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AO JUÍZO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE IMPERATRIZ/MA.

DIANA ROCHA AGUIAR, brasileira, portadora da carteira de Identidade nº


017240122001-4, SSP/MA, inscrita no CPF nº 033.318.173-48, residente e domiciliada
Rua 112, nº 276, Vila Ildemar, Cidade Açailândia-MA, CEP: 65930000, por meio de sua
procuradora e advogada que esta subscreve, procuração nos autos, que poderá
receber intimações no endereço indicado no rodapé da presente, vem
respeitosamente à presença de Vossa Excelência, promover

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS

Em face de NU PAGAMENTOS S.A, pessoa jurídica de direito privado,


inscrita no CNPJ n. 18.236.120/0001-58, com endereço na Rua Capote Valente, nº 39,
Pinheiros, São Paulo/SP, CEP 05409-000, na pessoa de seu representante legal, pelas
razões fáticas e jurídicas a seguir aduzidas:

1. DOS FATOS

A Autora deparou-se com anúncio exibido no aplicativo do Instagram, referente


à investimento em “mineração em cripto moedas”, motivo pelo qual entrou em
contato com a pessoa que, até então, acreditava ser investidor, e dela recebeu uma
chave pix ficou acordado que a assistida transferiria para o investidor o valor de
R$5.000,00 (cinco mil reais) em nome de Ingrid Fabrine T. Paulinho, chave pix
464.138.578-54, que o valor foi transferido da conta do banco bradesco s/a agência
0721 conta corrente 65141-9 conta em nome da autora, o valor a ser resgatado, seria
de R$11.000,00(onze mil reais) apóstranspassado um mes do suposto investimento.
E logo apos isso uma pessoa de nome Rafael, entrou em contato com a autora,
se passado por alguem da empresa de investimentos em cripto moedas e solicitou que
a Autora realizasse uma transferência entre sua conta Bradesco, para sua conta
NuBank no valor de R$520,77 (quinhentos e vinte reais e setenta e sete sentavos).
Ressalte-se que, quando contatou o número, a autora acreditou
veementemente na boa-fé da pessoa do outro lado da linha, já que acreditava ser um
empresario no ramo de cripto moedas.
Ocorre que, após já ter efetuado o pagamento via PIX para a conta do suposto
investidor, a assistida passou a viver um verdadeiro filme de terror. Pois pois descobriu
que tinha sido vitima de um golpe, e se ja não bastasse o prejuizo de R$5.000,00 (cinco
mil reais), o Golpista conseguiu acesso da sua conta NuBank e com isso fez um
empréstimo no valor de R$22.500,00 (vinte e dois mil e quinhentos reais, e logo após
isso realozou 03 (três) pix seguidos na conta favorecido Julio Cesar Freitas Da Costa:
primeira transferência no valor de R$23.020,00 (vinte e três mil e vinte reais) ás 13.54
a segunda transferência: R$2.000,00 (dois mil reais) ás 13:58 a terceira transferência
no valor de R$800,00 (oitocentos reais) as 14:00 horas, e ainda realizou um saque do
cartao de credito retirou o valor de R$2.000,00 (dois mil reais) e R$800,00 (oitocentos
reais) valor total do golpe, R$30.820,00 (trinta mil e oitocentos e vinte reais).
Após detectar o golpe a comunicante tentou contato com o perfil do Instagran,
porêm o mesmo foi inativado, descobriu que na verdade, a pessoa com quem ela
negociava no aplicativo Instagran teve a conta do Instagram hackeada e que, portanto,
a pessoa com quem entabulou o negócio, via Instagran, tratava-se de um(a) golpista.
Assim, ciente de que havia sido vítima de um golpe, a autora imediatamente
tentou bloquear a transação financeira entrando em contato com o banco requerido,
porém, a empresa informou que seria necessário registrar um boletim de ocorrência e
aguardar em média três dias úteis.
Todavia, após registrar o boletim de ocorrência (em anexo) e entrar em contato
por e-mail, a autora foi informada de que após realizar uma analise da solicitação não
seria possível reembolsar essas transferencias pois foram realizadas de um aparelho
confiável (em anexo).
Sendo assim, conforme os fatos narrados, percebe-se que houve flagrante falha
no serviço bancário do Nubank, que não realizou o bloqueio da operação, a despeito
das súplicas da consumidora (que seguiu todas as orientações fornecidas pela
empresa). Além do mais, é dever do Banco referido analisar melhor as operações
financeiras pois a Autora nunca fez emperstimo desse valor, nem tao pouco pix de
valores tão elevados e em curto espaço de tempo.
Portanto fica nitida a omissão do Banco requerido em relação aos apelos da
consumidora, para que fossem canceladas as operações fraudulentas em sua conta,
tanto o emprestimo no valor de R$22.500,00 (vinte e dois mil e quinhentos reais)
quanto os PIX de R$2.000,00 (dois mil reais) e R$800,00 (oitocentos reais). Pois os
prejuizos vão muito mais do que esse exorbitante valor de R$ 30.820,00 (trinta mil e
oitocentos e vinte reais) pois dessas operacões financeiras ainda incide júros
remuneratórios.
Diante o exposto, serve a presente ação para reparar os danos suportados pela
Autora, os quais poderiams ser minorados se o Banco réu adotasse os protocolos de
segurança e uma postura cooperativa.

