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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E DAS

RELAÇÕ ES DE CONSUMO DA COMARCA DE X ESTADO DO Y


Fulano, brasileiro, casado, servidor, inscrito no CPF de nº xxxxxxxxx, RG de nº yyyyyyyyyy,
endereço , por sua Advogada, com instrumento de mandato em anexo, com escritó rio na
endereço, o qual recebe intimaçõ es, e-mail, vem perante V. Exa., propor AÇÃ O DE
OBRIGAÇÃ O DE DAR QUANTIA CERTA, em face de Unimed Teresina, pessoa jurídica de
direito privado, inscrita no CNPJ de nº 07241136/0001-32, com sede na Rua Sã o Joã o, nº
1262, centro, Teresina, Piauí, CEP 64.001-360, pelos fatos e fundamentos expostos a seguir.

DA JUSTIÇA GRATUITA
Esclarece o Requerente que nã o está em condiçõ es de demandar, sem sacrifício do sustento
pró prio e de seus familiares, motivo pelo qual, requer que este Juízo conceda os benefícios
da JUSTIÇA GRATUITA, nos termos dos artigos 98 e 99 do Novo Có digo de Processo Civil e
da Lei 1.060/50.
Isto porque passa por diversas dificuldades financeiras diante da grande quantidade de
despesas que teve que assumir em razã o do tratamento da filha, como viagens semanais à
Sã o Paulo, hospedagem, passagens aéreas, consultas, dentre tantas outras.
Desse modo, consequentemente, torna-se inviá vel o custeio das despesas processuais,
pleiteando, portanto, os benefícios da justiça gratuita assegurados pelo Có digo de Processo
Civil, in verbis:
“Art. 98 A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as
custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.
...
Art. 99 O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na contestação, na petição para
ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
...
§ 3o Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural.”

DOS FATOS
O Autor é beneficiá rio do plano de saú de da empresa Ré, qual seja, Unimed Teresina,
pagando o valor mensal de R$ x (valor por extenso), descontados diretamente do seu
contracheque, sendo ele e mais três beneficiá rias (esposa e filhas), dentre elas, sua filha
menor, nome da filha.
A filha caçula do demandante, cujo nú mero da carteira do plano de saú de é A, nasceu em
data e aos três meses foi diagnosticada com Plagiocefalia Posicional (Q67.3), uma
assimetria no crâ nio da criança, sendo o diagnó stico e tratamento precoce fundamentais,
porque corrigir a deformaçã o depende do tempo em que ela é percebida.
Isto posto, os pais, em medida ú nica disponível e emergencial, buscaram a clínica HEADS
CLÍNICA DR. GERD SCHEREEM EIRELI, localizada na Avenida Ibirapuera, 02907,
Indianá polis, CEP 04029-200, Sã o Paulo-SP, prestador de serviços exclusivo no Brasil no
tratamento da anomalia que a criança foi diagnosticada através da confecçã o de uma ó rtese
craniana para corrigir o formato do cérebro da menor.
Foi necessá rio, para tanto, o escaneamento tridimensional a laser do crâ nio da filha do
autor, através do equipamento STARscanner, uma vez que o aparelho disponibiliza
medidas específicas da cabeça da bebê, a fim de se chegar à s medidas exatas para produçã o
da ó rtese craniana.
Contudo, as medidas extraídas a partir do escaneamento da cabeça do infante podiam ser
alteradas com 48 horas da data do escaneamento, razã o pela qual os pais da criança tinham
pressa em mandar fazer a ó rtese, tendo em vista que é importada, inclusive, com
exclusividade, pela clínica HEADS, sendo de alto custo, nã o se admitindo, portanto, erros
nas medidas, e principalmente por seguir as orientaçõ es do especialista DR. GERD
SCHEREEM sobre a urgência que o caso impunha.
Em razã o da extrema urgência, e mesmo se tratando de procedimento de alto custo, o
demandante, de forma célere e diligente, custeou, com auxílio dos familiares, todas as
despesas necessá rias que totalizaram o valor de R$ xx (valor), a fim de resolver, de forma
emergencial, o problema da filha, considerando a gravidade que o caso rogava, para depois
buscar o devido ressarcimento junto ao plano de saú de da empresa demanda,
considerando que diante da gravidade da situaçã o, nã o se cogitou outra alternativa, na
medida em que, apó s o período recomendado para o tratamento, a correçã o do crâ nio da
bebê somente poderia ser alcançada através de tratamento neurocirú rgico, com elevada
morbimortalidade e custos muito maiores, conforme laudo médico apenso aos autos.
Ocorre que para grande surpresa do requerente, a empresa requerida negou o
ressarcimento com a justificativa de que o beneficiá rio nã o apresentou protocolo sobre a
busca da rede credenciada, mesmo diante da especificidade e urgência do caso e da certeza,
pela parte ré, sobre exclusividade do tratamento realizado pela HEADS CLÍNICA DR. GERD
SCHEREEM EIRELI.
Patente, “data venia”, a ilegalidade e abuso praticados pela Demandada no que tange ao nã o
ressarcimento das despesas de saú de pagas pela parte autora, uma vez que é legalmente
cabível o reembolso, nos limites das obrigaçõ es contratuais, das despesas efetuadas pelo
beneficiá rio com assistência à saú de, em casos de urgência ou emergência, quando nã o for
possível a utilizaçã o dos serviços pró prios, contratados, credenciados ou referenciados
pelas operadoras. Além do mais, é a saú de, um direito fundamental do ser humano,
dispensando-se, para tanto, a mera formalidade de apresentaçã o de um protocolo,
considerando a necessidade de uma vida digna que deve ser proporcionado ao ser humano.
DO DIREITO
Inicialmente, há de se destacar que a aplicabilidade das normas consumeristas ao caso em
tela é inquestioná vel, pois foi instaurada entre as partes uma relaçã o contratual de seguro
de assistência médico hospitalar, conforme enunciado da Sú mula n. 469 do STJ: “Aplica-se
o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde”.

