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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO

ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE MAGÉ – RJ

MORGANE SIQUEIRA, brasileira, casada, do lar, portadora da carteira de identidade


nº. 8085341058 SSPRS, inscrito no CPF sob o nº 105.591.157-09, nascida em
26/09/1983, residente na Rua Quissamã 8, Vila Inca-MAGÉ/RJ, CEP:25.907-524, por
seu advogado, constituído por meio de instrumento particular de procuração em anexo,
com escritório profissional na Rua na Rua João Valério, 262, Centro, Magé, RJ,
CEP:25.900-097 e endereço eletrônico: contato@ofrediedias.adv.br, onde recebe
intimações e notificações inerentes ao seu ofício, vem perante Vossa Excelência, propor a
presente:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C DANOS MORAIS

Em face de FACEBOOK SERVIÇOS ONLINE DO BRASIL LTDA, pessoa jurídica de


direito privado, CNPJ n.: 13.347.016/0001-17, Rua Leopoldo Couto de Magalhães Júnior, n.:
700, andar 1, 5, 6, 9, 14 e 15, Ed. Infinity, Itaim Bibi, São Paulo/SP, CEP: 04.542-000, telefone:
(11) 3073- 6800, e-mail: taxcompliancebr@fb.com, pelas razões de fato e de direito a seguir
aduzidas:

DA JUSTIÇA GRATUITA

A parte Autora não tem condições de arcar com as despesas do processo sem
prejuízo do próprio sustento e de sua família uma vez que são insuficientes seus
recursos financeiros para pagar todas as despesas processuais, inclusive o
recolhimento das custas iniciais.

Destarte, o Demandante ora formula pleito de gratuidade da justiça, o que faz


por declaração anexa, sob a égide do art. 99, § 3º e 4º do CPC. Certo é que existe
presunção legal quanto à hipossuficiência da autora, esperando assim que a mesma
seja deferida em seu favor.

DOS FATOS

BREVE RETROSPECTIVA DOS ACONTECIMENTOS

1. No dia 22 de março de 2022, a autora recebeu uma notificação do


INSTAGRAM, em seu aparelho celular, para autorizar um login, uma vez que o
dispositivo era diferente do usado pela mesma. O celular em questão era
identificado como LM-X430- INSTAGRAM-SÃO PAULO, SP, BRAZIL,
conforme documento em anexo.

2. Ocorre que nesse mesmo dia, mesmo sem a autorização da titular do perfil, o
acesso foi concedido e foi nesse momento que a autora percebeu que foi vítima
de uma ação de CRACKERS, que assumiram o perfil do Instagram
@morganesiqueira fazendo a manutenção de sua foto de perfil, de seus posts e
comentários. A conta em questão contava com quase 600 seguidores dentre
amigos e colegas, com suas fotos pessoais, de amigos e familiares.

3. Imediatamente, a autora entrou em contato com o réu por meio do link


disponibilizado da central de segurança, denunciado a invasão eletrônica e teve
várias trocas de e-mail com o suporte, para tentar excluir a conta, mas todos
foram infrutíferos. O INSTAGRAM mesmo depois de ter tomado conhecimento
do fato se manteve inverte sobre o ocorrido.

4. Por oportuno importa destacar, que já tem 4 meses que o perfil da autora segue
no comandado por terceiros, sendo usado para vendas de produtos e divulgação
de esquemas de pirâmides, com intuito de ludibriar os seguidores da autora,
aplicar golpes e consequentemente manchar a reputação da autora com esses
atos ilícitos. Que inclusive há relatos de pessoas próximas a autora que caíram
em um desses golpes, conforme demonstramos nos documentos em anexos.

5. A autora se utilizou de todos esforços possíveis na tentativa, que, sua conta


“Crackeada” fosse, realmente, excluída da rede social, contudo, sem sucesso.
Aliás, solicitou aos amigos que denunciasse a invasão do perfil sob a alegação
de “ Essa pessoa está se passando por alguém que conheço” ao réu, para que a
conta fosse derrubada diante das várias denúncias. Mas mesmo assim, a conta
continua ativa.