2.FUNDAMENTOS JURÍDICOS

2.1– Da assistência judiciária

Inicialmente, a Requerente afirma ser hipossuficiente, não tendo condições de


arcar com custas processuais e honorários advocatícios sem prejuízo do seu próprio
sustento ou de sua família.

Requer-se, portanto, diante da declaração de hipossuficiência em anexo, que


lhe sejam concedidos os benefícios da Justiça Gratuita e a respectiva isenção do
pagamento das custas processuais e honorários advocatícios.

2.2– Da responsabilidade objetiva da instituição financeira pela falha na prestação


de serviços e fortuito interno – Súmula 479 do STJ
É pacífico na doutrina e na jurisprudência o entendimento de que os bancos
devem responder pelos riscos dos negócios firmados com seus clientes, resultando daí
que são eles responsáveis por eventuais desvios de recursos de seus consumidores,
tanto por equívoco ou falha no sistema de eletrônico da instituição, quanto por
desvios realizados por terceiros que violam criminosamente a segurança bancária.
Em outras palavras, tem-se reconhecido a responsabilidade dos bancos, sob o
fundamento de que esses fatos se inserem nos riscos da atividade bancária, tratando-
se, portanto, de um fortuito interno.
Nesse sentido, a propósito, é a Súmula 479 do Superior Tribunal de Justiça,
vazada nos seguintes termos: “As instituições financeiras respondem objetivamente
pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por
terceiros no âmbito de operações bancárias.”
Com efeito, a autora foi vítima de um golpe aplicado por terceiro, onde ao
receber indevidademente o PIX de R$ 5.000,00 ainda acessou a conta da Autora e
realizou emprestimo no valor de R$ 22.500,00 , realizando então 03 PIX um no valor de
R$23.020,00 (vinte e três mil e vinte reais) R$2.000,00 (dois mil reais) e R$800,00
(oitocentos reais), para conta de um “laranja” de nome...................
Ora, não é novidade que, com a criação do PIX, meio de pagamento
instantâneo criado pelo Banco Central, as fraudes aumentaram significativamente, em
razão, principalmente, da facilidade da transação, que não exige dados como nome
completo do beneficiado, CPF, número da agência e da conta etc.
Ocorre que, não obstante a facilidade deste tipo de operação bancária, fato é
que cabe aos bancos assegurar a segurança de todas as transações bancárias, haja
vista o dever de confiança essencial à relação entre consumidor e instituição
financeira, bem como criar mecanismos aptos a evitar tal tipo de golpe.
Todavia, tem-se observado que, cada vez mais, pessoas de má-fé conseguem,
de maneira rápida e fácil, burlar a proteção dos bancos, principalmente os digitais,
mediante abertura de contas para praticar golpes, impulsionados pela facilidade do PIX
e pelo vácuo na segurança interna das instituições financeiras.
Ora, se o réu, que deveria assegurar confiança nas transações que proporciona,
permite que uma conta seja aberta por criminosos com tanta facilidade e com o único
propósito de perpetrar golpes, não resta dúvida de que merece ser condenado a
ressarcir ao consumidor os prejuízos por ele sofridos, especialmente, se tiver sido
procurado pelo consumidor para conseguir o bloqueio do valor depositado na conta do
golpista, porém, nada fez para minorar o dano.
No presente caso, a autora fez tudo que lhe era razoavelmente possível (ligou
para o banco, registrou Boletim de Ocorrência e enviou por e-mail), ao passo que o
banco, em vez de realizar o bloqueio do valor preventivamente na conta do golpista,
preferiu adotar práticas burocráticas e que visam obstaculizar o ressarcimento do
dano.
Assim, consoante se observa, a responsabilidade do réu resulta da falha em
seus protocolos e mecanismos de segurança contra fraudes, tendo em vista que a
vítima nunca tinha realizado PIX de valores expressivos e em pouco espaço de tempo,
nem tão pouxo tinha conseguido realizar emprestimo na instiruição financeira em
