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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LFBS
Nº 70083747980 (Nº CNJ: 0013157-35.2020.8.21.7000)
2020/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. PEDIDO DE ALVARÁ


JUDICIAL. VENDA DE IMÓVEL OBJETO DE
PARTILHA EM INVENTÁRIO JÁ HOMOLOGADA.
FORMAL DE PARTILHA AVERBADO NA
MATRÍCULA IMOBILIÁRIA. BEM EM
CONDOMÍNIO. CONCORDÂNCIA DOS
HERDEIROS. QUOTA-PARTE DE HERDEIRO
MENOR. DEFERIMENTO.
Com a averbação do formal de partilha na matrícula do
imóvel recebido por herança do marido e pai dos
autores/apelantes (nº 24.295 no RI de Tramandaí/RS),
desapareceu o óbice à pretendida alienação, porquanto
perfectibilizada a titularidade sobre o bem. Além do que
todos os herdeiros maiores (o bem está em condomínio)
concordam com a venda do imóvel. E, quanto à quota
parte do herdeiro filho menor, é de se autorizar a
alienação, por meio de alvará judicial, por não se
vislumbrar prejuízo aos interesses do adolescente, na
medida em que o valor do produto da alienação deve
ficar depositado em conta bancária de titularidade do
menor, até que ela atinja a maioridade e tenha condições
de gerir seu próprio patrimônio.
Sentença de improcedência reformada.
RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO, EM
DECISÃO MONOCRÁTICA.

APELAÇÃO CÍVEL OITAVA CÂMARA CÍVEL

Nº 70083747980 (Nº CNJ: 0013157- COMARCA DE TRAMANDAÍ


35.2020.8.21.7000)

C.G.V. APELANTE
..
R.G.V. APELANTE
..
M.G.V. APELANTE
..
L.G.V. APELANTE
..

DECISÃO MONOCRÁTICA

Vistos.
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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LFBS
Nº 70083747980 (Nº CNJ: 0013157-35.2020.8.21.7000)
2020/CÍVEL

Trata-se de apelação interposta por CLAUDETE G. V., por si e em


representação ao filho menor RAFAEL G. V., LUCAS G. V. e MATHEUS G. V. em face da
sentença que julgou improcedente o pedido de alvará judicial (fls. 55/58).

Sustentam que (1) no inventário nº 073/1.15.0013528-5, foi homologada a


partilha dos bens deixados por Jair S. V., ficando o patrimônio em condomínio; (2) contudo,
por questões financeiras, decidiram vender um dos imóveis, matriculado sob o nº 24.295 no
Registro Imobiliário de Tramandaí/RS, para garantir o sustento e mantença da família, bem
como as despesas havidas com o registro do patrimônio partilhado; (3) quando colocaram à
venda o referido imóvel, ainda não havia sido averbada a partilha na matrícula, razão pela
qual tanto o Ministério Público quanto a julgadora de primeiro grau foram desfavoráveis ao
pedido de alvará judicial, sob o fundamento de que pretendiam “burlar a lei e pular etapas”;
(4) no entanto, alguns meses antes da sentença, registraram a partilha, conforme matrícula
atualizada do bem; (5) considerando que o autor Rafael é menor de idade, faz-se necessário o
alvará judicial para a venda do imóvel nº 24.295; e (6) o valor avaliado, de R$ 75.000,00,
será dividido conforme previsto na partilha, ficando a quota parte do menor Rafael
depositada em caderneta de poupança. Pedem a reforma da sentença, a fim de ser deferido o
alvará judicial, para a venda do imóvel nº 24.295 do RI de Tramandaí/RS (fls. 60/64).

Encaminhados os autos a este Tribunal, sobreveio parecer do Ministério


Público pelo provimento (fls. 83/85).

É o relatório.

Decido.

Adianto que estou em prover o apelo.

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Nº 70083747980 (Nº CNJ: 0013157-35.2020.8.21.7000)
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Pretendem os autores/apelantes alienar o imóvel nº 24.295 do Registro


Imobiliário de Tramandaí/RS recebido por herança de Jair S. V. (marido e pai dos
requerentes), falecido em 19.05.2015 (fls. 13/20).

Cuida-se de um terreno, sem benfeitorias, localizado em Balneário Mariluz,


Município de Tramandaí, avaliado pela Receita Estadual em R$ 90.000,00 (fl. 30).

De acordo com o plano de partilha homologado no inventário nº


073/1.15.0013528-5, coube, à viúva Claudete, 50% do referido bem e aos filhos Lucas,
Matheus e Rafael a quota-parte equivalente a 16,66% para cada um (fls. 25/28).

É bem verdade que, quando do ajuizamento do pedido de alvará judicial, o


formal de partilha ainda não estava averbado na matrícula do referido bem (fls. 35/36v.). Isto
é, a transmissão da propriedade do imóvel (mantido em condomínio pelos herdeiros de Jair,
dentre eles, um menor de idade, a exigir autorização judicial para a venda) nem sequer estava
regularizada junto ao registro imobiliário.

