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ADVOCACIA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CÍVEL DA


COMARCA DE RIBEIRÃO PRETO/SP.

[ Formulou-se pedido de antecipada da tutela ]

Intermediado por seu mandatário ao final firmado –


instrumento procuratório anexo – causídico inscrito na Ordem dos Advogados do
Brasil, Seção do ____, sob o nº. _______, com seu escritório profissional
consignado no timbre desta, onde, em atendimento à diretriz do art. 39, inciso I, do
Código Buzaid, indica-o para as intimações necessárias, comparece, com o devido
respeito à presença de Vossa Excelência, _________, casado, maior, engenheiro
civil, inscrito no CPF(MF) sob o nº. ___________, residente e domiciliado na Rua
_____, nº. ___ – apto. ___ – ______, para ajuizar, com fulcro no art. 148, 166, 171,
186, 927, todos do Código Civil Brasileiro; Art. 14 do Código de Defesa do
Consumidor c/c Art. 5º, incisos V e X, da Carta Política, a presente

AÇÃO ANULATÓRIA
c/c
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO

contra __________, estabelecida na Av. _____, nº. _____ – São Paulo(SP), em


razão das justificativas de ordem fática e de direito, abaixo delineadas.

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I – SÍNTESE FÁTICA

No dia 00 de setembro de 0000, aproximadamente às


22:30h, o Autor e sua esposa foram alvo de assalto. Tal fato ocorrera nas
proximidades do Shopping Xista, em Fortaleza(CE), precisamente na Av. das Xistas.
Na oportunidade os meliantes conseguiram subtrair das vítimas( inclusive do ora
Promovente)
Promovente) toda documentação pessoal, as quais encontrava-se em uma bolsa,
inclusive talonários de cheques e cartões crédito, além da quantia de R$ 100,00(cem
reais). O Autor, no dia seguinte, dirigiu-se a delegacia de polícia da qual
correspondia a circunscrição do delito, e, na oportunidade, fizera um Boletim de
Ocorrência(BO), o qual ora acostamos. (doc.
(doc. 01)
01)

O Promovente, de outro lado, já devido ao roubo acima


descrito, fizera, novamente,
novamente, Boletim de Ocorrência, desta feita abordando fatos que
davam nítidas evidências de que seus documentos, antes subtraídos, estavam
sendo usados indevidamente por terceiros.
terceiros. Relatou, pois, na ocasião, na data de
00 de dezembro próximo passado, perante a Delegacia de Defraudações e
Falsificações de Fortaleza(CE), que recebera em sua residência correspondência do
Banco Xista S/A, informando-lhe de uma pendência financeira no importe R$
5.350,00 (cinco mil, trezentos e cinquenta reais), o que ora trazemos à baila. ( doc.
02)
02)

Foi com extremada preocupação e surpresa que o


Postulante recebera a dita notícia, sobretudo porquanto o mesmo nunca tivera e
nem tem qualquer vínculo com a instituição financeira acima citada.
citada.

Passado uma semana do episódio, acima narrado, o Autor,


ao tentar proceder a renovação do cadastro da empresa da qual é sócio, recebera
informação que seu CPF encontrava-se com restrições no SPC, CCF, SERASA,
CENTRAL DE RISCO,
RISCO, o que se comprova pela consulta aqui junta. (doc.
(doc. 03)
03)

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Percebe-se, às claras, que sua documentação, como dito,
está sendo usada para prática de delitos diversos, inclusive emissão de cheques
sem provisão de fundos, o que poderá ocasionar-lhe, inclusive, possível
responsabilização por crime de estelionato.
estelionato.

Devemos ressaltar que grande parte da prática delituosa


está sendo perpetrada na Cidade Manaus (AM), o que se comprova, sobretudo,
pelas inscrições nos órgãos de restrições.

Cabia à Promovida verificar a correção da pessoa que


habilitou-se a realizar negócio jurídico com as mesmas, através de
documentos adulterados. Portanto, Excelência, se este fato ocorrera a realização
de pacto indevido, a mesma agiu com auto grau de negligência e culpa, porquanto
permitiram que esse desiderato se concretizasse.

II. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

A Ré deixou de cumprir o que determina a Resolução nº.


2025, de 24/11/1993 do Banco Central do Brasil , alterada parcialmente pela
Resolução 2747/2000, do Bacen,
Bacen, com relação à confirmação dos dados cadastrais,
antes de conceder qualquer crédito e/ou conceder talonários de cheques.

Resolução 2025/1993
( ... )
Art. 3º - Art. 3º As informações constantes da ficha-proposta, bem como os
elementos de identificação e localização do proponente, devem ser conferidos à
vista de documentação competente, observada a responsabilidade da instituição
pela verificação acerca da exatidão das informações prestadas.

( ... )

Art. 6º - É vedado o fornecido de talonários de cheques ao depositante enquanto não


verificadas as informações constantes da ficha-proposta ou quando, a qualquer

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tempo, forem constatadas irregularidades nos dados de identificação do depositante
ou de seu procurador.”

Ademais, tal comportamento, pertinente à instituição


financeira ora ré, também é tido como ilícito pela Lei Federal nº. 8.383, de
31/12/93,
31/12/93, a qual trata da legislação do imposto de renda.

LEI nº. 8.383, de 30/12/1991


( ... )
Art. 64 – Responderão como co-autores de crime de falsidade o gerente e o
administrador de instituição financeira ou assemelhadas que concorrerem para que
seja aberta conta ou movimentados recursos sob nome:
I – falso;
II – de pessoa física ou de pessoa jurídica inexistente;
III – de pessoa jurídica liquidada de fato ou sem representação regular.

Se outra pessoa utilizou o nome e documento do Autor,


passando a receber crédito e utilizar-se de talonário fornecidos pelas instituições,
somente a estas é imputável a responsabilidade, pois que apenas elas poderiam se
cercar dos cuidados necessários à realização do contrato e conseqüente concessão
de crédito.

Ademais, as instituições financeiras são sabedoras que tal


fraude é comum e, ainda mais por esta razão, deveriam redobrar os cuidados na
realização dos contratos, certificando-se de que as pessoas interessadas não
estejam praticando atos ilícitos, que possam prejudicar terceiros de boa-fé, como no
caso.

Nem se alegue, ser legítimo o direito da requerida da


inclusão no cadastro ou cobrança da dívida, pois não foi o Autor quem se utilizou
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dos cheques e do crédito, mas terceira pessoa usando seu nome, sendo que antes
deste fato surge a mencionada culpa dos bancos em permitirem que outra pessoa
utilizasse de artifício ardiloso.

Nesse ínterim, deixando estas de aplicar os cuidados


necessários para se evitar o previsível mal, fica descartada a invocação de caso
fortuito ou de força maior, prevalecendo o dever de indenização do art. 186 do
Código Civil.
Civil.

Convém trazer à baila julgados que norteiam-se o


entendimento acima, qual seja, a responsabilidade civil da instituição financeira que,
inadvertidamente, sem os cuidados necessários, deixa que infratores contraiam
empréstimo em nome de terceiro.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.


PRELIMINAR. FALTA DE PRESSUPOSTO DE ADMISSIBILIDADE.
INOCORRÊNCIA. MÉRITO. ABERTURA FRAUDULENTA DE CONTA-BANCÁRIA.
RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. RISCO INERENTE À
ATIVIDADE. DANO MORAL CONFIGURADO. RESTRIÇÃO CREDITÍCIA.
QUANTUM INDENIZATÓRIO. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. APELO
IMPROVIDO.
A mera reiteração de argumentos anteriores, só por si, não viola o princípio da
dialeticidade, salvo se deixar de guardar pertinência com os fundamentos da
sentença objurgada. Por força do risco da atividade, o apelante tem o dever de
analisar os documentos apresentados com cautela e conferir, adequadamente, a
procedência e veracidade dos dados cadastrais, responsabilizando-se civilmente
pela negligência de abertura de “conta fantasma”, praticada por terceiro.
Comprovada a conduta ilícita pela restrição creditícia do nome do apelado por débito
inexistente, o dano moral mostra-se devido, cuja quantia deve ser arbitrada com
base no princípio da proporcionalidade. (TJMT
(TJMT - APL 112191/2012; Quinta Câmara
Cível; Rel. Des. Marcos José Martins de Siqueira; Julg. 24/04/2013; DJMT
17/05/2013; Pág. 26)