questão. O que se insere em manifesta hipótese de fortuito interno.
Insta salientar que a doutrina faz distinção entre fortuito interno e fortuito
externo, conforme o acontecimento venha a se apresentar, ou não, ligado à
organização inerente à atividade da instituição financeira. Assim, se o evento possui
relação direta com a atividade prestada, deve-se classificá-la como caso de fortuito
interno, em que não se exime a instituição financeira pelo dano causado, atraindo para
si a responsabilidade objetiva, pois decorre da atividade que desenvolve.
Diante deste panorama, é dever dos bancos reforçar todos os seus mecanismos
de segurança e cuidado, de maneira que, tendo o requerido prestado um serviço
defeituoso, conforme é o caso, haja vista que a sua atuação e segurança se revelaram
falhas (fortuito interno), incide a sua responsabilidade objetiva, por se tratar de
prestador de serviço de natureza bancária e financeira.
Logo, como se espera do réu segurança na abertura de contas virtuais/digitais e
nas transações realizadas pela internet e aplicativos, o que não ocorreu no presente
caso, resultando em grande prejuízo à autora, resta evidenciada a responsabilidade
objetiva do banco requerido.
Em sentido similar, colacionam-se os seguintes julgados
RECURSO INOMINADO. RELAÇÃO DE CONSUMO.
FRAUDE. CLONAGEM DA LINHA DE TERCEIRO.
TRANSFERÊNCIA DE VALORES COMPROVADA.
FALHA NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. SENTENÇA
IMPROCEDENTE. A RECORRENTE REQUER A
PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS. PROCEDE EM PARTE
A IRRESIGNAÇÃO RECURSAL. A RECORRENTE
PROVA O FATO CONSTITUTIVO DO SEU DIREITO,
INTELIGÊNCIA DO ART. 373, I, DO CPC.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANOS MATERIAIS
COMPROVADOS NO IMPORTE DE R$ 980,00.
CONDUTA ABUSIVA CONFIGURADA. DANOS
MORAIS DEFERIDOS NO VALOR DE R$ 3.000,00.
FIXAÇÃO DE ACORDO COM OS PRINCÍPIOS DA
PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE.
SENTENÇA REFORMADA. RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO EM PARTE.
RELATÓRIO Dispensado o relatório, nos termos do
art. 46, da Lei nº 9.099/95. Trata-se de Recurso
Inominado interposto pela Acionante (Evento nº
54), contra a sentença de mérito (Evento nº 47),
que julgou IMPROCEDENTES os pedidos
formulados na exordial Devidamente intimados,
os Réus ofereceram contrarrazões (Eventos nºs 61
e 62). VOTO Presentes as condições de
admissibilidade do Recurso, uma vez que foi
interposto dentro do prazo legal e em face da
concessão da gratuidade judiciária, segundo
dispõe o artigo 42 e parágrafo 1º da Lei 9.099/95,
conheço do mesmo. (...) A Autora alega que foi
vítima de golpe aplicado através do aplicativo de
celular de mensagens instantâneas WhatsApp no
dia 27 de julho de 2020. Aduz que recebeu uma
mensagem em seu WhatsApp, vinda do celular de
sua irmã, (...), através do nº (71) 99672- 9425
gerenciado pela operadora de telefonia VIVO, que
havia sido clonado, pedindo para que fosse
depositado em uma conta de terceiro,
desconhecido da Autora, o valor de R$ 980,00
(novecentos e oitenta reais). Por não perceber que
se tratava de um golpe, e em razão da relação de
confiança que tem com a irmã, a Autora realizou a
transferência (TED) do montante solicitado, de sua
conta no Banco Bradesco para uma conta do
banco Nubank, de titularidade de (...), CPF
433.773.378-73, Agência 0001, CC 529025401,
Código 260. Que assim que descobriu que se
tratava de um golpe entrou em contato com o
seu banco para cancelar a transação, o que não
foi possível, por já ter se passado mais de 10
minutos. Assim, requer indenização por danos
materiais e morais. Em defesa, o NUBANK
sustenta preliminar de ilegitimidade passiva e
impossibilidade de inversão do ônus da prova. No
mérito, afirma que não cometeu ilícito, tendo a
Autora efetuado a transferência de maneira
deliberada a pessoa desconhecida. Em defesa, a
VIVO igualmente sustenta preliminar de
