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Poder Judiciário
JUSTIÇA ESTADUAL
Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina
6ª Vara Cível da Comarca de Florianópolis
Rua Gustavo Richard, 434 - Bairro: Centro - CEP: 88010290 - Fone: (48) 3287-6679 - Email: capital.civel6@tjsc.jus.br

PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL Nº 5003170-16.2019.8.24.0023/SC


AUTOR: EDIFICIO COMERCIAL THE PLACE OFFICE
RÉU: SOMPO SEGUROS S.A.

SENTENÇA

Trata-se de Ação de Cobrança ajuizada por Edifício Comercial The Place


Office em desfavor de Sompo Seguros S.A, por meio da qual alegou que firmou contrato de
seguro com a requerida e, no dia 21.09.2018, ocorreu a queima do elevador do condomínio,
motivo pelo qual pleiteou o pagamento da indenização securitária junto à demandada. Porém,
a requerida propôs o pagamento de apenas R$ 453,32 considerando a depreciação do bem.
Pleiteou, assim, a condenação da requerida ao pagamento do importe de R$ 2.553,15, valor
correspondente ao dano descontada a franquia.

Recebida a exordial, determinou-se a citação da requerida (Evento 6).

Citada, a requerida apresentou contestação no Evento 12 e discorreu,


inicialmente, acerca da regularidade das cláusulas do contrato de seguro e que, no caso
concreto, o bem apresentava 90% de depreciação, haja vista possui mais de 5 anos, de modo
que seria devido apenas a quantia de R$ 453,32.

Houve réplica (Evento 17).

É o relatório necessário.

Vieram os autos conclusos. Decido.

O feito comporta julgamento antecipado, nos moldes do art. 355, I, do Código


de Processo Civil, uma vez que a prova documental acostada aos autos é suficiente ao
deslinde da causa, prescindindo da produção de provas em audiência.

Ademais, a relação jurídica existente entre as partes deve observar o Código de


Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90), porquanto a parte autora é destinatária final dos
serviços prestados (art. 2º, do CDC), enquanto a ré amolda-se ao conceito de fornecedora (art.
3º, do CDC).

Contudo, entendo que a inversão do ônus da prova não deve ser determinada no
momento da prolação da sentença, em respeito ao princípio do contraditório (art. 5º, inc. LV,
da Constituição da República). Ademais, não há necessidade de tal inversão, ante a prova já
produzida.

Não fosse isso, aplicável ao caso a teoria da carga dinâmica da prova, "a qual
consiste na imputação do ônus de produzir a prova negativa à parte que detém melhores
condições materiais para tanto, ou seja, àquela que possui ou deveria possuir em seu poder a
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documentação alusiva aos fatos controvertidos." (TJSC, AC n. 2006.036657-3 e n.
2006.036648-7, rel. Des. Marco Aurélio Gastaldi Buzzi, j. 19.03.2009).

Sabe-se que incumbe ao autor o ônus da prova dos fatos constitutivos do direito
alegado, enquanto ao requerido cabe demonstrar os fatos extintivos, impeditivos ou
modificativos, na forma do art. 373, do CPC.

No caso, o dano ocorrido no elevador do condomínio cuida de fato


incontroverso, reconhecido pela requerida em sede de contestação. A controvérsia restringe-
se na legalidade da aplicação da cláusula de depreciação prevista no contrato firmado a fim de
afastar o dever de indenizar.

A propósito, assim prescreve o item 14.6.2 da apólice (Evento 12 - Outros 4 - p.


16):

"14.6.2. Para os danos materiais relacionados ao evento de Danos Elétricos,


será aplicada a depreciação para cálculo do valor de reposição/reparos, considerando os
equipamentos e critérios descritos na Tabela abaixo:

Entretanto, a jurisprudência consolidou-se no sentido de considerar abusiva a


cláusula de depreciação prevista em contratos de seguro, pois apresenta excessiva
desvantagem ao consumidor, conforme prescreve o art. 51, IV, do CDC. Em caso semelhante:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO


[...] TENCIONADO RECONHECIMENTO DE VALIDADE DA CLÁUSULA
LIMITATIVA DA INDENIZAÇÃO DE ACORDO COM A DEPRECIAÇÃO
DO BEM. TESE AFASTADA. ABUSIVIDADE RECONHECIDA. EXEGESE
DOS ARTS. 6º, INCISO V E 51, INCISO IV, § 1º, DO CDC. INDENIZAÇÃO
DEVIDA NO VALOR INTEGRAL DOS BENS SEGURADOS. "Consoante
entendimento jurisprudencial uníssono, porque abusiva, colocando as partes em
manifesto desequilíbrio contratual, é nula a cláusula que prevê o desconto do
valor da indenização em função da depreciação do bem, mormente quando não
há critérios predefinidos, colocando o consumidor em extrema desvantagem."
(AC n. 2010.044126-9, rel. Des. Stanley da Silva Braga, j. em 14.03.2013).
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJSC, AC n.
0014389-73.2013.8.24.0039, rel. Des. Gerson Cherem II, Primeira Câmara de
Direito Civil, j. 02.06.2016).

Ainda:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO RESIDENCIAL [...]


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DIREITO À INDENIZAÇÃO INTEGRAL PREVISTA NA APÓLICE.
ACOLHIMENTO. CLÁUSULA DE DEPRECIAÇÃO ABUSIVA. ART. 51, IV,
DA LEI PROTETIVA. VISTORIA REALIZADA APÓS O EVENTO
DANOSO. INVIABILIDADE DE SE AFERIR A REAL EXTENSÃO DOS
PREJUÍZOS. VALORES APONTADOS NA REGULAÇÃO DO SINISTRO.
AFRONTA AO PRINCÍPIO INDENITÁRIO. ART. 781 DO CÓDIGO CIVIL.
COMPLEMENTAÇÃO DEVIDA NO VALOR TETO CONTRATADO.
"Considerando que a seguradora celebrou contrato de seguro residencial com o
autor, e que neste seguro o valor do bem foi estipulado por ambas as partes,
sendo que o prêmio cobrado se refere ao valor avençado, é imprescindível, em
caso de sinistro, respeitar o contrato formalizado." (AC n.
0024226-58.2013.8.24.0038, de Joinville, Rel. Des. Gilberto Gomes de
Oliveira, j. 6-7-2017) "Tratando-se de seguro de dano, na hipótese de perda
total do bem segurado, a indenização deve corresponder ao valor integral da
cobertura securitária contratada." (AC n. 0000814-88.2013.8.24.0009, de Bom
Retiro, Rel. Des. Luiz Cézar Medeiros, j. 18-4-2017) [...] (TJSC, AC n.
0303665-03.2016.8.24.0080, rel. Des. Ricardo Fontes, Quinta Câmara de
Direito Civil, j. 30.04.2019).

Destarte, não se revela legítima a negativa perpetrada pela requerida, porquanto


a inserção da cláusula é abusiva, de modo que deve haver o ressarcimento dos prejuízos
causados no bem segurado.

De acordo com o documento juntado no Evento 1 - Outros 8, o reparo foi


apurado em R$ 4.533,15, devendo ser abatido deste o valor da franquia (R$ 2.000,00), razão
por que deve a requerida ressarcir o importe de R$ 2.533,15 (dois mil quinhentos e trinta e
três reais e quinze centavos), acrescido de correção monetária pelo INPC, desde o evento, e
juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, a partir da citação.

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido formulado por Edifício


Comercial The Place Office em desfavor de Sompo Seguros S.A, extinguindo o feito com
resolução do mérito, na forma do art. 487, I, do Código de Processo Civil, para CONDENAR
a requerida ao pagamento da quantia de R$ 2.533,15 (dois mil quinhentos e trinta e três reais
e quinze centavos), acrescida dos encargos mencionados na fundamentação.

Condeno a requerida ao pagamento das custas processuais e honorários


advocatícios, estes que arbitro em 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação
atualizado, nos moldes do art. 85, § 2º, CPC.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Transitada em julgado, observado o


procedimento das custas e nada requerido, arquivem-se.

Documento eletrônico assinado por FERNANDO DE CASTRO FARIA, Juiz de Direito, na forma do artigo 1º, inciso
III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006. A conferência da autenticidade do documento está disponível no
endereço eletrônico https://eproc1g.tjsc.jus.br/eproc/externo_controlador.php?acao=consulta_autenticidade_documentos,
mediante o preenchimento do código verificador 310000463240v17 e do código CRC dca35a1f.

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