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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2022.0001055839

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação


Criminal nº 0003507-85.2017.8.26.0191, da Comarca de Ferraz de
Vasconcelos, em que é apelante RODRIGO MARTINS FREITAS, é
apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual 9ª Câmara


de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a
seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso, com
determinação. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que
integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos.


Desembargadores SÉRGIO COELHO (Presidente sem voto),
ALCIDES MALOSSI JUNIOR E CÉSAR AUGUSTO ANDRADE DE
CASTRO.

São Paulo, 19 de dezembro de 2022.

GRASSI NETO
Relator
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Voto Nº 30914
Apelação Criminal Nº 0003507-85.2017.8.26.0191
Comarca: Ferraz de Vasconcelos
Apelante: RODRIGO MARTINS FREITAS
Apelado: Ministério Público do Estado de São Paulo
Roubo Conjunto probatório desfavorável ao réu
lastrado em depoimentos coerentes e harmônicos da
vítima e de policiais Suficiência à aferição da
materialidade, da autoria e do dolo Apreensão da res
em poder do acusado Inversão do ônus probatório
Entendimento
A palavra da vítima e dos policiais, se coerentes e em
harmonia com outros elementos de convicção existentes
nos autos, têm especial importância, tanto para confirmar a
materialidade dos fatos quanto sua autoria e dolo.
A apreensão da res em poder do acusado acarreta a
inversão do ônus probatório, competindo-lhe a
apresentação de justificativa inequívoca para a posse do
bem.

Nulidade Reconhecimento na fase policial efetuado


sem atendimento aos requisitos do art. 226 do CPP,
com identificação segura Identificação em Juízo
Cerceamento de defesa inexistente
O fato de o reconhecimento operado na fase indiciária não
ter atendido a todas as formalidades do art. 226, do CPP
não chega a comprometer a prova, se a irregularidade tiver
sido sanada mediante identificação efetuada em audiência
judicial, na qual a existência de contraditório permite a
dispensa das cautelas previstas em lei para a realização do
ato na fase inquisitiva.

Roubo majorado Emprego de arma e concurso de


agentes comprovados por meio da prova oral
Ausência de exame pericial Irrelevância
Nos crimes de roubo, muitas vezes praticados na
clandestinidade, a palavra dos ofendidos assume especial
importância, tanto para confirmar a materialidade e a
autoria de mais de um agente, como o emprego de
violência e de grave ameaça exercida contra pessoa,
mediante emprego de arma. Em tais situações, a prova oral
robusta supre inclusive eventual ausência de laudo pericial
e é suficiente para comprovar não apenas a verificação da
causa de aumento referente ao emprego da arma, mas
também a referente à coautoria.

Roubo majorado Pena Presença de mais de uma


causa de aumento dentre aquelas relacionadas no tipo
penal Rol descrevendo hipóteses que se referem a
circunstâncias de natureza eminentemente objetiva
Cálculo a ser efetuado mediante emprego de
percentuais escalonados Método que não se
confunde com a ideia de responsabilização objetiva do

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agente Aplicação da lei vigente à época, por ser mais
benéfica
A simples leitura do art. 157, § 2º, permite concluir-se que o
rol elaborado pelo legislador se refere a situações de
natureza eminentemente objetiva, cuja análise pelo
Magistrado deve limitar-se simplesmente à verificação de
sua efetiva ocorrência ou não. Cuida-se, pois, de conjuntura
na qual as avaliações quantitativa e qualificativa da conduta
do agente acabam por se confundirem entre si.
Assim sendo, ao aplicar-se a elevação progressiva em
razão do número de causas de aumento existentes, não se
está, de modo algum, adotando a teoria da
responsabilidade objetiva. Consoante mencionado critério,
ressalvada a existência de fundamentação específica
justificando a adoção de percentual superior de majoração,
a pena deve restar acrescida na seguinte proporção: na
hipótese de estar presente apenas uma delas, o acréscimo
deverá ser de 1/3; em havendo duas, a elevação deve ser
de 3/8; na existência de três causas, a pena deve ser
majorada em 5/12; caso sejam constatadas quatro
majorantes, o aumento deve ser de 11/24; nos casos em
que, por fim concorrerem todas as hipóteses constantes
dos incisos relacionados no § 2º, do art. 157 do CP, deve
incidir o percentual máximo de ½.
Inexistindo justificativa para a adoção de frações maiores, a
fixação de penas que não obedeça a esses parâmetros
deve ser alterada apenas para sua readequação à
Jurisprudência vigente à época, eis que deve haver
incidência da lei antiga, que era mais benéfica, como um
todo, não interferindo a alteração posteriormente efetuada
pela Lei n. 13.964/2019.

