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MM JUÍZO FEDERAL DA ____ VARA DO JUIZADO FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE

MATO GROSSO

Parte autora, qualificação, respeitosamente vem à presença de Vossa Excelência, propor


a presente
AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA E
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS
Em face de CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, empresa pú blica federal, pessoa jurídica de
direito privado, inscrita no CNPJ 00.360.305/0686-80 no endereço Av. Edgar Vieira S-Nº,
Boa Esperança, Cuiabá /MT, CEP: 78068-401, pelos motivos de fato e de direito a seguir
aduzidos:
1- PRELIMINARMENTE
DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA
O requerente nã o poui condiçõ es de arcar com as custas do processo sem prejuízo de seu
pró prio sustento, tal como de sua família, fazendo jus aos benefícios da justiça gratuita, com
base nos Art. 98 e ssss. da lei nº 13.105/15.
Diante de todo o exposto requer a conceã o dos benefícios previstos no Art. 98 e ssss. da Lei
nº 13.105/15.
2 – DOS FATOS
O requerente é cliente desde 2015 do réu, titular da conta poupança xxxx, conta esse que
recebe seu salá rio e utiliza para demais movimentaçõ es financeiras.
No dia 24/04/20 a irmã do requerente fez uma transferência para a referida conta, no
valor de R$1.500,00 (hum mil e quinhentos reais) e conforme extrato anexo, observa-se
que o autor conseguiu utilizar seu cartã o normalmente.
Logo, em 11/05/20 o requerente vendeu sua moto e recebeu outra transferência na sua
conta, no valor de R$2.800,00, conforme extrato e comunicado de venda anexo. Apó s a
transferência, o requerente foi até uma agência do banco réu para sacar o dinheiro, eis que
foi surpreendido com a informaçã o de que sua conta estava encerrada e ainda o
informaram que esse saque só poderia ser realizado via judicial.
No dia seguinte, inconformado e precisando do dinheiro para se alimentar, o requerente
foi novamente a agência explicar a situaçã o e foi informado que precisaria esclarecer a
origem da transferência de R$1.500,00 que recebeu da sua irmã , pois havia suspeita de ser
de atividade ilícita. Frisa-se que mesmo apresentando o comprovante de transferência ao
atendente do banco réu, lhe foi negado qualquer tipo de assistência e confirmado que o
dinheiro dele só sairia dessa conta por ordem judicial.
E apesar do banco réu agir de forma arbitrá ria em meio uma pandemia, colocando o autor
em risco todas as vezes que ele precisou dirigir-se ao banco e fazer acusaçõ es de dinheiro
ilícito, o réu nã o entregou senhas e recusou-se a apresentar qualquer tipo de documento
sobre sua acusaçã o totalmente infundada.
Observa-se que no dia 08/05/20 o réu enviou um SMS para o autor referente a um
bloqueio de assinatura eletrô nica, mas em momento algum diz que a conta foi encerrada. E
todos os avisos que possui no internet banking sã o referentes a assinatura eletrô nica
bloqueada.
Ora excelência, se o autor tivesse sido notificado que sua conta havia sido encerrada, ele
sequer teria vendido a moto e pedido para que fosse feita transferência para uma conta
encerrada.
Em 12/05/2020 a situaçã o ficou pior, pois o requerente agora nã o consegue nem mais
consultar seu saldo bancá rio pelo aplicativo Caixa e começou aparecer um aviso de conta
bloqueada, conforme print anexo que confirma todos os fatos narrados na exordial.
Frisa-se que o requerente, além de ter comparecido duas vezes na agência, tentou diversas
vezes entrar em contato com a Ouvidoria do banco réu e ninguém atendeu. Ademais, o
PROCON Cuiabá encontra-se fechado e seu app apresenta falhas na abertura de um
processo.
Assim, diante de todo desrespeito, descaso, abalos morais, devido à falha na prestaçã o do
serviço, nã o restou alternativa senã o buscar a tutela jurisdicional do Estado, para ser
ressarcida de forma pecuniá ria pelos danos morais sofridos.
3- DO DIREITO
Observa-se que a resoluçã o 2747 do Bacen, em seu art. 12 permite que os bancos façam
rescisã o unilateral de contratos de conta, contudo, para isso é necessá rio que haja aviso
prévio, prazo para que o correntista tome as devidas providências e alguns outros
requisitos, que nã o foram respeitados no caso em tela.