Como é cediço, a ideia de força obrigató ria dos contratos significa que, uma vez
manifestada a vontade, as partes estã o ligadas por um contrato e têm direitos e obrigaçõ es,
deles nã o podendo se desvincular, a nã o ser por meio de um outro acordo de vontade ou
pelas figuras da força maior e do caso fortuito (acontecimentos fá ticos incontrolá veis pela
vontade do homem).
Contudo, com a promulgaçã o do CDC, a vontade continua essencial à formaçã o dos
negó cios jurídicos, mas sua importâ ncia e força diminuíram, levando à relativizaçã o da
noçã o de força obrigató ria e intangibilidade do conteú do do contrato, conforme dispõ em os
arts. 6º, V e V, e 51 do CDC, sendo possível a modificaçã o das clá usulas contratuais que
estabeleçam prestaçõ es desproporcionais ou sua revisã o em razã o de fatos supervenientes
que as tornem excessivamente onerosas, o que passou a ser um dos direitos bá sicos do
consumidor.
É de asseverar, ainda, que as normas constantes no Có digo de Defesa do Consumidor sã o
normas de ordem pú blica, que tutelam interesses sociais, e impassíveis de derrogaçã o pela
simples convençã o dos interessados, salvo se houver autorizaçã o legal expressa.
E ainda que assim nã o fosse a inaplicabilidade do CDC nã o afastaria a obrigaçã o dos planos
administrados por entidade de autogestã o de cumprirem com as obrigaçõ es contratuais
(“havendo cobertura para a doença, consequentemente haverá cobertura para
procedimento ou medicamento necessá rio para assegurar o tratamento de enfermidades
previstas no respectivo contrato” – STJ, 3ª Turma, AgInt no AREsp 901.638/DF, DJe
20.10.2016).
Superada a questã o sobre a aplicabilidade do CDC ao caso concreto, o ordenamento jurídico
pá trio dispõ e que a saú de é um direito de todos e por isso deve ser garantido aos cidadã os.
Assim, é a redaçã o do artigo 196 da CRFB, “in verbis”:
“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços
para sua promoção, proteção e recuperação.

