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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

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IÇ A
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

R S

AMG
Nº 70050544535
2012/CÍVEL

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO


NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO ORDINÁRIA DE
CANCELAMENTO DE INSCRIÇÃO NO SPC. USO
DEMASIADO DE GRIFOS. PRÁTICA REITERADA
CONSIDERADA OFENSIVA. DECISÃO MANTIDA.
NEGADO SEGUIMENTO AO RECURSO.

AGRAVO DE INSTRUMENTO DÉCIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL

Nº 70050544535 COMARCA DE PORTO ALEGRE

JORGE HILTON DA SILVA PEREIRA AGRAVANTE

CASAS BAHIA COMERCIAL LTDA AGRAVADO

DECISÃO MONOCRÁTICA

Vistos.
JORGE HILTON DA SILVA PEREIRA interpôs agravo de
instrumento em face da decisão das fls. 49/51, que determinou o
desentranhamento da petição e facultou a juntada de nova em termos
adequados.
Nas razões de recurso, sustentou que a decisão cerceou seu
direito de acesso à justiça. Defendeu que na petição inicial foram narrados
os fatos que amparam a pretensão formulada. Alegou que os destaques
constantes na exordial não são acintosos. Por fim, pediu o provimento do
recurso e a desconstituição da decisão.
Sem preparo, face o deferimento do benefício da gratuidade
judiciária (fl. 38), vieram-me os autos.
É o breve relatório.
Passo a decidir.

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Conheço do recurso, uma vez que presentes os requisitos de


admissibilidade recursal.
Compulsando os autos, tenho que assiste razão a MM. Juíza a
quo, uma vez que se trata de prática reiterada do procurador do ora
agravante o emprego de grifos exagerados e de afirmações acintosas.
O art. 15, caput, do Código de Processo Civil assim prevê: “É
defeso às partes e seus advogados empregar expressões injuriosas nos
escritos apresentados no processo, cabendo ao juiz, de ofício ou a
requerimento do ofendido, mandar riscá-las”.
Nesse sentido:

“Art. 15: 2b. “Expressões injuriosas (CPC, art. 15) não tem o sentido
empregado no Código Penal, referindo-se à dignidade e ao decoro. Ao
contrário, visa abranger palavras escritas ou orais incompatíveis com a
linguagem de estilo forense, a que estão vinculados o juiz, o MP e o
advogado, em homenagem à seriedade do processo. A veemência da
postulação precisa cingir-se aos limites da polidez” (STJ-6ª T, Resp 33654-
9, Min. Vicente Cernicchiaro, j. 10.5.93, DJU 14.6.93). 1 (Grifei)

A ABNT é o órgão responsável pela normalização técnica no


Brasil, muito utilizada para trabalhos de conclusão de curso, teses e
dissertações, com o fim de unificar a apresentação de informações
conveniente ao manuseio. Isso não significa que as peças processuais
tenham que segui-las, mas o mínimo que se espera é que tenham a clareza
necessária para compreensão do julgador e das partes que constituem a
lide.

1
NEGRÃO, Theotonio. José Roberto F. Gouvêa, Luiz Guilherme Aidar Bondioli. Código de
Processo Civil e legislação processual em vigor. 43. Ed. Atual. E reform. – São Paulo:
Saraiva, 2011. pág. 129.
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Com efeito, a prática adotada é incompatível com linguagem


técnica que deve ser utilizada pelos operadores do Direito, uma vez que a
busca do processo é a solução dos litígios e não vir a causar
constrangimentos e ofensas ao Poder Judiciário e às partes, como alguns
exemplos nestes autos:

“No caso em apreço, o “BULLYNG” PROCESSUAL!!!” (fl. 03)

“Subitamente , em um SURTO (...)” (fl. 03)

“Atente-se que é NOTÓRIA a perseguição (...)”. (fl. 03)

“Mais uma vez a julgadora SURTOU, e, iniciou UMA CAÇADA a todos


os processo deste procurador.” (fl. 04)

“Onde foi dito, escrito, e ou convencionado que a escrita com letras


grandes significa gritos!?!?!?!” (fl. 04)

“Caso assim o fosse, as manchetes dos jornais, revistas e até outdoors


estariam ensurdecendo a nação mundial” (fl. 04)

“Atente-se ao ABSURDO, pois a julgadora “a quo”, sentiu-se


CONSTRANGIDA e OFENDIDA em virtude da petição ser redigida com
LETRAS CAPITAIS, e em NEGRITO usando fontes grandes!!! (fl. 05)

“Não se pode permitir tal retrocesso, onde MELINDRES pessoais,


referentes ao “GOSTAR OU NÃO GOSTAR” de uma PEÇA processual,
venham a interferir a prejudicar o normal andamento do processo, e

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especial por estar CEIFANDO o acesso da parte autora à JUSTIÇA!!!” (fl.


