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Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais

PJe - Processo Judicial Eletrônico

13/02/2023

Número: 5008711-22.2022.8.13.0317
Classe: [CÍVEL] PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
Órgão julgador: Unidade Jurisdicional Única da Comarca de Itabira
Última distribuição : 25/10/2022
Valor da causa: R$ 25.720,00
Assuntos: Bancários, Empréstimo consignado
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Advogados
REINALDO LINHARES GONCALVES (AUTOR)
VANIA MARIA DE OLIVEIRA (ADVOGADO)
EDUARDO PRADO SILVA (ADVOGADO)
BANCO C6 CONSIGNADO S.A. (RÉU/RÉ)
EDUARDO CHALFIN (ADVOGADO)

Documentos
Id. Data da Assinatura Documento Tipo
9639606170 25/10/2022 16:04 Petição Inicial Petição Inicial
AO JUÍZO DO JUIZADO ESPECIAL DA COMARCA DE ITABIRA

REINALDO LINHARES GONÇALVES, brasileiro, casado,


aposentado, portador do RG nº. M-1.379.627, inscrito no CPF nº. 299.674.306-
72, residente e domiciliado na Rua Safira, nº. 100, Apartamento nº. 101, Bairro
Major Lage de Cima, Itabira/MG, CEP. 35900-398, vem, através de seu
advogado, mui respeitosamente à presença de V.EXA. propor a presente AÇÃO
DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C REPETIÇÃO DE
INDÉBITO COM PEDIDO DE REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS em face do
Banco C6 Consignado S.A, pessoa jurídica de direito privado, instituição
financeira, inscrita no CNPJ nº. 61.348.538/0001-86, com endereço na Avenida
Nove de Julho, nº. 3148/3186 - Jardim Paulista, São Paulo - SP. CEP: 01406-
000, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:

I- DA JUSTIÇA GRATUITA

O autor é aposentado e o seu módico benefício é a sua única fonte de


sustento de maneira que qualquer despesa extraordinária poderá comprometer
sua subsistência e de sua família.
Assim requer gratuidade de justiça, com fulcro no inciso LXXIV, do
artigo 5º da Constituição Federal, c/c a Lei nº 1.060/50, artigo 1º da Lei nº
7.115/83 e nos termos dos artigos 98 e seguintes da Lei 13.105/2015 (Código de
Processo Civil). Para tanto, junta DECLARAÇÃO de Hipossuficiência Financeira
e cópias dos demonstrativos de créditos do seu benefício junto ao INSS.

II - DOS FATOS

No dia 26/04/2021 o autor foi surpreendido com um depósito realizado


pelo requerido em sua conta bancária no valor de R$ 8.397,46 (oito mil trezentos
e noventa e sete reais e quarenta e seis centavos) referente a suposto

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empréstimo consignado. Ocorre que o referido depósito foi realizado sem o
consentimento do autor, ou seja, sem que fosse solicitado e muito menos
contratado.
Após o ocorrido, o autor recebeu uma ligação de um suposto
funcionário do Banco requerido. Nesta ligação o autor informou que não havia
contratado com o banco e, portanto, não queria o empréstimo. O atendente então
lhe informou o número de uma conta para que o valor fosse devolvido ao
Requerido.
Assim, de boa-fé no dia 04/05/2021 o autor procedeu a devolução do
valor na conta informada.
O autor acreditava que o problema havia sido sanado. Ocorre que,
meses depois, ao verificar seus extratos, percebeu que havia descontos no seu
contracheque referentes ao empréstimo citado desde o mês de setembro de
2021.
Ao descobrir a situação, o autor entrou em contato com o requerido
via e-mail no dia 14 do mês de dezembro de 2021 informando que não contratou
empréstimo e que já havia realizado a devolução, juntando documentos
pertinentes e solicitando o estorno dos valores já descontados. No dia 17 de
dezembro de 2021, o requerido enviou resposta solicitando informações
complementares.
Sem conseguir solucionar a questão, o autor procurou o auxílio do
PROCON MUNICIPAL DE ITABIRA. Este entrou em contato com o requerido e
obteve a informação de que os valores ainda se encontram em aberto e orientou
o autor que fizesse um Boletim de Ocorrência. Alegou que o banco trabalha
somente com boleto para devolução e não transferência. Além disso, informou
que a contratação de empréstimo é realizada por meio digital com selfie do
consumidor.
Em contato com a Caixa Econômica Federal para solicitar
informações sobre a conta na qual a devolução havia sido efetivada, o autor foi
informado de que se tratava da conta nº: 3665-013-6841-1 de titularidade de
Caroline Juliane Reinan, CPF: 123.843.036-86 na Agência Presidente JK em
Belo Horizonte.