Pena Crime comum praticado mediante violência ou


grave ameaça Roubo circunstanciado Regime
prisional fechado para início do cumprimento de pena
Entendimento
Em se tratando de roubo circunstanciado pela ocorrência
de quaisquer das hipóteses relacionadas no incisos do § 2º
do art. 157, do CP, a opção pelo regime fechado mostra-se
como sendo a mais adequada, independentemente do
quantum da pena aplicada, uma vez tratar-se de delito que
denota maior ousadia e periculosidade por parte do agente
no exercício da violência ou da grave ameaça, razão pela
qual causa considerável abalo no corpo social, e se
apresenta na atualidade como grande fonte de inquietação.

Vistos,

Pela r. sentença de fls. 152/156, prolatada pelo


MM. Juiz Fernando Awensztern Pavlovsky, cujo relatório ora se adota,

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RODRIGO MARTINS FREITAS foi condenado como incurso no art.


157, § 2º, I (emprego de arma antes da entrada em vigor da Lei n.
13.654/18), II (concurso de agentes), do CP, às penas de 05 anos e
06 meses de reclusão, em regime inicial fechado, e de 13 dias-multa,
à razão de 1/30 do maior salário-mínimo vigente à época dos fatos. Ao
acusado foi concedido o direito de recorrer em liberdade.
Inconformado, apelou o réu, salientando que
haveria manifesta nulidade no reconhecimento fotográfico realizado
em solo policial em seu desfavor, contaminando, assim, as demais
provas carreadas aos autos. Alega que seria de rigor a sua
absolvição, dada a inexistência de prova lícita para embasar sua
condenação. Subsidiariamente, pleiteia a redução de suas
reprimendas; o afastamento da causa de aumento relativa ao
emprego de arma de fogo; a aplicação de apenas de 1/3, na terceira
fase do cálculo, e; a fixação de regime inicial semiaberto.
Prequestiona, por fim, a matéria aventada.
Processado e contra-arrazoado o recurso, a Douta
Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se pelo seu desprovimento.

É o Relatório.

A nulidade suscitada pelo ilustre Defensor Público


será analisada junto com o mérito, pois com este se confunde.
O apelo não merece prosperar.
Não se cogita de absolvição, uma vez que a
condenação do acusado pela prática do crime de roubo duplamente
majorado foi bem decretada e veio embasada em substancioso acervo
probatório.
Narra a denúncia que, no dia 23 de janeiro de

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2017, o ora apelante teria, com outros dois indivíduos não


identificados, subtraído, mediante grave ameaça exercida com
emprego de arma de fogo, o aparelho de telefonia celular da marca
“Samsung”, modelo “J5”, avaliado em R$ 2.000,00, de propriedade de
Bruno Rafael da Costa.
Segundo restou comprovado, o acusado teria,
juntamente com seus comparsas não identificados, abordado a vítima
Bruno, que caminhava na via pública, e com emprego de arma de
fogo, exigido seu aparelho de telefonia celular.
Na posse do referido aparelho, réu e seus
comparsas deixaram o local para rumo ignorado.
Ocorre que, no dia 22 de fevereiro de 2017,
Policiais Militares receberam informações sobre a ocorrência de roubo
pela região tendo, então, passado a patrulhar a área.
Os agentes policiais teriam se deparado com o
apelante e mais dois indivíduos caminhando, e decidiriam pela
realização da abordagem.
Na ocasião (fls. 63/64):

Durante a revista, além de outros produtos de origem


criminosa, os agentes públicos encontraram na posse de
RODRIGO o celular anteriormente subtraído de Bruno. Na
ocasião, o denunciado não conseguiu explicar a origem do
aparelho. Constando registro de ocorrência sobre o bem,
os agentes públicos o conduziram para a Delegacia de
Polícia.
Em solo policial, a vítima realizou o reconhecimento
fotográfico de RODRIGO e o apontou como sendo o
indivíduo que, portando uma arma de fogo, exigiu o seu
aparelho celular.

