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Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão

PJe - Processo Judicial Eletrônico

02/09/2022

Número: 0800633-79.2022.8.10.0154
Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
Órgão julgador: 2º Juizado Especial Cível e Criminal do Termo Judiciário de São José de Ribamar
Última distribuição : 23/05/2022
Valor da causa: R$ 20.000,00
Assuntos: Inclusão Indevida em Cadastro de Inadimplentes
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
PEDRO NYCOLAS CARNEIRO GOMES (AUTOR) EDUARDO MORAES DA CRUZ (ADVOGADO)
MOVIDA LOCACAO DE VEICULOS LTDA (REU) PAULO HENRIQUE MAGALHAES BARROS (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
75224 01/09/2022 21:29 Movida - Contestação - ANTONIO CARLOS Petição
062 PEREIRA - copart. - danos morais
Exmo. Sr. Juiz de Direito do 1º Juizado Especial Cível da Comarca da Regional
da Barra da Tijuca/RJ

Processo nº 0817912-58.2022.8.19.0209

MOVIDA LOCAÇÃO DE VEÍCULOS S.A, pessoa jurídica de


direito privado, inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ sob o
nº 07.976.147/0001-60, com sede na Rua Otávio Tarquínio de Souza, 23, sala A,
Campo Belo, São Paulo/SP, nos autos da AÇÃO DE REPETIÇÃO DO INDÉBITO C/C
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS em epígrafe, proposta por
ANTONIO CARLOS PEREIRA vem, respeitosamente, por seus advogados infra-
assinados, conforme procuração e documentos de representação, apresentar,
tempestivamente, CONTESTAÇÃO, com base nos fatos e fundamentos a seguir
aduzidos:

I - SINOPSE DA LIDE

1. Em resumo, alega a parte autora que celebrou o contrato de


locação de veículo junto à MOVIDA, no período de 17/12/2021 a 18/03/2022,
tendo se envolvido em acidente durante a vigência do referido contrato, de
modo que arcou com os custos atinentes ao tempo em que o carro ficou parado
para conserto, no valor mensal de R$ 351,82 (trezentos e cinquenta e um reais
e oitenta e dois centavos), em 10 (dez) parcelas.

2. Afirma ter sido cobrado, ainda, pelo valor concernente à


coparticipação, de modo que efetuou o pagamento de R$ 4.000,00 (quatro mil
reais), conforme recibo nº 11846103, entretanto, a MOVIDA está debitando o
mesmo valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), em 8 (oito) parcelas mensais de
R$ 500,00 (quinhentos reais).

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3. Argumenta que foi aberto chamado junto à MOVIDA,
solicitando o estorno dos valores cobrados, entretanto, não obteve resposta.

4. Pautando-se nessas premissas, a parte autora ingressou com


a presente medida repressiva almejando um provimento jurisdicional no sentido
de que a empresa demandada seja condenada a pagar o importe de R$ 8.000,00
(oito mil reais) a título de repetição de indébito, bem como a pagar indenização
por danos morais no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

5. Esta é a versão dos fatos do autor.

6. Entretanto, conforme a seguir restará demonstrado, a


pretensão autoral não pode e nem deve lograr êxito em prosperar, conquanto
se acha pautada em equivocadas premissas.

7. Senão vejamos.

II – DO MÉRITO

II.1 - Do descabimento da Inversão do Ônus da Prova.

8. Não merece prosperar a pretensão autoral no que tange à


inversão do ônus da prova. Isto porque, para o deferimento de tal benefício, não
basta que a ação seja regulada pelo Código de Defesa do Consumidor, mas,
também, que esteja comprovada a hipossuficiência da parte autoral na obtenção
de provas, o que não há comprovação neste caso, e sobretudo verossimilhança!

9. Consigne-se também que a inversão do ônus da prova, nas


relações consumeristas, não é ABSOLUTA e não se opera de forma automática,
haja vista seu caráter excepcional. Na hipótese, a autora, embora vulnerável,
já que inerente à condição de consumidor, não se mostra hipossuficiente
tecnicamente para comprovar suas alegações, possuindo condições de
produzir o mínimo de prova acerca da constituição de seu direito.

10. Neste sentido:

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“A C Ó R D Ã O AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISUM QUE INDEFERE A
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. INCONFORMISMO DAS AUTORAS.
CABIMENTO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO, SEGUNDO DECISÃO RECENTE
DO STJ NO RESP. 1802025/RJ, PUBLICADA EM 29/09/19 (MINISTRA
RELATORA NANCY ANDRIGHI). MITIGAÇÃO DO ROL TAXATIVO DO ART.
1015 DO CPC. CONHECIMENTO DO RECURSO. INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA QUE NÃO OCORRE DE FORMA AUTOMÁTICA. ARTIGO 6º, VIII DO
CDC. NECESSIDADE DE VERIFICAÇÃO DE VEROSSIMILHANÇA DAS
ALEGAÇÕES DO CONSUMIDOR, OU A EXISTÊNCIA DE HIPOSSUFICIÊNCIA.
INVERSÃO PRETENDIDA PELA AGRAVANTE QUE SE MOSTRA
DESNECESSÁRIA, POIS NÃO SE ENCONTRA CONFIGURADA DIFICULDADE
OU IMPOSSIBILIDADE DE DEMONSTRAR OS FATOS ALEGADOS. DECISÃO
QUE DEFERE OU INDEFERE O ÔNUS DA PROVA QUE SÓ SE REFORMA SE
FOR TERATOLÓGICA. SÚMULA 227 DO TJ/RJ. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. 1. "(...) É cabível agravo de instrumento contra decisão
interlocutória que defere ou indefere a distribuição dinâmica do ônus da
prova ou quaisquer outras atribuições do ônus da prova distinta da regra
geral, desde que se operem ope judicis e mediante autorização legal. (...)"
( REsp 1.729.110-CE, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, julgado em
02/04/2019.; 2. "A decisão que deferir ou rejeitar a inversão do ônus da
prova somente será reformada se teratológica." (Súmula nº 227 do TJRJ);
3. Como cediço, o art. 6º, VIII, do CDC não incide ope legis, mas ope iudicis,
vale dizer, cabe ao juiz redistribuir a carga probatória de acordo com o caso
concreto, pois é indispensável a verossimilhança das alegações do
consumidor ou sua hipossuficiência. É regra que visa equilibrar a posição
das partes no processo, em razão da vulnerabilidade do consumidor; 4. In
casu, a decisão agravada apenas ratifica a normalidade do encargo relativo
ao ônus da prova: ao autor, os fatos constitutivos de seu direito, ao réu, os
ablativos do direito postulado, tal como disposto no artigo 373, incisos I e
II do CPC, uma vez que entendeu inexistente a comprovação da manifesta
dificuldade da autora em produzir a prova que permita demonstrar seu
alegado direito; 5. Ademais, a decisão que defere ou indefere o ônus da
prova que só se reforma se for teratológica. Súmula 227 do/RJ; 6. Recurso
conhecido e desprovido”.1

11. Nota-se que o requisito da hipossuficiência da parte autoral


na produção da prova não foi preenchido. Veja que no presente caso a
deficiência de provas que revelaria eventual interesse da parte e a necessidade
de ser deferida a inversão do ônus da prova se volta mais para a comprovação
dos danos alegados do que ao fato em si (fato constitutivo do direito). E somente
a parte autora tem a capacidade de demonstrar os danos que alega ter sofrido,
sob pena de improcedência.