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Dessa forma, o autor se encaminhou à Delegacia de Polícia Civil e
registrou o Boletim de Ocorrência nº: 2022-017661689-001 (anexo) no qual
relata o ocorrido.
Abandonado pela instituição financeira que sequer enviou
comprovação da suposta contratação do empréstimo e diante de sua total
vulnerabilidade, não restou alternativa ao autor a não ser impetrar a presente
ação no intuito de solucionar o impasse.

III - DO DIREITO

Como se observa nos extratos anexados (extrato de empréstimos


consignados - INSS), vem sendo debitado a quantia de R$ 220,00 (duzentos e
vinte reais) por mês do valor total do benefício do autor.
É notória a dificuldade em que se encontram os idosos e aposentados
brasileiros historicamente castigados pelo abandono do poder público e
invariavelmente pela queda de renda diante da estagnação econômica.
Tal situação é agravada quando se trata de uma pessoa idosa quando
sua manutenção e cuidados com a saúde dependem do benefício.
Neste diapasão, frisa-se que a dignidade da pessoa humana, vai
muito além da manutenção da própria vida.
Não é por outro motivo que as normas de regulamentação e
tratamento do empréstimo consignado são carregadas de dispositivos protetivos
da relação contratual, em prol do contratante, já que, junto ao INSS
especialmente, estão pessoas de pouca instrução, idade avançada, com pouco,
ou sem qualquer discernimento.
Não é necessária uma ampla exposição de fundamentos para que
seja verificada a ofensa à dignidade da pessoa humana no caso em questão em
que possibilidade da usurpação da personalidade do autor fora negligenciada
pelo banco requerido.
É neste sentido a manifestação do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e Territórios:

(...) 2. "O fornecedor de serviços responde, independentemente de


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes e inadequadas sobre sua fruição e
riscos. o serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o
consumidor dele pode esperar, levando em consideração as

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circunstâncias relevantes, entre as quais o modo do seu fornecimento
e o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam (...) 11.
Violação de direito da personalidade. Dignidade da pessoa
humana. Abuso de direito. Lucro desenfreado de empresas sem
devida precaução no ato de contratar. Dano moral fixado atendendo
aos critérios exigidos, observando-se os critérios da razoabilidade e
proporcionalidade na determinação do" quantum "(caráter pedagógico
preventivo e educativo da indenização, sem gerar enriquecimento
indevido), em valor capaz de gerar efetiva alteração de conduta com a
devida atenção pela empresa. (...) (XXXXX20088070007 DF XXXXX-
53.2008.807.0007, relator: Alfeu Machado, data de julgamento:
01/04/2009, 3ª turma cível, data de publicação: 17/04/2009, DJ-E pág.
78) (grifamos)

Ademais, não restam dúvidas de que o contrato em discussão


ocasionou abalo emocional e enorme preocupação a parte autora, pessoa idosa
e, naturalmente, com saúde mais frágil, que se viu desamparado diante da
situação de descontos em seu benefício previdenciário.
Como se não bastasse a evidente ofensa à dignidade da pessoa
humana, há de se reconhecer a inobservância das normas relativas à proteção
do consumidor, especificamente o Código de Defesa do Consumidor - CDC (Lei
8.078/90).
Vale ressaltar que as relações contratuais entre indivíduos e
instituições financeiras correspondem à relação de consumo, matéria
sedimentada na jurisprudência pátria inclusive sumulada pelo Superior Tribunal
de Justiça (súmula 297),
Assim, necessária a consideração do Art. 14, § 1º do CDC, que
consagra a responsabilidade objetiva do fornecedor dos serviços:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua fruição e riscos.
§ 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a
segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se
esperam;
III - a época em que foi fornecido. (grifamos).

