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Registro: 2022.0000902770
ACÓRDÃO
Voto nº 38940
Apelação nº 1006038-26.2021.8.26.0438
Comarca de Penápolis
Apelante: ANGÉLICA FRANCISCA TROFINO
Apelada: RECOVERY DO BRASIL CONSULTORIA S.A.
Juiz de Direito: Dr. Paulo Victor Álvares Gonçalves
dívidas que não implica negativação. Impugna o pleito de indenização por danos morais e requer a
improcedência. Juntou documentos (fls. 108/176). Petição juntada por Fundo de Investimento em
Direitos Creditórios Não Padronizados NPL II (fls. 177/332). Houve réplica (fls. 335/355). Em fase
de especificação de provas, a parte autora pugnou pelo julgamento antecipado da lide (fls. 359),
enquanto a parte requerida deixou o prazo transcorrer in albis (fls. 360). É, no que importa, o
relatório.”.
É o relatório.
2:- Os documentos de fls. 124/143 comprovam que a autora celebrou contrato bancário
de abertura e manutenção de conta-corrente e cédula de crédito bancário para concessão de mútuo
rotativo em conta-corrente, comumente chamado de cheque especial com o Banco Santander S.A..
Ademais, como ensina Carlos Roberto Gonçalves (in Direito das Obrigações - Parte
Especial, livro 6, tomo II, Saraiva, 2002, pág. 92):
“Dano moral é o que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu patrimônio. É
lesão de bem que integra os direitos da personalidade, como a honra, a dignidade, a
intimidade, a imagem, o bom nome, etc., como se infere dos arts. 1º, III, e 5º, V e X, da
Constituição Federal, e que acarreta ao lesado, dor, sofrimento, tristeza, vexame e
humilhação”.
Sustenta a apelante que o dano moral é decorrente de cobrança indevida realizada pela
instituição financeira ré, consistente na subscrição do seu nome no portal “Serasa Limpa Nome”,
que, como já visto, não se traduz em restrição de crédito, mas plataforma de negociação para débitos
inadimplidos.
Todavia, não houve qualquer abalo de crédito, negativação perante os órgãos de registro
de devedores ou qualquer outra situação que se traduzisse em tristeza ou dor interna do autor (no
caso, a realização de cobranças vexatórias, que não foram demonstradas nos autos, muito embora
tenha sido facultado às partes a produção de outras provas além das documentais acostadas), mas
apenas o aborrecimento de ter de regularizar situação que lhe era inesperada.
Desta forma, buscar solucionar um problema havido com relação à efetiva quitação de
dívida, de fato causou aborrecimento à apelante. No entanto, este aborrecimento não se caracteriza
como dano moral e, por esta razão, torna-se impossível a condenação do réu ao pagamento da
indenização. O que a apelante sofreu foi um mero aborrecimento, um contratempo não passível de
ser indenizado.
Questiona-se: Qual princípio moral da apelante foi violado? Qual projeção social este
evento foi capaz de provocar que impediu sua convivência com os demais membros da sociedade?
Aborrecimentos decorrentes da celebração de contratos ou da prestação de serviços são, em geral,
comuns e suportáveis, fazendo parte das relações humanas. Como já dito, não podem simples
desentendimentos e aborrecimentos ensejarem o deferimento de indenização por dano moral. Tem-se
que, no caso em comento, não passou a recorrente por sofrimento moral.
Não tendo sido narrados outras circunstâncias e fatos relevantes, não houve a
caracterização da angústia, sofrimento e abalo psíquico a ensejar indenização extrapatrimonial.
Nos termos do § 11, do artigo 85, do Código de Processo Civil, ficam os honorários
advocatícios sucumbenciais majorados para 15% sobre o valor da causa atualizado, com a ressalva de
que tais verbas só poderão ser exigidas se houver comprovação de que a autora não mais reúne os
requisitos para a concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita, nos termos do § 3º, do
artigo 98, do mesmo diploma legal.