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AÇÃO INDENIZATÓRIA.
Contrato de abertura de conta corrente celebrado por terceiro desconhecido
utilizando-se dos dados do autor Inscrição indevida dos dados da vítima em
cadastros de proteção ao crédito. DANO MORAL Cabível a condenação por danos
morais decorrente de anotação indevida em cadastro de proteção ao crédito
Anotações anteriores também reconhecidas ilegítimas Inaplicabilidade da Súmula nº
385, do STJ. QUANTUM INDENIZATÓRIO Devedores solidários Valor da
condenação que concretamente corresponde a um sete avos do valor da
condenação. Valor arbitrado em conformidade com os princípios da razoabilidade e
da proporcionalidade. RESPONSABILIDADE CIVIL Ocorrência de fraude por
fragilidade do sistema bancário Responsabilidade da instituição financeira
decorrente do risco do negócio Indenização devida Recursos desprovidos. (TJSP
(TJSP -
APL 0005190-69.2009.8.26.0408; Ac. 6684704; Ourinhos; Décima Câmara de
Direito Privado; Rel. Des. João Batista Vilhena; Julg. 23/04/2013; DJESP
17/05/2013)

DUPLA. APELAÇÃO. DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE DÉBITO C/C DANOS


MORAIS. DOCUMENTOS FRAUDULENTOS. NEGATIVAÇÃO INDEVIDA.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ÔNUS DA PROVA. DANO MORAL.
QUANTUM. MAJORAÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
1. Pacífico o entendimento de que a abertura de conta corrente por terceiro com a
utilização de documentos falsificados a ensejar a negativação indevida do nome do
consumidor, não afasta o direito deste à reparação por danos morais admitida a
hipótese de que tal procedimento caracteriza ato ilícito que ocasiona vexame e
angústia à pessoa do lesado, a independer da prova do prejuízo que decorre do
próprio fato (in re ipsa). 2. Tratando-se de relação de consumo a responsabilidade
do fornecedor é de natureza objetiva nos termos do art. 14, caput do CDC,
prescindível a discussão quanto a existência de culpa. 3. Comprovado que o valor
fixado na sentença a título de dano extrapatrimonial está aquém do quantum devido,
posto em dissenso com os princípios da razoabilidade e proporcionalidade,
imperativa sua majoração. 4. Concorde com as diretrizes estabelecidas no art. 20,
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§3º do CPC, não está a merecer reparo a honorária profissional arbitrada à guisa de
sucumbência em 10% sobre o valor da condenação. Apelações cíveis conhecidas.
Primeiro recurso provido. Segundo, desprovido. (TJGO
(TJGO - AC 0244703-
86.2011.8.09.0174; Terceira Câmara Cível; Rel. Des. Stenka Isaac Neto; DJGO
14/05/2013)