ilegitimidade passiva. No mérito, sustenta que a
conduta da Ré está limitada à prestação dos
serviços de telefonia móvel, fugindo à sua
ingerência qualquer ato ou fato relacionado à
utilização do aplicativo WhatsApp. A sentença
analisou as provas constantes dos autos e concluiu
pela improcedência do feito. Entendo que a
conduta dos Acionados é reprovável e constitui
falha na prestação dos serviços. Restou
demonstrado que houve falha na segurança dos
serviços prestados pelos Recorridos. Da análise
dos autos, se vislumbra clara falha na segurança
dos serviços das Rés, tendo em vista as
constantes informações e demandas recorrentes
referentes a clonagem de linha telefônica para
solicitação de valores por meio do aplicativo
WhatsApp, bem como omissão culposa do banco,
que permitiu a utilização de uma conta bancária
por terceiro para a prática do ilícito. Portanto,
ambas as empresas Acionadas respondem de
forma objetiva e solidária pelas falhas na
prestação de seus serviços, não podendo a
consumidora ficar à mercê dos riscos inerentes às
atividades por elas desenvolvidas. Nesses casos o
dano moral existe e independe de prova de culpa
do demandado, conforme jurisprudência aplicada
à espécie, que considera a existência de
responsabilidade objetiva, em face do risco do
empreendimento. Quanto ao valor a ser fixado,
embora seja difícil quantificar o dano moral,
predomina o entendimento de que deve ser fixado
observando-se os princípios da razoabilidade e
proporcionalidade, entretanto, não pode ser um
valor irrisório, vez que descaracterizaria o caráter
intimidatório da condenação, porquanto entendo
que o valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) é
suficiente à reparação do dano. Quanto ao dano
material, restou devidamente comprovado,
devendo as Rés procederem com a devolução da
quantia de R$ 980,00 (novecentos e oitenta reais),
na forma simples. Destarte, conclui-se que houve
falhas na prestação dos serviços e que merece
reforma a sentença. Em vista de tais
considerações, voto no sentido de CONHECER E
DAR PROVIMENTO PARCIAL ao recurso da Autora,
para condenar as Rés, solidariamente, ao
pagamento de indenização pelos danos morais
perseguidos, no valor de R$ 3.000,00 (três mil
reais), devidamente corrigido monetariamente a
partir do arbitramento (enunciado de Súmula 362
do STJ) e juros moratórios no patamar de 1% ao
mês a partir da citação, bem como ao pagamento,
a título de danos materiais, da importância de R$
980,00 (novecentos e oitenta reais), corrigido
monetariamente desde o desembolso e com a
incidência de juros de 1% ao mês desde a citação.
Deixo de condenar às custas processuais e
honorários advocatícios, mercê do provimento
parcial do recurso (art. 55, Lei nº 9.099/95).
Salvador, de de 2021. Juiz(a) Relator(a) 5ª TURMA
RECURSAL CÍVEL, CONSUMIDOR, TRÂNSITO E
CRIMINAL. PROCESSO Nº: 0111874-
74.2020.8.05.0001 RECORRENTE: (...) AVILA
RECORRIDOS: NUBANK E VIVO S A JUÍZO DE
ORIGEM: 18ª VSJE DO CONSUMIDOR
(VESPERTINO) SENTENÇA: JUÍZA MARIA ANGELICA
ALVES MATOS EMENTA RECURSO INOMINADO.
RELAÇÃO DE CONSUMO. FRAUDE. CLONAGEM DA
LINHA DE TERCEIRO. TRANSFERÊNCIA DE VALORES
COMPROVADA. FALHA NA PRESTAÇÃO DOS
SERVIÇOS. SENTENÇA IMPROCEDENTE. A
RECORRENTE REQUER A PROCEDÊNCIA DOS
PEDIDOS. PROCEDE EM PARTE A IRRESIGNAÇÃO
RECURSAL. A RECORRENTE PROVA O FATO
CONSTITUTIVO DO SEU DIREITO, INTELIGÊNCIA DO
ART. 373, I, DO CPC. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA. DANOS MATERIAIS COMPROVADOS NO
IMPORTE DE R$ 980,00. CONDUTA ABUSIVA
CONFIGURADA. DANOS MORAIS DEFERIDOS NO
VALOR DE R$ 3.000,00. FIXAÇÃO DE ACORDO COM
OS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA
RAZOABILIDADE. SENTENÇA REFORMADA.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO EM PARTE. (TJ-
BA, Classe: Recurso
Inominado, Número do Processo: 0111874-
74.2020.8.05.0001, Órgão julgador: QUINTA
TURMA RECURSAL, Relator(a): MARIAH MEIRELLES
DE FONSECA, Publicado em: 04/10/2021)

