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Tribunal de Justiça do Estado do Ceará - 1º Grau

PJe - Processo Judicial Eletrônico

21/11/2023

Número: 3000125-87.2023.8.06.0091
Classe: CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
Órgão julgador: Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Iguatu
Última distribuição : 24/01/2023
Valor da causa: R$ 24.840,00
Assuntos: Defeito, nulidade ou anulação, Indenização por Dano Moral, Indenização por Dano Moral,
Cobrança indevida de ligações, Liminar, Pedido de Liminar
Nível de Sigilo: 0 (Público)
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Advogados
FRANCISCA AUDIZIA VIEIRA DIAS BEZERRA
(REQUERENTE)
FRANCISCO MINERVINO BATISTA JUNIOR (ADVOGADO)
ANA CAROLINA GOMES BEZERRA (ADVOGADO)
RODOLFO RAONE FELIPE DE CARVALHO (ADVOGADO)
RAIMUNDA VIEIRA DIAS (REQUERENTE)
RODOLFO RAONE FELIPE DE CARVALHO (ADVOGADO)
FRANCISCO MINERVINO BATISTA JUNIOR (ADVOGADO)
ANA CAROLINA GOMES BEZERRA (ADVOGADO)
BANCO SANTANDER (BRASIL) S.A. (REQUERIDO)
NEY JOSE CAMPOS (ADVOGADO)

Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
64302456 25/07/2023 Sentença Sentença
17:49
ESTADO DO CEARÁ

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA

COMARCA DE IGUATU

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL

GABINETE DO MAGISTRADO

Avenida Dário Rabelo, 977, Bloco G - 1º Andar Campus Multi-institucional Humberto Teixeira, Santo
Antônio, Iguatu/CE - CEP: 63502-253 – WhatsApp Business: (85) 98214-8303, e-mail: iguatu.jecc@tjce.jus.br

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SENTENÇA

Processo n.º: 3000125-87.2023.8.06.0091

AUTOR: FRANCISCA AUDIZIA VIEIRA DIAS BEZERRA e outros

REU: BANCO SANTANDER (BRASIL) S.A.

Vistos etc.
Dispensado o relatório na forma do art. 38, caput, da Lei nº 9.099/95.

DA FUNDAMENTAÇÃO

Diante da desnecessidade de produção de mais provas em audiência, procedo ao julgamento antecipado da


lide, com fulcro no artigo 355, I, do Código de Processo Civil.
Trata-se de ação ajuizada por FRANCISCA AUDIZIA VIEIRA DIAS BEZERRA e RAIMUNDA VIEIRA
DIAS em face de BANCO SANTANDER (BRASIL) S.A., na qual a parte autora busca a condenação da
parte ré a desconstituir o débito no valor de R$ 9.000,00 (nove mil reais), que considera indevido, bem como
ao pagamento do valor de R$ 15.840,00 (quinze mil oitocentos e quarenta reais) a título de compensação
pelos danos morais sofridos.
De início, verifica-se que a questão controvertida diz respeito à contratação de empréstimo consignado pela
parte autora junto à instituição financeira ré.

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Assim, passo à análise das preliminares.

DAS PRELIMINARES

Da gratuidade da Justiça
Nas causas que correm perante o primeiro grau dos juizados especiais cíveis, não há incidência de custas
judiciais, conforme dispõe o art. 54 da Lei 9.099/95.
Assim, não há necessidade, no presente momento, em analisar o pedido de gratuidade de justiça da parte
autora. Falta interesse processual, considerando que a todos é garantia por lei a gratuidade.
Em caso de recurso, necessariamente deve ser feito e analisado o pedido de justiça gratuita.
Da incompetência do juizado especial em razão da necessidade de denunciar à lide o real beneficiário
da transação.
A parte ré arguiu, preliminarmente, a incompetência dos Juizados Especiais Cíveis para processar e
julgar a presente demanda, tendo em vista a necessidade de denunciação à lide dos beneficiários da
transação. Contudo, não prospera a preliminar de incompetência do juizado especial, pois descabe
denunciação da lide em demandas de consumo.
Nesse sentido, o Código de Defesa do Consumidor é taxativo:
Art. 88. Na hipótese do artigo 13, parágrafo único deste Código, a ação de regresso
poderá ser ajuizada em processo autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-
se nos mesmos autos, vedada a denunciação da lide

