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AO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE SÃO JOSÉ DO

RIO PRETO

CÉSAR AUGUSTO DA COSTA, brasileiro, casado, autônomo, de RG nº 21861594, da


SSP/SP, inscrito no CPF/MF sob o nº 133.498.588-05, residente e domiciliado na Rua Dario
Barbosa Marçal, 221, Caic II, São José do Rio Preto/SP, CEP 15076-320, vem, com o devido
respeito e acato, perante Vossa Excelência, propor

AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE VALORES PAGOS c/c REPARAÇÃO POR DANOS


MORAIS E MATERIAIS c/c TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA E EXIBIÇÃO
DE DOCUMENTOS

em face de SUPER PAGAMENTOS E ADMINISTRAÇÃO DE MEIOS ELETRÔNICOS


S.A., sociedade por ações, inscrita no CNPJ/MF nº 09.554.480/0001-07, com sede na Av. Pres.
Juscelino Kubitschek, nº 2041 - Anexo Torre A, Andar 11, Vila Nova Conceição, São
Paulo/SP, CEP 04.543-011; e

FACEBOOK SERVIÇOS ONLINE DO BRASIL LTDA., pessoa jurídica de direito


privado, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 13.347.016/0001-17, com sede na Av. Brigadeiro Faria
Lima, 3732, Itaim Bibi, em São Paulo/SP, CEP 04538-132.

Rua Redentora, n. 2678, Vila Redentora, São José do Rio Preto/SP | juansiqueira@adv.oabsp.org.br | 17 99259-5863
I - DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Requer, preliminarmente, com fulcro no artigo 5º, inciso LXXIV,


da Constituição Federal, combinado com o artigo 98 do Novo Código de Processo Civil, que
seja apreciado e acolhido o presente pedido do direito constitucional à Justiça Gratuita, isen-
tando-o do pagamento e/ou adiantamento de custas processuais e dos honorários advocatícios
e/ou periciais caso existam, tendo em vista a sua hipossuficiência financeira.

O Requerente atua com a manutenção e venda de celulares, de


forma autônoma. O golpe em si custou todo seu capital de giro, pelo que teve de recorrer a
empréstimo. E, mesmo em condições normais, suas contas são tão “apertadas”, que não con-
seguiria arcar com taxas e custas judiciárias, pois comprometeria suas mantenças básicas e de
sua família, tudo, conforme estratos bancários em anexo, visto que nem mesmo declara im-
posto de renda, que, se declarado, estaria isento.

II – FATOS

O Requerente comprou um celular modelo Samsung S23 pelo


valor de R$ 3.100,00 (três mil e cem reais) de pessoa que se identificou simplesmente como
Aline Santos, com negociações iniciadas em 12 de agosto de 2023, através da plataforma dig-
ital “Market Place”, do “Facebook”.

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Tal vendedora fez chamada de vídeo e mostrou o aparelho em de-
talhes ao vivo. Fez mais, mostrou uma vida pacata familiar, com dois filhos aparentado dois e
quatro anos, numa residência.

Apalavrado o negócio, no mesmo dia 12/08/23, diretamente da


agência dos Correios, localizada na Rua Vinte e Dois, 540, no Centro de Ituitaba/MG, CEP
38300-973, entre as 11:36 e 12:14 horas, que permaneceu no local para o devido despacho da
mercadoria, a vendedora fez nova chamada de vídeo, ocasião em que deu detalhes do proced-
imento, supostamente selando a caixa com o produto, pelo que obteve a confiança do
Requerente.

Assim, o Requerente efetivou um “Pix” de R$ 3.150,00 (três mil


cento e cinquenta reais) para a chave designada pela vendedora, qual seja o e-mail danielfer-
nandovieira138@gmail.com, atrelado ao CPF/MF de nº 142.559.056-06. O valor foi a maior,
para incluir o custo do SEDEX que viria de Ituitaba/MG. O comprovante segue anexado.

Qual não foi a surpresa do Requerente quando, ao receber o


“SEDEX”, em 16/08/23, deparou-se com uma caixa de um aparelho inferior vazia e um
carregador, como na foto:

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Ato contínuo, registrou o Boletim de Ocorrência em anexo e
procurou estes advogados.

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III – DO DIREITO

III.1 - DA TUTELA DE URGÊNCIA

Primeiro, destaca-se o fundamento do pedido de antecipação da


tutela jurisdicional, a Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015, o Novo Código de Processo Civil:

Art. 9º. Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.

Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:

I - à tutela provisória de urgência;

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

No que diz respeito aos requisitos genéricos para concessão de tu-


tela provisória, é necessário que a parte apresente probabilidade do direito alegado. O art. 300
esclarece que a tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, conforme
o presente caso.

Outrossim, temos todos os requisitos necessários para que seja


concedido o dispositivo em comento, como o perigo na demora, visto que se trata de um golpe,
em conta que ainda pode estar sendo usada pelo golpista. O risco do dano encontra-se já con-
sumado. O risco ao resultado útil do processo está evidente.

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Desta forma, requer a título de tutela provisória de urgência, que
seja obrigada a ré efetuar o bloqueio da quantia de forma imediata no valor de R$ 3.150,00
(três mil cento e cinquenta reais).

III.2 – DA RESOLUÇÃO 4.753/2019 DO BANCO CENTRAL

Ao cadastrar um novo cliente e realizar a abertura de conta, é dever


da instituição financeira verificar a higidez do ato, solicitando documentos para tanto, nos ter-
mos do art. 2º da Resolução nº 4.753/2019 do Banco Central:

Art. 2º. As instituições referidas no art. 1º, para fins da abertura de conta de depósitos, devem
adotar procedimentos e controles que permitam verificar e validar a identidade e a qualificação
dos titulares da conta e, quando for o caso, de seus representantes, bem como a autenticidade
das informações fornecidas pelo cliente, inclusive mediante confrontação dessas informações
com as disponíveis em bancos de dados de caráter público ou privado.

Chama a atenção o site da instituição financeira destino dos recur-


sos, controlada pelo Banco Santander S.A., quanto a este dever de cuidado -
https://superdigital.com.br/politicadeprivacidade/ -, notadamente quanto a prova de vida:
“Foto e prova de vida “liveness detection” (dados biométricos)”, conforme “print”:

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Dessa forma, sendo dever da instituição financeira verificar e val-
idar dados do usuário quando da abertura da conta, e estando ciente sobre o risco operacional
do “PIX” quando do aceite ao sistema, é evidente que houve falha sistêmica ao abrir e manter
ativa conta fraudulenta utilizada por falsário – o que culminou com a transferência de valores
para a referida conta.

Portanto, havendo falha sistêmica caracterizada pelo fortuito in-


terno, de rigor a responsabilização, nos termos da Súmula 479 do C. STJ.

Nesse sentido, destacamos entendimento proferido em caso sem-


elhante em que o consumidor foi vítima de golpe, ao acreditar na narrativa dos falsários e
realizar a compra de uma motocicleta, pelo Facebook:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL – Sentença de Impro-


cedência – Recurso do autor. DANO MATERIAL – Dano decorrente de negócio jurídico
fraudado, consistente em aquisição de motocicleta e não recebimento do bem após transferên-
cia bancária, via PIX, para pagamento do preço – Golpe perpetrado por terceiro – Banco réu

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não demonstrou a regularidade da abertura da conta corrente utilizada pelo fraudador para
aplicação do golpe – Assunção de risco do prestador de serviço bancário para utilização da
plataforma Pix – Falha na prestação dos serviços evidenciada – Responsabilidade objetiva da
instituição financeira – Fortuito interno – Súmula nº 479 do STJ – Dever de indenizar pelos
danos materiais – Precedentes – Recurso provido. DANO MORAL – Falha na prestação de
serviço – Dano moral caracterizado (TJSP; AC n.º XXXXX-41.2021.8.26.0438; Rel. (a):
Achile Alesina; 15ª Câmara de Direito Privado; J.: 20/06/2022).

III.3 - DA RESOLUÇÃO BCB Nº 147, DE 28 DE SETEMBRO DE 2021

Uma atenção deve ser dada ao fato do presente caso tratar-se de


uma operação de fraude, operada por golpistas que usaram de artimanhas para ludibriar o Re-
querente, convencendo-o a efetuar um “Pix” no valor de R$ 3.150,00 (três mil cento e
cinquenta reais).

A resolução é clara em dizer através do Art. 38-B sobre a trata-


tiva nos casos de fraude via PIX:

"Art. 39-B. Os recursos oriundos de uma transação no âmbito do Pix deverão ser
bloqueados cautelarmente pelo participante prestador de serviço de pagamento do
usuário recebedor quando houver suspeita de fraude.

