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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO CEARÁ


Comarca de Fortaleza
3ª Vara Cível (SEJUD 1º Grau)
Rua Desembargador Floriano Benevides Magalhaes, nº 220, Água Fria - CEP 60811-690, Fone: (85) 3492 8254,
Fortaleza-CE - E-mail: for03cv@tjce.jus.br

DECISÃO

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjce.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0217613-09.2020.8.06.0001 e código 647E4F8.
Processo nº: 0217613-09.2020.8.06.0001
Apensos:
Classe: Procedimento Comum
Assunto: Defeito, nulidade ou anulação
Requerente: Erasmo Martins dos Santos
Requerido: Mvc Férias e Empreendimentos Turísticos e Hotelaria Ltda

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CID PEIXOTO DO AMARAL NETO, liberado nos autos em 13/04/2020 às 15:38 .
Tratam os autos de Ação Anulatória de Cláusulas Contratuais Abusivas c/c
Rescisão Contratual e Devolução Parcial de Parcelas Pagas com Pedido de Tutela Antecipada
de Urgência para sustação de parcelas vincendas, proposto por Erasmo Martins dos Santos em
desfavor de MVC Ferias e Empreendimentos Turísticos e Hotelaria LTDA, ambos
devidamente qualificados na exordial.
Afirma o requerente que no mês de agosto de 2018 firmou contrato de cessão
de direito de uso, n° PLA00678, por meio do qual aderiu a um programa de férias do qual
poderia utilizar imóveis, apartamento em resorts, ou poderia realizar locações para terceiros
do mesmo.
Alude que conforme apresenta o contrato, o objeto adquirido refere-se a cota do
empreendimento Condomínio Manhattan Beach Riviera, totalizando em R$ 59.600,56
(cinquenta e nove mil, seiscentos reais e cinquenta e seis centavos), sendo paga entrada no
valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) parcelado 5 vezes no cartão de crédito, mais 72
parcelas de R$ 772,23 (setecentos e setenta e dois reais e vinte e três centavos), isso por um
período de uso de 20 anos. O requerente ainda gozaria de 2 semanas anuais, durante qualquer
época do ano por ter adquirido o empreendimento em alta temporada.
Assegura que desde do início o seu viés era lucrar com o aluguel do imóvel
para terceiros, no entanto de logo se deparou com várias dificuldades, como os sites de
aluguel não aceitavam esse tipo de imóvel na sua plataforma de serviços e outras dificuldades,
o que levou o requerente a querer desistir do negócio e rescindir o contrato.
Menciona o autor que perdeu o interesse de seguir com o contrato, fato este
que o fez procurar a requerida para fins de rescisão, momento o qual foi surpreendido com a
cláusula abusiva de retenção de 30% (trinta por cento) do valor total do contrato, o que na
prática exigiu que o mesmo complementasse o valor da multa rescisória, mesmo sem nunca
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ter feito uso do empreendimento.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjce.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0217613-09.2020.8.06.0001 e código 647E4F8.
Aduz o promovente que até o momento realizou o pagamento de R$ 15.583,45
(quinze mil, quinhentos e oitenta e três reais e quarenta e cinco centavos), e ainda a taxa de R$
1.614,90 ( um mil, seiscentos e quatorze reais e noventa centavos) para usufruir do 1° dia no
resort em abril do ano corrente, totalizando o montante de R$ 17.198,35 (dezessete mil, cento
e noventa e oito reais e trinta e cinco centavos).
O requerente cita que ainda lhe foi cobrada multa rescisória de R$ 17.880,17

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CID PEIXOTO DO AMARAL NETO, liberado nos autos em 13/04/2020 às 15:38 .
(dezessete mil, oitocentos e oitenta reais e dezessete centavos). Ademais, afirma que tentou
negociar com a requerida, propondo a retenção de 10% (dez por cento) do valor do contrato,
no entanto a demandada se mantém firme no pagamento da multa.
Ante o exposto, vem o requerente em sede de tutela de urgência suscitar pela
sustação dos pagamentos das parcelas vincendas do contrato, descontadas automaticamente no
cartão de crédito do requerente mês a mês, bem como que determine que a requerida se
abstenha de cobrar tais parcelas de qualquer forma e de inscrever o nome do demandante em
órgãos de proteção ao crédito, sob pena da aplicação de multa de R$ 500,00 (quinhentos reais)
por dia de descumprimento.