No caso em apreço a prestação de serviço sequer foi requerida, o que


notadamente configura “falha na prestação de serviço”. Há ainda falha na
segurança do “modo de fornecimento”, quando não foi verificada de forma

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correta a possível documentação acostada ao requerimento de empréstimo e no
possível instrumento contratual, se é que existente.
A hipossuficiência do consumidor em questão é presumida pelo
arcabouço jurídico pátrio. Não obstante, se evidencia pela simples observação
das características pessoais e elementos sociais do autor. Dessa forma, é dever
do fornecedor do serviço informá-lo minuciosamente e antecipadamente a
respeito da possível prestação e auxiliá-lo de forma satisfatória quando
ocorrerem desvios.
Importa esclarecer que o prestador é proibido de fornecer qualquer
serviço sem que o consentimento expresso do consumidor, incorrendo em
prática abusiva (Art. 39 do CDC) caso isso aconteça. Além disso, é condição
indispensável para a efetividade do contrato, a prévia análise e entendimento do
consumidor a respeito de seu conteúdo, sendo dever do fornecedor o
cumprimento deste preceito (Art. 46 do CDC).
Ressalta-se que o autor não teve contato com nenhum instrumento
contratual prévio para a prestação do serviço de empréstimo consignado.
Por fim, necessário anotar que a Lei 10.741/03 (Estatuto do Idoso)
prescreve uma série de normas especiais ao tratamento da pessoa idosa,
ressaltando a responsabilidade universal de proteção da dignidade do idoso (Art.
3º) e a responsabilização das pessoas físicas ou jurídicas por inobservância das
normas referentes aos direitos do Idoso, nos termos do referido Estatuto e da
Constituição Federal.
Como demonstrado, a conduta do requerido afronta diversos
dispositivos jurídicos, especialmente as normas constitucionais que representam
a dignidade da pessoa humana, à proteção do consumidor e do idoso, bem como
os seus desdobramentos e regulamentações.

IV - DA INEXISTÊNCIA DA RELAÇÃO CONTRATUAL

A “falsa” relação contratual em testilha ultrapassa o campo das


normas regulamentares e atingem frontalmente normas constitucionais.
Neste sentido, pode-se afirmar que houve afronta à dignidade da
pessoa humana (Art. 1º, III, da CF). Além disso, especialmente por se tratar de
pessoa idosa, o autor é amparado pelo artigo 10, da Lei nº 10.741/2003 (Estatuto
do Idoso).

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O contrato de empréstimo consignado é um dos instrumentos de
concessão de crédito mais utilizados por indivíduos que percebem benefício
previdenciário, seja pelo seu fácil acesso e quitação, seja pelo número de
instituições financeiras credenciadas para o oferecimento deste serviço.
O número de fraudes e crimes cometidos no uso do contrato de
empréstimo se tornou um dos principais problemas enfrentados pelos idosos.
O beneficiário se tornou refém de indivíduos que buscam o
enriquecimento ilícito através de contrato criminoso e inexistente em nome da
vítima.
Conforme dito alhures, o autor nunca procurou a instituição requerida
para firmar contrato de empréstimo consignado, ou mesmo assinou qualquer
documento apresentado por funcionário da instituição na sede ou filial da
empresa ou por meio digital.
A situação das fraudes e crimes contra idosos mostrou-se tão
preocupante que, em 16 de maio de 2008 – Publicado no DOU em 19 de maio
de 2008, o INSS editou a INSTRUÇÃO NORMATIVA INSS/PRES Nº 28, que
“Estabelece critérios e procedimentos operacionais relativos à consignação de
descontos para pagamento de empréstimos e cartão de crédito, contraídos nos
benefícios da Previdência Social”.
Destaca-se que a referida norma exige a manifestação expressa do
beneficiário para a contratação de crédito consignado:

CAPÍTULO II DA AUTORIZAÇÃO DO DESCONTO


Art. 3º Os titulares de benefícios de aposentadoria e
pensão por morte, pagos pela Previdência Social, poderão autorizar o
desconto no respectivo benefício dos valores referentes ao pagamento
de empréstimo pessoal e cartão de crédito, concedidos por instituições
financeiras, desde que:
I – (...)
II - mediante contrato firmado e assinado com
apresentação do documento de identidade e/ou Carteira Nacional de
Habilitação - CNH, e Cadastro de Pessoa Física - CPF, junto com a
autorização de consignação assinada, prevista no convênio; e
III - a autorização seja dada de forma expressa, por escrito
ou por meio eletrônico e em caráter irrevogável e irretratável, não
sendo aceita autorização dada por telefone e nem a gravação de voz
reconhecida como meio de prova de ocorrência.
IV (...)
(INSTRUÇÃO NORMATIVA INSS/PRES Nº 28)

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Destarte, a manifestação expressa (Art. 3º, III da IN/INSS/PRES Nº
28, de 16 de maio de 2008) do beneficiário é requisito essencial para a validade
da consignação e sua inobservância produz a nulidade do contrato.
Além disso, o acordo deve ser instruído “mediante contrato firmado e
assinado com apresentação do documento de identidade e/ou Carteira Nacional
de Habilitação - CNH, e Cadastro de Pessoa Física - CPF, junto com a
autorização de consignação assinada, prevista no convênio”.
Ressalta-se ainda a impossibilidade de autorização por telefone, onde
a gravação de voz funcione como prova do ato, conforme estabelece o Art. 1º,
VI, § 7º da IN/INSS/DC 121/2005.
Neste caso, a contratação do referido serviço por terceiros
fraudadores somente foi possível diante da desídia do requerido que
negligenciou a aferição da documentação, o que teria evitado todo o transtorno.
Portanto, é inexistente o débito alegado porque o autor sequer sabia
da consignação das parcelas de seu benefício e não assinou nenhum contrato
de empréstimo com o requerido.

V- DO DANO MATERIAL

A realização de contrato de empréstimo consignado em nome do


autor sem o seu consentimento vem lhe causando prejuízo financeiro desde que
os descontos iniciaram no mês de setembro de 2021. Considerando que desde
aquela data são descontados R$ 220,00 (duzentos e vinte reais) mensais da
aposentadoria do autor, o requerido já percebeu indevidamente R$ 2.860,00
(dois mil oitocentos e sessenta reais) até o mês de outubro de 2022.
Diante do ilícito cometido pelo requerido, o artigo 927 do Código Civil
é cristalino quanto ao dever de reparação:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Conforme sobejamente demonstrado, o autor não contratou o


empréstimo consignado com o requerido. Portanto, o desconto das parcelas

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mensalmente em sua aposentadoria consubstancia-se em nítida cobrança
abusiva e indevida.
Em se tratando de relação de consumo, o artigo 42 do Código de
Defesa do Consumidor determina que o infrator deve restituir o dobro do que
tenha recebido indevidamente, incluindo as correções e os juros legais.
Recentemente, ao enfrentar a questão da necessidade ou não de
comprovação do elemento volitivo do infrator, o STJ pacificou o entendimento de
que a devolução em dobro independe do dolo ou má-fé, somente sendo lícita a
escusa na ocorrência de erro justificável. É o que se extrai do seguinte trecho da
ementa:

“(...) 6. O art. 42, parágrafo único, do CDC dispõe que,


sendo o consumidor cobrado em quantia indevida, terá direito à
repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em
excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo
hipótese de engano justificável, que deverá ser demonstrado pelo
fornecedor a fim de afastar a sanção imposta no mencionado
dispositivo legal, o que não ocorreu nos presentes autos. 7. Somente
se configura erro justificável quando o fornecedor dos serviços
adota todas as cautelas possíveis para evitar a cobrança indevida
e esta ocorre por circunstâncias alheias ao seu controle, o que não
restou demonstrado nos autos. No caso, a própria empresa ré/recorrida
assume, em sua contestação, a existência de erros sistêmicos nas
transações comerciais modernas que, por vezes, causam
inconvenientes durante as relações de consumo. 8. Nesse
descortino, constatado o pagamento em duplicidade, impõe-se o
dever de devolução em dobro, nos termos do art. 42, parágrafo
único, do CDC, segundo o qual não se revela imprescindível, para
o reconhecimento do direito à dobra, a existência do dolo ou má-
fé, sendo suficiente, para a incidência da sanção, a constatação
de erro injustificável.” (Acórdão 1237607, 07358258020198070016,
Relator: CARLOS ALBERTO MARTINS FILHO, Terceira Turma
Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, data de
julgamento: 17/3/2020, publicado no PJe: 2/4/2020). (grifamos).

Conforme já dito, todos os problemas advindos da contratação


fraudulenta – que têm sido suportados até o momento apenas pelo autor –
somente ocorreram por que o requerido negligenciou a autenticidade das
informações ao contratar.
Desta forma, o requerido cometeu erro grave e injustificável, portanto,
o ressarcimento em dobro dos valores cobrados nos termos do artigo 42 do CDC
é medida que se impõe.
Neste sentido, por estar sendo cobrado de forma indevida desde o
mês de setembro de 2021, o autor dever ser ressarcido em dobro dos valores
quitados até o momento, ou seja R$ 5.720 (cinco mil setecentos e vinte reais)

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computados até o mês de outubro de 2022, acrescidos dos juros legais e
correção.

VI - DO DANO MORAL

Com relação à reparação do dano moral, oportuno informar que


aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito, ficando obrigado a reparar os prejuízos ocasionados (Art. 186 e 187 do
CC).
No caso exposto, por se tratar de uma relação de consumo, a
reparação independe de o agente ter agido com culpa, uma vez que nosso
ordenamento jurídico adota a teoria da responsabilidade objetiva (Art. 12 do
CDC).
Sendo assim, é de inteira justiça que seja reconhecido ao autor o
direito de ser indenizado pelos danos sofridos (Art. 6, VI, do CDC), em face da
conduta negligente do Requerido. Além disso, este não obedeceu às regras
específicas de contratação estabelecidas na lei e na Instrução Normativa do
INSS.
Os danos morais decorrentes da negligência e imprudência do
requerido, in casu, são presumidamente reconhecidos, conforme jurisprudência
majoritária, inclusive do TJMG:

EMENTA: CIIVL E PROCESSO CIVIL. DECLARATÓRIA


DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. APOSENTADORIA. DESCONTOS
INDEVIDOS. EMPRÉSTIMO BANCÁRIO. CONTRATO NÃO
SOLICITADO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANO MORAL.
REQUISITOS. FIXAÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. I.
Tratando-se de relação de consumo, a responsabilidade civil
decorrente da prática de ato ilícito é objetiva (art. 14 CDC). A
imposição do dever de indenizar objetivamente exigirá a ocorrência da
conduta do agente (independente de culpa), dano e nexo causal.
Demonstrada a presença dos requisitos legais impõe-se o dever
reparatório. II. Representa prática abusiva o desconto, em folha de
pagamento, de parcelas decorrentes de contrato de natureza
bancaria não solicitado pelo correntista. III. O desconto abusivo e
ilegal em verba de natureza alimentar, capaz de comprometer o
próprio sustento da vitima, representa ilícito moral indenizável,
ultrapassando meros dissabores decorrentes das relações
contratuais. IV. Prevalecendo o dever de indenizar, a fixação do valor
a ser atribuído a titulo de danos morais, deverá atender aos critérios de
razoabilidade e proporcionalidade para que a medida não represente
enriquecimento ilícito, bem como para que seja capaz de coibir a
prática reiterada da conduta lesiva pelo seu causador. V. Os honorários
advocatícios serão fixados entre dez a vinte por cento sobre o valor da