Apelação Cível. Ação Declaratória c.c. Indenização


por Danos Morais e Materiais c.c. Tutela de
Urgência. Sentença de parcial procedência dos
pedidos. Inconformismo da ré. Código de Defesa
do Consumidor. Aplicabilidade às instituições
financeiras. Súmula nº 297 do Colendo Superior
Tribunal de Justiça. Teoria Finalista Mitigada.
Responsabilidade objetiva da instituição financeira
pelos danos gerados por fortuito interno relativo a
fraudes e delitos praticados por terceiros no
âmbito de operações bancárias. Artigo 14 do
Código de Defesa do Consumidor. Súmula nº 479
do Colendo Superior Tribunal de Justiça.
Ocorrência de fraude derivada de um serviço
bancário defeituoso. Circunstância que impõe a
manutenção da condenação da requerida a
devolver o valor da transferência fraudulenta,
sem denunciação da lide ao beneficiário da
quantia, em virtude da vedação prevista no artigo
88 do Código de Defesa do Consumidor, utilizado
aqui por analogia. Forma de correção monetária e
de incidência de juros de mora mantida, por
ausência de expressa e fundamentada
irresignação recursal a respeito. (...) (TJSP;
Apelação Cível 1008868-76.2020.8.26.0477;
Relator (a): Hélio Nogueira; Órgão Julgador: 23ª
Câmara de Direito Privado; Foro de Praia Grande -
1ª Vara Cível; Data do Julgamento: 13/05/2021;
Data de Registro: 13/05/2021)

Subsumindo-se a hipótese legal ao fato objeto desta demanda consumerista,


em que cabia ao banco adotar medidas eficazes para evitar fraudes e danos aos
cidadãos no âmbito desse procedimento, o que, entretanto, não o fez, constata-se que
o requerido deixou de observar a segurança que a consumidora poderia esperar do
serviço bancário, devendo, em razão disso, responder pelos danos decorrentes da
falha na prestação do serviço, nos termos do que dispõe o artigo 14 do CDC, in verbis:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores
por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a
segurança que o consumidor dele pode esperar,
levando-se em consideração as circunstâncias
relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente
dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.

