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Detalhes da Jurisprudência
2º Grau
Processo

Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro TJ-RJ - MOSTRAR NÚMERO DO PROCESSO

APELAÇÃO: APL XXXXX-68.2011.8.19.0066 RIO DE Órgão Julgador


JANEIRO VOLTA REDONDA 6 VARA CIVEL - Inteiro DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL
Teor Partes
MOSTRAR NÚMERO DO PROCESSO MOSTRAR PARTES

Publicação
 EMENTA PARA CITAÇÃO     MOSTRAR DATA DA PUBLICAÇÃO

Publicado por Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro há 6 anos Julgamento


MOSTRAR DATA DO JULGAMENTO

Relator
RESUMO INTEIRO TEOR
LINDOLPHO MORAIS MARINHO

Documentos anexos

Inteiro Teor 
Inteiro Teor
TJ-RJ_APL_0004303682011819… 
Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Décima Sexta
Câmara Cível
APELAÇÃO Nº. 4.303-68/2011-0066 – (F)

APELANTES: 1) LEOPOLDINA AMELIA DE PAULA; e 2) ESTADO DO RIO


DE JANEIRO

APELADOS: OS MESMOS

RELATOR: DES. LINDOLPHO MORAIS MARINHO

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. MORTE DE DETENTO NO


INTERIOR DO PRESÍDIO HELIO GOMES. QUADRO DE TURBERCULOSE.
NEGLIGÊNCIA DO PODER PÚBLICO. CONDIÇÕES PRECÁRIAS DA
UNIDADE PRISIONAL. OMISSÃO ESPECÍFICA DO ENTE ESTADUAL.
GENITORA QUE PRENTEDE REPARAÇÃO POR DANO MORAL.
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. ACERTO DO JULGADO. VALOR DE R$
20.000,00 QUE NÃO ATENDE AOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. MAJORAÇÃO PARA R$ 50.000,00. JUROS DE
MORA A CONTAR DA DATA DO ÓBITO.

A responsabilidade do Estado em relação aos seus administrados é objetiva,


que, diferentemente da responsabilidade subjetiva, não necessita da
comprovação de dolo ou culpa, sendo necessária apenas a constatação do
dano e do nexo de causalidade, adotando se, ainda, especificamente a Teoria
do Risco Administrativo, condicionando a responsabilidade objetiva do Poder
Público ao dano decorrente da atividade administrativa, que, diversamente do
que sustenta o segundo apelante, pode advir de uma conduta tanto comissiva
quanto omissiva do Estado.

Compulsando-se os autos, é possível concluir que o filho da autora estava


cumprindo pena privativa de liberdade no Presídio Hélio Gomes (arquivo 39)
e que veio a óbito (cfr. Certidão arquivo 30) no dia 25/3/2006, com a seguinte
“causa mortis”: tuberculose miliar,
Apelação nº.4.303-68/2011-0066 - acórdão - fls. 2

hemorragia digestiva – doença adquirida devido à negligência no

atendimento médico aos detentos, bem como às condições precárias do


presídio, conforme se extrai dos documentos de fls. 218/220, os quais foram
corroborados pela prova testemunhal

(fls.200 e 237).

Dano moral manifesto. Majoração do valor para R$ 50.000,00.

Juros de mora que devem ser contados a partir da data do óbito do

apenado, nos termos da Súmula 54 do STJ.

Recurso do Estado do Rio de Janeiro não provido.

Provimento do recurso da autora para majorar a verba reparatória do

dano moral para R$ 50.000,00, com correção monetária a contar

deste acórdão e juros de mora a partir da data da morte do apenado.

Vistos, relatados e discutidos estes autos da Apelação nº. 4.303-68/2011-


0066, em que são apelantes: 1) LEOPOLDINA AMELIA DE PAULA; e 2)
ESTADO DO RIO DE JANEIRO e apelado OS MESMOS,

A C O R D A M os Desembargadores que compõem a Décima Sexta Câmara


Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por negar
provimento ao segundo recurso (do Estado do Rio de Janeiro), dar
provimento ao primeiro (da autora), para majorar a verba do dano moral para
R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), valor que deverá ser corrigido
monetariamente a contar deste acórdão e acrescido de juros de mora a contar
de 25/3/2006, data da morte do apenado.