No mesmo sentido, a dignidade da pessoa humana é um direito fundamental do homem


que surgiu há muito tempo a partir das Declaraçõ es de Direitos ocorridas em todo o mundo
com o objetivo de assegurar a proteçã o do homem na essência subjetiva da palavra
“homem”.
José Afonso de Sousa sintetiza sobre a declaraçã o de direitos (2007, p. 175):
As declarações de direitos assumiram, inicialmente, a forma de proclamações solenes em que, em articulado
orgânico especial, se enunciam os direitos. Depois, passaram a construir o preâmbulo das constituições, na França,
especialmente. Atualmente, ainda que nos documentos internacionais assumam a forma das primeiras
declarações, nos ordenamentos nacionais integram as constituições, adquirindo o caráter concreto de normas
jurídicas positivas constitucionais, por isso, subjetivando-se em direito particular de cada povo...
Assim, tem-se que a dignidade da pessoa humana é um direito fundamental advindo dos
direitos humanos que tem como ciência de estudo a pró pria declaraçã o dos direitos
humanos.
Os direitos e garantias fundamentais foram dispostos na Constituiçã o da Republica
Federativa do Brasil em título pró prio e o princípio da dignidade da pessoa humana, apesar
de ter advindo da declaraçã o dos direitos humanos, tornou-se positivado no ordenamento
jurídico através do referido Título “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”.
Assim, os direitos fundamentais sã o normas cada vez mais de abrangência vasta, de cunho,
inclusive, internacional, com valores atribuídos que vã o muito além dos constitucionais, a
pesar do entendimento que se dá ao fato de serem de grande abrangência por estarem
dispostos na Constituiçã o Federal.
Sobre o assunto é o entendimento de José Afonso da Silva (2007, p. 180):
“São direitos constitucionais na medida em que se inserem no texto de uma constituição ou mesmo constem de
simples declaração solenemente estabelecida pelo poder constituinte. São direitos que nascem e se
fundamentam, portanto, no princípio da soberania popular.”

No caso dos autos, o que se observa é a empresa ré atuando na contramã o dos direitos e
garantias constitucionais, notadamente quanto à negativa do reembolso das despesas do
demandante em prevalência à uma determinaçã o burocrá tica da referida, no que tange à
exigência de apresentaçã o do protocolo de busca por redes credenciadas predominando
sobre o princípio da dignidade da pessoa humana, a integridade física (direito à saú de) da
infante, e nessa esteira, quando aqui se fala em dimensõ es da dignidade da pessoa humana,
está -se a referir, num primeiro momento, à complexidade da pró pria pessoa humana e do
meio no qual desenvolve sua personalidade.
Sobre tal complexidade, leciona o grande estudioso do princípio da dignidade da pessoa
humana dos ú ltimos tempos, Ingo Sarlet:
“a noção de dignidade da pessoa humana (especialmente no âmbito do Direito), para que possa dar conta da
heterogeneidade e da riqueza da vida, integra um conjunto de fundamentos e uma série de manifestações. Estas,
ainda que diferenciadas entre si, guardam um elo comum, especialmente pelo fato de comporem o núcleo
essencial da compreensão e, portanto, do próprio conceito de dignidade da pessoa humana.”

Extrai-se do caso, ora analisado, que o direito à saú de é um direito fundamental e está
diretamente ligado ao direito de viver de forma digna e que a dignidade, como qualidade
intrínseca da pessoa humana, é irrenunciá vel e inaliená vel, constituindo elemento que
qualifica o ser humano como tal e dele nã o pode ser destacado.
Ademais, a condiçã o médica da criança, se nã o corrigida a tempo, podia trazer
consequências funcionais definitivas, fortemente relacionadas à assimetria da estrutura
ó ssea craniofacial, desalinhamento da arcada dentá ria inferior, com consequentes
problemas de oclusã o dentá ria, dor na ATM (articulaçã o têmporo-mandibular) e
mastigaçã o, perda de campo visual secundá ria ao desalinhamento da ó rbita, assim como
diversos outros desdobramentos funcionais.
Ato contínuo fez-se necessá rio e de fundamental importâ ncia o início do tratamento,
quando indicado, no menor prazo possível, uma vez que apó s esse período a correçã o
somente poderia ter sido alcançada através de tratamento neuocirú rgico, com elevada
morbimortalidade e custos muito maiores, conforme laudo médico juntado à presente.
Isto posto, considerando a necessidade de observâ ncia por todos, aos direitos
fundamentais da pessoa humana, notadamente, ao princípio da dignidade da pessoa
humana no que tange à integridade física (saú de), disserta Ingor Sarlet:
“Outra importante função atribuída aos direitos fundamentais e desenvolvida com base na existência de um dever
geral de efetivação atribuído ao Estado, por sua vez agregado à perspectiva objetiva dos direitos fundamentais, diz
com o reconhecimento de deveres de proteção (Schutzpflichten) do Estado, no sentido de que a este incumbe
zelar, inclusive preventivamente, pela proteção dos direitos fundamentais dos indivíduos não somente contra os
poderes públicos, mas também contra agressões provindas de particulares e até mesmo de outros Estados. Esta
incumbência, por sua vez, desemboca na obrigação de o Estado adotar medidas positivas da mais diversa natureza
(por exemplo, por meio de proibições, autorizações, medidas legislativas de natureza penal etc.), com o objetivo
precípuo de proteger de forma efetiva o exercício dos direitos fundamentais. No âmbito da doutrina germânica, a
existência de deveres de proteção encontra-se associada principalmente – mas não exclusivamente – aos direitos
fundamentais à vida e à integridade física (saúde), assim como à proteção ao meio ambiente, tendo sido
desenvolvidos com base no art. 2º, inc. II, da Lei Fundamental, além da previsão expressa encontrada em outros
dispositivos.”