APELAÇÃO CÍVEL (1) E (2). RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÍVIDA. SENTENÇA QUE JULGOU
PROCEDENTE O PEDIDO INICIAL. INCLUSÃO DO NOME DA AUTORA EM
ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. INSURGÊNCIA CONTRA
CONDENAÇÃO DA EMPRESA REQUERIDA AOS DANOS MORAIS CAUSADOS.
INEXISTÊNCIA DE DÉBITOS EM NOME DA AUTORA. DOCUMENTOS
UTILIZADOS NA ABERTURA DA CONTA. FRAUDE. ATO ILÍCITO
CONFIGURADO. DANOS MORAIS. CONFIGURADOS. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. PEDIDO DE MAJORAÇÃO. CABIMENTO. JUROS DE MORA.
CORREÇÃO, EX OFFICIO. SÚMULA Nº 54 DO STJ. TERMO INICIAL. EVENTO
DANOSO. REFORMA DA SENTENÇA A QUO. RECURSO DE APELAÇÃO (1)
CONHECIDO E NÃO PROVIDO. RECURSO DE APELAÇÃO (2) CONHECIDO E
PROVIDO.
1. A inscrição indevida do nome da autora em cadastro de inadimplentes gera o
dever de indenizar, ainda que o contrato tenha sido firmado por terceiro, que,
mediante fraude, fez uso dos documentos da autora. 2. A inscrição indevida em
cadastros restritivos de crédito dá azo à indenização por danos morais,
independente da prova do dano. O abalo é puramente moral, e decorre apenas do
agravo, dele se presumindo. (tjpr, acórdão nº 6547, 16ª Câmara Cível, Rel. Des.
Paulo cezar bellio, j. 18/07/2007) 3. A fixação do valor de indenização por dano
moral se orienta pelos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade e deve se
harmonizar com o necessário equilíbrio entre o dano e a reparação, sendo justa a
majoração do valor arbitrado em sentença. (TJPR
(TJPR - ApCiv 0957501-3; Curitiba; Nona
Câmara Cível; Rel. Des. Dartagnan Serpa Sa; DJPR 29/04/2013; Pág. 144)

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Não é preciso delongas, para avistar o prejuízo moral que a
conduta atípica da Promovida trouxe ao Autor.

O Promovente, pessoa de boa formação, engenheiro e


cotista de sociedade empresária, de ótima reputação, pagador de seus haveres
sempre com merecido desvelo, nunca tendo, inclusive, episódio de negativação em
seu historio financeiro, jamais poderia passar por tamanho sofrimento.

Em permitir que terceiro viesse a formalizar pacto em nome


da Autora, cominando na inserção do nome desta no rol de inadimplentes, a
Requerida agiu abusando do direito de prestar as informações de seu banco de
dados, merecendo, neste ínterim, a devida reprimenda condenatória judicial. Trata-
se, dessarte, de ilícito objetivo, aferível independentemente de dolo ou culpa.

No plano do direito civil, para a configuração do dever de


indenizar, segundo as lições de Caio Mário da Silva Pereira, faz-se necessário a
concorrência dos seguintes fatores:

“ a) em primeiro lugar, a verificação de uma conduta antijurídica, que abrange


comportamento contrário a direito, por comissão ou por omissão, sem necessidade
de indagar se houve ou não o propósito de malfazer; b) em segundo lugar, a
existência de um dano, tomada a expressão no sentido de lesão a um bem jurídico,
seja este de ordem material ou imaterial, de natureza patrimonial ou não patrimonial;
c) e em terceiro lugar, o estabelecimento de um nexo de causalidade entre um e
outro, de forma a precisar-se que o dano decorre da conduta antijurídica, ou, em
termos negativos, que sem a verificação do comportamento contrário a direito não
teria havido o atentado ao bem jurídico.”(In, Instituições de Direito Civil. Rio de
Janeiro: Forense, 2004, Vol. I. Pág. 661).

A propósito reza a Legislação Substantiva Civil que:

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CÓDIGO CIVIL

Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
viola direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito. “

Ademais, aplicável ao caso sub examine a doutrina do “risco


criado”(responsabilidade objetiva), que está posta no Código Civil, que assim prevê:

CÓDIGO CIVIL

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.

Parágrafo único - Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de


culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.

