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Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Quarta Câmara Cível

APELAÇÃO CÍVEL 0030396-89.2010.8.19.0038


PARTE APELANTE: MUNICÍPIO DE NOVA IGUAÇU
PARTE APELADA: ANTONIA LIDUINA DE LIMA LOPES
RELATOR: DES. MARCO ANTONIO IBRAHIM

Apelação Cível. Ação indenizatória. Município de Nova Iguaçu. Queda em


via pública decorrente do mau estado de conservação da rua com buracos
e desníveis. “Para a constatação da existência da responsabilidade
estatal por omissão, é necessário que sejam verificados: o dano; o nexo
causal entre a lesão e a conduta estatal; a omissão do Poder Público; e o
descumprimento de um dever legal originado a partir de
um comportamento omissivo” (REsp nº 1.281.555/MG). O conjunto
probatório demonstra a existência dos elementos configuradores da
responsabilidade do ente público em observância ao art. 373, I, do
CPC/2015. Indenização por dano material no valor de R$43,05, conforme
comprovante de despesa médica apresentado pela demandante. “O art.
950 do Código Civil não exige que tenha havido também a perda do
emprego ou a redução dos rendimentos da vítima para que fique
configurado o direito ao recebimento da pensão. O dever de indenizar
decorre unicamente da perda temporária da capacidade laboral” (REsp nº
1.306.395/RJ). Considerando que, neste caso, a perda da capacidade
laboral perdurou por apenas 6 dias e que o valor do salário mínimo era de
R$1.100,00 à época da sentença, a indenização deveria ser de R$220,00.
Súmula nº 490 do STF. Mantido, contudo, o valor fixado em sentença por
ser vedada a reformatio in pejus. No tocante à indenização por dano moral,
a verba arbitrada em R$8.000,00 se mostra exagerada diante das
peculiaridades deste caso – a autora, que possuía 50 anos de idade à época
dos fatos, sofreu apenas uma torção no joelho direito, acarretando um
período de 6 dias de repouso sem qualquer sequela de natureza física e/ou
psíquica, conforme declarado pelo perito judicial. Razoável a redução do
valor da indenização para R$4.000,00, ponderando, ainda, que o acidente
ocorreu no turno da noite. Provimento parcial do recurso da parte ré.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível 0030396-


89.2010.8.19.0038 em que consta como parte apelante: MUNICÍPIO DE NOVA
IGUAÇU e como parte apelada: ANTONIA LIDUINA DE LIMA LOPES, acordam os
Desembargadores da Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do

Assinado em 21/09/2022 21:18:49


MARCO ANTONIO IBRAHIM:4330 Local: GAB. DES MARCO ANTONIO IBRAHIM
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Rio de Janeiro, por unanimidade, em dar provimento parcial ao recurso, na forma


do voto do Desembargador Relator.

RELATÓRIO

Trata-se de ação indenizatória ajuizada por ANTONIA LIDUINA DE LIMA


LOPES em face de MUNICÍPIO DE NOVA IGUAÇU.

A autora relata que, no dia 12/04/2010, sofreu uma queda na Rua Dr.
Benedito Costa, em Nova Iguaçu, devido à existência de desníveis e buracos na
via pública, que se encontra em péssimo estado de conservação.

Ressalta que, em razão das fortes dores e do inchaço no joelho direito,


se dirigiu ao Hospital Geral de Nova Iguaçu, onde foi diagnosticada com “trauma
torcional no joelho direito”.

Pleiteia: 1) indenização por danos materiais no valor de R$134,47


(cento e trinta e quatro reais e quarenta e sete centavos) equivalente aos gastos
médicos realizados; 2) indenização pelo período de incapacidade física; 3)
obrigação de o Município réu custear todo o tratamento médico e fisioterápico
que vier a ser necessitado; 4) indenização por dano moral.

Em contestação (fls. 35/42), a parte ré alega que o conjunto probatório


não é suficiente para demonstrar que a sua alegada omissão tenha sido a causa
dos danos sofridos pela autora. Sustenta, ainda, a inexistência de dano moral,
além da ausência de prova de que a demandante exercia, à época do acidente,
alguma atividade remunerada ou de que a queda tenha a impossibilitado de
receber qualquer remuneração.

A sentença de fls. 144/147 foi prolatada nos seguintes termos:

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Apelação, a fls. 148/168. A parte ré requer, primeiramente, a


expedição de ofício ao Ministério Público e à OAB/RJ para a apuração de suposta
prática de fraude processual, tendo em vista as diversas ações ajuizadas pelo
escritório de advocacia MALLET ADVOGADOS em face do Município de Nova
Iguaçu com a mesma causa de pedir, ressalvadas apenas algumas variações de
fato. No mérito, alega que a autora não comprovou o nexo causal entre os danos
supostamente sofridos e a alegada omissão do agente público de modo a
justificar a indenização pleiteada. Ressalta, ainda, que não foram demonstradas
as supostas despesas médicas, tampouco restou comprovado que a autora
exercia alguma atividade remunerada à época do suposto acidente. Sustenta
também a inexistência de dano moral.

Contrarrazões oferecidas a fls. 171/199, prestigiando a sentença.

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Parecer do Ministério Público, a fls. 241/244, opinando pelo


provimento parcial do recurso com a redução do valor da indenização por dano
moral para R$4.000,00 (quatro mil reais).

