a aplicação de normas de segurança - devidamente regulamentadas,
como se verá a seguir - que visam a proteger os clientes e funcionários das
agências, resguardar o numerário das Instituições Financeiras e auxiliar a Polícia e
a Justiça no combate e na prevenção dos roubos a Bancos - delitos violentíssimos
que vêm pressionando e amedrontando a sociedade.

C. - DA LEGALIDADE DO PROCEDIMENTO DE
AVERIGUAÇÃO

O próprio legislador federal lançou mão de leis


reguladoras do sistema de segurança bancária.

O principal diploma legislativo a respeito da matéria


é a Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983, que foi atualizada, devido à premência
dos acontecimentos, pelas Leis nº 8.863, de 29 de março de 1994, e 9.017, de 30
de março de 1995.

O artigo 1º da norma mencionada dispõe que:

“É vedado o funcionamento de qualquer


estabelecimento financeiro onde haja guarda de valores
ou movimentação de numerário, que não possua
sistema de segurança com parecer favorável à sua
aprovação, elaborado pelo Ministério da Justiça, na
forma desta Lei.”

Indo adiante, o art. 2º da referida lei determina


cabalmente:

“O sistema de segurança referido no artigo anterior


inclui pessoas adequadamente preparadas, assim
chamadas vigilantes; alarme capaz de permitir, com
segurança, comunicação entre o estabelecimento
financeiro e outra empresa da mesma instituição,
empresa de vigilância ou órgão policial mais próximo e,
pelo menos, mais um dos seguintes dispositivos:
I- equipamentos elétricos, eletrônicos e de filmagens
que possibilitem a identificação dos assaltantes;
9

II- artefatos que retardem a ação dos criminosos,


permitindo sua perseguição, identificação ou captura
e
III- cabina blindada com permanência ininterrupta
de vigilante durante o expediente para o público e
enquanto houver movimentação de numerário no
interior do estabelecimento.”

Regulamentando a Lei nº 7.102/83, o Decreto nº


89.056, de 24 de novembro de 1983, que, também em decorrência das pressões
exercidas pelas contínuas ações delituosas dos ladrões de banco, foi atualizado
pelo Decreto nº 1.592, de 10 de agosto de 1995.

O artigo 5º do Decreto acima mencionado


determina que:

“Vigilância ostensiva, para os efeitos deste


Regulamento, consiste em atividade exercida no interior
dos estabelecimentos e em transporte de valores, por
pessoas uniformizadas e adequadamente preparadas
para impedir ou inibir ação criminosa” (grifos do
contestante).

Dessa forma, pode-se depreender que os sistemas


de segurança instalados pelo Banco Itaú S.A., além de servirem aos propósitos de
dar maior proteção aos clientes, aos funcionários e ao numerário das agências,
prestam-se também para cumprir determinações legais, oriundas de legislação
federal, a qual, se não observada, vedaria o funcionamento dos estabelecimentos
bancários.

De acordo com esses preceitos, o artigo 1º da Lei


7.102, acima transcrito, é claro quando proíbe o funcionamento de
estabelecimentos bancários sem o sistema de segurança em consonância com o
entendimento do Ministério da justiça. Aliás, devido ao assoberbamento dos
trabalhos na Polícia Federal, ainda não foi possível levarem-se a efeito as
necessárias fiscalizações em todos os estabelecimentos bancários do País. Contudo,
nas agências fiscalizadas, o sistema de segurança composto de porta giratória com
travamento automático foi aprovado.
10

No que se refere à atuação dos vigilantes de


agências, são-lhes concedidos, por legislação federal, prerrogativas e deveres que
viabilizam a tentativa de manter a ordem interna e a segurança dos
estabelecimentos bancários, sendo que, nesses termos, cabem-lhes a incumbência
da perquirição do porquê a porta giratória travou automaticamente, já que, é
importante repisar, pode ter sido em decorrência da tentativa de algum meliante
adentrar na agência portando arma de fogo, com a intenção de roubar e a
assunção dos riscos de matar para consolidar o seu intento.

Nesse sentido, o reconhecimento oficial, pela


Polícia Federal, da porta giratória de segurança como item opcional eficaz para
prevenção de assaltos nas agências bancárias, está lastreado exatamente na
necessidade de controlar a entrada do público cliente ou usuário e de impedir o
acesso à agência aos criminosos.