1
TJ-RJ - AI: 00517665820218190000, Relator: Des(a). LUIZ FERNANDO DE ANDRADE PINTO, Data de Julgamento: 22/09/2021, VIGÉSIMA QUINTA
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 23/09/2021)”.1 (grifos nossos

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12. Tem-se como certo, portanto, que somente a parte autora
tem a possibilidade de comprovação dos fatos constitutivos de seu direito. Por
assim ser, a ausência de documentos hábeis a comprovar suas alegações traduz
uma escolha da parte autoral de não as apresentar quando ingressou com a
presente ação, de modo que não é possível reconhecer-lhe a hipossuficiência
necessária à concessão do benefício de inversão do ônus probandi.

13. Por outro lado, decretar a inversão do ônus da prova


consistiria em medida absolutamente injusta e cerceadora da ampla defesa da
ré, obrigando-a, inclusive, à produção de prova negativa, o que, como se sabe, é
vedado em nosso ordenamento jurídico.

14. Por assim ser, estão ausentes os requisitos autorizadores da


inversão do ônus da prova pretendido pela parte autora, de sorte que tal
requerimento merece ser indeferido.

II.2 - Da Verdade dos Fatos – Ausência de erro ou ato ilícito


da Movida

15. É de conhecimento geral que, para que subsistam as


pretensões indenizatórias, necessário se faz que aquele cujo direito tenha sido
violado ou que tenha sido vítima da prática de eventuais “atos” dos quais
resultem danos, demonstre, minuciosamente, todos os pressupostos essenciais
ensejadores do dever de indenizar, quais sejam: (i) ato comissivo ou omissivo
ilícito do agente; (ii) nexo causal; (iii) culpa; e (iv) dano.

16. Ausente qualquer um dos supracitados elementos, torna-se


insustentável e indefensável qualquer pretensão indenizatória, vez que é
corrente na jurisprudência pátria que não existe motivação para postulação de
ressarcimento pecuniário, de qualquer valor ou natureza, fundada em fatos que
não tragam consigo, conjuntamente, os elementos essenciais apontados.

17. Diante de uma demanda reparatória, portanto, num primeiro


momento, o objeto da perquirição do magistrado consiste em verificar a
presença dos pressupostos caracterizadores do dever de indenizar.

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18. Nesse contexto, o nexo de causalidade será o primeiro desses
“pressupostos” a ser analisado para que se conclua pela responsabilidade
jurídica, uma vez que somente se poderá decidir se o agente agiu ou não com
culpa, se, através da sua conduta, adveio determinado resultado.

19. Vale dizer, não basta a prática de um ato ilícito ou ainda a


ocorrência de um evento danoso, mas que entre estes exista a necessária relação
de causa e efeito, um liame em que o ato ilícito seja a causa do dano e que o
prejuízo sofrido pela vítima seja resultado daquele. É necessário que se torne
absolutamente certo que, sem determinado fato, o prejuízo não poderia ter
lugar.

20. No caso em comento, não há que se falar na aplicação do


instituto da responsabilidade civil, tendo em vista a clarividente ausência de
demonstração de erro ou ato ilícito cometido pela empresa ré. Ressalte-se, por
oportuno, o que determina o artigo 373 do Código de Processo Civil, que trata
do ônus de prova:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor. (grifo nosso)

21. Conforme será demonstrado, a parte autora não se


desincumbiu de comprovar os danos alegados, a culpa e o nexo de causalidade,
não podendo prosperar as suas alegações.

22. No caso dos autos, conforme aduzido em exordial, o autor


realizou contrato de locação mensal de veículo nº 11846103 junto à MOVIDA, o
qual teve início em 17/12/2021 e término em 18/03/2022 (doc. em anexo), a
saber:

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(...)

23. Conforme confessado em inicial, durante a vigência do


contrato de locação acima colacionado, o autor se envolveu em acidente com o
veículo HB20, de Placa QXQ7J49, destarte, perceba-se que, em 18/01/2022,
houve a substituição para o veículo Peugeout 208, de Placa RNW6E48, a saber:

24. Pois bem.

25. Em exordial, numa clara tentativa de induzir este Juízo a erro,


o autor alega ter despendido a importância de R$ 3.518,20 (três mil, quinhentos
e dezoito reais e vinte centavos), em 10 (dez) parcelas, atinente ao período em
que o primeiro carro ficou parado para conserto, haja vista a ocorrência de
acidente.

26. Ocorre, Excelência, que o suscitado valor, na realidade,


refere-se às avarias constatadas decorrentes do acidente no primeiro veículo
locado (HB20, de Placa QXQ7J49), tendo em vista que após as devidas análises
necessárias, os reparos no carro somaram o montante de R$ 3.141,17 (três mil,
cento e quarenta e um reais e dezessete centavos), conforme se pode observar
através da ordem de serviço nº 7181035 (doc. anexo), a qual acrescido da taxa

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administrativa de 12% prevista contratualmente, resultou justamente no valor
cobrado ao autor.

27. Sucede que, na devolução do segundo veículo locado


(Peugeout 208, de Placa RNW6E48), foi possível identificar, de logo, antes
mesmo de análise pormenorizada, a existência de avarias decorrentes de colisão
frontal. Nesse sentido, vejamos:

28. Assim, haja vista tratar-se de procedimento padrão da


MOVIDA, os acidentes ocorridos com ambos os veículos locados, foram
registrados em Relatório de Eventos Adversos (doc. em anexo), documento que
se encontra devidamente assinado pelo autor, atestando seu conhecimento
acerca das avarias ocasionadas ao veículo.