6. Dessa forma, não resta a autora outra saída, senão esta de caráter compulsório,
com vistas a compelir o réu a excluir a conta “crackeada” de seu perfil social,
com à utilização de seus dados pessoais, nome e sobrenome, assim como ser
condenado a lhe compensar pelos danos morais sofridos no valor de R$
10.000,00 (dez mil reais), com os juros legais de 1% (um por cento) e correção
monetária pelo INPC, a contar do evento danoso (22/03/2022).
.
DO DIREITO

DA RELAÇÃO DE CONSUMO

A hipótese, versa sobre direito do consumidor, porquanto a relação entre o


provedor e o usuário em virtude de o primeiro atuar como fornecedor, ao passo que o
segundo figura como consumidor, adquirindo ou utilizando o serviço prestado como
destinatário final.

Ademais, por sua vez, o objeto desta relação é a prestação de serviços a qual
ocorre através de um contrato de longa duração, que costuma incluir acesso aos sites da
rede, manutenção de páginas pessoais, transferência de arquivos e os serviços de
informação ou comunicação em tempo real, por meio de um bate papo (chat).

DA RESPONSABILIDADE DO PROVEDOR DE INTERNET

Tendo em vista de que a controvérsia, acerca da possibilidade de se reconhecer


a responsabilidade do réu pela invasão de terceiros “Crackers” ao perfil social da autora,
da rede Instagram: @ morganesiqueira, com quase 600 (seiscentos) seguidores, dentre
amigos, familiares, com os dados pessoais, fotografias, posts e comentários e, que,
imediatamente, entrou em contato com o réu por meio do link disponibilizado da central
de segurança, denunciado a invasão eletrônica, mas, que, contudo, o provedor nada fez
para exclusão de seu perfil, permanecendo os criminosos, se utilizando de seus dados
pessoais e de seu nome, sem o réu nada fazer.

Assim, tem-se que à análise do caso concreto, aplicam-se as disposições da Lei


12.965/14 (Marco Civil da Internet), dos termos e condições disponibilizados pelo
FACEBOOK e do CDC. Em relação aos aspectos legais que envolvem a ação,
oportuno, observar de que o Marco Civil da Internet, estabelece princípios, garantias,
direitos e deveres para o uso da internet no Brasil, além de determinar as diretrizes para
atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em relação à
matéria, tendo como fundamento respeito à liberdade de expressão, comunicação e
manifestação do pensamento, na forma dos arts. 2º, 3º, inciso I, 4º, inciso II, e 8º, sem se
olvidar da proteção à intimidade e à privacidade, resguardando eventual indenização
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação, nos termos do art. 3º, inciso II,
7º, inciso I e 8º, da referida lei de regência.
Esclarece-se, ainda, de que o ora réu se enquadra como provedor de acesso e de
conteúdo, nos termos Lei nº 12.965/14, podendo-se defini-lo como Provedor de
Aplicação de Internet (PAI).

No caso em análise, verifica-se ser incontroverso, o fato de que a conta da


autora foi de fato apropriada por terceiros, o que pode ser facilmente provado pelas
provas inclusa aos autos e, que, a autora tentou por diversos meios excluir suas contas
de perfil “CRACKEADO”, todavia, sem sucesso.

Ocorre, no entanto, que é de conhecimento público e notório, na forma do art.


374, inciso I, do CPC, que os criminosos utilizando de moderna tecnologia são capazes
de invadir os sistemas digitais, clonando contas, descobrindo senhas, assim como dados
pessoais dos consumidores, a fim de lhes aplicar golpes, ou ter acesso a dados dos
usuários, como o objeto desta demanda.

Com efeito, de acordo com o art. 14, § 1.º da Lei n.º 8.078/90 o serviço
prestado pelo réu sem dúvidas é defeituoso, pois não fornece a segurança que dele se
pode esperar, sobretudo, se considerar o modo de seu fornecimento, o qual não permite
a certeza da autoria pelo acesso de terceiros à conta do Instagram registrada em nome da
autora, tampouco disponibiliza a seus usuários, uma central de telefônica de segurança,
assim como o fazem outros provedores, que, posse de alguma forma auxiliar seus
clientes.