05)

“Pelo AMOR DE DEUS!!!” (fl. 06)

“Não se pode permitir tal retrocesso, onde um magistrado perde sua


JURAMENTADA IMPARCIALIDADE, e,

Passa a perseguir as PEÇAS PROCESSUAIS confeccionadas por este


procurador” (fl. 06)

“Um ULTRAGE!!! (fl. 06)

“Há anos vem sendo muitíssimo bem recepcionados pelo judiciário,


sejam vitimados por um posicionamento que beira o ANTIGO REGIME
da DITADURA!!!” (fl. 06)

“Tamanha a ACINTE e IMPLICÂNCIA PESSOAL com todos os


processos deste procurador, que estão sob a jurisdição desta
magistrada, pois as LIDES estão sendo OBSTADAS e FULMINADAS de
forma DISCRICIONÁRIA e SUMÁRIA!!!” (fl. 06)

“É notório o ato de DISCRIMINAÇÃO adotado pela julgadora “a quo”, pois


NENHUM outro magistrado, dos que prestam jurisdição, nos mais de
5.000 processos existentes em nome deste procurador, cometeu
tamanha ATROCIDADE!!!” (fl. 07)

“NUNCA, nenhum magistrado cometeu tamanho DESPAUTÉRIO,


deflagrado em desrespeito aos COLEGAS operadores do DIREITO.” (fl. 07)

“1) Não há excesso de PURITANISMO EXACERBADO em relação à


DETERMINAÇÃO DESCABIDA desta julgadora?!??!” (fl. 07)

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“2) Em que década a JUÍZA FABIANA KASPARY está vivendo, posto que
se ofende e se constrange com uma RELES PETIÇÃO exaltando as
TAXAS praticadas por uma LOJA do COMÉRCIO?!?!?!” (fl. 07)

“Em conjunto com este ADVOGADO, realizam a JUSTIÇA para os


CIDADÃOS BRASILEIROS de baixa renda, que, CONTUMAZMENTE,
vem sendo VÍTIMAS das EXPLORAÇÕES das GRANDES EMPRESAS e
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS que são um CÂNCER no PAÍS!!!” (fl. 09)

“É inconcebível que questões de foro íntimo venham a se sobrepor ao


BEM MAIOR, que é objetivo do ESTADO, razão pela qual mister se faz
lançar as seguintes indagações (...)” (fl. 10)

“Apenas a UMA ÚNICA JUÍZA (por questões pessoais, de


HIPERSENSIBILIDADE e PURITANISMO) sinta-se ofendida e
constrangida ao ler as PEÇAS deste procurador.” (fl. 11)

“No entanto, de VÍTIMA, o autor na pessoa de seu procurador passou a ser


o “VILÃO”, no lamentável entendimento do juízo “a quo”, que deveria
superar as questões de foro íntimo e EVITAR mais um recurso.” (fl. 12)

“Com todo o respeito, o presente recurso visa atacar DECISÃO de cunho


pessoal e de entendimento ALIENÍGENA da julgadora, pois a mesma
está:

“INVENTANDO MODA”!!!” (fl. 12)

Os destaques acima indicados mantêm o tamanho 10 de letra,


mas no recurso e peça inicial, a parte agravante utiliza texto com fontes e
tamanhos diferentes.

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Ocorre que os destaques desejados poderiam ser obtidos por


outros recursos gráficos que não “poluiriam” as petições, tais como negrito,
itálico, até mesmo caps lock, mas fazendo uso do mesmo tamanho de fonte
do restante do texto.
De outra forma, o recurso deve ser interposto contra o
despacho proferido, mas não contra a pessoa do(a) magistrado(a).
Cumpre salientar, que despacho semelhante já foi proferido no
processo sob n. 001/1.11.0170265-7, por outra Magistrada, o que demonstra
a inconformidade disseminada com os grifos demasiados nas petições.
Sendo assim, entendo que deve ser mantida a decisão que
determinou o desentranhamento da petição e facultou a entrega de nova
peça respeitando a urbanidade necessária entre as partes e o Poder
Judiciário.
Não é possível permitir aos que transitam pelo Pretório
excessos de linguagem, muito menos expressões injuriosas aos
magistrados. A cortesia e boa educação são implícitas no tratamento que se
devem dispensar juízes, advogados e litigantes. As disposições do Estatuto
da Ordem dos Advogados do Brasil recomendam dispensarem-se,
advogados e juízes, consideração e respeito recíprocos.
É oportuna a lição de Eliéser Rosa que: “Advogar é convencer,
é triunfar pela seleção dialética dos raciocínios fundados em direito; pela
análise dos fatos e sua adequação à norma jurídica; pela serena e metódica
exposição da causa, e tudo isso dentro da mais rigorosa veracidade, da mais
limpa linguagem, onde não faltam nem a beleza rica da língua, nem os
primores do estilo, nem as louçanias do mais polido cavalheirismo para com
o juízo, as partes, colegas e terceiros. O poder persuasivo dos argumentos
está na razão inversa da linguagem despolida com que são expostos”.

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Por tais razões, nego seguimento ao recurso, por ausência de


fomento jurídico, suporte fático e fundamento legal, mantendo a bem
lançada decisão proferida pela MM. Juíza de Direito Dra. Fabiana dos
Santos Kaspary.
Intimem-se.
Comunique-se.
Porto Alegre, 31 de agosto de 2012.

DES. ANGELO MARANINCHI GIANNAKOS,


Relator.

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