A materialidade delitiva restou perfeitamente


demonstrada nos autos de exibição e apreensão de fls. 14, de

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reconhecimento fotográfico positivo de fls. 44, do objeto de fls. 49


(aparelho de telefonia celular de propriedade da vítima), de entrega do
referido aparelho de fls. 51 e pelo laudo pericial do aparelho de
telefonia celular de fls. 41/42.
Mostrou-se a prova oral de fls. 145 mídia digital,
colhida na instrução criminal, outrossim, apta a vinculá-lo à autoria
delitiva da prática ilícita.
Perante a autoridade policial, o então indiciado
negou as imputações (fls. 15). Posteriormente, ao ser ouvido em Juízo
sob o crivo do contraditório, o ora apelante optou por permanecer em
silêncio (fls. 145 arquivo digital); sua versão narrada em solo policial
restou, todavia, isolada no conjunto probatório dos autos.
A combativa Defesa busca, com efeito, minimizar
a conduta do recorrente, mas assim o faz sem sucesso.
Como bem lançado na r. sentença (fls. 153):

As provas colhidas no curso da instrução processual


formam um conjunto probatório suficiente a sustentar o
decreto condenatório, de modo que fica afastada a tese
absolutória sustentada pela combativa defesa.

Ao ser ouvida sob o crivo do contraditório, a vítima


descreveu, com efeito, a dinâmica dos fatos de forma coesa,
ratificando, em Juízo, o reconhecimento do ora apelante e afirmando
que não teve dúvidas, tanto em solo policial, como em Juízo, quanto a
ser ele um dos assaltantes.
Não há como deixar de valorar as palavras do
ofendido, dada a especial relevância em razão do contato direto
mantido com o ora apelante e os outros dois indivíduos não
identificados. A vítima descreveu as características físicas do
acusado, o que contribui, sobremaneira, para a identificação da

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autoria.
Os crimes contra o patrimônio são, no mais das
vezes, praticados na clandestinidade. Em tais situações, as palavras
do ofendido assumem particular importância, não havendo porque
despreza-las.
O depoimento do Policial Militar Wendel, dando
conta das circunstâncias que cercaram a ocorrência dos fatos (fls. 145
mídia digital), compõem, ainda, o quadro harmônico que corrobora a
versão descrita pelo Ministério Público na exordial acusatória.
No que concerne ao valor dos depoimentos
prestados por policiais, os Tribunais têm deixado assente serem
inadmissíveis quaisquer análises preconceituosas.
Pondere-se que o conjunto probatório dos autos
aponta para a participação do apelante juntamente com seus
comparsas não identificados na empreitada criminosa ora analisada.
Nada foi produzido ao longo da instrução, comprovando sequer
minimamente a justificativa ofertada pelo réu em sede inquisitorial
(que adquiriu o aludido aparelho de telefonia mediante troca por um
relógio fls. 15).
A Defesa não trouxe aos autos qualquer elemento
de convicção capaz de contrapor-se às provas que incriminam o
sentenciado.
O reconhecimento operado na fase indiciária,
conquanto não tenha atendido as formalidades previstas no art. 226
do CPP, consoante se verifica do auto de reconhecimento fotográfico
de pessoa positivo (fls. 44), o ofendido reconheceu sem sombras de
dúvidas, o ora apelante como sendo o indivíduo que portava a arma
de fogo (não apreendida) e que também lhe subtraiu o aparelho de
telefonia celular.

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Assim, embora o apelante não tenha sido


colocado presencialmente ao lado de outras pessoas que possuíssem
as mesmas características físicas para a efetiva realização do ato,
agora em Juízo, tal como previsto no art. 226 do CPP, referida
situação não chega a comprometer a prova.
Deve ser registrado, nesse passo, que, no campo
processual penal, o reconhecimento pessoal ou fotográfico por parte
da vítima de crime assume inegável valor probante, somente podendo
ser desconsiderado quando presente alguma circunstância que torne
suspeita a identificação, o que não ocorreu.
A identificação positiva efetuada pela vítima não
está, com efeito, eivada de nulidade.
Rejeita-se, portanto, a arguição de nulidade e, por
consequência, a invalidade das provas derivadas.
Reforçando a correta condenação do recorrente,
tem-se também a apreensão incriminadora da res em poder do
acusado. Referida situação enseja, inclusive, a adoção da inversão do
ônus probatório, de modo a gerar presunção juris tantum de sua
responsabilidade.
A palavra da vítima e do policial, se coerentes e
em harmonia com outros elementos de convicção existentes nos
autos, têm especial importância, tanto para confirmar a materialidade
dos fatos quanto sua autoria e dolo.
Assim, não se verifica a invalidade ou reservas
quanto aos depoimentos do agente policial e do ofendido, tampouco
das provas carreadas aos autos.
Não se cogita, tampouco, do afastamento da
majorante do emprego de arma de fogo prevista no art. 157, § 2º, I, do
CP que, embora não tenha sido apreendida, conforme os informes da