29. Veja-se que, mesmo que não fosse possível a identificação


imediata, no referido documento, consta a informação de que a MOVIDA se
resguarda ao direito de analisar a extensão dos danos ocasionados ao veículo em
momento posterior àquele da devolução, podendo, ainda, realizar a cobrança de
eventuais valores remanescentes por meio do cartão de crédito ou débito
registrado pelo locatário, senão vejamos:

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30. Importante ressaltar que o veículo foi retirado em perfeitas
condições de uso, não havendo qualquer ressalva feita pelo demandante,
conforme consta na cláusula 6ª do contrato de locação assinado pelo autor, bem
como nos checklists de retirada assinado por ele (doc. em anexo):

CLÁUSULA 6ª: O LOCATÁRIO, CONDUTOR ADICIONAL e/ou


RESPONSÁVEL FINANCEIRO declaram ter vistoriado o veículo, o
qual se encontra em plenas condições de uso e conservação, se
responsabilizando pela sua devolução à LOCADORA nas mesmas
condições em que o recebeu, conforme disposto no Termo.

31. Nesse ponto, a MOVIDA colaciona o disposto no artigo 569, I,


do Código Civil:

Art. 569. O locatário é obrigado:


I - a servir-se da coisa alugada para os usos convencionados ou
presumidos, conforme a natureza dela e as circunstâncias, bem
como tratá-la com o mesmo cuidado como se sua fosse; (grifos
nossos)

32. Em vista disso, esclarece-se que a cobrança realizada no


importe de R$ 3.518,20 (três mil, quinhentos e dezoito reais e vinte centavos),
referente ao primeiro veículo locado, respeitou os limites da proteção
contratada pela parte autora, haja vista que ocorreu em montante inferior à
Coparticipação de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), a saber:

33. Referente ao segundo veículo (Peugeout 208, de Placa


RNW6E48), destaca-se que, após as análises necessárias, restou verificado que
as avarias ocasionadas ao veículo somaram a importância de R$ 5.000,00 (cinco
mil reais), conforme ordem de serviço nº 7384874 (doc. anexo), entretanto, veja-
se que a MOVIDA se limitou a efetuar a regular cobrança no valor atinente à

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Coparticipação, no importe de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), respeitando o
contrato pactuado entre as partes.

34. É imperioso pontuar, ainda, que o recibo colacionado aos


autos pelo autor (ID. 25656505), trata-se de documento sem força probatória,
de modo que, em nada corrobora com o alegado pagamento, mormente porque
somente as faturas colacionadas aos autos (ID. 25656505 – Pág. 2 e Pág. 3) é que
correspondem às cobranças explicadas ao decorrer da presente peça de
bloqueio, a qual, frise-se, ocorreu em conformidade ao contrato aprazado entre
as partes.

35. No que tange à cobrança da coparticipação – a qual não se


confunde com seguro, conforme será explanado no tópico seguinte -, cumpre
esclarecer que se trata de expressa previsão contratual constante em Contrato
Público – Termos e Condições Gerais de Locação (doc. em anexo), sobre o qual
o autor tinha amplo e prévio conhecimento, conforme estabelece a Cláusula 1ª
do contrato assinado por ele2, a saber:

Coparticipação: valor previsto no Contrato de acordo com a categoria


do Veículo, a ser pago pelos Usuários e/ou Responsável Financeiro para
amortizar os custos da Locadora com o conserto do Veículo, os prejuízos
causados em razão da sua indisponibilidade para locação imediata,
depreciação do Veículo com relação ao seu valor de mercado, bem
como com despesas administrativas, pela ocorrência de avaria de toda
e qualquer natureza, perda total, roubo, furto, dentre outros. A
Coparticipação não pode, em hipótese alguma, ser entendida como
pagamento de franquia e também não dá, de forma automática, direito
aos Usuários de utilizarem eventual apólice de seguro contratada pela
Locadora;

3.2. Os Usuários e/ou Responsável Financeiro declaram e reconhecem


ter pleno conhecimento de suas responsabilidades e se obrigam,
solidariamente, pelo pagamento do preço total do Aluguel, incluindo
as Diárias, Taxa de Locação, Horas Extras, combustível, Quilômetros
Excedentes, Taxa de Retorno, acessórios, Proteções, Coparticipação,
dos valores dos danos, avarias, multas e/ou infrações de trânsito e de
todos e quaisquer outros encargos estabelecidos no Contrato e no
presente Termo. (grifos nossos)

2
CLÁUSULA 1ª: O LOCATÁRIO, CONDUTOR ADICIONAL e/ou RESPONSÁVEL FINANCEIRO declaram que tomaram conhecimento prévio e
anuíram integralmente aos Termos e Condições Gerais de Locação de Veículos, registrado sob o número 81.730, no 1º Oficial de Registro de
Títulos e Documentos de Mogi das Cruzes/SP (“Termo”), cujo exemplar se encontra disponível em nossas lojas ou no site movida.com.br.

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3.2.1. No caso de Locação Eventual, o pagamento pelos Usuários e/ou
Responsável Financeiro, do preço total do Aluguel, bem como da
Coparticipação, dos valores de danos, avarias, multas e/ou infrações de
trânsito, será feito por ocasião da devolução do Veículo, podendo optar
pelo pagamento à vista em dinheiro, cartão de crédito ou débito e/ou
abatimento do valor da Pré-autorização.

8.4. A Locadora poderá aceitar que os Usuários e/ou Responsável


Financeiro utilizem seguro individual privado e/ou proveniente de
cartão de crédito com cobertura para os danos causados ao Veículo e a
terceiros, sendo que, ainda assim, os Usuários e/ou Responsável
Financeiro continuarão responsáveis solidários perante a Locadora por
todas as perdas e danos decorrentes de Evento Adverso.

36. Veja-se, ainda, o que consta no contrato de locação firmado


entre as partes:

37. Vê-se das cláusulas acima colacionadas, que o pagamento da


coparticipação é devido quando da ocorrência de avarias no veículo locado,
independentemente da análise de culpa do locatário. Ou seja, Excelência, é
inconteste que todo o procedimento de cobrança foi devidamente efetuado pela
MOVIDA, tendo respaldo no contrato de locação firmado, não havendo qualquer
erro ou ato ilícito cometido pela ré.

38. Tudo isso para que fique claro que a aventura jurídica
apresentada pelo autor, tem na verdade o intuito de auferir ganhos indevidos,
pois, diante dos fatos relatados, não se pode conceber que a empresa ré tenha
praticado qualquer conduta divergente daquela prevista no contrato de locação
firmado entre as partes.

39. Veja-se que imputar os prejuízos ocasionados pelo autor


durante a vigência da locação à MOVIDA representa um latente desequilíbrio da
relação entre as partes. Ora, Excelência, é simplesmente inconcebível que

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alguém ocasione prejuízos ao patrimônio alheio e não assuma as consequências
atinentes aos danos ocasionados, ainda mais quando claramente expressas em
contrato assinado pelas partes.

40. Diante do exposto, ante a inexistência de qualquer erro ou


ato ilícito praticado por esta ré, requer a MOVIDA que seja a presente lide
julgada TOTALMENTE IMPROCEDENTE.