Art. 12. Cabe à instituiçã o financeira esclarecer ao depositante acerca das condiçõ es
exigidas para a rescisã o do contrato de conta de depó sitos à vista por iniciativa de qualquer
das partes, devendo ser incluídas na ficha proposta as seguintes disposiçõ es mínimas: (NR)
I - comunicaçã o prévia, por escrito, da intençã o de rescindir o contrato; (NR) II - prazo para
adoçã o das providências relacionadas à rescisã o do contrato; (NR) III - devoluçã o, à
instituiçã o financeira, das folhas de cheque em poder do correntista, ou de apresentaçã o de
declaraçã o, por esse ú ltimo, de que as inutilizou; (NR) IV - manutençã o de fundos
suficientes, por parte do correntista, para o pagamento de compromissos assumidos com a
instituiçã o financeira ou decorrentes de disposiçõ es legais; (NR) Resoluçã o nº 2.747, de 28
de junho de 2000 3 V - expediçã o de aviso da instituiçã o financeira ao correntista, admitida
a utilizaçã o de meio eletrô nico, com a data do efetivo encerramento da conta de depó sitos à
vista. (NR).
[...]
Além disso, o banco réu deveria saber que pode realizar a rescisã o contratual de forma
unilateral preenchendo os requisitos acima elencados e que nã o pode, de forma alguma, se
apropriar do dinheiro do autor.
4- A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
Inicialmente, verificamos que o presente caso trata-se de relaçã o de consumo, sendo
amparada pela lei 8.078/90, que trata especificamente das questõ es em que fornecedores e
consumidores integram a relaçã o jurídica, principalmente no que concerne a matéria
probató ria.
Tal legislaçã o, faculta ao magistrado determinar a inversã o do ô nus da prova em favor do
consumidor conforme seu artigo 06º, VIII:
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
[...]
VIII- A facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência (grifamos).
Da simples leitura deste dispositivo legal, verifica-se, sem maior esforço, ter o legislador
conferido ao arbítrio do juiz, de forma subjetiva, a incumbência de presentes o requisito da
verossimilhança das alegaçõ es ou quando o consumidor for hipossuficiente, poder inverter
o ô nus da prova.
Assim, presentes a verossimilhança do direito alegado e a hipossuficiência da parte autora
para o deferimento da inversã o do ô nus da prova no presente caso, dá -se como certo seu
deferimento.
5 – DO DANO MORAL
A moral é reconhecida como bem jurídico, recebendo dos mais diversos diplomas legais a
devida proteçã o, inclusive, estando amparada pelo art. 5º, inc. V da Carta Magna/88:
Art. 5º, inc: V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem.
Pode-se vislumbra no artigo referido que o incidente gerou um dano a esfera moral da
Requerente, devido à falta de organizaçã o no sistema dos Requeridos, senã o vejamos o que
estabelecem os arts. 186 e 927 CC/02:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.
Parágrafo único:
Haverá a obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. (Grifo nosso)
Então, de acordo com o art. 186 do Código Civil em vigor, o requerido violou os
direitos do requerente, quando causou transtornos a vida, sem lhe dar qualquer tipo
de esclarecimento e com acusações graves, atingindo a saúde financeira do autor,
que não deu causa a isso.
Finalmente, o Có digo de Defesa do Consumidor, no seu art. 6º também protege a
integridade moral dos consumidores:
Art. 6º – São direitos básicos do consumidor: (…) VI - a efetiva prevenção e reparação de
danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;
No tocante ao dano moral, eminente Desembargador Celso Pimentel, do TJSP, ao se
reportar, reiteradamente na Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:
“A propósito, dano moral, exatamente porque moral, não se demonstra nem se comprova.
Afere-se segundo o senso comum do homem médio. Resulta por si mesmo da ação ou omissão
culposa, in re ipsa, porque se traduz em dor física ou psicológica, em constrangimento, em
sentimento de reprovação, em lesão e em ofensa ao conceito social, à honra, à dignidade."
O dano moral, cuja responsabilidade é do banco réu, deve ser indenizado de acordo com o
que estabelece a Constituiçã o Federal:
" Art. 5, inc. X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurando o direito à indenização pelo dano material, moral decorrente de sua
violação. "(grifei)
Vejamos o que ensina o Mestre SÍLVIO DE SALVO VENOSA em sua obra sobre
responsabilidade civil:
Os danos projetados nos consumidores, decorrentes da atividade do fornecedor de produtos e
serviços, devem ser cabalmente indenizados. No nosso sistema foi adotada a responsabilidade
objetiva no campo do consumidor, sem que haja limites para a indenização. Ao contrário do
que ocorre em outros setores, no campo da indenização aos consumidores não existe
limitação tarifada. (Sílvio Salvo Venosa, Direito Civil. Responsabilidade Civil, São Paulo, Ed.
Atlas, 2004, p. 206).
Sendo assim, é de se ressaltar a angú stia e a situaçã o de estresse prolongado a que a parte
autora foi submetida, pois, em meio uma pandemia, em que as pessoas estã o lutando para
sobreviver e que as condiçõ es de ir até uma agência da Caixa Econô mica está cada vez mais
difícil e arriscado devido a toda aglomeraçã o que é noticiada todos os dias.