§ 1º A avaliação de suspeita de fraude deve incluir:

I - a quantidade de notificações de infração vinculadas ao usuário recebedor, à sua chave Pix


e ao número da sua conta transacional;

II - o tempo decorrido desde a abertura da conta transacional pelo usuário recebedor;


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III - o horário e o dia da realização da transação;

IV - o perfil do usuário pagador, inclusive em relação à recorrência de transações entre os


usuários; e

V - outros fatores, a critério de cada participante.

§ 2º O bloqueio cautelar deve ser efetivado simultaneamente ao crédito na conta transacional


do usuário recebedor.

§ 3º O participante prestador de serviço de pagamento deverá comunicar imediatamente ao


usuário recebedor a efetivação do bloqueio cautelar.

§ 4º O bloqueio cautelar durará no máximo 72 horas.

§ 5º Durante o período em que os recursos estiverem bloqueados cautelarmente, o participante


prestador de serviço de pagamento do usuário recebedor deve avaliar se existem indícios que
confiram embasamento à suspeita de fraude.

§ 6º Concluída a avaliação de que trata o § 5º:

I - os recursos serão devolvidos ao usuário pagador, nos termos do Mecanismo Especial de


Devolução, de que trata a Seção II do Capítulo XI, caso se identifique fundada suspeita de
fraude na transação; ou

II - cessará imediatamente o bloqueio cautelar dos recursos, comunicando-se prontamente o


usuário recebedor, nas hipóteses em que não forem identificados indícios de fraude na trans-
ação.

§ 7º O bloqueio cautelar pode ser efetivado somente em contas transacionais de usuários pessoa
natural, excluídos os empresários individuais.

§ 8º A possibilidade de realização do bloqueio cautelar de que trata este artigo deverá constar
do contrato firmado entre o usuário recebedor e o correspondente prestador de serviço de pa-
gamento, mediante cláusula em destaque no corpo do instrumento contratual, ou por outro
instrumento jurídico válido.

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§ 9º O usuário recebedor poderá solicitar a devolução do Pix em montante correspondente ao
valor da transação original enquanto os recursos estiverem cautelarmente bloqueados.”

III.4 – DA NEGLIGÊNCIA DO “FACEBOOK”

O Facebook analisa previamente em projeção quântica de algorit-


mos as informações e “layouts” dos anúncios enganosos antes de permiti-los serem veiculados
em seus domínios, sendo que tais ocorrências, inclusive, acabam por ferir suas políticas de uso.
Trata-se de hipótese que sequer foi abordada pelo Marco Civil da Internet, que restou silente
neste ponto.

Apesar de contestações sobre a impossibilidade de algoritmos/in-


teligências artificiais responderem por danos que causarem em razão da ausência de
personalidade jurídica, a responsabilidade deverá recair sobre seu responsável. Sobre o tema:
TEPEDINO, Gustavo. SILVA, Rodrigo da Guia. Desafios da inteligência artificial em matéria
de responsabilidade civil. Revista Brasileira de Direito Civil, volume 21, julho/setembro. Belo
Horizonte, 2019. Disponível em https://rbdcivil.ibdcivil.org.br/rbdc/article/view/465/308.
Acessado em 10/05/2020.

Assim, entende-se que o Facebook (e demais provedores de


conteúdo que veiculem anúncios de venda fraudulentos aprovados internamente por falha de
análise) deve responder subjetivamente, nos termos do artigo 927 do Código Civil (ou artigo
14 do Código de Defesa do Consumidor), em conjunto ao artigo 3º, inciso VI do Marco Civil
da Internet, a saber, do último dispositivo - os demais deixamos de transcrever, pois já tran-
scritos na presente peça:

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“Artigo 3º: A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios: VI - re-
sponsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da lei;”

Usando de suposta excludente sobre liberdade de expressão, elen-


cada no artigo 19 do Marco Civil da Internet, procura o Facebook imiscuir-se de
responsabilidade, porém, o referido dispositivo sequer trata do tema aqui esmiuçado.

Ora, o Facebook não necessita de autorização judicial para excluir


comentários ou ações de terceiros que violem sua política, tendo, inclusive, decisão apontando
que “é desnecessária a autorização para que o Facebook remova conteúdos ofensivos, uma
vez que tal procedimento faz pare dos termos de uso da rede social.” (Agravo de Instrumento
nº 2195051-90.2015.8.26.0000, j. 29/06/2016).

