Você está na página 1de 7

AO JUIZADO ESPECIAL CIVIL DA COMARCA DE GUARANTÃ DO

NORTE/MATO GROSSO.

João Fidel Rodrigues, brasileiro, aposentado, inscrito no CPF nº XXX, portador do RG


nº SSP/RS, sem endereço eletrônico, residente e domiciliado XXX, na cidade de XXX,
CEP XXX, por seu advogado, com procuração em anexo, com escritório profissional na
rua XXX, na cidade de XXX, e-mail profissional: XXX, onde recebe notificações e
intimações, vem à presença de Vossa Excelência, propor a presente:

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C REPETIÇÃO


DE INDÉBITO, DANOS MORAIS E TUTELA DE URGÊNCIA

Em face de BANCO XXX, sociedade anônima, inscrita no CNPJ XXX, situado na rua
XXX, n° XXX Bairro XXX, XXX/ MT, CEP XXX, pelas razões e fatos a seguir
expostos:

1. PRELIMINARES

1.1. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Antes de adentrar no mérito, o requerente informa à Vossa Excelência que não possui
condições financeiras de arcar com as custas e despesas processuais e os honorários
advocatícios sucumbenciais, advindos desta demanda, o que se comprova pelos
documentos anexos.

O requerente atualmente se encontra desprovido em sua situação financeira. Aufere


pensão no valor de um salário mínimo bruto, conforme se verifica do histórico de
créditos do INSS, qual seja, o valor atualmente de R$ 1.412,00 (mil quatrocentos e doze
reais), assim sendo incapaz de arcar com tais despesas sem prejuízo de seu sustento.

Por estas razões, pleiteia pela concessão dos benefícios da GRATUIDADE DA


JUSTIÇA, nos termos do artigo 98 e seguintes do Código de Processo Civil, artigo 5º,
LXXIV da Constituição Federal.

1.2. DA TUTELA DE URGÊNCIA


A tutela provisória de urgência, seja cautelar ou satisfativa, desafia a presença
concomitante dos requisitos a teor do artigo 300 do CPC, quais sejam: (i) Probabilidade
do direito e (ii) perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo.

Neste sentido, a probabilidade do direito está demonstrada nos descontos indevidos,


pois o requerente não contratou o empréstimo em questão, tampouco recebeu em sua
conta o valor supostamente contratado.

Da mesma sorte, o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo caracteriza-se


pelos descontos mensais das parcelas diretamente na aposentadoria do requerente, que
necessita de todo o valor do benefício previdenciário para a manutenção de sua
dignidade, de modo que, R$ 150,00 (cento e cinquenta reais) por mês lhe faz muita
falta, não podendo esperar que somente a sentença cesse estes descontos indevidos.

Ainda assim, mesmo considerando que os descontos estejam em vigor desde 2021, o
requerente tem dificuldades para operar aplicativos bancários e lidar com questões
bancarias devido a sua simplicidade e familiaridade com tecnologia. Diante disso
somente agora foi descoberto tais descontos.

Por estas razões, solicita o deferimento da tutela de urgência para determinar a


suspensão dos descontos na pensão, oficiando-se o INSS para cumprimento da decisão,
bem como determinar que o requerido não inclua o nome do requerente nos cadastros de
proteção ao crédito, sob pena de multa diária a ser arbitrada por Vossa Excelência.

2. DOS FATOS

Excelência, o autor, após anos de contribuição para a sociedade, encontra-se aposentado


