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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL CÍVEL
13ª VARA CÍVEL
Praça João Mendes s/nº, 12º andar, sala 1220 - Centro
CEP: 01501-900 - São Paulo - SP
Telefone: (11) 3538-9247 - E-mail: upj11a15cv@tjsp.jus.br

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1138677-18.2022.8.26.0100 e código IvOMVlwF.
Termo de Conclusão
Em 18/04/2023 11:14:29 faço estes autos conclusos à(o) MM. Juiz(a) de Direito. Eu, ,
Escrevente, Subsc.

SENTENÇA

Processo nº: 1138677-18.2022.8.26.0100


Classe - Assunto Procedimento Comum Cível - Inclusão Indevida em Cadastro de
Inadimplentes
Requerente: Maria Aparecida Lopes

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por LUIZ ANTONIO CARRER, liberado nos autos em 11/05/2023 às 09:23 .
Requerido: Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados
NPL II

Justiça Gratuita

Juiz(a) de Direito: Dr(a). LUIZ ANTONIO CARRER

Vistos.
MARIA APARECIDA LOPES ajuizou a presente ação em face de FUNDO DE
INVESTIMENTO EM DIREITOS CREDITORIOS NAO PADRONIZADOS NPL II,
aduzindo, em síntese, ter tentado realizar compras a prazo em uma loja do seu bairro, porém foi
surpreendida ao descobrir que seu SCORE estava muito baixo, logo ela não conseguiria nenhuma
linha de crédito. Alega receber diversas ligações da parte ré, e estando exausto das ligações,
baixou o aplicativo do Serasa Consumidor, onde alegava que o débito é decorrente de dívidas que
totalizam o montante de R$1.704,29 (mil setecentos e quatro reais e vinte e nove centavos),
vencidas em 2005, entretanto estas prescreveram no ano de 2010. Alega que não houve notificação
da cessão de créditos ocorrida, logo alega não ter nenhum vínculo com a parte ré. Por isso, requer
a declaração de inexigibilidade do débito cobrado pela ré, o benefício da justiça gratuita, inversão
do ônus probatório e o pagamento do importe no valor de R$48.480,00 (quarenta e oito mil,
quatrocentos e oitenta reais), a título de danos morais.
Concedido o benefício da justiça gratuita às fls. 58.
A parte ré foi citada e apresentou contestação, às fls. 63/95. Preliminarmente, impugna o
pedido de justiça gratuita deferido. No mérito, sustenta que a dívida é objeto de cessão de crédito e
que a parte autora possuía dívida com o cedente ABN. Alega que a prescrição do débito somente
impede a cobrança judicial da dívida, mas que esta pode ser cobrada extrajudicialmente, alegando
ainda que seu nome não foi negativado e muito menos seu “score” alterado por causa dessa dívida.

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Por fim, requer completa improcedência da ação mediante alegação de licitude de seus atos.
Houve réplica às fls. 215.
É o relatório. Decido.
Rejeito a impugnação à concessão dos benefícios da justiça gratuita, porquanto o benefício
foi concedido após análise dos documentos da parte autora que demonstram sua hipossuficiência
econômica. A impugnação da ré foi realizada de forma genérica e com base em meras conjecturas.
Considerando que as questões de fato estão devidamente esclarecidas diante da prova
documental, havendo que se enfrentar apenas questões de direito, passo ao julgamento antecipado

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por LUIZ ANTONIO CARRER, liberado nos autos em 11/05/2023 às 09:23 .
da lide, nos termos do art. 355, I do CPC.
No mérito, a ação é parcialmente procedente.
Com efeito, a controvérsia da presente demanda cinge-se à exigibilidade de dívida cobrada
pela ré através de ligações e apontamentos no nome da autora.
Narra a parte autora que foi surpreendida pela cobrança de dívidas vencidas nos anos de
2005, porém estas já prescreveram.
No que concerne às referidas dívidas, cumpre reconhecer a prescrição nos termos do art.
206, §5°, I, do Código Civil. O tempo necessário para a prescrição das dívidas apresentadas, 5
(cinco) anos, foi ultrapassado, visto que ela prescreveu no decorrer do ano de 2010
Nesta linha de raciocínio, decorrido o prazo legal, a prescrição extingue a pretensão de
inexigibilidade do débito, seja por meio judicial ou extrajudicial.
Nesse sentido:

CONSUMIDOR. AÇÃO DECLARATÓRIA CUMULADA COM PEDIDO DE


INDENIZAÇÃO. DÍVIDA PRESCRITA. IMPOSSIBILIDADE DE
COBRANÇA EXTRAJUDICIAL. Aplicação da tese pacificada na Turma
julgadora. Embora a prescrição não atinja o direito subjetivo em si, sua
ocorrência extingue a pretensão do credor ao cumprimento da obrigação,
inviabilizando a cobrança da dívida, não apenas pela via judicial, mas também
extrajudicial, até mesmo como imperativo lógico do princípio da razoabilidade e
como corolário do princípio da segurança jurídica. COBRANÇA DE DÍVIDA
PRESCRITA. DANO MORAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. No caso concreto,
não se verificou qualquer repercussão extrapatrimonial para ensejar indenização
por danos morais. A cobrança da dívida não se deu de forma ilegal, uma vez que
a dívida de fato existia. Em tese, nada impedia que o autor pagasse uma dívida