Por fim, se um comentário ofensivo pode ser excluído dos seus


domínios, raciocina-se que não há impedimento para que um anúncio fraudulento de um es-
telionatário não o seja. O artigo 19 visa proteger a liberdade de expressão, e não convalidar
atos de má fé, devendo estes serem previamente identificados pelo Facebook, tendo em vista
sua suficiente capacidade técnica e financeira para tal. Caso falhe, deverá ser responsabilizado
por tal lapso.

É da jurisprudência:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL - COMPRA


DE PRODUTO PELA INTERNET - PRODUTO NÃO ENTREGUE - PUBLICAÇÃO DE
ANÚNCIO EM APLICATIVO QUE DIRECIONA PARA SITE FALSO - BOLETO FALSO
DISPONIBILIZADO NA INTERNET - RESPONSABILIDADE OBJETIVA - DANO
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MORAL - CONFIGURAÇÃO - CULPA EXCLUSIVA DE TERCEIRO - EXCLUDENTE
DE RESPONSABILIDADE NÃO CONFIGURADA - QUANTUM INDENIZATÓRIO -
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. Legitimados ao processo são os sujeitos
da lide, ou seja, os titulares do direito material em conflito, cabendo a legitimação ativa ao
titular do interesse afirmado na pretensão, e a passiva ao titular do interesse que se opõe ou
resiste à pretensão. O fornecedor responde independentemente de culpa pela reparação dos
danos causados aos consumidores em decorrência de defeitos relativos à prestação do serviço
(art. 14 do CDC). Compete aos fornecedores de produtos e serviços adotar medidas de segu-
rança, a fim de se evitar a ocorrência de fraudes, como a geração de boletos falsos e
publicação de anúncios em aplicativo que direcionam para sites falsos. Restando comprovada
a falha na prestação de serviços dos réus, de rigor a sua condenação ao pagamento de inde-
nização pelos danos materiais e morais causados ao autor. A culpa exclusiva de terceiros
capaz de elidir a responsabilidade do fornecedor de serviços ou produtos pelos danos causa-
dos é somente aquela que se enquadra no gênero de fortuito externo, ou seja, aquele evento
que não guarda relação de causalidade com a atividade do fornecedor, absolutamente estra-
nho ao produto ou serviço. Os sentimentos de angústia e frustração causados ao consumidor
em razão do pagamento de boleto fraudado em valor considerável não podem ser considera-
dos meros aborrecimentos, configurando dano moral passível de reparação. A indenização
por dano moral deve ser arbitrada segundo o prudente arbítrio do julgador, sempre com mo-
deração, observando-se as peculiaridades do caso concret o e os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, de modo que o quantum arbitrado se preste a atender
ao caráter punitivo da medida e de recomposição dos prejuízos, sem importar, contudo, en-
riquecimento sem causa da vítima. (TJ-MG - AC: 10015170010555001 Além Paraíba,
Relator: José de Carvalho Barbosa, Data de Julgamento: 05/08/2021, Câmaras Cíveis / 13ª
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 05/08/2021)

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III.5 - DO DANO MATERIAL

Conforme os artigos 186 e 927, caput, do atual Código Civil Bra-


sileiro:

- Artigo 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.

- Artigo 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.

E o artigo 944 do Código Civil deixa claro que a indenização se


mede pela extensão do dano causado e, neste caso, configura-se o valor atual de R$ 3.150,00
(três mil cento e cinquenta reais).

É da jusrisprudência:

APELAÇÃO - AÇÃO INDENIZATÓRIA - AUTOR VÍTIMA DE GOLPE - PAGAMENTO


DE FALSO NEGÓCIO, VIA PIX - SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA - IRRESIGNA-
ÇÃO DO CONSUMIDOR. 1. RESPONSABILIDADE - Relação de consumo - Facilidade
na realização de movimentações bancárias, sem a disponibilização de mecanismo confiável
a proporcionar a segurança necessária ao usuário - Transação Pix efetuada em favor de cliente
do banco requerido, realizada sem que os sistemas anti-fraude do banco fossem acionados -
Deveres de "Compliance" e "Know Your Client" (KYC) não observados pela instituição ban-
cária, que permitiu a abertura de conta pelo fraudador sem qualquer cautela, em desatenção
ao disposto na Resolução 4.753/2019 do Banco Central do Brasil - Inoperância e morosidade