Rio de Janeiro, 7 de junho de 2016.

DES. LINDOLPHO MORAIS MARINHO – Relator


Apelação nº.4.303-68/2011-0066 - acórdão - fls. 3
Apelação nº.4.303-68/2011-0066 - acórdão - fls. 4

I – RELATÓRIO

Cuida-se de demanda proposta por Leopoldina Amélia de Paula em face do


Estado do Rio de Janeiro, objetivando reparação por danos materiais e
morais, em decorrência da morte de seu filho, Rogério Rodrigues, no dia
25/3/2006, no interior do Presídio Hélio Gomes, no qual cumpria pena.

Argumentou a autora que seu filho se encontrava preso em condições


precárias de higiene, vindo, por descaso e negligência dos prepostos do
demandado, a contrair tuberculose, culminando com seu óbito.

Gratuidade de justiça deferida à autora no arquivo 125.

Contestação do Estado do Rio de Janeiro conforme arquivo 134, tendo o réu


arguido objeção de prescrição quinquenal. No mérito, afirmou, em síntese,
que não há prova de que a doença causadora do óbito do filho da autora
tivesse sido contraída no presídio durante o cumprimento da pena.

Decisão de saneamento no arquivo 201.

Audiência de instrução e julgamento conforme arquivo 218.

O Juiz proferiu sentença (arquivo 279/284). Afastando a objeção de


prescrição e também o pedido de reparação por danos materiais, julgou
parcialmente procedente o pedido para condenar o réu a
Apelação nº.4.303-68/2011-0066 - acórdão - fls. 5

pagar à autora a quantia de R$ 20.000,00, corrigida monetariamente a partir


da sentença e com juros de mora a contar da citação.

Diante da sucumbência recíproca, determinou o rateio das custas e a


compensação dos honorários advocatícios, observada a gratuidade de justiça
deferida à autora.

A autora apelou, postulando a majoração da verba reparatória do dano moral.

O Estado do Rio de Janeiro também apelou. Sustenta que: a) a


responsabilidade é subjetiva, devendo haver prova do nexo causal, dano e ação
que o provocou; b) deve ser demonstrada a culpa do ente público; c) não há
prova de que a doença causadora do óbito do filho da autora tivesse sido
contraída no presídio, durante o cumprimento da pena; d) o falecido era
reincidente, com condenações por roubo agravado e tráfico de drogas; e) a
doença foi adquirida por conta de sua situação social e sua vida desregrada; f)
não restou comprovada a culpa do agente do Estado; g) o apenado foi
devidamente atendido quando requisitado o atendimento médico, conforme
demonstra fls. 170, 176 e 221 dos autos; h) não houve desídia por parte do
Estado; i) não foi demonstrada a culpa administrativa; j) o valor da reparação
do dano moral é exorbitante.

Contrarrazões no arquivo 294/298 (Estado do RJ) e 312/316 (da autora).

O recurso é adequado e tempestivo. É o relatório.


Apelação nº.4.303-68/2011-0066 - acórdão - fls. 6

II – VOTO

A responsabilidade do Estado em relação aos seus administrados é objetiva,


que, diferentemente da responsabilidade subjetiva, não necessita da
comprovação de dolo ou culpa, sendo necessária apenas a constatação do
dano e do nexo de causalidade, adotando-se, ainda, especificamente a Teoria
do Risco Administrativo, condicionando a responsabilidade objetiva do Poder
Público ao dano decorrente da atividade administrativa, que, diversamente do
que sustenta o segundo apelante, pode advir de uma conduta tanto comissiva
quanto omissiva do Estado.

Essa omissão específica gera responsabilização objetiva do ente público,


conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal e esta Corte. Confira-se:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL.


RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. MORTE DE PRESO SOB
CUSTÓDIA DO ESTADO. CONDUTA OMISSIVA.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. AGRAVO REGIMENTAL AO
QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

(STF – RE nº 594.902/DF-AgR/DF – Relatora: Ministra CARMEM LÚCIA –


Órgão julgador: PRIMEIRA TURMA – Data do julgamento: 09/11/2010 –
Data da publicação/Fonte: DJe 233 – 02/12/2010)

É de comum conhecimento que a responsabilidade pela vida, saúde e


integridade física do detento pertence ao Estado, sendo
Apelação nº.4.303-68/2011-0066 - acórdão - fls. 7

certo que adotar qualquer outra tese seria violar o princípio constitucional

da dignidade da pessoa humana.

Oportuna aqui a transcrição de trecho do excelente Artigo

“O PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA DIGNIDADE HUMANA E SUA


CONCRETIZAÇÃO

JUDICIAL”, da autoria do eminente Des. André Gustavo Correa de Andrade:

“[...] A dignidade é composta por um conjunto de direitos existenciais


compartilhados por todos os homens, em igual proporção. Partindo dessa
premissa, contesta-se aqui toda e qualquer idéia de que a dignidade humana
encontre seu fundamento na autonomia da vontade. A titularidade dos
direitos existenciais, porque decorre da própria condição humana, independe
até da capacidade da pessoa de se relacionar, expressar, comunicar, criar,
sentir. Dispensa a autoconsciência ou a compreensão da própria existência,
porque “um homem continua sendo homem mesmo quando cessa de
funcionar normalmente. Como observa INGO WOLFGANG SARLET: “mesmo
aquele que já perdeu a consciência da própria dignidade merece tê-la (sua
dignidade) considerada e respeitada.”

Dentro dessa linha de pensamento, há que reconhecer que o conjunto de


direitos existenciais que compõem a dignidade pertence aos homens em igual
proporção. Daí não ser possível falar em maior ou menor dignidade, pelo
menos no sentido aqui atribuído à expressão, de conjunto aberto de direitos
existenciais. O homem — apenas por sê-lo — não perde a sua dignidade, por
mais indigna ou infame que seja a sua conduta [...]”. (in Revista de Direito do
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, nº 58).

A perda temporária do direito de liberdade em


Apelação nº.4.303-68/2011-0066 - acórdão - fls. 8

locomoção, permanecendo o indivíduo preso com todos direitos

garantidos pela Constituição, que não sejam incompatíveis com a

"liberdade de ir e vir".

Nesse contexto, a responsabilidade estatal somente seria

afastada em caso de quebra do nexo de causalidade, que se daria nas

seguintes hipóteses: fato exclusivo da vítima, caso fortuito, força maior ou

fato exclusivo de terceiro, o que não ocorreu no caso ora analisado.

Na verdade, o Estado especificamente foi omisso e não

prestou o serviço que lhe era imposto, ocorrendo daí a sua

responsabilidade objetiva.

Nesse sentido:

XXXXX-23.2011.8.19.0045 - APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO, DES


LUCIANO SABÓIA RINALDI DE CARVALHO - SETIMA CÂMARA CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO INDENIZATÓRIA AJUIZADA POR


COMPANHEIRA E FILHAS DE DETENTO - LESÕES SOFRIDAS NO
INTERIOR DE CASA DE CUSTÓDIA -FALECIMENTO EM DECORRÊNCIA
DE FALHA NA PRESTAÇÃO DE SOCORRO - RESPONSABILIDADE
CIVIL OBJETIVA DO ESTADO, QUE, AO MANTER SOB SUA
CUSTÓDIA O DETENTO, ASSUMIU O ENCARGO DE ZELAR POR
SUA INTEGRIDADE - DANOS MORAIS CONFIGURADOS E
CORRETAMENTE ARBITRADOS - DANO MATERIAL EM FORMA DE
PENSÃO - LIMITE PERCENTUAL DO PENSIONAMENTO. 1 - A Constituição
Federal dispõe em seu artigo 5º, XLIX, que deve ser assegurado aos presos o
respeito à integridade física e moral. 2 - É presumível o vínculo afetivo entre a
vítima e suas filhas e, consequentemente, os danos psicológicos e sofrimentos
suportados em razão do
Apelação nº.4.303-68/2011-0066 - acórdão - fls. 9

falecimento inesperado do pai, decorrente de falha na prestação de socorro


por parte da casa de custódio em que se encontrava acautelado. 3 – [...] Data
de julgamento: 03/02/2016 Data de publicação: 11/02/2016