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prescrita. E, nessa linha de pensamento, o reconhecimento da ocorrência da
prescrição não tornava ilegal a cobrança realizada. Não se produziu nos autos
qualquer demonstração de que as cobranças se deram de maneira abusiva ou
constrangedora. Ao que consta, se limitaram ao âmbito de conhecimento do
próprio autor, que negou a existência da dívida. Vale ressaltar que a inserção do
nome no portal "Serasa Limpa Nome" não caracteriza, por si só, a justificativa
para a indenização, uma vez que o referido portal somente pode ser acessado
pelo próprio devedor, não possui publicidade e apenas auxilia na negociação de
dívidas pendentes. Ademais, que não houve inserção do nome do autor no

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campo "dívidas negativadas", o que, em tese, poderia caracterizar falha na
prestação do serviço. Ação parcialmente procedente. SENTENÇA
REFORMADA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

(TJSP; Apelação Cível 1002656-55.2020.8.26.0407; Relator (a): Alexandre


David Malfatti; Órgão Julgador: 20ª Câmara de Direito Privado; Foro de
Osvaldo Cruz - 1ª Vara; Data do Julgamento: 22/11/2021; Data de Registro:
22/11/2021).

DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. RESPONSABILIDADE


CIVIL. Prescrição da dívida discutida nos autos reconhecida na r. sentença.
Incontroversa a prescrição, há de se reconhecer a impossibilidade de cobrança
judicial e extrajudicial da dívida. Pedido declaratório de inexigibilidade
procedente. Sentença de parcial procedência. Pleito indenizatório não acolhido.
Dívida inscrita na plataforma "Serasa Limpa Nome". Ausente publicidade a
terceiros. Inexistência de dano moral. Precedentes. Sentença mantida.
Honorários recursais. Art. 85, §11, do CPC. Recursos improvidos.

(TJSP; Apelação Cível 1000098-88.2021.8.26.0306; Relator (a): Décio

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Rodrigues; Órgão Julgador: 21ª Câmara de Direito Privado; Foro de José
Bonifácio - 2ª Vara; Data do Julgamento: 29/11/2021; Data de Registro:
29/11/2021).

DECLARATÓRIA. INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO CONTRATUAL.


DÍVIDA PRESCRITA. A prescrição atinge a pretensão, não implicando na

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inexistência do débito, pois não atinge o direito subjetivo a ele inerente, contudo,
implica na impossibilidade de exigência por meio judicial ou administrativo,
uma vez que tal pretensão deixou de ser oportunamente exercida pelo credor ou
respectivo cessionário. Imposição de obrigação de não fazer consistente na
abstenção de cobrança judicial ou extrajudicial das dívidas prescritas. Imposição
de multa por ato de descumprimento. Precedentes deste E. TJSP. Recurso
provido.

(TJSP; Apelação Cível 1074031-04.2019.8.26.0100; Relator (a): Roberto Mac


Cracken; Órgão Julgador: 22ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível -
20ª Vara Cível; Data do Julgamento: 22/04/2020; Data de Registro: 22/04/2020).

Por fim, não houve danos morais, pois não ocorreu a inclusão da parte autora nos
cadastros de órgão de proteção de crédito.
Corrobora tal conclusão o entendimento consolidado do STJ de que não há indenização
por danos morais em tais situações.
Indico abaixo o julgado do C. STJ no sentido de que a mera cobrança indevida não
configura dano moral:

RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CARTÃO DE


CRÉDITO. COBRANÇA INDEVIDA. PAGAMENTO NÃO EFETUADO.
DANO MORAL. NÃO OCORRÊNCIA. MERO TRANSTORNO. 1. Não
configura dano moral in re ipsa a simples remessa de fatura de cartão de crédito
para a residência do consumidor com cobrança indevida. Para configurar a

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existência do dano extrapatrimonial, há de se demonstrar fatos que o caracterizem,
como a reiteração da cobrança indevida, a despeito da reclamação do consumidor,
inscrição em cadastro de inadimplentes, protesto, publicidade negativa do nome do
suposto devedor ou cobrança que o exponha a ameaça, coação, constrangimento.
2. Recurso conhecido e provido.

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(REsp 1550509/RJ, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA
TURMA, julgado em 03/03/2016, DJe 14/03/2016)

No caso em tela, como não ocorreu publicidade em relação à exigência de dívida


inexigível, não houve violação a direito de personalidade da parte autora.
O mero aborrecimento ou mágoa, sem real dano aos atributos da personalidade, são
insuficientes à caracterização de indenização por danos morais.
Ante o exposto, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido inicial para declarar
a prescrição e a inexigibilidade das dívidas.
Ante a sucumbência recíproca, arcarão as partes com as despesas e custas processuais em
igual proporção, bem como com os honorários advocatícios da parte contrária.
A autora arcará com honorários fixados em 10% (dez por cento) do valor pleiteado a título
de indenização por dano moral; tal base de cálculo deverá ser atualizada pela tabela prática do
TJSP desde a data do ajuizamento da ação. Por ser beneficiária da justiça gratuita. incide o
disposto no art. 98, § 3º, Código de Processo Civil, de sorte que, se for o caso, sobre a verba
honorária por si devida haverá juros moratórios de 1% (um por cento) ao mês a contar da data em
que o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que
justificou a concessão de gratuidade.
Condeno a ré ao pagamento de custas e despesas processuais e honorários advocatícios,
que arbitro no montante de R$1.000,00 (mil reais), atualizado esse valor pela tabela prática do
TJSP desde a data do ajuizamento da ação, e acrescida a verba honorária de juros moratórios de
1% (um por cento) ao mês a contar da data do trânsito em julgado.
Publique-se. Intimem-se.

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São Paulo, 10 de maio de 2023
LUIZ ANTONIO CARRER

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME


IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

PM

DATA

Em _________________ recebi estes autos em cartório.

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_____________________. Esc.

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