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vítima, foi utilizada pelo ora recorrente para concretizar a subtração do


aludido aparelho de propriedade do ofendido.
Cumpre observar, que o emprego de arma de fogo
na prática de roubo, que vinha disciplinado no art. 157, § 2º, I, do CP,
e que podia acarretar aumento de pena de 1/3 até a ½, passou, com o
advento da Lei n. 13.654, de 23 de abril de 2018, a vir contemplado
em inciso de novo parágrafo (§ 2º-A, inciso I), no qual se prevê que
mencionada elevação ocorra invariavelmente mediante emprego da
fração de 2/3. Cuidando-se, contudo, de inovação que agravou a
situação de todos os acusados, a matéria continua sendo regida pela
previsão existente à época.
No caso concreto, conquanto não conste dos
autos o laudo pericial da arma de fogo, a prova oral revelou,
contrariamente do quanto quer fazer crer a Defesa, e como bem
explanado pelo Juízo a quo (fls. 154), o seu efetivo emprego na ação
delituosa. A ausência do laudo pericial não se erige em óbice ao
reconhecimento da causa de aumento de pena que vinha prevista no
art. 157, § 2º, I, do CP, até porque foi hábil à intimidação da vítima.
Passou assim, a ser dispensável a demonstração de sua
potencialidade lesiva.
Nos crimes de roubo, muitas vezes praticados na
clandestinidade, a palavra do ofendido assume especial importância,
tanto para confirmar a materialidade e a autoria de mais de um
agente, como o emprego de violência ou de grave ameaça exercida
contra pessoa, mediante emprego de arma. Em tais situações, a prova
oral robusta supre inclusive eventual ausência de laudo pericial e é
suficiente para comprovar não apenas a verificação da causa de
aumento referente ao emprego da arma, mas daquelas causas
referentes à coautoria prevista no art. 157, § 2º, II, do CP.

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Assim, diversamente do quanto aduzido pelo


combativo Defensor Público, analisando-se o conjunto probatório dos
autos, conclui-se no sentido da presença de fartos elementos de
convicção confirmando a realização da prática ilícita pelo ora
sentenciado.
O decreto condenatório é, pois, de rigor, tal como
foi lançado pelo Juízo a quo.
Contrariamente do quanto sustentado pela Defesa,
as reprimendas, dosadas e fundamentadas em consonância com o
sistema trifásico de aplicação da pena, não comportam reparos.
Na primeira fase, as penas-base foram fixadas em
04 anos de reclusão e em 10 dias-multa.
Na segunda etapa, foram elas mantidas
inalteradas. Embora presente a atenuante da menoridade, eis que
deixa ela de interferir, em razão dela não ter o condão de reduzir a
reprimenda aquém do mínimo. Sobre o tema, reza o Enunciado nº 231
da Súmula de Jurisprudência do STJ que “a incidência da
circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo
do mínimo legal”.
Na terceira fase do cálculo, foram elas
corretamente aumentadas de 3/8, dada a presença de duas causas de
aumento de emprego de arma de fogo e de concurso de agentes.
Observe-se que Colendo STJ tradicionalmente já
havia firmado Jurisprudência no sentido de que a elevação das penas
pelo reconhecimento de que a prática do roubo teria se dado nas
circunstâncias previstas no § 2º, do art. 157, do CP, deveria oscilar de
um percentual mínimo a um máximo estabelecidos em lei, consoante
houvesse a presença, no caso concreto, de um número menor ou
maior de situações correspondentes às causas de aumento

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previamente estabelecidas no tipo penal.