Ademais no que tange à s especificaçõ es das clá usulas em contrato de adesã o da empresa
demandada, adianta-se, a partir do princípio da eventualidade de possível alegaçã o por
parte da empresa ré, que nã o deve prevalecer a clá usula contratual de limitaçã o de
cobertura, em virtude da gravidade das circunstâ ncias fá ticas (CDC, Art. 51, § 1º c/c Lei
9.0995/95, Art. 5º). “Nã o se olvide que cabe ao médico estabelecer o meio mais adequado
ao tratamento. Nesse quadro, a autonomia da vontade nã o pode sobrepujar os valores da
boa-fé e funçã o social dos contratos de plano de saú de (CC, Art. 421), atrelados que estã o à
dignidade da pessoa humana. Ademais, o tratamento realizado pô de evitar futuro
procedimento cirú rgico de maior complexidade e altos custos.”[1]
Ato contínuo deve-se considerar o fato de a HEADS CLÍNICA DR. GERD SCHEREEM EIRELI,
localizada na Avenida Ibirapuera, 02907, Indianá polis, CEP 04029-200, Sã o Paulo-SP ser o
ú nico local, no Brasil, a realizar o tratamento Plagiocefalia Posicional (Q67.3), nã o havendo
o que se falar em busca por rede credenciada, na medida em que a referida clínica realiza o
tratamento com EXCLUSIVIDADE no país.
E Esse é o entendimento jurisprudencial especificamente a respeito do ressarcimento,
pelos planos de saú de, do tratamento da Plagiocefalia Posicional (Q67.3):
“CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. TUTELA DE URGÊNCIA. PLANO DE SAÚDE.
NEGATIVA DE COBERTURA DE ÓRTESE CRANIANA. PLAGIOCEFALIA POSICIONAL. ART. 300 DO CPC. PROBABILIDADE
DO DIREITO. PERIGO DE DANO OU RISCO AO RESULTADO ÚTIL DO PROCESSO. REQUISITOS PRESENTES. DECISÃO
MANTIDA.
1 – Diante das circunstâncias específicas do caso – nas quais o Agravado, um bebê, é portador de plagiocefalia
posicional, condição que, segundo o médico, até o 18 meses de idade, pode ser tratada por meio da colocação
de uma órtese craniana, mas que, após esse período, gerará severas consequências funcionais e somente
poderá ser corrigida por meio de neurocirurgia com elevada taxa de morbimortalidade – reputa-se presente a
probabilidade do direito da criança de que, a despeito do que dispõe o art. 10, VII, da Lei 9.656/98, prevaleçam
as normas contidas no art. 51, IV; e § 1º, II e III, do Código de Defesa do Consumidor.
2 – Do mesmo modo, verifica-se, no caso específico, o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, já
que o pedido de mérito formulado pelo Autor no Feito originário é o pagamento da órtese craniana de que
precisa a criança para a correção da assimetria óssea de sua cabeça e que esse pedido só tem razão de ser
dentro do curto período de 18 meses, dos quais, no presente momento, 7 já transcorreram.
3 – Presentes os requisitos do art. 300 do Código de Processo Civil, mantém-se a decisão do Juiz a quo que
deferiu a tutela de urgência requerida pela criança.
Agravo de Instrumento desprovido. Agravo Interno prejudicado. ACÓRDÃO Acordam os Senhores
Desembargadores do (a) 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, ANGELO
PASSARELI - Relator, SEBASTIÃO COELHO - 1º Vogal e ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO - 2º Vogal, sob a
Presidência do Senhor Desembargador SEBASTIÃO COELHO, em proferir a seguinte decisão: CONHECER. NEGAR
PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. JULGAR PREJUDICADO O AGRAVO INTERNO. UNÂNIME.,de
acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasília (DF), 09 de Maio de 2018 Desembargador
ANGELO PASSARELI Relator.”