Neste contexto, cumpre-nos evidenciar alguns julgados:

DIREITO DO CONSUMIDOR. COBRANÇA DE CRÉDITOS REALIZADA DE


FORMA ABUSIVA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. TEORIA DO RISCO DO
NEGÓCIO. DANO MORAL CONFIGURADO. REDUÇÃO DO QUANTUM
INDENIZATÓRIO NEGADA. RECURSO IMPROVIDO.
Trata-se de recurso interposto contra a r. sentença que julgou parcialmente
procedentes os pedidos iniciais, a fim de condenar os réu ao pagamento do valor de
R$8.000,00 (oito mil reais), a título de danos morais. O d. Juízo de Primeiro Grau
entendeu que ""a conduta aqui demonstrada fere a dignidade da pessoa humana e
deve ser rechaçada, posto que o abalo moral, a humilhação e o constrangimento
restaram patenteados. Neste caso comprovado a pratica do ato ilícito e indene de
dúvida e dano moral outro caminho não resta senão trilhar pela procedência do
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pedido indenizatório"". O recorrente, em síntese, alega a inexistência de ato ilícito e
de danos morais, bem como se insurge contra o valor fixado para a reparação. A
controvérsia deve ser solucionada sob o prisma do sistema jurídico autônomo
instituído pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/1990), que por sua
vez regulamenta o direito fundamental de proteção do consumidor (art. 5º, XXXII, da
Constituição Federal). A teoria do risco do negócio ou atividade é a base da
responsabilidade objetiva do Código de Defesa do Consumidor, a qual harmoniza-se
com o sistema de produção e consumo em massa, protegendo a parte mais frágil da
relação jurídica. Nos termos do art. 14, § 3º, do Código de Defesa do Consumidor, o
ônus da prova, em caso de causa excludente de ilicitude, é do
fornecedor/recorrente, o qual não demonstrou haver qualquer causa excludente da
responsabilização, capaz de romper com o nexo de causalidade entre suas
condutas e o dano experimentado pela consumidora. Ainda assim, os documentos
trazidos aos autos e as demais provas produzidas corroboram as alegações da
recorrida. Nos Juizados Especiais, o juiz dirigirá o processo com liberdade para
apreciar as provas produzidas e para dar especial valor às regras de experiência
comum ou técnica, conforme art. 5º, da Lei n. 9.099/1995. Quanto ao dano moral,
restou patente que houve violação aos direitos da personalidade da consumidora,
pois experimentou constrangimentos, humilhações, transtornos e aborrecimentos,
em razão das constantes cobranças ameaçadoras que recebeu por telefone. Quanto
ao valor fixado, esclareça-se que a tarifação do dano moral atenta contra a efetiva
reparação da vítima. Para fixação do valor da reparação do dano moral, o operador
do direito deve observar as suas diversas finalidades, que concorrem
simultaneamente, e os seus critérios gerais e específicos, de modo a atender ao
princípio da reparação integral, expresso no art. 5º, V, da Constituição Federal de
1988 e no art. 6, VI, do Código de Defesa do Consumidor. A primeira finalidade da
reparação do dano moral versa sobre a função compensatória, caracterizada como
um meio de satisfação da vítima em razão da privação ou violação de seus direitos
da personalidade. Nesse momento, o sistema jurídico considera a repercussão do
ato ilícito em relação à vítima. A segunda finalidade refere-se ao caráter punitivo, em
que o sistema jurídico responde ao agente causador do dano, sancionando-o com o
dever de reparar a ofensa imaterial com parte de seu patrimônio. A terceira
finalidade da reparação do dano moral relaciona-se ao aspecto preventivo,
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entendido como uma medida de desestímulo e intimidação do ofensor, mas com o
inequívoco propósito de alcançar todos integrantes da coletividade, alertando-os e
desestimulando-os da prática de semelhantes ilicitudes. O quantum a ser fixado
deverá observar, ainda, os critérios gerais da equidade, proporcionalidade e
razoabilidade, bem como atender a critérios específicos, tais como o grau de culpa
do agente, o potencial econômico e características pessoais das partes, a
repercussão do fato no meio social e a natureza do direito violado, esclarecendo-se
que o valor do dano moral não pode promover o enriquecimento ilícito da vítima e
não deve ser ínfimo a ponto de aviltar o direito da personalidade violado. O valor
fixado de R$8.000,00 (oito mil reais) não pode ser tido como excessivo,
considerando-se o potencial econômico e gravidade da conduta do recorrente. A r.
sentença deve ser confirmada por seus próprios fundamentos, nos termos do art. 46
da Lei n. 9.099/1995. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso e mantenho
a r. sentença recorrida. Vencida a parte recorrente, deverá arcar com custas
processuais e honorários advocatícios, em favor do autor, os quais fixo em 20%
(vinte por cento) sobre o valor da condenação, a teor do art. 55 da Lei n. 9.099, de
26 de setembro de 1995. Acórdão lavrado conforme o art. 46 da Lei n. 9.099, de 26
de setembro de 1995. (TJDF - Rec 2012.07.1.032796-0; Ac. 676.846; Terceira
Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal; Rel. Juiz Hector
Valverde Santana; DJDFTE 17/05/2013; Pág. 189)