Contudo, com a averbação levada a efeito em fevereiro de 2019, como se vê


da matrícula atualizada juntada nas fls. 65/67v. (antes mesmo de proferida a sentença, mas
sem a devida comunicação ao juízo de origem), desapareceu o óbice à pretendida alienação,
porquanto perfectibilizada a titularidade dos autores sobre o bem.

Logo, não mais subsistindo o fundamento da sentença que levou ao


indeferimento do pleito.

Entendeu a julgadora que “(...) não há como se permitir a alienação do imóvel se


inexistentes documentos que regularizem a transmissão dos direitos aos autores, interessados em
extinguir o condomínio, uma vez que não se poderá regularizar o imóvel pulando etapas.

Assim, não há falar em propriedade imobiliária sem a necessária transcrição do


documento que contém a sua transferência no Cartório do Registro Imobiliário” (fl. 57v.).

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E, com relação ao herdeiro Rafael, remanesce o interesse dos apelantes no


pedido de alvará, em razão da menoridade (conta 15 anos de idade - fl. 07), exigindo-se
autorização judicial para a venda de sua quota-parte do imóvel.

Pleito que é de ser deferido, por não se vislumbrar prejuízo aos interesses do
adolescente, na medida em que o valor do produto da alienação deve ficar depositado em
conta bancária de titularidade do menor, até que ela atinja a maioridade e tenha condições de
gerir seu próprio patrimônio.

Nesse contexto, então, e considerando que todos os herdeiros concordam


com a alienação do imóvel, razão não há para o indeferimento do pedido.

Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. ALVARÁ JUDICIAL. PLEITO DE


CONCESSÃO DE ALVARÁ PARA AUTORIZAÇÃO
DE VENDA DA QUOTA PARTE DO IMÓVEL DE
PROPRIEDADE DO INTERDITADO REPRESENTADO
POR SEU CURADOR. POSSIBILIDADE. COM A VENDA,
NECESSIDADE DE PRESTAÇÃO DE CONTAS PELO
CURADOR. SENTENÇA REFORMADA. No caso dos autos,
o apelante, representado por seu curador, ajuizou a
presente demanda, a fim de ver autorizada a venda de sua
quota parte do imóvel objeto da presente ação. Explicou
que é titular do bem, juntamente com seus irmãos, também
herdeiros, e que igualmente pretendem a alienação do
patrimônio. No entanto, o pleito foi parcialmente deferido,
tendo sido autorizado apenas o ajuizamento de ação de
extinção do condomínio. Com efeito, havendo a
concordância de todos os coproprietários, não é necessária
a proposição de ação de extinção de condomínio para que
se proceda na venda do imóvel, uma vez que a referida
demanda é utilizada em caso de discordância daqueles.
Assim, tendo o demandante apresentado três orçamentos do
referido imóvel, e não havendo qualquer elemento que
impeça a venda do bem, possível a autorização
do alvará judicial para sua alienação. Recurso provido.
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Nº 70083747980 (Nº CNJ: 0013157-35.2020.8.21.7000)
2020/CÍVEL

(Apelação Cível, Nº 70081257230, Oitava Câmara Cível,


Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Antônio Daltoe
Cezar, Julgado em: 26-09-2019)

APELAÇÃO. ALVARÁ JUDICIAL. AUTORIZAÇÃO
DE VENDA DE PARTE IDEAL DE IMÓVEL DE
TITULARIDADE DE INCAPAZ. Procede o pedido de
autorização de venda de fração condominial de pessoa
incapaz, pois demonstrado que o negócio vai ao encontro
do interesse do interdito, mediante aquisição de
novo imóvel residencial, para residência dele e da
genitora/curadora, próximo à irmã do interdito. DERAM
PROVIMENTO.(Apelação Cível, Nº 70076841071, Oitava
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rui
Portanova, Julgado em: 29-05-2018)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALVARÁ JUDICIAL.


PLEITO DE AUTORIZAÇÃO
PARA VENDA DE IMÓVEL. POSSIBILIDADE.
LIBERAÇÃO CONDICIONADA AO DEPÓSITO QUANDO
DA VENDA DO BEM. REFORMA PARCIAL DA
SENTENÇA. Caso dos autos em que a liberação
de alvará judicial para alienação de bem imóvel deve ficar
condicionada ao depósito imediato da cota parte do
interdito, em conta individual de sua titularidade, cuja
movimentação dependerá de autorização judicial. Apelação
parcialmente provida.(Apelação Cível, Nº 70076402882,
Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
José Antônio Daltoe Cezar, Julgado em: 10-05-2018)

Do exposto e nesses termos, DOU PROVIMENTO à apelação, para deferir o


pedido de alvará judicial, destinado à venda do imóvel nº 24.295 do Registro Imobiliário de
Tramandaí/RS.

Intime-se.

Porto Alegre, 26 de agosto de 2020.

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Nº 70083747980 (Nº CNJ: 0013157-35.2020.8.21.7000)
2020/CÍVEL

DES. LUIZ FELIPE BRASIL SANTOS,


Relator.

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