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condenação, atendidos o grau de zelo do profissional; o lugar de
prestação do serviço; a natureza e a importância da causa; o trabalho
realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu
serviço. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.22.067690-2/001,
Relator(a): Des.(a) Luiz Artur Hilário , 9ª CÂMARA CÍVEL, julgamento
em 06/09/2022, publicação da súmula em 09/09/2022) (grifamos).

Ressalta-se que a lei não estabelece parâmetro para fixação dos


valores indenizatórios por dano moral. Entretanto, Humberto Theodoro Júnior
acompanhado da doutrina majoritária e apoiado na sólida jurisprudência de
nossos Tribunais afirma:

“A indenização, em caso de danos morais, não visa a


reparar, no sentido literal, a dor, a alegria, a honra, a tristeza ou a
humilhação; são valores inestimáveis (grifos do autor) mas isso não
impede que seja precisado um valor compensatório, que amenize o
respectivo dano, com base em alguns elementos como a gravidade
objetiva do dano, personalidade da vítima, sua situação familiar e
social, a gravidade da falta, ou mesmo a condição econômica das
partes. E desestimular o ofensor a reiterar sua conduta dolosa e
maliciosa em outros episódios, porque se o fizer estará sujeito aos
danos morais que de sua conduta resultar. (DANO MORAL, 4º Ed.
atualizada e ampliada, Juarez de Oliveira Editora, pág. 113).

Dessa forma, reconhecida a existência do dano moral e o


consequente direito à indenização que deste decorre, necessário se faz analisar
o aspecto do quantum pecuniário a ser considerado e fixado, não só para efeitos
de reparação do prejuízo, mas também sob o cunho de caráter punitivo ou
sancionatório, preventivo, repressor.
A indenização que se pretende em decorrência dos danos acima
expostos é a que possa em parte, compensar os "danos suportados" pelo autor,
no caso, a súbita surpresa que lhe gerou constrangimentos, distúrbios,
dissabores graves de toda ordem, além de prejuízo financeiro.

VII - DA ANTECIPAÇÃO DA TUTELA

Notória a necessidade de concessão de tutela provisória de urgência,


tendo em vista o preenchimento de todos os seus requisitos, uma vez que é
demonstrada a probabilidade do direito do autor, bem como o perigo de demora
(CPC/15, art. 300).
A probabilidade do direito do autor encontra-se exaustivamente
demonstrada e todo o alegado pode ser comprovado de plano, pela via
documental acostada aos autos, sem necessidade de qualquer dilação
probatória.

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Observa-se ainda a agressão frontal a direitos e garantias
fundamentais assegurados pela Constituição Federal, o que, por si só, já justifica
o reconhecimento da verossimilhança. Além disso, o direito do autor encontra
respaldo na jurisprudência consolidada pelos tribunais pátrios.
Quanto ao perigo da demora, pode-se afirmar que caso haja a
continuidade dos descontos mensais em decorrência do “falso empréstimo”, o
autor continuará a ter parte considerável sua subsistência subtraída, o que
culminará com o desequilíbrio em suas finanças. Deste modo é imprescindível
fazer cessar imediatamente os descontos.
Por fim, é importante ressaltar que não há a irreversibilidade da
medida, uma vez que, sendo improcedente o pedido, o requerido poderá efetuar
os descontos posteriormente.
Desse modo, para salvaguardar sua condição digna, somente a
concessão de um provimento antecipado que impeça a continuação dos
descontos em seu benefício poderá evitar dificuldades financeiras ao autor e sua
família.
Deferidas providências para a obtenção do resultado prático supra, na
mesma decisão, ainda que provisória ou definitiva, requer-se seja fixado o valor
de multa penal por desconto indevido, contrariando a cumprimento da ordem
judicial, no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais).