É o relatório.

VOTO

Cinge-se a controvérsia à alegada responsabilidade do Município de


Nova Iguaçu pelos alegados danos vivenciados pela autora, devido à queda
sofrida em via pública, que se encontra em péssimo estado de conservação com
buracos e desníveis na calçada.

“Para a constatação da existência da responsabilidade estatal por


omissão, é necessário que sejam verificados: o dano; o nexo causal entre a lesão
e a conduta estatal; a omissão do Poder Público; e o descumprimento de um dever
legal originado a partir de um comportamento omissivo” (REsp nº
1.281.555/MG).

Examinando os autos, verifica-se que, no presente caso, o dano restou


comprovado. O boletim médico, juntado à petição inicial, demonstra que, no dia
13/04/2010, a autora foi atendida na emergência do Hospital Geral de Nova
Iguaçu, sendo diagnosticada com trauma torcional no joelho direito.

No tocante à conduta omissiva, é inquestionável o dever do Município


de manter as vias públicas em bom estado de conservação de modo a zelar pela
segurança dos pedestres. Entretanto, é notório que grande parte das vias
públicas, sobretudo, em áreas mais humildes, apresenta buracos e desníveis, que,
frequentemente, causam acidentes aos transeuntes.

As fotografias, anexadas a fls. 20/21, demonstram a precária situação


da rua; fato que foi corroborado pelo depoimento da testemunha Luís Carlos da
Silva que afirmou: “que costuma passar sempre nessa rua, e que o buraco está no
local há um bom tempo; que não havia calçada nessa rua na época do acidente,
e que hoje está sendo feita uma pela Prefeitura; que a rua tem asfalto, que
quebrou; que o asfalto é desnivelado no local; que soube que os moradores
fizeram um abaixo-assinado para o conserto do buraco em voga” (fl. 86).

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O depoimento da testemunha também foi importante para comprovar


o nexo de causalidade, uma vez “que viu o acidente; que estava passando no local
e viu a autora caindo no buraco que ficava na rua; que ajudou a tirar a autora do
buraco; que a autora estava mancando”.

Os elementos configuradores da responsabilidade do ente público


restaram demonstrados em observância ao art. 373, I, do CPC/2015, sendo
acolhidos os seguintes pedidos: 1) indenização por dano material no valor de
R$43,05 (quarenta e três reais e cinco centavos); 2) indenização prevista no art.
950 do CC/02 no valor de R$66,00 (sessenta e seis reais), equivalente ao período
de 6 (seis) dias de incapacidade; 3) indenização por dano moral arbitrada em
R$8.000,00 (oito mil reais).

O cupom fiscal, juntado a fl. 30, no valor de R$43,05 (quarenta e três


reais e cinco centavos), é o único comprovante de despesa médica apresentado
pela demandante.

Em relação ao período de incapacidade, o perito judicial afirmou que


“a autora está integralmente recuperada do trauma”, limitando-se a
incapacidade total e temporária ao período de 12 a 17/04/2010 (fl. 120).

“O art. 950 do Código Civil não exige que tenha havido também a
perda do emprego ou a redução dos rendimentos da vítima para que fique
configurado o direito ao recebimento da pensão. O dever de indenizar decorre
unicamente da perda temporária da capacidade laboral” (REsp nº 1.306.395/RJ).

Ademais, “A pensão correspondente à indenização oriunda de


responsabilidade civil deve ser calculada com base no salário mínimo vigente ao
tempo da sentença e ajustar-se-á às variações ulteriores” (súmula nº 490 do STF).

Considerando que, neste caso, a perda da capacidade laboral


perdurou por apenas 6 (seis) dias e que o valor do salário mínimo era de
R$1.100,00 (um mil e cem reais) à época da sentença, a indenização deveria ser
de R$220,00.

Confira-se: R$1.100,00 (salário mínimo) / 30 dias x 6 dias = R$220,00.

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Mantém-se, contudo, o valor fixado em sentença por ser vedada a


reformatio in pejus.

No tocante à indenização por dano moral, razoável acompanhar o


parecer do Ministério Público. A verba arbitrada em R$8.000,00 (oito mil reais)
se mostra exagerada diante das peculiaridades deste caso – a autora, que possuía
50 (cinquenta) anos de idade à época dos fatos, sofreu apenas uma torção no
joelho direito, acarretando um período de 6 (seis) dias de repouso sem qualquer
sequela de natureza física e/ou psíquica, conforme declarado pelo perito judicial.

Revela-se, portanto, mais adequada a redução do valor da indenização


para R$4.000,00 (quatro mil reais), ponderando, ainda, que o acidente ocorreu
no turno da noite.

Por último, descabido o pedido de remessa de cópia dos autos ao


Ministério Público. Primeiro, porque, no presente caso, eventual fraude não
restou minimamente comprovada. Segundo, porque a providência alvitrada pelo
Município equivale à apresentação de notitia criminis que pode ser encaminhada
por qualquer pessoa física ou jurídica às autoridades.

À conta de tais fundamentos, voto no sentido de dar provimento


parcial ao recurso da parte ré a fim de reduzir o valor da indenização por dano
moral para R$4.000,00 (quatro mil reais).

Rio de Janeiro, 21 de setembro de 2022.

DES. MARCO ANTONIO IBRAHIM


Relator
(P)

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