pelo INSS há sete anos. Atualmente, sua única fonte de renda é este benefício
equivalente a um salário mínimo, esse valor, muitas vezes, é insuficiente para suprir as
necessidades básicas, mas representa a segurança e a tranquilidade necessárias para os
desafios do dia a dia, sendo este seu único meio de sustento que lhe permite ter acesso
aos medicamentos essenciais para sua saúde e aos alimentos básicos que garantem sua
subsistência.
Por mero acaso e diante de sua limitada compreensão das próprias finanças, o
requerente buscou a autarquia responsável pelo recebimento de seu benefício e solicitou
um extrato onde constatou que outro banco, denominado Banco XXXX, vinha
realizando descontos mensais no valor de R$ 150,00 (cento e cinquenta reais) de sua
aposentadoria desde 21 de maio de 2021.
Indignado o autor entrou em contato com o referido banco, em que foi informado de que
houve a contratação, a seu suposto pedido, de um empréstimo no valor de R$ 1.300,00
(um mil e trezentos reais) o qual foi depositado em sua conta. Por essa razão, estariam
sendo efetuados os descontos correspondentes às parcelas do empréstimo.
Entretanto, o autor nega categoricamente qualquer conhecimento ou solicitação de tal
empréstimo. Bem como não há registro de nenhum documento assinado pelo próprio
relacionado a esse empréstimo, tampouco o valor em questão foi debitado em sua conta,
conforme demonstram os extratos bancários em anexo.
Outro ponto a ser considerado é que o autor não possui sequer uma conta vinculada em
seu nome neste banco, muito menos um empréstimo associado a ele através do seu
conhecimento. Tal constatação é fundamental, uma vez que a obtenção de um
empréstimo requer, necessariamente e no mínimo, a existência de uma conta em nome
do requerente para a formalização de tal pedido.
Conclui-se, portanto, que o comportamento abusivo da empresa demandada é
completamente inaceitável e injustificado. Diante disso, a parte ré deve assumir a
responsabilidade por ressarcir integralmente os danos e constrangimentos impostos ao
autor. E com base nessas razões que o demandante apresenta a presente ação.
3. DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E INVERSÃO
DO ÔNUS DA PROVA

A pretensão autoral deve ser analisada à luz da Lei nº 8.078/1990 - CDC, pois
caracterizadas no presente caso, as figuras do consumidor e do fornecedor, personagens
abrangidos pelos artigos 2º e 3º da citada lei. Ademais, não há dúvidas da
hipossuficiência do requerente, bem como de sua fraqueza econômica e vulnerabilidade
como consumidor.

O requerente não possui condições econômicas, técnicas ou de informação para


comprovar o seu direito. Conforme artigo 6º, inciso VIII do Código de defesa do
consumidor:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor: VIII - a facilitação da defesa de seus


direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências;

Assim, requer o ônus da prova e exigir do requerido a demonstração de que não foi o
responsável pela fraude cometida contra o requerente, bem como os danos causados a
ele.
4. DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA

Como cediço, o Código Consumerista elegeu a responsabilidade objetiva do fornecedor


de serviços quanto ao dever de reparar os danos causados ao consumidor,
independentemente de culpa.

A respeito do tema, é a jurisprudência que se colaciona:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C REPETIÇÃO DE
INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO. DESCONTOS EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.
CONTRATAÇÃO NÃO COMPROVADA. DEVER DE INDENIZAR
CONFIGURADO. DANO MORAL IN E IPSA. QUANTUM MANTIDO.
RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO EM DOBRO. 1. Caso em que não restou comprovada
a contratação do empréstimo que deu origem aos descontos no benefício previdenciário
do autor, ônus que incumbia à instituição financeira demandada, a teor do art. 373, II,
do CPC. 2. A contratação, pelo que se depreende dos autos, foi fraudulenta, aplicando-se
ao caso a Teoria do Risco do Empreendimento, segundo a qual responde o fornecedor
pelos riscos decorrentes de sua atividade lucrativa. A responsabilidade, no caso, é
objetiva, independente de culpa, nos termos do que dispõem os artigos 14, caput e art.
17 do CDC, não havendo que se falar em culpa exclusiva de terceiro. Declaração de
inexistência do contrato sub judice mantida. 3. Danos morais presumidos (in re ipsa),
que prescindem de provam de prejuízo concreto. Quantum indenizatório mantido, em
atenção às peculiaridades do caso concreto e aos critérios estabelecidos pela doutrina e
jurisprudência. 4. Repetição dos valores indevidamente descontados do benefício do
autor que deve ocorrer de forma dobrada. "A restituição em dobro do indébito
( parágrafo único do artigo 42 do CDC) independe da natureza do elemento volitivo do
fornecedor que realizou a cobrança indevida, revelando-se cabível quando referida
cobrança consubstanciar conduta contrária à boa-fé objetiva." [EAREsp XXXXX/RS,
Rel. Ministro OG FERNANDES, CORTE ESPECIAL, julgado em 21/10/2020, DJe
30/03/2021]. APELAÇÃO DESPROVIDA.(Apelação Cível, Nº XXXXX20208210022,
Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Thais Coutinho de Oliveira,
Julgado em: 26-05-2022)