II.3 – Da cobrança devida – Coparticipação.

41. Alega o autor que a MOVIDA realizou a cobrança indevida da


coparticipação no importe de R$ 4.000 (quatro mil reais), tendo em vista que o
referido valor já havia sido pago, colacionando recibo a fim de corroborar com o
alegado

42. Pois bem.

43. Quanto à cobrança em si, cumpre fazer a distinção entre o


pagamento da coparticipação e o da franquia (seguro).

44. Pagamento de franquia significa pagar um determinado valor


à seguradora, para que esta realize algum serviço. Trata-se de relação contratual
firmada entre segurado e seguradora, sendo certo que os serviços abrangidos
pelo seguro já são previamente previstos em contrato.

45. Lembre-se que a MOVIDA não é uma seguradora, e sim uma


locadora, razão pela qual não comercializa seguros.

46. Já o pagamento da coparticipação, decorre de relação


contratual firmada, no caso, entre a empresa locadora e o locatário. Ressalte-se
que a cláusula que previa a coparticipação, bem como o seu valor e quais itens
estariam cobertos, está expressa no contrato assinado pelas partes.

47. Por oportuno, se esclarece que a Proteção é uma faculdade


disponibilizada pela Locadora ao Locatário, Usuário, Condutor Adicional e/ou
Responsável Financeiro para, mediante pagamento de valor específico na

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contratação, limitar a responsabilidade indenizatória dessas pessoas no caso de
Evento Adverso por meio da coparticipação.

48. Essa por sua vez, se trata de um valor previsto no contrato de


acordo com a categoria do veículo, pago pelo Locatário, Usuário, Condutor
Adicional e/ou Responsável Financeiro para amortizar os custos decorrentes do
conserto do veículo, os prejuízos causados em razão da sua indisponibilidade
para locação imediata, depreciação do veículo com relação ao seu valor de
mercado, dentre outras situações, desde que as partes cumpram com os deveres
estipulados em contrato.

49. No caso em comento, foi contratada a Proteção Básica, que


vem expressa no mencionado Contrato Público – Termos e Condições Gerais de
Locação (doc. em anexo), o qual é parte integrante do contrato firmado entre as
partes:

8.1.1. Proteção Básica:

(LDW) Essa tarifa visa à proteção contra roubo, furto, incêndio, perda total
do veículo, danos e/ou avarias causados ao veículo da Locadora por
colisões e/ou Eventos Adversos, ficando os Usuários e/ou Responsável
Financeiro exonerados da obrigação de indenizar a Locadora por qualquer
desses eventos, desde que, no entanto, arquem com o pagamento da
Coparticipação correspondente ao grupo do Veículo locado, conforme as
condições estabelecidas no respectivo campo do Contrato.

50. Assim, de acordo com o contrato firmado entre as partes e


informado no tópico anterior, o valor da Coparticipação em caso de acidentes é
de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), senão vejamos:

51. Assim, em razão das diversas avarias ocasionadas ao veículo,


e tendo o autor cumprido os requisitos contratualmente previstos no que tange
à proteção contratada, a MOVIDA procedeu com a regular cobrança do valor
referente à coparticipação, no importe de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), tendo
em vista que, conforme demonstra a documentação anexa, os reparos no carro
somaram o montante de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), ou seja, valor superior
àquele fixado a título de coparticipação.

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Número do documento: 22090121295722000000070323011
52. E, por favor, não venha o autor alegar que não tinha
conhecimento das cláusulas contratuais. Isso porque, a previsão de cobrança da
Coparticipação em caso de avarias no carro locado pelo locatário consta no
contrato de locação assinado por ambas as partes.

53. Neste diapasão, destacam-se os seguintes julgados:

“PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. AÇÃO DE DECLARAÇÃO DE


INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. O MONTANTE DEVIDO PELA APELANTE À
APELADA INDEPENDE DA EXISTÊNCIA DE CULPA, JÁ QUE
CONTRATUALMENTE ESTIPULADO. DÉBITO EXISTENTE. DEVER DA
APELANTE PAGAR À APELADA RECONHECIDO. ADEQUAÇÃO DO VALOR
COBRADO PELA APELANTE AO VALOR ACERTADO CONTRATUALMENTE.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO SOMENTE PARA ACERTAR O
MONTANTE DEVIDO PELA APELANTE. 1. Consoante se pode extrair do
documento de fls. 15 e ss, o qual corresponde ao contrato de aluguel do
veículo utilizado pela apelante, de fato houve contratação, por esta
última, de `proteção para terceiros¿. Segundo a cláusula em comento,
¿o cliente arcará com a co-participação obrigatória até o limite de
R$1.000,00 (hum mil reais)¿ no caso da ocorrência de danos materiais.
2. O pacto em questão não dá margem à discussão se o sinistro que
causou danos materiais ao veículo foi de responsabilidade ou não do
contratante. Referido pacto apenas determina que em caso de danos
materiais, o cliente, no caso, a apelante, arcará, necessariamente, com
co-participação obrigatória até o limite de R$1.000,00 (hum mil reais).
3. Não procedem as alegações da apelante de que desconhece referido
débito, já que foi ela própria quem juntou, em anexo à sua peça
exordial, o contrato de aluguel de veículo, o que demonstra sua ciência
inequívoca da existência da cláusula em comento. 4. Entretanto,
procedem as alegações da autora de que o limite contratado é de
R$1.000,00 (hum mil reais) e não R$1.100,00 (hum mil e cem reais). 5.
Desconstituída parcialmente a duplicata de fls. 32 de R$1.100,00 (hum
mil e cem reais) para R$1.000,00 (hum mil reais), para que tal
documento se ajuste aos limites contratados pelas partes em litígio. 6.
A jurisprudência do STJ é pacífica em asserir pela incidência de correção
monetária desde a data do efetivo prejuízo, in casu, a partir do
inadimplemento. Incidência da súmula nº 43⁄STJ e "atrasado o
pagamento, em desrespeito a norma contratual, os juros de mora
incidem a partir do momento em que, segundo previsto no contrato, o
pagamento deveria ter ocorrido. Vale, no caso, a regra dies interpellat
pro homine, sediada no art. 960, do CC" (Resp nº 419.266⁄SP, Rel. Min.
HUMBERTO GOMES DE BARROS, DJ de 08.09.2003). 5. Recurso

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conhecido e provido somente para acertar o valor do montante
devido.”3 (grifos nossos)

“RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. LOCAÇÃO DE VEÍCULO.