APELAÇÃO CÍVEL. REEXAME NECESSÁRIO. RESPONSABILIDADE CIVIL


DO ESTADO. MORTE EM PRESÍDIO. PENSIONAMENTO. INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS.Versa a controvérsia sobre pedido de indenização e
pensionamento em favor das Autoras, em razão da morte do detento Sidnei
dos Santos, assassinado em uma unidade prisional Milton Dias Moreira. A
responsabilidade do Estado em relação aos seus administrados é
objetiva, que, diferentemente da responsabilidade subjetiva,
prescinde da comprovação de dolo ou culpa, sendo necessária a
constatação do dano e do nexo de causalidade . A CRFB/88 dispôs em
seu artigo 5º, XLIX, que deve ser assegurado aos presos o respeito à
integridade física e moral.No momento em que o Poder Público não observou
o dever de guardar integralmente a vida do detento, surge a sua
responsabilidade civil perante o dano causado à lesada.A vítima era pai da
segunda Autora, sendo inegável o dano moral causado por sua morte,
mormente pelas suas circunstâncias, porém, a indenização arbitrada em R$
80.000,00 (oitenta mil reais) revela-se excessiva, razão pela qual se reduz
para R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).O pensionamento em favor da
menor impúbere é devida, presumida a dependência econômica do filho
menor em relação a ambos os genitores. (RECURSO PROVIDO EM PARTE.
XXXXX-60.2005.8.19.0001 (2009.227.03016) - APELACAO / REEXAME
NECESSARIO -DES. ELISABETE FILIZZOLA - Julgamento: 13/08/2009 –
SEGUNDA CÂMARA CIVEL)
Apelação nº.4.303-68/2011-0066 - acórdão - fls. 10

Compulsando-se os autos, é possível concluir que o filho da autora estava


cumprindo pena privativa de liberdade no Presídio Hélio Gomes (arquivo 39)
e que veio a óbito (cfr. Certidão arquivo 30) no dia 25/3/2006, com a seguinte
“causa mortis”: tuberculose miliar, hemorragia digestiva – doença adquirida
devido à negligência no atendimento médico

os detentos, bem como às condições precárias do presídio, conforme se extrai


dos documentos de fls. 218/220, os quais foram corroborados pela prova
testemunhal (fls.200 e 237).

A negligência do poder público fica ainda mais evidente no depoimento do


Defensor Público Júlio César Soares Cipriano, que atuou na defesa dos
interesses do filho da autora (arquivo 257), afirmando que os detentos
retornavam ao Presídio após o atendimento nos hospitais penitenciários,
mesmo não estando totalmente curados (grifei).

Confira:

“[...] que o filho da autora morreu por tuberculose; que as condições do


Presídio Hélio Gomes eram bastantes ruins; que o presídio foi desativado em
2007 por ordem do Juiz da VEP; que o filho da autora morreu em 2006; que
teve contato com o filho da autora por um mês enquanto estava cumprindo
pena no presídio Hélio Gomes; que não se recorda se a sua saúde já estava
abalada; que os presos recebiam tratamento em hospitais penitenciários e
mesmo não estando totalmente curados, retornavam, mesmo se a doença
fosse infectocontagiosa; [...]”
Apelação nº.4.303-68/2011-0066 - acórdão - fls. 11

O depoimento do Defensor Público Júlio César Santos Cipriano está em


consonância com os documentos juntados nos arquivos 31, 36, 42, 44/48,50,
que retratam os diversos encaminhamentos do filho da autora para o
atendimento médico, a contar do dia 20/02/2006, com retorno à unidade
prisional, sendo certo que o óbito ocorreu no dia 25/3/2006 (certidão de óbito
arquivo.