E mais:
CIVIL. PLANO DE SAÚDE. AUTOGESTÃO. APLICAÇÃO PONTUAL DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
PACIENTE DIAGNOSTICADO COM PLAGIOCEFALIA POSICIONAL. DESARRAZOÁVEL A NEGATIVA DE COBERTURA.
RESTITUIÇÃO DOS VALORES COM TRATAMENTO. DÚVIDA RAZOÁVEL QUANTO À INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULA
CONTRATUAL: DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
I. Os planos privados de saúde, de regra, estão submetidos às normas consumeristas (Lei nº 8.078/90 e Súmula
469 do STJ). Nesse passo, a despeito do plano de saúde ser administrado por entidade de autogestão, o
entendimento assente, tanto no TJDFT quanto no STJ (mesmo após o julgamento do mencionado Resp
1.285.483/PB), é no sentido de considerar como consumerista a relação jurídica existente entre a operadora do
plano de saúde e seu beneficiário. Precedentes do STJ: Terceira Turma, REsp 1392560/PE, DJe 06.10.2016; AgRg
no AREsp 813.590/RJ, DJe 15.08.2016. Precedentes do TJDFT: 2ª Turma Cível, Acórdão n.998213, DJE:
02.03.2017; 7ª Turma Cível, Acórdão n.997866, DJE: 02.03.2017; 3ª Turma Cível, Acórdão n.991621, DJE:
07.02.2017; 5ª Turma Cível, Acórdão n.985349, DJE: 1º..02.2017; 3ª Turma Recursal, Acórdão n.997755, DJE:
02.03.2017; 1ª Turma
Recursal, Acórdão n.995885, DJE: 22.02.2017; 2ª Turma Recursal, Acórdão n.976433, DJE: 04.11.2016).
II. E ainda que assim não fosse, a inaplicabilidade do CDC não afastaria a obrigação dos planos administrados por
entidade de autogestão de cumprirem com as obrigações contratuais (“havendo cobertura para a doença,
consequentemente haverá cobertura para procedimento ou medicamento necessário para assegurar o
tratamento de enfermidades previstas no respectivo contrato” – STJ, 3ª Turma, AgInt no AREsp 901.638/DF, DJe
20.10.2016).
III. In casu, o filho do recorrente (nascido em 1º.6.2016) foi diagnosticado com plagiocefalia posicional, com
indicação de uso de “órtese confeccionada sob medida”, em período integral (23 horas), para correção da
assimetria craniana (ID 2622228). Ante a negativa do plano de saúde de cobertura, o consumidor arcou com os
custos do tratamento indicado (somente disponibilizado pela Clínica Heads – R$ 12.600,00) e ora requer a
restituição do valor pago, bem como a compensação dos danos morais.
IV. O relatório do neurocirurgião (ID 262228) esclarece que a condição médica do infante, “quando não corrigida
a tempo, pode trazer consequências funcionais definitivas fortemente relacionadas à assimetria da estrutura
óssea craniofacial, desalinhamento da arcada dentária inferior, com conseqüentes problemas de oclusão
dentária, dor na ATM (articulação têmporo-mandibular) e mastigação, perda de campo visual secundária ao
desalinhamento da órbita, assim como diversos outros desdobramentos funcionais”. Acrescenta que “é de
fundamental importância o início do tratamento, quando indicado, no menor prazo possível e que após esse
período a correção somente poderá ser alcançada através de tratamento neuocirúrgico, com elevada
morbimortalidade e custos muito maiores”.
V. Não prevalece, portanto, a cláusula contratual de limitação de cobertura, em virtude da gravidade das
circunstâncias fáticas (CDC, Art. 51, § 1º c/c Lei 9.0995/95, Art. 5º). Não se olvide que cabe ao médico
estabelecer o meio mais adequado ao tratamento. Nesse quadro, a autonomia da vontade não pode sobrepujar
os valores da boa-fé e função social dos contratos de plano de saúde (CC, Art. 421), atrelados que estão à
dignidade da pessoa humana. Por consequência, resulta a obrigação CASSI em arcar com o custeio da cobertura
do tratamento, o qual, aliás, poderia evitar futuro procedimento cirúrgico de maior complexidade e altos custos.
Precedentes 1ª Turma Recursal do TJDFT, Acórdão 1067314, DJe 19.12.2017 e Acórdão 1004037, DJe 21.3.2017.
VI. Com relação aos danos morais, é de se confirmar a sentença que julgou improcedente o pleito, porquanto a
recusa estaria fundada em interpretação de cláusula contratual (exclusão de cobertura de órtese/prótese não
ligada ao ato cirúrgico – Art. 17, VII do Regulamento do Plano de Associados – ID 2622255). E o Superior Tribunal
de Justiça já se manifestou no sentido de que “(...) há situações em que existe dúvida jurídica razoável na
interpretação de cláusula contratual, não podendo ser reputada ilegítima ou injusta, violadora de direitos
imateriais, a conduta de operadora que optar pela restrição de cobertura sem ofender, em contrapartida, os
deveres anexos do contrato, tal qual a boa-fé, o que afasta a pretensão de compensação por danos morais. Não
há falar em dano moral indenizável quando a operadora de plano de saúde se pautar conforme as normas do
setor” (3ª Turma, REsp 1632752/PR, DJe 29.08.2017).
VII. Recurso conhecido e parcialmente provido. Sentença reformada, em parte. Condenada a CAIXA DE
ASSISTÊNCIA DOS FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO BRASIL (CASSI) a pagar a LUCAN BARQUETE ALVES a quantia de
R$ 12.600,00 (doze mil e seiscentos reais), corrigida monetariamente a partir do desembolso e acrescida de juros
legais a partir da citação. No mais, sentença confirmada por seus fundamentos. Sem condenação em custas
processuais nem honorários advocatícios, ante a ausência de recorrente integralmente vencido (Lei n. 9099/95,
Arts. 46 e 55). ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Juízes da Terceira Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, FERNANDO ANTONIO TAVERNARD LIMA - Relator, EDUARDO
HENRIQUE ROSAS - 1º Vogal e ASIEL HENRIQUE DE SOUSA - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Juiz EDUARDO
HENRIQUE ROSAS, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO. PARCIALMENTE PROVIDO. UNANIME., de
acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasília (DF), 30 de Janeiro de 2018 Juiz FERNANDO
ANTONIO TAVERNARD LIMA Relator.