PEDIDO DE RESTITUIÇÃO DO VALOR PAGO A TÍTULO DE
COPARTICIPAÇÃO DE PROTEÇÃO BÁSICA PARA ROUBO, FURTO,
ACIDENTES OU PF (LDW) R$2.000,00. DANOS CAUSADOS NO VEÍCULO
LOCADO DECORRENTES DE ACIDENTE DE TRÂNSITO. FATO
INCONTROVERSO. CULPA DE TERCEIRO QUE NÃO AFASTA A
RESPONSABILIDADE DA LOCATÁRIA. ENCARGO PREVISTO
CONTRATUALMENTE. ORÇAMENTO APRESENTADO PELA LOCADORA
QUE SUPERA A INDENIZAÇÃO APURADA PELA SEGURADORA DA
TERCEIRA ENVOLVIDA. AUSÊNCIA DE PROVA DO RECEBIMENTO DA
INDENIZAÇÃO PELA RÉ. PAGAMENTO DA COPARTICIPAÇÃO DEVIDA
ANTE A CONTRATAÇÃO REGULAR DA PREVISÃO DE COPARTICIPAÇÃO
E PROVA DO DANO MATERIAL. RESTITUIÇÃO DO VALOR PAGO E DANOS
MORAIS NÃO DEVIDOS.RECURSO DESPROVIDO.”4 (grifos nossos)

“APELAÇÃO. LOCAÇÃO DE BEM MÓVEL. AÇÃO DE COBRANÇA.


LOCAÇÃO DE VEÍCULO QUE AO FINAL DA CONTRATAÇÃO FOI
ENTREGUE COM AVARIAS. DISPOSIÇÃO CONTRATUAL QUE
ESTABELECE RESPONSABILIDADE DA LOCATÁRIA NO PAGAMENTO
DOS REPAROS. AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE DA CLÁUSULA QUE
ESTABELECE A COPARTICIPAÇÃO PARA FINS DE RECOMPOSIÇÃO
PATRIMONIAL. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DO "PACTA SUNT
SERVANDA" (PACTOS DEVEM SER RESPEITADOS). SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO IMPROVIDO. A recomposição patrimonial é compartilhada
entre a locadora e o locatário, havendo um limite de pagamento
preestabelecido para o contratante (30% do valor de um carro 0km).
Dessa forma, em sede de responsabilidade contratual, impossível
afastar o cumprimento da obrigação de pagar a importância
indenizatória a tal título em razão da cláusula expressa a propósito,
em obséquio ao princípio do "pacta sunt servanda". Ressalte-se ainda
que a locatária aceitou livremente os termos do contrato, não se
podendo furtar a responsabilidade assumida, uma vez que não se
verifica qualquer abusividade na referida cláusula contratual.”5 (grifos
nossos)

54. Por todo o exposto, tem-se por sepultada a tese autoral, haja
vista que não houve cobrança indevida e, consequentemente, não restou

3
TJ-ES - APL 00004505720098080024; Órgão Julgador: 2ª Câmara Cível; Relator: Álvaro Manoel Rosindo Bourguignon; Data de Publicação:
02/09/2011
4 TJ-RS - Recurso Cível: 71009488768 RS, Relator: Mara Lúcia Coccaro Martins Facchini, Data de Julgamento: 28/07/2020, Primeira Turma

Recursal Cível, Data de Publicação: 30/07/2020


5 TJ-SP - AC: 10102387620198260590 SP 1010238-76.2019.8.26.0590, Relator: Adilson de Araujo, Data de Julgamento: 17/08/2020, 31ª

Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 17/08/2020

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configurada a hipótese de responsabilidade da ré, razão pela qual deve o pleito
autoral ser julgado TOTALMENTE IMPROCEDENTE.

II.4 - Do não cabimento de repetição de indébito

55. Com efeito, não assiste razão à parte autora no que tange ao
requerimento de pagamento de repetição do indébito, haja vista que, conforme
demonstrado alhures, a cobrança realizada pela MOVIDA não comporta
qualquer irregularidade ou ilicitude.

56. O autor requer o pagamento do importe de R$ 8.000,00 (oito


mil reais), referente ao pagamento em dobro do valor supostamente cobrado de
maneira indevida pela ré, atinente à Coparticipação em razão das avarias
causadas ao veículo locado.

57. Excelência, conforme demonstrado em tópico anterior, não


existem quaisquer valores a serem indenizados ao autor, pois, conforme
comprova a documentação ora acostada aos autos, as cobranças foram
efetuadas em estrita conformidade com o contrato firmado entre as partes, e
referem-se tão somente ao reparo das avarias ocasionadas ao veículo por
decorrência do confessado acidente.

58. Ademais, veja-se que o recibo colacionado aos autos pelo


autor não possui força probatória a fim de comprovar que efetuou, deveras, o
alusivo pagamento, de modo que é insubsistente a sua afirmação no que tange
a suposta cobrança em duplicidade.

59. Em suma, a MOVIDA demonstrou que não realizou qualquer


cobrança indevida ao autor e agiu em estrito cumprimento ao instrumento
contratual firmado entre as partes, de modo que o pleito do autor não merece
prosperar.

60. Outrossim, imperioso destacar que a simples cobrança


indevida – fato que não se aplica ao caso em comento - não é motivo para
ensejar na condenação ao pagamento em dobro da quantia despendida, mas,
também, faz-se necessária a presença da má-fé do fornecedor/prestador de
serviço, o que definitivamente não houve no presente caso.

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61. Com efeito, a doutrina é unânime em dizer que somente será
possível a condenação da parte ao pagamento em dobro, se ficar constatada a
existência de má-fé, verbis:

“O pagamento indevido é o que se faz voluntariamente, por erro.


Convencido de que o solvens paga. Uma vez que o accipiens
verdadeiramente não é credor, terá recebido indevidamente, ainda que
de boa-fé. É claro, pois, que não deve ficar com o que não lhe pertence.
Se não devolve espontaneamente, pode ser compelido a fazê-lo, e para
obrigá-lo à restituição, aquele que indevidamente pagou tem a ação de
repetição. Nesta ação deverá o solvens provar que pagou por erro ou
coação o que não devia. Importa, fundamentalmente, a prova do erro.
Não basta que prove ter pago dívida inexistente ou não vencida, se
condicional. É preciso que tenha feito o pagamento na suposição falsa
de que era devido. Necessário, em suma, que tenha pago por erro.”6

62. Portanto, este requerimento demonstra que a propositura da


presente ação possui como corolário único a intenção da parte autora de obter
um enriquecimento indevido, o que, registre-se, não poder ser prestigiado pelo
Poder Judiciário.

63. Por tais seja em razão da pertinência da cobrança realizada,


bem como pela ausência de má-fé da MOVIDA, deverá o pedido de repetição do
indébito ser julgado IMPROCEDENTE.