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do banco requerido que inviabilizou a recuperação do valor transferido - Possibilidade de
bloqueio cautelar de valores conforme a Resolução 147/2021 do BCB - Inobservância - Ins-
tituição bancária aufere os bônus da modernidade, devendo também arcar com os ônus -
Ainda que a transferência bancária em si tenha decorrido da conduta de terceiro fraudador,
com a realização da operação pelo próprio consumidor, a situação retratada de fato se insere
no risco da atividade - Responsabilidade objetiva - Jurisprudência - Súmula 479 do STJ. 2.
DANOS MATERIAIS - Obrigação de restituição, de forma simples, dos valores transferidos
da conta bancária da parte autora, sem prejuízo de eventual exercício do direito de regresso.
3. DANOS MORAIS - Constatação - Instituição bancária não agiu com a cautela que dela se
esperava no desempenho de sua lucrativa atividade - Contexto que trouxe efetivo abalo à
psique do autor, extrapolando o mero dissabor cotidiano - Indenização fixada em R$ 4.000,00
- Princípios da razoabilidade e proporcionalidade - Jurisprudência. RECURSO PROVIDO,
POR MAIORIA DE VOTOS. (TJ-SP - AC: 10052287920228260482 SP 1005228-
79.2022.8.26.0482, Relator: Sergio Gomes, Data de Julgamento: 09/01/2023, 37ª Câmara de
Direito Privado, Data de Publicação: 10/01/2023)

III.6 – DO DANO MORAL

O artigo 927 do CC nos traz que a reparação está vinculada ao ato


ilícito. O cálculo relativo ao dano moral é feito conforme a sua extensão, de acordo com o
artigo 944 do CC.

O instituto do dano moral não foi criado somente para neutralizar


o abalo suportado pelo ofendido, mas também para conferir uma carga didático-pedagógica a

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ser considerada pelo julgador, compensando a vítima e prevenindo a ocorrência de novos in-
fortúnios.

Em casos semelhantes ao dos autos, assim já decidiu o E. TJSP:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL – Sentença de parcial pro-


cedência – Recurso do réu e Recurso adesivo do autor. RECURSO DO RÉU – Dano decorrente
de negócio jurídico fraudado, consistente em transferência bancária via PIX – Golpe per-
petrado por terceiro – Banco réu não demonstrou a regularidade da abertura da conta corrente
utilizada pelo fraudador para aplicação do golpe – Assunção de risco do prestador de serviço
bancário para utilização da plataforma Pix – Falha na prestação dos serviços evidenciada –
Responsabilidade objetiva da instituição financeira – Fortuito interno – Súmula nº 479 do STJ
– Dever de indenizar pelos danos materiais – Precedentes – Recurso não provido. RECURSO
ADESIVO DO AUTOR – Falha na prestação de serviço – Dano moral caracterizado -” Quan-
tum “indenizatório arbitrado em R$ 8.000,00, que se mostra adequado para cumprir com sua
função penalizante, sem incidir no enriquecimento sem causa do autor – Observância dos
princípios da razoabilidade e proporcionalidade – (TJSP; AC n.º XXXXX-04.2020.8.26.0102;
Rel. (a): Achile Alesina; 15ª Câmara de Direito Privado; J.: 29/09/2022)

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL – Sentença de Improce-


dência - Recurso do autor. DANO MATERIAL – Dano decorrente de negócio jurídico
fraudado, consistente em aquisição de motocicleta e não recebimento do bem após transfe-
rência bancária, via PIX, para pagamento do preço – Golpe perpetrado por terceiro – Banco
réu não demonstrou a regularidade da abertura da conta corrente utilizada pelo fraudador
para aplicação do golpe - Assunção de risco do prestador de serviço bancário para utilização
da plataforma Pix - Falha na prestação dos serviços evidenciada - Responsabilidade objetiva
da instituição financeira - Fortuito interno - Súmula nº 479 do STJ - Dever de indenizar pelos
danos materiais – Precedentes – Recurso provido. DANO MORAL – Falha na prestação de

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serviço – Dano moral caracterizado - "Quantum" indenizatório arbitrado em R$ 5.000,00,
que se mostra adequado para cumprir com sua função penalizante, sem incidir no enriqueci-
mento sem causa do autor – Observância dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade
– Precedentes – Recurso provido. SUCUMBÊNCIA REVISTA – Deverá o réu arcar com as
custas, despesas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da con-
denação, nos termos do art. 85, § 2º do CPC. DISPOSITIVO - Recurso provido. (TJ-SP -
AC: 10088504120218260438 SP 1008850-41.2021.8.26.0438, Relator: Achile Alesina, Data
de Julgamento: 20/06/2022, 15ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 20/06/2022)

Por fim, na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso


X, também resta claro que a todos é assegurado o direito de reparação por danos morais.