A rigor, do dispositivo transcrito, extrai-se a natureza objetiva da


responsabilidade civil dos fornecedores de serviços mal prestados ao consumidor, a
exemplo do que aconteceu com a requerente, que fora vítima de golpe e sofreu
grande prejuízo financeiro em razão de desídia do réu.
Cumpre afirmar que, em tal regime de responsabilidade, é despicienda a
investigação da culpa, pois a reparação do dano encontra fundamento tão somente no
dever de indenizar, que é corolário da proteção conferida pelo Código de Defesa do
Consumidor diante da sociedade de consumo e os riscos da atividade econômica.

Sobre o tema, veja-se a lição de ANTONIO HERMAN V. BENJAMIN1:

“Afastando-se, por conseguinte, do direito


tradicional, o Código dá um fundamento objetivo
ao dever de indenizar. Não mais importa se o
responsável legal agiu com culpa (imprudência,
negligência ou imperícia) ao colocar no mercado
produto ou serviço defeituoso.
Não é sequer relevante tenha ele sido o mais
cuidadoso possível. Não se trata, em absoluto, de

1
BENJAMIN, Antonio Herman V., BESSA, Leonardo Roscoe, MARQUES, Claudia
Lima. Manual de Direito do Consumidor. 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais. Pág. 163
mera presunção de culpa que o obrigado pode
ilidir provando que atuou com diligência. Ressalte-
se que tampouco ocorre mera inversão do ônus da
prova. A partir do Código – não custa repetir – o
réu será responsável mesmo que esteja apto a
provar que agiu com a melhor diligência e
perícia.” - Grifo nosso

Em outras palavras, no caso da prestação de serviços bancários ou financeiros,


o consumidor, para ser reparado pelo dano, não precisa provar a culpa do Banco ou de
seus prepostos, bastando tão somente demonstrar o dano sofrido e a sua vinculação
com o serviço realizado de maneira falha e indevida.
Assim, como a responsabilidade da empresa ré, que é equiparada à instituição
financeira, é de natureza objetiva devido à teoria do risco, ou seja, do exercício de
atividade econômica lucrativa, há necessariamente a aceitação dos riscos a ela
inerentes.
Por essas razões, não resta opção senão a de se postular a responsabilidade da
demandada pelos danos causados à consumidora.

2.3– Da adequada e efetiva reparação dos danos materiais e morais da parte


requerente

Demonstrada a conduta do requerida e o nexo causal, tem-se que a


responsabilidade pelos danos provocados implica na recomposição de todo o prejuízo
suportado pela parte autora, abrangendo, desse modo, os danos materiais e morais.
Vale mencionar ainda que, nos termos do art. 6º, inciso VI, do Código de Defesa
do Consumidor, constitui direito básico do consumidor “a efetiva prevenção e
reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos.”

2.3.1- Danos materiais


Nos termos do que reza o artigo 944 do Código Civil, “a indenização mede-se
pela extensão do dano”.
Conforme já exaustivamente relatado, a autora foi vítima de golpe, em relação
ao qual a instituição financeira merece ser responsabilizada, uma vez que não adotou
nenhuma providência para realizar todas as medidas de seguranças e evitar o prejuizo
de R$30.820,00 (trinta mil e oitocentos e vinte reais) depositado na conta do
estelionatário.
Assim, relativamente à reparação pelos danos materiais, postula-se o
ressarcimento da quantia de R$30.820,00 (trinta mil e oitocentos e vinte reais), valor
correspondente à transação financeira e emprestimo efetuado através do banco
requerido, resultante do golpe sofrido pela autora.
É importante ressaltar que a relação entre o banco e cliente se trata de relação
consumerista. Nesse sentido o STJ já formulou a súmula n° 297, verbis: “O Código de
Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”.
Tendo isso em vista, vale salientar que incumbe à instituição financeira garantir
a segurança dos seus clientes, seja em agências físicas ou no que se refere a transações
financeiras realizadas por meio de sites e aplicativos, conforme é o caso, de forma que
ela deve responder objetivamente por qualquer delito a ser praticado em seu domínio,
físico ou virtual.
Tal obrigação decorre da adoção da teoria do risco, uma vez que, considerando
que os serviços fornecidos pelos bancos são essencialmente financeiros, é esperado
que seja alvo de atividades criminosas, motivo pelo qual é um risco inerente de sua
atividade lucrativa, sendo sua responsabilidade controlá-la, e indenizar os seus clientes
por qualquer dano causado.
Em face de todos os argumentos aqui apresentados, percebe-se evidente a
responsabilidade da instituição financeira, aqui requerida, pelos danos materiais
suportados pela assistida.
Sendo assim, requer-se que esse juízo condene o requerido a ressarcir à autora
o valor de R$30.820,00 (trinta mil e oitocentos e vinte reais), a título de danos
materiais, em razão do fato delituoso sofrido pela consumidora.
2.3.2– Danos morais