Oportuno se dizer que, conquanto já houvesse indicação para a internação do


interno desde o início do mês de março/2006 (para o Hospital Central),
segundo o documento do arquivo 36, isso somente ocorreu às vésperas de seu
falecimento, ou seja, no dia 24/3/2006, quando no boletim de atendimento
médico, foi relatado que o referido interno apresentava “tórax infiltrado
bilateral”, com peso corpóreo de 47,600.

Deve ficar registrado aqui, o empenho do Defensor Público, Dr. Juliano


Cipriano, que, ainda em 21/3/2006 (arquivo 31), ou seja, quatro dias antes do
óbito do filho da autora, postulou atendimento de urgência, diante do quadro
de vômito e evacuação com sangue que ele apresentava, deixando consignado
no ofício o seguinte: “o apenado já foi mais de uma vez encaminhado para
atendimento médico, mas retornou à unidade com o mesmo quadro”.

Reafirme-se: houve omissão específica do ente público o ser negligente no


combate a uma situação propícia à produção do dano, sendo certo o seu dever
de envidar todos os esforços a fim de evitar o resultado danoso, já que ao
manter sob a sua custódia o detento, assumiu o dever jurídico de zelar por sua
integridade física e moral.
Apelação nº.4.303-68/2011-0066 - acórdão - fls. 12

Não prospera, por outro lado, o argumento do Estado do Rio de Janeiro no


sentido de que não haveria nexo causal entre a morte do interno e o fato dele
cumprir pena no Presídio Hélio Gomes.

A uma, porque, como já esclarecido, diversos foram os pedidos de


encaminhamento do detento para atendimento médico, diante do seu quadro
de saúde, com o seu retorno à unidade prisional.

A duas, porque, em sua contestação, não foi requerida prova pericial que
pudesse afastar o nexo causal, restando sem recurso a decisão de saneamento
(arquivo 201).

Demonstrado, assim, o descumprimento do dever constitucional de guarda


por parte dos agentes públicos, insculpido no art. 5º, XLIX, da CF, surge a
responsabilidade do Estado de reparar o dano sofrido pelo apelado que,
enquanto se encontrava sob tutela desse.

O objetivo da indenização por danos morais não é reparar um dano subjetivo,


mas, tão somente, compensá-lo, impondo, ao mesmo tempo, uma punição a
agente causador, para que o mesmo observe as cautelas de estilo na prestação
do serviço que oferece ao consumidor.

Não pode ser o mesmo ínfimo, de forma que não sinta o agente impacto em
seu patrimônio, nem exagerado, para que não configure enriquecimento
ilícito.

Ensina-nos a doutrina que o dano moral é a lesão de bem integrante da


personalidade, tal como a honra, a liberdade, a saúde, a integridade
psicológica, causando dor, sofrimento, tristeza, vexame e
Apelação nº.4.303-68/2011-0066 - acórdão - fls. 13

humilhação à vítima (Sérgio Cavalieri Filho, Programa de Responsabilidade


Civil). É a dor em função da conduta contrária ao direito, ou tecnicamente,
como o efeito moral da lesão a interesse juridicamente protegido.

O valor da indenização por dano moral, por outro lado, sujeita-se ao controle
do Superior Tribunal de Justiça, sendo certo que, na fixação da indenização a
esse título, recomendável que o arbitramento seja feito com moderação,
proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível sócio-econômico do autor, e,
ainda, ao porte econômico do réu, orientando-se o Juiz pelos critérios
sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se
de sua experiência e do bom senso, atento à realidade da vida e às
peculiaridades de cada caso (RESP 216.904, 19.8.99, 4ª Turma STJ, rel. Min.
Sálvio de Figueiredo, in DJU 20.9.99, p. 67).

Nesse sentido julgado do Superior Tribunal de Justiça:

“DANO MORAL – A indenização deve ser compatível com a reprovabilidade


da conduta e a gravidade do dano produzido” (STJ – 3.ª Turma, RESP
XXXXX, rel. Min. Ari Pargendler).