Nesse passo, não há dúvidas quanto referida responsabilidade, pois, a contratação do


empréstimo consignado NÃO FOI AUTORIZADA E SEQUER SOLICITADO pelo
requerente, tendo ele sido vítima de fraude cometida pelo ora requerido.

5. DA REPETIÇÃO DE INDÉBITO EM DOBRO


Restou demonstrado nos autos que o requerente NÃO CONTRATOU tal empréstimo, e,
NÃO RECEBEU tal valor emprestado em consignação, situação que caracteriza prática
abusiva à luz do Código de defesa do consumidor:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas


abusivas: III. Enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer
produto, ou fornecer qualquer serviço;

Trata-se de uma fraude, prática lamentavelmente comum, na qual bancos e


correspondentes bancários obtêm indevidamente os dados pessoais de consumidores
para realizar aberturas de empréstimos consignados em seus sistemas.
Excelência, verifica-se que este exemplo acima é aplicável ao caso do requerente. Neste
sentido, configura-se a prática de ato ilícito por parte do requerido, visto que não apenas
realizaram um empréstimo consignado não autorizado, mas também o valor
correspondente sequer foi creditado em sua conta bancária. Tal conduta acarretou
prejuízos materiais ao requerente, uma vez que descontos estão sendo efetuados em sua
aposentadoria, de maneira totalmente indevida.
Indubitavelmente, o ato ilícito perpetrado pelo requerido é caracterizado por má-fé, uma
vez que o requerente não compareceu ao estabelecimento para solicitar o empréstimo
consignado, o que indica que a empresa tinha ciência de que estava gerando uma cédula
de crédito fraudulenta.
Assim, demonstrado o prejuízo e o dever de incidir a repetição em dobro, pois da data
do primeiro desconto - mês 05/2021, até a presente data, se passaram 33 x (33 meses de
desconto) - conforme documentação probatória em anexo, qual seja, a quantia não
inferior a R$ 4.950,00 (quatro mil novecentos e cinquenta reais).

6. DOS DANOS MORAIS

Como cediço, a indenização por danos morais deve ter caráter reparatório, sem ensejar
enriquecimento sem causa, representando ao ofendido, uma compensação justa pelo
sofrimento experimentado, e, ao ofensor, um desestímulo à reiteração do ato lesivo.
Devem ser levados em consideração, alguns fatores como a gravidade da ofensa, a
condição econômica e financeira do requerente e do requerido, a repercussão e as
consequências do fato, a posição social do lesado e o grau de culpa ou dolo do ofensor.
Desta forma, comprovado o ato ilícito do demandado, em ter celebrado um contrato de
empréstimo não solicitado, ainda, SEQUER TER CREDITADO REFERIDO VALOR
NA CONTA DO REQUERENTE, na pensão recebida, pois o autor desconhece esses
valores, tampouco a título de empréstimo e até mesmo refinanciamento, cujo montante é
destinado à sua sobrevivência e a responsabilidade objetiva pelo ato praticado, é direito
que seja condenado ao pagamento dos danos morais experimentados pelo requerente.
É pertinente ressaltar que o incidente em questão não pode ser minimizado como um
mero aborrecimento. O requerente teve seu direito ao sigilo de dados violado, e
encontrando-se atualmente sob transtornos na busca por soluções para os problemas
decorrentes, o que tem acarretado significativo desconforto e apreensão. Considerando
que o requerente nunca teve qualquer envolvimento com atividades ilícitas.
No caso, vislumbra-se claramente a possibilidade de aplicação da teoria DO DESVIO
PRODUTIVO DO CONSUMIDOR, criada pelo advogado e professor Marcos
Dessaune, defende que todo tempo desperdiçado pelo consumidor para a solução de
problemas gerados por maus fornecedores constitui dano indenizável. Segundo o autor:

[...] o desvio produtivo caracteriza-se quando o consumidor, diante de uma situação de


mau atendimento, precisa desperdiçar o seu tempo e desviar as suas competências — de
uma atividade necessária ou por ele preferida — para tentar resolver um problema
criado pelo fornecedor, a um custo de oportunidade indesejado, de natureza
irrecuperável. (grifei)

Neste caso, é evidente a possibilidade de aplicação da teoria, dado que o Autor teve que:
- Por diversas vezes, entrar em contato com o atendimento do Réu e buscar por conta
própria demonstrar o que confirmava todas essas vezes – que ele não havia contratado o
empréstimo consignado do Réu;
- Riscos de ter seu nome incluído nos cadastros de proteção ao crédito, pela falta de
pagamento que certamente ocorreria, já que não estava ciente da fraude.

É fato tudo isso, caso não fosse descoberto a tempo, causaria mais transtornos, pois teria
sido efetuados mais descontos em seus proventos de aposentadoria.

Portanto, levando em conta esses critérios e visando a reparação do dano sofrido, o


requerente entende razoável e proporcional, a condenação do Banco réu, a quantia não
inferior a 10 (dez) salários mínimos nacional, a título de danos morais, pois a parte
requerente, vem a quase 4 anos sofrendo com estes descontos indevidos.

7. DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer a Vossa Excelência:

a. A concessão dos benefícios da GRATUIDADE DA JUSTIÇA, com base na lei


1.060/50, com as alterações introduzidas pela lei 7.510/86, bem como o disposto na Lei
13.105/15, NCPC, em seu artigo 98 e seguintes, artigo 5º, inciso LXXIV, por não ter o
requerente condição de arcar com a custa processual e honorária advocatícios sem
prejuízo do próprio sustento;
b. O deferimento da TUTELA DE URGÊNCIA, para a suspensão dos descontos na
aposentadoria do requerente, oficiando o INSS, bem como determinando que o Banco
não inclua o nome do requerente nos cadastros de proteção ao crédito, sob pena de
multa diária a ser arbitrado por Vossa Excelência;
c. A citação do requerido para que conteste a presente ação sob pena de revelia e
confissão quanto à matéria de fato;
d. Informar que não tem interesse em audiência de conciliação, conforme artigo 334,
parágrafo 5º, do CPC;
e. A inversão do ônus da prova, com fulcro no inc. VII do art. 6º do CDC;
f. A condenação do requerido, a ressarcir a requerente EM DOBRO, pelos valores
descontados indevidamente de sua aposentadoria no valor de R$ 4.950,00 (quatro mil
novecentos e cinquenta reais), o qual deve ser corrigido monetariamente pela tabela
C.G.J, desde os respectivos descontos e acrescidos de juros moratórios de 1% (um por
cento), ao mês, desde a citação;
g. A condenação do requerido ao pagamento de verba indenizatória por dano moral
estipulada no valor de R$ 12.120,00 (doze mil, cento e vinte reais), em favor do autor, a
ser corrigido monetariamente pela tabela C.G.J a partir da data do arbitramento e
acrescido de juros moratórios mensais de 1% (um por cento) a partir da citação (súmula
362 do STJ e artigo 405 do Código Civil;
h. Condenar o requerido ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios
no importe de 20% (vinte por cento) sobre o valor atualizado da causa, na forma do
artigo 85, parágrafo 2º do CPC;
i. Informa desde já que não há interesse em audiência de conciliação conforme artigo
334, § 5º, do novo CPC.

Pretende provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidas.

Atribui-se à causa o valor provisório de R$______________


(____________________________________________), para fins de distribuição.

Nestes termos, pede deferimento.


Guarantã do Norte-MT, 15 de fevereiro de 2024.
Assinatura

OAB/XXXXXXXX

Você também pode gostar