VIII - DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Em regra, o ônus de provar incumbe a quem alega os fatos, no


entanto, como se trata de uma relação de consumo na qual o consumidor é parte
vulnerável e hipossuficiente (art. 4º, I do CDC), evidência corroborada pelo fato
de que a parte autora é pessoa idosa e de pouca instrução, o encargo de provar
deve ser revertido ao fornecedor por ser este a parte mais forte na relação de
consumo e detentor de todos os dados técnicos atinentes aos serviços e
produtos adquiridos.
Sendo assim, com fundamento no Art. 6º, VIII do CDC, o autor requer
a inversão do ônus da prova, incumbindo ao réu a demonstração de todas as
provas, principalmente possíveis instrumentos de contrato de empréstimo
falsamente assinados em nome do requerente, para que seja comprovada a
fraude na contratação do empréstimo junto ao banco requerido.

Número do documento: 22102516033894500009635699689


https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=22102516033894500009635699689
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IX - DO PEDIDO

Diante dos fatos e fundamentos expostos, o autor requer:


a) A CONCESSÃO DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA,
uma vez que possui condições financeiras de arcar com as possíveis despesas
do processo, bem como honorários sucumbenciais, na forma do art. 98 e ss do
CPC/15;
b) TRÂMITE PRIORITÁRIO desta demanda, vez que a parte
promovente é pessoa idosa;
c) A CONCESSÃO DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA,
inaudita altera pars e initio litis, nos moldes do art. 300 do CPC, para que seja
determinada a suspensão imediata dos descontos sob a rubrica de
pagamento de parcelas do referido empréstimo consignado junto ao INSS,
até que seja resolvida a discussão judicial a respeito da inexistência do referido
contrato;
d) Deferido o pedido anterior, requer a EXPEDIÇÃO da competente
Ordem Judicial assinalando-se prazo para seu implemento, com a fixação de
multa de R$ 2.000,00 (dois mil reais) por cada desconto indevidamente
realizado;
e) A CITAÇÃO do Requerido no endereço indicado no preâmbulo
através dos correios para o seu comparecimento à audiência de Conciliação e,
não havendo acordo, que apresente sua defesa, sob pena de incorrer contra si
os efeitos da revelia (LJE, art. 20);
f) Seja declarada a INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA nos termos
do Art. 6º, VIII do CDC.
g) No mérito, que seja DECLARADA A INEXISTÊNCIA DO DÉBITO
fundado em contrato de empréstimo consignado inquinado de fraude proposta
por terceiro;
h) CONDENAR O BANCO REQUERIDO ao ressarcimento das
parcelas descontadas indevidamente em dobro, nos moldes do art. 42, do CDC,
perfazendo o montante de R$ 5.720 (cinco mil setecentos e vinte reais),
devidamente corrigido monetariamente e acrescido dos juros de mora;
i) CONDENAR também ao pagamento de indenização por DANOS
MORAIS, tendo em vista o grave abalo emocional, sofrimento decorrentes da

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sensação de humilhação causada, no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) ou,
caso entenda Vossa Excelência, quantia prudentemente arbitrada por este juízo;
j) A CONDENAÇÃO do Requerido ao pagamento de todas as custas
processuais e de honorários advocatícios;
Protesta e requer ainda provar o alegado por todos os meios de prova
admitidos em direito, especialmente documental, testemunhal, pericial,
grafotécnico, entre outros.

Atribui-se à causa, para fins de alçada, o valor de R$ 25.720 (vinte e


cinco mil setecentos e vinte reais).

Nestes termos,
pede e espera deferimento.

Itabira, 25 de outubro de 2022.

Vânia Maria de Oliveira Eduardo Prado Silva


OAB/MG nº 63.759 OAB/MG nº 133.808

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