Assim sendo, verifica-se que as ações


desenvolvidas pelos seguranças no episódio narrado estão em conformidade com a
Lei e Decretos Federais, que cuidam de regulamentar a proteção do sistema
financeiro nacional, limitando os riscos de roubos e de danos às pessoas que se
utilizam de seus serviços.

Destarte, tem-se que não houve abuso, em


nenhuma de sua modalidades, pois em momento algum a autora foi ameaçado em
sua integridade física ou moral, nem tampouco ficou constrito na porta de
segurança, já que o equipamento permanece aberto, para a volta do indivíduo
impedido de entrar pelo travamento automático da porta.

É importante ressaltar, mais uma vez: não houve


dolo, nem conduta tendente a constrangimento, mas sim apenas o
controle de fluxo de entrada da agência. Agiram os envolvidos com o único
intuito de preservar a segurança na agência bancária, sem qualquer intenção de
discriminar ou ofender a autora.

2.2. - DA AUSÊNCIA DE NEXO DE


CAUSALIDADE
11

Das considerações formuladas abstrai-se que, se


não há ilícito imputável ao réu, os eventuais danos reclamados não podem ter
como causa sua esfera de ação.

De fato, como observa ORLANDO GOMES:

“Indispensável é a conexão causal. Se o dano provém


de outra circunstância, ainda que pela atitude culposa
do agente tivesse que ocorrer, este não se torna
responsável, uma vez que não há a relação de causa e
efeito. Não basta, com efeito, que o dano pudesse
sobrevir por efeito da conduta do agente, mas é preciso
que se produza na realidade como conseqüência desta,
e não de outro acidente.” (Obrigações, p. 368).

Infere-se, pois, que, ainda que verdadeiras fossem


as alegações do autor, e tivesse ele experimentado o prejuízo moral aventado,
primordial seria o estabelecimento do nexo causal entre o alegado dano e a
conduta do réu e, ainda, para que surgisse a obrigação de indenizar, necessário
far-se-ia a prova do procedimento ilícito deste, que nem de longe logrou o autor
demonstrar.

Afastada a presença, na hipótese, de dois


requisitos exigidos pelo art. 186 do novo Código Civil, resta, então, tecer-se
considerações acerca do terceiro pressuposto, vale dizer, a comprovação dos danos
alegados.

2.3. - DA INEXISTÊNCIA E DA FALTA DE


COMPROVAÇÃO DOS DANOS ALEGADOS.

Sustenta o autor, sem nenhum fundamento, ter


passado por situação vergonhosa e humilhante perante inúmeras pessoas ao ser
barrado e discriminado na porta de segurança que dá acesso à agência do réu e
que, diante de tal constrangimento e desmoralização pública, teve lesada sua
honra, fato esse ensejador de dano moral.

In casu, o autor limitou-se a fazer alegações, mas


prova alguma fez quanto ao prejuízo experimentado.
12

José de Aguiar Dias (“Responsabilidade Civil em


Debate”, 1ª edição, Forense, pág. 159), ao discorrer sobre a necessidade da
comprovação do dano, aduz com brilhantismo:

“Em qualquer espécie de dano, cumpre ao prejudicado


a prova de sua ocorrência. Mesmo quando o dano
genérico se possa deduzir do fato atribuído ao réu, na
ação, ainda assim continua o autor obrigado a fazer
prova do dano específico.
Como assevera Mazeaud et Mazeaud (traité, vol. 2,
página 623), o prejudicado deve, na ação, provar o
dano, podendo deixar para a liquidação a fixação do seu
quantum. Não basta, porém, que o autor mostre que o
fato de que se queixa seja capaz de produzir dano. É
preciso que se prove o dano concreto, assim entendida
a realidade e não a simples potencialidade do dano que
experimentou ...”

E prossegue o ilustre jurista: “o dano é, dos


elementos necessários à configuração da responsabilidade civil, o que suscita
menos controvérsia. Com efeito, a unanimidade dos autores convém em que não
pode haver responsabilidade sem a existência de um dano, e é verdadeiro truísmo
sustentar esse princípio, porque, resultando a responsabilidade civil em obrigação
de ressarcir, logicamente não pode concretizar-se onde nada há que reparar” (“Da
Responsabilidade Civil”, 7ª ed., pág. 792).