Este é o relatório. Passo a decidir e fundamentar.


Como bem se sabe, com o advento do Código de Processo Civil de 2015, a
concessão de tutela de urgência, na forma do artigo 300, caput, seja cautelar ou satisfativa,
exige o preenchimento dos seguintes pressupostos: (i) a presença de elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e (ii) perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo. Observe-se:
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil
do processo.
§ 1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir
caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir
a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente
hipossuficiente não puder oferecê-la.
§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação
prévia.
§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver
perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.
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Sobre o tema, elucidativa é a lição dos Professores Terresa Arruda Alvim
Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogério
Licastro Torres de Mello: "O caput do artigo 300, traz os requisitos para a concessão da
tutela de urgência (cautelar ou satisfativa), quais sejam, evidência da probabilidade do
direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo" (Primeiros Comentários ao
Novo Código de Processo Civil Anotado. Pág. 498).

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CID PEIXOTO DO AMARAL NETO, liberado nos autos em 13/04/2020 às 15:38 .
Pois bem. Diante da narrativa dos fatos e o que consta do processo em face dos
citados requisitos para o deferimento da tutela de urgência, verifico o preenchimento de tais
pressupostos. Explico!
Analisando o que consta nos autos até o presente momento em sede de
cognição sumária, entendo que os fatos articulados pela parte autora encontram respaldo
probatório. Digo isto, pois, do cotejo das provas, verifico a existência de elementos que o
contrato foi firmado entre as partes, bem como vê-se a tentativa de rescisão contratual através
do e-mail registrado às fls.31/39.
Por sua vez, quanto ao pressuposto perigo de dano ou risco ao resultado útil
do processo, este se encontra presente na medida em que existe receio de efeitos moratórios e
dano quanto as prestações que estão para se vencer, causando prejuízos financeiros ao autor
que deseja a rescisão do instrumento contratual.
No mais, registro que a presente medida é agasalhada pela reversibilidade, o
que atende ao parágrafo terceiro, do artigo 300, do Código de Processo Civil de 2015.
Logo, preenchido os requisitos, o deferimento da tutela de urgência antecipada
é medida de justiça.
Pelo exposto, defiro o pedido de tutela de urgência a fim de determinar que
estejam suspensas as cobranças das parcelas vincendas diretamente descontadas do cartão da
requerente, bem como que a requerida se abstenha de realizar demais cobranças sobre o
referido contrato e que ainda se abstenha de incluir o nome do autor em órgãos de proteção ao
crédito também sobre as cláusulas contratuais aqui referidas, até ulterior deliberação desde
juízo.
Diante do cenário mundial de pandemia provocada pelo vírus coronavírus
(COVID-19), foram editadas a Resolução Nº 313/2020 – CNJ e a Portaria Nº 497/2020 –
TJCE, onde a primeira em seu art. 2º suspende o trabalho presencial de todos os membros do
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Poder Judiciário até o dia 30 de Abril de 2020; e a segunda em seu art. 3º suspende todas as

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audiências e sessões presenciais por 30 dias.
Buscando evitar maiores prejuízos às partes bem como dar celeridade
processual, hei por bem neste momento em deixar de designar a audiência prevista no art. 334
do CPC, o que tão logo retorne à normalidade deverão às partes manifestar-se acerca da
realização do ato conciliatório.
Cite-se o réu, por carta com aviso de recebimento, para, querendo, apresentar

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por CID PEIXOTO DO AMARAL NETO, liberado nos autos em 13/04/2020 às 15:38 .
contestação no prazo de 15, cujo termo inicial será a data prevista no art. 231, de acordo com
o modo como foi feita a citação, art. 335, III, CPC.
Intime-se a parte autora via DJe.

Fortaleza/CE, 13 de abril de 2020.

Cid Peixoto do Amaral Neto


Juiz

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