II.5 – Da inexistência de Danos Morais

64. Por fim, o autor pleiteia uma indenização por danos morais
no absurdo valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) em razão da suposta cobrança
indevida.

65. Pois bem.

66. Cediço que o dano moral não se confunde com o psíquico e


pode ou não ser derivado de um dano patrimonial. Quando não decorre de um
dano patrimonial, constitui o chamado dano moral puro, que é o caso da injúria,
da calúnia e da difamação.

6
GOMES, Orlando. Direito das obrigações. Ed. Forense. 12ª edição. Rio de Janeiro, p. 136

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67. A distinção básica entre dano patrimonial e dano moral dá-se
ainda na forma de reparação. No dano patrimonial, a reparação compreende o
prejuízo sofrido e os lucros cessantes, com o intuito de justa equiparação à lesão
patrimonial sofrida. Já no dano moral não é possível tal equiparação. Exatamente
por conta da impossibilidade de quantificação da dor, não há uma tabela de
valores de indenizações.

68. O dano moral deve ser indicado, especificado e provado, e


não apenas suscitado pela parte. Isto é, cada caso deve ser analisado
individualmente, e assim quantificado o valor da reparação. Para tanto, deverão
ser observados alguns critérios entre os quais as circunstâncias em que
ocorreram os fatos, o grau de culpa ou dolo dos envolvidos, suas condições
econômicas e financeiras e a extensão do dano e repercussão, procurando-se
prestigiar, ainda, a razoabilidade e a proporcionalidade.

69. Do contrário, estar-se-ia dando azo ao enriquecimento ilícito


da parte, desviando-se, portanto, da finalidade precípua buscada pelo aludido
instituto que, a priori, é meramente didática.

70. Entretanto, a filosofia de reparação de danos morais muitas


vezes está sendo desvirtuada, e a reparação vem sendo utilizada como meio de
locupletação, como deferimento de indenizações incompatíveis com o gravame
sofrido.

71. Pois bem.

72. No caso em comento, por mais que se esforce a parte autora,


não há que cogitar-se a ocorrência de um dano moral.

73. Não é demais repisar o fato de que a MOVIDA disponibilizou


um veículo em perfeitas condições, o qual foi devolvido avariado, tendo a
cobrança da coparticipação ocorrido em conformidade com o expresso no
contrato de locação firmado entre as partes, não tendo a ré cometido qualquer
erro ou ato ilícito que enseje o pagamento de quaisquer valores a título de
indenização.

74. Ora, Excelência, é inimaginável se cogitar a hipótese de uma


pessoa causar danos ao patrimônio alheio e ainda se entender por sua

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completa ausência de responsabilidade em arcar com os prejuízos
ocasionados.

75. Por fim, importa salientar que a MOVIDA, em momento


algum, expôs o autor à situação vexatória ou constrangedora, capaz de lhe
impingir danos morais, pelo contrário!

76. Neste sentido:

“RECURSOS INOMINADOS. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E REPETIÇÃO DE INDÉBITO.
RELAÇÃO DE CONSUMO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DOS DANOS
CELEBRAÇÃO DE CONTRATO DE LOCAÇÃO COM SEGURO DE ACIDENTES.
CIÊNCIA DA CLÁUSULA DE COPARTIPAÇÃO E DE DESPESAS COM CUSTOS
OPERACIONAIS.AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE. ACIDENTE. INEXISTÊNCIA
DE COBRANÇA INDEVIDA. DESCABIDA DEVOLUCAO DOS VALORES
PAGOS. AUSENTE DANO MORAL. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO DA
AUTORA CONHECIDO E IMPROVIDO. RECURSO DO RÉU CONHECIDO E
PROVIDO. 1. Trata-se de ação de obrigação de fazer c.c indenizatória por
danos morais e repetição de indébito em que a Recorrente/Recorrida
Julia Ferreira Menezes postula a restituição da quantia cobrada
indevidamente e paga pela autora, em valor igual ao dobro do que
pagou, perfazendo o montante de R$ 7.483,40 (sete mil e quatrocentos
e oitenta e três reais e quarenta centavos) bem como a condenação da
ré ao pagamento de indenização por danos morais. 3. Narrou a parte
autora que “(...) locou da LOCALIZA RENT A CAR S/A, o veículo Ford Ka,
placa PYE0577, mediante contrato de locação nº UDIA 123993, com
vigência do 23.062017 ao dia 27.06.2017. No dia 27.06.2017, data da
devolução do veiculo locado, a Autora colidiu com a traseira de outro
veiculo (...) Logo que chegou a Sinop a Autora recebeu três mensagens
de cobrança pelo conserto das avarias do veiculo, no valor de R$
3.000,00 (três mil reais) Ocorre que, a empresa não enviou os
orçamentos e nem fez contato telefônico com a Autora.” 4. A parte ré
por seu turno sustentou que “A cobrança de custos operacionais,
prevista na cláusula 4.1.3.c das Condições Gerais do Contrato de Aluguel
de Carro e Seguro, ocorre sempre quando há um sinistro com o carro
locado. Como o carro fica parado para seu conserto, há uma perda na
receita da empresa, tendo em vista a indisponibilidade desse bem à
locadora, além de acarretar uma depreciação do veículo e ocasionar
outros gastos adicionais, como a contratação de serviços de terceiros.
Tais despesas decorrentes do sinistro devem ser indenizadas à locadora
na forma da cobrança de custos operacionais.” 4. O feito foi instruído e
prolatada a sentença de parcial procedência, na qual condenou a
promovida a reembolsar a promovente o valor de R$ 3.747,70 (três mil

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e setecentos e quarenta e sete reais e setenta centavos) de forma
simples. 5. Ambas as partes apresentaram recurso inominado. 6. Pois
bem. No que toca aos custos operacionais, sua previsão se encontra
expressa no contrato, tendo sido atendido o dever de informação.
Destarte, não se vislumbra nulidade do contrato nesse ponto. 7. Deste
modo, evidencia-se que a ré não praticou qualquer ato ilícito, uma vez
que havia previsão contratual para a cobrança, agindo no exercício
regular do direito. 8. De fato, verifica-se que a autora deixou de trazer
o mínimo de prova de suas alegações, que não passaram do terreno da
tese, e assumiu o risco de ter seus pedidos rejeitados, como, de fato,
aconteceu. 9. Assim, ausente na inicial o mínimo arcabouço suficiente a
demonstrar a existência do direito à pretensão deduzida em juízo,
correto o julgamento de improcedência do pedido de devolução em
dobro e indenização por dano moral. 10. Sentença reformada. 11.
Recurso da ré conhecido e provido. 12. Recurso da autora conhecido e
improvido. 13.Condeno a parte Recorrente JÚLIA FERREIRA MENEZES ao
pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, que nos
termos do artigo 55 da Lei 9.099/95, fixo em 15% sobre o valor da
causa.”7 (grifos apostos)