Como sabido, no Direito Pátrio não se indenizam


danos potenciais, eventuais, supostos ou abstratos, sendo de rigor que o
prejudicado prove a efetividade e a extensão dos danos sofridos.

O sistema abraçado pelo vigente Código Civil, em


seu artigo 403, não alimenta dúvidas a respeito:

“Art. 403 - Ainda que a inexecução resulte de dolo


do devedor, as perdas e danos só incluem os
prejuízos efetivos e os lucros cessantes por
efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do
disposto na lei processual.” (grifos do réu)
13

E, ainda que de dano moral se tratasse, convém


lembrar que não é qualquer dano moral que é indenizável.

José Osório de Azevedo Júnior, ilustre


Desembargador do E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em trabalho
intitulado “O dano moral e sua avaliação” 2, enfatiza:

“Os aborrecimentos, percalços, pequenas


ofensas, não geram o dever de indenizar. O nobre
instituto não tem por objetivo amparar as
suscetibilidades exageradas e prestigiar os
chatos.
(...)
Por outras palavras, somente o dano moral
razoavelmente grave deve ser indenizado.” (pág.
11).

Logo, o dano, mesmo moral, tem de ser provado,


não havendo nenhuma razão jurídica para se estabelecer derrogações aos
princípios gerais probatórios e aos da responsabilidade civil.

Nesse sentido é a jurisprudência dominante,


inclusive do Superior Tribunal de Justiça:

“Para que haja pagamento da indenização pleiteada,


além da prova do dolo do agente, é necessário
comprovar a ocorrência de um dano patrimonial ou
moral” (RT 436/97, 433/88, 368/181, 458/20, 434/101;
RTJ-39/38, 41/844; RF 221/200)(grifos do contestante).

“Indenização - Responsabilidade Civil - Dano Moral -


Hipótese de absoluta falta de provas do prejuízo sofrido
- Verba Indevida - Recurso provido para esse fim.
2 - É de se excluir a indenização por danos morais, por
absoluta falta de provas do prejuízo sofrido.
(...)
Se o autor entende que o dano moral desaparece com
uma paga em dinheiro - aliás, na nossa opinião, este
não tem preço e jamais pode ser resgatado - cumpre-
lhe demonstrar no que consiste, fixando-lhe limites,
2 Revista do Advogado nº 49, dezembro/96, AASP
14

permitindo, inclusive, ao Juiz estabelecer um ‘quantum’


satisfatório à parte e exequível ao mesmo tempo; caso
contrário poder-se-ia requerer qualquer soma, por mais
absurda que fosse, o que, evidentemente, refoge aos
princípios mais elementares da Justiça e do Direito.”
(RJTJESP - LEX nº 110, pág. 169/170)

“Tangente ao apelo dos autores vem o inconformismo


despido de juridicidade. Pretendem a indenização pelos
danos morais sem, contudo, esclarecer sequer em que
consistiram esses danos ou a forma como poderiam ser
economicamente estimados. A indenização pelo praetim
doloris deve resultar de critérios objetivos, não
bastando meras alegações feitas de forma
absolutamente inconsistentes.” (1º TACSP, Ap. Sum.
309.803, 6ª C., j. 9.8.83, v.u., Rel. Minhoto Júnior)

De qualquer sorte, o autor não demonstrou os


supostos prejuízos sofridos e o dano apontado sequer veio aos autos com alguma
sustentação probatória.

Nessa esteira, nada há a indenizar.

III. DO QUANTUM INDENIZATÓRIO.

Pleiteia o autor o arbitramento da indenização que


entende devida no patamar de, pelo menos, 40 (quarenta) salários mínimos.

A doutrina tem prestigiado o entendimento de que,


para a formação de seu decisum, deve o magistrado levar em conta a situação
econômica, social e cultural da vítima e do lesionador, grau de culpa, divulgação do
fato e repercussão no meio social para, conjugando-os com os demais elementos
do processo e a orientação jurisprudencial, elaborar quantitativamente o valor da
condenação.

