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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2022.0000964692

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1004784-33.2022.8.26.0066, da Comarca de Barretos, em que é apelante JUAN
DIEGO RODRIGUES MASTRANGI (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado
MIDWAY S.A – CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 11ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram
provimento em parte ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator,
que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores GIL COELHO


(Presidente), RENATO RANGEL DESINANO E MARINO NETO.

São Paulo, 24 de novembro de 2022.

GIL COELHO
Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelação n.º 1004784-33.2022.8.26.0066


Comarca de Barretos 3ª Vara Cível
Apelante: Juan Diego Rodrigues Mastrangi
Apelado: Midway S.A Crédito, Financiamento e Investimento
Voto n.º 40106

Declaratória de inexigibilidade de débito por prescrição cumulada


com reparatória de danos morais - Sentença de improcedência -
Insurgência do autor - Cobranças recebidas administrativamente -
Prescrição do direito de ação que não atinge o direito subjetivo em si
mesmo - Dívida não afetada no plano de existência Inserção em
cadastro denominado “Serasa Limpa Nome”, cuja função é informar
ao consumidor nele cadastrado espontaneamente da existência de
débitos passíveis de negociação - Registro restrito, que não se
confunde com anotação pública de inadimplência Danos morais
inexistentes Procedência, em parte, da ação, apenas sobre a
prescrição.

Pretensão declaratória de inexigibilidade de débito por


prescrição cumulada com reparatória de danos morais improcedente,
adotado o relatório da r. sentença.

Em apelação, o autor alegou que a forma de cobrança da


dívida configura abusividade nos procedimentos do réu, sendo certo que,
uma vez consumada a prescrição, o débito não poderia estar constando no
Serasa, o que dificulta seu crédito ainda que indiretamente, pois influencia
no score. Teceu considerações sobre a plataforma “Serasa Limpa Nome”,
ressaltando a necessidade de aplicação do disposto no art. 43, § 5º, do
Código de Defesa do Consumidor. Afirmou a existência de danos morais
indexáveis. Falou da publicidade das informações constantes na base de
dados do Serasa e da violação à lei geral de proteção de dados. Citou
jurisprudência. Alegou a comprovação de diminuição do score. Requereu a
condenação do réu ao pagamento das verbas sucumbenciais. Postulou pela
reforma do julgado.

Apelação Cível nº 1004784-33.2022.8.26.0066 -Voto nº 40106 2


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Houve resposta.

Eis o relatório.

O autor narrou que, em consulta à plataforma do Serasa,


verificou a existência de dívida no valor de R$ 4.720,80. Sustentou que o
débito está prescrito, uma vez superado o lapso temporal de cinco anos do
art. 206, § 5º, inciso I, do Código Civil. Pediu: (i) a retirada das informações
relacionadas ao débito da plataforma do Serasa; (ii) a declaração de
inexigibilidade da dívida; (iii) o recebimento de indenização por danos
morais.

Feito este relato sobre os fatos discutidos nesta demanda,


cumpre ressaltar que, uma vez incontroversa a legitimidade do débito, não
há como se declarar a inexigibilidade dele. A prescrição é relacionada ao
direito de se cobrar judicialmente a dívida, não gera reflexo no direito
subjetivo em si mesmo. Em outras palavras, decorrido o prazo prescricional,
o credor perde o direito de movimentação da máquina judiciária para
obtenção do provimento adequado, relativamente ao devedor, ao
cumprimento da obrigação. No entanto, ainda que decorrido o prazo para a
cobrança judicial, a dívida subsiste no plano de existência.

Não houve, ademais, a inscrição do nome do autor em lista de


inadimplentes. O questionamento do autor toca à anotação de existência de
“contas atrasadas” e prescritas no “Portal Serasa Limpa Nome” (fls. 37/45),
acessível apenas pela parte devedora, sem publicidade do registro. Cuida-
se de ferramenta criada para interação entre os credores e devedores. Não
se trata de cadastro de inadimplentes, mas de plataforma de tentativa de
negociação de dívida existente, não havendo que se falar em meio
coercitivo de cobrança. Não se presume, do mero lançamento de dívida no
aludido cadastro (observado que o autor não negou que inadimpliu a
obrigação ali descrita, a existência de danos morais. Fazia-se necessária a

Apelação Cível nº 1004784-33.2022.8.26.0066 -Voto nº 40106 3


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prova de que houve efetiva negativa de concessão de crédito, o que não


ocorreu. Neste sentido:

“Ação declaratória de inexistência de débito com pedido cumulado


de devolução de valores e indenização por dano moral. Indenização
que havia mesmo de ser recusada. Mera tentativa de negociação de
dívida existente, ainda que prescrita na plataforma 'Serasa Limpa
Nome' que, ademais, não importou em negativação do nome da
autora. Recurso improvido.” (Apelação Cível nº
1047165-22.2020.8.26.0100, 36ª Câmara de Direito Privado, Rel.
Des. Arantes Teodoro, j. 30-10-2020, v. u.).

APELAÇÃO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


DÉBITO C.C. REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. Pretensão de
cobrança de dívida prescrita há longa data. Reconhecimento da
inexigibilidade. Danos morais, porém, não reconhecidos. Atos de
cobrança que não desbordam do mero aborrecimento. - RECURSO
PROVIDO EM PARTE.” (Apelação Cível nº
1045954-51.2020.8.26.0002, 22ª Câmara de Direito Privado, rel.
Des. Edgard Rosa, j. 29-03-2021, v.u.)

“AÇÃO DE DECLARAÇÃO DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C/C


OBRIGAÇÃO DE FAZER E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS
SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA APELAÇÃO DA AUTORA - A
autora alega que seu nome foi inserido no site 'Serasa Limpa Nome',
pela ré, em virtude de uma dívida prescrita - Pretensão de
declaração judicial de inexigibilidade do débito - Não acolhimento - O
fato de a dívida estar prescrita não a torna inexistente e pode ser
objeto de cobrança - A prescrição alcança tão somente o direito de
ação da credora em exigir judicialmente o pagamento do débito
contraído pela autora - Cadastro de dívida na plataforma 'Serasa
Limpa Nome', de acesso exclusivo da consumidora - Inexistência de
inscrição desabonadora - Danos morais inexistentes - Sentença
mantida - Recurso não provido.” (Apelação Cível nº
1004888-70.2020.8.26.0009, 11ª Câmara de Direito Privado, rel.
Apelação Cível nº 1004784-33.2022.8.26.0066 -Voto nº 40106 4
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Des. Marino Neto, j. 21-03-2021, v.u.)

Ressalte-se, por fim, que respeitado eventual entendimento


contrário constante nos julgados mencionados pelo autor em seu apelo, a
melhor solução, para o caso específico dos autos, está no entendimento
perfilhado nos acórdãos supracitados.

Em suma, a ação é procedente, em parte, apenas para


reconhecer a prescrição da dívida, mas não a inexigibilidade total, pois
permitida a cobrança, mas não judicialmente.

Tendo o autor sucumbido da maior parte dos pedidos, mantém-


se sua condenação ao pagamento integral das verbas sucumbenciais,
observada a gratuidade judiciária concedida.

Ante o exposto, meu voto é pelo provimento, em parte, ao


recurso.

Gil Coelho
Relator

Apelação Cível nº 1004784-33.2022.8.26.0066 -Voto nº 40106 5

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