Enfatiza-se a atitude ilícita do requerido, pois, apesar das tentativas administrativas que o
autor fez junto ao réu, em momento algum houve a tentativa de resolver a situaçã o, apenas
levantando acusaçõ es levianas e retendo o dinheiro que é fruto do trabalho do autor, visto
que nessa conta contem valores de salá rio e da venda da moto, que foi comprada com o
trabalho do requerente.
Daí o dano moral está configurado. Pois, o fato do autor ter sido submetida a uma situaçã o
de constrangimento e de desrespeito em ter sua ú nica conta bancá ria que utiliza para
receber salá rio e movimentaçõ es financeiras, sem motivo aparente e aviso prévio, sem ter
dado causa para tanto, e no fim, depois de tentado resolver de diversas maneiras, nã o
conseguiu, de forma que resta configurada, sem sombra de dú vidas, abalo a ordem psíquica
e moral do promovente.
Sendo assim, demonstrados o dano e a culpa do réu, evidente se mostra o nexo causal.
Como visto, derivou-se da conduta ilícita dos réus os constrangimentos e vexaçõ es
causados ao autor, sendo evidente o liame ló gico entre um e outro.
O pleito autoral tem fundamento constitucional, no tocante a indenizaçã o pelos danos
morais decorrentes da falha na prestaçã o do serviço do réu, em cancelar a conta bancá ria
sem motivo aparente ou prévio aviso.
A indenizaçã o consiste numa compensaçã o, numa tentativa de substituir o sofrimento por
uma satisfaçã o, além do aspecto retributivo e verdadeiramente punitivo no tocante ao
causador do dano que, vendo-se obrigado a indenizar os danos causados, certamente
entenderá que ainda se faz valer as normas editadas e vigentes em nosso ordenamento
jurídico.
Em consequência com o que foi abordado neste pedido, requer a Autora uma indenizaçã o
no valor equivalente a R$15.000,00 (quinze mil reais) para que lhe sejam reparados os
danos morais.
6 – DA TUTELA DE URGÊNCIA
O Novo Có digo de Processo Civil dispõ e no livro V, da parte geral, sobre a tutela provisó ria,
que tem como espécies a tutela de urgência e a tutela de evidência. Nos termos do art. 300,
a tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado ú til do processo.
O primeiro requisito resta preenchido, uma vez que todas as alegaçõ es estã o devidamente
comprovadas pela documentaçã o que instrui a peça vestibular. Com isso, resta claro a
ausência de culpa do autor, visto que a sua ú nica açã o foi receber dinheiro na conta e ser
surpreendido por uma apropriaçã o indevida do seu dinheiro, pelo banco.
Por sua vez, o perigo do dano está de plano evidenciado, uma vez que o autor depende do
dinheiro que está retido na conta para se alimentar, pagar suas contas e para suas
necessidades mensais. Caso isto nã o ocorra, o autor terá que pagar juros de suas contas e
corre um sério risco de nã o possuir condiçõ es de se alimentar.
Saliente-se que, além de ser abusiva a retençã o do dinheiro do autor, isso ocorreu em meio
a uma pandemia, em que as agências estã o aglomeradas e consequentemente, expõ e o
autor ao risco sem necessidade.
Desta feita, requer-se a concessã o da tutela provisó ria de urgência, no sentido de
determinar que o banco réu reative a conta poupança do autor ou que libere o dinheiro que
existe em conta, transferindo para a conta da patrona do autor.
Conta poupança autor: xxxx
Conta corrente patrona: xxxx
7 – DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer:
1- A antecipaçã o dos efeitos da tutela provisó ria de urgência, no sentido de determinar que
o réu reative a conta bancá ria do autor ou que libere o dinheiro dele que se encontra lá ,
através de transferência para a patrona na conta indicada na exordial;
2- A citaçã o do requerido, na pessoa de seus representantes legais, para, querendo,
oferecer Contestaçã o no prazo legal;
3- O Requerente nã o está em condiçõ es de pagar custas processuais e honorá rios
advocatícios sem prejudicar seu sustento e de sua família. Assim, requer desde já , lhe sejam
concedidos os benefícios da justiça gratuita, nos termos da lei 13.105/15.
4- Inversã o do ô nus da prova conforme o art. 6º, VIII, do CDC que constitui direito bá sico do
consumidor a facilitaçã o da defesa dos seus direitos em juízo;
5- Seja julgada totalmente procedente a presente açã o para que seja mantida a conta do
autor e que seja o réu condenado ao pagamento de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) a título
de indenizaçã o por danos morais;
O protesto para comprovar o alegado por todas as provas admitidas no Direito.
Atribui-se à presente causa o valor de R$ xxxx.
Nestes termos, pede deferimento.
Cidade, data.
Advogado
OAB

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