A despeito da inexistência de critérios uniformes


para a fixação do dano moral, há certa uniformidade na jurisprudência quanto à
razoabilidade das indenizações, em especial do E. Superior Tribunal de Justiça que,
mostrando-se cauteloso, reiteradamente tem afastado os ressarcimentos vultosos,
recomendando o arbitramento com moderação, independente da intensidade
15

da culpa ou do dano, com o fito de estimular perspectivas de obtenção de


vantagem fácil e imerecida.

São inúmeras as decisões a demonstrar a


necessidade de se parametrar os valores de indenização através de critérios que,
efetivamente, afastem a perspectiva de obtenção de lucro. Neste sentido:

“Indenização. Responsabilidade civil. Dano moral.


Protesto indevido de duplicata. Verba devida.
Condenação em 10 salários mínimos da data do
julgamento, corrigidos, e juros de mora. Aplicação
analógica do art. 51, inciso III, da Lei Federal 5.250, de
1967. Recurso provido para esse fim.” (Ap. Cível
188.786-1-SP, TJSP, 6ª Câmara, v. unânime, j.
01.07.93, Rel. Des. Costa Manso, RJTJ-LEX 146/118).

“Parece mais razoável, pois, servindo-se o Juízo da livre


apreciação, fixar o valor da indenização segundo o
critério sugerido pela própria ré, condenação no dobro
do valor do título, à luz do disposto no art. 1531 do CC,
eis que esse o critério, aliás em caso típico, de dano
moral (art. 1547, parágrafo único, do CC). E se terá por
satisfeita com isso a regra da moderação, acima
mencionada.” (Ap. 451022/3, 7ª C.C. - 1º TACSP,
04.02.92, Boletim da AASP nº 1792, p. 15).

“Nos termos do disposto no art. 1553 do CC, a


indenização será fixada por arbitramento, nada
obstando que ela seja feita pelo julgador desde logo,
com o que se obviará as imensas dificuldades nas fases
de liquidação e executória.
A III Conferência Nacional de Desembargadores do
Brasil, efetivada na Guanabara em dezembro de 1965,
firmou entre as suas conclusões: ‘2ª - que o
arbitramento de dano moral fosse apreciado ao inteiro
arbítrio do Juiz que, não obstante, em cada caso,
deveria atender à repercussão econômica dele, à prova
da dor e ao grau de dolo ou culpa do ofensor.
(...)
Ainda é de ter-se presente que o Anteprojeto do Código
de Obrigações de 1941 (Orozimbo Nonato, Hahnemann
16

Guimarães Philadelpho Azevedo) recomendava que a


reparação por dano moral deveria ser ‘moderadamente
arbitrada’. Essa moderação tem por finalidade evitar a
perspectiva de lucro fácil e generoso, enfim, do
locupletamento indevido.
Com base nesses parâmetros, arbitro o ‘quantum’
indenizatório em Cr$ 700.000,00 (setecentos mil
cruzeiros).”
(Resp 8768-SP, 4ª T - STJ, Rel. Ministro Barros
Monteiro, j. 18.02.92).

Frise-se que a quantia fixada no acórdão acima


mencionado (Cr$ 700.000,00) equivalia, à época, a 7,29 salários mínimos.

Destarte, se devida fosse a indenização, o que se


admite apenas ad argumentandum, esta deveria ser suficiente apenas para
restabelecer o status quo ante, em coerência aos princípios que norteiam a
obrigação de indenizar, que não tolera o enriquecimento sem causa.

Concluindo: em contraposição à pretensão


inicial, o réu apresenta critérios que, na eventualidade de condenação,
devem obrigatoriamente ser aplicados para a justa composição de
interesses.

IV. - DO PEDIDO

Diante de todo o exposto, aguarda-se a decretação


da improcedência da demanda, ante a inexistência de ato ilícito imputável ao réu,
da ausência da comprovação dos danos e falta de nexo causal.

Protesta-se, outrossim, pela produção das provas


admissíveis, notadamente o depoimento pessoal do autor, juntada de novos
documentos, expedição de ofícios e oitiva de testemunhas.

Termos em que
Pede deferimento.
São Gonçalo, 23 de maio de 2003
17

______________________
OAB/RJ

BJ 030200018098

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