Certo que não há valores nem tabelas preestabelecidas para o arbitramento do


dano moral. Essa tarefa cabe ao julgador no exame de cada caso concreto,
observando os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, utilizando-
se de seu bom senso prático.

No caso em exame, o magistrado fixou a verba reparatória do dano moral em


R$ 20.000,00 (vinte mil reais), o que, ao meu sentir, é insuficiente para
compensar a dor sofrida pela genitora com
Apelação nº.4.303-68/2011-0066 - acórdão - fls. 14

a morte de seu filho que estava sob a cautela do poder público,

cumprindo a pena determinada pelo Estado-Juiz.

Tal verba, com o devido respeito ao julgador de primeiro

grau, não atende aos princípios antes referidos, devendo ser majorado

para R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), valor que tem sido arbitrado para

casos semelhantes julgados por esta Corte de Justiça, devendo tal valor

ser corrigido monetariamente a contar da data deste acórdão, nos

precisos termos das Súmulas nº 362 do Superior Tribunal de Justiça e 97

desta Corte de Justiça.

Confira:

XXXXX-12.2006.8.19.0001 - APELAÇÃO

Ementa

RICARDO RODRIGUES CARDOZO - DÉCIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO.


MORTE DE DETENTO NO INTERIOR DE UNIDADE PRISIONAL. DEVER
ZELAR PELA INTEGRIDADE FÍSICA E MORAL DO PRESO SOB CUSTÓDIA.
DANO MORAL CONFIGURADO. No caso submetido a exame se aplica a
teoria objetiva, uma vez que o Estado, ao efetuar a prisão, fica responsável
pelas pessoas que retirou do convívio social, devendo responder
objetivamente pelos danos causados no caso de morte dentro dos
estabelecimentos prisionais. Precedentes jurisprudenciais. O Estado tinha o
dever de providenciar a transferência do interno para nosocômio a fim de ser
atendido por um médico. Tinha o dever de envidar esforços e mecanismos
necessários para salvaguardar a vida daquele que estava aos seus cuidados, e,
em assim não agindo, não permitindo que o filho da autora fosse transferido
para o
Apelação nº.4.303-68/2011-0066 - acórdão - fls. 15

hospital, pouco importando se tinham ou não viaturas disponíveis, uma vez


que o bem maior a ser tutelado é a vida, responde pelos danos causados com a
morte do detento. Levando em consideração a imensa dor da perda,
sopesando as circunstancias do evento e a impotência da mãe, que nada pode
fazer para salvar a vida do filho que estava sob a custódia do Estado, entendo
que a verba fixada pelo magistrado (R$50.000,00) observou os critérios da
possibilidade, razoabilidade e proporcionalidade, estando de acordo com os
valores que vem sendo fixados para casos análogos. Recursos desprovidos.

Data de julgamento: 27/10/2015

Data de publicação: 29/10/2015

No que se refere aos juros de mora, como a matéria pode ser revista pelo
Tribunal de ofício (Súmula TJ/RJ 161), tenho que seu termo inicial deve ser a
data do óbito do apenado, filho da autora, ou seja, 25/3/2006, e não a data da
citação, como entendeu o julgador de primeiro grau, citação que ocorreu em
15/6/2011 (arquivo 132), diante da ausência de relação contratual entre as
partes (Súmula 54 do STJ).

Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento o segundo recurso


(do Estado do Rio de Janeiro), dar provimento ao primeiro (da autora), para
majorar a verba do dano moral para R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), valor
que deverá ser corrigido monetariamente a contar deste acórdão e acrescido
de juros de mora a contar de 25/3/2006, data da morte do apenado.

Rio de Janeiro, 7 de junho de 2016.

DES. LINDOLPHO MORAIS MARINHO - Relator

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DECORRÊNCIA DE EDEMA PULMONAR. ALEGAÇÃO DOS AUTORES DE QUE A MORTE SE
DEU POR FALTA DE TRATAMENTO ADEQUADO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. 1.Teor do
art. 333, I, CPC. 2.Não há nos autos qualquer prova de que o detento sofria de doença
grave que reclamasse …

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