A mesma Corte, porém, passou a agasalhar o
entendimento de que a simples constatação da existência de duas ou
mais situações majorantes não serviria, de per si, para justificar a
exacerbação acima do mínimo legal, sendo necessário, para tanto,
que a fundamentação da decisão do Magistrado viesse baseada em
circunstâncias concretas. 1 O argumento lastra-se na ideia de que a
consideração meramente quantitativa das causas especiais de
aumento de pena, submetidas a regime alternativo, seria “expressão,
em última análise, da responsabilidade penal objetiva, enquanto a
qualitativa é própria do direito penal da culpa e atende aos imperativos
da individualização da pena”.2
Referida interpretação acabou por ser
sedimentada naquele Tribunal, que fez publicar, em 28 de abril de
2010, o Enunciado n. 443, de sua Súmula de Jurisprudência, com o
seguinte teor:

O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime


de roubo circunstanciado exige fundamentação concreta,
não sendo suficiente para a sua exasperação a mera
indicação do número de majorantes.

A nova exegese emprestada pelo STJ quanto ao


modo pelo qual deva ser efetuada a elevação da pena, se incidente
mais de um inciso dentre aqueles previstos no art. 157, § 2º, do CP,
revela-se, todavia, inconsistente, e deixa de considerar o raciocínio
lógico a seguir delineado.
A conduta perpetrada passível de enquadramento

1
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 102.866/MG, Relator: Ministro
Felix Fischer, Brasília 15 de maio de 2008, Diário da Justiça. 23 jun.2008, p. 1.
2
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 24.589/RJ, Relator: Ministro
Hamilton Carvalhido, Brasília, Diário da Justiça. 17 mar. 2003.

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em mais de uma circunstância que justifique a exacerbação é


evidentemente mais grave do que aquela na qual se verifique apenas
uma das hipóteses previstas em lei.
A simples leitura do dispositivo legal mencionado
permite concluir-se que o rol elaborado pelo legislador se refere a
situações de natureza eminentemente objetiva, cuja análise pelo
Magistrado deve limitar-se simplesmente à verificação de sua efetiva
ocorrência ou não. Cuida-se, pois, de conjuntura na qual as
avaliações quantitativa e qualificativa da conduta do agente acabam
por se confundirem entre si.
O fato de o roubo ter sido praticado mediante
emprego de arma e por mais de um agente (art. 157, § 2º, I e II, do
CP) é evidentemente mais grave do que se houver o reconhecimento
de apenas uma dessas circunstâncias, na medida em que a presença
de ambas as situações implicará em uma intimidação maior da vítima,
cuja capacidade de resistência estará evidentemente diminuída.
A conduta revestir-se-á, contudo, de gravidade
ainda maior na hipótese desses agentes, que estão agindo em
concurso (art. 157, § 2º, II, do CP), terem ciência de que a vítima, cuja
liberdade é por eles restringida (art. 157, § 2º, V, do CP), está também
a serviço de transporte de valores (art. 157, § 2º, III, do CP).
Em um verdadeiro crescendo, estar-se-á diante de
conjuntura de reprovabilidade novamente maior que a anterior se,
além das situações anteriores, constar-se que a subtração, por
exemplo, teve também por objeto veículo que acabou sendo
transportado para outro Estado ou para o exterior (art. 157, § 2º, IV,
do CP).
A conduta do agente será, por fim, inegavelmente
muito mais ousada do que todas as hipóteses já mencionadas, se a

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subtração perpetrada mediante concurso de agentes (art. 157, § 2º, II,