“APELAÇÃO. LOCAÇÃO DE BEM MÓVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR
DANO MORAL. VEÍCULO QUE APRESENTOU DEFEITO NO RETORNO DE
VIAGEM. DEMORA PARA CHEGADA DO GUINCHO. COBRANÇA
INDEVIDA. PERDA DO VOO AGENDADO. PARTICULARIDADES DO CASO
QUE NÃO CONDUZEM À CONCLUSÃO DE CONFIGURAÇÃO DO DANO
MORAL. RECURSO IMPROVIDO. Para que ocorra o dano moral é preciso
a existência de uma dor subjetiva, que fugindo à normalidade do
homem médio venha lhe causar quebra em seu equilíbrio emocional
interferindo intensamente em seu bem-estar, o que não é a hipótese
dos autos. A cobrança indevida não chegou a configurar dano moral,
pois o nome do autor sequer foi enviado ao rol dos inadimplentes. A
perda do voo também não dá azo à indenização pretendida, pois os
transtornos relatados são de ordem material e estes foram ressarcidos
pela ré. Por fim, o fato de ficar por horas com a família, dentre eles um
recém-nascido, à espera do resgate, dependendo das particularidades
do caso, poderia configurar a dor moral. No caso analisado, para
comprovar sua pretensão, juntou o autor fotografias. Ocorre que as
imagens apenas mostram o veículo e não onde os ocupantes ficaram
aguardando o resgate. Tudo indica, até porque o autor não trouxe
qualquer fotografia de que ficaram sob o sol, que estavam abrigados no

7
TJ-MT 10096774820198110015 MT, Relator: JORGE ALEXANDRE MARTINS FERREIRA, Data de Julgamento: 09/03/2021, Turma Recursal
Única, Data de Publicação: 12/03/2021

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mesmo local em que o autor realizou a ligação telefônica.”8 (grifos
nossos)

77. Ad argumentandum tantum, admitindo-se como verdadeiros


os fatos alegados pela parte autora, a MOVIDA sempre envidou todos os seus
esforços para prestar o melhor serviço possível, dando a assistência necessária
para a resolução do impasse.

78. Posto isso, chega-se à conclusão de que no caso versado não


existem elementos suficientes para se condenar a empresa ré ao pagamento de
uma indenização por danos morais, por menor que seja o valor.

II.6 - Da fixação do quantum indenizatório: aplicação dos


princípios da razoabilidade e da proporcionalidade

79. Não obstante o fato de a pretensão autoral já ter sido


completamente aniquilada pelas razões de fato e de direito jungidas ao longo da
presente peça processual, cumpre tecer, nesse tópico, apenas por amor ao
debate, algumas considerações sobre o valor indenizatório pleiteado.

80. Pois bem.

81. Ad argumentandum tantum, na improvável circunstância


deste MM. Juízo entender pela culpa da ré e por estrita obediência ao princípio
da eventualidade processual, deve-se assinalar que o valor da eventual
condenação deverá ser calculado em valores compatíveis com o grau de
culpabilidade e com a situação socioeconômica da vítima.

82. Com efeito, a parte autora, ao ingressar com a presente ação,


pleiteia uma indenização por danos morais por um dano que efetivamente não
comprovou, por não ter comprovado a ilicitude do ato da empresa.

83. É o posicionamento da doutrina contemporânea pátria


quanto ao tema em comento. Dessa forma, destacam-se os sempre elucidativos
dizeres de AGUIAR DIAS9:
8
TJ-SP - APL: 10200405120158260554 SP 1020040-51.2015.8.26.0554, Relator: Adilson de Araujo, Data de Julgamento: 07/02/2017, 31ª
Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 07/02/2017
9 DIAS, Aguiar. Op. cit., p. 93-94.

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“Não basta, todavia, que o autor mostre que o fato de que se queixa, na
ação, seja capaz de produzir dano, seja de natureza prejudicial. É preciso
que prove o dano concreto, assim entendida a realidade do dano que
experimentou, relegando para a liquidação a avaliação do seu
montante.” (grifos apostos)

84. Faz-se necessário destacar que é repudiado pelo Direito


Brasileiro qualquer espécie de comportamento tendencioso a locupletamento
ilícito, principalmente nos casos em que o agente se valha de provimentos
jurisdicionais.

85. A orientação pretoriana pátria, de forma unânime, vem se


posicionando acerca do assunto em epígrafe, tendo o próprio Colégio Recursal
de Pernambuco e do Superior Tribunal de Justiça, asseverado nesse sentido o
seguinte, ad litteram:

“A indenização por Dano moral deve ser fixada em termos razoáveis,


não se justificando que a reparação venha constituir-se em
enriquecimento indevido, devendo o arbitramento operar-se com
moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao porte empresarial
das partes, as suas atividades comerciais e, ainda o valor do negócio. Há
de orientar-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e
jurisprudência, com razoabilidade, valendo se sua experiência e do bom
senso, atento a realidade da vida, notadamente a situação econômica
atual e as peculiaridades de cada caso”10.

86. Ainda nesse ínterim, convém salientar que a fixação do valor


atinente ao dano moral deve ser abalizada pela conjugação do binômio
“capacidade econômica do agente ofensor” versus “posição social do ofendido”.

87. Nesse diapasão, traz-se à lume os ensinamentos do insigne


mestre YUSSEF SAID CAHALI11, verbis:

“Irineu Pedrotti lembra que ‘o juiz, ao apreciar o caso concreto


submetido a exame, fará a entrega da prestação jurisdicional de forma
livre e consciente, à luz das provas que forem produzidas. Verificará as
condições das partes, o nível social, o grau de escolaridade, o prejuízo
sofrido pela vítima, a intensidade da culpa e os demais fatores
concorrentes para a fixação do dano, haja vista que costumeiramente

10
Resp. nº 205.268-SP - DJU 28-06-1999 - relator Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira.
11
CAHALI, Yussef Said, Dano Moral, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, pág. 402.

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a regra do direito pode se revestir de flexibilidade para dar a cada um o
que é seu’. Ainda é de ter-se presente que o Anteprojeto do Código das
Obrigações de 1941 (Orozimbo-Hahnemann-Philadelpho) recomendava
que a reparação por dano moral deveria ser ‘moderadamente
arbitrada’. Esta moderação tem por finalidade evitar a perspectiva de
lucro fácil e generoso, enfim, de locupletamento ilícito”. (grifos apostos)

88. Desta forma, a condenação da parte ré ao pagamento do


valor pretendido no caso vertente geraria um verdadeiro enriquecimento ilícito
para a parte autora.