Mais:
CIVIL. PLANO DE SAÚDE. REEMBOLSO. FALTA DE PROFISSIONAL ESPECIALIZADO. DECISÃO MANTIDA.
1. A operadora do plano de saúde é responsável pelos reembolsos ao segurado quando este, por falta de
profissional especializado na área necessitada, é obrigado a buscar o atendimento na rede privada, salvo
cláusula excludente de cobertura. 2.Recurso conhecido e desprovido. (TJ-DF 071.898.49220188070000
DF0718984-92.2018.8.07.0000, RELATOR SEBASTIÃO COELHO, Data de Julgamento: 27/03/2019, 5º Turma Cível,
Data de Publicação: Publicado no DJE: 03/04/2019. Pág..: Sem página cadastrada.

DO PEDIDO
Em face do exposto, requer a V. Exa.:
a) A citaçã o da Ré, na pessoa do representante legal, para contestar a açã o sob pena de
aplicaçã o dos efeitos da revelia;
b) A procedência dos pedidos para obrigar a Ré a PAGAR QUANTIA CERTA ao demandante
referente ao ressarcimento das despesas pagas com o tratamento da menor no valor de R$
x (valor por escrito) reais, valor que foi pago à clínica HEADS CLÍNICA DR. GERD
SCHEREEM EIRELI, exclusiva no tratamento da Plagiocefalia Posicional (Q67.3) ;
c) A condenaçã o da Ré nos ô nus da sucumbência, notadamente honorá rios advocatícios;
d) A inversã o do ô nus da prova, nos termos do art. 6º, inciso VII do CDC, face à
verossimilhança da alegaçã o e a hipossuficiência do consumidor;
e) A produçã o de todos os meios de prova em direito admitidos, especificamente
documental;
f) A concessã o da Justiça gratuita na forma da Lei;
g) A juntada dos documentos em anexo.
Dá à causa o valor de R$ x (escrever valor).
Nestes termos.
Pede deferimento.
Local, data
Milena Carolina Pereira Figueiredo Soares
Advogada
OAB/MA

[1]ACÓRDÃO dos Juízes da Terceira Turma Recursal dos Juizados Especiais do


Distrito Federal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios,
FERNANDO ANTONIO TAVERNARD LIMA - Relator, EDUARDO HENRIQUE ROSAS - 1º
Vogal e ASIEL HENRIQUE DE SOUSA - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Juiz
EDUARDO HENRIQUE ROSAS, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO.
PARCIALMENTE PROVIDO. UNANIME., de acordo com a ata do julgamento e notas
taquigráficas. Brasília (DF), 30 de Janeiro de 2018 Juiz FERNANDO ANTONIO
TAVERNARD LIMA Relator.

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