Por outro lado, o réu com a finalidade de auferir lucros, implantou um sistema
eletrônico, ou seja, simplesmente senhas, para manutenção da conta do Instagram, sem a
devida segurança, já que não impossibilitou a ação de terceiros fraudadores que
usurparam o acesso da conta da autora. Fato é que o réu age de forma negligente ao
deixar de manter um sistema que impeça a invasão por “crackers ”, como ocorreu no
caso em apreço.
Além da falta de investimentos para criação de mecanismos que sejam mais
seguros para seus usuários, a empresa ré age com inércia quando, ao ser contactada,
não o faz nada, permitindo que a autora há cerca de 4 (quatro) mês está com seu perfil
ativo agora duplicado com seus dados pessoais expostos a mira de criminosos. Trata-
se de verdadeira falha na prestação dos serviços, na forma do art. 14, §1º, do CDC.
Desse modo, tem-se de que o réu não observou o ônus que lhe é imposto pela
lei, restando configurada não apenas a falha na prestação de seus serviços, traduzido na
obrigação de fazer, do art. 84 do CDC, de remover a conta: @morganesiqueira, bem
como remanescendo o dever de indenizar, na forma do art. 6º, inciso VI, do CDC.
A rigor, apurada a responsabilidade do réu pelos transtornos suportados pela
autora, deve ser reparada a título de danos morais, porquanto não remanescem dúvidas
de que a falha na prestação dos serviços, caracterizada pela falha de segurança dos
dados pessoais da autora, há cerca de 4 (quatro) mês, sem o réu nada fazer, figura dano
passível de indenização, não apenas por sua desídia, mas também pelo atraso
injustificável do réu em remover os perfis “crackers”, traduzido na angustia e no
desconforto espiritual de sozinho, sem qualquer aparato técnico, ter que se defender de
criminosos inescrupulosos, o que denota o descaso e a negligência da empresa, com a
segurança das informações de seus consumidores, impondo a esses um sentimento de
frustração, intranquilidade e angústia.

DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Demonstrada a relação de consumo, resta consubstanciada a configuração da


necessária inversão do ônus da prova, pelo que reza o parágrafo 3º do artigo 14 do
Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista que a narrativa dos fatos encontra
respaldo nos documentos anexados, que demonstram a verossimilhança do pedido.

Trata-se da materialização exata do Princípio da Isonomia, segundo o qual,


deve-se tratar os iguais como iguais e os desiguais na medida de sua desigualdade.
Assim, diante da inequívoca e presumida hipossuficiência, uma vez que disputa
a lide com uma empresa de grande porte, torna-se indisponível a concessão do direito à
inversão do ônus da prova, que desde já requer.

DO DANO MATERIAL

A propósito, o sofrimento e a angústia, decorrente da usurpação de sua conta


na rede social por terceiros, prejudicando sua imagem em seu meio social em que vive a
frente de amigos, colegas e de familiares, é evidente, sendo passível de violação dos
direitos da personalidade, revelando-se suficientes para imputar ao réu o dever de
indenizar o dano moral causado. Restando, assim, patentes a conduta ilícita e o nexo de
causalidade, exsurge obrigação de indenizar por danos morais sofridos, deve o réu ser
condenado a pagar a autora o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), com juros legais de
1% (um por cento) e correção monetária pelo INPC, a contar do evento danoso
(08/07/2021).

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, o autor solicita que se digne Vossa Excelência:

a) Seja designada a de audiência de conciliação, por meio de


videoconferência na forma do art. 22, parágrafo segundo, da Lei n.:
9.099/95;
b) Seja o réu regularmente citado, para, apresentar defesa, no prazo legal,
sob pena de responder pelos efeitos da revelia;

c) Seja o réu compelido a fazer, a remoção da conta do Instagram:


@morganesiqueira, sob pena de multa diária de R$ 3.000,00 (dez mil
reais) no caso de descumprimento da ordem judicial, na forma do art. 84
do CDC;

d) Seja o réu condenado a pagar ao autor o valor certo de R$ 10.000,00


(dez mil reais), com juros legais de 1% (um por cento) e correção
monetária pelo INPC, a contar do evento danoso (08/07/2021), a titulo
de danos morais, na forma do art. 6º, inciso VI, do CDC;

e) Protesta a autora provar o alegado por os meios de provas permitidos em


Direito, em especial a prova documental em anexo e pela inversão do
ônus da prova, na forma do art. 6º, inciso VIII, do CDC; e

Dá a causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil


reais).

Termos em que,
Pede deferimento.

Magé, 25 de julho de 2022

PEDRO OFREDI GONÇALVES DIAS


OABRJ Nº 240754

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