Tocante ao dano moral sofrido pela autora, tem-se que a normatização


primária a respeito do assunto está contida na Constituição Federal, que a ele se refere
no artigo 5º, nos seguintes termos:

Art. 5º (omissis)

V – é assegurado o direito de resposta,


proporcional ao agravo, além da indenização por
dano material, moral ou à imagem;

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a


honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação;

O Código de Defesa do Consumidor, por sua vez, no artigo 6º, inciso VI, reza
que “são direitos básicos do consumidor: a efetiva prevenção e reparação de danos
patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos”.
Referente ao conceito de dano moral, a doutrina o compreende como sendo a
lesão a direitos da personalidade (decorrência do princípio da dignidade humana),
concretamente, merecedora de tutela, de modo que não caracteriza essa modalidade
de dano o mero aborrecimento ou dissabor comum das relações cotidianas.3
Como já mencionado, o CDC, em seu artigo 14, também dispõe que “o
fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação de danos causados aos consumidores, por defeitos relativos à prestação dos
serviços (...). ”
No caso vertente, o dano moral decorre do profundo abalo psicológico sofrido
pela autora, que, a despeito de ter adotado todas as providências que lhe cabia em
relação à contestação da operação fraudulenta, obteve do banco a negativa de
ressarcimento do valor, que, a rigor, deveria ter sido bloqueado preventivamente na
conta do estelionatário, no primeiro momento em que soube que se tratava de conta
utilizada para golpes.
Por outro lado, prevalece na doutrina e jurisprudência a orientação de ser
despicienda a prova do sofrimento íntimo da vítima do dano moral, de modo que basta
a prova do fato (dano in re ipsa).
Já em relação à natureza jurídica da reparação pelo dano moral, a doutrina e
jurisprudência conferem-lhe uma dupla finalidade: compensar o ofendido e punir o
ofensor. Portanto, além de atenuar o sofrimento da vítima, a reparação serve para
sancionar o autor da ofensa, de modo a desestimulá-lo a reiterar a conduta lesiva
(exemplary or punitive damages).
Nesse sentido, veja-se o magistério de CARLOS ROBERTO GONÇALVES2:

“Tem prevalecido, no entanto, o entendimento de


que a reparação pecuniária do dano moral tem
duplo caráter: compensatório para a vítima e
punitivo para o ofensor. Ao mesmo tempo que
serve de lenitivo, de consolo, de uma espécie de
compensação para atenuação do sofrimento
havido, atua como sanção ao lesante, como fator
de desestímulo, a fim de que não volte a praticar
atos lesivos à personalidade de outrem.”

Assim, na presente situação, tem-se como pertinente a indenização pelo dano


moral sofrido pela autora, de sorte que deva atender, como dito, a sua dupla
finalidade, tanto punitiva e inibidora da conduta ilícita do agente, quanto
compensatória, em relação ao dano causado.
Noutra banda, o valor da condenação a título de reparação por danos morais deve ser

2
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 16.ed. São Paulo: Saraiva,
2015. pág. 521
fixado a partir dos seguintes critérios, quais sejam, a extensão do dano, as condições
socioeconômicas e culturais dos envolvidos, as condições psicológicas das partes e o
grau de relevância da conduta do agente, de terceiro ou da vítima para a causação do
resultado.
Desse modo, postula-se que a reparação à autora, pelo dano moral sofrido,
deva corresponder a R$15.000,00(quinze mil reais), de modo que o valor servirá, a um
só tempo, para compensar toda a dor e sofrimento psíquico experimentados pela
assistida.