89. Nesse compasso, oportuno é o seguinte julgado do TRIBUNAL


DE JUSTIÇA DO MATO GROSSO12, in verbis:

“Em se tratando de pleito indenizatório por dano moral, a avaliação


deste não segue o padrão de simples cálculo matemático-econômico,
mas deve ser fixada segundo critério justo a ser seguido pelo Juiz,
sobremodo para não tornar essa mesma indenização muito alta e a
ponto de reduzir o ofensor a outra vítima”. (grifos apostos)

90. Assim, acaso - ad argumentandum tantum -, entenda por


bem o douto julgador em condenar a parte ré ao pagamento de uma indenização
pecuniária à parte autora, o que se admite apenas por puro amor ao debate,
deverá esta ser pautada nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, sob
pena de, data maxima venia, estar se proporcionando locupletamento ilícito.

II.7 - Dos juros de mora e da correção monetária na


condenação em indenização por danos morais

91. Em apreço à eventualidade, na remota hipótese de


acolhimento da pretensão condenatória do autor, o que não espera, cumpre,
por cautela, indicar o termo inicial para da correção monetária (art. 1º, §2º, da
Lei n. 6.899/81).

92. No que diz respeito à verba indenizatória por dano moral


(imaterial), a correção monetária e juros fluirão a partir do seu arbitramento pelo
julgador a fixar – Verbete Sumular n. 97 do TJRJ: “A correção monetária da verba

12
TJMT, 2a Câmara, Apelação, Relator José Ferreira Leite, julgado em 17/12/1996, RT 741/357.

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indenizatória de dano moral sempre arbitrada em moeda corrente, somente
deve fluir do julgado que a fixar”, assim como o artigo 397 do C.C e o mais novo
entendimento do STJ a respeito da matéria. É o que se requer.

93. Na mesma linha dispõe a Súmula 362 STJ: A correção


monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do
arbitramento.

94. E, quanto à incidência dos juros de mora, o critério deverá ser


exatamente o mesmo, consoante restou recentemente decidido no REsp
903258/RS.

95. Com efeito, o artigo 407 do Código Civil dispõe: "Ainda que se
não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora, que se contarão
assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, desde que
lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou
acordo entre as partes".

96. É que os juros da mora - ainda que se trate de ato ilícito - só


podem, jurídica e eticamente, incidir a partir do momento em que a obrigação
tenha valor determinado. Antes disso, não conhecendo o devedor o valor que
lhe compete pagar ao credor, não há como se falar na incidência de juros
moratórios. Este, aliás, é entendimento o e. STJ:

“RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INFECÇÃO


HOSPITALAR. SEQUELAS IRREVERSÍVEIS. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. CULPA
CONTRATUAL. SÚMULA 7. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. DANO MORAL.
REVISÃO DO VALOR. JUROS DE MORA. CORREÇÃO MONETÁRIA. TERMO
INICIAL. DATA DO ARBITRAMENTO. REDUÇÃO DA CAPACIDADE PARA O
TRABALHO. PENSÃO MENSAL DEVIDA. A indenização por dano moral
puro (prejuízo, por definição, extrapatrimonial) somente passa a ter
expressão em dinheiro a partir da decisão judicial que a arbitrou. O
pedido do autor é considerado, pela jurisprudência do STJ, mera
estimativa, que não lhe acarretará ônus de sucumbência, caso o valor
da indenização seja bastante inferior ao pedido (Súmula 326). Assim, a
ausência de seu pagamento desde a data do ilícito não pode ser
considerada como omissão imputável ao devedor, para o efeito de tê-
lo em mora, pois, mesmo que o quisesse, não teria como satisfazer
obrigação decorrente de dano moral, sem base de cálculo, não
traduzida em dinheiro por sentença judicial, arbitramento ou acordo
(CC/1916, art. 1064). Os juros moratórios devem, pois, fluir, no caso de

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indenização por dano moral, assim como a correção monetária, a partir
da data do julgamento em que foi arbitrada a indenização, tendo
presente o magistrado, no momento da mensuração do valor, também
o período, maior ou menor, decorrido desde o fato causador do
sofrimento infligido ao autor e as consequências, em seu estado
emocional, desta demora.”13 (grifamos)

97. Portanto, a incidência dos juros só poderia, por se tratar de


arbitramento feito no processo de conhecimento, se dar a partir da
quantificação, isto é, da própria r. sentença.

98. Frise-se que, ao se determinar a incidência de juros a partir


da "data do evento", a indenização fixada acabaria sendo desproporcional e
desarrazoada, sem observância, inclusive, dos princípios de proporcionalidade e
razoabilidade.

99. Aliás, referida regra é ratificada pelo disposto no art. 397 do


CC, segundo o qual o inadimplemento que constitui o devedor em mora é o de
obrigação "positiva e líquida", sendo certo que, diante da iliquidez da obrigação,
não há como fazer incidir retroativamente os juros da mora.

III - DOS REQUERIMENTOS

100. Ante o exposto, requer a ré MOVIDA:

a) NO MÉRITO, requer que seja a presente lide julgada


TOTALMENTE IMPROCEDENTE, tendo em vista a ausência de ato ilícito ou erro
praticado pela empresa ré, de modo que não há que se falar em quaisquer
valores a serem indenizados;

b) Seja julgado IMPROCEDENTE o pleito de repetição do


indébito, haja vista o caráter devido da cobrança ora efetuada, bem como a
inexistência de má-fé da requerida;

13
STJ, RESP 903258/RS, Rel. Min. MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, j. 21/06/2011, DJe 17/11/2011

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c) Sucessivamente, acaso V. Exa. entenda pela
condenação da empresa ao pagamento de indenização por danos morais, requer
que se deem dentro dos limites da razoabilidade e proporcionalidade;

d) Que não seja concedida a inversão do ônus da prova no


presente caso, face à necessidade de o autor comprovar as suas alegações.

101. Ainda, requer a produção de todas as provas em direito


admitidas, tal qual a inquirição de testemunhas, depoimento pessoal da parte
autora, juntada posterior de documentos e tudo mais que se fizer necessário
para o deslinde do feito.

102. Por fim, solicita que todas as notificações e/ou intimações de


estilo, bem como as publicações editalícias doravante expedidas, sejam
realizadas EXCLUSIVAMENTE em nome de PAULO HENRIQUE MAGALHÃES
BARROS, OAB/RJ 239.303, sob pena de nulidade, observando o disposto no
artigo 272, § 2º e § 5º, do Código de Processo Civil.

Nestes termos,
Pede deferimento.
Barra da Tijuca/RJ, 1 de setembro de 2022.

PAULO HENRIQUE MAGALHÃES BARROS


OAB/RJ 239.303

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