IV – DÁ NECESSIDADE DE OFÍCIO PARA OBTENÇÃO DAS IMAGENS DAS


CÂMERAS DE VIGILÂNCIA DA AGÊNCIA DOS CORREIOS

Seja repetido, apalavrado o negócio, no mesmo dia 12/08/23,


diretamente da agência dos Correios, localizada na Rua Vinte e Dois, 540, no Centro de Ituit-
aba/MG, CEP 38300-973, entre as 11:36 e 12:14 horas (chamada de vídeo com o requerente
que durou todo esse tempo), a golpista permaneceu no local para o devido despacho da mer-
cadoria, todo o tempo informado sob chamada de vídeo com o Requerente, ocasião em que
deu detalhes do procedimento, supostamente selando a caixa com o produto, pelo que obteve
a confiança do Requerente.

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Do artigo 5º, inciso XXXIII, da CF, temos: “todos têm direito a
receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo
ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas
cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”.

Ora, há um crime que pode ser elucidado pelas imagens das


câmeras de vigilância da referida agência, que podem permitir o reconhecimento e, sobretudo,
evitar novos golpes.

A golpista está em atividade, com o mesmo “modus operandi”,


pelo que informou o Requerente, que vem monitorando as andanças da referida no meio digi-
tal:

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Outrossim, o fato de estar em atividade, pode ensejar que o juízo


ou a instituição financeira possam haver bloqueio de valores na conta em referência.

Ainda, conforme o artigo 381 do CPC, uma das hipóteses da


produção antecipada de provas é o (i) fundado receio de perecimento da prova. É sabido que
sistemas de vigilância podem ser comprometidos com o “armazenamento”, pelo que passam
por “reciclagem”, quando as imagens antigas são apagadas. Assim, solicita que o ofício seja
deferido em caráter liminar, presentes a fumaça do bom direito e o perigo na demora.

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V - DOS PEDIDOS

Por todo o exposto, requer o (a):

1. Citação dos Requeridos, sob pena de revelia (art. 344, do CPC);


2. Gratuidade de justiça, com fulcro no art. 98, do CPC;
3. Seja oficiada, em caráter liminar, a Agência Central dos Correios de Ituiutaba/MG,
localizada na Rua Vinte e Dois, 540, CEP 38300-973, telefone 34 3268 2122, para que
forneça as imagens das cameras de vigilância entre as 11:36 e 12:14 horas do dia 12/08/23;
4. a título de tutela provisória de urgência, que seja obrigada a intituição financeira apon-
tada ao bloqueio de quantia de forma imediata, no valor de R$ 3.150,00 (três mil cento e
cinquenta reais);
5. Confirmação da tutela provisória de urgência em sede de sentença;
6. Condenação dos Requeridos ao pagamento do montante de R$ 3.150,00 (três mil
cento e cinquenta reais), a título de danos materiais;
7. Condenação dos Requeridos ao pagamento do montante de R$ 15.000,00 (quinze mil
reais) a título de danos morais, frente à sua ação voluntária, notadamente pela Teoria Do
Desvio Produtivo.

Utilizar-se-á como provas testemunhas, documentos, protocolos


de atendimento, fotos, imagens de câmeras de segurança, bem como outras que porventura
venham a ser produzidas posteriormente, conforme preconiza o art. 32, da lei 9.099/90.

Dá a causa valor de R$ 18.150,00 (dezoito mil cento e cinquenta


reais).

Pg. 19

Rua Redentora, n. 2678, Vila Redentora, São José do Rio Preto/SP | juansiqueira@adv.oabsp.org.br | 17 99259-5863
Termos em que pede procedência.

São José do Rio Preto, 22 de agosto de 2023.

(assinado digitalmente)

JUAN CARLO DE SIQUEIRA – OAB/SP nº 393.962

RENATO TEIXEIRA DA COSTA - OAB/SP nº 390.775

Pg. 20

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