2.4- Da inversão do ônus da prova

O presente caso versa sobre típica relação de consumo, razão pela qual incidem
na espécie todas as normas que asseguram os direitos e interesses do consumidor,
parte hipossuficiente da relação jurídica estabelecida, com destaque para a que atribui
a inversão do ônus da prova a seu favor, quando o fundamento for verossímil,
conforme o art. 6º, inciso VIII, da Lei nº 8.078/90, verbis:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: (...)


VIII - a facilitação da defesa de seus direitos,
inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando, a critério do Juiz,
for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;

Com efeito, no Direito do Consumidor vigora a regra da distribuição dinâmica


do ônus da prova, pela qual pode o juiz, verificando a hipossuficiência do consumidor
ou a verossimilhança de suas alegações, inverter o encargo probandi (ope judici), para
o fim de corrigir possíveis desequilíbrios entre as partes, decorrentes de circunstâncias
fáticas, econômicas e jurídicas, que indicam situação de superioridade do fornecedor
em relação ao consumidor.
Corroborando essa técnica processual, o NCPC, no artigo 373, § 1º, dispõe que
nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à
impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput
ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o
ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em
que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi
atribuído.
No presente caso, além de verossímeis as alegações da requerente, porquanto
devidamente documentadas, verifica-se a hipossuficiência da parte autora, vulnerável
na forma da lei, em relação ao réu, que certamente possui maiores e necessários
conhecimentos técnicos para se desincumbir do ônus de provar que não falhou na
prestação do seu serviço.

3– PEDIDOS

Ante o exposto, requer-se a Vossa Excelência:

3.1 PRELIMINARMENTE- Que seja concedida em


favor da requerente TUTELA DE URGÊNCIA,
deferimento da antecipação dos efeitos da
tutela de urgência, no sentido de que haja a
suspensão dos descontos da requerida e se
abstenha de efetuar cobranças e/ou negativações
no nome da requerente em referência ao contrato
de n° 371739418-9 junto à segunda requerida, ora
BANCO NU Bank, mencionados na presente
demanda, ante às provas aqui colacionadas, sob
pena de multa diária não inferior à R$ 500,00
(quinhentos reais) em caso de descumprimento.

3.2- os benefícios da Justiça Gratuita, na forma do


artigo 5º, LXXIV, da Constituição Federal c/c bem
como nos artigos 98 e 99 do CPC, consoante
declaração anexa, com a isenção em favor da
demandante do pagamento de custas processuais
e honorários advocatícios, uma vez que não tem
condições de arcar com tais despesas sem prejuízo
próprio e de sua família;

3.3– a designação de audiência de tentativa de


conciliação, para a qual a autora deverá ser
intimada pessoalmente, nos termos do artigo 186,
§1º, do NCPC5, citando-se ainda a ré para, não
havendo autocomposição, oferecer contestação,
sob pena de revelia;

3.4– ao final, sejam julgados totalmente


procedentes os pedidos formulados, para:

a) condenar o réu ao pagamento de R$30.820,00


(trinta mil e oitocentos e vinte reais), a título
de danos materiais;
b) condenar o réu a reparar os danos morais
sofridos pela aurora, no valor de R$15.000,00
(quinze mil reais).
c) a condenação do requerido em custas e
honorários sucunbenciais nunca inferiores a
20% a serem depositados no BANCO DO
BRASIL Agência nº 3280-8, Conta Corrente nº
27.225-6.

Dá-se a o valor da causa de R$45.820,00 (quarenta e cinco mil reais e


oitocentos e vinte centavos). Protesta-se pela produção de todos os meios de
prova admitidos em direito.

Imperatriz-MA 17/01/2023

Aline Valença Assunção

OAB/MA 18.035

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