Consumidor Responsabilidade pelo fato do serviço Acidente de consumo Instituição


financeira que negativa indevidamente o nome do consumidor Vítima que não
contratou com o fornecedor Dever sucessivo de reparar Configuração
Responsabilidade objetiva Defeito do serviço Não-oferecimento ao consumidor da
segurança esperada, quanto ao modo de prestação e aos riscos razoavelmente
esperados Não-comprovação, pelo fornecedor, de conduta exclusiva do ofendido ou
de terceiro Teoria do risco profissional Risco inerente à atividade de exploração
econômica exercida Ocorrência de fortuito interno, que não afasta a imputação Dano
moral Caracterização Súmula nº 479 do STJ: "As instituições financeiras respondem
objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos
praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias" Violação do direito (da
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personalidade) à integridade psíquica (moral) do consumidor Lesão à honra objetiva
Compensação de R$ 8.000,00 fixada na origem Adequação às peculiaridades do
caso concreto, aos princípios da proporcionalidade-razoabilidade e da moderação, e
às finalidades compensatória e pedagógico-preventivo-punitiva do dano moral
Inaplicabilidade da Súmula nº 385 do E. STJ Inscrições anteriores que não são
legítimas Sentença mantida RI-TJSP, art. 252 Recurso improvido. (TJSP - APL
0032184-54.2010.8.26.0003; Ac. 6713539; São Paulo; Sétima Câmara de Direito
Privado; Rel. Des. Luiz Antonio Costa; Julg. 08/05/2013; DJESP 15/05/2013)

III – DO VALOR DA CONDENAÇÃO ALMEJADA

Pelas normas de consumo, resulta expressa a adoção da


responsabilidade civil objetiva, assim conceituada pela professora Maria Helena
Diniz:

" Na responsabilidade objetiva, a atividade que gerou o dano é lícita, mas causou
perigo a outrem, de modo que aquele que a exerce, por ter a obrigação de velar
para que dele não resulte prejuízo, terá o dever ressarcitório, pelo simples
implemento do nexo causal. A vítima deverá pura e simplesmente demonstrar
o nexo da causalidade entre o dano e a ação que o produziu" (in, Curso de
Direito Civil Brasileiro. 24ª ed. Saraiva: 2010, 7º vol, p. 53).
( destacamos )

De outro plano, o Código Civil estabeleceu-se a regra clara


de que aquele que for condenado a reparar um dano, deverá fazê-lo de sorte
que a situação patrimonial e pessoal do lesado seja recomposta ao estado
anterior. Assim, o montante da indenização não pode ser inferior ao prejuízo. Há de
ser integral, portanto.

CÓDIGO CIVIL

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ADVOCACIA
Art. 944 – A indenização mede-se pela extensão do dano.

Nesta esteira de raciocínio, emérito Julgador, cumpri-nos


demonstrar a extensão do dano( e não o dano ).