Além disso, a Jurisprudência vai nesse sentido:


AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONSUMIDOR. CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. VEDAÇÃO. DECISÃO
MANTIDA. 1. A denunciação da lide, nas causas que envolvam relação de
consumo, encontra expressa vedação no art. 88 do Código de Defesa do
Consumidor. 2. Recurso não provido.
(Acórdão 1231101, 07232863320198070000, Relator: GETÚLIO DE MORAES
OLIVEIRA, 7ª Turma Cível, data de julgamento: 12/2/2020, publicado no DJE:
2/3/2020. Pág.: Sem Página Cadastrada).

Portanto, se for o caso, que a parte ré pode demandar regressivamente contra os supostos beneficiários dos
pagamentos, de modo que também está rejeitada a preliminar de incompetência do juizado e denunciação à
lide.

Do litisconsórcio passivo necessário


Subsidiariamente, a parte ré arguiu, em sede preliminar, a necessidade de inclusão dos beneficiários
do pagamento no polo passivo da lide, em litisconsórcio passivo necessário. No entanto, esta preliminar
tampouco merece prosperar, visto que a cobrança objeto da lide está sendo realizada pelo banco réu,
portanto, possui legitimidade para ser demandado.
Não havendo outras preliminares a serem analisadas, passo ao mérito.

DO MÉRITO

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Quanto ao mérito, importa salientar que a relação jurídica controvertida é típica relação de consumo,
aplicando-se à espécie a legislação consumerista, posto que presentes todos os elementos constitutivos, quais
sejam, consumidor e fornecedor do produto, a teor do disposto nos arts. 2º e 3º, § 1º, da Lei nº. 8.078/90.
A parte autora afirma que está recebendo cobranças da empresa LATAMGA em suas faturas de cartão de
crédito, embora não tenha contraído nenhum débito com a empresa. Alega que tentou realizar o
cancelamento das cobranças junto à operadora do cartão de crédito, sem êxito. Em razão disso, requer a
desconstituição do débito, a suspensão das cobranças e o pagamento de compensação a título de danos
morais.
A parte ré, por sua vez, aduz que as transações foram legítimas porque foram autorizadas mediante
utilização do cartão de crédito, com o fornecimento do número do cartão, código de segurança e data de
validade, não podendo o Banco ser responsabilizado pela fragilização da segurança efetuada pela autora, ao
permitir que terceiros tenham acesso ao seu cartão e dados pessoais.
Considerando o conjunto probatório, a parte autora juntou as faturas do cartão (Id. 53848690) em que
constam as cobranças da empresa LATAMGA. Verifica-se que foram feitas várias compras de valores
acima de R$ 100,00 (cem reais) no mesmo dia, em vários dias. Com base nas faturas, as compras não
reconhecidas não correspondem ao perfil de consumo das autoras, de forma que não há coerência na
alegação de que o débito foi constituído de forma legítima.
Quanto ao argumento de que as compras foram autorizadas com o código de segurança do cartão, compras
pela internet por si só já são mais sujeitas a fraude e, ademais, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou
entendimento de que as instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito
interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias, conforme se
verifica no enunciado da Súmula 479.
Destarte, a parte ré não produziu prova apta a desconstituir as alegações da parte autora, o que evidencia
falha na prestação dos serviços, devendo a instituição financeira responder objetivamente pelos danos
causados à consumidora, pelo que dispõe o art. 14 do Código de Defesa do Consumidor:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua fruição e riscos.
Recai, então, sobre o réu a responsabilidade pela atividade desenvolvida e mal desempenhada,
configurando-se a responsabilidade pelo fato do serviço previsto no art. 14 do CDC.
Quanto ao dano moral, a compensação em dinheiro é uma forma de compensar uma dor moral e o
sentimento negativo, proporcionando à vítima uma emoção positiva e diminuindo o seu sofrimento. O dano
moral é de ser reconhecido até mesmo para que condutas dessa espécie não se repitam e o estabelecimento
réu seja mais diligente e cauteloso com os usuários de seus produtos.
Não se olvide que por dano moral se interpreta como aquele que molesta gravemente a alma humana,
ferindo-lhe os valores fundamentais inerentes à sua personalidade ou reconhecidos pela sociedade em que o
indivíduo está integrado, não havendo como enumerá-lo exaustivamente, por patentear-se na dor, na
angústia, no sofrimento, na desconsideração social, no descrédito à reputação, dentre tantas outras situações.
Nesse norte, dentro dos critérios da razoabilidade utilizados na fixação do valor dos danos morais, mister a
consideração do aspecto dúplice da condenação, quais sejam: a punição do infrator e a compensação do
ofendido. É que a indenização por dano moral tem o desiderato de compensar a dor, o espanto, a vergonha, o