do CP) abranger, por exemplo, não apenas valores (art. 157, § 2º, III,
do CP) e explosivos (art. 157, § 2º, VI, do CP) transportados de modo
conjunto a partir de outro Estado, mas também o próprio veículo (art.
157, § 2º, IV, do CP) que os levava, e houver restrição à liberdade de
seu condutor (art. 157, § 2º, V, do CP).
Deve ser observado que a presença de duas ou
mais causas de aumento deve, assim, logicamente redundar em
majoração superior ao percentual mínimo, atentando-se à previsão
contida no preceito sancionador do art. 157, § 2º, do Código Penal, no
qual, o legislador estabeleceu aumento gradual a partir de podendo
atingir o máximo de ½ sobre a pena-base.
Não se pode perder de vista que, desde o advento
do CP/1940, foram incluídas novas causas de aumento de pena no
tipo penal referente ao roubo circunstanciado, das quais duas pela Lei
n. 9.426/96, e uma pela Lei nº 13.654/2018. Este último diploma legal
introduziu ainda um novo parágrafo ao dispositivo (§ 2º-A), para o qual
foi realocada a hipótese de emprego de arma de fogo, anteriormente
prevista no inciso I do § 2º. O uso de arma branca voltou, por sua vez,
a ser previsto como causa de aumento apenas com o advento da Lei
nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019, mediante acréscimo de novo
inciso (VII) ao § 2º, do art. 157, do CP.
No caso dos autos, em que os fatos ocorreram
antes da reforma de abril de 2018, cabe destacar que, como a
situação para a Defesa tornou-se, desde então, mais gravosa, cumpre
aplicar-se a legislação vigente à época dos fatos.
Observado o critério do aumento progressivo em
razão do número de causas de aumento existentes à época dos fatos,
ressalvada a existência de fundamentação específica justificando a

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adoção de percentual maior de majoração, temos a seguinte situação:


na hipótese de estar presente apenas uma delas, o acréscimo deverá
ser de em havendo duas, a elevação deve ser de na existência
de três causas, a pena deve ser majorada em 5/12; caso sejam
constatadas quatro majorantes, o aumento deve ser de 11/24; nos
casos em que, por fim concorrerem todas as hipóteses constantes dos
incisos relacionados no § 2º, do art. 157, do CP, deve incidir o
percentual máximo de ½.
No caso em apreço, estão presentes duas causas
de aumento. Na ausência de fundamentação específica justificando a
adoção de percentual maior de majoração, a fração a ser adotada é,
realmente, de 3/8. Chegou-se a um total intermediário de 05 anos e 06
meses de reclusão e de 13 dias-multa, à razão de 1/30 do maior
salário mínimo vigente à época dos fatos.
O regime inicial para cumprimento de pena é
efetivamente, o fechado, uma vez que as particularidades do caso em
apreço denotam a necessidade de serem adotadas medidas mais
rígidas de controle do processo de ressocialização do ora
sentenciado, não apenas para assegurar a tranquilidade e a
segurança do corpo social diante do crescente aumento da
criminalidade, como para não colocar em risco o próprio processo de
recuperação do recorrente.
Pontue-se que, embora sua condenação também
pela prática de crime de roubo majorado e de corrupção de menor não
possa ser considerada a título de mau antecedente, em virtude dos
fatos serem posteriores ao delito objeto do presente recurso (processo
n. 0000446-08.2017.8.26.0616 fato dia 21 de fevereiro de 2017, com
trânsito em julgado em definitivo as partes em 2019 execução
iniciada em 21 de setembro de 2020), fato é que pode ser utilizado

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para atestar que o réu efetivamente precisa iniciar o cumprimento da


privação referente aos fatos ora analisados em regime mais severo,
uma vez que ele infelizmente tem se voltado para a prática delitiva
reiterada, o que indica ser mais adequada a fixação inicial de regime
fechado.
Destaque-se que indivíduo que participa de
assalto majorado não disfarça evidente periculosidade, irrecusável
ousadia e clara temibilidade, atributos que não são privilégios
exclusivos de delinquentes reincidentes ou de idade mais avançada.
Assim sendo, não é plausível que o réu inicie o cumprimento da pena
reclusiva em regime diverso do fechado, até porque benevolência em
excesso gera incentivo a novas investidas do mesmo gênero. Tal
como ocorreu nos presentes autos.
Deve-se ressaltar, outrossim, que, com relação ao
pedido de prequestionamento da matéria, o julgador não está
obrigado a citar os dispositivos legais em sua fundamentação jurídica,
sobretudo quando a expõe de forma clara e precisa quanto aos seus
termos, o que se verifica no julgado da Corte Superior.
Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso
interposto pela Defesa em favor de RODRIGO MARTINS FREITAS,
restando mantida a r. sentença por seus jurídicos fundamentos.
Fica, desde já, determinada expedição, após o
esgotamento de todos os recursos, de mandado de prisão em regime
fechado, bem como de carta de guia, para que seja iniciado o
cumprimento da pena em definitivo.

ROBERTO GRASSI NETO


Relator

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 0003507-85.2017.8.26.0191 - FERRAZ DE VASCONCELOS - 1 5

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