Quanto ao valor da reparação, tocantemente ao dano


moral, assevera Caio Mário da Silva Pereira, que:

“Quando se cuida de reparar o dano moral, o fulcro do conceito ressarcitório acha-se


deslocado para a convergência de duas forças: `caráter punitivo` para que o
causador do dano, pelo fato da condenação, se veja castigado pela ofensa que
praticou; e o `caráter compensatório` para a vítima, que receberá uma soma que
lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal sofrido. “ (PEREIRA, Caio Mário
da Silva (atualizador Gustavo Tepedino). Responsabilidade Civil. 10ª Ed. Rio de
Janeiro: GZ Ed, 2012, p. 78)
(destacamos)

Nesse mesmo compasso de entendimento, leciona Arnaldo


Rizzardo que:

“Não existe uma previsão na lei sobre a quantia a ser ficada ou arbitrada. No
entanto, consolidaram-se alguns critérios.
Domina a teoria do duplo caráter da repação, que se estabelece na finalidade da
digna compensação pelo mal sofrido e de uma correta punição do causador do ato.
Devem preponderar, ainda, as situaões especiais que envolvem o caso, e assim a
gravidade do dano, a intensidade da culpa, a posição social das partes, a condição
econômica dos envolvidos, a vida pregressa da pessoa que tem o título protestado
ou o nome negativado. “ (RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade Civil. 4ª Ed. Rio de
Janeiro, Forense, 2009, p. 261)

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ADVOCACIA
No caso em debate, ficou cabalmente demonstrada a
ilicitude do defeito na prestação do serviço, o que não se pode negar que este fato
trouxe à mesma forte constrangimento, angústia e humilhação, capazes, por si só,
de acarretar dano moral de ordem subjetiva e objetiva.

Desta maneira, o nexo causal ficou claríssimo. Logo,


evidente está o dano moral suportado pela Autora, devendo-se tão-somente ser
examinada a questão do quantum indenizatório.

É certo que o problema da quantificação do valor econômico


a ser reposto ao ofendido tem motivado intermináveis polêmicas, debates, até agora
não havendo pacificação a respeito. De qualquer forma, doutrina e jurisprudência
são pacíficas no sentido de que a fixação deve se dá com prudente arbítrio, para
que não haja enriquecimento à custa do empobrecimento alheio, mas também para
que o valor não seja irrisório.

Ademais, a indenização deve ser aplicada de forma


casuística, supesando-se a proporcionalidade entre a conduta lesiva e o prejuízo
enfrentado pela ofendida, de forma que, em consonância com o princípio neminem
laedere, inocorra o lucuplemento da vítima quanto a cominação de pena tão
desarrazoada que não coíba o infrator de novos atos.

O valor da indenização pelo dano moral, mais, não se


configura um montante tarifado legalmente. A melhor doutrina reconhece que o
sistema adotado pela legislação pátria é o sistema aberto, no qual o Órgão Julgador
pode levar em consideração elementos essenciais, tais como as condições
econômicas e sociais das partes, a gravidade da lesão e sua repercussão e as
circunstâncias fáticas. Assim, a importância pecuniária deve ser capaz de produzir-
lhe um estado tal de neutralização do sofrimento impingido, de forma a "compensar
a sensação de dor" experimentada e representar uma satisfação, igualmente moral.

Anote-se, por oportuno que não se pode olvidar que a


presente ação, nos dias atuais, não se restringe a ser apenas compensatória; vai
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ADVOCACIA
mais além, é verdadeiramente sancionatória, na medida em que o valor fixado a
título de indenização reveste-se de pena civil.

Não precisamos ir longe para compreendermos o potencial


financeiro da Promovida, sobretudo quando figura como uma das grandes
instituições financeiras do País.

IV – PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO PARCIAL DA TUTELA

O Código de Processo Civil autoriza o Juiz conceder a


antecipação de tutela “existindo prova inequívoca” e “dano irreparável ou de difícil
reparação”:

Art. 273 - O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os


efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca,
se convença da verossimilhança da alegação e:

I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou


II - ...

§ 1° - Na decisão que antecipar a tutela, o juiz indicará, de modo claro e preciso, as


razões do seu convencimento.

§ 2° - Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de


irreversibilidade do provimento antecipado.