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sofrimento, a frustração que a vítima do dano tenha suportado em decorrência do ato comissivo ou omissivo
do réu, bem assim coibir a prática de tais atitudes a minimizar o constrangimento de quem passa por tal
situação.
No caso em análise, a cobrança indevida no cartão de crédito do consumidor, relativa a serviços contratados
por terceiro fraudador, acarreta danos morais indenizáveis, notadamente quando demonstrada a reiterada
tentativa de solução do impasse pela via administrativa. Contudo, deve ser considerado, para fins de
estipulação do quantum compensatório, que a parte autora não realizou o pagamento dos valores indevidos e
não teve seu nome inscrito em cadastros de proteção ao crédito.
A par dos critérios utilizados para o arbitramento do valor indenizatório, deve o julgador levar em conta a
repercussão do dano na esfera pessoal da vítima, o desgosto causado, as dificuldades na solução do
problema a que não deu causa, a condição econômica do autor do dano, devendo-se sempre ter o cuidado
para que o valor da reparação não seja tão alto, a ponto de tornar-se instrumento de vingança ou
enriquecimento sem causa do prejudicado, nem tão baixo de maneira a se mostrar indiferente à capacidade
de pagamento do ofensor.
Assim, atento aos critérios da indenização por danos morais e à vedação do enriquecimento sem causa da
vítima, fixo o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para cada autora, por se mostrar condizente com o caso
em concreto.

DO DISPOSITIVO

Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE EM PARTE o pedido formulado na inicial, extinguindo o


processo com resolução do mérito, forma do art. 487, I, do CPC, a fim de:
a) desconstituir o débito cobrado pela empresa LATAMGA, no valor de R$ 9.051,13 (nove mil e cinquenta
e um reais e treze centavos), conforme Id. 59424590;
b) determinar à parte ré, ainda, que se abstenha de realizar novas cobranças oriundas do referido débito, sob
pena de multa de R$ 100,00 (cem reais) por cada desconto efetuado, ponto em relação ao qual CONCEDO a
tutela de urgência e evidência com fulcro nos arts. 300 e ss. do CPC;
c) condenar a parte ré a pagar, a título de compensação por danos morais, a monta de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais) para cada autora, atualizados com correção monetária pelo INPC, a contar da data desta sentença
(Súmula 362 do STJ), e juros de mora, a contar da data do evento danoso (data do último desconto indevido)
(Súmula 54 do STJ), no percentual de 1% ao mês.
Havendo cumprimento voluntário expeça-se alvará em favor da parte autora.
Sem custas e honorários, consoante art. 55, da Lei 9.099/95.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.
Após o trânsito em julgado, arquive-se.

BEATRIZ ALEXANDRIA
Juíza Leiga

Pela MM. Juíza de Direito foi proferida a presente sentença.


Nos termos do art. 40 da Lei no 9.099/95, HOMOLOGO o projeto de sentença elaborado pelo Juíza Leiga,
para que surta seus jurídicos e legais efeitos.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

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Expedientes necessários.

Iguatu/CE, data da assinatura digital.

CARLIETE ROQUE GONÇALVES PALÁCIO


Juíza de Direito em Núcleo de Produtividade Remota

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