§ 3° A efetivação da tutela antecipada observará, no que couber e conforme sua


natureza, as normas previstas nos arts. 588, 461, §§ 4° e 5°, e 461-A.

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ADVOCACIA
Há nos autos “prova inequívoca” da ilicitude cometida pela
Ré, fartamente comprovada por documento imersos nesta pendenga, maiormente
com os comprovantes de inserção do nome da Autora nos órgãos de restrições.

Há, outrossim, fundado receio de dano irreparável,


porquanto a Autora, encontra-se como seu nome inserto no órgãos de restrições, o
que lhes vem trazendo seqüelas de irreparáveis, sobretudo no campo profissional
(quando está impedida de obter novos trabalhos, visto que, em regra, as empresas
consultam antes os órgãos de restrições antes de admitir o empregado); no campo
financeiro (porquanto encontra-se impedida de obter novos empréstimos e sequer
conseguir um talonário de cheque, por uma questão de procedimento interno do
banco que tem conta corrente) e na seara emocional (jamais terá de volta a paz e a
tranqüilidade que antes a tinha, quando não tinha seu nome “negativado” nos órgãos
de restrições).

A reversibilidade da medida também é evidente, uma


vez que a Ré, se vencedora na lide, poderá incluir o nome da Autora junto aos
órgãos de restrições.

Diante disso, o Autor vem pleitear, sem a oitiva prévia da


parte contrária, tutela antecipada no sentido de:

a) determinar que a Ré exclua, no prazo de cinco(5) dias, o nome da Promovente


dos órgãos de restrições e de fornecer informações à Central de Risco do BACEN e
CCF, bem com se abstenha de proceder a cobrança do contrato em debate, sob
pena de multa diária de R$ 1.000,00(mil reais).

V- DOS PEDIDOS

POSTO ISSO,
como últimos requerimentos desta Ação Indenizatória, o Autor requer que Vossa
Excelência se digne de tomar as seguintes providências:

16
ADVOCACIA
a) Determinar a citação da Requerida, por carta, com AR, instando-a, para,
querendo, apresentar defesa no prazo legal, sob pena de revelia e confissão;

b) pede, mais, sejam JULGADOS PROCEDENTES os pedidos formulados na


presente ação, reconhecendo a ausência de relação jurídica entre o Autor e a
Ré, maiormente quanto ao contrato nº. 001122, anulando-o, e, passo seguinte,
condenar a Promovida a pagar indenização por danos morais sofridos pelo
Promovente, a ser estipulado por Vossa Excelência por equidade;

c) que a Ré seja condenada, por definitivo, a não inserir o nome do Autor junto
aos órgãos de restrições, bem como a não promover informações à Central de
Risco do BACEN e, mais, ao CCF, sob pena de pagamento de multa diária de
R$ 1.000,00(mil reais), consoante regra do art. 461, § 4º, do CPC;

d) que todos os valores acima pleiteados sejam corrigidos monetariamente,


conforme abaixo evidenciado:

Súmula 43 do STJ – Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a
partir da data do efetivo prejuízo.

Súmula 54 do STJ – Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em


caso de responsabilidade extracontratual.

e) seja a Requerida condenada ao pagamento de honorários de 20%(vinte por


cento) sobre o valor da condenação, mormente levando-se em conta o trabalho
profissional desenvolvido pelo patrono do Autor, além do pagamento de
custas e despesas, tudo também devidamente corrigido.

Protesta prova o alegado por todos os meios


admissíveis em direito, assegurados pela Lei Fundamental(art. 5º, inciso LV, da
C.Fed.), notadamente pelos depoimentos dos réus, pena de tornarem-se confitentes

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ADVOCACIA
fictos, oitiva de testemunhas a serem arroladas oportuno tempore, junta posterior de
documentos como contraprova, perícia, tudo de logo requerido.

Atribui-se a presente Ação o valor estimativo de R$


_________________.

Respeitosamente, pede deferimento.

RIBEIRÃO PRETO/SP, __ de ___ de ____.

Advogado – OAB/UF nº

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